BIOGRAFIA DE C. DE FOUCAULD

1. CHARLES DE FOUCAULD INTERPELA

A VIDA RELIGIOSA, HOJE

Frater Henrique Cristiano José Matos, cmm, irmão leigo,

e-mail: fraterhc@terra.com.br

Introdução

A beatificação de Charles de Foucauld, a 13 de novembro de 2005, ofereceu uma oportunidade singular para que conhecêssemos mais de perto a pessoa e a herança espiritual desse “profeta do deserto”.Trata-se de um santo diferente, alguém que não se deixa amoldar a uma hagiografia convencional. Sua vida foi uma grande aventura e apresenta um trajeto descontínuo e imprevisível. Sua personalidade, sob muitos aspectos, parece contraditória. Qual seria o segredo da atração que ele exerce, ainda hoje, sobre tantas pessoas, dentro e fora da Igreja?

Quando este incansável procurador do Absoluto encontra o “tesouro da sua vida”, entrega-se com impressionante radicalidade ao “único necessário”, ao Deus do Amor. “Não escolhemos nossa vocação, nós a recebemos — escreveu um dia — e devemos procurar conhecê-la, procurar ouvir a voz de Deus e perscrutar os sinais de sua vontade”.

Sua profunda comunhão com Deus — através de Jesus de Nazaré, seu bem- amado Irmão e Senhor — o conduz a uma incondicional solidariedade com os outros, seus irmãos, particularmente com “os últimos” da sociedade.

Charles de Foucauld (1858-1916) marcou a Igreja e,dentro dela, a Vida Religiosa de nosso tempo. Sua pessoa e obra suscitam admiração e respeito e muitos reconhecem a atualidade de sua mensagem, caracterizada pela simplicidade evangélica, pelo valor imprescindível do transcendente, pela fidelidade àqueles que a sociedade marginaliza ou despreza, e pela abertura ao diálogo com o diferente. Desenvolveremos o presente artigo 3 em três partes. Na primeira, traçamos, em linhas globais, a vida de Foucauld , moldura indispensável para entendermos sua contribuição específica ao cristianismo hodierno. Na segunda parte analisamos os elementos centrais de sua espiritualidade e procuramos situar a originalidade de seu carisma. Na terceira parte do texto veremos a atualidade de sua mensagem para a Igreja e a Vida Consagrada de nossos dias.

02- BUSCA DO SENTIDO EXISTENCIAL


A vida de Charles de Foucauld não foi um caminho retamente traçado, mas um itinerário tumultuado e sinuoso. É a trajetória de um homem inquieto, sempre em busca do sentido existencial. Talvez por causa disso seu testemunho atraia tantas pessoas, hoje! Charles-Eugène de Foucauld nasce em Estrasburgo, a 15 de setembro de 1858, exatamente no ano das aparições de Nossa Senhora em Lourdes, na França. Seus pais são Francisco Eduardo, Visconde de Foucauld de Pontbriand e Isabel de Morlet. Aos seis anos de idade fica órfão, acontecimento que marcará toda a sua vida. Torna-se uma criança fechada que não gosta de barulho e é muito sensível.

Com sua irmã Maria — três anos mais nova que ele — foi carinhosamente educado pelo avô materno, um coronel reformado do exército francês. Sua juventude decorre num ambiente de revolta e insatisfação. Sente um tremendo vazio em sua vida. Dotado de uma boa inteligência, freqüenta escolas de alto nível, mas mostra-se um indisciplinado que não suporta um regime de estudos metódicos. Torna-se, igualmente, um cético em termos religiosos. Embora criado num ambiente profundamente cristão, deixa de lado a fé de sua infância que lhe parece irracional. Durante doze anos ficará neste agnosticismo, aliás, bastante comum entre as elites intelectuais na França de seus dias. Por influência de seu avô, consegue entrar na escola militar preparatória de Saint-Cyr, em Paris, mas não leva a sério seus estudos.

Na escola de cavalaria em Saumur será classificado no penúltimo lugar! Com a morte do avô (1878) herda uma considerável fortuna, que lhe possibilita levar uma vida de prazeres. Em outubro de 1880, o agora tenente Foucauld parte para a Argélia, então colônia francesa, no norte da África, a fim de servir no 4º Regimento de Caçadores. Acompanha-o a jovem Mimi, uma mulher pela qual se apaixonou.


Na África recomeçam as farras e a conseqüência é sua sumária demissão do exército “por indisciplina e notório mau procedimento” (março 1881). Volta à França, mas, tomando conhecimento que seu regimento foi convocado para combater uma insurreição, pede reintegração nas tropas na qualidade de simples soldado.

Para surpresa de todos, mostra-se um militar valente e infatigável. Mas, no fundo, o serviço militar não o atrai e, após oito meses, ele mesmo pede demissão (fevereiro 1882). Começa a preparar-se para ser explorador, numa região então inacessível aos europeus: o Marrocos. “Quis fazer da própria vida uma aventura solitária, fora das arregimentações das tutelas administrativas ou institucionais”5 .


Durante 18 meses dedica-se ao estudo do árabe e aprende o manejo de instrumentos científicos necessários na exploração, além de obter conhecimentos de etnologia, geografia, astronomia e cartografia.


Finalmente, disfarçado como rabino judeu — com o nome de Joseph Aleman, supostamente nascido na Rússia — entra no Marrocos, acompanhado por Mardoqueu, um rabino de verdade. Um ano inteiro os dois viajam pelo país (junho 1883 a junho 1884), quando Foucauld faz um precioso registro de suas descobertas.


Ele, o incrédulo, é profundamente tocado pelas vigorosas demonstrações de fé da população muçulmana. Impressiona-o a seriedade dos gestos de adoração da transcendência divina, causando nele uma inquietação e interrogação sobre a dimensão religiosa da existência. Tudo isso faz com que entreveja algo maior e mais verdadeiro do que as ocupações meramente mundanas (Carta ao amigo Henri de Castries, 8-7-1901).


Suas valiosas informações científicas resultam na concessão da “Medalha de Ouro” da Sociedade de Geografia da França (janeiro 1885). De volta a Paris, inicia a publicação de sua obra científica Reconnaissance au Marroc, editada em 1888. O reencontro com a família é caloroso, o que faz um grande bem a Charles. Sobretudo os laços afetivos com sua prima Marie de Blondy serão importantes para ele. É ela que o põe em contato com o Padre Henri Huvelin ((1838-1910), da Igreja de Santo Agostinho, na capital francesa, um sacerdote dotado de excepcionais qualidades no acompanhamento espiritual. Será o instrumento nas mãos de Deus para sua conversão, acontecida em fins de outubro de 1886.


O espírito perspicaz e profundamente evangélico de Huvelin percebe imediatamente que está diante de um homem de incomum procura da verdade. Acolhe-o amorosamente, mas também com vigor. Sabiamente conduz a impulsividade desse jovem explorador, que agora entra na exploração de seu próprio interior. Faz sentir a Foucauld que o cristianismo não é aquela religião dogmática, abstrata e alheia à vida real, que ele se imaginava, mas o encontro com um Deus de amor, na pessoa de Jesus Cristo. Uma religião toda pautada na caridade de um Deus misericordioso, próximo e presente. Como sempre acontece na sua vida, também a mudança que o encontro com Padre Huvelin provoca é radical. Referindo-se, mais tarde, à sua conversão, dirá: “Imediatamente, ao crer que havia um Deus, compreendi que não podia deixar de viver só para Ele. Minha vocação religiosa data do mesmo instante que minha fé”6 .Aconselhado por seu orientador espiritual, Charles — agora com 30 anos de idade — empreende uma peregrinação à Terra Santa, entre novembro de 1888 e fevereiro de 1889.


