ASSUNÇÃO DE N. SRA. 

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

20/08/2023

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura Apocalipse 11,19a; 12,1-6a.10ab

Salmo 44(45) R- À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir

Segunda Leitura: 1 Coríntios 15,20-27a

Evangelho Lucas 1,39-56 (Cântico de Maria). 

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naqueles dias, 39Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.46Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. 51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa. – Palavra da salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP


Meu irmão, minha irmã!

Lc 1,39-56

Hoje nós nos unimos para cantar com Maria: “todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor”. O que nos ensina a exaltação da serva Maria?

1. A assunção é um privilégio. Um privilégio que nos ensina e nos revela o desígnio de Deus em relação a todos nós. 

O privilégio da assunção consiste na união admirável de Maria com Cristo, uma união de corpo e de alma que começou na Anunciação, mas que cresceu sempre mais ao longo dos anos e da vida de Maria e que alcança a plenitude na assunção.

2. Toda a vida de Maria foi um caminhar na fé. O evangelho que acabamos de ouvir nos mostra como essa união com Cristo (sua concepção virginal) se desdobra no anúncio e no serviço. “Ela foi apressadamente...”.

Este breve relato mostra quais são as características da ação da jovem Maria: ela é capaz de um amor atento, concreto, alegre e terno. 

Seu amor é atento: Maria não precisa de pedidos para compreender a necessidade da prima Isabel, de idade madura e à espera de um filho. Intui a necessidade e corre ao seu encontro: seu olhar, nutrido de amor, compreendeu o que se devia fazer muito além de qualquer comunicação verbal. “Ubi amor, ibi oculus”: onde existe o amor, o olho vê aquilo que um olhar sem amor não sabe ver.

À atenção, Maria une a concretude: não perde tempo sonhando com boas intenções. Age com prontidão. A expressão “apressadamente” (v. 39) fala da solicitude e da urgência com que concretiza a decisão de ir ajudar a Mãe de João. Santo Ambrósio comenta: “A graça do Espírito Santo não tolera delongas” (Expositio in Evangelium secundum Lucam, 2,19)! 

Depois, o amor de Maria é perpassado de alegria: ela não realiza seus atos como cumprimento pesado de um dever ou como obediência a uma obrigação imposta pelas circunstâncias. Nela tudo é gratuidade, bem que se difunde, generosidade vivida sem cálculo ou constrangimentos. A sua alegria (evangelii gaudium) consiste em se sentir tão amada que percebe a obrigação de amar como um corresponder ao amor recebido.

Exatamente por isso, tudo em Maria se vive em plenitude a ternura, isto é, o amor que gera alegria, que não cria distâncias nem cria dependência. O amor de Maria não é somente alegre, o seu amor enche o outro de alegria, enche o outro com o espanto e a beleza de se descobrir objeto de puro dom. “Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre” (v. 43s). Ternura é dar despertando alegria no amado: quem não ama com ternura, cria dependências ou mantém distâncias nas quais é impossível desencadear a alegria.

Nisso tudo, a fé de Maria, que se irradia na caridade, é um modelo para nós, especialmente nas relações familiares e comunitárias. 

3. É esse o mistério que a liturgia de hoje proclama: “Aurora e esplendor da Igreja, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou vosso Filho feito homem”. 

Notem que a liturgia fala da Assunção como nosso consolo e esperança. A assunção de Maria revela qual é a vontade de Deus, qual é o seu desígnio, qual é o seu desejo em relação a nós: é a nossa glorificação em corpo e alma, de todo nosso ser, não somente de uma parte de nós. O que exaltamos em Maria é, ao mesmo tempo, a expressão de nossa esperança no desígnio de Deus. A Assunção é confirmação e realização antecipada do nosso destino de salvação. Deus revela não só com palavras, mas também com fatos a sua vontade.

4. A Assunção confirma a unidade do ser humano (corpo e alma) e nos confirma que devemos glorificar e servir a Deus com todos o nosso ser (corpo e alma).

Servi-lo só com o corpo é escravidão. Servi-lo só com a alma é dedicar-lhe um amor distante e irreal. 

Viver neste mundo servindo e amando Deus, viver unido com Jesus Cristo, viver como Maria viveu nos levará a sermos glorificados em corpo e alma como aconteceu com Cristo e como aconteceu com Maria.

Perguntemo-nos: Qual é meu estilo de vida? Como Maria, sou atento ao outro, às suas necessidades evidentes e também as ocultas? Sei ser concreto no meu modo de amar? Meu amor é terno como o de Maria, gerando alegria e a paz no coração do outro? Procuro manifestar atenção e solidariedade com quem sofre?

Ó Maria, Nossa Senhora da Ponte! Logo depois que o anjo te anunciou que serias a “Mãe do meu Senhor”, te dirigiste apressadamente à casa de Zacarias e de Isabel. Foste para a “região montanhosa”; subiste colinas e montes; atravessaste vales com teus passos rápidos e decididos.

Em ti e por meio de ti, Jesus se tornou itinerante antes mesmo de nascer. Em ti e por ti, Jesus colocou em prática o que Ele próprio ensinaria aos discípulos: “não leveis bolsa, nem duas túnicas, não saudeis ninguém pelo caminho; em qualquer casa que entrardes dizei: ‘a paz esteja nesta casa’”.

Como correste, ó Maria! Desejo também te acompanhar para levar Jesus aos outros. “Como são belos os pés de quem anuncia a paz”. Prometo me esforçar em seguir teus pés velozes. Peço que tenhas paciência comigo se me atraso por causa de meus pecados.

Olha com benevolência quem te admira e te ama. 


Maria a mulher da memória agradecida - Adroaldo Palaoro


20º DTC - Solenidade da Assunção de Maria - Lc 1,39-56 – A – 20-08-23


“A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc 1,46-47)


Maria foi assunta ao céu porque desceu ao mais profundo de sua humanidade e da humanidade dos outros.

A Assunção nos revela que ela foi humana por excelência; toda sua humanidade foi atravessada pelo divino: nela não havia resquícios de ego inflado, de vaidade, de busca de prestígio e poder. Reconheceu-se como “humilde serva” porque desceu ao “húmus” de sua vida e aí deixou-se conduzir por Aquele que entra na história de cada um pelo lado da fragilidade, limitação, pobreza... Ela viveu a assunção em todos os momentos de sua vida, porque se sentia envolvida pela presença misericordiosa e providente de Deus.

Toda a vida de Maria foi “assumida” por Deus porque ela cuidou da vida, colocou sua vida a serviço a vida, ativou todos os seus recursos de vida... Vida aberta, comprometida, vida que se fez visita e se deixou visitar.

Maria “desapareceu” no divino porque mergulhou no humano. Sua humanidade foi plenificada.

