6º DOM.TC-A

6 º DOMINGO COMUM-A

12/02/2023


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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO

 

1ª Leitura: Eclesiástico 15,16-21

Salmo 118(119) R- Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo!

2ª Leitura: 1 Coríntios 2,6-10

Evangelho de Mateus 5,17-37

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 17Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. 18Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra. 19Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus. 20Porque eu vos digo: Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus. 21Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: 'Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal'. 22Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: 'patife!' será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de 'tolo' será condenado ao fogo do inferno. 23Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta. 25Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão. 26Em verdade eu te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo. 27Ouvistes o que foi dito: 'Não cometerás adultério'. 28Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. 29Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu corpo ser jogado no inferno. 30Se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perder um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno. 3lFoi dito também: 'Quem se divorciar de sua mulher, dê-lhe uma certidão de divórcio'. 32Eu, porém, vos digo: Todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de união irregular, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada comete adultério. 33Vós ouvistes também o que foi dito aos antigos: 'Não jurarás falso', mas 'cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor'. 34Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum: nem pelo céu, porque é o trono de Deus; 35nem pela terra, porque é o suporte onde apóia os seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do Grande Rei. 36Não jures tão pouco pela tua cabeça, porque tu não podes tornar branco ou preto um só fio de cabelo. 37Seja o vosso 'sim': 'Sim', e o vosso 'não': 'Não'. Tudo o que for além disso vem do Maligno. Palavra da Salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP


Mt 5,17-37

Este evangelho faz parte do Sermão da Montanha e é continuação das bem-aventuranças. Ele começa com uma advertência: “Não penseis que vim para abolir a Lei e os profetas. Não vim para abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento (...). Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus”.

As bem-aventuranças podem ser mal interpretadas ou manipuladas como uma licença para a desobediência aos mandamentos de Deus. Jesus não veio abolir a Lei e os Profetas, ou seja, não veio para se opor à Palavra de Deus revelada no AT. Isso seria o mesmo que opor Deus a Deus. Jesus veio para levar a perfeição a Palavra revelada. “Muitas vezes e muitos modos, Deus falou outrora aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho” (Hb 1,1). Jesus veio dar pleno cumprimento à Lei e aos Profetas. Ele é pessoalmente o sentido autêntico e definitivo do que Deus revelou outrora aos pais pelos profetas. Se quisermos entender o AT, é preciso ouvir o que Jesus ensina e ver como Jesus vive a Lei e os Profetas.

Com a sua exigência: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”, Jesus não quer tornar os seus discípulos mais legalistas e tradicionalistas do que os fariseus. A justiça que Jesus quer não se baseia na mera observância, mas na superação da Lei. É importante cumprir a Lei, mas é mais necessário ir além da Lei. É exatamente isso o que falta aos doutores da lei e aos fariseus: a justiça deles é falsa por três motivos: ou porque não cumprem o que ensinam aos outros, ou porque invalidam a lei com a sua casuística, ou porque se fixam na letra sem penetrar no seu espírito. Parar ter “uma justiça superior” é preciso ser justo como Jesus; cumprir a Lei como Jesus a cumpriu. 

Como foi isso? Jesus mesmo dá alguns exemplos concretos.

“Não matarás”. Essa é a Lei, mas é preciso ir além da Lei. Não basta não matar o irmão. Também a ira, o insulto e o desprezo são formas iniciais, preparatória e preliminares de matar o irmão. O homicídio nunca acontece “de repente”; ele é precedido pela ruptura da fraternidade no coração e pela nossa língua que fala mal do irmão. O Eclesiastes diz: “Muitos caíram ao fio da espada, mas não tantos quantos pereceram por culpa da língua” (28,18).

A Lei proíbe matar o outro; Jesus, porém, superou essa Lei, ensinando a não insultar o outro chamando-o de patife ou de tolo. Os insultos que nós proferimos, nascem no nosso coração, de preconceitos que formamos dos outros. Com os insultos rotulamos o irmão de “ignorante”, “besta”, “bobo”, “tapado”. Com os insultos “patife” e “tolo” expressamos nosso desprezo pelo outro e também nosso rancor e inveja. Ao fazer isso impomos ao outro o que nós concebemos sobre ele: são os preconceitos. Com os preconceitos criamos o inimigo e depois começamos a inventar as formas de nos livrar deles. Todas as guerras tiveram também como causa os preconceitos.

Como remédio ao nosso vício de insultar o irmão, Jesus recomenda a reconciliação: Vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão! Estamos obrigados ao culto a Deus, porque queremos estar perto Dele. Nossa oferta não acrescenta nada a Deus, mas nos aproxima Dele. Estar próximo de Deus, ser seu íntimo, amar e ser amado por Deus constitui nossa felicidade mais autêntica. Mas nossa oferta a Deus não pode ser falsa. Apresentar uma oferta injusta não agrada a Deus. Nossa oferta é injusta, quando ela é fruto de roubo, de sonegação dos direitos dos outros.

Jesus nos ensina a “justiça superior”, ao nos revelar que a oferta está indissoluvelmente vinculada com o ofertante. Se o ofertante não agrada a Deus, também a sua oferta não lhe será agradável. Por isso Jesus exige que antes de oferecer a Deus é preciso se reconciliar com os que tem algo contra nós. Jesus nos mostra que os mandamentos foram um todo indivisível. Não se pode escolher entre eles, como se estivessem na prateleira do supermercado, escolhendo respeitar os mandamentos que se referem a Deus e deixando de lado os que se referem aos irmãos. 

Conta-se que um missionário explicava aos índios esta passagem na homilia e, como não falava a língua dos índios, era ajudado por um tradutor. Em certo momento, uma parte dos índios saiu da missa. O missionário ficou indignado com isso e reclamou com o tradutor. O tradutor lhe respondeu: “Não se preocupe, eles entenderam o evangelho e foram se reconciliar com os irmãos. Em breve estarão todos de volta na missa”.

Não cometerás adultério! Essa Lei proíbe romper os laços familiares de amor. O adultério é um pecado grave por causa do bem que ele destrói: o amor conjugal e a família. Por isso a pena é severíssima: a morte. Jesus vai além desse mandamento; ele interioriza essa Lei. É preciso também evitar o desejo desregrado consentido, o olhar cobiçoso e o pensamento malicioso. Assim entendemos a exigência de Jesus: se o teu olho é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o longe de ti! Se o olho é malicioso, melhor não ter olhos. 

Da mesma forma que o olho, as mãos devem fazer o bem. É com elas que trabalhamos e ganhamos o pão de cada dia. Se as usamos para fazer o mal, seria melhor não ter mãos. Jesus não quer a automutilação, isso também é pecado grave! Ele nos ensina a evitar as ocasiões de pecado, mesmo que isso nos custe grandes sacrifícios e a usar os membros de nosso corpo (também a inteligência, a saúde, o tempo) para fazer o bem.

Todo aquele que se divorcia de sua mulher, faz com que ela se torne adúltera. Moisés havia permitido o divórcio, por isso o homem deveria dar uma certidão de divórcio à sua ex-mulher. Jesus supera a lei de Moisés ao transpor o divórcio do plano jurídico para o plano do amor. O amor conjugal é indissolúvel por sua própria natureza e porque se torna sinal do “grande mistério” do amor de Cristo e da Igreja. Por isso o homem não pode separar o que Deus uniu.

Seja o vosso sim: sim! O juramento não foi abolido. Continuamos a fazer juramento em algumas ocasiões muito precisas. Mas não fazemos juramento a todo momento. Nós abusamos do juramento, quando precisamos dar à nossa palavra uma credibilidade que ela não tem por si mesma: porque não fazemos o que prometemos; porque mentimos e enganamos os outros com frequência; porque manipulamos os outros com nossa linguagem dúbia. Para corrigir esse comportamento reprovável, o único remédio é o que Jesus nos dá: que estejamos tão enraizados na verdade que não sejam necessários juramentos. Se o juramento nos é pedido por justa causa, não devemos recusá-lo, mas nosso comportamento deveria ser tal que o juramento fosse dispensável.


Viver a Lei Interior da Caridade- Pe. Adroaldo Palaoro.

 

“Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,20) 


A liturgia deste domingo nos apresenta um longo texto do evangelho de Mateus. É importante que descubramos a mensagem central, essencial e sumamente importante ali presente, se não quisermos correr o risco de nos enredar em cada detalhe, perdendo aquilo que, de verdade, Jesus desejava para as comunidades cristãs.