Passando por Nazaré, fica fascinado com a vida humilde e pobre que Jesus lá passou por trinta anos, como simples artesão. Descobre — sem se conscientizar disso, naquele momento — o “tesouro escondido” de sua vida e o núcleo de sua espiritualidade.


No fundo, confronta-se com o realismo da encarnação divina: um Deus plenamente humano, próximo e identificado com os mais simples, ocupando, de fato, o “último lugar” entre os homens.


Aceitando a proposta do Padre Huvelin, Charles de Foucauld, uma vez de volta à França, vai à procura de uma vida cristã mais comprometida. No dia 16 de janeiro de 1890, entra no mosteiro trapista de Notre-Dame-des- Neiges, no Ardèche, e recebe, junto com o hábito monástico, um novo nome: irmão Marie-Albéric. Já em junho daquele ano, estando ainda no período de seu noviciado canônico, pede transferência para o Mosteiro da Ordem em Akbés, na Síria, uma recente fundação e considerada uma das casas mais pobres dos Trapistas. Na Trapa não encontra o que desejava no mais íntimo de seu ser: uma vida conforme a pobreza e despojamento de Jesus em Nazaré. É nesse período (1893) que nascem os primeiros projetos de uma Vida Religiosa diferente, mais de acordo com a experiência do Nazareno. Apesar de suas hesitações, pronuncia os votos religiosos na Ordem Trapista.


Em outubro de 1896, parte para o Mosteiro de Staouéli, na Argélia (África), onde permanece apenas um mês. É enviado a Roma para iniciar seus estudos em preparação ao sacerdócio. No dia 23 de janeiro de 1897, a seu próprio pedido, o Geral da Ordem lhe concede a dispensa dos votos, reconhecendo que sua vocação peculiar dificilmente se enquadraria na modalidade trapista da vida consagrada. Para Foucauld, entretanto, não se trata de um abandono da Vida Religiosa, pelo contrário. Padre Huvelin sugere que volte novamente a Nazaré para discernir melhor sua vocação. Durante três anos (1897- 1900) será o serviçal das Clarissas de Nazaré. Mora num barracão, onde são guardadas as ferramentas do convento.


Na realidade, esses anos constituem um “longo retiro espiritual”, no qual elabora três quartos de seus escritos espirituais, sobretudo Meditações sobre os Evangelhos. Na região é conhecido simplesmente como Carlos, irmão leigo, e empregado das Irmãs. Passa longas horas em oração, sobretudo à noite, privilegiando a adoração eucarística. O período passado em Nazaré não é um tempo de tranqüilidade espiritual. Charles é novamente assaltado por dúvidas: qual caminho a tomar? Vacila entre projetos contrários que vão de um extremo ao outro. Se não fosse a firme orientação de Huvelin, esse homem — agora com seus 40 anos — ter-se-ia perdido completamente. Fica, no entanto, uma certeza inabalável: a vontade de imitar Jesus na sua vida em Nazaré.

Em 1899 elabora o “Regulamento para Ermitães do Sagrado Coração de Jesus”. Lentamente nasce nele o desejo de ser ordenado sacerdote. Vence interiormente as resistências, sobretudo as que dizem respeito à posição social que acarreta o ser presbítero. Vê a ordenação presbiteral na perspectiva da eucaristia: Jesus, realmente presente, que se sacrifica para que todos sejam salvos, missão da qual ele poderia participar mais diretamente como sacerdote. A 29 de setembro de 1900, Charles de Foucauld volta ao Mosteiro de Nossa Senhora das Neves, agora já não mais como monge trapista, mas como candidato ao sacerdócio. Após ter recebido as Ordens Menores, o subdiaconato e diaconato — na seqüência em vigor naquele tempo — é ordenado presbítero, em Viviers (Ardèche), a 9 de junho de 1901.


Uma vez sacerdote, já não pensa mais em voltar à Terra Santa. “Os anos passados no Oriente foram anos de preparação. Acostumara-se à vida solitária, à disciplina sem testemunhos, ao trabalho sem programa imposto. Tinha realizado a aprendizagem que lhe permitiria suportar, no futuro, provas mais duras sem desfalecimentos e com a alegria de quem obedece à sua vocação”7 .


Como presbítero independente da Diocese de Viviers, na França, recebe autorização de ir ao território colonial francês, no Norte da África. Desembarca em Argel, onde é recebido pelo Prefeito Apostólico do Saara, Dom Guérin. Estabelece-se em Beni-Abbès, um oásis no deserto, perto da fronteira do Marrocos. Seu eremitério não é um mosteiro fechado, mas uma casa aberta, uma “fraternidade”, acessível a todo tipo de pessoas, mas principalmente àqueles que eram rejeitados, “os últimos”.

Quer que sua habitação seja uma humilde Casa de Nazaré, lugar de oração e hospitalidade, inspirada na zaouia, um daqueles pequenos centros de hospedagem do Islã onde mora um “homem de Deus”, tais como conhecera na sua viagem de exploração no Marrocos. Na capelinha de seu eremitério desenha, acima do altar, uma grande figura do Coração de Jesus, de braços estendidos para estreitar todos os seres humanos, oferecendo-lhes seu amor. Todo dia recebe muitas pessoas, entre soldados, pobres, viajantes e escravos. As próprias circunstâncias o ensinam que o encontro com Deus, na oração e na eucaristia, necessariamente conduz à caridade para com o próximo.

Esses dois amores são inseparáveis, tal como Jesus os viveu durante os trinta anos que morava em Nazaré. Cresce seu zelo apostólico para que a salvação divina atinja todos os segmentos da sociedade.

Pensa particularmente no Marrocos, onde “milhões de habitantes se encontram em completo abandono”. Quer introduzir neste país o Evangelho pelo testemunho cristão, silencioso e contemplativo, o que considera sua vocação específica.

Mas este seu projeto não pôde realizar-se nos moldes em que o sonhara.

Em 1904, parte para o sul do Saara, escoltado (contra a sua vontade) por um comboio militar. Estabelece-se na região dos tuaregues, no Hoggar, após ter obtido autorização do amenokal (chefe tribal) Moussa-Ag [= filho de] Amastane. Constrói seu eremitério perto da localidade de Tamanrasset. Lá ficará durante cinco períodos, e sem ter realizado seu projeto de uma “fraternidade nazarena no deserto”. Na verdade, porém, esta morte foi como o grão de trigo, jogado no chão para poder produzir abundantes frutos. Ele mesmo o predissera num de seus escritos, que traz a data de 04 de abril de 1898: “Se o grão de trigo não morre, fica só; se morre, produz muito fruto.

Não se pode fazer o bem senão sofrendo, e para fazer muito bem é necessário sofrer muito. Para fazer muito bem às almas, é necessário morrer, por assim dizer, por meio de um intenso sofrimento”8 .

A personalidade de Charles de Foucauld não se presta a uma fácil análise. Temos diante de nós uma pessoa controvertida e contraditória sob muitos aspectos. A busca do Absoluto é, afinal, o único elo que dá uma certa consistência às suas aventuras existenciais. Seu trajeto pessoal oferece a narrativa clássica do homem à procura de Deus que, paulatinamente, aprende a despojar-se de tudo para guardar o que é realmente essencial na vida.

Foucauld era possuidor de uma privilegiada inteligência, mas sua formação é antes científica e prática do que filosófica e teológica. Por natureza é um homem radicalmente independente que alimenta grandes ambições. É teimoso e muito apegado às suas idéias, que quer realizar a todo custo.

Não se resigna facilmente diante de oposições e contratempos. Acima de tudo, defende sua liberdade e não permite que esta seja questionada. Sua vida apresenta numerosas rupturas: é um apaixonado por Jesus Cristo e quer sinceramente colocar-se em sintonia com a vontade de Deus, mas ao mesmo tempo tenta traçar seu próprio projeto de vida.

