15º DOM TC-A

15º DOMINGO COMUM -ANO A

16/07/2023

LINKS AUXILIARES:

AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Isaías 55,10-11

Salmo Responsorial 64 (65)R-  A Semente caiu em terra boa e deu fruto. 

2ª Leitura: Romanos 8,18-23

Evangelho Mateus 13,1-23

Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do Mar da Galileia. Uma grande multidão reuniu-se em volta dele. Por isso Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia. E disse-lhes muitas coisas em parábolas; "O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram. Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. Mas, quando o sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz. Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. Quem tem ouvidos, ouça!".


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP


Mt 13,1-23

A parábola do semeador nos põe diante do mistério da Palavra de Deus. A Palavra é sempre eficaz em si mesma. O ser humano, todavia, pode se opor à Palavra com sua resistência torná-la estéril. Também a chuva pode ser estéril se cai sobre as pedras. 

É o mistério da relação entre graça e o livre-arbítrio, entre a onipotência de Deus e a liberdade humana. Como a luz é única, mas suscita várias cores de acordo com a constituição dos corpos sobre os quais se reflete, assim a Palavra de Deus é sempre eficaz, mas produz efeitos e frutos diversos de acordo com os corações sobre os quais ela chega.

Jesus nos apresentou uma série de casos: o coração endurecido e árido, o coração superficial, o coração distraído e dissipado, o coração bom e disponível.

Podemos nos perguntar: a que categoria de terreno pertence o meu coração? Somos nós daqueles que escutam, mas depois esquecem e se deixam absorver por outras ocupações? Daqueles que acolhem a Palavra só superficialmente? Ou meu coração é tão endurecido, que sequer dou atenção à Palavra? 

Apesar de todas os obstáculos postos à Palavra (endurecimento no pecado, superficialidade, distração), não devemos nos esquecer de que felizmente a Palavra encontra muitos corações disponíveis onde ela pode produzir frutos abundantes.

Terreno excelente foi o coração de Maria, que antes de acolher a Palavra no seu seio, o acolheu no seu coração. Ela guardava os fatos salvadores no coração e neles meditava. Bom terreno foi o coração dos Apóstolos que acolheram a Palavra e a anunciaram no mundo todo irrigando a sua semente com o próprio sangue. Bom terreno são os santos e santas de Deus. Bom terreno somos nós quando temos fome e sede da Palavra de Deus, quando nos preocupamos em ouvi-la atentamente e praticá-la cotidianamente. Bom terreno é quem aplica a Palavra à sua vida; permite que a Palavra ilumine as suas intenções, fortifique os seus propósitos, sustente os seus esforços. Nós seremos bons terrenos na medida em que deixarmos que o Evangelho transforme nosso modo de pensar, de julgar os valores.

São Tiago nos ofereceu uma imagem significativa. A Palavra de Deus é um espelho. Se a gente passar pelo espelho com pressa e sem atenção, ele nos será inútil. Para que o espelho mude algo em nós, é preciso nos confrontar com a Palavra assim como nos examinamos diante do espelho: é preciso olhar com a sua luz todas as dobras da nossa vida, nos deixar julgar por ela. Evidentemente o espelho-Palavra não fica só na aparência e na exterioridade. Pelo contrário, penetra fundo em nós, revela os segredos do coração, esquadrinha nossas intenções mais ocultas.

Deus é semente fecunda em nosso interior - Pe Adroaldo Palaoro


15°DomTComum - Mt 13,1-23 – Ano A – 16-07-2023


“O semeador saiu para semear” (Mt 13,3)

O ser humano é surpreendente, inesperado, imprevisível... é pulsação original, é interpelação inquietante; é existência peregrina, é identidade dinâmica...; é uma mina de significados e riquezas.

Com inesgotável potencialidade, ele re-cria a natureza e tem a possibilidade de inventar a sua própria vida. Onde há ser humano há espírito inteligente, impulso de liberdade e manifestação de tenacidade.

Tratar com o ser humano é tratar com o imponderável, o misterioso... Ele é seduzido pela liberdade que lhe apresenta horizontes novos e lhe abre mares desafiantes. Ele é “espaço à vida aberta”, “vida que se expande”. Com seu pensamento e seu sonho, ele habita as estrelas e rompe todos os espaços.

Essa capacidade é o que nós chamamos transcendência, isto é, “transcende, rompe, vai para além daquilo que é dado”. Numa palavra, o ser humano é um projeto infinito; tem sentido de transcendência, projeta-se em muitas direções.

O ser humano é mais do que parece ser. Há nele algo maior que o leva a ser mais verdadeiro, mais justo, mais criativo, mais arrojado, mais responsável... “Desejando e elegendo aquilo que mais nos conduz...” (S. Inácio).

Jesus expressa toda essa originalidade e riqueza do ser humano através da parábola do camponês que, com suas mãos abertas, espalha as “sementes” em diferentes terrenos.

A parábola começa afirmando: “Saiu o semeador a semear”. Ele faz isso com uma confiança surpreendente. Semeia de maneira abundante. A semente cai em todas as partes, inclusive ali onde parece difícil que ela possa germinar.

De fato, na semente encontra-se presente uma grande força de crescimento... A força da vida, contida no interior da semente, envelhecerá e se extinguirá se não houver quem confie nela, e arrisque a sua terra, seu tempo e seu trabalho.

Quando a semente é enterrada na terra, ela já conhece o seu caminho; ela avança passo a passo, seja durante as horas em que as circunstâncias lhe são mais favoráveis, porque é de dia e existe luz e calor em abundância, seja porque é de noite, e o ambiente para seu crescimento já não é tão propício.

Escondida ali, debaixo da terra, envolvida pelo absoluto silêncio, a semente germina e vai crescendo. O talo, a espiga e os frutos conduzem toda a vitalidade da minúscula semente até a maturidade da planta. E cada árvore vive intensamente o tempo que lhe cabe viver, o tempo suficiente para produzir frutos em abundância.

Ao terminar o relato da parábola do semeador, Jesus faz este apelo: “Quem tem ouvidos, ouça!”. Ele nos pede que prestemos muita atenção à parábola. Mas, em que deve estar focada nossa atenção: no semeador? na semente? nos diferentes terrenos?

Tradicionalmente, nós cristãos nos fixamos quase exclusivamente nos “terremos” onde cai a semente, para revisar qual é nossa atitude ao escutar o Evangelho. No entanto, é importante dirigir nossa atenção ao semeador e a seu modo de semear.

Para nós que crescemos em um contexto religioso desde a infância, a leitura literal desta parábola condicionou nossa visão da realidade em dois aspectos determinantes: o dualismo e o moralismo.

Em tal leitura aparecia a imagem do Deus semeador como um alguém separado e, portanto, distante.

Essa crença de separação, não só alimentava um dualismo religioso – Deus frente ao mundo – de nefastas consequências, mas que era a fonte de outras ideias igualmente perigosas em suas consequências: o pecado, a culpa, a alienação, o infantilismo religioso...

Com frequência, o dualismo religioso era acompanhado de moralismo. Se a semente não dava fruto numa pessoa devia-se simplesmente à sua própria maldade, já que não havia preparado adequadamente seu “terreno”. Assim se fazia presente a culpa em quem acreditava ser um terreno improdutivo ou caía-se no farisaísmo, passando a vida limitando-se somente a cumprir normas e leis.

A verdadeira “semente” é o que há de Deus em nós.

“O semeador saiu”. Para semear nos campos, na terra, é preciso sair de casa. Deus é, ao mesmo tempo, “semeador e semente”. Ele “desce”, faz um Êxodo, um deslocamento em direção à humanidade, onde encontra diferentes terrenos.

Em nossa terra interior já está semeada a presença de Deus; é como a semente enterrada que permanece fértil debaixo da terra desértica pela seca prolongada, e o olhar de Deus é como a chuva que ao cair desper-ta a vida presente na semente. Também gerará novidades em nós, convertendo-nos em vidas germinais.

Deus se derrama em todos e por todos da mesma maneira, não como produto elaborado, mas como semente, que cada deve acolher e deixar-se fecundar por ela, para poder frutificar. O decisivo é tomar consciência do divino que nos habita e viver em harmonia com essa realidade. O fruto seria uma nova maneira de nos relacionar com Deus, conosco mesmo, com os outros e com as criaturas.