Por isso, a Assunção é uma vitória solidária: nela, todos seremos “assumidos por Deus”. Esta é uma realidade que não acontecerá apenas no fim dos tempos; é realidade sempre atual: já vivemos em Deus, n’Ele nos movemos e existimos; Ele nos envolve continuamente com sua providência, misericórdia e cuidado.

Vivemos, então, em contínuo “estado de assunção”.

Portanto, a Assunção de Maria diz respeito a todos nós; todos estamos implicados neste mistério; experimentamos a assunção através de dois movimentos:

No primeiro, vivemos a assunção quando descemos ao mais profundo de nossa humanidade, às raízes de nossa existência. Há muitos recursos, dons, potencialidades, desejos nobres, inspirações, beatitudes originais, presentes em nosso interior e que querem emergir, elevar-se... A assunção começa em nosso interior quando o “que há de divino em nós” se expande, plenificando e dando sentido à nossa existência. Deus assume tudo o que é humano em nós e ilumina, plenifica... Nada do que é humano lhe escapa; Ele nos eleva, nos faz planar sobre suas asas de águia, para ampliarmos nossos horizontes, nossa visão da realidade... Com sua Graça, desperta e ativa todos os nossos dinamismos e potencialidades internas.

Quem vive a assunção sonha alto, deseja grande, torna-se criativo e um eterno buscador. Sua vida torna-se oblativa, descentrada, é movimento de saída de si... A assunção o faz viver com os pés plantados no chão da vida e da história e, ao mesmo tempo, o faz transcender, romper fronteiras, ir além de si mesmo...

Quem não se deixa inspirar pelo mistério da assunção limita-se a uma vida “normótica”, repetitiva, mecânica, estreita, atrofiada... Perde o sabor da vida, trava sua criatividade e mata sua capacidade de sonhar.

O segundo movimento despertado pelo mistério da Assunção é este: a partir de uma interioridade expandida a pessoa se eleva na direção do outro, através do serviço solidário, da presença compassiva e do compromisso eficaz na transformação da história. A assunção move a pessoa a reforçar os laços, alimentar a comunhão, mobilizar a viver a cultura do encontro; a assunção faz romper fronteiras geográficas, sociais, culturais, religiosas... conclamando à vivência da fraternidade universal. Ela abarca a humanidade inteira.

Porque parte do chão da humanidade, a assunção nos humaniza e nos capacita a criar mediações humanizadoras. Não é possível crer na assunção da humanidade se nos deixamos levar pela cultura da aparência, do ódio, da intolerância, da violência...

Quem entra no fluxo desses dois movimentos da Assunção, sente despertar em si uma profunda gratidão; brota de seu coração e de seus lábios um novo “magníficat”, onde reconhece a ação criativa de Deus, em si mesmo, nos outros e na criação... Proclama que Deus fez, faz e fará maravilhas nele(a), por ele(a), através dele(a)... Vive com vibração e intensidade porque sente que tudo é Graça, de graça, envolvido pela graça...

Assim, celebrar a Assunção é entrar no fluxo da gratidão que Maria canta no seu “magnificat”. É modo de ser e viver inspirado na vida de Maria; é preciso nos situar de “maneira mariana” diante de nossa história.

“O Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor”, é uma exclamação que Lucas põe nos lábios de Maria para fazê-la nossa e repeti-la com frequência. Quando algo ou alguém nos emociona, não podemos evitar expressar esse sentimento. O regozijo não é completo se não o compartilhamos. A experiência prazerosa de um Deus que é Misericórdia e Santo fez brotar os mais belos salmos e orações que nos foram legados, cheios de benção e assombro agradecido. A gratidão perpassa o Magnificat e é o sentimento mais nobre que brota das profundezas do coração do ser humano, ao se sentir cumulado de tantos dons.

Todos temos experiência que a nossa história carrega lembranças de fatos e de vivências negativas: crises, fracassos, rejeições, erros, pecados... Os desencontros, quebras e rupturas... costumam deixar feridas.

Tudo isso pesa na memória e continua influenciando negativamente no presente.

Com isso, ela se torna “memória mórbida, doentia”: depósito de rancores, ressentimentos, hostilidades...; ao se fixar no passado, a “memória mórbida” alimenta remorsos, sentimentos de culpa, desânimo, angústia..., embotando a vida, queimando energias, paralisando a pessoa e não abrindo futuro de sentido.

Pessoa doente na memória é doente no seu coração, na sua afetividade, nos seus sentimentos...

Se a memória não é “evangelizada”, ela continua remoendo aquilo que aconteceu, num desgaste muito grande de energia. Não há mudança e conversão se não houver mudança e conversão da memória.

Somente através da “memória redentora”, a pessoa é capaz de se colocar diante do passado, de modo livre e aberto, dando-lhe um novo significado.

A memória sadia não muda o passado, mas o “re-corda” (coloca de novo o coração) de modo novo e inspirador.

A memória resgata referências, cura feridas, reconcilia-se com a vida e consigo mesma, com as próprias riquezas e fraquezas, com o próprio passado; ela tem sua função de lugar santo do louvor e da gratidão, pois ajuda a tomar consciência dos benefícios recebidos e possibilita ter acesso às recordações não neutras, mas aquelas que tem um significado para o presente. Ela é capaz de tirar proveito de todas as vivências pessoais (nada é descartado, tudo é integrado); abre possibilidade para rever a própria história e lê-la como História de Salvação.


Através da memória pacificada, nossa vida é iluminada, provocada, sacudida..., para que ela saia do “fatal ponto morto” e entre no movimento expansivo da Graça.

Ativar a atitude de assombro e gratidão diante do muito que recebemos, em lugar de viver centrados naquilo que nos falta, tem uma consequência enraizada em cada um de nós: saber-nos e sentir-nos abençoados nos motiva a compartilhar o que recebemos; quem é grato(a) deseja corresponder e o serviço gratuito é a melhor resposta ao amor de Deus, presente em mil formas e intensidades na nossa vida.

Abrir-nos ao assombro é uma genuína manifestação da humildade que esvazia toda pretensão de nosso ego inflado e prepotente. A humildade é também o melhor caminho para ativar a admiração frente às nossas próprias capacidades ainda adormecidas. Carecemos da “faísca” própria da experiência assombrosa de sentir-nos amados(as) por um Deus providente e cuidador.

Entremos no movimento vital da Assunção! Sejamos simplesmente humanos! Vivamos com sabedoria e intensidade, numa atitude de contínuo agradecimento! É isso que Deus deseja a todos os seus filhos e filhas.


Para meditar na oração:

Por que canta Maria? A resposta mais bela e mais óbvia está, talvez, num verso de S. João da Cruz: “Todos os apaixonados cantam!”. Maria canta porque está apaixonada.

