4º DOM. ADV. A

DEUS CONOSCO

4º DOMINGO DO ADVENTO ANO A 

18/12/2022


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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Isaías 7,10-14 

Salmo Responsorial 23(24)-R-O rei da glória é o Senhor onipotente; abri as portas para que ele possa entrar! 

2ª Leitura: Romanos 1,1-7

Evangelho de Mateus 1,18-24 

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – 18A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo. 20Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe em sonho e lhe disse: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. 22Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco”. 24Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado e aceitou sua esposa. – Palavra da salvação. 


Dom Júlio Endi Akamine - Arcebispo de Sorocaba SP.

Mt 1,18-24

No evangelho de Mateus que acabamos de ouvir, vemos o cumprimento da profecia de Jeremias “farei nascer um descendente de Davi; reinará como rei e será sábio, fará valer a justiça e a retidão na terra”. 

José, descendente de Davi, recebeu o anúncio desse nascimento prometido, que já tinha sido também profetizado por Isaías: “eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho”.

Ao mesmo tempo, vemos que esse nascimento tão aguardado e esperado não se realizou sem um drama pessoal muito doloroso para José e Maria. José chegou à convicção de que deveria renunciar a Maria, que precisava renunciar ao casamento com ela que era o tesouro de sua vida. Podemos imaginar o sacrifício que seria para José ter que renunciar a Maria, mas ele estava disposto a tal renúncia. De fato, os grandes dons de Deus são, muitas vezes precedidos de grandes tribulações e provas: Deus alarga assim o nosso coração para poder preenchê-lo ainda mais do seu dom. O dom de Deus é sempre muito grande, e nós precisamos dessa preparação, muitas vezes dolorosa, de nosso coração.

O mesmo aconteceu com José. Ele foi preparado para receber a graça de Jesus. O dom de Jesus foi dado não somente a José, mas ao mundo todo. Assim o drama pessoal de José o levou a viver uma grande alegria na castidade perfeita de uma união espiritual profunda com Maria. Sempre pensamos que a castidade de José o distanciou de Maria e de Jesus. Essa compreensão, porém, é preconceituosa e errada. Foi a castidade que permitiu a José viver em uma comunhão de intimidade e de unidade com Maria muito profunda.

Podemos também admirar a força de alma e a obediência de São José. Ele, sendo um homem justo, decidiu renunciar a Maria, mas sem fazer escândalo. Aceitou o sacrifício no silêncio. Isso é sinal de grandeza e força de alma. Mas o mais admirável é a sua obediência a vontade de Deus.

Quando fazemos grandes sacrifícios, normalmente nós nos endurecemos e o nosso coração se fecha. Não queremos mais ouvir mais nada porque queremos nos manter no sacrifício assumido. Mas S. José, mesmo pronto ao sacrifício, se mantem aberto à Palavra de Deus. O anjo, ao vir ao encontro de José, encontra o seu coração aberto para as grandes promessas de Deus.

Peçamos ao Senhor, a força de alma para fazer sacrifícios por amor. Peçamos também que, mesmo dispostos a grandes sacrifícios, nos mantenhamos abertos a vontade de Deus, sem nos enrijecer em nossas decisões. Que estejamos sempre abertos às promessas divinas.


JOSÉ, O HOMEM DO ADVENTO - Pe Adroaldo Paloro

 

“José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa...”(Mt 1,20)

A liturgia do quarto domingo do Advento nos motiva a buscar inspiração na pessoa de São José, indicando-o como apoio e guia nos momentos de obscuridade e de dificuldade; ele é o homem do discernimento que, na solidão, no silêncio e na atenção ao seu coração, vai vislumbrando o caminho a assumir e a decisão a ser tomada. Sua presença silenciosa põe em destaque a pessoa de Maria que, por seu “fiat” e sua maternidade se revela a protagonista do Advento.

No contexto do mistério da Encarnação José se revela como um personagem de “segundo plano”, discreto e silencioso, recordando-nos o protagonismo oculto, mas imprescindível, de todos(as) aqueles(as) que atuam em favor do Reino, aparentemente escondidos(as) ou na “segunda fila”.

O Advento realça o valor de todas essas pessoas que não são como os cata-ventos que brilham no alto, mas vigas que sustentam o edifício no porão, e que tecem o essencial da existência. Pessoas aparentemente anônimas – mães, mestres, avós, amigos – que estão aí ajudando a construir um novo mundo, às vezes sem o reconhecimento por sua atitude sem preço. Assim também foi o caso do próprio Jesus de Nazaré, durante a maior parte de sua vida.

Neste 4º. domingo do Advento, fazemos memória de S. José como o referente de todas as pessoas que vivem uma profunda fidelidade a Deus, quase sem serem percebidas, mas com um protagonismo sem igual na história da Boa Notícia. O mundo precisa de homens e mulheres de discreta e humilde presença para sustentar os outros, sobretudo aqueles que carecem dos recursos necessários e vínculos humanos.

A atitude de José, homem de “segunda fila”, revela uma humildade e uma confiança tão cheia de generosidade como de incompreensão. Também foi grande o seu “fiat”. Abandonou-se no mistério de Deus, e isto implicou assumir uma missão incômoda que, certamente, não foi compreendida e aceita entre seus parentes e vizinhos; com plena disponibilidade e fé adulta acolheu os planos de Deus sem exigir maiores explicações. Seu lugar, a partir de então, é de “segunda fila”, cuidando amorosamente de sua família e renunciando todo protagonismo de intenso brilho.

São José é conhecido como o santo do Advento porque neste tempo nos ensina com sua vida a atitude da espera e da confiança total em Deus que sempre cumpre suas promessas, embora, às vezes não coincidam com nossos planos. Com S. José podemos aprender de sua fé e sua humildade a dobrar nosso ego; sua valentia nos inspira a viver com mais disponibilidade; seu despojamento nos ajuda a afastar de nossa vida a busca de ostentação e vanglória... Atitudes estas que certamente acabaram lhe proporcionando uma verdadeira paz interior.

José de Nazaré foi aquele que se abriu ao Deus surpreendente e deixou-se conduzir por Ele. Dele não se diz muito nos evangelhos, mas o que ali se diz nos revela uma presença surpreendente, capaz de ver mais além do cotidiano e estabelecido. Presença que aponta para uma outra presença, a de Jesus.

Lendo o Evangelho com uma sensibilidade mais apurada podemos encontrar, com facilidade, uma descrição muito aproximada de quem era José, da casa de Davi. Em cada gesto de Jesus, revelava-se um ensinamento do Pai e de seu pai José; em cada parábola havia uma expressão da natureza e da terra com o selo de José, e uma mensagem espiritual inspirado a partir do alto. Em cada cura que Jesus realizava havia um modo e uma sensibilidade de tratar o enfermo, o desvalido, herdados da tradição mantida por José; e à hora de orar havia um hábito criado na casa de seu pai, fiel cumpridor da lei mosaica e aberto à novidade e ao mistério que seu filho Jesus deixava transparecer.

Enfim, quem, senão José, juntamente com Maria, pôde ensinar a Jesus a tratar às pessoas, a servir os mais pobres, a olhar, a falar, a sorrir...!

Seria um equívoco considerar José uma espécie de marionete nas mãos de Deus, ou que fosse atropelado na sua liberdade. A mensagem evangélica tem como ponto de partida a convicção de ser possível o ser humano "escutar e praticar" a vontade de Deus, mesmo quando lhe é pedido algo, à primeira vista, superior à capacidade de suportar. José não deu mostras de agir a contragosto, acuado, pressionado ou duvidoso. Agiu com a liberdade de quem sabe o que faz, colocando-se à inteira disposição de Deus, com total generosidade. Ele conhecia as bases em que se fundamenta sua relação com Deus, onde se enraíza sua disposição para viver em profunda sintonia com Aquele que conduz a história para a sua plenitude.