Oriundo de família nobre, decide levar uma vida escondida e simples. Desenvolve idéias grandiosas,mas continuamente é obrigado a deixá-las. É formado como militar, mas resolve ser um irmão dependente no meio do povo desprovido de tudo, deixando para trás seu status social de superioridade. Exatamente essas numerosas reviravoltas existenciais falam à imaginação de tantas pessoas que experimentam algo semelhante em suas vidas.

As rupturas proporcionaram a Charles de Foucauld, na realidade, uma grande liberdade de espírito, bem notável nos últimos doze anos de sua vida.

A característica fundamental da vida de Foucauld é precisamente esta permanente busca por aquilo que, afinal de contas, permanece. E neste itinerário ele chega a uma entrega, cada vez mais completa, a Deus e aos irmãos.

Uma tensão que o acompanha durante toda a existência é de equilibrar as duas pulsões que o movem interiormente: sua vocação de ermitão, no silêncio e na solidão, e seu abandonadas e esquecidas. São os dois apelos que dinamizam sua força interior e que, no decorrer dos anos, começam a harmonizar-se numa fascinante síntese de vida espiritual, incontido anseio de “salvar almas”, sobretudo as mais abandonadas.

03- A ESPIRITUALIDADE DE NAZARÉ


Na tradição cristã, espiritualidade indica uma forma concreta — movida pelo Espírito Santo — de se viver o Evangelho. Inclui práticas e atitudes que manifestam a experiência de Deus numa pessoa ou comunidade. O núcleo comum e indispensável para toda e qualquer autêntica espiritualidade cristã é o seguimento de Jesus, sob a direção da Igreja. Uma de suas características essenciais é viver da convicção de que a vida nos é dada gratuitamente, que dependemos uns dos outros, e que somos co-responsáveis pela obra de Deus em nós e em toda a Criação.

Charles de Foucauld desenvolve na sua vida um aspecto típico da sequela Christi — base de toda espiritualidade cristã — que pode ser denominado: “a espiritualidade de Nazaré”.


O encontro com o Jesus Nazareno Foucauld fica profundamente impressionado com o realismo da encarnação do Filho de Deus, com o mistério de Jesus histórico, que veio por amor morar no meio de nós, assumindo a condição humana como servo. Aniquilou-se a si mesmo, se esvaziou, desceu para nos salvar (cf. Fl 2,6-11). Deus, por assim dizer, quis “materializar-se”, tornarse criatura, pequeno e dependente, pobre e identificado com “os últimos.”


Desde a sua primeira estadia em Nazaré, este mistério da condescendência divina o fascina extraordinariamente. Encontrará aqui seu próprio “caminho espiritual”. Lentamente cresce nele a certeza de que é chamado a seguir este Jesus Nazareno. Para o Jesus palestinense o ser nazareno se convertera numa opção de vida. Sua longa, silenciosa, rica e sofrida experiência no povoado histórico de Nazaré deu-lhe sua identidade. “Seu ser-nazareno o fez Emanuel, isto é, Deus próximo, porque assumiu a identidade dos afastados, viveu longamente essa condição, identificou-se com ela... Será para Jesus a força reveladora da novidade inquietante de seu Pai que convoca à mais profunda fraternidade, a partir dos últimos do mundo”9 .


Nazaré se tornou para Foucauld a porta de entrada para a totalidade do mistério de Cristo, seu bem-amado Irmão e Senhor, abrindo-lhe, igualmente, a compreensão de Deus como Pai. Nazaré constitui um forte apelo para viver seu amor apaixonado por Jesus, nas circunstâncias mais ordinárias da vida.


Sem cessar fala, em suas cartas e demais escritos, sobre a centralidade da imitação de Cristo. Jesus se lhe apresenta como seu “Modelo único”: “Não concebo o amor sem uma necessidade, uma necessidade imperiosa de conformidade, de assimilação,... de partilha...”10 O meio mais simples — escreve a 13-5-1903 — para unir-se a este seu Irmão mais velho é “agir, falar, pensar sempre com Ele e como Ele, mantendo-se em sua presença e imitando- O”11 .


Configurar-se a Jesus Cristo torna-se a dinâmica espiritual de sua vida e é com este seu bem-amado Irmão que estabelece uma íntima relação de amizade. Encontra- O presente nos textos dos Evangelhos, na Eucaristia, no seu amor salvífico para com todos os seres humanos, particularmente os mais abandonados e esquecidos.


Como Jesus, busca fazer em tudo a vontade do Pai, que se manifesta nas circunstâncias concretas da vida e na direção de um guia espiritual, no seu caso particular o Padre Henri Huvelin. Discernir, ou seja, procurar a vontade divina, é um exercício central da vida cristã. Colocam-se para o seguidor de Jesus perguntas concretas, tais como:


O que me move no mais íntimo de meu ser? Estou privilegiando meus próprios interesses, ou procuro honestamente viver em prol dos outros, da causa de Deus, dos valores de seu Reino?


Buscando amorosamente seguir Jesus em Nazaré, Charles de Foucauld acentua o despojamento (abjeção) do Filho de Deus, seu “colocar-se no último lugar”.


Desenvolve uma verdadeira “mística da kénosis”: esvaziar-se a si mesmo a fim de criar espaço para Deus e para o próximo e, assim, chegar à liberdade de espírito e à verdadeira alegria interior. Numa das anotações sobre o Evangelho, no ano de sua morte (1916), escreve: “Embora por um lado tudo seja indiferente, devo preferir a abjeção à honra, o esquecimento ao fato de ser alvo de atenções, a penúria à abundância, para me assemelhar a Jesus”12 .


Ser cristiforme se traduz também em gestos e atitudes inspirados no Jesus histórico, cujo eco encontramos nos Evangelhos. Assim, Irmão Carlos dá muita importância à amizade, à bondade, à hospitalidade, à capacidade de escuta e de aconselhamento. Escreve: “Meu apostolado deve ser o apostolado da bondade. Quem me vê deve pensar: ‘Já que este homem é tão bom, sua religião deve ser boa’. Se me perguntarem por que sou dócil e bom, devo dizer: ‘Porque sou servidor de alguém muito melhor do que eu. Se vocês soubessem quão bom é meu Mestre Jesus!’ ”13 .

04- A CONTEMPLAÇÃO DE DEUS EM JESUS

Charles de Foucauld foi um autêntico contemplativo no sentido genuinamente cristão do termo. Trata-se de uma atitude existencial de abertura ao que existe de mais profundo na realidade. Indica um descer às profundezas do ser, onde se entra em comunhão com Aquele que é o sentido derradeiro de todas as coisas. Para Irmão Carlos significa simplesmente olhar para a realidade com os olhos de Deus e perceber como nela se manifesta seu Espírito de amor.

Passa longas horas em adoração silenciosa, expressando assim seu amor e amizade para com aquele que é a razão última de sua existência. E, através de Jesus, se volta ao Pai, a quem se entrega sem medida, buscando amorosamente sua Vontade.

Rezar para ele é pensar em Deus, amando-O, seguindo nisso as lições espirituais de Teresa d’Ávila. Orar proporciona-lhe um conhecimento experimental de Jesus, o que permite viver em sua intimidade e manter um contato pessoal com ele14 . Passa, igualmente, por períodos de aridez e tédio espiritual, como testemunha em um escrito de 22-10-1898: “Diante do Santíssimo não consigo mais fazer oração prolongada. Meu estado é estranho: tudo me parece vazio, oco, nulo, infinitamente, salvo manter-me aos pés de Nosso Senhor e olhar para Ele... Mas depois, quando me encontro a seus pés, fico árido, tíbio, sem palavra ou pensamento. Freqüentemente, ai de mim, acabo por adormecer...”15 .

Notável é a centralidade eucarística na sua vida espiritual. Para ele a Eucaristia é, antes de tudo, a presença real da pessoa de Cristo, agora, no meio de nós. É Jesus presente em ato salvífico. Tornou-se sacerdote para poder ministrar a eucaristia. Na sua visão, o presbítero deve desaparecer para ceder lugar à Presença viva do Senhor .


