26º DOM TC A

26º DOMINGO DO TEMPO COMUM-ANO A

01/10/2023 

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Ezequiel 18, 25-28 

Salmo Responsorial 24(25)-R- Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura e compaixão! 

2ª Leitura Filipenses 2,1-11 

Evangelho Mateus 21,28-32

“Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha!’ 29    O filho respondeu: ‘Não quero’. Mas depois mudou de atitude e foi. 30      O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu:‘ Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi. 31      Qual dos dois fez a vontade do pai?” Os sumos sacerdotes e os anciãos responderam: “O primeiro.” Então Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. 32 Pois João veio até vós, caminhando na justiça, e não acreditastes nele. Mas os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes, para crer nele. 


INTRODUÇÃO

26°DomTComum – MT 21, 28-32 – Ano A – 01-10-23


Deus chama a todos homens e mulheres a vivenciar a construção de um mundo novo de justiça e de paz, e cada um tem a liberdade de aceitar ou não aceitar esse projeto.

A Palavra de Deus exige um compromisso sério e coerente, verdadeiro e exigente na construção de um mundo novo, de justiça, de fraternidade, de paz, amor e alegria.

Na primeira leitura, o profeta Ezequiel convida os israelitas exilados na Babilónia a comprometerem-se de forma séria e consequente com Deus, sem rodeios, sem evasivas, sem subterfúgios. E viver seu compromisso com coerência.

A segunda leitura nos mostra que Jesus Cristo mesmo sendo filho de Deus, viveu na simplicidade e no amor, sem arrogância e orgulho. Mas assumindo sua fragilidade humana, e, fazendo-se servidor dos das pessoas para nos ensinar a lição do amor, dedicação, doação.

Os cristãos são chamados por Deus a seguir Jesus e a viver do mesmo jeito que ele nos ensinou a viver na entrega total ao Pai e aos seus projetos.

No Evangelho a parábola dos dois filhos ilustra duas atitudes diversas diante dos desafios e das propostas de Deus. O “sim” que Deus nos pede não é uma declaração proferidas de boas intenções, sem atitudes; mas é um compromisso sério, coerente e exigente com o Reino, com os seus valores, com o seguimento de Jesus Cristo. 


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA


Mt 21,28-32

Um homem tinha dois filhos...

Deus manifesta a sua vontade. A oportunidade que o pai dá é a mesma aos dois filhos. Pede um serviço bem concreto: trabalhar na vinha do pai. O Pai não deixou na ignorância a nenhum dos seus dois filhos.

A resposta do primeiro filho é rude e seca. “O filho respondeu: não quero. Mas depois mudou de opinião”.

Não se importa nem mesmo em atenuar com uma desculpa a sua desobediência. Exprime uma atitude de insolência e de desafio. O filho demonstra com suas palavras que é insensível à vontade do pai, pois prefere fazer sua vontade.

Mas esse filho “mudou de opinião” (o texto grego: “se entristeceu”). Trata-se da tristeza do arrependimento (como o de Pedro) e não só do remorso (como o de Judas Iscariotes).

Ele se entristeceu: meditou sobre sua resposta e tomou consciência de seu erro. Ele se arrependeu e colocou de lado seu orgulho. Não ficou obstinado em sua desobediência. 

Essa conversão do primeiro filho é uma advertência para nós. Por que não temos vergonha de pecar, mas nos enchemos de falso pudor quando temos que admitir o próprio erro? O orgulho é muito poderoso, mas esse filho admitiu seu erro sem qualquer tentativa de se justificar. Por isso ele “foi”.

Essa história nos oferece uma grande promessa: não devemos nem precisamos ser escravos de um passado errado. Ainda dá tempo para mudar de vida! 

Essa parábola nos apresenta também outra advertência: nós que confessamos Cristo com sinceridade, podemos nos condenar. É o que ocorreu com o outro filho. Ele respondeu: sim, senhor, eu vou. Mas não foi.

As intenções desse filho eram sinceras. Mas seu entusiasmo não era motivação suficiente: “o inferno está cheio de boas intenções”. Nós podemos ser como esse segundo filho: queremos servir ao Senhor, mas nos enredamos em nossa própria mentira. A mentira se torna a nossa proteção inconsciente; mentimos a nós mesmos porque queremos fazer nossa vontade e não a de Deus. Dizemos “sim” com grande solenidade, com uma impecável aparência de sinceridade (até para nós mesmos), e sequer percebemos que se trata de uma mentira dita somente para manter nossa boa consciência e autocomplacência.

Por que não colocamos em prática nossas intenções mesmo quando sinceras e boas? Porque nossa intenção não é suficientemente intensa. O coração está dividido e é atraído por desejos contraditórios. Enquanto nosso desejo não for suficientemente ardente, nossa vontade é incapaz de se decidir. O desejo, quando é intenso (não só sincero), arrasta a vontade e atrai o coração. Nossa vida cristã consiste num exercício contínuo de desejo.

Qual dos dois fez a vontade do Pai?

Os publicanos e as prostitutas, ao contrário, creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele.

Imagine o efeito dessas palavras!

Crer é obedecer. Um dos filhos obedeceu, pois foi ao campo trabalhar. Crer não significa crendice, mas supõe obediência e trabalho. Implica dedicação total.


A coerência modelada pelo sim e pelo não - Pe Adroaldo Palaoro


“Qual dos dois fez a vontade do pai?” (Mt 21,31)


Em nosso contexto social e religioso reina a diplomacia do “transitar entre o sim e o não”, ou seja, dissimular, não ser claro, nem transparente, deixar as coisas numa certa e intencionada ambiguidade. Quando é pedido um “sim” ou um “não”, costuma-se deixar levar pela “covardia do meio termo”.

De fato, há tantos modos de evitar dar uma resposta clara, de não nos comprometer; até usamos desculpas convincentes para ocultar nossa incoerência. Dizer “sim” ou “não”, é rotundo, é radical, é ser coerente.

É isso que Jesus pede de seus seguidores(as).