José, na sua vocação paterna, torna-se “diáfano” de Deus Pai (deixa transparecer a imagem paterna/materna de Deus). Através do seu modo de ser e de agir, carregado de silêncio inspirador, José, não só revela uma profunda comunhão com Aquele que o chamou a assumir a vocação paterna, mas deixou “fluir”, no cotidiano e na simplicidade de sua vida, os atributos d’Aquele que o conduzia. O coração de José passa a pulsar em acorde com o coração de Deus Pai: a Paternidade divina flui na paternidade humana.

Deus Pai encontrou liberdade para ativar e tornar visível em José as características próprias de um pai:

“Não se nasce pai, torna-se tal... E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito”. (Papa Francisco, Patris Corde)

Porque estava presente a Deus, José fez-se presente nos momentos decisivos da Família de Nazaré, bem como fez-se presente na vida das pessoas. Uma presença que faz a diferença: presença solidária, marcada pela atenção, prontidão e sensibilidade, próprias de um pai que acompanha tudo com ternura.

Sua presença não era presença anônima, mas comprometida; presença que é “música calada” nos lugares cotidianos e escondidos, que sabe enternecer-se e escutar as inquietações que procedem desses lugares. Uma presença que descobre o próximo no próximo, que sabe resgatar a solidariedade na vida cotidiana; uma presença que se manifesta na ausência de recompensa ou de interesse próprio.

Em meio à rotina de uma vida simples, José foi fazendo-se perguntas, esperando as respostas, ouvindo o que seu coração lhe dizia e discernindo o que Deus queria dele. Ano após ano, em um pequeno lugar, detrás de uma vida que nada tinha de diferente das outras vidas.

José, em Nazaré, continua sendo luminoso e inspirador para todos nós, num momento em que as transformações são rápidas e exigem de nós maturidade, aprendizado, diálogo, novas expressões de fé...

Como homem, José precisou passar pelo processo do amadurecimento lento, lançando mão de todos os recursos que encontrou em seu próprio interior e ao seu redor.

Cozinhar a fogo lento é bem difícil neste mundo de pressas e imediatismos. E hoje, mais do que nunca, se fazem necessários os “tempos de Nazaré”, esses tempos de aparente rotina nos quais se alimentam os sonhos, onde se forjam as vontades, se domam as impaciências, se aclaram os caminhos, se discerne a Voz, se dissipam as névoas do caminho... Em definitiva, esse tempo onde nosso canto e o de Deus se afinam juntos para formar uma única melodia e fazê-la ressoar no mundo.

Para meditar na oração:

Deus nunca deixa de atuar no meio das nossas noites, dúvidas, provações. Ele conhece nossos pensamentos e temores. E, no momento certo, nos liberta dos nossos medos e nos dá a conhecer sua Vontade.

- Recordar momentos de dúvidas, incertezas, desolações..., mas que lhe ajudaram a amadurecer na fé e na adesão ao projeto de Deus.

- Diante de pequenas ou grandes decisões: há espaço e tempo de discernimento? de escuta atenta?



 Não necessitamos de Deus entre nós?- José Antonio Pagola

 

Há uma pergunta que todos os anos me ronda desde que começo a observar nas ruas os preparativos que anunciam a proximidade do Natal: que pode haver ainda de verdade no fundo destas festas tão estragadas pelos interesses consumistas e pela nossa própria mediocridade?

Não sou o único. Ouço muitas pessoas falarem da superficialidade do Natal, da perda do seu caráter familiar e caseiro, da vergonhosa manipulação dos símbolos religiosos e de tantos excessos e despropósitos que deterioram hoje o Natal.

Mas, em minha opinião, o problema é mais profundo. Como pode celebrar o mistério de um “Deus feito homem” uma sociedade que vive praticamente de costas para Deus e que destrói de tantas formas a dignidade do ser humano?

Como pode celebrar o “nascimento de Deus” uma sociedade em que o famoso professor francês G. Lipovetsky, ao descrever a atual indiferença, foi capaz de dizer estas palavras: “Deus morreu, os grandes objetivos extinguem-se, mas para todo o mundo é igual, esta é a feliz notícia”?

Aparentemente, são muitas as pessoas para quem é exatamente igual acreditar ou não acreditar, ouvir que “Deus está morto” ou que “Deus nasceu”. Sua vida continua funcionando como de costume. Não parecem necessitar já de Deus.

E, no entanto, a história contemporânea já nos está obrigando a colocar algumas questões sérias. Algum tempo atrás, falava-se “da morte de Deus”; hoje se fala “da morte do homem”. Há alguns anos se proclamava “o desaparecimento de Deus”; hoje se anuncia “o desaparecimento do homem”. Não será que a morte de Deus traga consigo inevitavelmente a morte do homem?

Expulso Deus das nossas vidas, encerrados num mundo criado por nós mesmos e que reflete apenas as nossas próprias contradições e misérias, quem nos pode dizer quem somos e o que realmente queremos?

Não precisaremos que Deus nasça novamente entre nós, que brote com luz nova nas nossas consciências, que abra caminho no meio de nossos conflitos e contradições? Para nos encontrarmos com esse Deus, não devemos ir muito longe. Basta aproximar-nos silenciosamente de nós mesmos. Basta mergulharmos nas nossas interrogações e desejos mais profundos.

Esta é a mensagem do Natal: Deus está perto de ti, onde tu estás, com tal que te abras ao seu Mistério. O Deus inacessível fez-se humano e a sua proximidade misteriosa envolve-nos. Em cada um de nós, pode nascer Deus.

 

  Quarto domingo do advento - Manoel Godoy

1a. Leitura (Is 7,10-14) O rei Acaz estava com medo de dois reis que planejavam guerra contra ele. Isaías dá-lhe coragem. Fala de uma moça (a esposa de Acaz), que terá um filho. O nome dele será Emanuel, DEUS-CONOSCO. Em Jesus essas palavras terão significado mais profundo.

Salmo (24 [23],1-6) Cantamos a chegada de Deus. Dele só se aproximam os que têm a consciência limpa.

2a. Leitura (Rm 1,1-7) Paulo escreve a comunidades de cristãos judeus e gentios. Os judeus eram discriminados. Já de início ele lembra que Jesus é judeu de nascimento, da família de Davi, mas pela ressurreição tornou-se o salvador de toda a humanidade.

3a. L. Evangelho (Mt 1,18-24) Mateus fala do nascimento de Jesus por intervenção direta de Deus. Quer dizer que ele é Filho de Deus, é a presença de Deus na humanidade, é o Emanuel, o Deus-conosco.

A Realidade

Dizem os teóricos do capitalismo: ninguém faz nada sem interesse. O padeiro levanta de madrugada todo dia para fazer pão, não para servir ou agradar os clientes, mas para ganhar dinheiro. Ninguém faz nada sem interesse, é o interesse que move o mundo, é a energia do lucro e da vantagem individual que faz funcionar a máquina da sociedade.

A Palavra

Todo filho traz à mãe a lembrança do pai. A Maria, porém, Jesus não lembra José, lembra o Espírito de Deus, não lembra uma experiência vivida com o marido, lembra Deus que a quis. Seu amor ao filho não passa pelo amor do marido, vai direto ao Filho. Seu amor a Jesus é isento que qualquer segundo interesse, é totalmente puro.

O filho da virgem mãe será chamado Emanuel. No diálogo de Isaías com Acaz (1ª. Leitura) esse nome poderia lembrar apenas um grito de guerra. Aqui tem significado pleno. Ele é Deus conosco, não apenas para nos dar ânimo, como a aclamação guerreira pretendia, mas é a presença de Deus no meio da humanidade, é Deus que vem caminhar com a gente.

José era um homem justo. Sua justiça, porém, não se reduzia àquela coisa pequenina de só ver a lei. Se só visse a lei, teria denunciado Maria publicamente. Sua justiça, muito além da lei, era reger-se pelos critérios de Deus, pai de todos, que respeita a todos, que entende e compreende todos. Sua justiça superava “a justiça dos escribas e fariseus”.