O Jesus que se doa gratuitamente na eucaristia é indissociável do Jesus presente nos pobres e abandonados.

A passagem de Mt 25,31-40, sobre “os menores dos meus irmãos”, teve uma duradoura influência sobre Charles de Foucauld. Quem participa da mesa eucarística, por coerência evangélica, deseja, ele mesmo, ser pão repartido e vinho derramado para os outros. O serviço eucarístico e o serviço aos pobres são, na mente do Irmão Carlos, duas dimensões da mesma realidade e veneração do Corpo de Cristo17 .

Durante toda a sua vida Foucauld foi um amante da solidão e do silêncio. Era uma espécie de segunda natureza que, provavelmente, tem suas raízes na primeira infância.

Essa tendência natural é sublimada na sua vocação religiosa. “O Pai celeste pronunciou uma palavra e esse Verbo era seu Filho. Ele continua a pronunciá-la, sem cessar, num silêncio eterno e é nele que a alma a ouve...” (São João da Cruz). O ambiente propício desse silêncio, repleto de presença divina, ele o encontra no deserto. É nesta realidade — que, obviamente, ultrapassa a categoria física — que o ser humano pode melhor desprender-se de si mesmo e ficar concentrado no “único necessário”.

Em 1898 escreve: “É preciso passar pelo deserto... é lá que nos esvaziamos e nos desprendemos de tudo que não seja Deus... É necessário este silêncio, este recolhimento, este esquecimento de tudo para que Deus estabeleça a vida íntima com Ele, a conversação da alma com Deus na fé, na esperança e na caridade... Mais tarde a alma produzirá frutos exatamente na mesma medida em que nela tenha sido formado o homem interior. Se não houver essa vida interior de nada servirão o zelo, boas intenções, muito trabalho, pois os frutos restarão nulos...”


Charles de Foucauld e a Fortaleza da Oração

A oração para o Bem-aventurado Charles de Foucauld: “Mais perfeita é aquela em que houver mais amor. Neste segundo sentido mais amplo, pode-se definir a oração como “a postura da alma que se põe aos pés de Deus para em silêncio olhar para ele ou o fitar enquanto fala com ele”. Tal oração será tanto melhor quanto mais amoroso for o olhar da alma, quanto mais ternura e paixão ela sentir diante do seu Deus. (...). Por mais diferentes que sejam as maneiras de orar, em silêncio, em rezas ou em cânticos, profundamente refletidas ou quase sem intervenção do pensamento, o que lhes confere valor é o amor com que se fazem. A todas elas sem exceção se aplica o princípio eternamente verdadeiro, que a melhor oração é aquela em que há mais amor, e que a oração será tanto melhor quanto mais amorosa for”. (...). “Quanto mais se ama, melhor se reza”.

Para esse eremita do Deserto do Saara a oração é um abandono radical no Absoluto. Uma entrega sem volta, uma doação de extrema confiança, uma aliança eterna.

Sua experiência de monge trapista, com as Clarisses em Nazaré e no deserto do Norte da África, tem na alma o silêncio, a meditação, a contemplação e a mística abissal. Deixa um legado de ser digno à imitação na Espiritualidade de Nazaré.

A centralidade de sua vida é adorar o bom Deus em suas vigílias Eucarísticas: “A Eucaristia é Deus conosco, é Deus em nós, é Deus que se dá perenemente a nós, para amar, adorar, abraçar e possuir”, disse Foucauld.

Esse é O apóstolo dos Tuaregues, Irmão universal, missionário ecumênico em Tamanrasset com os Tuaregues do Hoggar argelino. Ele tomado de fé e amor realizou um trabalho formidável de inculturação, primeiramente, traduzindo em tuaregues os Evangelhos e, no sentido inverso, traduzindo poesias tuaregues para o francês. Ele é autor de um dicionário francês-tuaregues e tuaregues-francês, de uma gramática e de várias obras sobre esta tribo nômade. Este era o seu desejo: “Eu quero ser bom o suficiente para que digam: “Se tal for o servidor, como então será o Mestre?”.

Charles de Foucauld é reconhecido como “Irmão universal” porque abrangeu o mundo todo e todos os povos, a partir da intensidade da presença entre os tuaregues. A universalidade têm duas vertentes: uma é representada pela potencialidade e a intensidade da presença e a outra pela extensão e abertura até os confins da terra.

Em 1909 ele deu início a União de Irmãos e Irmãs do Sagrado Coração a fim de levar a fé à África. Nos onze anos em que viveu com os tuaregues se tornou um com eles, sem medir esforços, com a alegria de saber que assim cumpriria fielmente a missão para a qual ele sentiu-se chamado por Cristo. Ele amou aquele povo até o fim e ali entregou a sua vida. No dia 01 de dezembro de 1916 uma bala no meio de uma emboscada de bereberés deu fim a este grande apóstolo e eremita. Esse fato foi a coroação ínclita de sua obra em prol do seu semelhante.

Na escola da espiritualidade de Charles de Foucauld, nós aprendemos a pedagogia da oração de ficar no último lugar com Deus em profunda comunhão orante. “Gritar o Evangelho com a própria vida”, significa: “proclamar o testemunho cujo fundamento é a vida de oração”.

O irmão Charles de Foucauld cozeu um coração vermelho no seu hábito branco, revelando-se completamente de como aquele coração era amor e oração. O Coração de Jesus é o seu coração e nessa simbiose o sangue corre via a caridade, missionaridade, esperança e a vida na fortaleza da oração. De forma esplêndida e sagrada, os tuaregues começarão a chamá-lo de “marabuto branco”, isto é, o homem da oração e o homem de Deus.

Frei Inácio José do Vale, FCF

Sociólogo em Ciência da Religião

Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná

Fraternidade Sacerdotal JesusCáritas

Bem-aventurado Charles de Foucauld

Fontes:

FOUCAULD, Charles de. Meditações sobre o evangelho. Tradução de Nuno de Bragança. Lisboa: Círculo do Humanismo Cristão, 1962.

FOUCAULD, Carlos de. Obras Espirituales, Antologia de Textos, Madrid, San Pablo: 1998.

Lafon, Michel, 15 dias de oração com Charles de Foucauld. 2 edições. São Paulo: Paulinos, 2011.

05- A PRESENÇA MISSIONÁRIA

O Foucauld contemplativo é ao mesmo tempo o “eremita-missionário”. O amor incondicional por Jesus leva o a compartilhar a obra redentora de Jesus: anunciar a todos, sem exceção, a boa-nova da salvação. Numa meditação sobre o texto de Lc 11,21 diz: “Se queremos imitar Jesus, como é nosso dever, a primeira coisa a fazer é trabalhar na salvação dos homens como sendo a obra de nossa vida. Nela empregar o melhor de nossas forças e de nossos esforços, seja qual for nossa condição”18 . Cresce nele a firme convicção de que a salvação é universal e não exclui absolutamente ninguém. Ele mesmo não se sente chamado a um apostolado direto, como a maioria dos missionários.


Quer ser uma simples presença da verdade do Evangelho em meio aqueles que ainda desconhecem o Salvador. É sua intuição nazarena da missão: “gritar o Evangelho pela vida”, e isso significa concretamente ser homem de intensa oração/contemplação e ver Jesus, sobretudo nos últimos, nos pobres. Para Foucauld esta presença encarnada se torna palpável na amizade e se realiza sempre com meios pobres, nunca apelando à força, à imposição, ou preconizando prestígio social.