O texto do evangelho deste domingo nos convida a entrar no significado do “sim” e do “não” na vivência do seguimento e na nossa vida.

Procuremos entender o texto em seu contexto: o povo judeu disse “sim” ao aceitar a Lei de Moisés, mas se negou, através de seus dirigentes, a aceitar a proposta de Jesus. No entanto, os pagãos e os pecadores, que primeiro disseram “não”, ao final são aqueles que aceitaram o Reino, pois se deixaram impactar pelo modo de ser e de agir de Jesus. O “sim” foi sendo modelado a partir do chão da vida e não da Lei.

Para Jesus, a fidelidade a Deus não passa pela mera observância da Lei, mas pela prática de um amor incondicional. Ele transforma o modo de nos relacionar com o Pai, fundamentado no modo como Ele mesmo vive, não como o distante Deus do Templo, mas como o Abba próximo e comprometido com a vida. Isto desmonta o pedestal de uma religião superestruturada ao redor das normas e das leis de pureza, de impureza, de sacrifícios como pagamento pelos pecados e que foram determinados pelos hierarcas que imitam a um “deus” distante, frio, a quem é preciso acalmá-lo com oferendas, sacrifícios e mortificações.

Para denunciar esta atitude petrificada e dúbia das autoridades religiosas, Jesus utiliza o inteligente e oriental recurso das parábolas.

A “parábola dos dois filhos” chamados a trabalhar na vinha do pai está dirigida especialmente à infidelidade dos dirigentes religiosos: dizem, mas não fazem; são fiéis por fora, mas incoerentes por dentro.

Jesus nos pede hoje mais valor, mais audácia, mais claridade. Quer que o “sim” esteja acompanhado da obediência. Mas, obediência a quê e a quem?

Trata-se de uma obediência filial. O senhor da vinha convida seus próprios filhos para que vão trabalhar nela. Há um filho que tem sempre o “sim” na boca. Encanta-o viver do favor do pai e manter uma boa imagem de filho obediente. Mas, à hora da verdade, não trabalha na vinha; dedica-se a outras coisas. É um hipócrita.

O filho que tem um “não” na boca, vai e trabalha na vinha. Não se preocupa com sua boa imagem. Trabalha na vinha a partir do anonimato, a partir da não-ostentação. Ele é verdadeiramente o filho obediente.

O Evangelho deste domingo, usando a imagem de dois filhos chamados pelo pai a trabalhar na vinha, realça o verdadeiro sentido da “obediência”: significa dar audiência a quem merece. Se sabemos que Deus nos mostra um caminho incomparável, então obedecer-lhe é o melhor que podemos fazer; obedecemos por amor e não por medo. Neste caso, a obediência já não pode ser meramente formal, do tipo “sim, senhor”. Ela será um movimento do interior do coração, ela mexerá com o nosso íntimo.

A obediência não se restringe a cumprir mandatos, nem a seguir leis, pois ela está profundamente unida ao crer no outro; porque “entregamos o coração”, obedecemos, ou seja, entramos em sintonia com o coração do Outro. Porque “entregamos o coração”, na obediência nosso coração pulsa no mesmo ritmo do coração de Deus. Tal obediência, inspirada pela obediência de Jesus, não alimenta dependência nem atrofia nossa autonomia; pelo contrário, nos faz mais libres, criativos.

A obediência de Jesus brota de um autêntico e pleno exercício de sua liberdade. Por isso, a verdadeira obediência só é possível a partir da autonomia da pessoa e supõe necessariamente o exercício da liberdade.

Esta entrega radical só é possível no ambiente do amor e da intimidade.

Assim, a obediência pressupõe a liberdade; ainda mais, é uma expressão de ser livre frente à própria liberdade, quando a pessoa reconhece um referente superior que a fundamenta, porque só a partir deste referente chega a encontrar o sentido sobre si mesmo.

A originalidade da parábola está na afirmação que Jesus lança aos dirigentes religiosos daquela sociedade: “Eu vos asseguro que os publicanos e as prostitutas entrarão antes de vós no Reino de Deus”.

Sem dúvida, as palavras de Jesus soaram não só provocativas, mas diretamente heréticas e inclusive blasfemas aos ouvidos das pessoas “religiosas” que o escutavam. Afirmar que “publicanos e prostitutas” vão entrar na frente no Reino de Deus causa um profundo incômodo nas pessoas que reduzem suas vidas a cumprir leis, ritos, doutrinas, sem nenhuma sensibilidade solidária com aqueles que são colocados à margem.

Para a religião, o valor mais importante costuma ser a crença e a norma, não tanto a atitude nem o comportamento ético das pessoas.

Para Jesus não importam as crenças e normas, mas o amor e a bondade, ou seja, aquelas atitudes e ações que são coerentes com a verdade do que somos. Na nosso “eu profundo” temos reservas de bondade, de compaixão, de mansidão... e que devem ser ativadas continuamente.

Seguramente nem todos os publicanos e nem todas as prostitutas eram exemplos de amor e de bondade, mas Jesus via em seus corações mais verdade, humildade e humanidade que nos egos inflados dos chefes religiosos.

Que podia ver Jesus naqueles homens e mulheres desprezados por todos? Talvez sua humilhação. Quem sabe, um coração mais aberto a Deus e mais necessitado de seu perdão; ou ainda, uma compreensão e uma proximidade maior para com os últimos da sociedade. Talvez menos orgulho e prepotência que a dos escribas e sumos sacerdotes.

No entanto, hoje e sempre, vivem a verdadeira vontade do Pai aqueles(as) que traduzem em atos o evangelho de Jesus e aqueles(as) que se abrem com simplicidade e confiança ao seu perdão.

Em chave de “interioridade”, podemos dizer que estes dois filhos, estas duas atitudes, convivem dentro de nós. Somos aquela boa pessoa que diz “sim” ao projeto de Jesus, mas, quando toca o nosso ego ou os nossos interesses usamos desculpas mesquinhas, ou seja, não nos definimos, não nos comprometemos...