Maria passa quase despercebida. É a figura principal e a gente quase nem nota. É a figura principal exatamente por isso, porque não pretende aparecer, não está em busca dos holofotes nem das câmeras. É a figura principal porque foi na sua humildade, em todos os sentidos, que Deus quis se fazer presente na humanidade.

Nosso amor não é puro, nada fazemos sem um pouco de interesse próprio, sem uma ou mais segundas intenções. A fecundidade de Maria é tão grande a ponto de gerar Deus, porque é virginal, porque é pura, isenta de qualquer segunda intenção.

O Mistério

Na Eucaristia celebramos a entrega desinteressada que Jesus faz de si mesmo à mais humilhante das mortes. Servindo sem buscar ser servido, ele abre o caminho para a partilha desinteressada da comunhão. Com ele celebramos a virgindade fecunda de Maria.

  

O silêncio de José - Ana Maria Casarotti

O tempo de Advento está próximo ao seu fim porque sua realização está prestes a acontecer. Neste último domingo aproximamo-nos do cumprimento da Promessa: a presença do Salvador e Libertador. O Messias desejado e aguardado durante tanto tempo. No evangelho que se medita hoje Mateus oferece um breve texto, em comparação com a narrativa oferecida por Lucas, do nascimento de Jesus. Desde seu começo o evangelho de hoje nos introduz no mistério de Jesus e sua presença no meio de nós.

No domingo passado lemos que João Batista perguntava-se sobre a origem de Jesus e por isso enviou dois discípulos para perguntar-lhe se ele era o Messias ou deviam esperar outro. Também hoje podemos ter esta pergunta: quem é Jesus? De onde ele vem? Como é possível que Deus se faça presente no meio de nós?

Lembre-se que Mateus dirige-se a uma comunidade formada por judeus convertidos ao cristianismo e por isso é preciso esclarecer a origem de Jesus. Desde o início apresenta Jesus como digno aspirante a Messias (filho de Davi) e autêntico israelita (filho de Abraão). Lembre-se de que segundo o gênero literário dos “Evangelhos da Infância” a narrativa não é um texto histórico, mas uma catequese sobre Jesus.

Lemos que “Maria estava prometida em casamento a José”. Maria e José estão na primeira fase do casamento hebraico no qual se considerava na primeira etapa o compromisso matrimonial, as promessas realizadas entre a noiva e o noivo. Num segundo momento ocorria o compromisso definitivo em que se realizava o casamento, ou seja, o rito do matrimônio. Durante o período da promessa o noivo e a noiva não viviam juntos. Assim o evangelista destaca que Maria estava comprometida com José e antes de viver juntos “ficou grávida pela ação do Espírito Santo”. O evangelista busca partilhar com sua comunidade como foi que se realizou este encontro entre o divino e o humano que dá à luz Jesus, o Messias. Nesse encontro a figura de José é muito importante, e neste domingo destaca-se sua atitude diante do mistério do Messias. Sua prometida, Maria, está grávida.

Entremos na intimidade de Maria e José, seus possíveis diálogos, suas perguntas, as dificuldades para entenderem o mistério que está acontecendo neles. Diante desta realidade, o evangelho sublinha que José era um homem justo, “Não queria denunciar Maria, e pensava em deixá-la, sem ninguém saber”. Ele decide atuar no silêncio e renunciar a Maria, sua prometida, por causa de uma gravidez que é impossível de compreender.

Desde o começo percebe-se que o cumprimento da promessa de Deus precisa da plena confiança nele e nas suas palavras como acontecerá com José. Como homem justo, José não é homem de teorias senão da escuta silenciosa de Deus, da aceitação daquilo que não se compreende facilmente, é a pessoa capaz de aceitar o humanamente impossível porque é simples e dócil ao mistério. José é um homem de uma fé profunda e por isso Deus o chama a colaborar com confiança e obediência no projeto de salvação. Mas para isso é preciso uma atitude de silêncio e abertura.

Como disse Adroaldo Palaoro: a figura silenciosa de José des-vela e denuncia o “palavreado crônico” que nos esvazia. Ele nos mobiliza a viver o silêncio atento e que escuta. Quando calamos e fazemos silêncio começamos a escutar a nós mesmos e a Deus, que fala silenciosamente “em sonhos”. Texto completo: Comentário de Adroaldo Palaoro: O silêncio do homem justo.

Neste silêncio profundo, José pode escutar as palavras do Anjo que o chamam: “José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e você lhe dará o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”.

Como acontece em algumas narrativas do Antigo Testamento, o anúncio do Anjo a José realiza-se através de um sonho. Num primeiro momento, o anjo dirige-se a José como filho de Davi. A seguir lhe revela que a vida que leva Maria no seu ventre é pela ação do Espírito Santo, ou seja, sua origem é divina. Num terceiro momento, dá um nome para a vida que leva sua prometida no seu ventre: Emanuel, que significa Deus salva. Desta forma realiza-se o cumprimento da promessa do messias, o Salvador anunciado pelos profetas. Jesus será quem vai restaurar o reino de Davi. A atitude de José contribui de forma fundamental, pois graças a sua obediência e docilidade realizam-se as promessas de Deus ao seu Povo.

Neste último domingo do Tempo de Advento, a liturgia convida-nos a abrir nosso coração e nossas comunidades ao Mistério de Deus que está perto de nós e muitas vezes não o escutamos. O Evangelho revela-nos a encarnação viva do “Deus conosco”, Deus que vem ao encontro de cada um e cada uma de nós para oferecer-nos uma vida nova.

Cada pessoa, cada comunidade, cada grupo humano é chamado neste tempo a acolher de braços abertos ao Deus que vem com uma proposta de uma vida Nova e deixar-nos transformar por ela. Nesta vida que Maria leva no seu ventre, somos chamados/as a acolher, na fragilidade e na pequenez de tantas situações e pessoas que caminham ao nosso lado, a vida que habita nelas. Desta forma somos convidados a contribuir com a disponibilidade de Maria e a obediência de José no mistério da salvação.

Olhemos para José, para Maria e a vida que cresce em seu ventre, e deixemos que a alegria que eles vivem nos inunde e contagie, porque Deus está conosco.

Oração

Com coração de filhos e filhas agradecidos/as, peguemos a mão de Maria e façamos nossa esta oração.

Oração à Virgem Maria

Virgem e Mãe Maria,

Vós que, movida pelo Espírito,

acolhestes o Verbo da vida

na profundidade da vossa fé humilde,

totalmente entregue ao Eterno,

ajudai-nos a dizer o nosso «sim»

perante a urgência, mais imperiosa do que nunca,

de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus.

Vós, cheia da presença de Cristo,

levastes a alegria a João o Baptista,

fazendo-o exultar no seio de sua mãe.

Vós, estremecendo de alegria,

cantastes as maravilhas do Senhor.

Vós, que permanecestes firme diante da Cruz

com uma fé inabalável,

e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição,

reunistes os discípulos à espera do Espírito

para que nascesse a Igreja evangelizadora.

Alcançai-nos agora um novo ardor de ressuscitados

para levar a todos o Evangelho da vida

que vence a morte.

Dai-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos

para que chegue a todos

o dom da beleza que não se apaga.

Vós, Virgem da escuta e da contemplação,

Mãe do amor, esposa das núpcias eternas

intercedei pela Igreja, da qual sois o ícone puríssimo,

para que ela nunca se feche nem se detenha

na sua paixão por instaurar o Reino.

Estrela da nova evangelização,

ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão,

do serviço, da fé ardente e generosa,

da justiça e do amor aos pobres,

para que a alegria do Evangelho

chegue até aos confins da terra

e nenhuma periferia fique privada da sua luz.

Mãe do Evangelho vivente,

manancial de alegria para os pequeninos,

rogai por nós.

Amen. Aleluia!

