6º PÁSCOA-A

6º DOMINGO DA PÁSCOA- ANO A

14/05/2023

LINK AUXILIAR:

AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


Primeira Leitura: Atos 8,5-8.14-17

Salmo Responsorial: 65(66)-R- Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, cantai salmos a seu nome glorioso!

Segunda Leitura: 1 Pedro 3,15-58

Evangelho: João 14,15-21

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque ele permanece junto de vós e estará dentro de vós. Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Pouco tempo ainda e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis. Naquele dia sabereis que eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós. Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele”. Palavra de Salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP


Jo 14,15-21

A partir deste domingo a nossa atenção se desloca de Cristo ao Espírito Santo, a nossa atenção passa do Ressuscitado para o Dom do Ressuscitado. Começamos uma espécie de tempo do Advento em preparação para Pentecostes. Como a vinda de Cristo foi preparada pelo anúncio dos profetas e foi apontada por João Batista, assim Jesus prepara a vinda do Espírito Santo nos prometendo: “eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade”.

Quem é o Espírito Santo? Como aprendemos na catequese: é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Sim, o Espírito Santo não é simplesmente uma energia impessoal de Deus. Não é somente o seu sopro criador como se pensava no Antigo Testamento. Nessa mesma linha, o Espírito não é somente o hálito divino inspirado no ser humano. Por ser pessoa, o Espírito não é somente a “matéria da qual Deus é feito” como afirmavam os filósofos gregos. 

Cristo nunca falou o Espírito como algo, mas sempre como Alguém. Ele é enviado pelo Pai; Ele mora em nós. Paulo fala que Ele foi derramado em nossos corações e que Ele reza em nós com gemidos inefáveis. Os teólogos afirmam que o Espírito é Amor Pessoal, muito diferente do amor como paixão transitória da alma. O Espírito não é algo passageiro no coração humano, Ele é pessoa tão forte e real quanto a Pessoa do Pai e do Filho. Ele, não algo. Alguém, não alguma coisa!

É preciso que fique claro em nossa vida de fé e em nossa relação com o Espírito: estamos diante dEle, estamos diante de Alguém, estamos diante de uma Pessoa. Não se trata de simples força, energia divina. Com pessoa a nossa relação com Ele, é relação pessoal.

Nesse sentido, podemos, além de perguntar quem é o Espírito Santo, perguntar sobre como o Espírito age em relação a nós e como é a nossa relação com Ele.

Muitas vezes se fala do ES como daquele que dá luz, sabedoria, conselho, inteligência e ciência. “Ele é aquele que dá força: Sereis revestidos da força do alto” (Lc 24,49). Temos necessidade dessa força do alto para fazer frente a este mundo e à missão! Ao mesmo tempo, reconhecemos que, além da luz e da força do alto para agir e lutar, precisamos da consolação para viver. De fato, muitas vezes sofremos a solidão e a ameaça do universo, experimentamos o cansaço e o desânimo que as dificuldades nos impõem, nos entristecemos com os amigos que nos traem e ficamos com medo dos perigos desta vida. Quem é o consolador que pode nos infundir confiança e esperança? Em Is 51,12 encontramos a resposta: “Sou eu, sou eu quem vos consola!” 

A consolação de Deus é Deus mesmo! 

Podemos dizer que o primeiro Consolador é Jesus, Verbo de Deus encarnado! Ele passou a vida terrena consolando toda sorte de sofrimento e pregando a consolação: “Bem-aventurados os mansos porque possuirão a terra” (Mt 5,5). “Vinde a mim, todos vós que estais aflitos sob o peso dos vossos fardos, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28).

Antes de partir deste mundo para o Pai, Jesus pediu ao Pai para que nos enviasse outro Consolador, para que permanecesse sempre conosco. Prestem atenção! Jesus pede outro Consolador. É outro distinto dele e do Pai. É também, Consolador como o é o Pai que envia o Consolador Filho. Este é o Espírito Santo Deus, Pessoa Consolação, distinto do Pai e do Filho e, ao mesmo tempo, Consolador como o Pai e o Filho!

O Espírito não nos consola a partir de fora. Ele é o “doce hóspede da alma”: consola a partir de dentro, pois habita em nosso coração e nos faz habitar em Deus.

Como é nossa relação com o Espírito Santo. Ele é chamado de Paráclito, ou seja, o Defensor. Ele vem em nossa defesa e nos consola. Ao mesmo tempo, como todo defensor, o Espírito Santo deve ser invocado em nossa defesa. O Defensor deve ser buscado. Infelizmente nós não recorremos suficientemente a esta fonte de consolação. Preferimos recorrer a outras consolações. Trocamos a fonte viva pelas cisternas rachadas das riquezas egoístas, das compras inúteis, dos prazeres fúteis e destrutivos, das distrações que consomem a alma. Há também os que buscam o consolo nas drogas lícitas e ilícitas, na alimentação compulsiva, nos vícios escravizadores. Vivemos mendigando conforto passageiro e superficial em vez de ir à verdadeira fonte de consolação.

Além de não trocar o Consolador por consolações passageiras é preciso que sejamos humildes. “Deus consola os humildes” (2Cor 7,6). Os soberbos são impermeáveis à ternura do Consolador porque são autossuficientes.

Por fim, ao receber a consolação do Espírito devemos ter consciência de que o dom recebido deve ser partilhado com os outros. A graça de Deus nunca é privilégio exclusivista, mas um privilégio que traz a tira colo a responsabilidade pelos outros. São Paulo explica isso com clareza: “Deus nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia” (2Cor 1,4). Quem foi realmente consolado pelo Paráclito se torna paráclito para os outros, ou seja, se torna pessoa que sabe aliviar a aflição, confortar a tristeza, ajudar a superar o medo e dissipar a solidão.



Viver na verdade do Espírito de Jesus- Pe Adroaldo Paloro


“...e Ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade.”


Jesus está se despedindo de seus discípulos; Ele os vê tristes e abatidos, pois, logo não o terão presente entre eles. Quem poderá preencher este vazio da ausência? Até agora, foi Jesus quem cuidou deles, defendendo-os dos escribas e fariseus, sustentando-os na fé frágil e vacilante deles, ajudando-os a descobrir a verdade de Deus e iniciando-os em seu projeto humanizador.

Nesta conversação Jesus não só verbaliza o que pensa, mas também expressa o que sente. O grau de autorrevelação e transparência aumenta.

Esta longa conversa é uma oportunidade única para os discípulos conhecerem mais profundamente o Mestre; ao mesmo tempo lhes é dada a chance de se conectarem com o significado nem sempre consciente daquilo que Jesus quer dizer.