É muito importante notar que a oração mariana por excelência não coloca em cena ideias, mas fatos. O Senhor realiza maravilhas: nela, nos outros, em cada um de nós.

- Faça de sua oração um canto apaixonado: louve, agradeça, silencie...


Seguidora fiel de Jesus - José Antonio Pagola


Maria é a grande crente

"Sua fé no Deus dos pequenos nos faz sintonizar com Jesus"Desde seu coração de Mãe, Maria percebe como ninguém a ternura de Deus Pai e Mãe.

Os evangelistas apresentam a Virgem com traços que podem reavivar nossa devoção a Maria, Mãe de Jesus. Seu olhar nos ajuda a amá-la, meditá-la, imitá-la, rezá-la e confiar nela com um espírito novo e mais evangélico.

Maria é a grande crente. A primeira seguidora de Jesus. A mulher que sabe meditar no seu coração os atos e as palavras de seu Filho. A profetisa que canta a Deus, salvador dos pobres, que ele anuncia. A mãe fiel que permanece ao lado de seu Filho perseguido, condenado e morto na cruz. A testemunha de Cristo Ressuscitado, que recebe junto aos discípulos o Espírito que acompanhará sempre a Igreja de Jesus.

Lucas, por sua vez, nos convida a fazer nosso o cântico de Maria, para nos deixarmos conduzir pelo seu espírito até Jesus, pois no "Magnificat" resplandece mais ainda a fé de Maria e sua identificação maternal com seu Filho Jesus.

Maria começa proclamando a grandeza de Deus: "Meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou a pequenez de sua serva". Maria é feliz porque Deus colocou seu olhar em sua pequenez. Assim é Deus com os pequenos. Maria canta com a mesma alegria que Jesus abençoa o Pai, porque ele fica oculto para os "sábios e prudentes" e se revela "aos simples". A fé de Maria no Deus dos pequenos nos faz sintonizar com Jesus.

Maria proclama o Deus "Todo Poderoso", porque "a sua misericórdia chega aos fiéis de geração em geração". Deus coloca o Seu poder a serviço da compaixão. Sua misericórdia abrange todas as gerações. Jesus prega a mesma coisa: Deus é misericordioso para com todos. Então, ele disse aos seus discípulos de todos os tempos: "Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso". Desde seu coração de mãe, Maria percebe como nenhuma outra pessoa a ternura de Deus Pai e Mãe, e nos introduz ao núcleo central da mensagem de Jesus: Deus é amor compassivo.

Maria proclama também o Deus dos pobres, porque "derruba do trono os poderosos" e deixa-os impotentes para continuar oprimindo; pelo contrário, "exalta os humildes" para que recuperem sua dignidade. Clama aos ricos o que é roubado dos pobres e "os despede de mãos vazias". E aos famintos, "ele os enche de bens" para desfrutar de uma vida mais humana. Jesus clamava o mesmo: "os últimos serão os primeiros". Maria leva-nos a aceitar a Boa Nova de Jesus: Deus é dos pobres.

Maria nos ensina, melhor que ninguém, a seguir Jesus, anunciando o Deus de compaixão, trabalhando para um mundo mais fraterno, confiando no Pai dos pequenos.


Você é bendita entre as mulheres - Tomaz Hughes


Neste final de semana, a Igreja romana celebra a festa da Assunção e propõe o evangelho que trata de duas partes bem distintas: o encontro entre Maria (grávida de Jesus) e Isabel (grávida de João), bem como o Canto do Magnificat.


Para entender o objetivo de Lucas em relatar os eventos ligados à concepção e nascimento de Jesus, é essencial conhecer algo da sua visão teológica. Para ele, o importante é acentuar o grande contraste e, ao mesmo tempo, a continuidade entre a Antiga e a Nova Aliança. A primeira está retratada nos eventos ligados ao nascimento de João e tem os seus representantes em Isabel, Zacarias e João. A segunda está nos relatos do nascimento de Jesus, com as figuras de Maria, José e Jesus. Para Lucas, a Antiga Aliança está esgotada, deu tudo que podia dar – os seus símbolos são Isabel, estéril e idosa, Zacarias, sacerdote que não acredita no anúncio do anjo, e o nenê que será um profeta, figura típica do Antigo Testamento. Em contraste, a Nova Aliança tem como símbolos a virgem jovem de Nazaré que acredita e cujo filho será o próprio Filho de Deus. Mais adiante, Lucas enfatiza este contraste nas figuras de Ana e Simeão no Templo (Lc 2,25-38), especialmente quando Simeão reza: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação” (v. 29).

Por isso, não devemos reduzir a história de hoje a um relato que pretende mostrar a caridade de Maria em cuidar da sua parenta idosa e grávida. Se a finalidade de Lucas fosse somente mostrar Maria como modelo de caridade, não teria colocado o versículo 56, que mostra ela voltando para a sua casa antes do nascimento de João. Também não é verossímil que uma moça judia de mais ou menos quatorze anos enfrentasse uma viagem tão perigosa como a da Galileia à Judeia. A intenção de Lucas é literária e teológica. Ele coloca juntas as duas gestantes, para que ambas possam louvar a Deus pela sua ação na vida delas e para que fique claro que o filho de Isabel é o precursor do filho de Maria. Por isso, Lucas tira Maria de cena antes do nascimento de João, para que cada relato tenha somente as suas personagens principais: de um lado, Isabel, Zacarias e João; do outro, Maria, José e Jesus.

O fato de que a criança “se agitou” no ventre de Isabel faz recordar algo semelhante na história de Rebeca, quando Esaú e Jacó “pulavam” no seu ventre, na tradução de Gn 25, 22 na Septuaginta. O contexto, especialmente o versículo 43, salienta que João reconhece que Jesus é o seu Senhor. Iluminada pelo Espírito Santo, Isabel pode interpretar a “agitação” de João no seu ventre – é porque Maria está carregando o Senhor.

As palavras referentes a Maria – “Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o fruto do seu ventre” (v. 42) – fazem lembrar mais duas mulheres que ajudaram na libertação do seu povo no Antigo Testamento: Jael (Jz 5,24) e Judite (Jt 13,18). Aqui, Isabel louva a Maria que traz no seu ventre o libertador definitivo do seu povo.