O primeiro parágrafo já nos dá a chave de leitura de todo o texto. Mateus explicita a atitude de Jesus frente à Lei: “Vim para dar-lhe plenitude”; ou seja, Ele não se limita a analisar os detalhes da Lei, nem criticar alguns preceitos, mas dar plenitude e sentido profundo.

E esta plenitude não significa melhorar a lei com novas normas que Jesus confrontaria com as antigas, por considerá-las mais perfeitas. A plenitude que o evangelho nos apresenta não vai na direção de “maior perfeição” da lei, mas de uma mudança radical: Jesus mesmo é a plenitude da Lei. Sua pessoa, sua identidade, sua mensagem, sua maneira de viver é a Lei mesma em sua plenitude. Por isso, acolhê-Lo, crer n’Ele, identificar-nos com Ele, vivendo como discípulos seus, nos torna “grandes no Reino dos céus”.

Os evangelistas deixam claro que Jesus não vive centrado na Lei; não se dedica a estudá-la nem a explicá-la a seus discípulos. Nunca o vemos preocupado por observá-la de maneira escrupulosa. Certamente, não põe em marcha uma campanha contra a Lei, mas esta não ocupa um lugar central em seu coração. Jesus não foi contra a Lei, mas foi além da Lei. Quis dizer-nos que sempre temos que ir mais além da letra, da pura formulação, até descobrir o espírito da lei. “A lei mata, o espírito vivifica” (S. Paulo).

Jesus busca a Vontade de Deus a partir de outra experiência diferente, ou seja, procurando abrir caminho entre os homens para construir com eles um mundo mais justo e fraterno. Isto muda tudo. A Lei já não é o decisivo para saber o que Deus espera de nós. O primeiro é “buscar o reino de Deus e sua justiça”.

“Justiça” é um termo particularmente especial para Mateus, e que poderia ser traduzido como “ajustar-se ao modo de agir Deus” “sintonizar-se à sua vontade” – uma justiça que é infinitamente superior à Lei.

Para ressaltar a “novidade” da mensagem de Jesus, o evangelista Mateus realça que “se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”.

O texto aponta para algo de grande profundidade e que toca uma questão básica do caminho espiritual: “a partir de onde eu vivo? vivo a partir da lei externa ou a partir do coração?”

Os códigos morais insistem nas ações: “não matar”, “não cometer adultério”, “não jurar”. Mas, provavelmente, todos temos experiência de que é possível não ter cometido nada disso e, no entanto, vivemos com o coração endurecido, desconectado daquilo que é realmente importante.

A mensagem de Jesus é radical pois quer chegar à raiz. E por isso nos confronta com nossa própria verdade interior. O evangelho deste domingo nos revela um Jesus que vem para dar plenitude à lei. Mas essa plenitude está muito distante do mero cumprimento externo: não matar, não cometer adultério, não jurar falso... Supõe ir mais adentro, mais a fundo, examinando nossas atitudes, nossas razões, nossos sentimentos e tudo aquilo que nos constrói e define como pessoas. É aí, no centro de nossa humanidade, onde conectamos com o espírito e o divino em nós; onde todos somos uno e nossas ações são um fluir dessa unidade interior.

Viver a partir do “coração” significa viver a partir do amor que nasce da compreensão da unidade que somos, e que se modela na “regra de outro”: “faça aos outros o que gostaria que eles fizessem a você”.

A nova situação que se instaurou a partir da vinda do Messias não é como a antiga aliança, a aliança da lei exterior ao homem; é, pelo contrário, a aliança da interioridade, a situação que se define pelas atitudes que brotam do coração.

Há uma frase que se repete três vezes no texto deste domingo, e que, ao mesmo tempo, é novidade e ruptura. Certamente, ela se revelou escandalosa para muitos contemporâneos de Jesus, judeus fiéis à lei de Moisés, à qual consideravam-na como voz de Deus: “Vós ouvistes o que foi dito... Eu, porém, vos digo”.

A novidade e a ruptura estão na afirmação: “Eu, porém, vos digo”. A força da expressão é o “eu”. Sua autoridade reside em sua pessoa. Sua maneira de ser e viver é nossa “lei” e referência. A partir de agora, cumprir a lei é crer n’Ele e segui-lo. A coerência de Jesus é a origem de sua autoridade; não é a dos escribas e fariseus que dizem, mas não fazem.

O evangelho pede de todos nós uma mudança absoluta. É como se Jesus nos dissesse: “não fiques só em tuas ações, a lei está dirigida ao coração, ao interior de tua pessoa, às tuas atitudes profundas, às tuas razões para agir, aos teus sentimentos, àquilo que te constrói e te define como pessoa. Tu não podes te limitar em não atacar teu irmão; és chamado a amá-lo, compreendê-lo, perdoá-lo...”

Com a novidade do anúncio e da prática de Jesus, realizou-se uma transformação radical nas relações do ser humano com Deus e com os outros. Esta transformação consiste em que o regime da observância da lei foi sucedido por outro regime, o regime filial, que comporta uma situação muito diferente.

Por conseguinte, a nova situação consiste em que não só fomos libertados da lei, senão que, além disso – e sobretudo – Deus nos fez verdadeiros(as) filhos(as) seus(suas).

Nesse sentido, as relações de intimidade familiar não se fundamentam a partir de um regulamento ou de uma codificação legal. Seria simplesmente absurdo que duas pessoas, que se amam, se pusessem a redatar um regulamento no qual se estipulasse taxativamente como dever-se-iam agradar mutuamente.

Quando se trata de uma relação pessoal, vivida nessa profundidade, é o dinamismo do amor que faz cada um inventar sua própria conduta, descobrir o que agrada ao outro e evitar a todo custo o que pode causar distância entre eles.

Pode-se e deve-se dizer: a liberdade que a fé exige é viver o amor com todas as suas consequências. As exigências da lei são sempre limitadas; as exigências do amor, pelo contrário, não têm limites.

O único limite do amor é amar sem limites, é a disponibilidade e o serviço incondicional aos outros.

Ou seja, no amor não há limite possível. E isso, no fundo, é o que nos dá medo e nos assusta a ideia de uma vida cristã na qual tudo depende, não da observância de algumas leis (com seus limites e casuísticas), senão do grau e da dose de amor sincero, da bondade sem limites que alguém tenha frente aos outros com quem convive.

É preciso superar o legalismo que se contenta com o cumprimento literal de leis e normas. O empenho de Jesus consistiu em fazer as pessoas passarem de uma religiosidade externa a uma atitude interna, ou seja, passar de um cumprimento de leis a uma descoberta das exigências de nosso próprio ser.

Nosso cristianismo será mais humano e evangélico quando aprendermos a viver as leis, normas, preceitos e tradições como Jesus os vivia: buscando esse mundo mais justo e fraterno que o Pai tanto deseja.

Nesse sentido, o Sermão da Montanha não é Lei, mas Evangelho.

Esta é a diferença entre a Lei e o Evangelho: a Lei deixa a pessoa abandonada às suas próprias forças, impõe-lhe preceitos que é preciso esforçar-se por cumpri-los, ameaça-a, premia-a, exige-lhe empenho…

O Evangelho, no entanto, coloca a pessoa diante do dom de Deus, faz-lhe conhecer seu Pai, converte-a em filho(a), transforma-a por dentro… e não a obriga a nada. No amor não há imposição, mas acolhida.



Ouvistes o que foi dito… Eu, porém vos digo (Mt 5,17-37)- Carlos Mesters


O texto do evangelho de hoje está dentro da unidade maior de Mt 5,20 até Mt 5,48. Nela Mateus mostra como Jesus interpretava e explicava a Lei de Deus. Por cinco vezes ele repetiu a frase: “Antigamente foi dito, eu, porém, lhes digo!” (Mt 5,21.27.33.38.43). Na opinião de alguns fariseus, Jesus estava acabando com a lei. Mas era exatamente o contrário. Ele dizia: “Não pensem que vim acabar com a Lei e os Profetas.

Não vim acabar, mas sim dar-lhes pleno cumprimento (Mt 5,17). Frente à Lei de Moisés, Jesus tem uma atitude de ruptura e de continuidade. Ele rompe com as interpretações erradas que se fechavam na prisão da letra, mas reafirma categoricamente o objetivo último da lei: alcançar a justiça maior que é o Amor.

