24ºDOM TC-A

24º DOMINGO DO TEMPO COMUM-A

17/09/2023

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Eclesiástico 27,33-28,9

Salmo Responsorial 102(103)R- O Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso

 2ª Leitura: Romanos 14,7-9 

Evangelho Mateus 18,21-35

Pedro dirigiu-se a Jesus perguntando: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?”  22       Jesus respondeu: “Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes. 23       O Reino dos Céus é, portanto, como um rei que resolveu ajustar contas com seus servos. 24        Quando começou o ajuste, trouxeram-lhe um que lhe devia uma fortuna inimaginável. 25 Como o servo não tivesse com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher, os filhos e tudo o que possuía, para pagar a dívida. 26      O servo, porém, prostrou-se diante dele pedindo: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. 27      Diante disso, o senhor teve compaixão, soltou o servo e perdoou-lhe a dívida. 28      Ao sair dali, aquele servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia uma quantia irrisória. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Paga o que me deves’. 29   O companheiro, caindo aos pés dele, suplicava: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei’. 30          Mas o servo não quis saber. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que estava devendo. 31 Quando viram o que havia acontecido, os outros servos ficaram muito sentidos, procuraram o senhor e lhe contaram tudo. 32       Então o senhor mandou chamar aquele servo e lhe disse: ‘Servo malvado, eu te perdoei toda a tua dívida, porque me suplicaste. 33      Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti? 34          O senhor se irritou e mandou entregar aquele servo aos carrascos, até que pagasse toda a sua dívida. 35        É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE- ARCEBISPO DE SOROCABA SP


Prezados irmãos e irmãs!

Mt 18-21-35

A dívida colossal de 10 mil talentos (100 milhões de denários = 273.972 anos de trabalho) nos fornece vários indícios. Certamente o servo era uma pessoa investida de grande autoridade, como um Governador de Província do Império, e de grande confiança do rei. Somente assim se explica tal dívida. Além disso, pode-se conjeturar que aquele servo gastara esse dinheiro no decurso de muito tempo. Ignorara as suas responsabilidades e abusara de sua posição e autoridade por longos anos. Esse servo representa aquele que recebeu privilégios e oportunidades de Deus e que merece, por sua desonestidade e abuso de confiança, o mais duro castigo.

O rei manda vendê-lo como escravo e também sua família, porque não podia pagar a dívida. Trata-se de uma punição bastante branda. O rei não pode reaver o dinheiro emprestado, e exige o pagamento segundo as possibilidades do servo. Na realidade, o servo mereceria um juízo muito mais severo.

As palavras do devedor parecem demonstrar humildade, que ele reconhece os seus erros e deseja corrigir a situação. Será que isso é verdade? As palavras do devedor soam mentirosas também por causa do montante da dívida: ela é impagável. 

O rei, movido de compaixão, perdoa a dívida. Ele acreditou nas boas intenções daquele servo. Seria essa a minha reação diante de uma pessoa que prevaricou, desperdiçou os bens e abusou da minha confiança?

A parábola revela que o Patrão é não movido pelas palavras do servo nem pela sua improvável sinceridade, mas pela compaixão. Ele não é movido pelo servo. O que move o rei não vem de fora, mas do seu coração. O rei reconhece o estado de miserabilidade daquele servo, e essa constatação, por si mesma, produz no rei a compaixão e o amor que se manifestam no perdão.

O servo e sua família ficam livres de serem vendidos. O empréstimo foi totalmente esquecido e perdoado. Ele não perde sua posição e autoridade. Certamente o rei esperava que o perdão garantisse no futuro a boa conduta daquele servo, que ele tivesse aprendido a lição.

Deus perdoa totalmente, sem importar os merecimentos do indivíduo, mas sempre esperando que seu perdão transforme a personalidade. A misericórdia divina, apesar de oferecida gratuitamente, não é algo destituído de base (Cristo) e não é algo sem alvo e sem propósito (conversão).

Ao sair, aquele empregado encontrou um dos seus companheiros. Salta aos olhos o primeiro contraste: o servo foi perdoado por alguém que lhe era superior, que tinha autoridade de tirar-lhe a vida, mas usou de misericórdia. Imediatamente ele encontra um seu companheiro, servo como ele, a quem ele se recusa perdoar.

O outro contraste é ainda mais evidente: a enorme diferença na quantia dos empréstimos. Cem denários equivaliam a um dia de trabalho. Reduzindo à expressão decimal, a dívida do companheiro era o equivalente a 0,000002% da dívida perdoada. 

Além disso, essa quantia de maneira alguma teria afetado a sua situação financeira. Poderia perdoar o companheiro sem grande prejuízo econômico. Não era necessário sequer usar de misericórdia, bastava usar um pouco de bom senso. É provável inclusive que o servo nem tivesse muita certeza da quantia correta.

Acrescente-se ainda que não se tratava de um acerto de contas, pois ele o encontrou por acaso enquanto saía da presença do rei.