Vale destacar o motivo pelo qual Isabel chama Maria de “bem-aventurada” (v. 45): “Bem-aventurada aquela que acreditou”. Maria é bendita, em primeiro lugar, não por sua maternidade, mas pela fé, em contraste com Zacarias que não acreditou. Assim, Lucas apresenta Maria principalmente como modelo de fé. Já no relato da Anunciação, Maria expressou essa fé quando disse: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (v. 38). Assim, ela aceita não somente ser a mãe do Senhor, mas ser a protagonista da construção de uma sociedade de solidariedade e justiça, tão almejada por Deus. Por isso, Lucas faz uma releitura do Canto de Ana (1Sm 2,1-10) e coloca nos lábios de Maria o canto do Magnificat, em sintonia com a espiritualidade secular dos Pobres de Javé. Estes, desprovidos de qualquer poder, põem a sua esperança em Deus, que “dispersa os soberbos de coração, derruba do trono os poderosos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens e despede os ricos de mãos vazias” (vv. 51-53). Longe de ser uma figura passiva, a Maria deste capítulo é modelo para todos que assumem a luta em favor de uma sociedade alternativa, de partilha, solidariedade e fraternidade, o projeto de Deus.

Podemos também acrescentar que, neste capítulo primeiro de Lucas, encontramos expressões e frases de uma de uma oração muito popular no catolicismo: “Ave Maria” (Lc 1,28), “Cheia de graça” (Lc 1,28), “O Senhor é contigo”(Lc 1,28), “Bendita és tu entre as mulheres” (Lc 1,42), “Bendito o fruto do teu ventre” (Lc 1,42).  A figura de Maria não é um empecilho para uma caminhada ecumênica, pois a Escritura a aponta como modelo de fé para todos nós.


A visita de Maria a Isabel – Alegria no Espírito - Carlos Mesters e Mercedes Lopes


O ASSUNTO DA VIDA: PARA COMEÇO DE CONVERSA

O texto de hoje nos fala da visita de Maria a sua prima Isabel. As duas eram conhecidas uma da outra. E, no entanto, neste encontro elas descobrem, uma na outra, o mistério que ainda não conheciam e que as encheu de muita alegria. Hoje também encontramos pessoas que nos surpreendem com a sabedoria que possuem e com o testemunho de fé que nos dão. 

CHAVE DE LEITURA

Na leitura que vamos refletir, sobretudo no Cântico de Maria, percebemos que ela descobriu o mistério de Deus não só na pessoa de Isabel, mas também na história do seu povo. Durante a reflexão vamos prestar atenção no seguinte: ”Com que palavras e comparações Maria expressou a descoberta de que Deus está presente em sua vida e na vida do seu povo?”

SITUANDO

Quando Lucas fala de Maria, ele pensa nas comunidades do seu tempo que viviam espalhadas pelas cidades do império romano. Maria é, para ele, o modelo da comunidade fiel. Descrevendo a visita de Maria a Isabel, ele ensina como aquelas comunidades devem fazer para transformar a visita de Deus em serviço aos irmãos e irmãs.

O episódio da visita de Maria a Isabel mostra ainda outro aspecto bem próprio de Lucas. Todas as palavras e atitudes, sobretudo o Cântico de Maria, formam uma grande celebração de louvor. Parece a descrição de uma solene liturgia. Assim, Lucas evoca o ambiente litúrgico e celebrativo, em que as comunidades devem viver a sua fé.


COMENTANDO


Lucas 1,39-40: Maria sai para visitar Isabel

Lucas acentua a prontidão de Maria em atender as exigências da Palavra de Deus. O anjo lhe falou da gravidez de Isabel e, imediatamente, Maria se levanta para verificar o que o anjo lhe tinha anunciado, e sai de casa para ir ajudar a uma pessoa necessitada. De Nazaré até as montanhas de Judá são mais de 100 quilômetros! Não havia ônibus nem trem.

 Lucas 1,41-44: Saudação de Isabel

Isabel representa o Antigo Testamento que termina. Maria, o Novo que começa. O AT acolhe o NT com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus que vem realizar e completar toda a expectativa do povo. No encontro entre as duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito que faz a criança estremecer de alegria no seio de Isabel.  A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das coisas mais comuns da vida humana: duas donas de casa se visitando para se ajudar. Visita, alegria, gravidez, criança, ajuda mútua, casa, família: É nisto que Lucas quer que as comunidades (e nós todos) percebamos e descubramos a presença do Reino. As palavras de Isabel, até hoje, fazem parte do salmo mais conhecido e mais rezado da América Latina, que é a Ave Maria.

 Lucas 1,45: O elogio que Isabel faz a Maria

“Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor vai acontecer”. É o recado de Lucas às comunidades: crer na Palavra de Deus, pois ela tem força para realizar aquilo que nos diz. É Palavra criadora. Gera vida nova no seio de uma virgem, o seio do povo pobre e abandonado que a acolhe com fé.

Lucas 1,46-56: O Cântico de Maria

Muito provavelmente, este cântico já era conhecido e cantado nas comunidades. Ele ensina como se deve rezar e cantar.

Lucas 1,46-50

Maria começa proclamando a mudança que aconteceu na sua própria vida sob o olhar amoroso de Deus, cheio de  misericórdia. Por isso, ela canta feliz: “Exulto de alegria em Deus, meu Salvador”.

Lucas 1,51-53

Em seguida, canta a fidelidade de Javé para com seu povo e proclama a mudança que o braço de Javé estava realizando a favor dos pobres e famintos. A expressão “braço de Deus” lembra a libertação do Êxodo. É esta força salvadora de Javé que faz acontecer a mudança: dispersa os orgulhosos (1,51), destrona os poderosos e eleva os humildes (1,52), manda os ricos embora sem nada e aos famintos enche de bens (1,53).

Lucas 1,54-55

No fim, ela lembra que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o seu povo e expressão de sua fidelidade às promessas feitas a Abraão. A Boa Nova veio não como recompensa pela observância da Lei, mas como expressão da bondade e da fidelidade de Deus às promessas. É o que Paulo ensinava nas cartas aos Gálatas e aos Romanos. 

ALARGANDO

O Segundo Livro de Samuel conta a história da Arca da Aliança. Davi quis colocá-la em sua casa, mas ficou com medo e disse: “Como virá a Arca de Javé para ficar na minha casa?” (2 Samuel 6,9). Davi mandou que a Arca fosse para a casa de Obed-Edom. “E a Arca de Javé ficou três meses na casa de Obed-Edom, e Javé abençoou a Obed-Edom e a toda a sua família” (2 Samuel 6,11). Maria, grávida de Jesus, é como a Arca da Aliança que, no AT, visitava as casas das pessoas trazendo benefícios. Ela vai para a casa de Isabel e fica lá três meses. E enquanto está na casa de Isabel, ela e toda a sua família são abençoadas por Deus. A comunidade deve ser como a Nova Aliança. Visitando a casa das pessoas, deve trazer benefícios e graça de Deus para o povo.

A atitude de Maria frente à Palavra expressa o ideal que Lucas quer comunicar às comunidades: não fechar-se sobre si mesmas, mas sair de si, sair de casa, e estar atentas às necessidades bem concretas das pessoas e procurar ajuda na medida das necessidades.