Quando não há coerência com nossas atitudes, com nossos “sins” e nossos “nãos”, um sentimento de ansiedade vai emergindo de nosso interior. Ou seja, nosso interior geme, porque sofremos certa angústia que pode se tornar crônica. Tal angústia vai, aos poucos, nos tornando rígidos, legalistas, marcados por uma tristeza interior causada pela mediocridade, pela falta de fôlego em colaborar com o projeto de Jesus.

“Sacerdotes e anciãos do povo” x “publicanos e prostitutas”: tais grupos estão também presentes, e em constante conflito, em nossa própria interioridade.

Como integrá-los e como conviver com eles para que nossa vida seja criativa e expansiva?

A parábola deste domingo nos convida a reconhecer e abraçar o “publicano” e a “prostituta” que cada um de nós carrega em nosso interior.

Simbolicamente, “publicano” e “prostituta” é aquela dimensão nossa que temos reprimida e escondida, nossa própria sombra. É claro que, enquanto não a reconhecermos, projetaremos nos outros o que em nós mesmos rejeitamos. Só quando abraçamos nossa “negatividade”, nos humanizamos, porque nos abrimos à humildade. E só então poderá emergir a bondade e a compaixão para com os outros.

Para meditar na oração:

Coloque-se diante de cada um dos filhos da parábola: qual deles determina sua vida?

- Que atitudes prevalecem em seu “trabalho” na Vinha do Senhor?



As coisas nem sempre são o que parece - José Antonio Pagola


A parábola é uma das mais claras e simples. Um pai aproxima-se dos seus dois filhos para pedir-lhes que trabalhem na vinha. O primeiro responde com uma negativa rotunda: “Não quero”. Então ele pensa melhor e vai trabalhar. O segundo reage com docilidade ostensiva: “Claro que vou, senhor”. No entanto, tudo permanece em palavras, porque não vai para a vinha.


Também a mensagem da parábola é clara e fora de toda a discussão. Diante de Deus, o importante não é “falar”, mas fazer; o decisivo não é prometer ou confessar, mas cumprir sua vontade. As palavras de Jesus não têm nada original.


O original é a aplicação que, de acordo com o evangelista Mateus, Jesus lança aos líderes religiosos da sociedade: “Eu vos asseguro: os publicanos e prostitutas vão à vossa frente no caminho do reino de Deus”. Será verdade o que diz Jesus?


Os escribas falam constantemente da lei: o nome de Deus está sempre nos seus lábios. Os sacerdotes do templo louvam a Deus sem descanso; as suas bocas estão cheias de salmos. Ninguém duvidaria que fazem a vontade do Pai. Mas as coisas nem sempre são como parecem.


Os cobradores de dívidas e prostitutas não falam a ninguém de Deus. Faz tempo que esqueceram a sua lei. No entanto, segundo Jesus, vão à frente dos sumos sacerdotes e escribas no caminho do reino de Deus.


Que podia ver Jesus naqueles homens e mulheres desprezados por todos? Talvez sua humilhação. Talvez um coração mais aberto a Deus e mais necessitado do seu perdão. Quem sabe uma compreensão e uma proximidade maior com os últimos da sociedade. Talvez menos orgulho e prepotência que a dos escribas e sumos sacerdotes.


Os cristãos, enchemos de palavras muito bonitas a nossa história de vinte séculos. Construímos sistemas impressionantes que recolhem a doutrina cristã com profundos conceitos.


No entanto, hoje e sempre, a verdadeira vontade do Pai é feita por aqueles que traduzem em atos o evangelho de Jesus e por aqueles que se abrem com simplicidade e confiança ao seu perdão.


Mt 21,28-32 – “Prostitutas e publicanos entrarão primeiro no Reino dos Céus” - Mesters, Lopes e Orofino


O desencontro entre Jesus e o povo – de ontem como de hoje - tem a ver com a esperança messiânica. Tinha gente que queria um Messias Rei (Mt 27,11); gente que queria um Messias Sacerdote (Mc 1,24); gente que queria um Guerrilheiro subversivo (Lc 23,5); ou um Messias Doutor (Jo 4,25); um Messias Juiz (Lc 3, 5-9); outros ainda um Messias Profeta (Mt 21,11). 

Quase ninguém esperava um Messias Servo (tipo servo sofredor de Isaias 42,1; 49,3; 52,13). Esperança Messiânica como serviço ao povo sofrido não cabia na cabeça de quase ninguém. A esperança messiânica era (e continua sendo) talhada de acordo com os interesses de cada um, na sua classe social. Aquele ditado do Leonardo Boff: “toda ponto de vista e visto de um ponto”.

Palavras de Jesus na parábola dos dois filhos: um diz que vai fazer o que o pai pediu, mas não faz. O outro diz que não quer, mas depois faz a vontade do pai. Texto intrigante!

Esses versículos precisam ser lidos no conjunto do capítulo 21 do Evangelho segundo Mateus: Jesus chega em Jerusalém, onde se darão os acontecimentos mais importantes da sua vida. Ao entrar na cidade, ele realiza três gestos simbólicos que revelam sua identidade messiânica:

Mt 21,1-11 - Entra na cidade montado num jumentinho, que segundo as profecias, era característica do rei justo, pobre e desarmado;

Mt 21, 12-17 - Expulsa do templo os vendedores, denunciando a hipocrisia do comercio de animais para os sacrifícios;

Mt 21, 18-22, amaldiçoa a figueira, simbolicamente criticando o povo de Israel por não ter produzidos frutos de justiça.

O episódio da expulsão dos vendedores do templo é descrito pelos quatro evangelhos. Mateus, entretanto, acrescenta outra provocação de Jesus: cegos e coxos, até então impedidos de entrar no templo por serem considerados pecadores, são curados por Jesus no próprio santuário (Mt 21,14-17). E diante da indignação dos principais sacerdotes e escribas, Jesus responde: “Vocês nunca leram que é da boca dos pequeninos e crianças de peito que vem o perfeito louvor?” (Salmo 8)

A parábola dos dois filhos vem na sequência da figueira estéril (Mt 21,18-22), imagem de um templo e de uma religião que não produzem mais frutos, e do debate de Jesus com as autoridades sobre o batismo de João (Mt 21,23-27).