A semente é o mesmo Deus-Vida germinando em cada um de nós; sua presença é sempre fecunda.

Deus habita em suas criaturas e se manifesta em todas elas como algo tão íntimo que se constitui como semente de tudo o que é. Não devemos dar a entender que nós os cristãos somos os privilegiados que temos recebido a semente (Escritura). Deus se derrama em todos e por todos da mesma maneira (a mão-aberta).

Somente aquele que se deixa semear experimenta o sabor da seiva da vida de Deus entrando por suas raízes, percorrendo seu ser inteiro, fazendo-o crescer e dando os frutos de que nosso povo precisa. Aquele que não se deixa semear vive de ilusões e fantasias que envenenam sua existência.

Entrar no fluxo da ação do Semeador divino é preciso sair de nossos espaços seguros, de nossas ideias e convicções atrofiadas, de nossos próprios esquemas fechados e abrir-nos aos diferentes terrenos.

Semear é uma tarefa nobre na vida: semear trigo, trabalho, cultura, educação, semear ética, valores, esperança, respeito, dignidade, sentido da vida...

Ao mesmo tempo que nobre, semear é uma tarefa de grande responsabilidade. Pais, mestres, escolas, universidades, meios de comunicação, igrejas, etc., todos temos a nobre e bela tarefa de semear.

Ao nos convidar a ter raízes profundas, o Evangelho de hoje está afirmando algo muito importante: nesta terra, nesta realidade social, cultural, eclesial e política, já está semeado o Reino, já está viva e ativa a presença do Deus fiel que cria futuro. Nós nos alimentamos desta Presença na medida em que nos deixamos semear nela.

Para meditar na oração

Durante nossa vida somos convidados a nos deixar cultivar, a sermos arados e regados pela presença de Deus que é capaz de transformar e extrair o melhor fruto de cada um de nós. Por isso a vocação cristã é tão simples: deixar-nos fecundar por esta presença, deixar-nos fazer por ela e permitir que ela frutifique em nós.

- Sinta-se como a própria Terra que, na sua evolução, chegou ao estágio de sentimento, de compreensão, de vontade, de responsabilidade, de veneração, carregando em seu ventre a presença d’Aquele que é, ao mesmo tempo, Semeador e semente.


A generosidade do semeador - Ana Maria Casarotti


O evangelho de Mateus utiliza várias parábolas para dar a conhecer a mensagem de Jesus. Parábola é uma tradução do hebraico masal e significa comparação, narrativa exemplar, fábula. Há algumas que trazem uma explicação do seu significado, mas em geral a interpretação é aberta, ficando na experiência cotidiana de cada grupo ou pessoa.

O evangelho de Mateus foi redigido nos anos 80, quando os que desejam seguir Jesus vivem situações difíceis pelas persecuções que sofrem. São rejeitados, desprezados e até mortos pelos judeus, que deveriam ser os primeiros a aceitar o Messias - Libertador esperado.

Nos discípulos surgem dúvidas sobre a vida escolhida e possivelmente perguntas que Mateus procura responder através das parábolas. Por que a fé não é aceita por todos, por que há diferenças entre os que a aceitam? Vale a pena seguir Jesus apesar de serem somente pequenas comunidades aparentemente sem nenhuma influência?

As parábolas são formas de falar que, a partir de situações reais do dia a dia, Jesus usa para comunicar a seus ouvintes a mensagem sobre o Reino e como viver a Vida Nova que ele traz. Cada parábola traz uma mensagem para as comunidades, para cada uma das pessoas. Mas esse ensinamento é uma mensagem aberta que, como a semente, contém no seu interior uma riqueza inesgotável.

A semente tem o protagonismo na narrativa de hoje. Em torno a ela acontecem as diferentes situações que Jesus descreve. São situações variadas tendo em conta os diferentes terrenos, os campos onde são espargidas e disseminadas as sementes.

“Algumas sementes caíram à beira do caminho”, “outras sementes caíram em terreno pedregoso”, “outras sementes caíram no meio dos espinhos”, “outras sementes caíram em terra boa”.

Todos os camponeses e todo semeador sabe a dificuldade de encontrar uma terra boa e cuidar dela para que a semente produza muito fruto. Tantas vezes lemos notícias sobre as grandes fazendas com terras desaproveitadas e que são ocupadas por todos aqueles que precisam de uma pequena parcela de terra para semear e ter assim um alimento para viver. 

Como disse João Pedro Stédile: “A concentração da propriedade da terra acontece porque o capital financeiro e multinacional tomou a iniciativa de disputar a terra, a água, as sementes, e isso gerou uma hegemonia do agronegócio”. (Disponível em: "Está em curso, no Brasil, uma concentração da propriedade da terra"). 

Na conclusão do 3° Fórum dos Povos Indígenas, Francisco declarou que a “humanidade peca gravemente, deixando de cuidar da terra”, e instou os líderes indígenas a resistirem às novas tecnologias e que “não permitais aquelas que destroem a terra, que destroem a ecologia, o equilíbrio ecológico e que acabam por destruir a sabedoria dos povos”. (Disponível em: Papa diz que povos indígenas devem ter a palavra final sobre suas terras)

Podemos considerar também que a variedade de categorias de ouvintes da Palavra e sua respectiva compreensão não é referida a diferentes classes sociais. Não são os discípulos aqueles que compreendem a Palavra, e a grande multidão, o grupo daqueles que não compreendem.

Hoje somos nós e nossas comunidades as terras onde o Senhor não se cansa de semear sua bondade, seu amor, sua ternura, sua Palavra. É um ensino que contribui para todos e todas aqueles que, como ele mesmo esclarece, são seus discípulos.

Com o exemplo das diferentes terras, somos convidados/as a questionar-nos: qual é a nossa disposição hoje para acolhê-las? Como está nossa terra, nossa preparação para receber e essencialmente colaborar no seu crescimento, para que produza abundante fruto?

Podemos também perguntar-nos qual é a semente que sai de nós e fica semeada ao nosso redor, na vida das pessoas que estão ao nosso lado, daqueles que partilham o dia a dia conosco. Nossas palavras refletem a Palavra de Deus, somos semente na nossa forma de agir, nas atitudes, no comportamento? Pode-se dizer que somos sementes por excelência?

Oração

Semente do Reino

Como se arriscará

o camponês a semear

sem ver já todo o trigal

no punho apertado

cheio de sementes?

Como olhar a terra

com olhos de esperança

sem ver já o bosque

nas sementes aladas

de carvalho levadas

pelo vento?

Como sonhará

o jovem casal

sem sentir

já no embrião

todos os risos

e as brincadeiras

dos filhos?

Como entregar-se

pelo pequeno,

sem ver com olhos novos

a utopia do Reino

no brotar germinal

que apenas rompe

a casca do medo?

Benjamin Gonzalez Buelta

Sair a semear - José Antonio Pagola


Antes de contar a parábola do semeador que «saiu a semear», o evangelista apresenta-nos Jesus que «sai de casa» para encontrar-se com as pessoas, para «sentar-se» sem pressa e dedicar-se durante «muito tempo» a semear o Evangelho entre todo o tipo de pessoas. Segundo Mateus, Jesus é o verdadeiro semeador. Dele temos de aprender também hoje a semear o Evangelho.


Primeiro é sair de nossa casa. É o que pede sempre Jesus aos seus discípulos: «Ide por todo o mundo…», «Ide e fazei discípulos…». Para semear o Evangelho temos de sair da nossa segurança e dos nossos interesses. Evangelizar é "deslocar-se", procurar o encontro com as pessoas, comunicarmos com o homem e a mulher de hoje, não viver encerrados no nosso pequeno mundo eclesial.


Esta "saída" para os outros não é proselitismo. Não tem nada de imposição ou reconquista. É oferecer às pessoas a oportunidade de encontrar-se com Jesus e conhecer uma Boa Nova que, se a acolhem, lhes pode ajudar a viver melhor e de forma mais acertada e sã. É o essencial.


A semear não se pode sair sem levar conosco a semente. Antes de pensar em anunciar o Evangelho a outros, temos de o acolher dentro da Igreja, nas nossas comunidades e nas nossas vidas. É um erro sentirmo-nos depositários da tradição cristã com a única tarefa de transmiti-la a outros. Uma Igreja que não vive o Evangelho, não pode contagiá-lo. Uma comunidade onde não se respira o desejo de viver seguindo os passos de Jesus, não pode convidar ninguém a segui-la.