O Evangelho é, antes de tudo, uma vivência testemunhal de grande simplicidade e jamais uma ostentação de superioridade religiosa ou espetáculo de exclusividade da verdade. Uma presença missionária empregará recursos eminentemente evangélicos, tais como: a bondade, o respeito pelas riquezas religiosas e culturais dos povos. Foucauld promovia, já no seu tempo, o que hoje chamamos de inculturação da fé cristã: um cristianismo em diálogo com as culturas e com as diferentes tradições religiosas.


Irmão Carlos parte concretamente da realidade do povo no qual se encontra inserido, procurando identificar-se com ele com espírito fraterno e solidário. Assim, faz ingentes esforços para se aproximar dos tuaregues, em Tamanrasset, onde passará os últimos 12 anos de sua vida. Como já assinalamos, aprende a língua daquele povo e se familiariza com as suas tradições culturais. “Com todas as minhas forças — escreve ao Padre Huvelin, aos 15-7-1904 — busco mostrar, provar a estes pobres irmãos, que nossa religião é toda de caridade, de fraternidade, que seu conjunto é um coração”19 .


A inculturação tem sua inspiração evangélica na fraternidade universal. Para Charles de Foucauld todos os seres humanos são verdadeiramente irmãos em Deus, nosso Pai comum e, por isso, devem amar-se afetuosamente. Ele mesmo gosta que o chamem de “irmão universal” e escolheu para si um nome pelo qual os autóctones pudessem conhecê-lo: Abd-Isa, isto é, servo de Jesus. De fato, ele servirá a Jesus, praticando indistintamente a fraternidade para com todos!

“Não quer que sua casa tenha limites, quer que ela se apresente como uma pequena fraternidade, uma khaoua:

‘Os nativos começam a chamá-la — observa numa de suas correspondências — a khaoua, e saber que ali os pobres têm um irmão, não só os pobres, mas todos os homens...

Quero acostumar todos os habitantes, cristãos, muçulmanos, judeus, idólatras, a considerar-me como seu irmão, o irmão universal. Eles estão começando a denominar a casa a fraternidade ( khaoua em árabe) e isso é um prazer para mim’”20.


Nessa universalidade fraterna os pobres e marginalizados ocupam nitidamente o primeiro lugar. Charles de Foucauld vai diretamente à sua procura, “movido por misericórdia”. Quer ser solidário com os últimos, na qualidade de um servo de Jesus, este mesmo Jesus que ama os pequenos preferentemente. A compassividade do Irmão Carlos é notável. Numa de suas anotações recomenda:


“Sê bom e compassivo; que nenhuma miséria te deixe insensível. Vê Jesus em todo humano. Faze ao próximo o que queres que ele te faça”21 .


Compassividade inclui necessariamente a luta pela justiça.


Charles de Foucauld não se cala quando estão em jogo os direitos humanos mais elementares, como mostra sua atuação em relação à prática da escravidão, tolerada pelo regime colonial francês, no Norte da África. Em carta de 7-2-1902, ao Dom Martinho, Abade do Mosteiro trapista de Nossa Senhora das Neves, declara: “... Não temos o direito de ser sentinelas que dormem, cães que não ladram, pastores indiferentes... Pergunto-me se não temos de elevar a voz, direta ou indiretamente, para dar a conhecer na França essa injustiça e esse roubo sancionado, que é a escravatura em nossas regiões, e dizer ou fazer com que seja dito: eis o que se passa, non licet!... É Jesus que está nessa dolorosa condição, ‘o que fizerdes a um desses pequeninos é a mim que fazeis’. Não quero ser um mau pastor ou um cão que não ladra... Tenho medo de sacrificar Jesus ao meu comodismo e à minha grande inclinação pela tranquilidade, à minha covardia e timidez naturais...22


06- A ATUALIDADE DO CARISMA


A atualidade do carisma foucauldiano para a Igreja e aVida Religiosa Qual mensagem Charles de Foucauld tem para a Igreja e a Vida Consagrada no início deste século XXI? Pensamos que seu conteúdo possa ser compendiado em três pontos05- A PRESENÇA MISSIONÁRIA

O Foucauld contemplativo é ao mesmo tempo o “eremita-missionário”. O amor incondicional por Jesus leva o a compartilhar a obra redentora de Jesus: anunciar a todos, sem exceção, a boa-nova da salvação. Numa meditação sobre o texto de Lc 11,21 diz: “Se queremos imitar Jesus, como é nosso dever, a primeira coisa a fazer é trabalhar na salvação dos homens como sendo a obra de nossa vida. Nela empregar o melhor de nossas forças e de nossos esforços, seja qual for nossa condição”18 . Cresce nele a firme convicção de que a salvação é universal e não exclui absolutamente ninguém. Ele mesmo não se sente chamado a um apostolado direto, como a maioria dos missionários.


Quer ser uma simples presença da verdade do Evangelho em meio aqueles que ainda desconhecem o Salvador. É sua intuição nazarena da missão: “gritar o Evangelho pela vida”, e isso significa concretamente ser homem de intensa oração/contemplação e ver Jesus, sobretudo nos últimos, nos pobres. Para Foucauld esta presença encarnada se torna palpável na amizade e se realiza sempre com meios pobres, nunca apelando à força, à imposição, ou preconizando prestígio social.

O Evangelho é, antes de tudo, uma vivência testemunhal de grande simplicidade e jamais uma ostentação de superioridade religiosa ou espetáculo de exclusividade da verdade. Uma presença missionária empregará recursos eminentemente evangélicos, tais como: a bondade, o respeito pelas riquezas religiosas e culturais dos povos. Foucauld promovia, já no seu tempo, o que hoje chamamos de inculturação da fé cristã: um cristianismo em diálogo com as culturas e com as diferentes tradições religiosas.


Irmão Carlos parte concretamente da realidade do povo no qual se encontra inserido, procurando identificar-se com ele com espírito fraterno e solidário. Assim, faz ingentes esforços para se aproximar dos tuaregues, em Tamanrasset, onde passará os últimos 12 anos de sua vida. Como já assinalamos, aprende a língua daquele povo e se familiariza com as suas tradições culturais. “Com todas as minhas forças — escreve ao Padre Huvelin, aos 15-7-1904 — busco mostrar, provar a estes pobres irmãos, que nossa religião é toda de caridade, de fraternidade, que seu conjunto é um coração”19 .


A inculturação tem sua inspiração evangélica na fraternidade universal. Para Charles de Foucauld todos os seres humanos são verdadeiramente irmãos em Deus, nosso Pai comum e, por isso, devem amar-se afetuosamente. Ele mesmo gosta que o chamem de “irmão universal” e escolheu para si um nome pelo qual os autóctones pudessem conhecê-lo: Abd-Isa, isto é, servo de Jesus. De fato, ele servirá a Jesus, praticando indistintamente a fraternidade para com todos!

“Não quer que sua casa tenha limites, quer que ela se apresente como uma pequena fraternidade, uma khaoua:

‘Os nativos começam a chamá-la — observa numa de suas correspondências — a khaoua, e saber que ali os pobres têm um irmão, não só os pobres, mas todos os homens...

Quero acostumar todos os habitantes, cristãos, muçulmanos, judeus, idólatras, a considerar-me como seu irmão, o irmão universal. Eles estão começando a denominar a casa a fraternidade ( khaoua em árabe) e isso é um prazer para mim’”20.


Nessa universalidade fraterna os pobres e marginalizados ocupam nitidamente o primeiro lugar. Charles de Foucauld vai diretamente à sua procura, “movido por misericórdia”. Quer ser solidário com os últimos, na qualidade de um servo de Jesus, este mesmo Jesus que ama os pequenos preferentemente. A compassividade do Irmão Carlos é notável. Numa de suas anotações recomenda:


“Sê bom e compassivo; que nenhuma miséria te deixe insensível. Vê Jesus em todo humano. Faze ao próximo o que queres que ele te faça”21 .


Compassividade inclui necessariamente a luta pela justiça.