Jesus perguntou: — O que vocês acham disto? Certo homem tinha dois filhos. Ele foi falar com o mais velho e disse: “Filho, hoje você vai trabalhar na minha plantação de uvas.” — Este respondeu: “Mas eu não quero ir.” Depois mudou de ideia e foi. — O pai falou a mesma coisa ao outro filho. Este disse: “Sim, senhor.” Mas acabou não indo. — Qual dos dois fez o que o pai queria? Responderam: — O filho mais velho. Então Jesus disse a eles: “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: os cobradores de impostos e as prostitutas estão entrando no Reino de Deus antes de vocês. João Batista veio para mostrar a vocês o caminho certo, e vocês não creram nele; mas os cobradores de impostos e as prostitutas creram. Porém, mesmo tendo visto isso, vocês não se arrependeram e não creram nele.

“João veio para mostrar para vocês o caminho certo, o caminho da justiça, e vocês não creram nele. Mas os cobradores de impostas e as prostitutas creram…” (Mt 21,32). O “caminho da justiça” é o caminho de Deus, de seu projeto, de sua vontade, de sua Lei. Na comunidade de Mateus, havia gente – os “fora da Lei” – que tinham dito “não quero”, porém se converteram à justiça anunciada por João e foram fiéis no seguimento de Jesus. Já os fariseus, que se consideravam justos, cumpridores da Lei, ficaram de fora. A comunidade de Mateus foi radical na hora de transmitir o que entendeu como fidelidade à Lei:

“Não pensem que vim abolir a Lei e os Profetas, mas dar-lhes pleno cumprimento. Quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar aos outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Por outro lado, quem os praticar e ensinar, será grande no Reino dos Céus” (Mt 5,17-19).

Na compreensão judaica, Lei e Profetas representam todo o Antigo Testamento: a História de um Deus que caminha com o seu povo e com ele faz Aliança. Jesus veio dar plenitude a esse tratado de amizade de Deus com o povo. Ele quer que sejamos fiéis ao plano salvífico do Pai, fiéis ao espírito do Antigo Testamento e não apenas a um conjunto de regras morais. Assim, resgatou o sentido original da Lei que é o amor misericordioso de Deus e questionou as leis casuísticas da tradição. Por isso, dizia: “ouvistes o que foi dito… Eu, porém, vos digo…” (Mt 5,21-22).

O evangelho da comunidade de Mateus, que vive as dificuldades com o legalismo farisaico, lembra as palavras de Jesus: “Se a justiça de vocês não supera a dos doutores da Lei e a dos fariseus, vocês não entrarão no Reino dos Céus” (Mt 5,29). E logo, nos capítulos 5 a 7, explica qual deve ser a atitude cristã diante da Lei (contra a prática dos escribas) e diante das obras de piedade (contra o jeito dos fariseus). A síntese aparece na boca do próprio Jesus: “Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas” (Mt 7,12).

Mas e Jesus, como cumpre a Lei?

O importante para ele é a Lei da vida. Ele nunca aparece angustiado por leis ou normas cultuais. Ao contrário, denuncia os doutores da Lei e os fariseus que “amarram fardos pesados e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo…” (Mt 23,4). Jesus, ao contrário, vive com grande fidelidade e liberdade e ainda nos convida: “Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo e eu lhes darei descanso” (Mt 11,28). Para ele, o cumprimento do preceito não é o mais importante. 

“Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês dão a Deus a décima parte até mesmo da hortelã, da erva-doce e do cominho, mas não obedecem aos mandamentos mais importantes da Lei, que são: o de serem justos com os outros, o de serem bondosos e o de serem honestos. Mas são justamente essas coisas que vocês devem fazer, sem deixar de lado as outras. (Mt 23,23). 

O recado desses versículos é claro: uma religião que se restringe ao cumprimento de rituais e não se vincula com o caminho da justiça, não produz adesão verdadeira.

  Será que somos capazes de superar uma religião do ritos – na nossa vida particular ou numa comunidade? 



Quem entrará primeiro no reino de Deus - Ana Maria Casarotti


Neste domingo a liturgia apresenta o diálogo de Jesus com os sumos sacerdotes e os anciãos do povo. Neste momento Jesus não se dirige a grandes multidões como noutras ocasiões, mas sim àqueles que se consideram portadores de sabedoria, conhecedores da Lei de Deus e fiéis guardiões dela. Os evangelhos descrevem diferentes circunstâncias em que Jesus dialoga ou confronta esses grupos que detinham o poder religioso de seu tempo: fariseus, advogados, saduceus, sacerdotes e anciãos do templo. Em alguns momentos tentam desacreditar as suas ações porque "ele não guarda o sábado" (Mc 2,23), porque "os seus discípulos não seguem a tradição dos mais velhos, mas comem com mãos impuras" (Mc 7,5). , “é um blasfemador e mentiroso”.

Para compreender melhor a mensagem que a liturgia nos oferece neste domingo, é necessário contextualizá-la. No início do capítulo Mt 21, é narrada a entrada de Jesus a Jerusalem, onde foi saudado pela multidão que o considerava um profeta, por isso fizeram a pergunta: Quem é ele? Eles respondem: “É Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia”. Mas as autoridades recebem esta manifestação de fé popular com suspeita e preocupação. Seguindo o texto do Evangelho, Jesus entra no Templo e “expulsa todos os que vendiam e compravam no templo” (12) e cura os cegos e coxos que se aproximavam dele. Com a sua presença Jesus gera ao seu redor um movimento que indigna os legistas e os sumos sacerdotes. Segundo eles, Jesus assume atributos que não pode e não deve assumir.