A conversação deixa, então, transparecer as convicções, os sonhos, os sentimentos... de Jesus. “As palavras me escondem sem cuidado” (Manoel de Barros). Nesta maneira de conversar, Jesus se manifesta tal e como é, verbalizando aspectos de si mesmo muito íntimos e pessoais. A experiência do “nós” revela um significado especial de comunhão e entrega.

Jesus lhes fala apaixonadamente do seu Espírito; não os quer deixar órfãos. Ele mesmo pedirá ao Pai que não os abandone, que lhe dê “outro defensor” para que “esteja sempre com eles”. Jesus o chama “Espírito da verdade”. Que se esconde nestas palavras de Jesus?

Para o quarto evangelho, o Espírito é “outro Paráclito” porque aquelas comunidades do final do século I têm claro que o “primeiro Paráclito” é o próprio Jesus.

O termo grego “Parakletos”, que se costuma traduzir como “defensor”, significa literalmente “aquele que está ao lado”, para defender, apoiar, consolar, sustentar... Por esse motivo, alguém já insinuou que a tradução mais de acordo seria tanto de “advogado defensor” como de “assistente social”.

Uma coisa é muito clara para o evangelista João. O mundo não vai poder “ver” nem “conhecer” a verdade que se esconde em Jesus. Para muitos, Jesus terá passado por este mundo como se nada tivesse acontecido; não deixará rastro algum em suas vidas. Para conhecer Jesus é preciso ter olhos novos. Só aqueles que o amam poderão experimentar que Ele está vivo, faz viver e chama ao seguimento. “Conhecimento interno para mais amá-lo e segui-lo” (Santo Inácio).

Este “Espírito da verdade” não deve ser confundido com doutrina, dogmas... Não se encontra nos livros dos teólogos nem nos documentos do magistério da Igreja. Segundo a promessa de Jesus, “o Espírito permanece junto de nós e está dentro de nós”. Nós o escutamos em nosso interior e resplandece na vida de quem segue os passos de Jesus de maneira humilde, confiada e fiel.

É o “Espírito da verdade” que desperta em nós os sentimentos mais elevados, os desejos mais nobres, os recursos inspiradores... Ele tem a capacidade de fazer sintonizar nosso coração com os sentimentos do coração do próprio Jesus.

Talvez seja esta a conversão que mais precisamos hoje como seguidores(as): passar de uma adesão verbal, rotineira e pouco real a Jesus para a experiência de viver enraizados em seu “Espírito da verdade”. Afinal, somos seguidores de uma Pessoa e não de uma religião ou doutrina.

Este “Espírito da verdade” não nos converte em “proprietários” da verdade; não vem para que imponhamos a outros nossa fé nem para que controlemos sua ortodoxia. Vem para não nos deixar órfãos de Jesus, e nos convida a abrir-nos à sua verdade, escutando, acolhendo e vivendo seu Evangelho.

Este “Espírito da verdade” também não nos faz “guardiões” da verdade, mas testemunhas. Nossa missão não é disputar, combater nem derrotar adversários, mas viver a verdade do Evangelho e “amar a Jesus guardando seus mandamentos”.

O “Espírito da verdade” é Aquele que nos desvela como verdadeiros; Ele nos sintoniza com a “verdade de Jesus” e faz emergir nossa verdadeira identidade de pessoas originais, únicas, sagradas...

Quem se deixa conduzir pelo “Espírito da verdade” torna-se testemunho da verdade contra todo tipo de calúnias, mentiras, intolerâncias, fanatismos. É extremamente incoerente quem afirma se deixar conduzir pelo Espírito e atua como canal transmissor de fake news, julgamentos preconceituosos...

A “verdade” se expressa assim como “testemunho” de vida interior. Temos ao nosso lado o Grande Testemunho de Deus, que é Jesus. Podemos ser e somos testemunhas de Deus uns para com os outros.

O Deus de Jesus está presente no mais profundo de nosso ser, identificado com nossa essência. Sendo Amor em nós não pode admitir intermediários. Isto não é útil para nenhum poder ou instituição.

Mas esse é o Deus de Jesus. Esse é o Deus que, sendo Espírito, tem como único objetivo conduzir-nos à plenitude da verdade, a sermos verdade, verdadeiros, autênticos. E aqui “Verdade”, ao contrário do que, muitas vezes pensamos, não é conhecimento, mas Vida.

Enquanto haja Espírito há alento e enquanto haja alento há vida. O Espírito é o alento, a respiração do mundo. O Espírito enche a face da terra, penetra até o mais íntimo dos nossos corações.

O Santo Espírito da verdade nos faz respirar, viver, sonhar, amar, criar... O Espírito, no aperto nos dá largueza, na enfermidade nos convida a crer na cura, no caos nos torna criadores.

O Espírito nos foi enviado para que seja o Alento do mundo; Ele é como rios de água viva para que haja vida e vida em abundância; como labaredas de fogo, para que a energia se multiplique e tudo funcione.

“Creio no Espírito Santo, Senhor e doador de vida!”. Esta confissão de fé não é uma mera fórmula teológica.

É o testemunho de uma experiência permanente, histórica. Sem o “Espírito de Vida” a trama da história se revela inquietante e deprimente. Sob o olhar do Espírito o diagnóstico é decididamente positivo.

Quando nos deixamos acender com as chamas do Espírito, quando nos deixamos arejar pelo vento impetuoso do Espírito, ou refrescar pelos rios de água viva, experimentamos, em nós e nos demais, um florescimento inusitado de carismas, de dons, que tornam possível o impossível; confiamos mais nos ritmos e tempos de Deus; celebramos a existência de uma fonte de Água Viva que tudo fecunda, um Alento divino que nos faz respirar, um Fogo de Deus que tudo energiza, um Espírito que nos guia para o Paraíso, quando parece que tudo está perdido.

O Espírito Santo é a Respiração do mundo. Tudo vive graças ao Espírito. E quando uma pessoa, cheia do Espírito, morre, não o perde... mas o exala sobre os demais. Jesus ressuscitado exalou o seu Espírito sobre os discípulos. Aqueles(as) que na terra deixaram as marcas do bem, da verdade, da justiça, continuam exalando o Espírito sobre nós.

Queira o Abbá e Jesus conceder-nos, neste dia. a graça de respirar como convém e que, depois de enchermos os pulmões de Espírito, nos tornemos mais verdadeiros e esperançados.


Para meditar na oração

A Igreja correu o risco de entender a verdade como algo imposto de fora, resolvido e ensinado desde cima. Mas Jesus promete aos seus um magistério interior: os cristãos só conhecem a autoridade do Espírito-Paráclito, que interpreta e atualiza a mensagem do Evangelho.

Corremos o risco do engano, da manipulação de diferentes tipos. Pois bem, se confiarmos no Espírito que vive dentro de nós, teremos a garantia da verdade. Esta é a verdade interna, aquela que ilumina a vida, a partir do interior de Deus, que é nossa luz.