Nas comunidades para as quais Mateus escreve o seu Evangelho havia opiniões diferentes frente à Lei de Moisés. Para alguns, ela não tinha mais sentido. Para outros, ela devia ser observada até nos mínimos detalhes. Por isso, havia muitos conflitos e brigas. Uns chamavam os outros de imbecil e de idiota. Mateus tenta ajudar os dois grupos a entender melhor o verdadeiro sentido da Lei e traz alguns conselhos de Jesus para ajudar a enfrentar e superar os conflitos que surgem dentro da família e dentro da comunidade.

Mateus 5,20: A justiça de vocês deve ser maior que a justiça dos fariseus.

Este primeiro versículo dá a chave geral de tudo que segue no conjunto de Mt 5,20-48. O evangelista vai mostrar às comunidades como elas devem praticar a justiça maior que supera a justiça dos escribas e dos fariseus e que levará à observância plena da lei. Em seguida, depois desta chave geral sobre a justiça maior, Mateus traz cinco exemplos bem concretos de como praticar a Lei de tal maneira que a sua observância leve à prática perfeita do amor. No primeiro exemplo do evangelho de hoje, Jesus revela o que Deus queria quando entregou a Moisés o quinto mandamento “Não Matarás!”.

Mateus 5,21-22: Não Matar

“Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: Não mate! Quem matar será condenado pelo tribunal” (Ex 20,13) Para observar plenamente este quinto mandamento não basta evitar o assassinato. É preciso arrancar de dentro de si tudo aquilo que, de uma ou de outra maneira, possa levar ao assassinato, como por exemplo, raiva, ódio, xingamento, desejo de vingança, exploração, etc. “Todo aquele que fica com raiva do seu irmão, se torna réu perante o tribunal”. Ou seja, quem fica com raiva do irmão já merece o mesmo castigo de condenação pelo tribunal que, na antiga lei, era reservado para o assassino! E Jesus vai mais longe ainda. Ele quer arrancar a raiz do assassinato: Quem diz ao seu irmão: ‘imbecil’, se torna réu perante o Sinédrio; e quem chama o irmão de ‘idiota’, merece o fogo da geena. Com outras palavras, eu só observei plenamente o mandamento Não Matar se consegui tirar de dentro do meu coração qualquer sentimento de raiva que leva a insultar o irmão. Ou seja, se cheguei à perfeição do amor.

Mateus 5,23-24: O culto perfeito que Deus quer

“Portanto, se você for até o altar para levar a sua oferta, e aí se lembrar de que o seu irmão tem alguma coisa contra você, deixe a oferta aí diante do altar, e vá primeiro fazer as pazes com seu irmão; depois, volte para apresentar a oferta”. Para poder ser aceito por Deus e estar unido a ele, é preciso estar reconciliado com o irmão, com a irmã. Antes da destruição do Templo do ano 70, quando os cristãos ainda participavam das romarias a Jerusalém para fazer suas ofertas no altar do Templo, eles sempre se lembravam desta frase de Jesus. Agora, nos anos 80, no momento em que Mateus escreve, o Templo e o Altar já não existiam. A própria comunidade passou ser o Templo e o Altar de Deus (1Cor 3,16).

Mateus 5,25-26: Reconciliar

Um dos pontos em que o Evangelho de Mateus mais insiste é a reconciliação, pois nas comunidades daquela época, havia muitas tensões entre grupos radicais com tendências diferentes, sem diálogo. Ninguém queria ceder diante do outro. Mateus ilumina esta situação com palavras de Jesus sobre a reconciliação que pedem acolhimento e compreensão. Pois o único pecado que Deus não consegue perdoar é a nossa falta de perdão aos outros (Mt 6,14). Por isso, procure a reconciliação, antes que seja tarde demais!

O ideal da justiça maior

Por cinco vezes, Jesus cita um mandamento ou um costume da lei antiga: Não matar (Mt 5,21), Não cometer adultério (Mt 5,27),  Não jurar falso (Mt 5,33), Olho por olho, dente por dente (Mt 5,38), Amar o próximo e odiar o inimigo (Mt 5,43). E por cinco vezes, ele critica a maneira antiga de observar estes mandamentos e aponta um caminho novo para atingir a justiça, o objetivo da lei (Mt 5,22-26; 5, 28-32; 5,34-37; 5,39-42; 5,44-48). A palavra Justiça  aparece sete vezes no Evangelho de Mateus (Mt 3,15; 5,6.10.20; 6,1.33; 21,32). O ideal religioso dos judeus da época era “ser justo diante de Deus”. Os fariseus ensinavam: “A pessoa alcança a justiça diante de Deus quando chega a observar todas as normas da lei em todos os seus detalhes!” Este ensinamento gerava uma opressão legalista e trazia muitas angústias para as pessoas de boa vontade, pois era muito difícil alguém observar todas as normas (Rom 7,21-24). 

Por isso, Mateus recolhe palavras de Jesus sobre a justiça mostrando que ela deve ultrapassar a justiça dos fariseus (Mt 5,20). Para Jesus, a justiça não vem daquilo que eu faço para Deus observando a lei, mas sim vem do que Deus faz por mim, me acolhendo com amor como filho ou filha. O novo ideal que Jesus propõe é este: “Ser perfeito com o Pai do céu é perfeito!” (Mt 5,48). Isto quer dizer: eu serei justo diante de Deus, quando procuro acolher e perdoar as pessoas da mesma maneira como Deus me acolhe e me perdoa gratuitamente, apesar dos meus muitos defeitos e pecados.

Mateus 5,27-28: Não cometer adultério

O que pede de nós este mandamento? A resposta antiga era esta: o homem não pode dormir com a mulher do outro. É o que exigia a letra do mandamento. Mas Jesus vai além da letra e diz: “Eu, porém, lhes digo: todo aquele que olha para uma mulher e deseja possuí-la, já cometeu adultério com ela no coração". O objetivo do mandamento é a fidelidade mútua entre o homem e a mulher que assumiram viver juntos como casados. E esta fidelidade só será completa, se os dois souberam manter a fidelidade mútua até no pensamento e no desejo e se souberem chegar a uma total transparência entre si.

Mateus 5,29-30: Arrancar o olho e cortar a mão

Para ilustrar o que acaba de dizer Jesus traz uma palavra forte que ele usou também em outra ocasião quando tratava do escândalo aos pequenos (Mt 18,9 e Mc 9,47). Ele diz: “Se o olho direito leva você a pecar, arranque-o e jogue-o fora! É melhor perder um membro, do que o seu corpo todo ser jogado no inferno”. E ele afirma o mesmo a respeito da mão. Estas afirmações não podem ser tomadas ao pé da letra. Elas indicam a radicalidade e a seriedade com que Jesus insiste na observância deste mandamento.

Mateus 5,31-32: A questão do divórcio

Ao homem era permitido dar uma certidão de divórcio para a mulher. Jesus dirá no Sermão da Comunidade que Moisés o permitiu por causa da dureza do coração do povo (Mt 19,8). “Eu, porém, lhes digo: todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por causa de fornicação, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada, comete adultério”. Muita discussão já foi feita em torno deste assunto. Baseando-se nesta afirmação de Jesus, a igreja oriental permite o divórcio no caso de “fornicação”, isto é, de infidelidade. Outros dizem que, aqui, a palavra fornicação traduz um termo aramaico ou hebraico zenuth que indicava um casamento dentro de um grau parentesco proibido. Não seria um casamento válido.

Qualquer que seja a interpretação correta desta palavra, o que importa é ver o objetivo e o sentido geral das afirmações de Jesus na nova leitura que ele faz dos Dez Mandamentos. Jesus aponta um ideal que deve estar sempre diante dos meus olhos. O ideal último é este: “ser perfeito como o pai de céu é perfeito” (Mt 5,48). Este ideal vale para todos os mandamentos revistos por Jesus. Na releitura do mandamento “Não cometer adultério“, este ideal se traduz na total e radical transparência e honestidade entre marido e mulher.

Ninguém nunca vai poder dizer: “Sou perfeito como o Pai do céu é perfeito”. Estaremos sempre abaixo da medida. Nunca vamos poder merecer o prêmio pela nossa observância que sempre será abaixo da medida. O que importa é manter-se na caminhada, manter o ideal diante dos olhos, sempre! Mas ao mesmo tempo, como Jesus, devemos saber aceitar as pessoas com a mesma misericórdia com que ele aceitava as pessoas e as orientava para o ideal. Por isso, certas exigências jurídicas da igreja hoje, como por exemplo, não permitir a comunhão a pessoas que vivem em segundas núpcias, parecem mais com os fariseus do que com a atitude de Jesus. Ninguém aplica ao pé da letra a explicação do mandamento “Não Matar”, onde Jesus diz que todo aquele que chama seu irmão de idiota merece o fogo da geena (Mt 5,22). Pois neste caso, todos já teríamos viagem garantida até lá e ninguém se salvaria. Por que a doutrina nossa usa medidas diferentes no caso do quinto e do nono mandamento?