Por fim, o contraste das atitudes entre o rei e o servo: este trata seu companheiro sem qualquer humanidade. Age movido apenas motivado por um espírito amargo, irracional e cruel. Não se lembra de que, momento antes, o rei lhe mostrara um espírito totalmente diverso para com ele e que, com muito menos razão para tanto, lhe perdoara a dívida. Ele exige pagamento imediato: agarrou-o pelo pescoço e o sufocava. “Paga o que me deves”.

“Dá-me um prazo e eu te pagarei”. São as mesmas palavras, a mesma atitude humilde, a mesma necessidade de misericórdia que o servo expôs ao rei, mas com uma grande diferença: no primeiro caso teria sido impossível o pagamento do débito.

“Ele não quis saber disso”. Esqueceu completamente do perdão recebido. Pior. Movido por ignorância e maldade, não reconheceu que o perdão do rei requer uma conduta melhor, gratidão, arrependimento e misericórdia para com os outros. Não mudou de atitude e, por isso, demonstra não ter aceitado o perdão. Esse homem sem modificar sua personalidade pelos benefícios que recebera da parte do rei, continua agindo como antes: pródigo no uso dos recursos do rei, mas totalmente sem misericórdia para com os outros em suas falhas que eram bem menos graves do que as suas.

“Mandou jogá-lo na prisão”. O servo exigiu o máximo castigo que o caso permitia.

 “Servo perverso”. O rei pode compreender e perdoar a ignorância, a desonestidade nas finanças, as fraquezas, o erro e as falhas; mas não perdoa a injustiça, a desumanidade, a crueldade e a ingratidão. A condenação do rei contra essas coisas é sem apelo. Aquele homem não compreendeu o perdão do rei e, por isso, não age com a mesma misericórdia e magnanimidade. Não praticou um único ato, mesmo pequeno, que demonstrasse compaixão pelos outros. Na primeira oportunidade que teve de ser misericordioso, demonstra incompreensível ingratidão.

Jesus nos ensina que todos nós nos encontramos na situação daquele servo. Todos nós recebemos grande compaixão de Deus e o seu perdão por meio de Cristo. O cristão que se recusa perdoar os outros de suas ínfimas dívidas, que não tem compaixão pelos outros e não usa de simpatia para com os semelhantes, mostra ingratidão enorme e a mesma maldade do servo da parábola.

Trata-se de uma nova Lei que exige um novo coração; é o vinho novo em odres novos. Os verdadeiros discípulos de Cristo devem aprender a nova lei do reino, e essa nova moral requer um tipo de humanidade diferente.

Jesus mostrou que o servo tinha recebido muito mais do que pediu, mas que nada deu a quem lhe pediu.

A abundância da misericórdia deve formar a base da nova lei dos cristãos. Como nos apresentaremos diante do grande Rei, se não nos perdoarmos mutuamente?




Perdão, uma porta que se abre - Adroaldo Palaoro

24ºDTComum - Mt 18,21-35 – A – 17-09-2023


“Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18,22)


O evangelho deste domingo também faz parte do chamado “discurso comunitário”, onde Jesus insiste na importância decisiva do perdão como atitude permanente para manter unida sua comunidade de seguidores(as). Ele insiste fortemente sobre esta virtude porque esta é uma necessidade vital quando a vida é ferida por ofensas, rupturas, conflitos. 

O perdão resitua as pessoas na grande corrente da vida; busca restabelecer um vínculo positivo entre vidas feridas, vidas que se ferem e vidas que as rodeiam.

Jesus vive comprometido com a vida saudável, e faz a vida crescer de forma integral, sem divisões. Ele devolve às pessoas a saúde em seus corpos, em suas emoções, projetos e relações; ele reconstrói os vínculos quebrados e move sua comunidade a viver o perdão como atitude contínua de vida.

De fato, o perdão é uma experiência forte de querer reconectar-se com a vida; quer, para as partes envolvidas no conflito, abrir uma porta à vida; manifesta-se como força capaz de derrubar um muro feito de ódio, de violência, de sentimentos feridos, de agressividade destrutiva. O perdão busca estabelecer uma aposta pela vida. É uma atitude realista, vivida em profundidade e a longo prazo.

O perdão não é esquecimento e negação do mal-feito, mas recriador e portador de nova vida.

A experiência do perdão, mais forte que o mal, alarga o coração e nos convida a ter mais compaixão.

Por ser um atributo tão nobre, o perdão configura o ser humano à imagem de Deus.

O perdão é divino porque, para o ser humano, ele é verdadeiramente divino em seus efeitos e em seu próprio processo; ele traz em si algo de divino, que significa efetivo recomeço, como um novo momento inaugural (uma nova criação, segundo a Bíblia).

O perdão é um dom que abre para uma história nova. Ao se fazer oferta, o perdão se propõe abrir um novo caminho; ele evoca uma nova aliança. Por isso, o perdão não é apenas um ato criador, mas “re-criador”, portador de uma nova vida. Restaura o amor e seu mais belo fruto, a comunhão das pessoas.