As energias espirituais que há nas nossas comunidades ficam, muitas vezes, inexploradas, despertar a nossa fé.


A crise que estamos a viver leva à morte de um certo cristianismo, mas também ao início de uma fé renovada, mais fiel a Jesus e mais evangélica. O Evangelho tem força para gerar em cada época a fé em Cristo de forma nova. Também nos nossos dias.


bloqueadas por um clima generalizado de desalento e desencanto. Dedicamo-nos apenas a "sobreviver" mais que a semear vida nova. Temos de Mas temos de aprender a semeá-lo com fé, com realismo e com verdade. Evangelizar não é transmitir uma herança, mas tornar possível o nacimento de uma fé que brote, não como "clonagem" do passado, mas como resposta nova ao Evangelho escutado a partir das preguntas, dos sofrimentos, das alegrias e das esperanças do nosso tempo. Não é o momento de distrair-se as pessoas com qualquer coisa. É a hora de semear nos corações o essencial do Evangelho.

Mateus 13, 10-17 - Frei Carlos Mesters.


Leitura do Evangelho (Mateus 13, 10-17)

10Os discípulos aproximaram-se dele, então, para dizer-lhe: Por que lhes falas em parábolas? 11Respondeu Jesus: Porque a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não. 12Ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o que tem. 13Eis por que lhes falo em parábolas: para que, vendo, não vejam e, ouvindo, não ouçam nem compreendam. 14Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías: Ouvireis com vossos ouvidos e não entendereis, olhareis com vossos olhos e não vereis, 15porque o coração deste povo se endureceu: taparam os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda; para que não se convertam e eu os sare (Is 6,9s). 16Mas, quanto a vós, bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem! Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem! 17Eu vos declaro, em verdade: muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não ouviram.

 

Reflexão  

O Capítulo 13 traz o Sermão das Parábolas. Seguindo o texto de Marcos (Mc 4,1-34), Mateus omitiu a parábola da semente que germina sozinha (Mc 4,26-29), ampliou a discussão sobre o porque das parábolas (Mt 13,10-17) e acrescentou as parábolas do joio e do trigo (Mt 13,24-30), do fermento (Mt 13,33), do tesouro (Mt 13,44), da pérola (Mt 13,45-46) e da rede (Mt 13,47-50). Junto com as do semeador (Mt 13,4-11) e do grão de mostarda (Mt 13,31-32), são ao todo sete parábolas no Sermão das Parábolas (Mt 13,1-50).

Mateus 13,10: A pergunta

No evangelho de Marcos, os discípulos pedem uma explicação das parábolas (Mc 4,10). Aqui em Mateus, a perspectiva é outra. Eles querem saber por que Jesus, quando fala ao povo, só fala em parábolas: "Por que usas parábolas para falar com eles?" Qual o motivo desta diferença?

Mateus 13,11-13: A vocês é dado conhecer o mistério do Reino

Jesus responde: "Porque a vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não. Pois, a quem tem, será dado ainda mais, será dado em abundância; mas daquele que não tem, será tirado até o pouco que tem”. Por que será que aos apóstolos era dado conhecer, e aos outros não? Uma comparação para ajudar na compreensão. Duas pessoas escutam a mãe ensinar: "quem ama não corta casaco". Uma das duas é filha e outra não. A filha entendeu e a outra não entendeu nada. Por que? É que na casa da mãe a expressão "cortar casaco" significava caluniar. Assim, o ensinamento da mãe ajudou a filha a entender melhor como praticar o amor. Cresceu nela aquilo que ela já sabia. A quem tem, será dado ainda mais. A outra pessoa não entendeu nada e perdeu até o pouco que pensava entender a respeito de amor e de casaco. Ficou confusa e não conseguiu entender o que o amor tem a ver com casaco. Daquele que não tem, será tirado até o pouco que tem. Uma parábola revela e esconde ao mesmo tempo! Revela para “os de dentro”, que aceitam Jesus como Messias Servo. Esconde para os que insistem em dizer que o Messias será e deve ser um Rei Glorioso. Estes entendem as imagens da parábola, mas não chegam a entender o seu significado. Enquanto os discípulos crescem naquilo que já sabem a respeito do Messias. Os outros não entendem nada e perdem até o pouco que pensavam saber sobre o Reino e o Messias.

Mateus 13,14-15: A realização da profecia de Isaías

Como da outra vez (Mt 12,18-21), nesta reação diferente do povo e dos fariseus frente ao ensinamento das parábolas, Mateus vê novamente uma realização da profecia de Isaías. Ele até cita por extenso o texto de Isaías que fala por si: “É certo que vocês ouvirão, porém nada compreenderão. É certo que vocês enxergarão, porém nada verão. Porque o coração desse povo se tornou insensível. Eles são duros de ouvido e fecharam os olhos, para não ver com os olhos, e não ouvir com os ouvidos, não compreender com o coração e não se converter. Assim eles não podem ser curados”.

Mateus 13,16-17: Felizes os olhos que vêem o que vocês estão vendo

Tudo isso explica a frase final: “Vocês, porém, são felizes, porque seus olhos vêem e seus ouvidos ouvem.  Eu garanto a vocês: muitos profetas e justos desejaram ver o que vocês estão vendo, e não puderam ver; desejaram ouvir o que vocês estão ouvindo, e não puderam ouvir”.

As parábolas: um novo jeito de falar ao povo sobre Deus

O povo ficava impressionado com o jeito que Jesus tinha de ensinar. “Um novo ensinamento! Dado com autoridade! Diferente dos escribas!” (Mc 7,28). Jesus tinha uma capacidade muito grande de encontrar imagens bem simples para comparar as coisas de Deus com as coisas da vida que o povo conhecia e experimentava na sua luta diária pela sobrevivência. Isto supõe duas coisas: estar por dentro das coisas da vida do povo, e estar por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus. Em algumas parábolas acontecem coisas que não costumam acontecer na vida. Por exemplo, onde se viu um pastor de cem ovelhas abandonar noventa e nove para encontrar aquela única que se perdeu? (Lc 15,4) Onde se viu um pai acolher com festa o filho devasso, sem dar nenhuma palavra de censura? (Lc 15,20-24). Onde se viu um samaritano ser melhor que o levita e o sacerdote? (Lc 10,29-37). A parábola provoca para pensar. Ela leva a pessoa a se envolver na história a partir da sua própria experiência de vida. Faz com que nossa própria experiência nos leve a descobrir que Deus está presente no cotidiano da nossa vida. A parábola é uma forma participativa de ensinar, de educar. Não dá tudo trocado em miúdo. Não faz saber, mas faz descobrir. A parábola muda os olhos, faz a pessoa ser contemplativa, observadora da realidade. Aqui está a novidade do ensino das parábolas de Jesus, diferente dos doutores que ensinavam que Deus só se manifestava na observância da lei. Para Jesus, “o Reino não é fruto de observância. O Reino está presente no meio de vocês!” (Lc 17,21). Mas os ouvintes nem sempre o percebiam.


A semente que cai em diferentes solos - Ildo Bohn Gass

Mateus 13,1-23 

  Que a tua graça, ó Deus de amor, empodere-nos na luta contra o maligno, diante das perseguições deste mundo injusto e diante do desejo de todas as formas de riqueza. E que a tua ternura fortaleça-nos no seguimento de teu Reino, ao ponto de produzirmos frutos de justiça. Amém!


As parábolas revelam a força do Reino (Mt 13,1-3)

Parábola vem do grego parabolê, verbete formado por duas palavras. Uma delas é pará, cujo significado é “ao lado de”, “ao longo de”, “para além de”, como, por exemplo, em parapsicologia. A outra é bolê, que vem do verbo grego que significa “jogar”, “lançar”, como, por exemplo, em símbolo (jogar junto, unir) e diabo (do grego, diábolos, “jogar através”, “dividir”). Portanto, PARÁBOLA QUER DIZER JOGAR PARA ALÉM DE, LANÇAR AO LONGO DE. A parábola sinaliza algo além, provoca uma busca de algo mais profundo. É como o retrovisor de um carro. Olhamos para ele não para deter nosso olhar em seu formato, mas para alcançar o lugar além dele, para onde seu espelho orientar a nossa visão.