No silêncio do seu coração, deixe-se ensinar e conduzir pelo Divino Mestre.



O Espírito fortalece nossa esperança - Ana Maria Casarotti


A narrativa deste domingo é a continuação da passagem lida no domingo passado no Discurso de Despedida, como é nomeado no Evangelho de João. São as últimas palavras de Jesus aos seus discípulos, o “testamento”, ou legado de Jesus na ceia de despedida. Os discípulos estão inquietos e assustados e Jesus comunica-lhes palavras reconfortantes, que procuram fortalecê-los no momento que estão atravessando. Na passagem que lemos hoje Jesus fala da vinda do Espírito Santo como aquele que vai continuar sua tarefa.

Desta forma Jesus prepara o grupo que o segue para reconhecer e acolher a presença do Espírito e assim deixar-se conduzir por ele. Convida-os a descobrir sua presença que é discreta e tranquilizadora. O Espírito, o “Advogado”, chamado também o Defensor, que significa “aquele que está junto a...”, será quem prolongará a presença de Jesus e como Jesus estará junto aos seus durante sua vida e os acompanhará e defenderá. O Espírito prometido prossegue a missão de Jesus e “permanece sempre” neles.

É o Espírito que conduzirá a comunidade à verdade completa e a levará a participar da íntima relação de Jesus e do Pai. Uma comunhão que somente é reconhecida pelas pessoas sensíveis a sua presença, ao aroma e à fragrância da sua vida. É assim que a comunidade converte-se na "morada de Deus" no mundo.

Jesus começa dizendo-lhes: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos”. Lembre-se de que na tradição judaica vemos uma importante relação entre o amor e a observância dos mandamentos, como descreve o livro do Deuteronômio quando disse para amar a Javé com todo o coração e com todo o ser e segui-lo e observar seus mandamentos, suas leis, seus decretos (cfr. Dt 13,4-5).

Para um judeu o amor a Deus se concretiza no cumprimento dos mandamentos; esse amor expressa-se na observância da Lei. O texto sobre o qual meditamos hoje inicia com o amor como a condição primeira para entender e acolher a mensagem de Jesus. Sem esse amor suas palavras ficam vazias e sem sentido.

Para acolher com mais profundidade a expressão de Jesus, deixamos que ecoem estas palavras lidas na celebração da Última Ceia: “Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” e continua com a descrição do lavatório dos pés a cada um dos que estavam sentados com ele à mesa. Após este momento, Jesus manifesta claramente qual é seu mandamento: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem amar-se uns aos outros” (Jo 13, 34). O mandamento do amor recíproco é a expressão máxima do amor que Jesus pede aos seus discípulos.

Desde esta perspectiva da obediência ao mandamento de Jesus, que é o amor mútuo, é possível reconhecer a presença do Espírito da Verdade que ele nos promete. Jesus nos convida a preparar o cenário para acolher sua presença. Estar junto ao irmão como nos pede o Senhor é o caminho para receber seu Espírito.

“Eu não deixarei vocês órfãos, mas voltarei para vocês.” Assim como Jesus não nos deixa órfãos, somos chamados a não deixar nossas irmãs e irmãos sós. Pelo contrário, nos convida a caminhar junto aos que estão necessitando de um ouvido que os escute, uma mão estendida, uma pessoa que seja companhia e defensora dos seus direitos. Pensemos, neste momento de pandemia, em tantas pessoas que estão sofrendo a solidão, o desconcerto.

Estar junto ao nosso irmão e irmã dá sentido e razão da nossa esperança, do Espírito que habita em nós e nos faz continuadores da sua presença hoje na situação do mundo que estamos vivendo. 

Como disse o Papa Francisco: “Está surgindo um drama, não sei se subterrâneo, porém dissimulado de nossas sociedades, pois às vezes são sociedades hipócritas e inconscientes. Os aproveitadores veem comércio em tudo, no mundo tão triste das mulheres maltratadas, dos sem-teto. Eles têm uma esperança muito pequena, não têm onde se apoiar. Isso é muito triste, porém ao mesmo tempo nos damos conta de que existem”.

E continua dizendo: “Me preocupa a solidão. Terceirizamos a convivência, esquecemos o lado a lado da convivência. Algumas vezes vês uma família que estão comendo juntos, os pais assistindo à televisão e os filhos olhando o celular, porque não podem sair. Eles têm tempo para se encontrar. Hoje temos que resgatar a convivência, e esta será uma das conquistas à qual podemos chegar nessa tragédia muito triste, porém temos que recuperar a convivência humana, a proximidade”.

Neste domingo Jesus nos convida a abrir nossos ouvidos e nossa vida aos nossos irmãos para acolher suas necessidades e responder-lhes desde a realidade que hoje estamos vivendo. Desta forma nos preparamos para receber o Espírito da Verdade.

Oração

Vento de Deus

Tu que sopras onde queres,

Vento de Deus dando vida,

sopra-me, sopro fecundo!

Sopra-me vida em teu sopro!

Faze-me todo janelas,

olhos abertos e abraço.

Leva-me em boa Notícia

sobre os telhados do medo.

Passa-me em torno das flores,

beijo de graça e ternura.

Joga-me contra a injustiça

em furação de verdade.

Deita-me em cima dos mortos,

boca-profeta a chamá-los.

Dom Pedro Casaldáliga


Viver na verdade de Jesus- José Antonio Pagola


Não há na vida uma experiência tão misteriosa e sagrada como a despedida do ente querido que vai além da morte. Por isso o Evangelho de João procura recolher na última despedida de Jesus seu testamento: aquilo que nunca devem esquecer.

Uma coisa é muito clara para o evangelista. O mundo não vai poder «ver» nem «conhecer» a verdade que se esconde em Jesus. Para muitos, Jesus terá passado por este mundo como se nada tivesse ocorrido; não deixará vestígios nas suas vidas. Para ver Jesus é preciso ter olhos novos. Somente aqueles que o amam poderão experimentar que está vivo e faz viver.

Jesus é a única pessoa que merece ser amada absolutamente. Quem o ama assim não pode pensar nele como se pertencesse ao passado. Sua vida não é uma memória. Quem ama Jesus vive as suas palavras «guarda seus mandamentos», vai ficando «cheio» de Jesus.

Não é fácil expressar essa experiência. O evangelista chama-lhe de «Espírito da verdade». É uma expressão muito acertada, pois Jesus vai-se convertendo numa força e uma luz que nos faz «viver na verdade». Qualquer que seja o ponto em que nos encontremos na vida, acolher Jesus em nós leva-nos para a verdade.

Este «espírito da verdade» não deve ser confundido com uma doutrina. Não se encontra nos livros dos teólogos nem nos documentos do magistério. De acordo com a promessa de Jesus, «vive conosco e está em nós». O escutamos no nosso interior e resplandece na vida de quem segue os passos de Jesus de maneira humilde, confiada e fiel.