Oração à Virgem Maria na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium

 

Identidade de Jesus - D. Paulo Peixoto

 

A palavra que mais identifica Jesus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, é a “encarnação” da Palavra divina (Jo 1,1s), para cumprir a promessa que foi anunciada pelos profetas no Antigo Testamento. O profeta Isaías foi bem claro ao dizer: “Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que a jovem conceberá e dará a luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7,14).

No transcurso das festividades natalinas, o alvo principal a ser atingido é a renovação do nascimento do Filho de Deus feito homem. Contemplamos a revelação de Deus ao mundo através de Jesus, para elevar o humano no processo salvador de libertação. Essa é uma verdade sobrenatural, que a cultura secularista não consegue entender e nem perceber com uma visão apenas humana.

A origem de Jesus foi divina, por obra do Espírito Santo. O Evangelho de Mateus fala que Ele é também “filho de Abraão”, conforme a genealogia, onde diz ser quatorze gerações de Abraão até Davi (cf. 1,17). José, da descendência de Davi, recebe Maria como esposa, da qual nasce Jesus, concebido nela, pelo Espírito Santo, sendo o agente principal na identidade do Filho de Deus.

Ao acolher Jesus como filho adotivo, José está conferindo a Ele a filiação davídica. O divino e o humano em Jesus se entrelaçam para estabelecer entre Deus e a humanidade uma nova aliança. O que tinha sido ferido com a ação de Adão é restabelecido com a presença libertadora de Jesus Cristo. Com Ele a história da salvação passa a ter um novo significado, com possibilidade de vida nova.

O entendimento disto é que Deus nunca abandona o seu povo. Foi e continua benevolente e presente nos diversos momentos da história da humanidade. Continua na missão dos apóstolos e na pessoa de tantas lideranças cristãs dos tempos de hoje. Nas palavras do Papa Francisco, é a Igreja em saída, dando continuidade na missão de construtora do Reino tão profetizado no passado.

A identidade de Jesus fica visível, então, naqueles que se colocam como servidores do Senhor, expressando uma verdadeira pertença e um autêntico compromisso com o projeto da Boa-Nova de Deus. Isto constitui uma riqueza na vida da Igreja, porque ela está fundamentada na Pessoa e nas Palavras proclamadas por Jesus. Assim entendemos o significado do Advento e do Natal.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba. 


“Ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” - Enzo Bianchi, 

fundador da Comunidade de Bose


Mateus 1,18-24 -

O anúncio da vinda na glória do Senhor Jesus domina o tempo do Advento e, neste quarto e último domingo, torna-se anúncio da sua vinda na carne, da humanização do Filho de Deus que celebraremos no Natal já próximo: e o anúncio que escutamos neste ano é dirigido a José, “filho de Davi”, pai de Jesus, segundo a Lei.

“A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo.”(V18) 

Graças a essas palavras introdutórias, somos levados a conhecer o mistério central da nossa fé: Jesus, nascido de Maria, é o Filho de Deus, gerado no poder do Espírito Santo, é o homem que somente Deus nos podia dar. José, porém, que ainda não conhece essa revelação, vê-se tendo que lidar com uma realidade enigmática e dolorosa: a gravidez inesperada da sua noiva põe em crise a história que ele estava projetando com ela.

Diante desse evento escandaloso, José não reage impulsivamente nem opta por praticar os mandamentos de modo legalista, mas se comporta como “homem justo”, que, na linguagem bíblica, significa um homem capaz de viver na justiça, na paz, no amor fraterno até a compaixão e o perdão. José tem um comportamento humaníssimo: não repudia Maria, não a expõe à vergonha e ao desprezo, mas decide dispensá-la em segredo: isto é, encobre aquilo que poderia ser interpretado como pecado de Maria.

E, enquanto José, homem de fé, medita no seu coração sobre o que está acontecendo com ele, enquanto habita naquela condição de silêncio que é espaço para o trabalho interior e a oração, espaço para o domínio de si e o discernimento na fé, eis que um anjo, um mensageiro do Senhor, atualiza para ele em sonho a palavra de Deus: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo “.

A grande revelação é explicada por uma palavra que interpreta e aprofunda o anúncio: “Maria dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. A criança que nascerá, portanto, será chamada com um Nome que indica sua total pertença a Deus e, ao mesmo tempo, a missão que ele levará a termo vivendo a serviço dos homens e das mulheres, seus irmãos e irmãs: Jesus, Jeshu‘a, que significa “o Senhor salva” e, portanto, Salvador.

O escândalo, assim, se transforma para José em revelação, o evento de contradição por ocasião da obediência pontual a Deus: José aprofunda a sua fé, chegando a compreender em primeira pessoa que “nada é impossível para Deus” (Lc 1,37). Nesse ponto, o evangelista pode comentar: 

“Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel (Is 7,14), que significa: Deus está conosco’”.

Sim, “na plenitude dos tempos” (Gl 4,4), no cumprimento de todas as promessas e as alianças, Deus visitou o seu povo de modo único e i-repetível: fez-se ‘Immanu-El, Deus-conosco, em Jesus, o Filho da Virgem Maria, o Messias “nascido da estirpe de Davi segundo a carne” (Rm 3,3).

“Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado e aceitou sua esposa.” Essa conclusão lacônica expressa toda a grandeza de José, que consiste na sua fé-obediência: como Maria, ele abriu totalmente espaço em si para a vontade de Deus, aceitando cumprir até aquilo que talvez não compreendesse plenamente. Nenhuma palavra sai da sua boca, mas, com o seu comportamento, ele vive a boa notícia que, mais tarde, será anunciada por Jesus Cristo, Filho de Deus, e, segundo a lei, também seu filho: “Nada é impossível para quem crê” (cf. Mt 17,20).



O justo e a justiça – Mt 1,18-14- Sandro Gallazzi (Video)

https://www.youtube.com/watch?v=XOHhc0WSUuY



Deus vem ao nosso encontro! - Izabel Patuzzo

I. INTRODUÇÃO GERAL

Finalmente, neste 4º domingo do Advento, as leituras proclamadas nos permitem iniciar a contemplação do mistério da encarnação que celebramos no Natal: Jesus é o Deus-conosco que veio ao encontro da humanidade para oferecer um proposta de salvação e vida nova.

A primeira leitura traz o relato do encontro do profeta Isaías com o rei Acaz, propondo-lhe que peça um sinal ao Senhor Deus. O rei recusa dirigir-se a Deus pedindo um sinal de sua intervenção, mas o profeta insiste que, apesar da obstinação de Acaz, Deus lhe dará um grande sinal: enviará o Emanuel, que será concebido por uma virgem.

A segunda leitura, retirada da carta de Paulo aos Romanos, sugere que nosso encontro com Jesus deve resultar em um testemunho de busca de santidade. Quem recebe a Boa-nova da salvação não a pode guardar somente para si, mas deve estar disposto a partilhá-la com aqueles que caminham ao seu lado.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (Is 7,10-14)

O rei Acaz governou o Reino de Judá por volta do ano 734 a.C., em um período de estabilidade política e desenvolvimento econômico. A prosperidade trouxe às tribos de Judá certa tranquilidade. No entanto, no cenário da Mesopotâmia estava despontando grande ameaça, vinda da Assíria. O profeta Isaías, atento à realidade de seu tempo, prevê que essa tranquilidade será temporária. Israel tem de tomar cuidado com seu futuro. Enquanto o rei Acaz deposita toda a sua segurança na prosperidade, o profeta deposita toda a sua confiança no Deus da Aliança. É nesse contexto que o profeta se dirige ao rei, para alertá-lo e lhe recomendar que peça um sinal a Deus, em vista de decidir o que é melhor para seu povo. Acaz recusa-se a pedir a ajuda de Deus. Isaías, porém, insiste em buscar no Senhor as razões para seu discernimento.