O perdão abre uma nova história. O perdão não deleta o ato causador do mal; ele toma a iniciativa de uma nova oportunidade de vida. E como houve uma ruptura de continuidade, ele se propõe abrir um novo caminho, virar a página e escrever um novo capítulo.

“O perdão não é o esquecimento do passado, é o risco de um futuro diferente daquele que foi imposto pelo passado ou pela memória” (Christian Duquoc).

Os recursos do verdadeiro perdão são infinitos. Eles jamais acabam. O perdão é “alargamento do coração humano”, é movimento, é expansão de si, é des-centramento... e impulso na direção do outro.

O prefixo “per” é o mesmo que encontramos nos verbos per-correr, per-durar, per-fazer..., e leva à plenitude a ação expressa pelo verbo. O prefixo “per” denota intensidade, profundidade.

No latim, “per-donum” significa dom levado à perfeição; ou “per-donare”, significa dar prova de uma extrema generosidade. O perdão é um dom que nos permite ir além de nós mesmos; é um dom em excesso.

Perdoar é doar-se em plenitude; é dar mais que o ofensor merece.

O perdão é o dom realizando-se no supremo grau de sua gratuidade; é uma atitude de quem não se prende ao que o outro merece e nem se escandaliza com sua miséria.

“Devemos perdoar como pecadores e não como justos”.

A plenitude do dom é a vida. Perdoar é restituir a vida a quem nos ofendeu. Toda ofensa, em qualquer grau, é um atentado contra a vida.

O perdão restabelece a ordem da vida. Quem perdoa e quem é perdoado saem mais verdadeiros, mais inteiros, mais humanos depois desse gesto. O perdão realmente transforma vidas. Quando nós vemos o que acontece quando as pessoas se perdoam, nós sabemos que estamos diante de uma das mais eficazes forças na experiência humana.

Por isso, segundo Jesus, o verdadeiro perdão não tem limite (77x7). O perdão precisa ser um gesto repetido muitas vezes até se tornar um “hábito do coração”.

É um processo voluntário no qual, quando perdoamos, optamos não por revidar, mas, pelo contrário, optamos por responder de maneira amorosa e criativa a quem nos causou danos ou ofensas. Perdoar se revela uma atitude virtuosa porque nos coloca inclusive acima de nós mesmos, do nosso primeiro instinto de vingança; nos situa no melhor de nós mesmos.

Em si mesmo, o perdão é um ato não de justiça, mas de amor; sua gratuidade é superior a tudo o que a justiça poderia requerer. Perdoar é ir mais longe que a lei, mais longe que a consciência.

O perdão é uma recusa ética de julgar o outro, quer dizer, um “alargamento do coração humano”; em outras palavras, um amar mais.

Quem ama gosta de perdoar, porque dessa forma demonstra melhor seu amor.

Quanto mais se ama mais se perdoa, porque a delicadeza do coração permite perceber todas as feridas infligidas à comunhão das pessoas. Perdoar é amar mais.

De fato, não perdoar é sempre amar menos, é viver sob o regime da aspereza, da amargura, da tristeza que acabam por se estender aos mais próximos e envenenar as relações dos seres mais queridos.

O perdão restaura o amor e seu mais belo fruto, a comunhão das pessoas.

Enfim, perdão é amor que reconstrói o passado. Só quem doa amor ao ofensor dá-lhe as condições profundas de contrição, compunção, compaixão e arrependimento, as quatro vias através dos quais o ser humano pode renascer de si mesmo e das trevas, trocando a morte pela vida.

Por ser o gesto mais difícil e elevado, o perdão é a única forma de permitir ao ofensor a entrada de amor no seu coração. Qualquer forma de cobrança, punição e vingança reforça a crueldade do ofensor e, de certa forma, vai fazê-lo sentir-se justificado.

Quem não busca perdoar e quem resiste receber o perdão correm o risco de ficarem com uma liberdade atrofiada e uma vida diminuída. Todo obstáculo ao perdão é um obstáculo ao amor.

O perdão busca precisamente esse desbloqueio, para que a vida possa fluir. Portanto, é no perdoar que somos divinizados: “errar é humano, perdoar é divino”.

O perdão reconstrói a paz interior, a paz na família e nas relações sociais, a paz entre os povos. E essa reconciliação entre nós se torna sacramento da re-conciliação com Deus, o último elo e o mais importante do perdão. Perdoados por Deus e transformados interiormente por tal graça, nascemos de novo.

Para meditar na oração

Fazer “memória” dos momentos em que você experimentou a força criativa do perdão do outro, ou foi presença por onde fluiu o verdadeiro perdão.


Viver perdoando - José Antonio Pagola


Os discípulos ouviram Jesus dizer coisas incríveis sobre o amor aos inimigos, a oração ao Pai pelos que nos perseguem, o perdão a quem nos faz mal. Seguramente parece-lhes uma mensagem extraordinária mas pouco realista e muito problemática.