O evangelista chama-lhe «Espírito Defensor», porque, agora que Jesus não está fisicamente conosco, defende-nos do que nos poderia separar Dele. Este espírito «está sempre conosco». Ninguém o pode assassinar, como a Jesus. Seguirá sempre vivo no mundo. Se o acolhemos na nossa vida, não nos sentiremos órfãos e desamparados.

Talvez a conversão que os cristãos mais necessitamos hoje é ir passando de uma adesão verbal, rotineira e pouco real a Jesus, para a experiência de viver arraigados no seu «Espírito da verdade». 


Um projeto de vida- Stefania Monti


Tradução Moisés Sbardelotto.

Apenas duas vezes a palavra “órfão/s” aparece no Novo Testamento: em João 14,18 e Tiago 1,27. O texto de Tiago está na linha do Primeiro Testamento, onde viúvas e órfãos, junto com o estrangeiro residente (ger), são considerados categorias sociais frágeis a serem protegidas.

Defender os direitos da viúva e do órfão, em particular, que não são protegidos por um marido e por um pai, é um ensinamento fundamental da Torá e dos Profetas (cf. Ex 22,21-22; Dt 24,17.19-21; 26,12-13; Is 1,17; Jer 7,6; Sl 146,9, apenas para citar alguns exemplos).

O próprio Deus se apresenta como seu pai e juiz – em seu favor, evidentemente – no Salmo 68,6, porque vivem na precariedade, indefesos e sozinhos.

João 14,18 pressupõe essas conotações, mas acrescenta uma que aparece tanto na literatura rabínica quanto na grega: órfão é também um aluno desprovido do próprio mestre, assim como a criança desprovida de seus pais.

Além disso, os discípulos, por terem sido gerados por Deus, estão na condição de filhos ou, melhor, de “filhinhos” (teknia), em João 13,33 e, especialmente, nas cartas joaninas (sete ocorrências no total) e “criancinhas” (paidia) amadas.

Jesus, portanto, não quer deixar órfãos e indefesos os seus, ou sem guia. Ele já é um parakletos, pois promete outro (14,16), mas promete, acima de tudo, que ele virá.

Esses poucos versículos, de fato, são construídos sobre alguns verbos que se repetem dentro de uma inclusão, da qual o versículo 18 está no centro.

Na abertura e no fechamento da nossa perícope (nos vv. 15 e 21, respectivamente), com dois versículos construídos de forma quiástica e como uma hipótese, especifica-se o que é o amor: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos... Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama”.

A linguagem parece a tradicional da observância das miṣwot, que um judeu conhece muito bem: “guardar” implica uma vigilância e uma constante atenção, uma adesão vital e envolvente a todos os aspectos da existência, na gratidão e na bênção.

As duas afirmações, além disso, construídas como se disse, são fáceis de recordar e de memorizar. Mas, acima de tudo, e como bem sabemos, declaram que o amor não é um fato afetivo, mas sim um projeto de vida reconhecível.

Ele foi enunciado primeiro no singular (entolen kainen, Jo 13,34), e é reproposto aqui com o mesmo termo no plural, porque muitas e diversas serão as modalidades para viver o amor e certamente nem todas previsíveis.

Talvez por isso também houve anteriormente uma promessa de não deixar os apóstolos totalmente indefesos (cf. Jo 14,13-14), e era a promessa de não abandonar nenhum pedido feito no seu nome. Essa também é uma palavra antiga sobre a força do Nome (bәšem JHWJ, cf. Sl 118,10ss), que o evangelista reapresenta em chave cristológica.

Essa promessa já é tranquilizadora, mas será reforçada por aqui que se segue, isto é, pela vinda do outro Paráclito que deve guardá-los e pela vinda/retorno de Jesus.

Se se trata da parusia ou da ressurreição, o texto não esclarece: é provável que se trate de ambas as coisas. Em contraste com o “mundo” fingidamente ordenado (kosmos), está a promessa da vida (v. 19), aquela vida plena que já havia sido vista no versículo 6 desse mesmo capítulo, na afirmação identitária de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.

Afinal, o amor é ordenado à vida e se identifica com ela: a Primeira Carta de João esclarece isso, dizendo que quem não ama permanece na morte e na lógica do pecado (cf. 1Jo 3,14).

Aquele que é o caminho, a verdade e a vida também é aquele que ensina os seus seguidores a viverem o mandamento que ele lhes entregou na sua qualidade de mestre e paráclito. Por isso, 1João 5,12 pode concluir de maneira lapidária: “Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho, não tem a vida”.

Se é verdade que um discurso de despedida contém o que está no coração de quem o pronuncia, deixando-o como uma herança, temos aqui, em poucos capítulos – e o sabemos –, o concentrado do Evangelho. Cada evangelista apresenta o seu.

João, centrado como está no amor e na vida, pode se cruzar com a Primeira Carta, para além de qualquer problema cronológico-redacional ou acerca das heresias da época.


O amor está sempre conosco - Enzo Bianchi 

tradução Moisés Sbardelotto.


O trecho do Evangelho deste domingo é a continuação direta do trecho do domingo passado, tirado também do capítulo 14 do Evangelho segundo João.

Se a primeira parte do capítulo tinha como tema a fé em Jesus (“Credes em Deus, crede também em mim”: Jo 14,1), esta segunda parte tem como tema o amor por Jesus (“Se me amais, guardareis os meus mandamentos”: Jo 14,15).

Não há nenhuma oposição entre a fé em Jesus e o amor por Jesus, porque crer não é um ato intelectual, mas é uma adesão, um envolvimento com a vida de Jesus; e um envolvimento só pode ser realizado na liberdade e por amor.

A estrutura do trecho é evidente:

- um marco com as duas afirmações inclusivas sobre o amor por Jesus (vv. 15 e 21);

- dois anúncios em seu interior: o dom do Espírito (vv. 16-17) e a vinda de Cristo (vv. 18-20).

O tema do amor por Jesus já está presente em seus lábios nos Evangelhos sinóticos: “Quem ama seu pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim” (Mt 10,37); mas, no quarto Evangelho, esse amor é especificado, quase como se o redator temesse uma má interpretação.

Assim como Jesus pediu para crer em Deus e também nele, assim também ele certamente pediu para amar a Deus e também a ele, mas sob condições precisas. Ele especifica sobretudo que esse amor não se esgota em um desejo de Deus, em um anseio pelo divino, sem que nele esteja contida a disponibilidade de se conformar com aquilo que Deus quer, vontade de Deus manifestada em sua palavra, vontade a ser realizada todos os dias como observância concreta de seus mandamentos.