O sinal de que Deus atua na história será este: uma virgem conceberá e dará à luz um filho; seu nome será Emanuel, que significa Deus-conosco. Ele será a garantia da continuidade da descendência de Davi, porque Deus manterá sua promessa de enviar alguém que cuide do povo. A mensagem central do texto é a afirmação de que Deus não abandona sua Aliança. Isaías chama a atenção para as falsas seguranças do rei Acaz, que podem levar o povo à ruína. Ele confia excessivamente na força militar, e tal postura resultará em fracasso, culminando em uma guerra que devastará Judá.

2. II leitura (Rm 1,1-7)

A carta de Paulo aos Romanos foi escrita por volta do ano 57 ou 58 d.C., provavelmente quando o apóstolo se encontrava em Corinto e se preparava para deixar sua missão no Mediterrâneo oriental e partir para nova missão no Ocidente. O texto proposto na segunda leitura é a introdução da carta. Essa comunidade não foi fundada por Paulo, por isso ele tem muito cuidado ao se dirigir aos irmãos e irmãs que estão em Roma.

O apóstolo tem a intenção de partir em direção à Espanha e a Roma, porém antes deve visitar a comunidade mãe, Jerusalém, a fim de entregar a coleta das comunidades da Ásia Menor. Um dos objetivos da carta era se apresentar aos cristãos de Roma, ter um primeiro contato e anunciar sua futura visita. Paulo define a si mesmo como servo de Jesus Cristo, apóstolo por chamado divino e eleito para anunciar o Evangelho às nações.

Entender-se como servo de Jesus Cristo, para ele, significava pôr incondicionalmente toda sua vida a serviço da Igreja. Ser servo, para Paulo, não implica ser escravo, e sim uma escolha livre de quem está convencido de que deve se dedicar inteiramente à causa do Evangelho. Ao apresentar-se como apóstolo por meio de um chamado divino, ele quer dizer que seu testemunho é verdadeiro, pois pregar o Evangelho não é algo que partiu de sua iniciativa. Foi Deus quem o chamou e o designou para a missão evangelizadora, e seu passado confirma sua vocação missionária. O ministério apostólico indica a exclusividade do serviço à proclamação da Palavra. Na Igreja primitiva, já havia a distinção entre apóstolos, diáconos ou diaconisas e presbíteros.

O ministério de Paulo no Ocidente exige uma dedicação total à causa do Evangelho. Ele suplica aos cristãos romanos que orem pela sua ida a Jerusalém, pois ainda nem todos os irmãos judeus da comunidade mãe o conheciam. A coleta em favor da comunidade mãe destinava-se aos pobres. Era um gesto de solidariedade dos gentios convertidos, como sinal de profunda gratidão por terem recebido a fé cristã mediante o testemunho da comunidade mãe.

3. Evangelho (Mt 1,18-24)

A narrativa do nascimento de Jesus, no relato de Mateus, compõe a seção dos textos sobre a infância de Jesus. O texto é verdadeira catequese sobre a origem de Jesus. O evangelista ensina que a concepção virginal de Jesus foi obra divina. José nos é apresentado como um homem justo, o que, na concepção veterotestamentária, significa obediente à Lei mosaica. Como fiel observante das Escrituras, José tem compaixão por Maria, no sentido de que não permite a execução do apedrejamento, pena prescrita à mulher que concebesse antes da consumação do matrimônio. José, como os sábios do Antigo Testamento, soube interpretar corretamente seus sonhos. Tal sabedoria era um dom concedido por Deus aos que eram fiéis aos ensinamentos da Torá e justos em suas relações com os demais.

O anjo do Senhor explica a José que Maria não é adúltera, algo que os leitores de Mateus sabiam muito bem, porque conheciam as leis da tradição contida nas Escrituras. O anúncio do anjo a José segue o estilo dos relatos veterotestamentários, quando se anunciava o nascimento de uma personagem muito importante para o povo escolhido. Esse anúncio é cercado de sinais divinos que provocam perplexidade e medo. O mensageiro de Deus comunica o nome da criança que irá nascer. A etimologia do nome indica sua missão de salvador. O Emanuel, Deus-conosco, recorda toda a história de Israel, de um Deus que sempre está no meio de seu povo. Portanto, o nascimento dessa criança faz parte do projeto divino para a humanidade.

As figuras de José e Maria desempenham um papel muito importante como colaboradores do plano salvífico de Deus. Os dois enfrentam desafios e impasses diferentes na obra da salvação. José recebe dupla missão: acolher Maria e dar o nome à criança, o que significa tomá-la por filho. Maria, implicitamente, é aquela na qual se cumpre a profecia de que uma virgem conceberia. A encarnação de Jesus se torna possível mediante a obediência de Maria e José aos planos de Deus.


III. PISTAS PARA REFLEXÃO

As leituras nos recordam que, na história da salvação, há pessoas como o rei Acaz, que depositam sua confiança em falsas seguranças. Muitos depositam sua esperança nos poderosos deste mundo. O profeta Isaías pertence à categoria de pessoas que depositam sua esperança somente em Deus. Os poderes deste mundo são falíveis, ao passo que Deus é o único que permanece fiel do início ao fim da história. Neste tempo em que nos preparamos para celebrar a vinda do Senhor, somos convidados a tomar consciência da fidelidade amorosa de Deus, questionando-nos onde depositamos nossa confiança e esperança.

Nós, cristãos, que acreditamos no Emanuel, Deus-conosco, somos chamados a testemunhar, no mundo, sua proposta de vida e liberdade. O exemplo de Paulo apóstolo nos serve de inspiração, para que também nós venhamos a pôr nossa vida totalmente a serviço do Reino que Jesus veio construir. A vida de cada um de nós é uma missão, como nos falou recentemente o papa Francisco. A missão que Deus me confia é única, exclusiva e necessária para o bem das pessoas que convivem comigo.

Segundo a catequese primitiva da comunidade de Mateus, Jesus é o Deus que vem ao encontro da criatura humana na fragilidade de uma criança, acolhida por José e Maria. Ele foi enviado por Deus como o grande dom para a vida e a salvação da humanidade. A celebração do Natal que se aproxima é o momento de cada pessoa experimentar esse encontro pessoal com o menino Jesus. Esse encontro, porém, só é possível se estivermos com o coração aberto para acolhê-lo.

As figuras de José e Maria nos interpelam. Eles foram pessoas capazes de escutar e discernir os apelos de Deus na própria vida. Mudaram seus planos e projetos para poderem acolher a missão que Deus lhes confiou. Até que ponto somos capazes de mudar nossos esquemas mentais e desorganizar nossos projetos, quando precisamos estar disponíveis para o que Deus nos pede?

Izabel Patuzzo-pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica. E-mail: isabellapatuzzo@hotmail.com


TEXTO EM ESPANHOL - Dom Damián Nannini, Argentina


CUARTO DOMINGO DE ADVIENTO CICLO "A" 

RECIBIR A MARÍA Y A SU HIJO JESÚS, DIOS CON NOSOTROS

  

Primera Lectura (Is 7,10-14): 

            Este texto forma parte de una unidad narrativa y teológica que abarca Is 7,1-8,20. La misma consta de un prólogo histórico (7,1-2) seguido por tres escenas (7,3-9; 7,10-17; 8,1-4) que tienen en común la presencia de un niño cuyo nombre tiene valor simbólico. 

            Para comprender esta profecía hay que conocer su contexto histórico inmediato: la guerra siro-efraimita del 734/33 a C. (cf. 2Re 16). Siria y Efraín (Reino del norte) hacen una alianza militar y planean atacar la capital del Reino del Sur, Jerusalén, con la intención de derrocar a su legítimo rey, Acaz, lo cual supone un atentado contra la dinastía davídica. La reacción del rey y del pueblo es un profundo temor (Is 7,3). Entonces interviene Isaías, quien invita a no tener miedo porque Dios es quien domina sobre las naciones estableciendo los reyes y le anuncia que va a fracasar totalmente el proyecto de Siria y Efraín contra Acaz. En 7, 4a la exhortación es: tener calma y no temer; mientras que en 9b es: confiar (apoyarse) en el único fundamento sólido que es Dios. 