Mateus 5,33: Foi dito aos antigos: não jurar falso

A lei do AT dizia: “Não jurar falso”. E acrescentava que a pessoa deve cumprir os seus juramentos para com o Senhor (cf. Nm 30,2). Na oração dos salmos se diz que só pode subir a montanha de Javé e chegar no lugar santo “aquele que tem mãos inocentes e coração puro, que não confia nos ídolos, nem faz juramento para enganar”(Sl 24,4). O mesmo é dito em vários outros lugares do AT (Ecle 5,3-4), pois deve-se poder confiar nas palavras do outro. Para favorecer esta confiança mútua, a tradição tinha inventado a ajuda do juramento. Para dar força à sua palavra, a pessoa jurava por alguém ou por algo que era maior do que ela e que poderia vir castiga-la caso ela não cumprisse o que prometeu. E assim é até hoje. Tanto na igreja como na sociedade, há momentos e ocasiões em que se exigem juramentos solenes das pessoas. No fundo, o juramento é a expressão da convicção de que nunca se pode confiar inteiramente na palavra do outro.

Mateus 5,34-36: Mas eu digo: não jurar nunca

Jesus quer sanar esta deficiência. Não basta “não jurar falso”. Ele vai mais além e afirma: “Eu, porém, lhes digo: não jurem de modo algum: nem pelo Céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o suporte onde ele apóia os pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. Não jure nem mesmo pela sua própria cabeça, porque você não pode fazer um só fio de cabelo ficar branco ou preto. Faziam juramento pelo céu, pela terra, pela cidade de Jerusalém, pela própria cabeça. Jesus mostra que tudo isto é remédio que não cura a doença da falta de transparência no relacionamento entre as pessoas. Qual é a solução que ele propõe?

Mateus 5,37: O Sim seja sim, e o não seja não.

A solução que Jesus propõe é esta: “Diga apenas ‘sim’, quando é ‘sim’; e ‘não’, quando é ‘não’. O que você disser além disso, vem do Maligno”. Ele propõe a total e radical honestidade. Nada mais do que isto. O que você disser além disso, vem do Maligno. Aqui, novamente, aqui somos confrontado com um objetivo que ficará sempre na nossa frente e que nunca chegaremos a cumprir totalmente. É uma outra expressão do novo ideal de justiça que Jesus propõe: “ser perfeito como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Jesus elimina pela raiz qualquer tentativa de eu criar em mim a convicção de que me salvo pela minha observância da lei. Ninguém poderá merecer a graça de Deus. Já não seria graça. Observamos a Lei, não para merecera salvação, mas para agradecer de coração a imensa bondade gratuita de Deus que nos acolhe, perdoa e salva sem merecimento algum da nossa parte.


NÃO À GUERRA ENTRE NÓS!-  José Antonio Pagola


Os judeus falavam com orgulho da Lei de Moisés. Segundo a tradição, foi Deus que a ofereceu a seu povo. É o melhor que receberam Dele. Nessa Lei, acha-se a vontade do único Deus verdadeiro. Aí podem encontrar tudo o que necessitam para serem fiéis a Deus.

Para Jesus, também a Lei é importante, mas já não ocupa o lugar central. Ele vive e comunica outra experiência: está a chegar o reino de Deus; o Pai procura abrir um caminho entre nós para fazer um mundo mais humano. Não basta nos contentarmos em cumprir a Lei de Moisés. É necessário abrir-nos ao Pai e colaborar com Ele para fazer a vida mais justa e fraterna.

Por isso, segundo Jesus, não basta cumprir a Lei, que ordena «não matarás». É necessário, também, arrancar da nossa vida a agressividade, o desprezo pelo outro, os insultos ou as vinganças. Aquele que não mata cumpre a Lei, mas, se não se liberta da violência, no seu coração não reina ainda esse Deus que procura construir conosco uma vida mais humana.

Conforme alguns observadores, está se espalhando na sociedade atual uma linguagem que reflete o crescimento da agressividade. Cada vez são mais frequentes os insultos ofensivos, proferidos tão somente para humilhar, desprezar e ferir. Palavras nascidas da rejeição, do ressentimento, do ódio ou da vingança.

Por outro lado, as conversações estão frequentemente tecidas de palavras injustas que distribuem condenações e semeiam suspeitas. Palavras ditas sem amor e sem respeito que viciam a convivência e fazem mal. Palavras nascidas quase sempre da irritação, da mesquinhez ou da baixeza.

Esta não é uma situação que se dê apenas na convivência social. É também um grave problema no interior da Igreja atual. O papa Francisco sofre ao ver divisões, conflitos e confrontos de «cristãos em guerra contra outros cristãos». É um cenário tão contrário ao Evangelho que ele sentiu a necessidade de nos dirigir uma chamada urgente: «Não à guerra entre nós».

Assim fala o Papa: “Dói-me comprovar como em algumas comunidades cristãs, e entre pessoas consagradas, consentimos diversas formas de ódios, calúnias, difamações, vinganças, ciúmes, desejo de impor as próprias ideias à custa de qualquer coisa e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. A quem vamos evangelizar com esses comportamentos?”. O Papa trabalha por uma Igreja na qual «todos podem admirar como vos cuidais uns aos outros, como vos dais alento mutuamente e como vos acompanhais».


A LEI DO ESPÍRITO -  Ana Maria Casarotti


Neste domingo, continua-se lendo e aprofundando o discurso do Sermão da Montanha. Lembremos que a comunidade para quem está dirigido o texto é principalmente um grupo de pessoas que anteriormente pertencia ao judaísmo. Precisam clareza sobre as novas orientações da vida cristã no seguimento de Jesus, principalmente respeito aos antigos costumes.

Como é preciso atuar? Qual é o paradigma ou modelo a seguir neste novo estilo de vida?

Não é difícil pensar que existam entre eles dificuldades na nova vida nas comunidades cristãs, principalmente no decorrer do tempo que iam incorporando-se gerações novas.

Há dois domingos, lemos o texto das bem-aventuranças com o tesouro escondido nele. No domingo passado, continuamos com as parábolas do sal e da luz prometidas por Jesus aos cristãos.

A comparação com o sal e a luz do mundo relembra de uma forma muito simples a forma de vida dos discípulos de Jesus. Neles há uma grande riqueza, mas “se perde seu sabor já não serve para nada” ou, como uma luz escondida numa gaveta, não ilumina ninguém.

O Reino proclamado por Jesus é Boa Notícia se seus seguidores vivem o estilo de vida anunciado por ele, com sua novidade, arriscando a vida, doando-se aos outros.

Hoje Jesus expõe o modo de viver diante do judaísmo, em particular a Lei. Neste momento, podemos perguntar-nos qual é nossa prioridade na nossa vida cristã?

Consideramos o cumprimento externo de algumas leis, sejam estabelecidas pelo costume ou pela tradição, como prioritários? Ou consideramos o espírito que essas prescrições simplesmente tentam comunicar?

Desde o início, Jesus esclarece que não veio para abolir a lei senão para dar cumprimento. Que significa isto? Ele defende o rigor das normas?

Às vezes este texto recebe uma leitura legalista que procura nele a justificação do cumprimento de mandamentos de forma perfeccionista. Atua-se quase por capricho, procurando uma sorte de ambição pessoal.

Com suas palavras, Jesus esclarece que o mais importante é sempre o que habita no coração do homem. Fica claro que ele não gosta dos escribas e fariseus que, possuidores de muito conhecimento da Lei, se transformam em “administradores” da Vontade de Deus. A lei foi criada para garantir e preservar a vida, mas não sempre foi bem entendida.

Jesus fala das normas da Lei, porém traz um nível superior: as atitudes e a forma de proceder de uma comunidade cristã. Ela permanece no espírito do Reino à medida que as comunidades o escolham sempre seu instrutor, a quem obedecer e seguir.

Jesus não se limita às normas ou preceitos estabelecidos. Vai além delas! As prescrições são simples manifestações de uma realidade muito mais profunda e comprometida. È um modo de viver o seguimento de Jesus. Ser seus discípulos é um estilo de vida, de comportamento religioso, social e cultural.