É por isso que as palavras de Jesus parecem peremptórias: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”. Em todas as vias religiosas ama-se a Deus, mas se pode amá-lo como um ídolo, especialmente se for um deus construído e “idealizado” por nós; ou, melhor, precisamente quando é um deus que é um produto nosso, nós o amamos mais!

Mas o nosso Deus vivo tem um rosto preciso. Não é a divindade, o divino: é um Deus que falou expressando sua vontade, e só o ama verdadeiramente quem busca realizar, embora com dificuldade, tal vontade.

Parece-me que não afirmamos com clareza e força suficientes essa verdade decisiva para a vida cristã, mas pensamos que basta dizer, por exemplo: “O que temos de mais caro no cristianismo é Jesus Cristo”, palavras que podem ser uma confissão de fé, contanto, porém, que Cristo não seja o “nosso Cristo”, aquele inventado e escolhido por nós, mas o Cristo Jesus narrado pelos Evangelhos e transmitido pela Igreja.

Amar Jesus, portanto, significa não só se alimentar de um amor de desejo, não só lhe dizer que a nossa alma tem sede dele (cf. Sl 41,3; 62,2), mas realizar aquilo que ele nos pede, observar o mandamento novo, isto é, último e definitivo, do amor recíproco.

Sabemos bem como Jesus formulou esse mandamento: “Assim como eu vos amei, assim também ameis uns aos outros” (Jo 13,34; cf. 15,12).

Mas, atenção, Jesus não disse: “Assim como eu vos amei, assim também amai-me”, mas “ameis uns aos outros”. Porque ele nos ama sem nos pedir o retorno, mas nos pedindo que seu amor que nos alcança se difunda, se expanda como amor pelos outros, porque essa é sua vontade de amor.

Ele dirá ainda: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15,14), porque o discípulo não deve alimentar ilusões em si mesmo, cultivando seu “eu religioso”, cheio de sentimentos afetivos por Deus ou por Jesus, mas ignorando suas palavras, sua vontade, sua espera.

Aqui está o grande mistério do seguimento cristão: segue-se Jesus não como um discípulo segue o Buda ou outro mestre espiritual. De acordo com a tradição zen budista, o Buda podia afirmar: “Se você encontrar o Buda pela estrada, mate-o!”, para dizer que o amor pelo mestre pode obstruir o amor pela sua mensagem. Jesus, em vez disso, quer que o amemos, que nos envolvamos em sua vida, a tal ponto que seus mandamentos não sejam imposições ou leis, mas sejam realizados no amor.

Justamente por isso, eis a presença de um dom feito pelo Pai, por intercessão de Jesus: um Parákletos, alguém que está ao lado, “outro Consolador” que, como Jesus já está junto do Pai, esteja sempre com os discípulos.

É o dom do Espírito, que é sempre o Espírito do amor que desce ao coração do cristão, dando-lhe a capacidade de responder ao Pai na liberdade e com amor. Graças ao amor por Jesus, portanto, podemos ser fiéis a seus mandamentos; e, ao mesmo tempo, a observância de seus mandamentos testemunha a autenticidade do nosso amor por ele.

Esses mandamentos de Jesus não são uma lei – atenção para não fazer regressões! –, são Jesus mesmo, “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6), são uma vida humana concreta vivida no amor até o fim (cf. Jo 13,1).

Depois de sua glorificação, o amor de Jesus pode ser experimentado pelo discípulo como amor do outro Consolador, do Espírito Santo sempre conosco por intercessão do próprio Jesus: Espírito que deve ser por nós invocado, acolhido, conservado, obedecido até ser a nossa “respiração”, aquilo que nos anima.

Devemos confessar: esse Espírito não pode ser acolhido pelo mundo, aquele mundo que não é a humanidade tão amada por Deus (cf. Jo 3,16), mas sim a estrutura mundana, o ordenamento de injustiça dominante sobre a terra que está em revolta contra Deus, isto é, contra o amor e contra a vida.

Esse sistema de mentira organizada, de violência que não conhece limites, de injustiça que oprime os pobres e os pequenos, infelizmente, também engloba os homens e as mulheres alienados por ele.

Pois bem, estes não recebem o dom do Espírito, não percebem o Espírito e não querem nem conhecê-lo, preferindo as trevas à luz (cf. Jo 3,19), a morte à vida. Os cristãos, se são verdadeiros discípulos, não com palavras e com ritos religiosos, mas na concretude da vida cotidiana, no tecido da fraternidade e da sororidade, em vez disso, conhecem neles a presença oculta do Espírito.

O Espírito é defesa na hora do processo tentado pelo mundo, é consolação na hora da prova, é sustento na fraqueza (cf. Mc 13,11 e par.; Jo 14,26), é presença de Cristo, para que o cristão sempre possa se sentir “comitante Christo”, na companhia de Jesus Cristo, por meio de seu Espírito.

Na segunda parte do trecho, Jesus fala de sua vinda, depois de sua ida para junto do Pai. Sim, está prestes a vir um tempo de ausência, no qual os discípulos poderão se sentir perturbados, sem guia, sem pastor. Experimentarão essa orfandade tão dolorosa pela falta da fonte do amor e da vida? Não, assegura Jesus, porque ele, embora ausente fisicamente, não vai abandoná-los. A presença do Espírito Santo, dom do Pai e, ao mesmo tempo, de Jesus, não vai fazê-los se sentir órfãos. Haverá uma nova “experiência” de Jesus que o mundo não vai conhecer, e que os discípulos, ao contrário, viverão, até vê-lo não com os olhos de carne, mas com os olhos da fé e do amor, os olhos do coração.

Jesus não será um morto, mas um vivente, o Vivente, e os discípulos que vivem de sua própria vida terão esse conhecimento dele. Presença elusiva, a do Ressuscitado, que vem a nós sem aparições...

Bernardo de Claraval, em seu admirável comentário ao Cântico dos Cânticos, confessa essas vindas de Jesus e as descreve como “visitas do Verbo”, visitas furtivas e esporádicas. E, justamente quando o nosso coração percebe a presença de Jesus, então ele desaparece, como o Amado: “Ele estava lá... Nenhuma sensação. Porém, no meu coração, ocorriam mudanças” (Discursos sobre o Cântico 74,6), mudanças de conversão, palpitações de amor, realizações de sua vontade...

Jesus é o Vivente, e o discípulo vive, vive nele com vida plena, na liberdade e na alegre confiança de quem nunca é órfão. E, mais uma vez, Jesus fala de uma contraposição: “O mundo não mais me verá, mas vós me vereis”. Palavras que acolhemos na consciência de que não podemos nos gabar nem nos sentir garantidos. Não podemos dizer “nós” e “eles”, os redimidos e os condenados!