En este contexto se entiende mejor la frase del profeta Isaías al rey Acaz al inicio del texto de hoy: “Pide para ti un signo de parte del Señor, en lo profundo del Abismo, o arriba, en las alturas" (Is 7,11). 

La función del signo, que suele seguir a los anuncios divinos, es garantizar o confirmar esta palabra como dada por Dios (cf. Is 38,22ss; 37,30-32; Jue 6,36-40; Ex 3-4). Vale decir que Isaías quiere que el rey Acaz declare que ha creído al anuncio de Dios en favor suyo y le pida, entonces, el signo que lo confirma. Pero Acaz no quiere pedir el signo porque en el fondo no acepta el anuncio de Dios, no confía sólo en Él. Rechazar la ayuda divina es presunción y desconfianza bajo la apariencia de piedad por no querer tentar a Dios. Recordemos que Acaz es el continuador de la dinastía davídica y, por tanto, sujeto de la promesa de 2Sam 7,16. Su actitud incrédula y temerosa cansa a los hombres y a Dios. Entonces el texto resalta que es Dios mismo quien dará el signo, y tenemos un clásico oráculo de anunciación: "la joven está embarazada y dará a luz un hijo, y lo llamará con el nombre de Emanuel" (Is 7,14). 

En primer lugar, el oráculo habla de “la joven”. El término hebreo ha±almâ utilizado aquí puede significar tanto "muchacha" como "joven esposa". El contexto histórico, más la presencia del artículo (“la”), indican que se trata con mayor probabilidad de la joven esposa del rey que aún no ha tenido un hijo. La versión griega de la LXX lo traduce por párzenos (pa,rqenoj), que significa literalmente "virgen", y de aquí pasa a Mt 1,23 y a la tradición cristiana que lo aplica a la Sma. Virgen María. 

Pues bien, esta joven "está embarazada y dará a luz un hijo”. ¿Quién es este niño-signo? En un primer nivel de lectura se trata de Ezequías, hijo de Acaz y futuro rey de Judá. Lo confirma el contexto histórico pues el anuncio de la inminente liberación de Jerusalén invita a pensar en un acontecimiento próximo. Con esto coincide la cronología pues el nacimiento de Ezequías se calcula sucedió alrededor de los años 733/32 a. C. También el género literario apoya esta afirmación pues los anuncios de nacimiento siempre se refieren a personas concretas e históricas. Por tanto, Dios le anuncia a Acaz que un hijo suyo continuará la dinastía davídica a la que pertenece y de este modo confirma el fracaso del intento de derrocarlo por parte de Siria y Efraín.

Lo que llama la atención es el nombre del niño, en hebreo ±imm¹nû°¢l, que literalmente significa “con-nosotros-Dios”. Dado que se trata de una frase nominal (sin verbo) también podría traducirse como una invitación a la confianza: “Dios (está) con nosotros” o como una súplica: “Dios (esté) con nosotros”. Al igual que los nombres de los hijos de Isaías, su valor es simbólico e indica que esta presencia de Dios con los suyos es el signo o garantía del auxilio o liberación. 

 

 

Segunda Lectura (Rom 1,1-7):

 

Como en todas sus cartas, San Pablo comienza presentándose como Apóstol de Jesucristo, elegido para anunciar el Evangelio. En el contexto litúrgico nos interesa mayormente la presentación que hace de Jesús en los versículos 3 y 4 identificándolo con el contenido del mismo Evangelio de Dios. Se trata, según los estudiosos, de una confesión de fe tomada por Pablo de la Tradición cristiana y que Pablo presenta desde el inicio para ganarse la confianza de los romanos, comunidad que no lo conoce personalmente. En primer lugar, considera a Jesús como el Hijo de Dios prometido por los profetas en las Sagradas Escrituras. En esta primera afirmación hay una implícita referencia a la pre-existencia de Cristo por cuanto viene a continuación completada con una referencia a su Encarnación al afirmar que "nació de la descendencia de David según la carne". Como bien dice Wilckens, "este es el documento de identidad del Hijo de Dios hecho hombre"[1]. 

Esta afirmación viene completada en un segundo miembro donde se presenta a Jesús "constituido Hijo de Dios con poder según el Espíritu santificador por su resurrección de entre los muertos". Al respecto dice Wilckens que "Pablo entiende la afirmación del segundo miembro de la fórmula no en el sentido de que Cristo se convirtió en Hijo de Dios en el momento de su resurrección, sino que Dios, como a Hijo suyo, le confió, desde su resurrección, la posición de poder del Soberano celeste (Flp 2,9-11; 1Cor 15, 23-28)"[2]. De modo semejante opina X. Alegre al decir que la expresión «en dynamei», con poder, es típica de san Pablo y “con este añadido evita, en su concepción teológica, que se pueda pensar que Jesús empieza a ser Hijo a partir de la resurrección. Lo que quiere indicar es que Jesús sólo actúa con poder absoluto a partir de la resurrección. Con este añadido, Pablo subraya que el hombre Jesús es, y continua siendo, el Mesías de Israel en cuanto es el Hijo de Dios que, a partir de su resurrección, tiene el poder salvífico de abrir a todos los seres humanos, judíos y paganos, un modo nuevo de relación con Dios”[3].

Es decir, a partir de su resurrección y glorificación la filiación del hombre Jesús con respecto a Dios es íntegra y absoluta. La humanidad de Cristo, nacido del linaje de David según la carne, glorificada por obra del Espíritu Santificador en su resurrección, participa de la filiación eterna del Hijo de Dios[4]. Y como bien nota J. Fitzmyer, a partir de su resurrección Jesús resucitado tiene el poder de vivificar a todos los seres humanos[5]. De este modo, la humanidad glorificada de Jesús es causa y anticipo de nuestra propia glorificación. Este sería el alcance salvífico del Evangelio que Pablo predica.

 

 

Evangelio (Mt 1,18-24):

 

El capítulo primero del evangelio de Mateo es eminentemente cristológico pues ya desde el comienzo declara que intenta decirnos quién es Jesucristo revelándonos su origen: "Libro del origen de Jesucristo, hijo de David, hijo de Abrahán" (Mt 1,1). Jesucristo es “hijo de David, hijo de Abraham”, por tanto, está inserto plenamente en el pueblo judío y cumple las esperanzas mesiánico-davídicas que anunciaron los profetas. Al respecto, notemos que José en el evangelio de hoy es llamado por el ángel ‘hijo de David’ pues tiene la misión de introducir a Jesús en la dinastía davídica (1,18-21) siendo su padre legal o adoptivo.

Ahora bien, Mateo quiere enseñar que Jesús es mucho más que el descendiente de David prometido por los profetas, que es el Hijo de Dios, y lo hace narrándonos cómo fue engendrado. Tanto el versículo 18 como el 25 insisten en la concepción virginal de Jesús. Ya antes en Mt 1,16 se utilizó un pasivo teológico para referirse al nacimiento de Jesús dejando en claro que José fue el esposo de María, pero no el padre biológico de Jesús. Ahora el v. 18 explica este hecho afirmando que, si bien María estaba desposada con José, quedó embarazada por obra del Espíritu Santo. Importa aclarar que Mateo, al decir que María estaba desposada con José pero que todavía no habían empezado a vivir juntos, está describiendo las costumbres propias de aquella época y cultura. En efecto, el matrimonio judío de entonces se realizaba en dos momentos. Primero tenían lugar los desposorios cuando se firmaba el "contrato matrimonial" y donde era fuerte la intervención de los padres pues la novia solía tener doce o trece años. Si bien todavía no convivían, a los efectos legales tenía el mismo valor que el matrimonio mismo; por ello la infidelidad en este período era considerada adulterio y estaba penada con el mismo castigo (cf. Dt 22,13-24). Al cabo de un tiempo tenía lugar el traslado formal de la esposa a la casa del esposo y comenzaban a vivir juntos. 