Pedro aproxima-se agora de Jesus com uma proposta mais prática e concreta que lhes permita, ao menos, resolver os problemas que surgem entre eles: receios, invejas, confrontações, conflitos e disputas. Como têm de atuar naquela família de seguidores que seguem os Seus passos. Em concreto: «Se o meu irmão me ofende, quantas vezes lhe tenho de perdoar?».

Antes que Jesus lhe responda, o impetuoso Pedro adianta-se a fazer-Lhe a sua própria sugestão: «Até sete vezes?». A sua proposta é de uma generosidade muito superior ao clima justiceiro que se respira na sociedade judia. Vai mais além inclusive do que se pratica entre os rabinos e os grupos essénios que falam como máximo de perdoar até quatro vezes.

No entanto Pedro continua a mover-se no plano da casuística judia onde se prescreve o perdão como arranjo amistoso e regulamentado para garantir o funcionamento ordenado da convivência entre quem pertence ao mesmo grupo.

A resposta de Jesus exige colocar-se noutro registo. No perdão não há limites: «Não te digo até sete vezes mas até setenta vezes sete». Não tem sentido fazer contas ao número de perdões. O que se põe a contar quantas vezes perdoa ao irmão entra por um caminho absurdo que arruína o espírito que há-de reinar entre os seus seguidores.

Entre os judeus era conhecido um “Canto de vingança” de Lámek, um lendário herói do deserto, que dizia assim: “Cain será vingado sete vezes, pero Lámek será vingado setenta vezes sete”. Perante esta cultura de vingança sem limites, Jesus canta o perdão sem limites entre os Seus seguidores.

Em muito poucos anos o mal-estar foi crescendo no interior da Igreja provocando conflitos e confrontações cada vez mais destruidores e dolorosos. A falta de respeito mútuo, os insultos e as calúnias são cada vez mais frequentes. Sem que nada os desautorize, setores que se dizem cristãos servem-se da internet para semear agressividade e ódio destruindo sen piedade o nome e a trajetória de outros crentes.

Necessitamos urgentemente de testemunhas de Jesus, que anunciem com palavra firme o Seu Evangelho e que contagiem com coração humilde a Sua paz. Crentes que vivam perdoando e curando esta obsessão doentia que penetrou na Sua Igreja.


José Antonio Pagola

Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez


O AMOR MISERICORDIOSO DE DEUS - HERNANDES DIAS LOPES


Introdução:


Esta parábola aparece exclusivamente no evangelho de Mateus.

Pedro sabia qual era sua obrigação: perdoar.

Mas existe algum limite? Sete vezes seria algo razoável?

Além do mais, a misericórdia sem limites não incentiva uma vida de pecados?

O ensino de Jesus é claro: a misericórdia de Deus é tão grande que não pode ser medida.

Este pequeno diálogo entre Jesus e Pedro dá ensejo à parábola do Credor Incompassivo.



•  O objetivo desta parábola é explicar a dimensão do amor misericordioso de Deus e que deve ser exemplificado pelo povo de Deus.


I. A história


Jesus conta a história de um soberano que resolveu ajustar contas com seus servos — verso 23.

Trouxeram-lhe um que lhe devia 10.000 mil talentos. Quanto valiam 10.000 talentos?

Apenas para colocar as coisas em perspectiva e entendermos o que Jesus estava querendo dizer:


  O valor total de impostos que o império Romano esperava arrecadar todos os anos de Herodes era de 900 talentos.


  Isto incluía os impostos coletados nas províncias da Judéia, Samaria, Iduméia, Galiléia, Peréia, Batanéia, Traconites e Auranitis.


O teólogo holandês William Hendriksen faz o seguinte comentário sobre o valor de 10.000 talentos: “O tipo de talento a que provavelmente se faz referência aqui, equivalia a não menos de seis mil denários. O denários era quanto um operário ganhava por uma jornada de um dia de trabalho — Mateus 20.2,13. Desse modo,  Um operário precisaria de mil semanas para ganhar um só talento. Mesmo que esse operário pudesse economizar todo o dinheiro que ganhava, ele não podia esperar acumular  sequer dez talentos durante toda a sua vida. Um Sátrapa, que ganhava cem vezes mais que um trabalhador comum durante toda a sua vida, dificilmente conseguiria chegar à soma de mil talentos. O que tudo isso quer dizer é que: essa dívida seria impossível de ser paga”.[1]


Não tendo com o que pagar o rei ordena que tal homem, sua mulher e filhos e tudo o mais que ele possuía sejam vendidos como forma de pagar a dívida — verso 25.

Note como o devedor implora por misericórdia e não por perdão — verso 26.

O soberano compadecido — movido em suas entranhas — perdoa a dívida.

Uma vez perdoado, o devedor saindo da presença do rei encontra um conservo que lhe devia a ninharia de 100 denários — moeda Romana de prata — que correspondia ao salário de um dia do trabalhador comum, e exige que este lhe pague a dívida — verso 28.