Charles de Foucauld não se cala quando estão em jogo os direitos humanos mais elementares, como mostra sua atuação em relação à prática da escravidão, tolerada pelo regime colonial francês, no Norte da África. Em carta de 7-2-1902, ao Dom Martinho, Abade do Mosteiro trapista de Nossa Senhora das Neves, declara: “... Não temos o direito de ser sentinelas que dormem, cães que não ladram, pastores indiferentes... Pergunto-me se não temos de elevar a voz, direta ou indiretamente, para dar a conhecer na França essa injustiça e esse roubo sancionado, que é a escravatura em nossas regiões, e dizer ou fazer com que seja dito: eis o que se passa, non licet!... É Jesus que está nessa dolorosa condição, ‘o que fizerdes a um desses pequeninos é a mim que fazeis’. Não quero ser um mau pastor ou um cão que não ladra... Tenho medo de sacrificar Jesus ao meu comodismo e à minha grande inclinação pela tranqüilidade, à minha covardia e timidez naturais...22

:

-a incessante busca de Deus no quotidiano da vida,

-a dimensão nazarena da vida cristã, o diálogo aprofundado com o diferente.

-a busca do Absoluto de Deus


Numa época de impressionante pluralismo, em todos os segmentos da sociedade, coloca-se com força a pergunta sobre o que realmente é decisivo na vida. Para o cristão apresenta-se aqui a questão do absoluto de Deus, um Deus cuja revelação plena nos é dada em Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado. O que significa concretamente que Deus é Pai, simultaneamente um Ser infinitamente transcendente e infinitamente imanente, um Deus absolutamente inatingível na sua grandeza e um Deus intimamente próximo a nossa realidade terrestre. Charles de Foucauld chegou, progressivamente, a uma experiência verdadeiramente cristã de Deus, a partir de um encontro com o Absoluto, o Senhor Criador, imensamente grande e poderoso, reverenciado com impressionante respeito pelos muçulmanos. E ficou conhecendo um Deus próximo e amigo através da pessoa de Jesus, de Jesus Nazareno.

Apaixonou-se por este Jesus histórico a quem chamava seu bem-amado Irmão e Senhor. Por meio de Jesus de Nazaré chega a abraçar incondicionalmente o Pai. Famosas são suas palavras referentes à sua conversão, aos 28 anos de idade (1886): “Imediatamente, ao crer que havia um Deus, compreendi que não podia deixar de viver só para Ele. Minha vocação religiosa data do mesmo instante que minha fé” (Carta a Henri de Castries, de 14-8-1901). Com incomum ardor põe-se à procura deste Deus. Não é uma busca tranqüila e sem obstáculos, pelo contrário, é uma aventura de fé, que envolve toda a sua pessoa.

Particular importância Foucauld dá ao discernimento espiritual: O que é que Deus — que tanto me ama — quer de mim? Como e onde se manifesta a sua Vontade? A procura constante da vontade do Pai é a preocupação central de Jesus, e Foucauld o segue de perto nesta busca.

Uma expressão típica desta sua atitude existencial é a conhecida Oração do abandono, diariamente rezada na Família espiritual do Irmão Carlos de Jesus. Na sua atual redação foi composta depois da morte do eremita, mas os elementos básicos se encontram na sua reflexão da passagem de Lc 23,46: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. “É esta — comenta Irmão Carlos — a última prece do nosso Mestre, de nosso Bem-amado... Que seja também a nossa... Não apenas de nosso último instante, mas de todos os instantes:

‘Pai, entrego-me nas vossas mãos. Pai, abandono-me a Vós, confio em Vós. Pai, fazei de mim tudo o que for do Vosso agrado’. Seja o que for que fizerdes comigo, agradeço-Vos! Obrigado por tudo, estou pronto para tudo. Contanto que Vossa vontade se realize em mim, meu Deus. Contanto que Vossa vontade se cumpra em todas as Vossas criaturas, em todos os Vossos filhos. Que façam Vossa vontade todos aqueles que Vosso coração ama... Nada mais desejo, meu Deus! Entrego minha alma em Vossas mãos. Eu vo-la dou, meu Deus, com todo o amor de meu coração, porque Vos amo e é uma necessidade de amor para mim esta doação, esta entrega entre Vossas mãos sem condições, sem limites. Entrego-me nas Vossas mãos com infinita confiança, pois sois meu Pai...”23


Foucauld coloca-se aqui na grande tradição cristã que vê na busca da Vontade de Deus — sempre uma vontade salvífica para nosso bem — o âmago de toda a vida de um cristão e a razão de sua oração. Interessante notar que o conteúdo da mencionada oração de Foucauld está igualmente presente no livro da Imitação de Cristo, obra atribuída a Tomás Hemerken (meados do século XV):

“Fazei de mim, Senhor, tudo o que quiserdes, contanto que permaneça em Vós, reta e firme, a minha vontade. Pois não pode deixar de ser bom tudo o que fizerdes de mim. Se quereis que esteja nas trevas, bendito sejais; e se quereis que esteja na luz, sede também bendito, e se quereis que esteja atribulado, sede igualmente para sempre bendito” (Livro III, cap. 17, n.2; ver também Livro III, cap. 15, n.2).

Rezar esta Oração da Entrega é descentrar-se de si mesmo e orientar-se inteiramente para Deus e para a causa de seu Reino. É uma oração libertadora voltada para a essência de toda atividade orante: a comunhão com Deus- Pai, por Jesus, na unidade do Espírito.

Não obstante a oração foucauldiana deixe de mencionar explicitamente o nome de Jesus, toda prece é permeada de sua presença filial. Supérfluo dizer como é atual esta atitude de abandono, de confiante entrega a Deus, para nós, religiosos, hoje. Remete-nos ao fundamento de nossa consagração: viver para Deus, abraçando sua causa, que coincide com o anúncio e a instauração de seu Reino, com tudo que isso significa em termos de engajamento social, para que na sociedade de nossos dias haja justiça, paz, solidariedade e compaixão. Como é importante, neste momento, que a Vida Religiosa se descentre de si mesma, de sua comodidade e estruturas de segurança, para lançar-se na aventura da fé, por caminhos que o Espírito — mediante os sinais dos tempos — está abrindo para nós.

Na sua busca apaixonante por Deus, Charles de Foucauld nos mostra a riqueza de sua experiência de deserto, não tanto no que diz respeito ao lugar geográfico, mas, sim, ao seu significado espiritual. No despojamento do supérfluo, na solidão em que nos confrontamos diretamente conosco mesmo e com as nossas mais secretas motivações, é que perceberemos, com acuidade maior, o derradeiro sentido da nossa existência. “Nas profundezas descobrimos o único e mesmo rio subterrâneo que alimenta as fontes de água na superfície” (Frei Fabiano, ofm).

Como é urgente revalorizar também o silêncio para nos situarmos novamente no nosso verdadeiro ser, numa atitude existencial diante do Absoluto. Com fina sensibilidade o percebeu o Papa Paulo VI, na sua visita a Nazaré (5-1-1964): “Ó como gostaríamos de voltar à infância e seguir essa humilde e sublime escola de Nazaré!... Primeiro, uma lição de silêncio. Que renasça em nós a estima pelo silêncio, essa admirável e indispensável condição do espírito; em nós, assediados por tantos clamores, ruídos e gritos em nossa vida moderna barulhenta e hipersensibilizada.


Ó silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor das preparações, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê no segredo”.

Deveríamos criar na nossa Vida Religiosa espaços para este silêncio interior e também lugares específicos onde pudéssemos reaprender a apreciá-lo e experimentar concretamente como faz bem ao corpo e ao espírito. Não seria uma nobre missão da Vida Consagrada, hoje, ajudar seus próprios membros e outras pessoas, a sentirem novamente a sede pelo deserto e pelo silêncio, numa sociedade em que literalmente tudo convida constantemente à dispersão e à superficialidade? A espiritualidade foucauldiana pode oferecer uma fecunda inspiração na busca de caminhos concretos.