Como disse o Papa Francisco: “Não deixemos que nos tirem a alegria de ser discípulos do Senhor. ‘Mas, padre, eu sou um pecador…’: deixa-te levar por Jesus, sente sobre ti a Sua misericórdia, e o teu coração será preenchido de alegria e perdão. Não nos deixemos roubar a esperança de viver esta vida junto com Ele e com a força da Sua consolação”.

Unimo-nos a tantos e tantas pessoas que ao longo da história souberam ser fieis ao seguimento de Jesus indo além de uma letra, a lei, aquecendo-se continuamente do fogo interior do Espírito que nos transforma em verdadeiros seguidores e testemunhos de Jesus.

Alegria do pecador

Foi dito a ti:

Tem um nome sem mancha como um bom fariseu.

Tu jejuas e economizas nos dias assinalados

e os papéis de tua vida estão assinados e absolvidos.

Livra-te de dar a mão ao doente de aids

saudando seu passado, ou perguntando seu nome

olhando-o nos olhos. 

Os pobres são um abismo de ignorância e preguiça

que devora ao que se aproxima com seu tempo e seus bens.

A ansiedade do solitário pode envolver tua companhia

como um redemoinho de naufrágio.

Talvez baste uma esmola depositada por telefone

na mão fria de uma conta de banco.

Mas A Palavra diz:

Os pecadores e excluídos chamam a Deus, e Deus desce até eles.

Nós os descobrimos juntos no mesmo encontro:

 prostitutas de avenida, emigrantes sem papéis, presos sob grades.

Deus enlodado com fracasso de pecadores perdidos,

sobrenome divino triturado por mecanismos

de aço mercantil e de confusões pessoais.

Aí descobrimos a dignidade indestrutível

dos chamados a escória da terra.

Um Deus tão solidário nos rouba o coração

e nos oferece a alegria de entregar a vida

para a festa universal que a tudo refaz.


CAMINHO DA FELICIDADE - D. Paulo Peixoto


Não é qualquer caminho que leva à verdadeira felicidade. É trajeto de busca constante fundamentado em exigências necessárias e indispensáveis. Entre elas podemos citar a dignidade, a liberdade, o compromisso com Deus e com o próximo. A fonte motivadora da felicidade é a vida, quando tratada no seu real sentido. Só é feliz quem consegue agregar à sua vida verdadeiros valores. 

A felicidade é fruto de uma escolha no itinerário da vida. A opção pode ser voltada para a prática do mal ou do bem. Existe uma liberdade existencial em cada pessoa, mas conta também com as exigências necessárias para o cumprimento do ideal perseguido. A construção do verdadeiro bem, que é fonte de felicidade, agrega valores, e depende de princípios relacionados com a vida de fé.

Nos ensinamentos bíblicos está contida a necessidade de observância dos mandamentos e das bem-aventuranças propostas por Jesus Cristo. Pode-se entender então que a felicidade coincide com a instauração do Reino de Deus no mundo e a afinidade com a prática de vida que a pessoa precisa ter em relação a ele. Os bens do mundo não são suficientes para preencher as necessidades humanas. 

Mas o reino dos céus, conforme alerta Jesus, é reino de justiça, que precisa ser maior do que a forma do agir dos fariseus. Deveriam observar a Lei, mas também praticar a caridade (cf. Mt 5,20). É conseguir visualizar a sabedoria de Deus nas coisas comuns que fazem parte do lidar da pessoa. Uma sabedoria presente, de forma sutil e misteriosa, em todas as realidades do mundo.

 A liberdade humana, para escolher entre o bem e o mal, é um grande dom da criação, mas também ocasiona consequências e exigências muito grandes. Basta ver que o ser humano vive no mundo das relações interpessoais em seus contatos, que acontecem na convivência diuturna. Isso comporta observância de direitos e deveres, exigindo, nas relações, práticas justiças e fraternas.

A felicidade fica totalmente fragilizada com a relativização dos compromissos, que a pessoa tem, com os ensinamentos do Evangelho de Jesus Cristo. A transparência e a verdade são essenciais para existir amor fraterno nas relações. O caminho de felicidade tem que ser feito a partir do convencimento do coração, com muita liberdade e amor, porque aí está a sabedoria de Deus.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.


TEXTO EM ESPANHOL- Dom Damián Nannini, Argentina. 


SEXTO DOMINGO DURANTE EL AÑO CICLO "A"


Primera lectura (Eclo 15,15-20)

Hubiera sido conveniente comenzar este texto por el versículo 15,14 pues allí dice: "El hizo al hombre en el principio y lo dejó librado a su propio albedrío". Se refiere a Dios quien ha creado al hombre libre desde el principio; y lo que sigue son las consecuencias de esta libertad del hombre y su relación con la voluntad de Dios manifestada en sus mandamientos. Así, en 15,15 comienza afirmando que es posible al hombre cumplir los mandamientos y agradar a Dios. En efecto, para el autor del libro Dios ha creado al hombre libre, es decir, con capacidad de elegir "entre el fuego y el agua, entre la vida y la muerte". Esta enseñanza, presente ya en otros libros del Antiguo Testamento anteriores, se conoce como el tema de "los dos caminos" que Dios pone frente al hombre para que opte (Cf. Dt 30,15-20; Jr 21,8; Prov 2,8-9; 12-20). Ahora bien, esta libertad conlleva la responsabilidad, o sea asumir las consecuencias de las propias elecciones, pues cada hombre dará cuenta al Señor de las mismas. Dios es sabio y poderoso, nada escapa a su mirada que todo lo ve, por lo que será un justo juez de las acciones del hombre. El sabio termina refutando a quienes quieren excusarse del propio mal cometido acusando a Dios de orientarlos al mal. Esto ya lo había dicho unos versículos antes de nuestro texto; y todo el párrafo es una refutación de esta falacia: "No digas: "Fue el Señor el que me hizo claudicar", porque él no hace nunca lo que detesta. No digas: "El me hizo extraviar", porque él no necesita de un hombre pecador" (15,11-12).


Segunda lectura (1Cor 2,6-10)


San Pablo, después de demostrar la necedad de la sabiduría humana ante la sabiduría de la cruz, busca aquí probar la existencia de una verdadera sabiduría cristiana en el anuncio apostólico, pero remarcando que la misma es de orden divino y fruto exclusivo del Espíritu de Dios. Esta sabiduría divina sólo puede comprenderla el "hombre espiritual" mientras que para el "hombre psíquico", o sea según sus capacidades naturales, es locura y permanece cerrado a la misma. 

La argumentación teológica paulina se centra ahora más en lo pneumatológico (la raíz pneuma* - espíritu - aparece 12 veces en 2,10-15), y su lógica es perfecta: lo humano o propio del hombre sólo puede conocerlo el espíritu del hombre; lo divino o propio de Dios sólo pude conocerlo el Espíritu de Dios. Existen, por tanto, dos órdenes válidos en sí mismos, pero de distinto nivel; y el nivel inferior, el humano, no tiene acceso al conocimiento del nivel superior, el divino. 

Al final el v. 10 declara la necesidad de la revelación por medio del Espíritu de Dios para conocer al mismo Dios y sus obras. 


Evangelio (Mt 5, 17-37)


En esta sección del Sermón del monte debemos distinguir entre los versículos 17-20 que son una introducción a las normas particulares; y los versículos 21-48 que contienen las normas particulares referidas a la relación con el prójimo. De esta segunda parte hoy leeremos los versículos 21-37 mientras que los versículos 38-48 los leeremos el domingo próximo.

Los versículos 17-20 nos presentan, por una parte, el valor que tienen "la ley y los profetas" para Jesús y, al mismo tiempo, nos dan la clave para interpretar la novedad que Jesús trae con la llegada del Reino. Así, el versículo 17 es una declaración de principio con respecto a las antítesis o antinomias que seguirán (5,21-47) en base a la categoría de cumplimiento. Notemos que el verbo plhro,w (plerów) aparece 16 veces en Mateo; de las cuales 12 se refieren a las citas del AT que encuentran su cumplimiento en el acontecimiento Jesús. Este procedimiento derásico en Mateo tiene como punto de apoyo o eje el acontecimiento-Jesús, desde el cual relee el AT. Por tanto, este cumplimiento no es por sustitución, abrogación o anulación de lo anterior, sino al contrario, por plenitud de sentido, por “llenado total”. Vale decir que la ley y los profetas estarán vigentes, con su sentido pleno, en las enseñanzas de Jesús. Y esta es justamente la misión de Jesús (“he venido”) como Maestro: revelar el sentido pleno de la Escritura. Recientemente M. Grilli, después de un profundo análisis de este versículo, concluye afirmando que “Jesús ha revelado el sentido definitivo del Antiguo Testamento; Jesús cumple la ley antigua en cuanto él es el intérprete autorizado”.