O conservo implora por misericórdia, mas não encontra nenhuma — versos 29—30.

Felizmente a segunda cena foi presenciada por alguns que tiveram a coragem de reportá-la ao soberano — verso 31.

O soberano manda chamar de volta o credor incompassivo e lhe aplica a justiça devida.


II. O Que a Parábola nos Ensina


A. O Amor Infinito de Deus e Sua Misericórdia.


1. O pecado do homem é tão grande que Deus precisa perdoá-lo infinitamente mais do que a conta de setenta vezes sete. De fato, Deus através de Jesus:



Perdoou todos os nossos pecados — Colossenses 2:13 — Antigamente vocês estavam espiritualmente mortos por causa dos seus pecados e porque eram não-judeus e não tinham a lei. Mas agora Deus os ressuscitou junto com Cristo. Deus perdoou todos os nossos pecados na NTLH.


Alcançou a nosso favor um perdão e libertação da condenação por causa do pecado, que é eterna — Hebreus 9:12 — Não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção.


2. Os conceitos de Misericórdia ou bondade e Justiça andam de mãos dadas no Antigo Testamento:


•         Salmos 101:1 — Cantarei a bondade e a justiça; a ti, SENHOR, cantarei.

•         Salmos 103:6 e 8 — 6 O SENHOR faz justiça e julga a todos os oprimidos. 8 O SENHOR é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno.

•         Miquéias 6:8 — Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.



 III. A Aplicação da Parábola


1. Esta parábola nos ensina que tanto a justiça quanto a misericórdia são igualmente importantes.


2. A parábola procura realçar a nossa — de cada um de nós — dívida para com Deus. O Salmista diz em Salmos 130:3—4 — Se observares, SENHOR, iniqüidades, quem, Senhor, subsistirá? Contigo, porém, está o perdão, para que te temam.


3. Tendo sido perdoados por Deus devemos refletir a mesma atitude — Colossenses 3:13 —Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.


4. Aqueles que não exercitam a misericórdia também não encontrarão misericórdia Tiago 2:13 — Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia.


5. Nosso Deus é um Deus de misericórdia — Jeremias 31:34 — Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.


6. Lembremo-nos das palavras do Senhor Jesus quando disse: Mateus 6:14— 15 — Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.


“A falta de perdão aprisiona tanto o ofensor quanto o ofendido. Quando nutrimos mágoa no coração, tornamo-nos prisioneiros dos nossos próprios sentimentos. A falta de perdão é uma masmorra, uma prisão e um calabouço da nossa própria alma. Quando deixamos de perdoar, aprisionamos as pessoas e ficamos também cativos” — Hernandes Dias Lopes.



A graça de poder perdoar - Mesters, Lopes e Orofino


Nesta reflexão para o evangelho do domingo dia 17 de setembro, Jesus nos fala da necessidade de perdoar o irmão, a irmã. Não é fácil perdoar, pois certas mágoas continuam machucando o coração. Há pessoas que dizem:

“Eu perdoo, mas não esqueço!”

Rancor, tensões, brigas, opiniões diferentes, ofensas, provocações dificultam o perdão e a reconciliação. E ainda mais em nosso tempo em que as elites manifestam seu ódio por pessoas e grupos excluídos secularmente de seus direitos mais elementares.

Situando

Esta narrativa é a última parte do Sermão da Comunidade (Mateus 18). Nela, encontramos a necessidade de perdoar sem limites (18,21-22) e a parábola do perdão (18,23-35).

Em Mateus, a organização das palavras de Jesus em cinco grandes Sermões mostra que, já no fim do primeiro século, as comunidades tinham formas bem concretas de catequese. O Sermão da Comunidade, por exemplo, traz instruções atualizadas de como proceder, caso algum conflito surgisse entre os seus membros. Na sequência do evangelho do domingo passado, o texto de hoje aponta mais duas setas no caminho que apontavam o rumo da caminhada e ofereciam critérios concretos para solucionar conflitos.

Comentando

Mateus 18,21-22: Perdoar setenta vezes sete!

Diante das palavras de Jesus sobre a reconciliação, Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar? Sete vezes?” Sete é um número que indica uma perfeição e, no caso da proposta de Pedro, sete é sinônimo de sempre. Mas Jesus vai mais longe. Ele elimina todo e qualquer possível limite para o perdão: “Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete!” Pois não há proporção entre o amor de Deus para conosco e o nosso amor para com o irmão. Jesus conta uma parábola para esclarecer a sua resposta a Pedro.

Mateus 18,23-35: A parábola do perdão sem limite

Dívida de dez mil talentos é 164 toneladas de ouro. Dívida de cem denários é de 30 gramas de ouro. Não existe meio de comparação entre os dois. Mesmo que o devedor junto com mulher e filhos fosse trabalhar a vida inteira, jamais seria capaz de juntar 164 toneladas de ouro. Diante do amor de Deus que perdoa gratuitamente nossa dívida de 164 toneladas de ouro, é nada mais que justo que nós perdoemos ao irmão a pequena dívida de 30 gramas de ouro. E atenção! O único limite para a gratuidade da misericórdia de Deus é a nossa incapacidade de perdoar o irmão (Mateus 18,34; 6,15).