Os capítulos 11 e 12 de Mateus descrevem a prática libertadora de Jesus de Nazaré, a partir da qual “os cegos veem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5). Essa prática provocou a oposição de autoridades que tentaram desacreditar Jesus e buscar uma forma de “levá-lo à morte” (Mt 12,1-2.14.24). Não tinham nenhuma prova de algum crime de Jesus, mas tinham a convicção de que ele estava do lado dos mais pobres.

No capítulo 13, Jesus ilustra essa prática contando parábolas, cuja mensagem principal é revelar o mistério e a força do Reino agindo como semente que fecunda a vida em meio a projetos em conflito. Parábolas são narrativas alegóricas, figuradas, e querem transmitir uma mensagem, como que “lançando a pergunta” para que a pessoa ouvinte conclua. Conduzem-nos para além da imagem, para realidades mais profundas. São um convite ao discernimento: “Quem tem ouvidos, ouça!” (Mt 13,9; cf. 11,15; 13,43). Busquemos, pois, o sentido dessas figuras na parábola da semente que cai em diferentes solos.

Quem compreende e quem não entende as parábolas (Mt 13,10-17)

 Mateus 13,10-17 é uma inserção entre a parábola do semeador (vv. 4-9) e a sua explicação (vv. 18-23). Com essa narrativa, a comunidade mateana quer revelar-nos a razão pela qual há pessoas que, por não terem fé, não compreendem as parábolas. Por não acreditarem, não ouvem, nem veem (v. 13). Por isso, não aderem à boa nova libertadora de Jesus. Vale também o inverso: por terem outro projeto de vida, as pessoas acabam ou tapando os seus ouvidos ao entendimento, ou fechando seus olhos para não perceberem o óbvio e se manterem em seu projeto de sociedade excludente. Em consequência, por terem um coração insensível (v. 15), acabam perdendo o que têm, tornando-se pessoas alienadas que facilmente se vendem a qualquer projeto que lhes dê privilégios, pois rejeitaram Jesus. São como o terreno à beira do caminho, deixando-se levar pelo maligno e aderindo ao projeto dele, cujo fundamento é a injustiça.

Por outro lado, a comunidade de Mateus mostra-nos por que são felizes as pessoas que aderem ao projeto do Reino. Compreendem, porque acreditam, confiam e têm espírito aberto. E por aderirem a Jesus, uma vez que têm coração sensível, seus ouvidos ouvem e seus olhos enxergam ainda melhor (v. 16). Com consciência esclarecida, buscam sempre mais aproximar-se da terra boa, que produz frutos, muitos frutos de justiça.

O Reino é dom e tarefa (Mt 13,4-9)

 Ao contar a parábola do semeador e dos diferentes solos, Jesus revela sua consciência em relação à realidade dos camponeses de seu tempo. Ele mesmo era um deles. Nem todos os camponeses tinham acesso às terras boas, controladas pelos que tinham mais poder. Muitas famílias tinham que se contentar com terras pedregosas. Havia ainda aquelas famílias que não tinham terra, de modo que lhes restava semear à beira dos caminhos.

Com esta parábola, Jesus quer ensinar-nos que o Reino é dom de Deus e não depende só de nossos esforços. A semente, a sua Palavra de vida, é lançada pelo próprio Deus. A ação do Espírito é como a energia do vento que sopra em todas as partes (Jo 3,8). É como a semente que germina por si só (Mc 4,26-29). E ainda, a força do Reino é comparável com a energia da semente de mostarda que, sendo “a menor de todas as sementes, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças” (Mt 13,32). Portanto, fazer parte da comunidade de Jesus é acreditar nessa graça de Deus que age em e através de nós.

De outra parte, acreditar nessa graça de Deus atuante em nós é uma postura de fé, que depende do nosso compromisso com o projeto de Jesus, enquanto buscamos ser seus discípulos, acolhendo a Palavra e gerando frutos em terra boa. Os frutos do Reino não dependem somente do dom de Deus, mas derivam também de uma espiritualidade engajada. A força do Espírito é como a chuva que desce das nuvens. Se ela cai no asfalto, ali dificilmente fará germinar vida. No entanto, se ela cair sobre a terra, tornando-a fecunda, fará brotar a vida de múltiplas formas. Para ouvir a voz do vento (Jo 3,8), para ouvir a voz do pastor e abrir a porta (Jo 10,3-4; Ap 3,20) é preciso buscar, fazer silêncio para entrar em sintonia com Deus.

As diferentes reações de quem escuta a Palavra (Mt 13,18-23)

 Em dois momentos, as comunidades aplicam a parábola contada por Jesus à rejeição de sua Palavra, bem como ao seu seguimento.

Na primeira parte, as comunidades apresentam-nos três posturas de vida que tornam a Palavra infrutífera: (1) quem não entende a Palavra, (2) quem sucumbe frente à perseguição e (3) quem está apegado às riquezas.

 

1. Seremos como a terra da beira do caminho quando ouvimos a Palavra do Reino, mas não a compreendemos, fechando-nos ao discernimento. Logo, vem o maligno e arranca a Palavra semeada (Mt 13,19). O maligno é toda força inimiga da vida, adversária de Deus e que nos seduz, afastando-nos do caminho de vida para colocar-nos sob a escravidão da riqueza (Mt 6,24). Como exemplos de coisas que impedem a compreensão do projeto de Deus e tentam afastar-nos do seu caminho, citemos o espírito de consumismo e prestígio, de poder e cobiça. Essa ideologia diabólica tenta fazer de nós pessoas alienadas, dirigidas por forças externas, impedindo a ação do Espírito divino que nos torna livres, uma vez que “o Senhor é Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17).

 

2. Seremos como o terreno cheio de pedras (Mt 13,20-21), se ouvimos a Palavra com alegria, mas logo desistimos por medo da tribulação e da perseguição por parte das autoridades e de todos que não aceitam o projeto da justiça do Reino para todas as pessoas. Nesse caso, nosso testemunho não passa de “fogo de palha”. O contexto das comunidades, quando este evangelho é escrito, é de perseguição que levava muitos cristãos a voltar atrás em seu seguimento da boa nova do Nazareno.

 

3. Seremos como o terreno entre espinhos (Mt 13,22), quando ouvimos a Palavra, mas deixamos dominar-nos pelas preocupações do mundo, pela ilusão da riqueza e outros desejos egoístas, como o luxo e a vida fácil. Dessa forma, a Palavra da boa semente não tem como produzir frutos, pois apegamo-nos a falsas seguranças.

 

Na segunda parte, as comunidades apresentam-nos a opção pelo seguimento da Palavra, gerando frutos de vida.

Por fim, seremos terra boa (Mt 13,23) quando ouvimos a Palavra e a acolhemos, isto é, comprometemo-nos com o projeto de Jesus. A semente germina, cresce e frutifica somente quando receber a chuva do alto e se for acolhida em terra boa, cá embaixo. A chuva do alto e a Palavra são graça, dom. Mas acolher a semente em terra boa para que dê frutos, isso está em nossas mãos.


15º Domingo do Tempo Comum - Dehonianos

Tradução: P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho


A liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum convida-nos a tomar consciência da importância da Palavra de Deus e da centralidade que ela deve assumir na vida dos crentes. 

A primeira leitura Is 55,10-11, garante-nos que a Palavra de Deus é verdadeiramente fecunda e criadora de vida. Ela dá-nos esperança, indica-nos os caminhos que devemos percorrer e dá-nos o ânimo para intervirmos no mundo. É sempre eficaz e produz sempre efeito, embora não atue sempre de acordo com os nossos interesses e critérios.

O Deutero-Isaías, autor deste texto, é um profeta que exerce a sua missão entre os exilados da Babilónia, procurando consolar e manter acesa a esperança no meio de um povo amargurado, desiludido e decepcionado. Os capítulos que recolhem a sua mensagem (Is 40-55) chamam-se, por isso, "Livro da Consolação"

Na primeira parte desse livro (cf. Is 40-48), o profeta anuncia aos exilados a libertação do cativeiro e um "novo êxodo" do Povo de Deus rumo à Terra Prometida; na segunda parte (cf. Is 49-55), o profeta fala da reconstrução e da restauração de Jerusalém. Estes três versículos que a primeira leitura de hoje nos propõem aparecem no final do "Livro da Consolação". Depois de convidar o Povo (que ainda está na Babilónia) a buscar e invocar o Senhor (cf. Is 55,6-9), o profeta relembra a eficácia da Palavra de Deus que acabou de ser proclamada aos exilados (cf. Is 55,10-11).