Por si quedase alguna duda de la vigencia de la Ley, los versículos 18-19 son una exhortación a su detallada observancia; pero sin olvidar que en el versículo 19 se refiere ya a la voluntad de Dios en sentido pleno transmitida por Cristo y que Mateo expondrá a continuación. Este desplazamiento hacia la novedad cristiana viene reforzado por el v. 20 utilizando ahora el término justicia (dikaiosu,nh) que en Mateo significa la voluntad de Dios, e invitando a superar o sobreabundar en el cumplimiento de la misma el obrar de los escribas y fariseos (cf. Mt 6,1-18). 

En efecto, en 5,20 se anuncia una justicia que debe ser superior en comparación con la de escribas y fariseos, y que es condición de ingreso en el Reino de los cielos. Esta "justicia superior" viene a continuación concretizada o ejemplificada con las antítesis (5,21-48). Según este contexto inmediato podemos decir que en 5,20 la justicia consiste en obrar según las exigencias de Jesús que suponen un "plus" (plei/on) en relación a la justicia de los escribas y fariseos, una mayor exigencia en la interpretación y consecuente cumplimiento de la ley. Este plus se entiende por la relación con 5,17-19 en sentido cuantitativo. Pero al ver las ejemplificaciones en 5,21-48 se deduce también el aspecto cualitativo. No se trata, por tanto, de multiplicar los preceptos sino de interpretarlos radicalmente y de vivirlos de manera integral. Esta idea de totalidad viene reafirmada en 5,48 que cierra la subsección con la expresión te,leioi con su sentido de “perfectos”, de algo completo y que no carece de nada. Se trata, por tanto, de vivir una justicia perfecta, completa, sin otro límite que la perfección divina. J. Lambrecht, después de estudiar Mt 5,17-48, propone correctamente una triple dimensión de la "justicia": "La justicia más grande en la que piensa Jesús engloba toda la persona entera; tiene su centro de gravedad en el amor; la perfección de Dios es su modelo". 

Podemos concluir con Sánchez Navarro que "en su conjunto estos versículos introducen la parte central de la EM (Enseñanza de la Montaña: 5,21-7,11), de la cual constituyen el criterio hermenéutico fundamental".


La sección de 5,21-48 tiene una estructura clara: son seis antítesis o superaciones presentadas en dos grupos de tres (5,21-32 y 5,33-47). Las seis comienzan con una fórmula semejante: "Ustedes han oído que se dijo" (5,21.17.31.33.38.43) dónde el "se dijo o fue dicho" es un pasivo teológico y, por tanto, debe entenderse como "Dios dijo". De hecho, sigue una cita (literal o libre) de la Escritura como Palabra de Dios que ha sido escuchada por el pueblo, en una posible referencia a la lectura litúrgica sinagogal de la misma.

Las tres primeras están relacionadas con mandamientos del decálogo (homicidio y adulterio) mientras que las otras tres remiten a mandamientos presentes en la Torá, pero fuera del decálogo. A su vez puede aceptarse una cierta progresión ética por cuanto se parte de la prohibición del homicidio para llegar al amor a los enemigos.

La primera antítesis remite como cita escriturística al quinto mandamiento del decálogo: "No matarás" (Ex 20,13; Dt 5,17). Con esta prohibición apodíctica se expresa el respecto absoluto que merece la vida humana. En otros textos se añade el castigo correspondiente a un pecado tan grave (cf. Ex 21,12-14: pena de muerte o reclusión si faltó intención). Jesús, sin especificar el castigo, dice que el culpable debe ser juzgado, debe ser llevado a juicio.

Jesús con su "pero yo les digo" se coloca al mismo nivel que Dios en el Sinaí y profundiza esta prohibición extendiéndola al enojo y al insulto o agresión verbal al prójimo. Vale decir que en la interpretación que hace Jesús se quebranta el mandamiento no sólo con la muerte física sino con la agresión verbal. En 5,22 se presenta un principio general y dos casos que ejemplifican esta interpretación más radicalizada del mandamiento "no matarás". En primer lugar se habla en general del enojo aclarando que se trata aquí de una cólera injustificada por cuanto el mismo verbo (ovrgizo,mai) se utiliza, justificadamente, para expresar la "indignación o enojo" del amo o señor ante el siervo que no tuvo misericordia de su consiervo (cf. Mt 18,34); y la del rey que organizó el banquete de bodas para su hijo y le mataron a los siervos que fueron enviados para invitar al mismo (cf. Mt 22,7). Este enojo tiene como objeto "al hermano de él", o sea se enoja con "su hermano". Quien se enoja o encoleriza "debe ser llevado a juicio", expresión idéntica a la del versículo anterior. Con este paralelismo se dice que quien se enoja con su hermano debe sufrir las mismas consecuencias que quien mata a alguien. Por tanto, desde el punto de vista de las consecuencias de la acción, del castigo, se ponen en paralelo también el matar y el enojarse con el hermano.

Siguen luego los insultos como formas de agresión y de manifestación externa del enojo. El primero es raká, que sería un insulto en cierto modo leve, de origen arameo, frecuente en tiempos de Jesús y que se podría traducir por "imbécil" o "cabeza hueca". El segundo es mōré, al parecer un insulto griego corriente que algunos traducen por "renegado" y otros por "idiota". Al igual que con el enojo, estos insultos serían injustificados o gratuitos por cuanto Jesús utiliza algunos más fuertes para referirse a los fariseos, como ser hipócritas, guías ciegos, raza de víboras (cf. Mt 23). También aquí se especifica que los insultos son dirigidos contra "el hermano de él, su hermano". En cuanto al juicio, presenta dos instancias: la comunitaria (sanedrín) y la escatológica (gehenna del fuego).

Los versículos 23-24, iniciados con un "por tanto", son la consecuencia práctica de lo anterior. Si se ofendió al hermano ("tu hermano"), hay que reconciliarse. No pueden agradar a Dios nuestras ofrendas y dones si un hermano tiene un motivo justificado de queja contra nosotros. La comunión entre hermanos da valor y validez a la ofrenda hecha a Dios. 

Los versículos 25-26 refuerzan la motivación de la reconciliación y exhortan a su prontitud, a hacerlo cuanto antes. Pero notemos que no habla de "hermano" sino de adversario o enemigo. Por 5,26 se deduce que es alguien a quien se le debe algo, con quien se está en deuda.

¿Cuál es el alcance del concepto "hermano" en estos textos? Por de pronto es alguien con quien se comparte la vida, alguien cercano. También, al parecer, es alguien con quien se comparte la celebración cultual. Todo esto, más el contexto inmediato del Sermón del Monte y el contexto mayor del evangelio de Mateo, nos llevaría a interpretar que "hermano" se refiere principalmente al miembro de la comunidad cristiana. Es decir, estas normas están dirigidas primariamente a quienes han aceptado el reinado de Dios, su paternidad, ofrecida y hecha presente por Jesús y de este modo se han incorporado a una nueva familia, son hermanos de Jesús y hermanos entre sí.

En síntesis, el sentido de esta primera antítesis (5,21-26) es que el Padre, sabiendo que sus hijos, los hermanos, se pueden enojar y pelear, los exhorta bajo amenaza a evitar toda agresión; y dado el caso de una ofensa ya hecha, los invita a la reconciliación. Por ello los que buscan la paz, fruto de la reconciliación, obrarán según el modelo de perfección del Padre y serán considerados sus hijos (cf. Mt 5,9).

La segunda antítesis (5,27-30) se refiere al sexto y noveno mandamiento del decálogo: "no cometerás adulterio" (Ex 20,14; Dt 5,18) y "no desearás la mujer de tu prójimo" (Ex 20,17; Dt 5,21). Los adúlteros estaban penados con la muerte según Lv 20,10. Para Jesús el matrimonio no se quebranta sólo con el acto de adulterio, sino ya con el deseo voluntario de hacerlo, simbolizado con la mirada. Mirar a una mujer casada deseándola implica la intención de realizar la acción adúltera y es juzgado por Jesús como un hecho consumado. Al igual que en el caso anterior, el mandamiento es radicalizado. Le siguen dos consejos prácticos que exhortan a evitar firmemente toda ocasión de pecado, con la motivación de la condenación escatológica (ser arrojado a la Gehena).