A vida nasce aonde menos se espera - Ildo Bohn Gass


Para muitas igrejas, a Palavra evangélica proposta para a liturgia do próximo final de semana é a visita de Maria a Isabel (Lucas 1,39-56), que faz parte dos relatos da Infância de Jesus segundo Lucas (Lucas 1-2).

Essas narrativas, mais do que dizerem como os fatos aconteceram, indicam para realidades mais profundas que iluminem a caminhada das comunidades a quem se destinam. Em resumo, o primeiro capítulo do Evangelho da Infância mostra como é reconhecida a ação de Deus em meio ao povo excluído, mas cheio de esperança, representado por Zacarias, Isabel e Maria. Dois eram idosos, uma era estéril e a outra ainda não havia tido relações sexuais com homem. Portanto, eram pessoas de quem não se esperava que vida nova pudesse nascer, que pudessem dar à luz uma criança.

Maria pôs-se a caminho… (Lucas 1,39)

A narrativa proposta pode ser dividida em três momentos:

O primeiro descreve a ida de Maria à casa de Isabel e de Zacarias, próxima de Jerusalém (Lucas 1,39-41), uma caminhada de mais de 100 km. De um lado, essa saída de casa faz-nos lembrar de tantas jovens que, igualmente como Maria, também deixam seus povoados quando engravidam, a fim de encontrar apoio em familiares que moram distante. De outro lado, quando foi chamada para ser a mãe do Messias, Maria havia se disponibilizado para estar a serviço da Palavra de Deus (Lucas 1,38).

Agora, ela já está a caminho para servir, para ser solidária com outra mulher, também grávida. É a solidariedade entre as mães que reconhecem em seus corpos o agir do Espírito divino, pois ambas receberam a graça da fecundidade de forma misteriosa. Mas não é somente o encontro de duas mulheres. É também o encontro de duas crianças ainda no útero de suas mães. É o encontro do Precursor com o Salvador. João alegra-se com a visita de Jesus (Lucas 1,41). Ainda no ventre materno, já aponta para seu primo como aquele que vem socorrer o seu povo num momento de forte repressão por parte do império romano.

Feliz aquela que acreditou… (Lucas 1,45)

A segunda parte desta narrativa é a saudação que Isabel faz a Maria (Lucas 1,42-45). Impulsionada pelo Espírito, a mãe de João Batista reconhece Maria como a mãe do Messias. Ao mesmo tempo em que elogia a sua fé (Lucas 1,45), declara-a abençoada, bem-aventurada, tal como Jesus, o fruto do seu ventre (Lucas 1,42). Essa saudação faz lembrar outras mulheres que também foram chamadas de benditas.

São os casos de Jael (Juízes 5,24) e de Judite (Judite 13,18), ambas libertadoras de seu povo ameaçado por exércitos poderosos. Em Lucas 1,56, podemos ler que Maria ficou três meses com Isabel. Mais uma vez, os autores do texto fazem memória das Escrituras de Israel e querem nos apresentar Maria como a nova Arca da Aliança, pois em seu útero carrega o Emanuel, o Deus que está em nosso meio. É que, da mesma forma como Maria ficou os três meses com Isabel, também a antiga Arca da Aliança havia ficado durante três meses na casa de Obed-Edom (2 Samuel 6,2-11; cf. v. 11).

Em outras palavras: os representantes da antiga Aliança, Zacarias (Javé se lembrou) e Isabel (Deus é plenitude), reconhecem a ação de Deus em Maria (a amada) e em Jesus (Javé salva), representantes da nova Aliança. João (Javé é misericórdia) anuncia que a misericórdia de Deus na antiga Aliança vem se realizar plenamente em Jesus de Nazaré. Por isso, seus pulos de alegria no ventre de Isabel (Lucas 1,41.44), acolhendo o novo que está por nascer.

E encheu de bens os famintos… (Lucas 1,53)

A terceira parte do relato é a reação de Maria à saudação de Isabel, é o salmo de Maria conhecido como Magnificat (Lucas 1,46-55). Ele está recheado de memórias da história de Israel, especialmente do canto de Ana, a mãe do profeta Samuel (1 Samuel 2,1-10). Entre outros textos, recorda também a profecia de Sofonias em favor dos pobres de Javé, o resto fiel a Deus (cf. Sofonias 2,3; 3,11-13).

Maria é a legítima representante de todos os pobres que têm esperança, pois tem plena consciência da luta de classes, cuja consequência é os ricos estarem em cima, sustentados pelos pobres a quem eles oprimiram ontem e ainda hoje (Lucas 1,52-53). Da mesma forma como o profeta Habacuc (Hab 3,18), ela percebe a presença de Deus e se alegra com sua grandeza (Lucas 1,46-47). E o motivo dessa alegria é que, tal como na experiência libertadora do Êxodo (Êxodo 3,7-8), Deus viu a humilhação dos pobres e exerce sua misericórdia para com eles, estando a seu lado para libertá-los dos poderosos (Lucas 1,49-50; Salmo 103,17).

Qual é a força capaz de promover essa libertação?

É a força do braço de Deus, isto é, a força de sua justiça, que consiste e um projeto revolucionário que subverte relações desiguais. Se antes os poderosos humilhavam os pobres a partir de seus tronos, agora os famintos são exaltados e comem pão com fartura (Lucas 1,51-53). Mais que ser uma mulher submissa e alienada dos conflitos sociais de seu tempo, Maria é uma mulher de luta pela igualdade e pela superação de todas as injustiças. Ela é subversiva porque subverte as relações de humilhação propondo a acolhida e a igualdade.

Não é por acaso que seu filho seguiu os passos dela nesse caminho. É no engajamento pela superação de todas as formas de opressão que revelamos a misericórdia divina em nossa prática. A justiça de Deus se revela em seu agir na defesa dos fracos e contra todos os sistemas que os oprimem, sejam eles políticos ou econômicos, culturais, jurídicos ou religiosos. Nesse agir libertador se manifesta a aliança fiel e misericordiosa esperada desde as origens do povo hebreu (Lucas 1,54-55; Miqueias 7,20).

Em seu cântico, Maria de Nazaré celebra a esperança na realização da vontade de Deus que liberta. E mais. Convida a todas as pessoas discípulas de Jesus a nos juntarmos a ela para colocar-nos a serviço desse projeto de Deus, de modo que também em nós se realize a sua Palavra (cf. Lucas 1,38).

A ação divina em Maria foi possível por que ela acreditou (Lucas 1,45), ela deu a sua contribuição, colocando-se a serviço de Deus na solidariedade. Mais adiante, quando uma mulher também declarara Maria feliz, Jesus dirá a ela que felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática (cf. Lucas 11,27-28). E essa bem-aventurança soa forte para nós ainda hoje.–

Fonte: Ildo Bohn Gass é biblista, assessor de Leitura Popular e Feminista da Bíblia, Secretário de Formação do CEBI, e autor de diversos livros da nossa livraria. Conheça a coleção Uma Introdução à Bíblia.