Estamos na fase final do Exílio (à volta de 550/540 a.C.). A comunidade exilada está farta de belas palavras e de promessas de libertação que tardam a concretizar-se... A impaciência, a dúvida, o cepticismo vão minando lentamente a resistência e a fé dos exilados... Será que as promessas de Deus se concretizarão? Deus não está a ser demasiado lento, em relação a algo que exige uma intervenção imediata? Deus ter-se-á esquecido da situação do seu Povo?

Não - diz o profeta - Deus não se esqueceu do seu Povo. A sua Palavra não deixará de se concretizar, pois Deus é eternamente fiel às suas promessas. A Palavra de Deus é eficaz, transformadora, geradora de vida. Ela nunca falha.

Para expressar a ideia da eficácia da Palavra de Deus, o profeta utiliza o exemplo da chuva e da neve: assim como a chuva e a neve que descem do céu fecundam a terra e multiplicam a vida nos campos, assim a Palavra de Jahwéh não deixará de se concretizar e de criar vida plena para o Povo de Deus.

A imagem é extremamente sugestiva. Devia lembrar aos judeus exilados na Babilónia as chuvas que caem no norte de Israel e as neves do monte Hermon. Essa água caída do céu alimenta o rio Jordão; e este, por sua vez, corre por toda a terra de Israel, deixando um rasto de vida e de fecundidade.

A Palavra de Deus é como essa água bendita caída do céu que, inevitavelmente, gera essa vida que alimenta o Povo de Deus.

A segunda leitura Rom 8,18-23, apresenta uma temática (a solidariedade entre o homem e o resto da criação) que, à primeira vista, não está relacionada com o tema deste domingo - a Palavra de Deus. Podemos, no entanto, dizer que a Palavra de Deus é que fornece os critérios para que o homem possa viver "segundo o Espírito" e para que ele possa construir o "novo céu e a nova terra" com que sonhamos.

Paulo continua a oferecer-nos a sua catequese sobre o caminho que é preciso seguir para se poder acolher a salvação que Deus oferece. A salvação é um dom de Deus, dom gratuito, que é fruto da bondade e do amor de Deus (cf. Rom 3,1-5,11). Essa salvação chega-nos através de Jesus Cristo (cf. Rom 5,12-8,39); e atua em nós pelo Espírito que Jesus derrama sobre aqueles que aderem ao seu projeto e entram na sua comunidade (cf. Rom 8,1-39).

Nos versículos anteriores ao texto que hoje nos é proposto (cf. Rom 8,1-17), Paulo mostrou aos crentes o exemplo de Cristo e convidou os cristãos a seguirem o mesmo percurso. De forma especial, disse-lhes que seguir o exemplo de Cristo implica deixar a vida "segundo a carne" (isto é, a vida do egoísmo, do orgulho, da autossuficiência) e aderir à vida "segundo o Espírito" (isto é, a vida de escuta de Deus, de obediência aos projetos de Deus, de doação aos homens).

Na perspectiva de Paulo, o homem não é o único interessado na opção por uma vida "segundo o Espírito": toda a criação está dependente das escolhas que o homem faz. O que é que isto significa?

Como resultado do pecado do homem, a criação inteira ficou submetida ao império do egoísmo e da desordem (cf. Gn 3,17) e está condenada à finitude e à caducidade. Se o homem aderir a Cristo e passar a viver "segundo o Espírito", superará o destino de maldição e de morte em que o pecado o tinha lançado; então, também o resto da criação será libertado e nascerá o novo céu e a nova terra. É o tema da solidariedade entre o homem, os outros animais e a natureza, tão enraizado na Bíblia (cf. Gn 9,12-13; Col 1,20; 2 Pe 3,13; Ap 21,1-15).

Portanto, toda a criação aguarda ansiosamente que o homem escolha a vida "segundo o Espírito". Até lá, vai nascendo - no meio da dificuldade e da dor - esse Homem Novo, bem como esse Novo Céu e Nova Terra com que todos sonhamos. Porquê na dificuldade e na dor? Porque a vida "segundo o Espírito" supõe a renúncia ao egoísmo, aos interesses mesquinhos, ao comodismo, ao orgulho e a opção por um caminho de entrega e de dom da própria vida a Deus e aos outros. Paulo utiliza até o exemplo das dores do parto, para iluminar a mensagem que pretende transmitir... O nascimento de uma criança dá-se sempre através da dor; no entanto, essa dor é o caminho obrigatório para o nascimento de uma nova vida.

De resto, vale a pena viver "segundo o Espírito". Os "padecimentos", as renúncias, as dificuldades, não são nada, em comparação com a felicidade sem fim que espera os crentes no final do caminho.


O Evangelho propõe-nos, em primeiro lugar, uma reflexão sobre a forma como acolhemos a Palavra e exorta-nos a ser uma "boa terra", disponível para escutar as propostas de Jesus, para as acolher e para deixar que elas dêem abundantes frutos na nossa vida de cada dia. Garante-nos também que o "Reino" proposto por Jesus será uma realidade imparável, onde se manifestará em todo o seu esplendor e fecundidade a vida de Deus.

Hoje e nos próximos dois domingos, o Evangelho apresenta-nos parábolas de Jesus. A "parábola" é uma imagem ou comparação, através da qual se ilustra uma determinada mensagem ou ensinamento.

A linguagem parabólica não foi inventada por Jesus. É uma linguagem habitual na literatura dos povos do Médio Oriente: o génio oriental gosta mais de falar e de instruir através de imagens, de comparações e de alegorias, do que através dos discursos lógicos, frios e racionais, típicos da civilização ocidental.

A linguagem parabólica tem várias vantagens em relação a um discurso mais lógico e impositivo. Em primeiro lugar, porque a imagem ou comparação que caracteriza a linguagem parabólica é muito mais rica em força de comunicação e em poder de evocação, do que a simples exposição teórica: é mais profunda, mais carregada de sentido, mais evocadora e, por isso, mexe mais com os ouvintes. Em segundo lugar, porque é uma excelente arma de controvérsia: a linguagem figurada permite levar o interlocutor a admitir certos pontos que, de outro modo, nunca mereceriam a sua concordância. Em terceiro lugar, porque é um verdadeiro método pedagógico, que ensina as pessoas a reflectir, a medir os prós e os contras, a encontrar soluções para os dilemas que a vida põe: espicaça a curiosidade, incita à busca, convida a descobrir a verdade.

No capítulo 13 do seu Evangelho, Mateus apresenta-nos sete parábolas, através das quais Jesus revela aos discípulos a realidade do "Reino": são as "parábolas do Reino".

Dessas sete parábolas, três procedem da tradição sinóptica (o semeador, o grão de mostarda, o fermento); as outras quatro (o trigo e o joio, o tesouro escondido, a pérola preciosa, a rede) não se encontram nem em Marcos, nem em Lucas. Provavelmente, são originárias da antiga fonte dos "ditos" de Jesus, que Mateus usou abundantemente na composição do seu Evangelho.

A preocupação do evangelista Mateus é sempre a vida da sua comunidade. Nestas sete parábolas e na interpretação que as acompanha, percebe-se a preocupação de um pastor que procura exortar, animar, ensinar e fortalecer a fé desses crentes a quem o Evangelho se destina.

A parábola que hoje nos é proposta - a do semeador e da semente - é uma das mais conhecidas e emblemáticas das parábolas de Jesus. No entanto, o texto do Evangelho de hoje vai um pouco mais além da parábola em si... Apresenta três partes: a parábola (vers. 1-9), um conjunto de "ditos" sobre a função das parábolas (vers. 10-17) e a explicação da parábola (vers. 18-23).