Podemos ver Jesus à luz da fé, não da visão (cf. 2Cor 5,7), podemos experimentar a vida abundante que ele quer nos dar; mas muitas vezes somos incapazes de acolher o dom, somos cegos que dizem ver (cf. Jo 9,40-41).

Que essas palavras de Jesus, portanto, não se tornem fonte de justificação, impulsionando-nos a evitar a reivindicação da conversão e a não acolher aquele dom que nós não podemos nos dar: o dom do Espírito de Cristo, o dom de seu amor.

Eis, então, a conclusão, que retoma o início do discurso: “Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele”. Amar, observar os mandamentos é a condição para que Jesus se manifeste, e, na observância da vontade de Deus, por meio do amor fraterno, seremos amados por Deus e por Jesus.

A vida de Deus é um fluxo de amor no qual, se acolhemos seu dom, podemos ser envolvidos. É isto que deveremos conhecer na embriaguez do Espírito e na comunhão com Cristo em cada eucaristia que vivemos: uma celebração do amor!



TEXTO EM ESPANHOL de Dom Damián Nanini, Argentina


SEXTO DOMINGO DE PASCUA CICLO "A"


Primera lectura (He 8,5-8.14-17):


Importa citar el versículo anterior (8,4) pues nos explica la razón de la predicación de Felipe en Samaría: "Los que se habían dispersado iban por todas partes anunciando la Palabra". Es decir, la persecución de los cristianos en Jerusalén, donde Saulo es protagonista, los "impulsa" a otras regiones a predicar la Palabra. Así llega Felipe a Samaría donde predica a Cristo y obra "signos"; y es escuchado favorablemente y con alegría por la multitud. Se trata del diácono Felipe que había sido nombrado poco antes por el libro de los Hechos (He 6,5). Recordemos también aquí que los samaritanos eran considerados por los judíos como herejes, como no pertenecientes al verdadero Israel. Se trata, por tanto, de una primera apertura universal de la Iglesia pues se trascienden las fronteras, no sólo geográficas, sino étnicas. Notemos que una "causa segunda", la persecución de la Iglesia, contribuye al cumplimiento de lo anunciado por el Señor antes de su Ascensión: "recibirán la fuerza del Espíritu Santo que descenderá sobre ustedes, y serán mis testigos en Jerusalén, en toda Judea y Samaría, y hasta los confines de la tierra" (He 1,8).

Esta apertura a los paganos o gentiles es una nueva realidad que ha surgido y, por ello, los Apóstoles desde Jerusalén envían a Pedro y Juan para verificar y legitimar la misión de Felipe. Así lo hacen, completando el bautismo en el nombre del Señor Jesús que habían recibido los samaritanos con la donación del Espíritu Santo. Entonces, por un lado, tenemos la audacia, la palabra y los signos prodigiosos de Felipe; y, por otro, la buena disposición de los habitantes de Samaría para recibir la Palabra. 

"Y fue grande la alegría de aquella ciudad" (8,8). En la obra de Lucas se señala a menudo que ante cada hecho realizado por Jesús la multitud reacciona llenándose de alegría y alabando a Dios (cf. Lc 2,20; 5,26; 7,16; 10,17) y que también la comunidad cristiana posee esta nota característica (He 2,46-47; 3,9; 5,41; 8,8.40; 13,48; 15,3...).

Segunda lectura (1Pe 3,15-18):


Esta carta, y estas indicaciones en particular, están presuponiendo una situación de persecución por parte del mundo que sufren los cristianos, aunque no podemos saber con certeza en qué consistió. Algunos piensan que se trata de procesos ante tribunales, por eso se debe estar dispuesto a "dar razón de la esperanza". En concreto, "la carta habla constantemente del comportamiento llamativo de los cristianos y de posibles reacciones ante él por parte de los no cristianos: por un lado, un comportamiento perjudicial para ellos, que les acarrea agresiones (por ejemplo 4,4); y por otro, un comportamiento muy fecundo, como testimonio de fe para los demás (por ejemplo 1,12; 3,1s) […] En una situación de calumnia y difamación, el eventual sufrimiento y renuncia a la revancha (v. 9) no eran suficientes en todos los casos. Se exigía además (no en sustitución de lo anterior) la confesión pública de la fe"1.

Luego se especifica el modo de hacer esta defensa (apología): con dulzura, suavidad y tranquilidad de conciencia. Esta última expresión, en el contexto de la carta, significa "obrando bien", teniendo una conducta apropiada al cristiano. Sobre esta carta meditó el Papa Francisco en la audiencia del miércoles 5 de abril de 2017: “Comprendemos entonces que de esta esperanza no se debe tanto dar razón a nivel teórico, de palabra, sino sobre todo con el testimonio de la vida, y que esto sea tanto dentro de la comunidad cristiana, como fuera de ella. Si Cristo está vivo y vive en nosotros, en nuestro corazón, entonces debemos dejar también que se haga visible, no esconderlo, y que actúe en nosotros. Esto significa que el Señor Jesús debe convertirse siempre cada vez más en nuestro modelo: modelo de vida y que nosotros debemos aprender a comportarnos como Él se ha comportado. Hacer lo que hacía Jesús. La esperanza que habita en nosotros, entonces, no puede permanecer escondida dentro de nosotros, en nuestro corazón: pues, sería una esperanza débil, que no tiene el valor de salir fuera y hacerse ver; sino nuestra esperanza, como se observa en el Salmo 33 citado por Pedro, debe necesariamente salir fuera, tomando la forma exquisita e inconfundible de la dulzura, del respeto, de la benevolencia hacia el prójimo, llegando incluso a perdonar a quien nos hace daño. Una persona que no tiene esperanza no consigue perdonar, no consigue dar la consolación del perdón y tener la consolación de perdonar”.

Sigue una especie de proverbio que resume un tema central de toda esta carta: el sufrimiento del justo, del inocente, del cristiano por serlo. Si es la voluntad de Dios, es preferible este sufrimiento del que obra bien sobre el sufrimiento punitivo, como castigo al que obra el mal. Y la razón de esto es la semejanza con Cristo, el justo, quien padeció por los injustos. Sobre esto decía el Papa Francisco en la antedicha audiencia: “He aquí por qué san Pedro afirma que «más vale padecer por obrar el bien que por obrar el mal» (v. 17): no quiere decir que está bien sufrir, sino que, cuando sufrimos por el bien, estamos en comunión con el Señor, el cual ha aceptado padecer y ser puesto en la cruz por nuestra salvación. Cuando entonces también nosotros, en las situaciones más pequeñas o más grandes de nuestra vida, aceptamos sufrir por el bien, es como si esparciésemos entorno a nosotros semillas de resurrección, semillas de vida e hiciésemos resplandecer en la oscuridad la luz de la Pascua.”