TEXTO EM ESPANHOL, DE D. DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


SOLEMNIDAD DE LA ASUNCIÓN DE LA VIRGEN MARÍA


Primera lectura (Ap 11,19; 12,1-6.10):


Teniendo en cuenta el contexto dinámico del libro del Apocalipsis importa notar que la comunidad eclesial se encuentra ante un momento delicado pues le ha sido revelada la fuerte presencia del mal en la historia con la consecuente lucha con el bien y la transitoria victoria del mal. Entonces el séptimo ángel toca su trompeta y se aclama el advenimiento del Reino de Dios a través de su Cristo, de Jesús crucificado y resucitado (cf. Ap 11,15-17). Es decir, se anuncia la victoria final de Dios sobre las fuerzas del mal. En este contexto aparece una "gran señal" en el cielo, o sea de parte de Dios; es la señal de la victoria definitiva de Dios que la comunidad eclesial deberá descifrar, tanto ayer como hoy.

En primer lugar, se nos dice que se trata de una mujer. A la luz del Antiguo Testamento, opina U. Vanni , hay que pensar en una esposa y madre, en la alianza nupcial de Dios con su pueblo. Esta mujer está "revestida del sol, con la luna bajo sus pies y una corona de doce estrellas en su cabeza"(12,1). El sol indica que esta mujer es querida por Dios quien la llena de sus regalos, de su "sol". La luna, que en el Antiguo Testamento tiene la función de regular el curso del tiempo, está bajos sus pies, indicando que la mujer está por encima del tiempo y de sus vicisitudes, que tiene ya su eternidad. La corona sobre su cabeza es signo de su victoria, pues es reina; y el número doce expresa la unidad del Antiguo (doce tribus de Israel) y del Nuevo (doce apóstoles) pueblo de Dios. Por fin, se nos dice que esta mujer está embarazada y por dar a luz. Un poco más adelante se nos dirá que tuvo un hijo varón que es elevado hasta Dios y su trono, por tanto, se trata de Cristo en su gloria.

Según todos estos datos, para U. Vanni se trata en primer lugar de un símbolo del pueblo de Dios, de la Iglesia Madre que da a luz a Cristo y, de este modo, la asamblea identificándose con la Iglesia y con la mujer se renueva en la confianza para seguir dando a luz dolorosamente a Cristo al mundo hasta la consumación final.

Pero "no podemos ignorar que el Apocalipsis es parte de la tradición de la comunidad de Juan; y en el evangelio de Juan aparece María siempre designada con este título de «mujer», siendo al mismo tiempo «madre»; en Jn 2,4, donde gracias a la intervención de María, Jesús «manifestó su gloria y creyeron en Él sus discípulos» (2,11). Pero allí Jesús traslada la función de María a otro momento mucho más importante: la «hora» (2,4). Y la «hora» es la muerte redentora en la cruz (19,27: «Aquella hora»). Allí es cuando Jesús vuelve a llamarla «mujer», y la declara «madre» de su discípulo (19,26). Y sólo después de hacer esto, Jesús sabe que «todo está cumplido» (19,18). Todo esto significa que el Evangelio de Juan ve en María a la que cumple plenamente el anuncio de una Mujer enemiga de la serpiente. La descendencia de María, que es Cristo, pisa la serpiente y la vence […] En Apocalipsis 12, al igual que en Jn 19, María es la madre de Cristo, pero también la mujer enemiga del demonio y la madre de los discípulos […] Esta mujer reúne en un mismo simbolismo al pueblo del Antiguo Testamento, a la Iglesia perseguida del Nuevo Testamento, y a María" .



Segunda Lectura (1Cor 15,20-27)

Estos versículos pertenecen a la subsección de la carta (15,12-34) donde Pablo busca demostrar la intrínseca unidad que existe entre la resurrección de Cristo, afirmada como núcleo del kerigma, y la resurrección de los muertos, situación que es posible iluminar a partir de la fe recibida. 

Aquí Pablo comienza afirmando claramente la verdad de la resurrección de Cristo y cómo la misma es la garantía de la resurrección futura de los cristianos. Para demostrar esta relación entre la resurrección de Cristo y la de los cristianos, que negaban algunos corintios, recurre a la comparación antitética entre Adán y Cristo (tema que desarrollará en Rom 5). Por Adán vino la muerte para todo hombre, por Cristo viene la vida, también para todos los hombres. Pero con un orden progresivo: primero Cristo, ya resucitado, luego, en la parusía, los que son de Cristo; y la conclusión con el sometimiento de todo a Dios Padre. La muerte es presentada como el último enemigo al cual Cristo derrotará al final de los tiempos, para que reine la vida.



EVANGELIO (Lc 1,39-56)


Como sabemos, la Asunción de María no se encuentra narrada en el Nuevo Testamento, por ello no hay que buscar en este texto una referencia explícita a este dogma mariano. Sin embargo, es sugestiva la relación que encuentra el Cardenal Albert Vanhoye  entre el evangelio de hoy y la Asunción de María: el Magnificat expresa muy bien los sentimientos de María con ocasión de su Asunción. Según este autor, el Magnificat es un canto profético que anuncia la exaltación de María en el acontecimiento de la Asunción.



ALGUNAS REFLEXIONES


Pienso que es fundamental comenzar precisando el sentido de este dogma de fe mariano, su contenido y su alcance; para luego ver cómo ilumina nuestra vida. Por ello veamos lo que sobre este dogma mariano nos dice el Catecismo de la Iglesia Católica (CIC):


Nº 966: La Asunción de la Santísima Virgen constituye una participación singular en la Resurrección de su Hijo y una anticipación de la resurrección de los demás cristianos: “En tu parto has conservado la virginidad, en tu dormición no has abandonado el mundo, oh Madre de Dios: tú te has reunido con la fuente de la Vida, tú que concebiste al Dios vivo y que, con tus oraciones, librarás nuestras almas de la muerte” (Liturgia bizantina, Tropario de la fiesta de la Dormición [15 de agosto]).


Nº 972: La Madre de Jesús, glorificada ya en los cielos en cuerpo y alma, es la imagen y comienzo de la Iglesia que llegará a su plenitud en el siglo futuro. También en este mundo, hasta que llegue el día del Señor, brilla ante el Pueblo de Dios en marcha, como señal de esperanza cierta y de consuelo (LG 68).