 Alargando

A comunidade como espaço alternativo de solidariedade e fraternidade

A sociedade do Império Romano era dura e sem coração, sem espaço para os pequenos. Estes buscavam um abrigo para o coração e não o encontravam. As sinagogas também eram exigentes e não ofereciam um lugar para eles. Nas comunidades, o rigor de alguns na observância da Lei levava para a convivência os mesmos critérios injustos da sociedade e da sinagoga. Assim, nas comunidades começaram a aparecer as mesmas divisões que existiam na sociedade e na sinagoga entre rico e pobre, dominação e submissão, falar e calar, carisma e poder, homem e mulher, raça e religião.

Em vez de a comunidade ser um espaço de acolhimento, tornava-se um lugar de condenação. Juntando palavras de Jesus neste Sermão da Comunidade, Mateus quer iluminar a caminhada dos seguidores e das seguidoras de Jesus, para que as comunidades sejam um espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. Devem ser uma boa-nova para os pobres.


TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIAN NANNINI, ARGENTINA 


DOMINGO 24 DURANTE EL AÑO CICLO "A"

Damian Nannini


Primera lectura (Eclo 27,30-28,7)

Este texto sapiencial refleja claramente que vivir en "alianza" con Dios implica necesariamente una justa relación con el prójimo. Por ello, una relación de venganza u odio con el prójimo nos enemista también con Dios. Y tampoco podemos implorar y esperar el perdón de Dios si no perdonamos antes a los hombres porque hay una correspondencia entre el perdón divino y el humano que el autor resalta.



Evangelio (Mt 18, 21-35)


Luego de las instrucciones sobre el modo en que se debe corregir al pecador y de la oración en común, Pedro interviene haciéndole una pregunta a Jesús: "¿cuántas veces a un hermano que peque contra mí tendré que perdonarlo? ¿Hasta siete veces? (ποσάκις ἁμαρτήσει εἰς ἐμὲ ὁ ἀδελφός μου καὶ ἀφήσω αὐτῷ; ἕως ἑπτάκις;)". Notemos que continúa el tema del pecado (se utiliza el verbo pecar - ἁμαρτάνω - que se traduce por ofensa) pero ahora desde la perspectiva del perdón, no de la corrección fraterna; y comparando la ofensa con una deuda económica, como veremos en la parábola. Además, como bien nota P. Bonnard : “la secuencia del texto mostrará que Pedro se mueve todavía en el plano de la casuística judía, terreno en el que rehúsa situarse Jesús … El judaísmo rabínico conocía la idea del perdón fraterno, pero dentro de un sistema legalista. Se discutía sobre el número de perdones legítimamente otorgados. Con frecuencia se proponía el número cuatro como cifra máxima; cuando Pedro pregunta si debe perdonar hasta siete veces, piensa haber dado un gran paso hacia su Maestro”.  

Mientras Pedro piensa que es muy generoso de su parte llegar a perdonar hasta siete veces; Jesús le responde que debe perdonar "setenta veces siete", que son 490 veces (tal vez tomando o haciendo referencia al cántico de Lamec de Gn 4,24 que se refiere a la venganza sin límites), pero cuyo valor simbólico es claro: hay que perdonar siempre. Luego lo ejemplifica y justifica mediante una parábola sobre el perdón que tiene como marco el diálogo entre Pedro y Jesús (vv. 21-22) por un lado y una aplicación conclusiva de orden general por otro (v. 35). Podemos reconocer en la parábola tres actos. 

En el primero acto se resalta la acción del rey que ante la súplica de piedad del deudor termina teniendo compasión y perdonándole la deuda. 

En el segundo acto, contrastando claramente con el primero, tenemos a este servidor perdonado quien no es capaz de perdonar a quien le debía a él. Notemos que hay una gran diferencia en el monto de la deuda. En el primer caso se habla de diez mil talentos que es una cifra millonaria, imposible de pagar. En el segundo se trata de cien denarios, lo que sería unos tres meses de sueldo aproximadamente; muy poco en comparación con lo anterior. 

U. Luz dice que la deuda condonada por el rey sería de "billones" mientras que lo adeudado al servidor perdonado sería la 1/6.000.000 parte de la cifra anterior . Intentando actualizar las cifras y teniendo en cuenta que un talento equivalía a 21.000 gramos de plata y un denario a 4 gramos de plata; por tanto, un talento equivalía a 6.000 denarios aproximadamente. El denario era el sueldo por un día de trabajo, por tanto, para ganar un talento le harían falta 6.000 días de trabajo, casi 20 años. Algunos piensan que hoy se pagaría por un talento de plata unos 6.500 dólares, por lo cual 10.000 talentos serían: 65.000.000 de dólares. Un denario sería 0,75 de dólar; cien denarios serían unos 75 dólares.