Charles de Foucauld nunca se contentou com o simplesmente instituído. Foi um homem sempre à procura daquilo que mais lhe parecia conforme a vontade divina. Era alguém aberto ao que hoje chamamos os sinais dos tempos, e também dócil à orientação de pessoas maduras na fé. Está aqui, igualmente, um desafio para nós, religiosos e religiosas, hoje. Temos grande necessidade de auscultar os novos apelos do Espírito e temos urgência de nos escutarmos bem uns aos outros, na busca dos caminhos do Senhor neste momento da história.

Talvez a mensagem mais premente de Foucauld para a Vida Religiosa no nosso Continente é a radicalidade do seguimento de Jesus, numa vida cada vez mais cristiforme. “A semelhança e a imitação são necessidades imperiosas do amor. São graus daquela unificação para que tende o amor, natural e necessariamente. A semelhança é a medida do amor”, diz o Irmão Carlos na sua reflexão sobre o texto de Lc 9,26 24 . Estão aqui o cerne e a razão de ser da Vida Consagrada, sendo ela — como comenta o Papa João Paulo II — “caminho de especial seguimento de Cristo, para se dedicar a Ele de coração ‘indiviso’ (cf. 1Cor 7,34)”, constituindo “a forma de vida praticada pessoalmente por Jesus e por Ele proposta aos discípulos”. Assim apresenta-se como “uma opção que se exprime na radicalidade do dom de si mesmo por amor ao senhor Jesus e, nele, por amor a cada membro da família humana”25 . Quando hoje tanto falamos de refundação ou, melhor, de refundamentação da Vida Religiosa, o primeiríssimo elemento é retomar, com vigor, a categoria eminentemente bíblica da sequela Christi.


07- O MODO NAZARENO DE SER CRISTÃO


Já vimos acima o que é ser nazareno na espiritualidade de Foucauld. Queremos agora aplicar isso à Vida respondem aos anseios de hoje. Fala-se do esgotamento de um modelo e de mudança de época. Irmão Carlos, no seu tempo, passou mutatis mutandis por uma mesma sensação. Teve de romper com estruturas e formas concretas, o que não aconteceu sem dores e muitas incertezas. Criou um novo estilo de Vida Religiosa, o que provocou críticas e ceticismo em círculos apegados às formas convencionais. Fundamentalmente sua opção se baseia no seguimento incondicional de Jesus em Nazaré, na sua longa experiência de nazareno, isto é, uma pessoa desconhecida, perdida numa localidade sem importância social e política, profundamente inserida no meio do povo simples e trabalhando com as próprias mãos.

Foucauld queria uma Vida Consagrada a partir desta experiência jesuânica. Mas, perguntamo-nos, em que consistia concretamente? Irmão Carlos buscava um equilíbrio entre contemplação e ação, entre simples presença e engajamento apostólico. O que claramente não queria era uma ação missionária ministerial direta. Era sua convicção de que a vida cristã, vivida com autenticidade, é por si evangelizadora. Igualmente acreditava que o Jesus histórico no seu todo nos salva. Não somente há salvação nos últimos três anos de sua vida, mas sua inteira existência apresenta-se como salvífica, desde o momento da encarnação, passando pela sua vida oculta. “A grande lição de Nazaré, trazida à tona, com toda a força, pela vida do Irmão Carlos de Jesus, é que a salvação acontece no quotidiano da nossa vida, na nossa labuta por pão, em meio aos pequenos gestos de fraternidade. E não é sem importância que a salvação principia lá onde ela parece não existir: no meio dos mais esquecidos e abandonados”26 .

Foucauld sonhava com uma Vida Religiosa de pequenas comunidades contemplativas, inseridas na realidade comum — no coração da massa — dando nítida preferência aos pobres27 . Há nele uma paixão pela unidade: viver a experiência íntima de Deus (contemplação) em solidariedade e no mais fundo da realidade humana28 .

A própria irradiação de uma vida evangelicamente vivida se constitui em envio, pois esta irradiação já é apostólica por si! A opção nazarena exclui conscientemente toda ostentação de poder ou prestígio social. Sua marca registrada é a simplicidade, no sentido original do termo: uma só motivação de base. Não se recorre a métodos sofisticados, planejamentos por demais calculados, e, menos ainda, à força ou à coação. Há uma despretensiosa convivência com a vizinhança, na amizade, partilha e solidariedade, dinâmica vivida num recíproco dar e receber.

28 Carlos Palácio, Reinterpretar a Vida Religiosa, p.7: “Não seria exagerado afirmar que a Fraternidade [de Charles de Foucauld] é a única fundação moderna que tentou responder, na sua gênese mesma, e de maneira original e criadora, às contradições internas nas quais se debatia a Vida religiosa tradicional. Ela não nasce, contudo, como reação contra. Um de seus méritos é ter recriado os pressupostos a partir dos quais pudesse ser resgatada a unidade do projeto evangélico. Por isso, a Fraternidade é, em si mesma, uma aposta contra todas as formas de separação (vida ativa e vida contemplativa; o ser profundo e a missão; experiência de Deus e realidade humana, etc.) que acabaram fazendo da Vida Religiosa um mundo à parte, segregado e estranho. Independentemente das objeções que a forma de vida da Fraternidade possa suscitar, hoje, para certas maneiras de entender o compromisso com os pobres, é inegável que nela emerge uma figura nova de Vida Religiosa. Uma de suas características é a síntese vital. Essa paixão pela unidade de contrários, esse nascer situado a partir dos mais pobres e de estar habitada pelo dinamismo de uma encarnação kenótica, na qual a paixão por Deus e a paixão pelo homem são inseparáveis, desde a sua origem. É nesse sentido que a teologia que a sustenta pode ser inspiradora para nós, sem que sua figura tenha de ser vista, por isso, como um modelo a ser copiado por todos”.

René Voillaume (+2003) — aquele que dará início (1933) aos Irmãozinhos de Jesus, Congregação Religiosa que quer viver o ideal evangélico de Charles de Foucauld — esclareceu: “Irmão Carlos sonha com uma autêntica vida religiosa contemplativa, sem encargo de ministério, sem pregação, mas bem simplesmente misturada aos homens, na pobreza de um verdadeiro labor e em testemunho de um total amor fraterno. Sonha, numa palavra, em ‘gritar o Evangelho por toda a vida’. Em sua alma, todos esses elementos são muito simplesmente unificados e simultaneamente vividos na missão de um amor muito grande”29 . Em seguida adverte: “Que a organização em vida religiosa não venha enfraquecer ou destruir toda a verdade do duro labor quotidiano, da pobreza efetiva e da incerteza do dia seguinte, conseqüências de uma autêntica pobreza operária”30 .

Percebemos pelas citações aduzidas que Foucauld privilegia sem rodeios “os últimos” da sociedade. É lá que se deve viver, preferentemente, a vida de Nazaré, como “petits frères”, irmãozinhos, em espírito de serviço e em solidariedade. Assim também esses religiosos nazarenos serão uma interpelação para a Igreja e para uma sociedade instalada no seu próprio bem-estar. “No dia em que não formos mais, de certo modo, um ponto de interrogação para os homens, podemos dizer a nós mesmos que cessamos de levar entre eles a presença do Grande Invisível”31 .

De notória atualidade é a iniciativa de Foucauld de associar leigos e leigas à sua obra de presença missionária, novos Priscilas e Áquilas (cf. At 18, 2. 18; Rm 16,3), modalidade de participação que hoje é conhecida como associação. Na França ele criou a “União de Irmãos e Irmãs do Sagrado Coração de Jesus” ou “União Apostólica Universal”, para a qual escreveu uma Regra, a que deu o nome de Conselhos. Trata-se de um código de vida com exigências evangélicas simples, mas de grande vigor32 .