La tercera antítesis (5,31-32) se refiere al divorcio remitiéndose a la permisión del acta de repudio que estableció Moisés según Dt 24,1-4. En este caso Jesús contradice la enseñanza de Moisés y la interpretación común de los rabinos que basándose en Dt 24,1-4 permitían por cualquier motivo el divorcio. Para Jesús, tanto la mujer divorciada que contrae nuevo matrimonio como el que se casa con una divorciada, cometen adulterio. Sobre este tema volverá más adelante (cf. Mt 19,3-9) fundamentando con Gn 1,27 y 2,24 la indisolubilidad del matrimonio y condenando como adulterio que un hombre se separe de su mujer y se case con otra.

La segunda y la tercera antítesis están íntimamente vinculadas entre sí al referirse a dos formas de adulterio: el del corazón por el deseo y el que sigue al divorcio. Al buscar el modelo de perfección divina en el sexto mandamiento no se trata de una renuncia a la realidad corporal para alcanzar la condición de espíritu puro que escapa a nuestra naturaleza humana. Se trata de una fidelidad inquebrantable a un ser humano querido. De esto Dios Padre puede ser el modelo más perfecto por su permanente fidelidad a la alianza con su pueblo. Además, esta fidelidad Divina se ha visto reforzada en la nueva Alianza sellada con la sangre de su Hijo (cf. Mt 26,27-28). 


La cuarta antítesis remite a la prohibición de jurar falsamente de Lv 19,12. En contraposición, Jesús prohíbe radical y absolutamente todo juramento y exige una veracidad incondicional en el hablar (cf. Mt 5,33-37). En el AT el juramento era un medio lícito para garantizar la veracidad de las palabras humanas al poner a Dios como testigo incorruptible y exento de error. La cuarta antítesis no niega tanto esta práctica como su vanalización, incluso utilizando términos sustitutivos de Dios como serían el cielo, la tierra o Jerusalén. Sobre esto mismo Jesús es más explícito en Mt 23,16-22. Y lo mismo vale para el jurar sobre uno mismo ya que no somos nuestros dueños absolutos. Hay detrás de esto una manipulación y profanación de lo sagrado.

En lo que sigue Jesús invita a una sinceridad tal en el hablar que no haga necesario el recurso al juramento. Por tanto, con la llegada del Reino de Dios, los que vivan en él y según él deben subordinar a Dios el modo cotidiano de expresarse y las relaciones corrientes de los hombres. Vivir en la verdad significa participar de la verdad de Dios o, en otros términos, ser y vivir como hijos de Dios, el Padre veraz.



Algunas reflexiones:

Al igual que para el domingo pasado, es importante recordar los evangelios ya leídos anteriormente para no malinterpretar las "exigencias del Reino". 

En primer lugar, Jesús anunció la llegada del Reino de Dios, de su soberanía. 

En segundo lugar, el Reino de Dios trae una promesa de felicidad eterna, que ya pueden anticiparla en este mundo los pobres de espíritu, los pacientes…

En tercer lugar, Jesús insiste en que este Reino, su vida, sus valores, su mensaje, son para vivirlos y transmitirlos pues mediante su vivencia nos volvemos sal de la tierra y luz del mundo. 

Ahora, en cuarto lugar, siguen las exigencias concretas que debemos vivir los que aceptamos la soberanía de Dios en nuestras vidas. En efecto, en el evangelio de Mateo la misión del Hijo Jesús es darnos a conocer, con sus palabras y con su vida, la voluntad del Padre, es decir las normas de vida que el Padre establece para sus hijos. Por esto se presenta a Dios como un Padre que quiere poner orden en las relaciones recíprocas de sus hijos, devenidos en hermanos. Pero estas nuevas exigencias, más radicales y más interiores, podrán vivirse mediante la acción de la Gracia de Dios en nuestras vidas. Dios, en Cristo, nos comunica su amor y este amor se manifiesta en un nuevo modo de vincularse entre los hermanos y entre los esposos. Desde esta perspectiva teológica debemos leer las antítesis o superaciones del evangelio de este domingo.

Esto nos previene contra una lectura sólo moralizante o voluntarista de las normas del Sermón del Monte. En esta postura se interpretan estas exigencias sólo como Ley o, más bien, como nueva Ley al verla en relación con la Torá veterotestamentaria y se considera al Sermón del Monte (SM) primeramente como una ética de obediencia en continuidad con la ética del Antiguo Testamento donde el sentido es: ‘obedece, cumple los mandamientos y vivirás’. La primera lectura refleja esta ética basada en la libertad y responsabilidad personal.

No podemos negar que Jesús al comienzo (5,17-20) insiste claramente en el cumplimiento y observancia de estas normas. Por tanto, rescatamos el valor de los mandamientos como manifestación de la voluntad de Dios y la exigencia de cumplirlos que pide Jesús en el evangelio; pero notamos que la verdadera novedad de la "ley del Reino" no está tanto en su radicalidad o integralidad, sino en el espíritu con que se ha de cumplir. 

Al respecto, S. Pinckaers dice que para S. Tomás la diferencia entre la Ley de Moisés y el Sermón de la Montaña no reside en el texto ya que la ley nueva consiste principalmente en la acción directa del Espíritu Santo en el corazón de los fieles por medio de la fe y de la caridad. Citemos las mismas palabras del doctor angélico: “Lo principal en la Ley del Nuevo Testamento y en lo que está toda su virtud es la gracia del Espíritu Santo, que se da por la fe en Cristo” (ST I-II, q. 106, a. 1). Por tanto, se desplaza el acento de lo exterior al interior, del yo libre del hombre a la acción del Espíritu Santo. En este sentido interpreta a Sto. Tomás V. M. Fernández: “Tomás no niega que en el Nuevo Testamento pueda haber leyes o normas de conducta. Pero incluso las leyes tan nobles del mismo Evangelio de Cristo no dejan de ser “letra que mata”, preceptos exteriores que no dan vida, y que sólo “secundariamente” forman parte de la ley nueva (ST I-II, 106,1). Tomás, fiel al pensamiento paulino, quiere mostrar que la principal novedad de la ley del Nuevo Testamento no está en que contenga preceptos más nobles, sino en la gracia del Espíritu Santo, ya que incluso lo que nos manda el Evangelio es incapaz de justificarnos como ley exterior, y sin la gracia también el Evangelio nos llevaría a la muerte (y remite a ST I-II, 106,2)”.

En general, los autores católicos actuales siguen también esta interpretación integradora, pues manteniendo el valor de la Ley Antigua, reconocen la "justicia superior" propia del Evangelio de Jesús al mismo tiempo que la necesidad de la Gracia para cumplirla. 

Esta es también la enseñanza del Catecismo de la Iglesia Católica:

Nº 1966: La Ley nueva es la gracia del Espíritu Santo dada a los fieles mediante la fe en Cristo. Actúa por la caridad, utiliza el Sermón del Señor para enseñarnos lo que hay que hacer, y los sacramentos para comunicarnos la gracia de realizarlo.

Nº 1972: La Ley nueva es llamada ley de amor, porque hace obrar por el amor que infunde el Espíritu Santo más que por el temor; ley de gracia, porque confiere la fuerza de la gracia para obrar mediante la fe y los sacramentos; ley de libertad (cf. St 1,25; 2,12), porque nos libera de las observancias rituales y jurídicas de la Ley antigua, nos inclina a obrar espontáneamente bajo el impulso de la caridad y nos hace pasar de la condición del siervo ‘que ignora lo que hace su señor’, a la de amigo de Cristo, ‘porque todo lo que he oído a mi Padre os lo he dado a conocer’ (Jn 15, 15), o también a la condición de hijo heredero (cf. Gal 4,1-7.21-31; Rm 8,15).

Por tanto, la nueva ley es "ley de amor, ley de gracia y ley de libertad", según el Catecismo.