En el tercer acto, este contraste entre las cifras y las actitudes indigna tanto a los demás servidores que acuden al rey, tal como se narra al comienzo. En esta tercera escena el rey y el deudor se vuelven a encontrar y el rey le reprocha su actitud mezquina o miserable. El versículo clave está justamente aquí, con las palabras del rey: “¿No debías también tú tener compasión de tu compañero, como yo me compadecí de ti?” (v. 33). Notemos que la palabra “compasión” traduce las dos veces el mismo verbo ἐλεέω, señalando una clara vinculación y dependencia entre la actitud humana exigida y la actitud divina: “Dios tuvo compasión/misericordia de ti; tú debes tener compasión/misericordia de tu deudor”.

La conclusión final (v. 35) nos invita a una lectura teológica de la parábola pues identifica a Dios Padre con el Rey de la parábola. También notemos que la exigencia del Señor es a “perdonar cada uno a su hermano desde su corazón” (ἀφῆτε ἕκαστος τῷ ἀδελφῷ αὐτοῦ ἀπὸ τῶν καρδιῶν ὑμῶν), invitando a que sea algo auténtico y profundo. Por tanto, el mensaje de la parábola es que el perdón de Dios para con los hombres debe ser la medida y la norma del perdón de cada uno para con el hermano. Si recordamos la pregunta inicial de Pedro vemos que la parábola responde presentando el perdón de Dios como causa y justificación del perdón ilimitado e incondicional. Esta exigencia fraterna se deriva de la conciencia de tener una deuda impagable que, perdonada por el Padre, es un estímulo para que el discípulo actúe de la misma manera en relación con los hermanos. En breve, se trata de tener con los demás la misma actitud de misericordia o compasión que tiene el Padre con nosotros.


Algunas reflexiones:


Una reflexión sobre el perdón puede ser muy bella y convincente hasta que recibimos una ofensa o herida por parte de un hermano. Entonces las razones para perdonar se vuelven débiles ante la fuerza de la pasión que pide revancha o venganza.

Sin embargo, es necesario meditar sobre el perdón porque Jesús mismo le dedicó su atención tal como lo atestigua Mateo en este sermón o discurso sobre la vida comunitaria. Así como Jesús acepta que el pecado es y será una realidad entre los miembros de la comunidad; también el perdón debe ser una realidad vivida. Y lo más importante y necesario es que nuestra meditación sobre el perdón tenga el mismo fundamento que presenta el evangelio: el perdón de Dios que está en la raíz de la vida cristiana y la experiencia vital de saberse y sentirse amado/perdonado por el Padre. Por tanto Jesús, antes que un número de veces que tenemos que perdonar, nos da la "razón" o motivo fundamental para perdonar al hermano siempre: el hecho de haber sido perdonados antes por el Padre.

Comentando esta misma parábola decía el Papa Francisco: “La parábola ofrece una profunda enseñanza a cada uno de nosotros. Jesús afirma que la misericordia no es solo el obrar del Padre, sino que ella se convierte en el criterio para saber quiénes son realmente sus hijos. Así entonces, estamos llamados a vivir de misericordia, porque a nosotros en primer lugar se nos ha aplicado misericordia. El perdón de las ofensas deviene la expresión más evidente del amor misericordioso y para nosotros cristianos es un imperativo del que no podemos prescindir (M. V. n° 9) … En fin, “ha llegado de nuevo para la Iglesia el tiempo de encargarse del anuncio alegre del perdón. Es el tiempo de retornar a lo esencial para hacernos cargo de las debilidades y dificultades de nuestros hermanos. El perdón es una fuerza que resucita a una vida nueva e infunde el valor para mirar el futuro con esperanza” (M. V. n° 10).


El P. Cencini habla del "perdón que nos ha creado" . Y efectivamente es así, pues la misericordia como amor gratuito de Dios está en el origen de nuestro ser. Y más aún si tenemos en cuenta la redención pues toda ella es un acto de misericordia, de perdón. Por eso reconocemos nuestra realidad profunda, la verdad de nuestro ser, cuando nos confesamos como personas necesitadas de la misericordia de Dios, de su infinito perdón. Y esto durante toda la vida pues, tal como insiste A. Louf , "siempre seguiremos siendo pecadores, pero pecadores perdonados, pecadores en perdón, pecadores en conversión".

Y esto es válido también para el origen mismo de la Iglesia, al decir del entonces Cardenal J. Ratzinger: "La Iglesia está fundada en el perdón. La Iglesia en su esencia íntima es el lugar del perdón, en el que queda desterrado el caos […] La Iglesia sólo puede surgir allí donde el hombre llega a su verdad, y esta verdad consiste justamente en que tiene necesidad de la gracia. Donde el orgullo le priva de este conocimiento, no encuentra el camino que le lleva a Jesús. Las llaves del Reino de los cielos son las palabras del perdón, que únicamente lo garantiza el poder de Dios" .