Depois de um descanso em Betânia, Jesus voltou a Jerusalém e “entrou no templo e começou a ensinar” (Mt 21, 23). Este fato confunde e incomoda mais uma vez os sacerdotes e os anciãos do povo que perguntam a Jesus: Com que autoridade você faz isso? Quem lhe deu tal autoridade? Os que estão no poder sentem-se incomodados com a presença de Jesus que, quando questionado sobre a sua autoridade, responde com uma pergunta: O Batismo de João foi de Deus ou dos homens? Uma pergunta que os deixa sem palavras. Apanhados na sua própria decepção, não se atrevem a tornar pública a sua falta de compromisso com o baptismo de João, por medo do povo. São obrigados a dar uma resposta que os humilha diante do povo – “não sabemos” confirmando mais uma vez a autoridade de Jesus.

A seguir, Jesus faz-lhes uma pergunta que introduz a história do texto que lemos neste domingo. É uma pergunta simples: “O que você acha? E abre a reflexão sobre as ações de dois filhos para com o pai quando se deparam com a proposta de trabalhar na sua vinha. O primeiro diz diretamente que não quer trabalhar, mas depois reflete e vai. O segundo responde “Estou indo Senhor”, mas depois não vai.

A história termina com outra pergunta: Qual dos dois fez o testamento de seu pai? Na sua pergunta Jesus refere-se à vontade do pai que o convidou para trabalhar na sua vinha. Não o coloca na categoria de bom ou mau, mas destaca o convite ao trabalho e a resposta a esse pedido. Desta forma, Jesus prioriza a realização da ação proposta pelo pai e não a resposta dada inicialmente. Mais uma vez Jesus tenta mostrar que o que importa não são as aparências externas, neste caso o cumprimento da Lei, maximizando a perfeição dos ritos e das manifestações piedosas, mas o que realmente importa é o compromisso, a ação. Jesus destaca assim que aqueles que “entrarão primeiro no Reino de Deus serão os publicanos, as prostitutas” que acreditaram em João e ouviram a sua mensagem. O que importa mesmo é fazer como o filho que, embora responda que não vai, depois se arrepende e decide ir trabalhar na vinha. O verdadeiro filho é aquele que age com verdade e justiça, que tem compaixão pelos que sofrem, como Jesus fez no templo, curando os coxos e cegos. Quem realmente cumpre a vontade de Deus é aquele que o aclama entre o povo e o considera profeta porque a sua presença é verdadeiramente salvadora e ele experimentou a sua salvação.

De diferentes maneiras, o Papa Francisco convida-nos a viver um cristianismo comprometido com os outros. Não pode haver um verdadeiro compromisso com Deus se não houver um compromisso com aqueles que estão ao seu lado e sofrem.

Somos chamados e convidados a deixar-nos tocar pelo Espírito e a ser extensão do braço amoroso de Deus que é Pai-Mãe e que não exclui ninguém, mas convida todos e todas a trabalhar na sua vinha. Ele não desanima com a primeira negação, pelo contrário fica feliz quando este filho amado “se arrepende e vai trabalhar na sua vinha”. O tempo de Deus não corresponde ao tempo cronológico, pois cada momento pode ser um kairós na vida da pessoa ou de uma comunidade.

Pedimos a Deus que sejamos reflexo do amor de Deus que se expressa em ações concretas, em relações genuínas que geram vínculos de verdadeiro compromisso com o seu Reino e com as necessidades dos nossos irmãos e irmãs que se encontram em situações mais pobres e vulnerável.



Pecadores públicos, prostitutas e as pessoas devotas- Enzo Bianchi

Tradução Moisés Sbardelotto


No templo de Jerusalém, Jesus está rodeado pelos sumos sacerdotes e pelos anciãos do povo, que detestam esse rabi e profeta proveniente da Galileia, que narra um rosto de Deus tão estranho às suas categorias. Por isso, põem-no à prova, perguntando-lhe com que autoridade ele ensina e opera curas.

Jesus, em resposta, pergunta-lhes se o batismo de João vinha do céu ou dos homens. E, diante do silêncio constrangedor deles, conclui: “Pois eu também não vos digo com que autoridade faço essas coisas” (Mt 21,27).

Nesse ponto, ele profere a primeira de três parábolas centradas na rejeição oposta pelos líderes religiosos de Israel àqueles que Deus enviou para anunciar a sua salvação.

Um homem tem dois filhos: pede ao primeiro que vá trabalhar na vinha, e ele, após ter consentido em palavras, não faz o que disse. O outro responde negativamente, mas depois, arrependendo-se, vai ao trabalho. Foi o segundo que fez a vontade do pai, admitem os interlocutores de Jesus. E ele comenta: “Os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”.

Com essas palavras, Jesus coloca a própria missão em estreita relação com a de João, seu mestre e precursor: rejeitar um é também rejeitar o outro (cf. Mt 11,16-19). Ele também revela que a salvação só pode ser acolhida por quem está disponível a retornar para Deus, arrependendo-se do mal feito e abandonando os próprios caminhos de pecado.

Nesse sentido, vale a pena analisar mais profundamente o sentido do ditado paradoxal: “Os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus” dirigido por Jesus aos homens religiosos do seu tempo e, com eles, a cada um de nós.

Jesus sabia muito bem que todas as pessoas são pecadoras, se é verdade que o justo peca sete vezes por dia (cf. Pv 24,16): mas qual é o motivo da sua preferência pela companhia dos pecadores públicos, reconhecidos como tais pelos homens e mulheres? Quem peca às escondidas nunca é incitado à conversão por uma repreensão que lhe venha de outros, porque continua sendo estimado por aquilo que aparece exteriormente da sua pessoa: essa é a doença da maioria das pessoas, entre as quais se destacam as devotas, que desprezam os outros por considerá-los imersos no pecado, enquanto agradecem a Deus pela sua pretensa justiça (cf. Lc 18,9-14).

Em vez disso, quem é um pecador público se encontra constantemente exposto à crítica alheia e, desse modo, é induzido a um desejo de mudança: no arrependimento que nasce de um “coração despedaçado” (Sl 34,19), ele pode se tornar sensível à presença de Deus, aquele Deus que não quer a morte do pecador, mas antes que se converta e viva (cf. Ez 18,23).