Na primeira parte temos, pois, a parábola propriamente dita (vers. 1-9). O quadro apresentado supõe as técnicas agrícolas usadas na Palestina de então: primeiro, o agricultor lançava a semente à terra; depois, é que passava a arar o terreno. Assim compreende-se porque é que uma parte da semente pôde cair "à beira do caminho", outra em "sítios pedregosos onde não havia muita terra" e outra "entre os espinhos"

Evidentemente, as diferenças do terreno significam, nesta "comparação", as diferentes formas como é acolhida a semente. No entanto, nem sequer é isso que é mais significativo: o que aqui é verdadeiramente significativo é a quantidade espantosa de frutos que a semente lançada na "boa terra" produz... Tendo em conta que, na época, uma colheita de sete por um era considerada farta, os cem, sessenta e trinta por um deviam parecer aos ouvintes de Jesus algo de surpreendente, de exagerado, de milagroso...

Mateus coloca esta parábola num contexto em que a proposta de Jesus parece condenada ao malogro. As cidades do lago (Corozaim, Betsaida, Cafarnaum) tinham rejeitado a sua pregação (cf. Mt 11,20-24); os fariseus atacavam-no por Ele não respeitar o sábado e queriam matá-l'O (cf. Mt 12,1-14); acusavam-n'O, além disso, de agir, não pelo poder de Deus, mas pelo poder de Belzebu, príncipe dos demónios (cf. Mt 12,22-29); não acreditavam nas suas palavras e exigiam d'Ele "sinais" (cf. Mt 12,38-45). O "Reino" anunciado sofria grande contestação e parecia, pois, encaminhar-se para um rotundo fracasso...

É muito possível que esta parábola tenha sido apresentada por Jesus neste contexto de "crise". Àqueles que manifestavam desânimo e desconfiança em relação ao êxito do projecto do "Reino", Jesus fala de um resultado final grandioso. Com esta parábola, Jesus diz aos discípulos desiludidos: "coragem! Não desanimeis, pois apesar do aparente fracasso, o 'Reino' é uma realidade imparável; e o resultado final será algo de surpreendente, de maravilhoso, de inimaginável".

Na segunda parte temos uma reflexão sobre a função das parábolas (vers. 10-17). O ponto de partida é uma questão posta pelos discípulos: porque é que Jesus fala em parábolas?

Mateus vê nas parábolas a ocasião para que apareçam, com nitidez, o acolhimento e a recusa da mensagem proposta por Jesus. Que quer isto dizer?

As parábolas apresentam a proposta do "Reino" numa linguagem sugestiva, rica, clara, concreta, questionante, interpeladora... Tornam tudo claro e evidente para os ouvintes; por isso, após escutar a mensagem apresentada nas parábolas, só não aceita a mensagem quem tiver o coração endurecido e não estiver mesmo interessado na proposta. As parábolas são, portanto, o fator decisivo: propõem clara e inequivocamente a realidade do "Reino". Quem acolher essa mensagem, receberá mais e "terá em abundância" (quer dizer, irá entrando, cada vez mais, na dinâmica do "Reino"); mas quem não a acolher (apesar da clareza e da acessibilidade da mensagem), está a rejeitar o "Reino" e a possibilidade de integrar a comunidade da salvação. Nos que rejeitam a proposta de Jesus, cumpre-se a profecia de Isaías: o profeta fala de um povo de coração endurecido, que quanto mais ouve a pregação profética, mais se irrita, agravando cada vez mais a sua culpa (cf. Is 6,9-10).

Os discípulos são aqueles que escutam a proposta do "Reino" e estão dispostos a acolhê-la. Eles compreendem, portanto, as parábolas e aceitam a realidade que elas propõem. Eles são "felizes", porque abriram o coração às propostas de Jesus, escutaram as suas palavras, viram e entenderam os seus gestos e sinais; são "felizes" porque (ao contrário daqueles que endureceram o coração e fecharam os ouvidos à proposta de Jesus) já integram o "Reino".

Na terceira parte, temos a explicação da parábola (vers. 18-23). Alguns indícios presentes no texto levam a pensar que esta explicação não fazia parte da parábola original, mas é uma adaptação posterior, que aplica a parábola à vida dos cristãos.

A explicação desloca, de forma evidente, o "centro de interesse". Nessa explicação, a parábola deixa de ser uma apresentação da forma grandiosa como o "Reino" se vai manifestar, para passar a ser uma reflexão sobre as diversas atitudes com que a comunidade acolhe a Palavra de Jesus (na verdade, é essa a grande preocupação das comunidades cristãs).

Na perspectiva dos catequistas que prepararam esta aplicação da parábola, o acolhimento do Evangelho não depende, nem da semente, nem de quem semeia; mas depende da qualidade da terra.

Diante da Palavra de Jesus, há várias atitudes... Há aqueles que têm um coração duro como o chão de terra batida dos caminhos: a Palavra de Jesus não poderá penetrar nessa terra e dar fruto. Há aqueles que têm um coração inconstante, capaz de se entusiasmar instantaneamente, mas também de desanimar perante as primeiras dificuldades: a Palavra de Jesus não pode aí criar raízes. Há aqueles que têm um coração materialista, que dá sempre prioridade à riqueza e aos bens deste mundo: a Palavra de Jesus é aí facilmente sufocada por esses outros interesses dominantes. Há também aqueles que têm um coração disponível e bom, aberto aos desafios de Deus: a Palavra de Jesus é aí acolhida e dá muito fruto. Os verdadeiros discípulos (a "boa terra") identificam-se com aqueles que escutam as parábolas, as entendem e acolhem a proposta do "Reino".

Temos aqui, portanto, uma exortação aos cristãos no sentido de acolherem a Palavra de Jesus, sem deixarem que as dificuldades, os acidentes da vida, os outros valores a afoguem e a tornem uma semente estéril, sem vida.


TEXTO EM ESPANHOL - DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


DOMINGO 15 DURANTE EL AÑO CICLO "A"

Damian Nannini

Primera lectura (Is 55,10-11)


La unidad literaria de Is 55,6-11 comienza con una invitación del profeta a buscar a Dios, a volverse a Él, pues está dispuesto a perdonar a quien se convierte (shub) (55,6-7). 

Luego siguen dos afirmaciones teológicas fuertes que, al parecer, buscan responder a las objeciones o resistencias internas de los exiliados israelitas: "Porque no son mis pensamientos vuestros pensamientos, ni vuestros caminos son mis caminos - oráculo de Yahveh -. Porque cuanto aventajan los cielos a la tierra, así aventajan mis caminos a los vuestros y mis pensamientos a los vuestros" (Is 55,8-9). 

Debemos tener en cuenta que después de tantos años de exilio la fe los israelitas se había enfriado y ahora se resistían a aceptar la novedad del perdón Divino e incluso piden señales para creer (cf. Is 40,27; 45,11; 49,14-16). A esto le sumamos que el profeta ha presentado a Ciro, rey de persa, como el ungido y el instrumento en manos de Dios para liberar a su pueblo (cf. 41,2; 44,28; 45,1-4; 48,12-15). Es muy posible que este anuncio de ser liberados por un gentil, un pagano como Ciro, haya generado también resistencia entre los exiliados. En el fondo esta resistencia supone querer poner límites al obrar de Dios rechazando todo aquello que no entra en los propios esquemas mentales. 

El oráculo siguiente (55,10-11), nuestra primera lectura de hoy, respondería también al cuestionamiento sobre el poder de Dios para obrar y salvar. Y lo hace comparando la eficacia de la Palabra de Dios con la lluvia que siempre es fructífera. El oráculo insiste en los efectos de la lluvia sobre la tierra (la empapa, la fecunda, la hace germinar) y de la Palabra de Dios en la historia de los hombres (realiza la voluntad de Dios, cumple su misión). 

Esta palabra eficaz de Dios se refiere fundamentalmente al anuncio de liberación de los desterrados con la promesa de volver a su tierra, tal como lo confirman los versículos que siguen (Is 55,12-13).

Estos textos son como una síntesis de la profecía del segundo Isaías quien tuvo la misión de convencer a un pueblo decepcionado que Dios puede obrar más allá de sus posibilidades y de sus méritos. En breve, que la Palabra de Dios, muchas veces por caminos desconcertantes, realiza el plan del Señor porque es siempre es eficaz.