Puntualmente el Catecismo nos señala el principal fundamento de esta gracia o privilegio especial que recibió María: su estrecha vinculación al misterio pascual de su Hijo Jesús. Ella participó de modo singular en la resurrección de su Hijo y así Dios anticipó en ella la suerte final de todos los cristianos. Y esta Gracia especial de María tiene su repercusión para la Iglesia quien ve en Ella su futuro ya realizado por cuanto la Asunción es una anticipación de la resurrección de los demás cristianos. Por esto es señal de esperanza y consuelo.

  Hoy se nos invita a contemplar a María en la gloria de Dios y reconocer que Ella es la imagen y la garantía de lo que llegaremos a ser un día los creyentes como miembros de la Iglesia. Ella está llena de gozo y su vida es una permanente alabanza de la Gloria de la Trinidad. Pero al mismo tiempo, gracias a su estado glorioso, puede estar pendiente de todos y cada uno de sus hijos, de nosotros. Como bien dice R. Cantalamessa , cuando Sta. Teresita del Niño Jesús expresó su misión eterna diciendo: “quiero pasar mi cielo haciendo el bien en la tierra”; estaba haciendo suya, sin saberlo, la vocación de María, quien pasa su cielo haciendo el bien en la tierra. ¿Y cómo lo hace? Mediante su poderosa intercesión. En las bodas de Caná vemos a María intercediendo ante su Hijo Jesús porque se terminó el vino de la fiesta. Y le hizo anticipar su hora. Pues bien, ahora que María está asociada a la glorificación de su Hijo, su poder de intercesión desde el cielo es infinitamente mayor. Por eso con tanta fe y confianza le dirigen sus súplicas los cristianos de todos los tiempos. Un claro testimonio es la oración “Acordaos”, atribuida a san Bernardo, pero cuyos textos más antiguos son del siglo XV y se desconoce su verdadero autor: «Acordaos, oh piadosísima Virgen María, que jamás se ha oído decir que ninguno de los que han acudido a tu protección, implorando tu asistencia y reclamando tu socorro, haya sido abandonado de ti. Animado con esta confianza, a ti también acudo, oh Madre, Virgen de las vírgenes».


Por tanto, siempre es bueno contemplar a la Virgen Asunta a los cielos como ejemplo y signo de Esperanza para nuestras vidas. El objeto esencial de nuestra Esperanza cristiana es la salvación como “posesión” de Dios, la comunión plena con Él. Y María ha alcanzado esta Gracia en su Asunción y nos enseña a pedirla y esperarla justamente como tal, como una GRACIA.

En su vida terrena María vivió la Esperanza mediante el ejercicio de la memoria, tal como lo prueba el Magnificat. María hace memoria de las grandes maravillas obradas por Dios en favor de su pueblo, en el pasado; y en favor de ella en el presente, a pesar de su pequeñez. María guardaba todas las cosas vividas con Jesús y las meditaba en su corazón. Así, haciendo memoria, mantuvo siempre viva la Esperanza. 

Pero de modo especial María vivió “la esperanza contra toda esperanza” junto a la cruz de Jesús y participando como nadie del misterio pascual de su Hijo. Y nos enseña a vivirla también a nosotros, particularmente en los momentos límites, cuando parece que ya nada más podemos hacer. En esos momentos María, como una estrella brillante en la noche, nos invita a seguir mirando al cielo y continuar esperando en Dios. En efecto, “cuando incluso no hubiera nada más que hacer por parte nuestra, para cambiar una cierta situación difícil, quedaría siempre una gran tarea por cumplir, la de mantenerse comprometido y mantener lejana la desesperación: soportar con paciencia hasta el fin. Ésta fue la gran “tarea” que María llevó a cumplimiento, esperando, al pie de la cruz, y en esto ella está lista para ayudarnos también a nosotros” .

María enseña a la Iglesia a vivir y ofrecer la verdadera esperanza, como lo explica muy bien R. Cantalamessa : “María que en el misterio de la Encarnación fue maestra de fe, en el Misterio Pascual es, por tanto, maestra de la esperanza. Como María estuvo junto al Hijo crucificado, así la Iglesia está llamada a estar junto a los crucificados de hoy: los pobres, los que sufren, los humillados y los heridos. ¿Y cómo estará la Iglesia junto a ellos? Con esperanza, como María. No basta compadecerse de sus penas o incluso buscar aliviarlas. Es demasiado poco. Esto lo pueden hacer todos, incluso los que no conocen la resurrección. La Iglesia debe dar esperanza, proclamando que el sufrimiento no es absurdo, sino que tiene un sentido, porque habrá resurrección de la muerte […] Los hombres tienen necesidad de esperanza para vivir, como del oxígeno para respirar”.

Por su parte el Papa Francisco, nos decía en el Ángelus del 15 de agosto de 2022: “hoy María canta la esperanza y reaviva en nosotros la esperanza. María hoy canta la esperanza y reaviva en nosotros la esperanza: en ella vemos la meta del camino. Ella es la primera creatura que, con todo su ser, en cuerpo y alma, atraviesa victoriosa la meta del Cielo. Ella nos muestra que el Cielo está al alcance de la mano. ¿Cómo es esto? Sí, el cielo está al alcance de la mano si tampoco nosotros cedemos al pecado, alabamos a Dios con humildad y servimos a los demás con generosidad. No hay que ceder al pecado. Pero alguno podría decir: “Pero, padre, yo soy débil”, ― “Pero el Señor siempre está cerca de ti, porque es misericordioso”. No te olvides de cuál es el estilo de Dios: cercanía, compasión y ternura. Siempre cercano a nosotros con su estilo. Nuestra Madre, nos lleva de la mano, nos acompaña a la gloria, nos invita a alegrarnos pensando en el paraíso. Bendigamos a María con nuestra oración y pidámosle una mirada, capaz de vislumbrar el Cielo en la tierra”.

María, en su pequeñez, conquista primero los cielos. El secreto de su éxito reside precisamente en reconocerse pequeña, en reconocerse necesitada. Con Dios, solo quien se reconoce como nada es capaz de recibirlo todo. Solo quien se vacía es llenado por Él. Y María es la "llena de gracia" (v. 28) precisamente por su humildad. También para nosotros, la humildad es el punto de partida, siempre, es el comienzo de nuestra fe. Es esencial ser pobre de espíritu, es decir, necesitado de Dios. El que está lleno de sí mismo no da espacio a Dios, y tantas veces estamos llenos de nosotros, pero el que permanece humilde permite al Señor realizar grandes cosas (cf. v. 49).

El poeta Dante se refiere a la Virgen María como "humilde y más elevada que una criatura" (Paraíso XXXIII, 2). Es hermoso pensar que la criatura más humilde y elevada de la historia, la primera en conquistar los cielos con todo su ser, cuerpo y alma, pasó su vida mayormente dentro del hogar, pasó su vida en lo ordinario, en la humildad. Los días de la Llena de gracia no tuvieron mucho de impresionantes. A menudo se sucedieron iguales, en silencio: por fuera, nada extraordinario. Pero la mirada de Dios permaneció siempre sobre ella, admirando su humildad, su disponibilidad, la belleza de su corazón, nunca tocado por el pecado.