É precisamente por força dessa consciência que Jesus amava se sentar à mesa com os pecadores manifestos, compartilhar com eles esse gesto de extrema comunhão. Seu comportamento revela o coração de Deus, mostra a atitude de Deus para com o pecador, e, por isso, ele é contestado pelos homens religiosos, que primeiro tentam escandalizar os seus discípulos: “Por que vosso mestre come com os publicanos e pecadores?” (Mt 9,11), depois o acusam diretamente: “É um comilão e beberrão, amigo de publicanos e de pecadores” (Mt 11,19).

Mas a amizade de Jesus com as pessoas menos estimadas dentro da sociedade, a sua cordial simpatia pelas prostitutas e pecadores ignora o desprezo daqueles que se sentem melhores do que os pecadores manifestos, simplesmente porque não querem ou não sabem se reconhecer pecadores como eles...

Sim, o verdadeiro milagre – maior do que ressuscitar os mortos, dizia Isaac, o Sírio – consiste em se reconhecer pecador: somos nós os publicanos, somos nós as prostitutas! É realmente um esforço vão esconder dos outros o próprio pecado: bastaria reconhecê-lo conscientemente, para descobrir que Deus já está lá e nos pede apenas que aceitemos que ele o cubra com a sua inesgotável misericórdia.


TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


DOMINGO 26 DURANTE EL AÑO CICLO "A"


Primera lectura (Ez 18,24-28)


Es necesario ubicar este texto en su contexto mayor del capítulo 18. En el v. 2 se citan unas palabras de los israelitas exiliados quienes repiten un refrán para cuestionar a Dios porque los hijos pagan por el pecado de sus padres: "¿Por qué andan repitiendo este refrán en la tierra de Israel: "Los padres comieron uva verde, y los hijos sufren la dentera"?" Este cuestionamiento constituye la trama del capítulo pues vuelve a encontrarse en los vv. 19. 25 y 29. Ahora bien, este refrán se inspira en la misma Escritura por cuanto según el libro del Éxodo, Dios castiga el pecado de los padres en los hijos hasta la tercera y cuarta generación (cf. Ex 20, 5). Pero no parece justo que los descendientes paguen por la culpa de sus antepasados. En esta encrucijada tenemos un verdadero progreso en la concepción de la justicia de Dios, o mejor, en la doctrina de la retribución divina, por cuanto se revela claramente que cada uno recibirá de Dios conforme a sus obras (cf. Jer 31, 29-30; Ez 18, 2-3). 

En este capítulo 18 de Ezequiel se subraya fuertemente la responsabilidad individual o personal. Pero vale aclarar que nunca se olvida la dimensión comunitaria pues el individuo no se concibe separado de su pueblo. También hay que comprender lo que para Ezequiel quiere decir “vivir y morir”. No se trata tanto de la vida y muerte física, sino más bien de la comunión con Dios que da la vida; o de su abandono que no puede sino provocar la muerte. 

Ahora bien, en Ezequiel este principio de la retribución individual es la contracara de la responsabilidad individual. Desde esta perspectiva dirige el profeta una palabra de advertencia a los que se sienten seguros con lo que han vivido recordándoles que no son suficientes las glorias del pasado sin una respuesta fiel a Dios en el presente. A su vez, su palabra se vuelve una invitación a la conversión personal por cuanto los israelitas no deben considerarse condenados definitivamente por el pecado de sus padres. No hay tal determinismo moral, sino que es posible cambiar la propia historia y volverse hacia Dios. Al igual que en la situación anterior, importa más la respuesta actual a Dios que las obras del pasado. 

En síntesis, la persona con su libertad responsable y en el momento presente es, en último término, la que decide su futuro ante la justicia de Dios. Por tanto, la retribución Divina depende de la responsabilidad humana. Dios le permite al hombre elegir y, más aún, le permite rectificar si sus opciones han sido equivocadas. Mientras hay vida hay esperanza de conversión. Y también hay riesgo de condenación. Todo depende de lo que uno haga con su propia vida. Este es, justamente, el mensaje de la primera lectura de hoy.



Segunda lectura (Flp 2,1-11)


Este texto se encuentra en la subsección que abarca Flp 1,27-2,18 y que contiene una serie de exhortaciones referidas a la vida cotidiana de la comunidad de Filipos. Después de haber invitado a los fieles a luchar unidos por la causa del evangelio contra los adversarios externos (1,27-30); el Apóstol se dirige a la vida interna de la comunidad (2,1-4). Exhorta a los filipenses a “permanece bien unidos” (v. 2, literalmente "tener un mismo sentir"), expresión que Pablo usa con frecuencia en sus exhortaciones a la concordia. 

La unidad o concordia de la comunidad se ve amenazada por dos vicios peligrosos como son la rivalidad y la vanagloria (v. 3), por ello les inculca la humildad que no busca la exaltación personal, sino que estima a los demás como superiores y busca el bien común renunciando a los intereses particulares. Como corolario invita a que sientan en ellos mismos lo que ha sentido Jesús (v.5); quien a continuación viene presentado en el himno cristológico como modelo de renuncia a sí mismo (vv. 6-11). Su sentido es que el modo propio de sentir de Cristo Jesús (su comportamiento concreto y vivido) debe ser la norma y principio del sentir cristiano.



 Evangelio (Mt 21, 28-32)


En los domingos 26°, 27° y 28° durante el año se leen tres parábolas (“los dos hijos”, “los viñadores homicidas” y “los invitados a la boda real”) que se refieren a la no aceptación por parte del pueblo judío - especialmente de sus dirigentes - de la persona y la predicación de Jesús; lo que motiva su exclusión del Reino de Dios. En este contexto del ministerio de Jesús en la ciudad santa de Jerusalén (Mt 21,1-25,46) tienen lugar discusiones con las autoridades religiosas de Israel que muestran la profundidad del rechazo y la consecuente ruptura. Importa aclararlo porque, desde el punto de vista histórico-crítico, el mensaje es similar en las tres parábolas, más allá de los matices propios de cada una de ellas.