El hecho que nos narra Mateo sucedió en este 'entretiempo', pues claramente se señala que estaban desposados pero que todavía no convivían, no tenían vida en común. Por eso utiliza, al igual que Lc 1,27, el verbo mnesteuein (desposada, comprometida) para describir la relación entre José y María, evitando los verbos gamein y gamizein que significan claramente casarse. Entonces, dejando en claro que no tenían relaciones sexuales, Mateo informa al lector que la concepción de Jesús viene directamente de Dios, de la acción del Espíritu Santo cuya intervención, es, por tanto, creacional y no sexual.

El versículo 19 nos describe la reacción de José ante el embarazo de María. Notemos, en primer lugar, que en este versículo se precisa que José era "justo" y esto en Mateo – como en el AT - significa cumplidor de la voluntad de Dios manifestada en la ley; obediente a la ley de Dios. Y recordemos que en Dt 22,20-21 se establece la lapidación (ser apedreada) como castigo a la mujer desposada que no llega virgen al matrimonio propiamente dicho. Por tanto, José, que no conoce el origen divino del niño, supone que María ha faltado a esta ley; pero al mismo tiempo parece que no termina de aceptarlo pues no quiere exponerla públicamente como manda la ley (tal sería el sentido de deigmatizein utilizado sólo aquí y en Col 2,15). La decisión de José, si tenemos en cuenta que el uso del verbo griego apolyein en Mateo (cf. 5,31-32; 19,3.7-9) es para referirse al repudio o divorcio, es divorciarse y despedir a María, pero en secreto. No sabemos si existía por aquellos tiempos esta costumbre del divorcio en privado, pero lo que más concuerda con el texto y con la época es que José la repudiaría como esposa sin denunciarla públicamente de adulterio, sino alegando otras razones. Podemos suponer que fue la única salida que encontró, ante esta inesperada y confusa situación, para obrar sin faltar a la Ley de Dios ni causar un perjuicio mortal a María. Sin duda era un hombre justo[6].

Otros autores, por su parte, piensan que la decisión de San José era abandonar en secreto a María como para cargar él con la culpa; y la motivación de su huída sería, no la sospecha sobre María, sino más bien su pavor o temor ante el misterio de la concepción virginal, por lo cual consideró que lo mejor era quitarse del medio para no entorpecer la obra de Dios en María[7]. Esta interpretación presupone que José conoce el origen divino de Jesús, pero según el texto esto le viene revelado después por el ángel (v. 20).

Entonces interviene Dios para disipar las dudas de José. En efecto, 1,20-21 nos dice que un ángel se le aparece en sueños y le revela lo que tiene que hacer: recibir-tomar a María como esposa. Esto implica llevar a cabo el segundo momento del matrimonio judío: que el marido lleve a su esposa a su casa ("llevó a María a su casa" en 1,24). Y la motivación o justificación de esta acción está en que María ha concebido por obra del Espíritu Santo, el embarazo es obra de Dios (cf. 1,18). Más aún, se le ordena ponerle al niño el nombre de Jesús cuyo significado según la etimología popular es "Dios Salva", de aquí la misión del niño. Los antiguos decían Nomen omen (el nombre conlleva una misión); así en Mt 1,21 se nos da el nombre y la misión de Jesús: “salvará a su Pueblo de todos sus pecados”. Además, según la ley judía, la imposición del nombre por parte del padre supone el reconocimiento legal del niño como hijo suyo. Por tanto, Dios le pide a José, hijo de David, que reconozca al niño como propio y de este modo lo incorpore a la descendencia davídica.

En los versículos 22-23 aparece la primera cita de cumplimiento: "Todo esto sucedió para que se cumpliese lo dicho por el Señor por medio del profeta". La cita de Is 7,14 que sigue está tomada de la versión de la LXX y por ello habla de virgen (h` parqe,noj) y ha sido muy oportuna pues en ella aparecen juntas las dos filiaciones: la de David y la de Dios. Según A. Diez Macho[8] ni la virginidad de María, ni la imposición del nombre por José, ni la presencia de “Dios con nosotros” son meras deducciones de una exégesis sin consistencia; por el contrario, son realidades que Mateo intenta confirmar con un texto del Viejo Testamento, interpretado según una hermenéutica al uso. De esta manera la cita del AT confirma el hecho de la concepción virginal de Jesús como preanunciado por Dios; pero no lo explica. Al igual que las dos referencias anteriores a la concepción por obra del Espíritu Santo, el suceso en sí permanece en el misterio, solamente se excluye cualquier atisbo de generación sexual.

En los versículos 24-25 se nos relata cómo José, una vez despierto del sueño, cumple al pie de la letra lo que le fue ordenado por el ángel, es decir por el Señor. Era un hombre justo

En síntesis, en este texto se declara específicamente la filiación divina de Jesús, quien es presentado como el Enmanuel, Dios con nosotros; y como el Hijo de Dios. Esta identidad profunda de Jesús la atestigua la Escritura que se cumple en Él y la confirma la revelación del ángel del Señor.

Además de revelarnos quién es Jesús – "hijo de David" e "hijo de Dios" – esta narración nos explica cómo llegó a serlo. Así, es “hijo de David” por relación a su padre adoptivo, José, quien pertenecía a la familia de David, según quedó establecido en la genealogía. Es “hijo de Dios” porque fue concebido virginalmente, sin concurso de varón, por obra del Espíritu Santo. Por tanto, el sentido teológico profundo de la concepción virginal es que Dios actúa más allá de las posibilidades humanas por medio de su Espíritu Santo. Al no haber concurso de varón se resalta la paternidad absoluta de Dios sobre Jesús. Además, se indica que el nacimiento de Jesús marca el comienzo de algo totalmente nuevo y nos vuelve a remitir a la obra creadora de Dios de Gn 1.

 

 

Orientaciones para la homilía:

 

            En este cuarto domingo todas las lecturas están enfocadas hacia el Niño que nacerá, hacia Jesús, para revelarnos su verdadera identidad: es el Hijo de Dios. Como dice A. Nocent: "Hemos pasado al otro aspecto de la liturgia del Adviento: la espera de la Encarnación del Verbo"[9]. 

            El domingo pasado vimos cómo el mismo Juan el Bautista tuvo que purificar sus expectativas mesiánicas para que concuerden con el objeto de la esperanza cristiana. Este domingo se nos invita a proseguir por este camino para "sintonizar" con aquel que vendrá a nosotros. Es decir, se trata de esperar de verdad a quien verdaderamente viene a nosotros. Por eso las tres lecturas se centran en la persona y la misión de Jesús: Aquel que vendrá y Aquel a quien debemos esperar. 

 

En la primera lectura, el profeta Isaías, en un momento dramático para Jerusalén, anuncia el nacimiento de un niño como signo de esperanza para el pueblo porque Dios está con ellos. La traducción griega de modo providencial consideró a la "joven doncella" como una "virgen que concibe" resaltando así la obra de Dios. De este modo se profetiza la concepción virginal de María. 

            San Pablo en su introducción a la carta a los romanos también señala el "doble origen" que determina la identidad de Jesús: hijo de David según la carne, según su origen humano (verdadero hombre); hijo de Dios según el Espíritu, según su origen Divino (verdadero Dios).

El evangelio nos narra el cumplimiento de la profecía de Is 7,14, señalando tanto la continuidad con el Antiguo Testamento como su superación por la novedad cristiana. El evangelista Mateo ve una continuidad entre Ezequías, el hijo de Acaz, (el Enmanuel histórico) y Jesús, pues los dos son signo de la fidelidad divina a la promesa de salvación; pero también supone que en Jesús se cumple plenamente aquel oráculo o profecía mesiánica. Él es literalmente y en sentido pleno Enmanuel, Dios con nosotros.