Evangelio (Mt 13,1-23)


Durante tres domingos (15, 16 y 17 durante el año) leeremos el capítulo 13 de San Mateo que agrupa un conjunto de 7 parábolas. Se trata del tercer discurso de Jesús sobre el Reino de Dios que nos presenta Mateo. El mismo está muy bien construido: 


- Introducción (13,1-2): presentación del auditorio.

- Parábola del sembrador (13,3-9). 

* Dos interludios: razón de las parábolas (13,10-17) y explicación parábola del sembrador (13,18-23). 

* Tres parábolas de crecimiento: la cizaña; el grano de mostaza y la levadura (13,24-33). 

* Dos interludios: razón de las parábolas (13,34-35); explicación de la parábola de la cizaña (13,36-43). 

* Tres parábolas: el tesoro; la perla y la red (13,44-50). 

- Conclusión (13,51-52).


Notemos que en este capítulo nos encontramos con dos destinatarios de la predicación de Jesús: la gente y los discípulos. A la gente Jesús le habla sólo en parábolas (13,1-33), mientras que a los discípulos, por separado, les instruye con más profundidad (13,36-52). Además, consideradas globalmente, las 7 parábolas del Reino buscan dar respuesta a la comunidad a la que escribe Mateo acerca de los interrogantes que despierta la misteriosa marcha del Reino de Dios y, en cierto modo, se explican las distintas reacciones que Jesús y los discípulos encuentran en su predicación. En este sentido responden a los interrogantes que la predicación del Reino despertaba en los primeros cristianos :


¿Por qué muchos no aceptan el Reino de Dios? Parábola del sembrador (Dgo.15)

¿Qué hacer con quienes no aceptan el Reino de Dios? Parábola de la cizaña (Dgo. 16)

¿Por qué este inicio intrascendente del Reino? Parábolas del grano de mostaza y de la levadura (Dgo. 16).

¿Vale la pena arriesgarlo todo por el Reino? Parábolas del tesoro escondido y la perla preciosa (Dgo. 17).

En la comunidad hay quienes no viven el ideal del Reino, ¿cómo explicar esta realidad? Parábola de la red y los peces (Dgo. 17).


Este domingo nos toca la parábola del Sembrador (en la versión breve del leccionario), más la razón del hablar en parábolas y la interpretación alegórica de la misma (versión larga). Según L. Sánchez Navarro  esta parábola no sería propiamente una parábola del reino porque le falta el rasgo formal distintivo que es la formula introductoria (“el Reino de los cielos se parece a…”); pero está relacionada con el Reino porque la semilla identifica en 13,19 como “la palabra del reino”. Este autor la considera «parábola sobre las parábolas» porque es la obertura necesaria para acercarnos a las demás parábolas y porque trata de la proclamación del reino y de su recepción por parte de los hombres.

La introducción de este capítulo (vv. 1-3) tiene cierta solemnidad que nos recuerdan el inicio del Sermón de la Montaña (cf. 5,1-2). Al igual que entonces Jesús está sentado (actitud propia del maestro para la Biblia) y se dispone a enseñar a una gran multitud que lo rodea. La gran diferencia es que ahora no hablará abiertamente, en lenguaje directo y llano, sino en parábolas. El término parábola (parabolh,) en la LXX traduce normalmente el hebreo massal que abarca varias formas literarias: proverbios, adivinanzas, sátiras, oráculos, metáforas y alegorías. Esta variedad de sentidos nos previene de querer encerrar la parábola bíblica en un marco o definición estrecha. De modo genérico podemos decir que la parábola es una narración que habla de una realidad superior, en este caso del Reino de Dios, tomando imágenes de la realidad cotidiana con la cual se compara. Este modo de expresión forma parte del lenguaje figurado – no directo – sobre el Reino de Dios y, por eso, supone un esfuerzo por parte del oyente, quien debe "involucrarse" con Jesús y su mensaje para poder comprenderlo. 

La parábola en sí (13,3-9) describe cuatro situaciones sobre la suerte de la semilla: la que cae a lo largo del camino; la que cae en terreno pedregoso; la que cae en medio de abrojos y la que cae en tierra buena. En el primer caso no hay siquiera crecimiento. En el segundo y tercero hay germinación, pero termina malograda. Sólo en el cuarto caso hay fruto centuplicado. No perdamos de vista que la tierra en Palestina es muy irregular y la siembra se realizaba “al voleo”, por eso las semillas puede caer en distintos tipos de suelo. Lo cierto es que en la parábola el sembrador desaparece de escena pronto y todo el desarrollo se centra en la relación entre las semillas y los distintos tipos de suelo . Según L. H. Rivas, la parábola original, sin el comentario posterior, tendría la intención de mostrar que “un sembrador obtiene siempre una cosecha, a pesar de los elementos adversos que conspiran contra la semilla que ha sembrado (pájaros, piedras, sol, espinas). Ésta podrá dar abundante fruto en cuanto encuentre un terreno bien dispuesto” .

Los versículos 10-17 hacen de nexo con lo que sigue, pues preparan la explicación de la parábola a los discípulos. Aquí Jesús distingue entre ‘los discípulos’ a quienes les revela los misterios del Reino y “aquellos” a quienes habla en sólo parábolas, o sea indirectamente. Sucede que la parábola, para ser comprendida, requiere "un corazón que simpatice con lo significado, ya que el corazón controla y condiciona el conocimiento. Esto se manifiesta en que viendo no ven y oyendo no oyen ni entienden (13,13)" . De este modo Mateo, si bien con la cita de Isaías (6,9-10) atribuye la incredulidad a Dios, resalta también la responsabilidad de los hombres por cuanto estos tienen un corazón duro que no quiere ver, ni oír ni entender. En efecto, “quien escucha y mira sólo superficialmente, no comprende, porque posee un corazón endurecido, que no quiere reconocer esa realidad de Dios, de modo que esa persona, por lo mismo, no se convierte. Quien no “des-vela” por sí mismo la parábola, no se muestra interesado en su verdad ni en la conducta que de ella resulta, y por eso su corazón está endurecido para un auténtico oír, ver y comprender. La no comprensión de las personas que no son discípulos expresa su actitud ante Jesús” .

En contraste, se confía la explicación a quienes están cerca de Jesús. Discípulo es aquel que aprende porque convive, aunque pregunte porque no entiende. La convivencia con Cristo es el medio o método de aprendizaje. Para entender a Jesús hay que seguirlo. En el fondo no la entiende quien no quiere sino quien no se siente suficientemente querido.

La explicación de la parábola (13,18-23) decodifica cada una de las situaciones de la semilla que aquí se la identifica con “la palabra del reino” (τὸν λόγον τῆς βασιλείας) mientras que los terrenos con “el corazón” (ἐν τῇ καρδίᾳ). 

Es de notar que en los cuatro casos se habla de “aquellos que escuchan la Palabra” (τὸν λόγον ἀκούων) como un primer estadio. La diferencia está en el segundo movimiento: la reacción ante la palabra. En el primer caso se dice que no la entienden; entonces el maligno se la lleva. En el segundo hay recepción alegre al comienzo, pero sin echar raíz se es inconstante y ante la persecución o tribulación se la abandona. En el tercer caso, entre abrojos o espinos, las preocupaciones del mundo y el amor a las riquezas la ahogan. Sólo en el cuarto caso se dice que la escuchan, la entienden, dan fruto y producen 100, 60 o 30. En Mateo el entender implica obedecer, llevar a la práctica la palabra, hacerla vida, dar fruto . Al respecto dice L. Sánchez Navarro : “Por eso es tan necesaria su escucha obediente, verdadero centro de la parábola del sembrador. La palabra del reino no se agota en su dimensión intelectual, sino que apunta a la praxis; sólo alcanza su objetivo cuando produce fruto (cf. Is 55,10-11). Esta misma intención persiguen las parábolas del reino, cuya dimensión moral les es intrínseca. Llena de vida y potencialidad, capaz por ello de dar mucho fruto; pero humilde y necesitada a la vez. Así es la palabra de Jesús; y así son esas palabras suyas tan características que son las parábolas, que con humildad se acercan al lector para ser descifradas vivencialmente.”