El texto de hoy está en clara continuación con el precedente (Mt 21,23-27) al punto que algunos comentarios lo analizan como formando una misma unidad literaria . En Mt 21,23 Jesús se encuentra enseñando en el templo y se le acercan los sumos sacerdotes y los ancianos para preguntarle con qué autoridad hace esto. Entonces Jesús les contesta preguntándoles su opinión acerca del origen del bautismo de Juan el Bautista. Los dirigentes judíos eluden la respuesta, ante lo cual Jesús les relata la parábola que leemos este domingo.

Notemos primero que Jesús comienza y termina con una pregunta que sus oyentes deben contestar y, de este modo, quedan involucrados por el relato. Sigue la parábola dónde los personajes son un padre (“un hombre” dice el texto), dueño de una viña, y sus dos hijos. La acción comienza con el mandato del padre al primero de sus hijos para que vaya hoy (ὕπαγε σήμερον) a trabajar en la viña. La imagen de la viña (la misma de Mt 20,1-8 que leímos el domingo pasado) nos remite a Israel como pueblo elegido para concretizar el Reino de Dios. La respuesta inmediata del primer hijo fue un no rotundo y seco: ¡no quiero! (Ouv qe,lw). Pero luego recapacita (μεταμέλομαι) y va a la viña. El verbo utilizado, metamélomai, tiene un matiz de arrepentimiento o pesar. Mateo lo vuelve a utilizar, fuera de esta parábola, para describir el "remordimiento" que llevó a Judas a devolver las treinta monedas de plata a los sumos sacerdotes y a los ancianos (cf. Mt 27,3). Por tanto, su sentido es de recapacitar por sentir remordimiento, culpa; pero no tiene la carga teológica de metanoéō (convertirse).

El padre de la parábola le dice lo mismo a su segundo hijo y recibe de este una inmediata respuesta positiva y con una formulación muy respetuosa y atenta, llamándolo “señor” (ku,rie). Pero se queda en las palabras y no pasa a los hechos: "pero no fue".

Ante esta breve historia, Jesús pregunta a sus oyentes sobre cuál de los dos hijos cumplió la voluntad del padre. No cabe más que una sola respuesta correcta: "el primero". 

Como bien decía Jülicher: “La parábola es una de las más claras y simples; el tertium comparationis es simplemente la valoración de la discrepancia entre el decir y el hacer” . 

Esto es cierto, pero debemos sumarle el sentido que viene del contexto en el cual Mateo ubica esta parábola, por lo cual debemos tener en cuenta lo que sigue: “Jesús les dijo: "Les aseguro que los publicanos y las prostitutas llegan antes que ustedes al Reino de Dios” (21,31). Entonces "Jesús se vuelve de nuevo directamente a los adversarios con un solemne dicho-amén y les aplica la parábola: los recaudadores y las prostitutas son dos grupos de ínfima categoría en el sistema de valores religiosos y éticos, descalificados en lo religioso y moral, a los que Jesús se dedicó especialmente. Ellos estarán por delante de los dirigentes de Israel en el camino hacia el Reino de Dios" .

El versículo final (21,32) remite a la discusión anterior sobre el bautismo de Juan. La expresión "Juan vino a ustedes por el camino de la justicia" indica la Voluntad de Dios comunicada por Juan y que debió ser creída y obrada por los sumos sacerdotes y ancianos; pero no sucedió así. Jesús les reprocha además que, mientras los publicanos y las prostitutas creyeron en Juan Bautista, ellos, viendo esto, después no recapacitaron (metamélomai) para creerle. Como bien nota A. Rodríguez , “los hombres del sí” son los dirigentes del pueblo judío que se quedan en meras declaraciones públicas, pero no hacen la voluntad de Dios y rechazaron a Juan y su mensaje de conversión. En cambio, “las personas del no”, publicanos y prostitutas, aceptaron la predicación de Juan y se convirtieron.

El mensaje de la parábola, por tanto, es un fuerte reproche a los dirigentes judíos por su persistente incredulidad. Desde la perspectiva del Reino de Dios el "rango" religioso dentro de Israel se invierte: los pecadores arrepentidos que creyeron irán primero. Notamos que no se trata aquí de contraponer los paganos a los israelitas pues los dos hijos simbolizan a integrantes del pueblo de Israel. La diferencia está en su aceptación o no de la misión de Juan el Bautista en cuanto enviado por Dios a preparar el camino para Jesús, lo cual implica arrepentirse y creer.



Algunas reflexiones:


La parábola del domingo pasado ponía su acento en la actitud del propietario de la viña a la hora de retribuir a sus trabajadores resaltando su bondad que superaba los méritos de los hombres, o sea, la estricta justicia humana. En la parábola de hoy el acento está puesto en la respuesta de los hijos ante el mandato del padre de ir a trabajar a la viña. Por tanto, nos invita a considerar, no ya la retribución divina, sino la responsabilidad humana. Más aún, digamos que hay que aprender a considerarlas juntas; a mantener estos dos aspectos esenciales de nuestra relación con Dios.


Ante todo, hay una pregunta fundamental en la vida que tenemos que hacernos hoy: ¿las personas podemos cambiar de vida, podemos convertirnos? No nos preguntamos si es fácil, sino si es posible. Y tal como venimos viendo en los últimos evangelios, esta pregunta hay que hacérsela primero de cara a Dios; y la respuesta tendrá consecuencias para la relación con los demás. En este sentido la primera lectura de hoy nos presenta la "reversibilidad" de nuestras opciones fundamentales, para bien o para mal. Hoy hablaríamos del riesgo de nuestra libertad. Por su parte, Jesús nos dice en el evangelio que para Dios la conversión, el cambio de mentalidad y de vida es posible; y desde el inicio de su predicación nos llama a la misma y nos da su gracia para que la hagamos realidad. En efecto, "la predicación de Jesús provoca en cada uno una decisión de la que depende su propia suerte en el juicio de Dios, un juicio que no debemos esperar sólo al final de los tiempos, sino que obra ya en la historia, momento a momento: quien acoge el Evangelio camina por la vía de la salvación; el que lo rechaza de manera obstinada se encamina hacia la perdición" .