Evangelio (Jn 14,15-21):


Debemos recordar que en la sección de Jn 14,12-26 se desarrollan cuatro promesas que Jesús hace a sus discípulos en su discurso de despedida: 1. hacer obras mayores que Él; 2. el don del Paráclito; 3. la inhabitación del Padre y del Hijo en los creyentes; 4. la recepción de la enseñanza del Paráclito2. 

El texto que leemos este domingo nos presenta la segunda y tercera de estas promesas con sus respectivas condiciones. En efecto, la condición para recibir el don del Paráclito es el amor a Jesucristo. Si los discípulos aman a Jesús estarán en condiciones de guardar sus mandamientos. Si los discípulos guardan los mandamientos, Jesús le pedirá al Padre y él les dará otro Paráclito, para que esté siempre con ellos.

El texto griego habla de “paráclito” (παράκλητος) que etimológicamente significa “alguien llamado para que esté junto a uno y lo ayude o defienda”, de aquí que se pueda traducir como “consolador”, “ayudante”, “consejero” o “intercesor”. Como término técnico en el campo legal significa también “abogado” o “defensor”, como reflejan algunas traducciones. 

Jesús habla de “otro” Paráclito dejando el claro que él mismo lo ha sido para sus discípulos durante su vida terrena. Y este Paráclito lo sustituirá y prolongará su obra en favor de los discípulos; siendo una persona distinta del Padre y del Hijo.

En 14,17 se lo llama “espíritu de la verdad” (τὸ πνεῦμα τῆς ἀληθείας) y, de este modo, se lo identifica también con el Espíritu Santo, que será enviado por el Padre para que acompañe, guíe, ilumine y defienda a los discípulos mientras dure la ausencia física de Jesús después de su resurrección. La expresión “Espíritu de la Verdad” aparece tres veces en el evangelio de Juan y siempre en el contexto del discurso de despedida (Jn 14, 17; 15, 26 y 16, 13). El Espíritu de la Verdad se identifica con el Paráclito.


Ahora bien, sólo el Espíritu de la Verdad puede llevarnos a experimentar la Verdad de Dios; la Verdad de su Amor incondicional por nosotros. Y sólo pueden recibirlo los verdaderos discípulos de Jesús, que son quienes lo aman y guardan sus mandamientos. El mundo no lo puede recibir porque no lo ve (theōrei) ni lo conoce (ginōskei). Aquí es bueno notar lo que nos dice L. Rivas: "El verbo theōreō designa una mirada profunda, que se expresa mejor como contemplación. El conocimiento implica tener experiencia. Careciendo de este conocimiento y de esta experiencia el mundo no tiene las condiciones para recibir al Paráclito"3. 

Los discípulos, en cambio, serán capaces de contemplar (theōrei en el v. 19) y conocer-experimentar (ginōskei en el v. 20) a Jesús en su condición de Hijo de Dios glorificado. Se trata de Jesús resucitado, ausente por tres días, pero que luego volverá a sus discípulos y ellos podrán verlos porque creen, lo aman y observan sus mandamientos; en cambio los del mundo, los que no tienen fe, no podrán verlo. Al respecto dice X. León Dufour4: “se afirma su venida en un sentido absoluto y es una venida muy próxima: tendrá lugar en un breve plazo, concretamente «en aquel día». Esta expresión tradicional designa en el antiguo testamento el momento de una gran intervención divina y, en el nuevo, la parusía de Cristo. Jesús se sirve de ella para evocar el día de su resurrección de entre los muertos. De hecho, Jn es el único evangelista que utiliza el verbo «venir» en los relatos de las apariciones pascuales (cf. 20,19.24). Aquí Jesús anuncia: «Veréis que yo vivo», refiriéndose en primer lugar a estos encuentros y confirmando que la perspectiva es la de la victoria sobre la muerte. En cierto sentido puede decirse que Jn anticipa la parusía de Cristo al día de pascua; sin embargo, sólo los discípulos, y no el mundo, percibirán vivo a Jesús. A continuación se añade: «y vosotros también viviréis»: gracias a la venida de aquel que atravesó la muerte, los creyentes participarán de la comunión divina. Las apariciones pascuales no son un término, sino el comienzo de una presencia duradera”.

En otras palabras, los discípulos podrán experimentar que Jesús está en el Padre y que la vida del Padre se encuentra en Jesucristo porque ellos mismos participarán de esta vida, de la relación filial entre el Hijo y el Padre5.

Por último, el texto nos presenta la tercera promesa de Jesús: la venida del Padre y la manifestación del Hijo: "El que recibe mis mandamientos y los cumple, ese es el que me ama; y el que me ama será amado por mi Padre, y yo lo amaré y me manifestaré a él" (14,21). El verbo “manifestar” (emfanizō) significa hacer visible, descorrer el velo para que se vea, manifestarse. Llegamos entonces, como fruto maduro, a la experiencia cristiana de Dios, de Cristo que vive y habita en el cristiano. 

Recapitulando esta sección, vemos que Jesús “promete el Espíritu, pero también su propia vuelta y así mismo la inhabitación del Padre en los suyos; y no se trata de tres visitadores separados, sino de tres personas cada una de las cuales llama a la otra. El Espíritu nos permite ver a Cristo glorificado, y en éste vemos al Padre”6.


Algunas reflexiones:


El tiempo de Pascua nos ha invitado insistentemente a tener una experiencia de Cristo Resucitado. Esto es, a descubrirlo presente en la Iglesia, en la comunidad, en la Palabra, en la Eucaristía, en los pastores y en los diversos ministerios y servicios eclesiales. Retomando esta idea fuerza del tiempo pascual, a saber, la búsqueda y el encuentro con Jesús Resucitado en nuestra vida, el evangelio de este domingo nos revela un "lugar" privilegiado de Su presencia. Y hasta casi diría un "lugar" un poco olvidado a pesar de ser fundamental en la vida cristiana. Nos referimos a la Presencia de Dios en nuestro interior, en nuestra alma, en nuestro corazón. La Santísima Trinidad, Padre, Hijo y Espíritu Santo, quiere habitar en nosotros, hacer de nuestro corazón su morada, su habitación, su lugar de residencia.

Al respecto leemos en el Catecismo de la Iglesia Católica nº 260: "El fin último de toda la economía divina es el acceso de las criaturas a la unidad perfecta de la Bienaventurada Trinidad. Pero desde ahora somos llamados a ser habitados por la Santísima Trinidad (Jn 14,23)”. 