Este es un gran mensaje de esperanza para nosotros; para ti, para cada uno de nosotros, para ti que vives las mismas jornadas, agotadoras y a menudo difíciles. María te recuerda hoy que Dios también te llama a este destino de gloria. No son palabras bonitas, es la verdad. No es un final feliz artificioso, una ilusión piadosa o un falso consuelo. No, es la pura realidad, viva y verdadera como la Virgen Asunta al Cielo. Celebrémosla hoy con amor de hijos, celebrémosla gozosos pero humildes, animados por la esperanza de estar un día con ella en el Cielo”.

PAPA FRANCISCO

ÁNGELUS

Plaza de San Pedro

Lunes, 15 de agosto de 2022

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Queridos hermanos y hermanas, ¡buenos días! ¡feliz fiesta!

Hoy, solemnidad de la Asunción de la Virgen María, el Evangelio nos ofrece el diálogo entre ella y su prima Isabel. Cuando María entra en la casa y saluda a Isabel, le dice: “Bendita eres entre las mujeres y bendito es el fruto de tu vientre” (Lc 1,42). Estas palabras, llenas de fe y alegría y asombro, se han convertido en parte del “Ave María”. Cada vez que rezamos esta oración, tan hermosa y conocida, hacemos como Isabel: saludamos a María y la bendecimos, porque ella nos trae a Jesús.

María acoge la bendición de Isabel y responde con el cántico, un regalo para nosotros, para toda la historia: el Magnificat. Es un canto de alabanza. Podemos definirlo como “el cántico de la esperanza”. Es un himno de alabanza y exultación por las grandes cosas que el Señor ha realizado en ella, pero María va más allá: contempla la obra de Dios a lo largo de la historia de su pueblo. Dice, por ejemplo, que el Señor “derribó del trono a los poderosos, enalteció a los humildes, colmó de bienes a los hambrientos y despidió a los ricos con las manos vacías” (vv. 52-53). Al escuchar estas palabras, podríamos preguntarnos: ¿no estará exagerando la Virgen un poco, describiendo un mundo que no existe? De hecho, aquello que dice no parece corresponder a la realidad; mientras ella habla, los poderosos de la época no han sido derrocados: el temible Herodes, por ejemplo, se mantiene firme en su trono. Y los pobres y hambrientos también lo siguen siendo, mientras los ricos siguen prosperando.

¿Qué significa ese cántico de María? ¿Cuál es su sentido? Ella no busca hacer una crónica del tiempo, no es una periodista, sino decirnos algo mucho más importante: que Dios, a través de ella, ha inaugurado un punto de inflexión en la historia, ha establecido definitivamente un nuevo orden de las cosas. Ella, pequeña y humilde, ha sido elevada y ―lo celebramos hoy― llevada a la gloria del Cielo, mientras que los poderosos del mundo están destinados a quedarse con las manos vacías. Piensen en la parábola de aquel hombre rico que tenía frente a su puerta a un mendigo, Lázaro. ¿Cómo terminó? Con las manos vacías. La Virgen, en otras palabras, anuncia un cambio radical, una inversión de valores. Al hablar con Isabel, mientras lleva a Jesús en su vientre, anticipa lo que dirá su Hijo, cuando proclame bienaventurados a los pobres y a los humildes y haga una advertencia a los ricos y a los que confían en su propia autosuficiencia. La Virgen, por tanto, profetiza con este cántico, con esta plegaria: profetiza que no son el poder, el éxito y el dinero, los que prevalecen, sino que prevalecen el servicio, la humildad y el amor. Y mirándola en la gloria, comprendemos que el verdadero poder es el servicio ―no olvidemos esto: el verdadero poder es el servicio― y reinar significa amar. Y que este es el camino al Cielo.

Entonces mirémonos a nosotros mismos y preguntémonos: ¿esa inversión anunciada por María toca mi vida? ¿Creo que amar es reinar y que servir es poder? ¿Creo que la meta de mi vida es el cielo, es el paraíso? ¿O me preocupo solo de pasarlo bien aquí, me preocupo solo de las cosas terrenales y materiales? Es más, al observar los acontecimientos del mundo, ¿me dejo atrapar por el pesimismo o, como la Virgen, soy capaz de distinguir la obra de Dios que, a través de la mansedumbre y la pequeñez, realiza grandes cosas? Hermanos y hermanas, hoy María canta la esperanza y reaviva en nosotros la esperanza. María hoy canta la esperanza y reaviva en nosotros la esperanza: en ella vemos la meta del camino. Ella es la primera creatura que, con todo su ser, en cuerpo y alma, atraviesa victoriosa la meta del Cielo. Ella nos muestra que el Cielo está al alcance de la mano. ¿Cómo es esto? Sí, el cielo está al alcance de la mano si tampoco nosotros cedemos al pecado, alabamos a Dios con humildad y servimos a los demás con generosidad. No hay que ceder al pecado. Pero alguno podría decir: “Pero, padre, yo soy débil”, ― “Pero el Señor siempre está cerca de ti, porque es misericordioso”. No te olvides de cuál es el estilo de Dios: cercanía, compasión y ternura. Siempre cercano a nosotros con su estilo. Nuestra Madre, nos lleva de la mano, nos acompaña a la gloria, nos invita a alegrarnos pensando en el paraíso. Bendigamos a María con nuestra oración y pidámosle una mirada, capaz de vislumbrar el Cielo en la tierra.


PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):



SIN DEMORA

 

Madre Santa, madre nuestra y madre mía

Aceptaste vivir nuestra sed

Nuestro peregrinar

No quisiste hacerla esperar…

 

Ella necesitaba tu compañía, tu solicitud

Tu amistad, y allí estabas

Como ahora también con nosotros estás

Para elevarnos contigo.

 

No sabemos cómo habrá sido

Aquel encuentro con el Rey

Cuando vino a buscarte

Para llevarte a su Reino.

 

Se habrá colmado su alegría

Al verte por fin de nuevo

Y llevarte de la mano

Al lugar de tus anhelos .

 

Todo tu deseo es divino

Acercarnos a tu Hijo para amarlo

Hacernos uno con él sin demora

Porque ésta es su Hora.

 

En tu corazón inmaculado

sus secretos se atesoran

los que los niños por gracia descubren

y el mundo necio, ignora.

 

Cuéntanos de ellos, cuando llega la noche

Pero se nos niega el sueño

Calma nuestra agitación, Oh Madre del cielo!

Se nuestro refugio y consuelo. Amén.