De modo especial el evangelio de hoy resalta que no importa lo que hayamos hecho, no importa lo grave y prolongado del pecado, Dios nos ofrece su perdón y la posibilidad de convertirnos, de cambiar de vida. A nosotros nos toca creer en el evangelio, esto es, aceptar el perdón de Dios y la gracia de la conversión. Y esto mismo que es posible para nosotros, tenemos que considerarlo como posible también para los demás. No podemos etiquetarlos ni condenarlos para siempre, tenemos que invitarlos en nombre de Dios a la conversión y animarlos a dar el paso. Al respecto, nos sugiere magistralmente San Agustín : "La tierra entera está llena de juicios temerarios. En efecto, aquel de quien desesperábamos, en el momento menos pensado, súbitamente se convierte y llega a ser el mejor de todos. Aquel, en cambio, en quien tanto habíamos confiado, en el momento menos pensado, cae súbitamente y se convierte en el peor de todos. Ni nuestro temor es constante ni nuestro amor indefectible".


Ahora bien, Jesús nos advierte que hay un obstáculo mayor aún que el pecado para impedir nuestra conversión: el considerarnos justos, el pensar que no tenemos necesidad de conversión ni de cambio. Jesús se encontró con este tremendo obstáculo en los dirigentes religiosos de su época, por eso insiste tanto en que “no son los sanos lo que tienen necesidad del médico, sino lo enfermos” (Mt 9,12); y que “no he venido a llamar a los justos sino a los pecadores” (Mt 9,13). Jesús pudo ver cómo los pecadores se convertían ante la predicación de Juan el Bautista y ante su propia predicación de la llegada del Reino de Dios. En cambio, los dirigentes religiosos, los piadosos del pueblo, escucharon, pero no se convirtieron; dijeron “sí Señor”, pero no fueron a trabajar a la viña. Y así se quedaron fuera del Reino de Dios.

Al respecto decía el Papa Francisco en su homilía del 27 de setiembre de 2023: “En el Evangelio de hoy, quien queda mejor es el primer hermano, no porque ha dicho «no» a su padre, sino porque después el “no” se ha convertido en un “sí”, se ha arrepentido. Dios es paciente con cada uno de nosotros: no se cansa, no desiste después de nuestro «no»; nos deja libres también de alejarnos de Él y de equivocarnos. ¡Pensar en la paciencia de Dios es maravilloso! Cómo el Señor nos espera siempre; siempre junto a nosotros para ayudarnos; pero respeta nuestra libertad. Y espera ansiosamente nuestro «sí», para acogernos nuevamente entre sus brazos paternos y colmarnos de su misericordia sin límites. La fe en Dios pide renovar cada día la elección del bien respecto al mal, la elección de la verdad respecto a la mentira, la elección del amor del prójimo respecto al egoísmo. Quien se convierte a esta elección, después de haber experimentado el pecado, encontrará los primeros lugares en el Reino de los cielos, donde hay más alegría por un solo pecador que se convierte que por noventa y nueve justos (cfr. Lc 15, 7).

Pero la conversión, cambiar el corazón, es un proceso, un proceso que nos purifica de las incrustaciones morales. Y a veces es un proceso doloroso, porque no existe el camino de la santidad sin alguna renuncia y sin el combate espiritual. Combatir por el bien, combatir para no caer en la tentación, hacer por nuestra parte lo que podemos, para llegar a vivir en la paz y en la alegría de las Bienaventuranzas. El Evangelio de hoy cuestiona la forma de vivir la vida cristiana, que no está hecha de sueños y bonitas aspiraciones, sino de compromisos concretos, para abrirnos siempre a la voluntad de Dios y al amor hacia los hermanos. Pero esto, también el compromiso concreto más pequeño, no se puede hacer sin la gracia. La conversión es una gracia que debemos pedir siempre: “Señor dame la gracia de mejorar. Dame la gracia de ser un buen cristiano”.


En síntesis, una conciencia clara y valiente de nuestra fragilidad, que no es otra cosa que la humildad, sería la primera gracia a pedir ante la meditación de la Palabra de Dios de hoy. Junto a esto, pedir también el ser coherentes con nuestra fe, que nuestras obras concuerden con nuestras palabras, pues como decía San Ignacio de Antioquia: "Es mejor ser cristiano sin decirlo, que decirlo sin serlo".

La otra gracia a pedir diariamente es la perseverancia en el bien. Algunos autores espirituales hablan de vivir en un estado de "conversión permanente" o de "conversión sostenida", es decir, pedir la gracia de mantenernos siempre en el camino de la escucha y la obediencia a la Palabra de Dios; en el camino del seguimiento fiel del Señor. Que siempre podamos decir "sí, voy" y que en verdad vayamos. Y si por caso dijimos "no quiero", todavía hay tiempo de arrepentirse y "cumplir la voluntad del padre". No será perfecta, pero es obediencia al fin. 



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):



Y respondió…


Danos un ejemplo, Señor

Un modelo acabado del templo

Deseamos guardarte dentro

Y dejarnos transformar,

Dios Alfarero


Cuando el orgullo 

Se nos queda pegado 

Enfermos andamos revolviendo

Pensamientos y ocasiones

Inútiles pasatiempos


Quiere el alma descansar

Y no lo logra con su esfuerzo

Pide y clama por tu bondad

Para dejar de mirarse ella

Y alzar los brazos al cielo


Tocar el fondo y abrazar el sufrimiento

Ver de frente el pecado

Y sentir la muerte y su abrazo

¡Cuánto es de necesario

Caer arrodillados!


Muchos entrarán primero

Volverán a la vida por dejarse amar

Y dejarse sembrar por tu mano

Brotes nuevos para tu misión

Llenos de tu Espíritu Santo. Amén.