            

En continuidad con el evangelio del domingo pasado recordemos que no esperamos de Dios la condenación, sino la salvación. Esto se refuerza en el evangelio de hoy con el nombre que, por indicación del ángel, se le pondrá al niño: Jesús, porque el salvará a su pueblo de sus pecados. Vale decir que el Enmanuel, Dios con nosotros, es Jesús, Dios que nos salva. El Enmanuel es Dios que viene a salvarnos. 

La gran cuestión es si verdaderamente estamos experimentando la necesidad de esta salvación de Dios. El mundo parece no necesitarla y la desprecia. Pero en el fondo, ¿es realmente así? ¿Se siente profundamente feliz el corazón del hombre si sólo recibe regalos materiales y la bondad de papa Noel? ¿No desea algo más, no tiene necesidad de algo más? Por ello es tan importante "estar ubicados, parados, en el lugar por el cual el Señor pasará, al cual vendrá". 

Para nosotros este lugar es la necesidad de ser salvados, de ser amados, de ser aceptados incondicionalmente. Hay que tener valor para entrar en lo profundo de nuestro corazón donde la necesidad de salvación adquiere diversas voces, grita a Dios con nombres diversos, pero que en el fondo clama sólo por Él. Si descubrimos que hay en nuestro corazón pecado, gritaremos pidiendo Su perdón. Si hay inquietud o angustia, pediremos la paz del corazón, la armonía interior. Si hay soledad, pediremos Su presencia, Su amor y Su consuelo. Este no es otro que el camino de las bienaventuranzas, de los pobres de espíritu a los que Jesús promete el Reino. Si habitamos allí, hasta allí llegará el Señor con sus dones de paz y alegría interior. Como nos dice Benedicto XVI: "La verdadera, la gran esperanza del hombre que resiste a pesar de todas las desilusiones, sólo puede ser Dios, el Dios que nos ha amado y que nos sigue amando «hasta el extremo», «hasta el total cumplimiento»" (Spe Salvi nº 27).   

            

El evangelio de hoy nos ayuda también a "sintonizar" con el modo o camino que Dios ha elegido para salvarnos. En efecto, Dios puede salvarnos de muchos modos y maneras, pero ya desde el Antiguo Testamento nos revela su pedagogía, su modo de obrar según el cual suele elegir algunas personas para que hagan presente su poder salvador. Este plan de Dios tiene un comienzo frágil, oculto diría, por cuanto un niño es el instrumento de la intervención Divina. Tal los ejemplos de Moisés, de los jueces, de David… Pero ahora se trata de una novedad absoluta: Dios mismo se hace hombre, engendra un Hijo quien nos salvará. Por esto puede decirse con todo sentido que la salvación de Dios en Cristo es personal porque Dios en persona viene a salvarnos. La salvación no es sólo un hecho divino, es una Persona divina. Este es el objeto propio de nuestra esperanza cristiana. Esperamos al mismo Hijo de Dios, infinitamente más grande que nuestras aspiraciones y nuestros méritos. Y como insiste San Ignacio: se hace hombre, ha venido a nuestro mundo, todo esto por mí. Vislumbrar un poco esto nos hace temblar, balbucear y callar. O nos mueve a huir del misterio para no obstaculizarlo, como pensaba san José, hombre justo, pero que se sintió sorprendido y sobrepasado por el misterio de la Salvación. Sin embargo, respondió con un acto de fe que el Papa Juan Pablo II compara con el de María en la Anunciación: "El la tomó en todo el misterio de su maternidad; la tomó junto con el Hijo que llegaría al mundo por obra del Espíritu Santo, demostrando de tal modo una disponibilidad de voluntad, semejante a la de María, en orden a lo que Dios le pedía por medio de su mensajero" (Redemptoris Custos nº 7). 

Por tanto, el momento de oscuridad y confusión que pasó San José nos debe ayudar a dar un paso más en nuestra fe, sabiendo que el camino de salida está en escuchar y obedecer a Dios más allá de nuestras noches. Por tanto, bien podemos hacer nuestras las palabras que le dice el ángel a José: "no temas recibir a María". No temamos recibir a María y con Ella al Niño Dios. Si lo recibimos de las manos de María, desaparecen el temor y el temblor pues en María Dios se hace carne, se hace humano, se hace cercanía y ternura. Como dice el Papa Francisco: "no tengan miedo de la ternura. Cuando los cristianos se olvidan de la esperanza y de la ternura se vuelven una Iglesia fría, que no sabe dónde ir y se enreda en las ideologías, en las actitudes mundanas. Mientras la sencillez de Dios te dice: sigue adelante, yo soy un Padre que te acaricia. Tengo miedo cuando los cristianos pierden la esperanza y la capacidad de abrazar y acariciar" (Entrevista con Andrea Tornielli).

            En fin, "nos ayude la compañía siempre cercana, llena de comprensión y ternura, de María Santísima. Que nos muestre el fruto bendito de su vientre y nos enseñe a responder como ella lo hizo en el misterio de la anunciación y encarnación" (DA nº 553).

 

 

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

 

Dios con nosotros

 

Señor de los humildes y pequeños

Pediste permiso al hombre para venir a él

Desde ese momento un corazón se mostró abierto

La historia escribió el “Sí” más rotundo y verdadero.

 

Elegiste un padre como cualquiera

Pero diferente en sus modos y maneras.

Confundido, no supo decidir sin tu ayuda

Lo visitó tu Amor en un sueño… ¿y si fuera…?

 

Cuando el orante pregunta

No se hace esperar la respuesta

Y vino a discernir el custodio casto de la Virgen

Sin basilar, tomo de tu Casa: las riendas.

 

La Salvación era la misión Eterna

¿Quién se opone a dejarse abrazar por tu propuesta?

El mundo espera en la ansiedad y la muerte acecha

Nos urge responder como José, ¡estar alertas!

 

Despertemos del sueño, del letargo y la pereza

Llevemos a María a casa en su dulce espera

El Emanuel llegará a la tierra, verá los rostros

Le llamaremos: “Dios con nosotros”. Amén.


[1] U. Wilckens, La carta a los Romanos vol. I (Sígueme; Salamanca 1997) 87.

[2] U. Wilckens, La carta a los Romanos vol. I (Sígueme; Salamanca 1997) 87.

[3] Carta a los Romanos (Verbo Divino; Estella 2012) 41.

[4] Cf. F.-X. Durrwell, Le Père. Dieu en son mystère (Paris 1993) 27-33; y CATIC n° 445.

[5] J. Fitzmyer, Romans (AB; Doubleday; New York 1993) 235.

[6] Sostiene y defiende esta postura con fuertes argumentos R. Brown, El nacimiento del Mesías, 124-127. Según este autor esta teoría fue sostenida en la antigüedad por Justino, Ambrosio, Agustín y Crisóstomo. Al respecto escribe J. Ratzinger, La Infancia de Jesús, 26: "lo que Mateo anticipa aquí sobre el origen del niño José aún no lo sabe. Ha de suponer que María había roto el compromiso y —según la ley— debe abandonarla. A este respecto, puede elegir entre un acto jurídico público y una forma privada: puede llevar a María ante un tribunal o entregarle una carta privada de repudio. José escoge el segundo procedimiento para no «denunciarla» (Mt 1,19). En esa decisión, Mateo ve un signo de que José era un «hombre justo»".

[7] Así pensaban ya San Jerónimo y san Efrén, a quienes sigue San Bernardo. Por esta postura se inclinan también, entre los modernos, L. H. Rivas, Jesús habla a su pueblo 2 (CEA; Buenos Aires 2001) 40 y A. Rodríguez Carmona, El Evangelio de Mateo (DDB; Bilbao 2006) 40.

[8] Alejandro Diez Macho, La historicidad de los evangelios de la infancia, 21-22.

[9] Celebrar a Jesucristo I (Sal Térrea; Santander 1987) 141.