Supuesto esto, hay que tomar muy en serio las exigencias de Jesús. Más aún, su vivencia será para nosotros un indicativo o un termómetro de nuestra aceptación del Reinado de Dios, de Su obra en nuestras vidas. Si todavía nos domina la ira, el enojo, la agresión a los demás y la falta de reconciliación es porque Jesús no ha llegado a ser todavía el Señor de nuestra vida y su Amor no llena todo nuestro corazón. Siempre sentiremos primeros movimientos de ira y de enojo porque "hay en mis miembros otra ley que lucha contra la ley de mi razón y me ata a la ley del pecado que está en mis miembros" (Rom 7,23). Pero "¡Gracias a Dios, por Jesucristo, nuestro Señor! […] la ley del Espíritu, que da la Vida, me libró, en Cristo Jesús, de la ley del pecado y de la muerte" (Rom 7,25; 8,2).

El Papa Francisco comentaba este evangelio afirmando que “Jesús propone a los que siguen la perfección del amor: un amor cuya única medida es no tener medida, ir más allá de todo cálculo. El amor al prójimo es una actitud tan fundamental que Jesús llega a afirmar que nuestra relación con Dios no puede ser sincera si no queremos hacer la paz con el prójimo. Y dice así: “Por lo tanto, si al presentar tu ofrenda en el altar, te acuerdas de que tu hermano tiene alguna queja contra ti, deja tu ofrenda ante el altar, y ve antes a reconciliarte con tu hermano”. (vv. 23-24). Por esto estamos llamados a reconciliarnos con nuestros hermanos antes de mostrar nuestra devoción al Señor en la oración. De todo esto queda claro que Jesús no da importancia sólo a la observancia disciplinar y a la conducta externa. Él va a la raíz de la Ley, centrándose especialmente en la intención y por tanto en el corazón humano, donde se originan nuestras acciones buenas o malas. Para obtener un comportamiento bueno y honesto no son suficientes las normas jurídicas, sino que son necesarias motivaciones profundas, expresión de una sabiduría oculta, la Sabiduría de Dios, que se pueden recibir gracias al Espíritu Santo. Y nosotros, a través de la fe en Cristo, podemos abrirnos a la acción del Espíritu, que nos permite vivir el amor divino. A la luz de esta enseñanza, todos los mandamientos revelan su pleno significado como una exigencia de amor, y todos se reúnen en el gran mandamiento: amar a Dios con todo tu corazón y al prójimo como a ti mismo” (Ángelus del 16 de febrero de 2014).

Y lo mismo podemos decir de la vivencia de la fidelidad matrimonial, que incluye también no dejarse dominar por los deseos desordenados de nuestro corazón hacia la mujer del prójimo. Y esto gracias a la acción del Espíritu Santo en los esposos, que han recibido en el Sacramento.

Y también si miramos nuestro hablar, si es directo y veraz; o engañoso e inseguro al punto de necesitar ser refrendado por un juramento.


Propuesta más breve para la homilía:


El evangelio que leemos hoy comienza con una clara exhortación de Jesús a cumplir con los mandamientos de la Ley de Dios, incluso con los más pequeños. En esto no hay vuelta que darle pues nos dice que Él mismo vino a cumplir, esto es, a llevar a su plenitud los mandamientos de Dios. No se trata, por tanto, de una utopía o de algo imposible, sino que se trata de llevarlos a la vida, de vivirlos. En ellos se revela la voluntad de Dios, lo que el Padre quiere que vivamos sus hijos para manifestarnos como tales y ser sal de la tierra y luz del mundo. Es importante no perder de vista esto: la "justicia" que hay que practicar, los mandamientos que hay que cumplir, son ante todo la Voluntad del Padre revelada por Jesús. 

Ahora bien, nuestra "justicia", nuestro cumplimiento de estos mandamientos, debe ser superior a la de los escribas y fariseos. ¿Y cómo cumplían los mandamientos estos personajes? Lo hacían sólo exteriormente, apegados a la letra de los mismos, movidos por la búsqueda orgullosa de su perfección personal para ser aprobados por los demás. Jesús nos pide "superar" este modo de cumplimiento, lo que implica la adhesión del corazón a lo que el Padre nos pide, realizando el espíritu que da sentido a la letra de los mandamientos, dejando obrar al Espíritu Santo en nosotros y buscando agradar al Padre que ve y está en lo secreto. 

En concreto, ¿qué nos pide Jesús que vivamos para cumplir la voluntad del Padre?

⇒ El Señor nos manda amar al hermano, al miembro de mi familia y de mi comunidad, con un amor delicado, que no se irrita ni ofende, que busca siempre la reconciliación y la paz. 

⇒ El Señor manda a los esposos amarse con un amor fiel e íntegro, sin fisuras ni engaños, ni en la realidad ni en los deseos. 

⇒ El Señor nos manda ser veraces e íntegros en nuestro hablar; que nuestra vida honesta sea el mejor garante de nuestras palabras y que esté lejos de nosotros toda falsedad o conveniencia.


Si cumplir esto nos parece demasiado exigente e imposible de vivir estamos en la buena senda, pero no la abandonemos sino pidamos al Espíritu Santo el don de la Sabiduría divina. Como dice san Pablo, sólo el Espíritu Santo puede hacernos participar de la mente de Cristo y reconocer en esta exigencia de un amor delicado, fiel y veraz, la verdadera Sabiduría Divina. Y una vez recibido este don de sabiduría para comprender y aceptar, pidamos también "la gracia del Espíritu de Amor para poder cumplir libremente la ley de Dios". En efecto, Jesús nos presenta una nueva ley cuya novedad no está tanto en la letra como en el Espíritu Santo que nos ayuda a vivirla. Esta nueva ley es "ley de amor, ley de gracia y ley de libertad", según el Catecismo. Por eso sólo "el Espíritu que es Amor" puede llenar nuestros corazones, transformar nuestras pasiones, para amar con un amor delicado, fiel y veraz.

¿Qué sentimientos nos provoca este evangelio? Me parece que en primer lugar despierta en nosotros un sentimiento de culpa. ¿Quién no se enojó o agredió o insultó alguna vez a alguien? ¿Quién no miró alguna vez con mal deseo a otra persona? ¿Quién no ha dicho medias verdades o mentiras, desde las chicas para zafar hasta las otras? Me parece importante no quedarse sólo en este sentimiento de culpa, que por sí solo es infecundo, sino ir más allá, al encuentro del amor misericordioso del Padre donde alcanzaremos una serena aceptación de nuestra condición de pecadores. Con sano realismo tenemos que reconocer que no podemos, por nosotros mismos, amar siempre como nos pide Jesús con un amor delicado, fiel y veraz. Podemos dar un paso más y hacer nuestra la oración de San Agustín: "Señor pídeme lo que quieras, pero dame lo que me pides".

En conclusión, “Jesús es consciente de que no es fácil vivir los mandamientos de una manera tan completa. Por eso nos ofrece la ayuda de su amor: vino al mundo no sólo para cumplir la Ley, sino también para darnos su gracia, para que podamos realizar la voluntad de Dios, amándolo a Él y a nuestros hermanos y hermanas. ¡Todo, todo lo podemos hacer con la gracia de Dios! Así, la santidad no es otra cosa que guardar esta gratitud que Dios nos ha dado, esta gracia. Se trata de confiar y encomendarse a Él, a su Gracia, a esa gratitud que nos ha dado y coger la mano que nos tiende constantemente, para que nuestros esfuerzos y nuestro compromiso necesario puedan ser sostenidos por su ayuda, llena de bondad y misericordia. Hoy Jesús nos pide que avancemos en el camino del amor que nos ha indicado y que comienza en el corazón. Éste es el camino que hay que seguir para vivir como cristianos, (Papa Francisco, ángelus del 16 de febrero de 2020).




PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Expresión del ser cristianos


Ven Señor, no tardes

Tu Promesa en nosotros se encarne

Y nos guarde en tus Misterios hasta el fin


¿Con qué fuerza daremos cumplimiento?

Sin Amor, qué más da

No cabe ningún mandamiento


Porque de ti mismo 

Luz del mundo, vienen nuevos decretos

Y se nos cambia la mirada


¿Cuál será nuestra ofrenda

En el día del Señor

Presencia real y manifiesta?


Sobre el altar quedará nuestro pesar

Pero también la verdad

De tantas deudas


Concédenos dejar en él  

La paz y la alegría de obedecer por saberte allí

En el próximo, en el débil. Y servir…


Tu Palabra nos habite con su dulzura

Y se engendre en el diálogo:

La expresión del ser cristianos

 

Semejantes a ti, cercanos

Imágenes del Padre, del Hijo

Y del Espíritu Santo. Amén.