Desde esta verdad y experiencia fundamental cristiana - el hecho de haber sido perdonados antes por el Padre - es posible vivir la propuesta de Jesús en el evangelio de hoy. Cómo bien dice A. Cencini : "no puede perdonar quien no tiene conciencia de haber recibido perdón; o, en otras palabras, la capacidad de perdonar es directamente proporcional a la experiencia de ser perdonados. Nadie puede dar lo que no tiene, sobre todo si se trata de algo, como el perdón, que no nace espontáneamente en el corazón del hombre y que sólo Dios podía inventar. Y no basta, naturalmente, una experiencia cualquiera: Incluso el servidor despiadado (Mt 18,23-35) había recibido el perdón por una gran deuda, y sin embargo no tuvo corazón con quien le debía una cifra extraordinariamente inferior. Es una parábola que nos toca muy de cerca: nosotros vivimos inmersos en el perdón, hemos sido generados por un acto de misericordia, hemos recibido mucho más de lo que merecemos y de cuanto jamás hayamos dado. Pero darse cuenta de todo esto, experimentarlo y alegrarse implica un proceso psicológico – cuyas fases hemos indicado en las páginas precedentes -: de la capacidad de reconocer el propio pecado al descubrimiento de la alegría del Padre que perdona".


Para vivir el perdón es necesaria también la experiencia del ser perdonado por un hermano, como dice T. Merton: "No sabremos perdonar de verdad hasta que sepamos lo que significa ser perdonado. Por lo tanto, alegrémonos de recibir el perdón de nuestros hermanos. Es el perdón mutuo que manifiesta el amor de Jesucristo en nuestra vida, porque al perdonar obramos los unos para con los otros tal como él ha obrado para con nosotros". 

Amedeo Cencini suma otro requisito o experiencia necesaria para vivir el perdón que es la de perdonarse a sí mismo: “es el individuo mismo el que no se perdona y, si no se perdona a sí mismo, ¿cómo podrá perdonar a otros? Aunque absuelto desde el punto de vista sacramental, se lleva por dentro la sensación de algo que corre el riesgo de ensuciar para siempre a la propia persona. Algo así como un sentimiento de culpa (psicológico, vivido solo ante uno mismo) que no se ha convertido nunca en conciencia de pecado (conciencia teológica, es decir, vivida ante Dios); algo así como una rabia narcisista contra uno mismo, por no ser perfecto, que no se ha disuelto nunca en dolor sincero por haber ofendido a quien me ha amado y que, precisamente porque me ama, sigue perdonándome; algo así como una vergüenza que debe esconder y que encierra al sujeto en sí mismo y le impide llorar su propio mal ante el Padre para dejarse abrazar por él” .


En síntesis, el principio y fundamento del perdón entre hermanos es la experiencia de la paternidad de Dios, de su amor misericordioso y de su perdón ilimitado. Este perdón inicial de Dios debe luego prolongarse y dilatarse en la experiencia humana y eclesial. Vale decir que tenemos que vivir la experiencia del perdón de Dios, del perdón del hermano y del perdón a nosotros mismos para perdonar siempre de corazón al hermano que nos ofenda. 

La misericordia entre los hermanos llega a ser el momento en el cual se constata la vida de fe de los discípulos que a su vez han experimentado, de modo auténtico, la paternidad de Dios, la fraternidad cristiana y la reconciliación consigo mismo.

Después de todo esto comprendemos la sabiduría y la necesidad de pedir la gracia de perdonar tal como Jesús lo incluyó en el Padrenuestro: “Perdona nuestras ofensas, como nosotros perdonamos a los que nos han ofendido” (Mt 6,12). Y le sumamos la paráfrasis que le agregaba san Francisco de Asís: “lo que no perdonamos plenamente, haz tu, Señor, que plenamente lo perdonemos, para que por ti amemos de verdad a los enemigos y en favor de ellos intercedamos devotamente ante ti, no devolviendo a nadie mal por mal (cf 1 Tes 5,15), y para que procuremos ser en ti útiles en todo”.


PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Corona de espinas

Señor

Mira mi corazón

Allí quedaron las heridas 

Las penas, las fatigas

Corona de espigas

En mi pensamiento 

Y en mi acción.


Quisiera perdonar

Sin mirar de nuevo atrás

Olvidar la ofensa que lastima

Disponer mi atención

A nuevas compañías

Y dejar el temor.


Paralizado me encuentro

En cada nueva ocasión,

Vuelve a mi mente el dolor

Y el corazón se hace pequeño

Quisiera que fuese un sueño,

Pero realmente pasó.


Y ahora frente a ti vengo

A pedir el perdón que no tengo

Para aquel que me ofendió.

Dejo en tu Corazón lastimado

La huella de este martirio

Y aguardo…


Llegará la sanación

Tú solo Señor, sabes cuándo

Pero en ti espero seguro

Sordo a la voz que me acusa.

Pediré perdón, te dejaré mis angustias

Y perdonaré sin cesar

Es la Voluntad tuya. Amén.