Por tanto, la intención de la explicación de la parábola sería: examinar los frutos para diagnosticar el estado del propio corazón del discípulo. En efecto, “el hecho de que el mensaje no produzca fruto no depende del sembrador ni de la semilla, sino sólo del suelo en el que ésta cae; el destino de la semilla depende exclusivamente de la disposición moral de quien acoge el mensaje. La forma como se describe ese suelo y las condiciones particulares del crecimiento permiten que los lectores se reconozcan en esas distintas actitudes” .

Nos parece muy buena la siguiente síntesis de A. Rodríguez : "Comienza invitando a los discípulos a oír la parábola. La semilla sembrada a lo largo del camino representa la incredulidad, que se atribuye a Satanás. La semilla en terreno pedregoso representa una religiosidad superficial, que simpatiza en un primer momento, pero que se seca en el momento de la prueba. La semilla entre zarzas remite a la pretensión de los discípulos de servir a Dios y al dinero y vivir las inquietudes de este mundo (ver Mt 6,19-34): la semilla queda infructuosa. Finalmente la semilla sembrada en tierra buena representa el ideal del discípulo, el que "oye, entiende y obra". Por tanto, el sentido final de la parábola sería que "Jesús quiere hacer comprender que el crecimiento del Reino no es inmediato ni triunfal, como muchos esperaban, sino que está confiado a la libre acogida de los hombres y a su cooperación perseverante, capaz de vencer las asechanzas del maligno y las inevitables dificultades. Sin embargo el Reino ha de ser llevado y anunciado a todos, sin prejuicios y sin reparar en las fuerzas" . 


Algunas reflexiones:


Pienso que es conveniente comenzar tomando conciencia "del misterio de Dios que nos habla". Este era el título que llevaba, justamente, la primera parte del instrumentum laboris del sínodo de Obispos sobre la Palabra de Dios en la vida y en la misión de la Iglesia. Por su parte la Exhortación apostólica postsinodal Verbum Domini dedica su primera parte a la presentación de la Comunicación Divina. Allí leemos: "La novedad de la revelación bíblica consiste en que Dios se da a conocer en el diálogo que desea tener con nosotros. La Constitución dogmática Dei Verbum había expresado esta realidad reconociendo que «Dios invisible, movido de amor, habla a los hombres como amigos, trata con ellos para invitarlos y recibirlos en su compañía" (VD nº 6). 

Por tanto, Dios nos habló y su Palabra quedó escrita por obra del Espíritu Santo en la Sagrada Escritura; y a través de ella Dios nos sigue hablando a nosotros hoy, al mismo tiempo que nos invita a escucharla para entrar en Alianza con Él.

Considerando la primera lectura junto al evangelio de hoy podemos añadir que se trata de una palabra eficaz, con un gran potencial de fecundidad, "destinada" a dar fruto, como lo son la lluvia y la semilla. Por eso tenemos que preguntarnos si realmente creemos en la fuerza de la Palabra de Dios, que puede realmente cambiar nuestro corazón y nuestra vida. La Palabra de Dios es viva y eficaz; es fuerza de Dios para la salvación del hombre que la recibe creyendo en Ella y dejándola actuar. Como señala el Papa Francisco: “La Palabra tiene en sí una potencialidad que no podemos predecir. El Evangelio habla de una semilla que, una vez sembrada, crece por sí sola también cuando el agricultor duerme (cf. Mc 4,26-29). La Iglesia debe aceptar esa libertad inaferrable de la Palabra, que es eficaz a su manera, y de formas muy diversas que suelen superar nuestras previsiones y romper nuestros esquemas” (EG n° 22).

 Llevando esto al plano interpersonal podemos decir que la Palabra se comunica para generar un diálogo de amistad, este es su fruto. Dios toma la iniciativa de hablarnos para que le respondamos, con nuestras palabras y con nuestra vida. Por esto, ante este misterio de Dios que nos habla, tenemos que prestar atención, en segundo término, a otro misterio: el del hombre como oyente de la Palabra. Esta es para el israelita creyente, y también para el discípulo de Cristo, la actitud primera y fundamental ante Dios. Aquí entra de lleno la descripción de la parábola del sembrador y su interpretación para iluminarnos sobre el tema ya que se trata, ante todo, de una invitación a revisar el estado del propio corazón de discípulo ante la Palabra de Dios mirando la presencia o no de frutos. El fruto de una buena escucha de la Palabra es la presencia de Dios en nuestro corazón y nuestro diálogo con Él allí presente, nuestra oración y comunión con Dios, que con el tiempo va cambiando nuestra forma de pensar, de valorar, de sentir y de obrar. Si la Palabra de Dios no produce estos frutos en nosotros se debe a que no hacemos ningún esfuerzo por comprenderla, no le prestamos suficiente atención y es como una semilla que cae al borde del camino. También puede ser que la escuchemos con entusiasmo al comienzo, pero somos superficiales y nos falta perseverancia para que eche raíces en nuestro corazón y termina por no dar frutos, como una semilla que cae en terreno pedregoso. O también que nuestro corazón esté lleno de preocupaciones y ambiciones materiales que ahogan el crecimiento de la Palabra; como una semilla que cae entre abrojos o espinas. 

También, mirando al sembrador como imagen del evangelizador, somos invitados a no dejarnos paralizar por los rechazos o los fracasos. A pesar de la proporción negativa sobre la suerte de la Palabra (tres fracasos contra un logro), no debemos dejarnos desanimar por el criterio numérico. Al respecto decía San Juan Crisóstomo : "El Señor pone esta parábola para animar a sus discípulos y enseñarles que, aun cuando la mayor parte de los que reciben la Palabra divina hayan de perderse, no por eso han de desalentarse. Porque también al Señor le aconteció eso, y, no obstante saber Él de antemano que así había de suceder, no por eso desistió de sembrar".

Vale también lo que dice A. Nocent : "La parábola del sembrador, balance de la situación de la Iglesia y de la eficacia misionera, no debe llevar al pesimismo, sino, por el contrario, despertar la confianza en la Palabra de Dios […] La eficacia de la Palabra no está sometida a nuestro activismo, sino más bien a la calidad de nuestra fe y de nuestra oración".

     En síntesis, como dijo el Papa Francisco el 12 de julio de 2020: “La parábola del sembrador es un poco la “madre” de todas las parábolas, porque habla de la escucha de la Palabra. Nos recuerda que la Palabra de Dios es una semilla que en sí misma es fecunda y eficaz; y Dios la esparce por todos lados con generosidad, sin importar el desperdicio. ¡Así es el corazón de Dios! Cada uno de nosotros es un terreno sobre el que cae la semilla de la Palabra, ¡sin excluir a nadie! La Palabra es dada a cada uno de nosotros. Podemos preguntarnos: yo, ¿qué tipo de terreno soy? ¿Me parezco al camino, al pedregal, al arbusto? Pero, si queremos, podemos convertirnos en terreno bueno, labrado y cultivado con cuidado, para hacer madurar la semilla de la Palabra. Está ya presente en nuestro corazón, pero hacerla fructificar depende de nosotros, depende de la acogida que reservamos a esta semilla. A menudo estamos distraídos por demasiados intereses, por demasiados reclamos, y es difícil distinguir, entre tantas voces y tantas palabras, la del Señor, la única que hace libre. Por esto es importante acostumbrarse a escuchar la Palabra de Dios, a leerla. Y vuelvo, una vez más, a ese consejo: llevad siempre con vosotros un pequeño Evangelio, una edición de bolsillo del Evangelio, en el bolsillo, en el bolso… Y así, leed cada día un fragmento, para que estéis acostumbrados a leer la Palabra de Dios, y entender bien cuál es la semilla que Dios te ofrece, y pensar con qué tierra la recibo”.


PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


¡Hay de mi tierra, Señor!


Hay de mi tierra, Señor, ven a sembrar

Siembra siempre y no te canses

Aunque en este terreno

La fertilidad se acabe


Y si estoy distraído y arrebatan tu semilla

Los pájaros del cielo

Siembra siempre y no te canses

Déjame escucharte


Cuando mi alegría se colme

Y crea en la Vida

Siembra siempre y no te canses

Tal vez me olvide enseguida


En mis afanes y ajetreos

Llega siempre Tú primero

Siembra siempre y no te canses

Quiero dar frutos sinceros


Pero confío Señor, 

Encontrarás algo de tierra fértil

Esa que con tanto Amor dejaste

Para sembrar siempre, siempre, siempre,  sin cansarte. Amén.