También la experiencia de la vida cristiana nos confirma que éste es un "lugar" fundamental de la Presencia de Dios por cuanto es allí donde lo han encontrado (y gozado) grandes creyentes como San Agustín, ese apasionado buscador de Dios, quien escribía en sus Confesiones: "¡Tarde te amé, hermosura tan antigua y tan nueva, tarde te amé! Y he aquí que tú estabas dentro de mí y yo fuera, y por fuera te buscaba; y deforme como era, me lanzaba sobre estas cosas hermosas que tú creaste. Tú estabas conmigo, mas yo no lo estaba contigo. Reteníanme lejos de ti aquellas cosas que, si no estuviesen en ti, no serían. Llamaste y clamaste, y rompiste mi sordera; brillaste y resplandeciste, y fugaste mi ceguera; exhalaste tu perfume y respiré, y suspiro por ti; gusté de ti, y siento hambre y sed, me tocaste, y abraséme en tu paz" (10, 27).

En la misma línea, San Juan de la Cruz le responde al alma que quiere ir en la búsqueda de Dios y pregunta: “¿A dónde te escondiste amado?” lo siguiente: “le respondamos mostrándole el lugar más cierto donde está escondido para que allí lo halle a lo cierto con la perfección y sabor que puede en esta vida y así no comience a vaguear en vano tras las pisadas de las compañías. Para lo cual es de notar que el Verbo Hijo de Dios, juntamente con el Padre y el Espíritu Santo, esencial y presencialmente está escondido en el íntimo ser del alma; por tanto, el alma que le ha de hallar conviénele salir de todas las cosas según la afección y voluntad y entrarse en sumo recogimiento dentro de sí misma, siéndole todas las cosas como si no fuesen” (Cántico Espiritual B, 6).

Esta experiencia de la presencia de la Santísima Trinidad en el alma fue muy fuerte en Santa Isabel de la Trinidad desde muy joven. En cierto tiempo, por un problema de salud, no podía caminar y le escribe esto a un sacerdote: “No puedo ir a la iglesia ni recibir la sagrada Comunión, pero, ya ve, Dios no tiene necesidad del Sacramento para venir a mí. Me parece que lo poseo igualmente. ¡Es tan buena esta presencia de Dios! Es allí, en el fondo, en el cielo de mi alma donde me gusta buscarle, pues nunca me abandona. “Dios en mí, yo en Él”.  

Esta presencia de Dios en nosotros es también el coronamiento de nuestro itinerario pascual al igual que lo fue para los apóstoles. Como bien nota J. Lafrance7: “Al vivir una experiencia de intimidad con Cristo, se instaló en el corazón de los apóstoles un deseo ardiente de permanecer con Cristo. Y, sin embargo, su presencia debe terminar. Debe dejar a los suyos para introducirlos en una experiencia más espiritual de su presencia. Para que nos sea dado el Espíritu Santo y permanezca en nosotros, es necesario que Cristo vuelva a su Padre y sea glorificado. Para prolongar su presencia en la tierra y permitirnos permanecer con él, Jesús envía su Espíritu (Jn 14,16-17). El Espíritu Santo se instala, pues, de manera estable en el corazón de los hombres, es él quien da testimonio de nuestra unión permanente con Dios”.


Ahora bien, tal vez hemos hablado con un poco de ligereza de este encuentro con Cristo Resucitado sin tomar verdadera conciencia de que se trata de un acontecimiento de Gracia, de un Don que sólo el Espíritu Santo puede obrar en el creyente. Justamente en el evangelio de hoy Jesús anuncia el envío del Espíritu Santo, del Espíritu de la verdad y su obra en los cristianos. Y "¿Cuál será el papel de este Espíritu de la verdad? Dar a conocer cada vez con mayor profundidad los misterios de Cristo, el significado de su vida, de sus palabras y acciones; al propio tiempo dará a los cristianos fuerzas para vivir en un mundo que no los comprende ni ve lo que ven ellos. En efecto, Jesús insiste en ello: este Espíritu sólo puede ser recibido, visto y conocido por los que creen y guardan los mandamientos amando"8. 

La obra del Espíritu Santo en nosotros es un Don y al mismo tiempo una necesidad pues sólo Él puede hacer posible, "vivible" la vida cristiana. El Espíritu Santo completa y actualiza en los creyentes la obra de Cristo, su misterio pascual. Pero esta Gracia necesaria tiene que ser aceptada, recibida; en otras palabras, su recepción está condicionada por la actitud del hombre, como bien señala el evangelio de hoy. En efecto, nos corresponde poner las condiciones que pide Jesús – fe, amor y observancia de los mandamientos - para que nuestro deseo se vuelva realidad y seamos "invadidos por su Presencia". Por tanto, es necesario ponerse en camino, ser verdaderos discípulos de Jesús, y aguardar pacientemente Su manifestación. Y cuando esta llegue, nuestra vida será una existencia pascual, fruto de la acción del Espíritu Santo en nosotros. 


En síntesis: Jesús nos promete la presencia y la acción del Espíritu Santo en nuestra vida para entrar en la comunión de amor entre el Padre y el Hijo. Necesitamos de la acción misteriosa y fecunda del Espíritu Santo para amar a Jesús, observar los mandamientos, participar de su amor por el Padre y recibir la manifestación de su amor. Esta experiencia del amor personal de Jesús, de la comunión trinitaria, se manifestará en nuestra vida porque nos librará del aislamiento del yo y nos abrirá a la comunión de amor a los hermanos; a tocar las llagas de Cristo en nuestros hermanos sufrientes. Nos impulsará a una "salida" evangelizadoras, a una conversión pastoral, a una mirada atenta al prójimo que necesita, como todos los hombres, del amor sanador de Jesús y del Espíritu Santo. Amén.



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Si te amamos


Señor,

Tu Amor por nosotros, te pedimos

Se derrame como un torrente en nuestros corazones

Para adorarte y esperarte pacientes


Sin tu auxilio el mundo que amas

Se pierde en la desesperanza y nos torna indiferentes

Y más que nunca necesita de la alabanza


Porque vendrás, si, vendrás y comprenderemos

Pero ahora en la oscuridad de estos tiempos

Se nos hace duro andar despiertos


Tu Palabra es Verdad, y tú eres el Verbo

No nos sueltes de tu mano, Amigo verdadero

Y hazte Pan más que nunca: Alimento.


Gloria al Padre y al Hijo y al Espíritu Santo

Donde hacemos morada tus hijos

y la Eternidad pregustamos. Amén.



1 N. Brox, La primera carta de Pedro (Sígueme; Salamanca 1994) 215.

2 L. H. Rivas, El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 393.

3 L. H. Rivas, El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 398.

4 Lectura del evangelio de Juan. Jn 13-17. Vol. III, Salamanca, Sígueme 1995; 103.

5 Cf. L. H. Rivas, El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 398-399.

6 G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 367.

7 Morar en Dios (San Pablo; Madrid 1996) 17.

8 A. Nocent, Celebrar a Jesucristo IV. Semana Santa y Tiempo Pascual (Sal Terrae; Santander 1986) 217.

9 El maestro del deseo. Una lectura del evangelio de Juan (PPC; Madrid, 1999) 167.