No artigo 28 declara: “Os irmãos e as irmãs devem ser uma pregação viva: cada um deles seja um modelo de vida evangélica. Observando-os, deve-se poder ver o que é a vida cristã, o que é a religião cristã, o que é o Evangelho, o que é Jesus... O exemplo é a única obra exterior pela qual eles poderão agir sobre as almas rebeldes a Jesus, que não querem nem escutar as palavras de seus servidores, nem ler seus livros, nem aceitar sua amizade, nem se comunicar de algum modo com eles”.


Do acima exposto vêm fortes interpelações para as atuais Ordens e Congregações Religiosas. Até que ponto não nos fixamos num determinado modelo de vida consagrada que, na realidade, contribui para a acomodação e nivelação dos carismas? Uma vida religiosa confortavelmente instalada em estruturas que garantem e possibilitam um bem estar material em que literalmente não falta nada. Somos capazes de dar um testemunho evangélico que “escandaliza” e que vai na contramão das atuais tendências de individualismo, hedonismo e “vantagem em tudo”? Não deveríamos questionar seriamente nossa convivência comunitária que, freqüentemente, não passa de uma justaposição de pessoas que sabem evitar conflitos, mas, pouco partilham em profundidade? E o que dizer da nova moda que invadiu a Vida Religiosa institucional: a corrida atrás de títulos acadêmicos e certificados de cursos “superiores”, vazios muitas vezes pelo fato de ostentar um enganador intelectualismo, voltado para a própria promoção do/a consagrado/a? Não se trata, evidentemente, de uma qualificada formação intelectual ou técnica, visando um serviço apostólico de qualidade, mas de uma mentalidade que se centraliza em interesses puramente subjetivos.

Também podem ser questionadas as atuais aparências (fazer-de-conta) que buscam dar visibilidade (diria até “propaganda enganosa”) a um modo-de-vida que seria melhor que ficasse escondido para não causar escândalo.

Há mais; em geral, nós religiosos, somos ricos e socialmente muito bem assegurados em praticamente todos os setores da vida. “Dinheiro para nós não é problema”, disse recentemente um superior provincial! E com esta ingênua exclamação disse também tudo! Em ambientes como esses é que são introduzidos os candidatos dos nossos Institutos e como assimilam com facilidade a mentalidade que neles respiram! Existe uma distância quilométrica entre os religiosos tradicionais e o nosso povo simples (admiráveis exceções confirmam, também aqui, a regra). Em todo este contexto os desafios apresentados por Charles de Foucauld são de uma extrema atualidade.

Frei Betto OP, refletindo sobre o singular testemunho do Irmão Carlos de Jesus, escreveu com propriedade: “Num tempo em que a religiosidade orna-se de ruídos e jogos de efeito, a espiritualidade de Foucauld é um contraponto para quem se sente mais evangélico no silêncio da oração, no serviço aos pobres, no anonimato inspirado na vida oculta de Jesus em Nazaré. A busca da fama é incompatível com a fome de Deus. Como ensinou João, o Batista, é uma arte saber recolher-se para que Jesus possa sobressair”33 .

Pelo seu próprio testemunho de vida, Charles de Foucauld evidencia que a consagração religiosa não existe para si mesma. Sendo uma forma singular de seguimento de Cristo, deve assumir as mesmas opções de vida do seu Senhor. Jesus entendeu sua missão como essencialmente salvífica: um serviço aos homens por expressa vontade do Pai. “Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).

Fruir da solidão e deleitar-se com um silêncio calmo e tranquilizador, nunca podem ser para nós, religiosos e religiosas, um fim em si. Enquanto andamos aqui na terra, a verdadeira contemplação cristã desdobra-se, por coerência evangélica, em doação apostólica. A clausura não pode produzir um isolamento, um fechamento sobre si mesmo, pessoal ou comunitariamente. Vida cristã, segundo o espírito de Jesus, sempre procura estabelecer comunhão de vida com Deus e com os irmãos. Todos nós somos — em virtude de nosso batismo — chamados a anunciar a boa-nova do Reino, embora as modalidades desta missão possam variar consideravelmente.

Foucauld, como já vimos, entende sua missão apostólica na perspectiva de Nazaré. Não é a única opção e não é necessariamente a melhor ou mais perfeita. Mas não deixa de ser uma dimensão essencial do mistério de Cristo e, ao que parece, de uma grande atualidade num mundo em que as instituições oficiais do cristianismo sofrem forte abalo e, não raras vezes, caem em descrédito pelas próprias contradições que manifestam.

Evangeliza-se — na visão de Charles de Foucauld — pelo testemunho silencioso da própria vida. A 10-2-1910, escreve a alguém que queria partilhar sua experiência no deserto: “Há sempre muito que fazer pelo exemplo, pela bondade e a oração. Podem-se estabelecer relações mais amigáveis com almas indiferentes ou afastadas da fé a fim de as ir levando, pouco a pouco, à força da paciência, mansidão, bondade, pela influência da virtude mais do que por conselhos, a uma vida mais cristã ou à fé. Pode-se entrar em relações de amizade com pessoas completamente contrárias à religião para dissipar, pela bondade e a virtude, suas prevenções, encaminhando-as deste modo a Deus...”34

Charles de Foucauld, já no início do século XX, ou seja, praticamente há cem anos, praticava o que hoje conhecemos como inculturação e diálogo inter-religioso. Foi, nesses campos, um pioneiro em plena época colonial. Pioneiro com as limitações impostas naquele tempo pela mentalidade eclesiástica e pelos condicionamentos políticos35 . Promoveu uma concepção diferente da missão ad gentes, respeitando o ser diferente do outro e de sua cultura. Insistiu na solidariedade e na possibilidade de diálogo e, neste sentido, encaminhou iniciativas verdadeiramente inovadoras. Escreveu a respeito disso o Papa João Paulo II: “O Irmão Carlos que, para traduzir os Evangelhos, aprendeu a língua dos tuaregues, compondo um léxico e uma gramática nesse idioma, não exorta, porventura, as pessoas que se inspiram no seu carisma a entrar em diálogo com as culturas dos homens de hoje e a percorrer o caminho do encontro com as outras tradições religiosas, em particular com o Islã? Assim, as diferentes comunidades religiosas serão verdadeiramente ‘como comunidades comprometidas num diálogo de respeito, e nunca mais como comunidades em conflito’ (Discurso na Mesquita Omeyade, em Damasco, na Síria, 6-5-2001)...

Que as instituições espirituais do Padre Charles de Foucauld continuem a imbuir na vida da Igreja que o amor é mais forte do que todos os tipos de tensão e de divisão”36 . Foucauld nos ensina a termos atenção para com as coisas aparentemente sem importância, para com aquilo que se nos afigura tão comum, para com a vida “oculta” de tantas pessoas sem destaque social. Ele quer “marcar presença” no meio dessas realidades com a força da fé e o calor da amizade.

E desta forma contesta esquemas de superioridade cultural e eclesiástica. Esforça-se por estar com “os últimos” e pretende, ele mesmo, ocupar “o último lugar”, identificando-se com os pequenos e os pobres. Mostra-se, assim, francamente avesso a todo carreirismo na Igreja e rejeita uma posição privilegiada para o clero. Apresenta-se simplesmente como “Irmão Carlos”, irmão menor (petit frère — irmãozinho) de seu Irmão maior, que é Jesus. Como Ele quer ser servo e irmão de todos, para levá-los indistintamente à nova vida que o Filho de Deus abriu para nós.

Em vez de uma Igreja triunfalista, dona da verdade, sempre reivindicando proteção e prerrogativas dos grandes deste mundo, sua opção é por uma Igreja pobre e servidora, na qual os pequenos se sentem “em casa”, recebidos como hóspedes de honra na Casa de Nazaré. Na regra que elaborou para aqueles que quisessem compartilhar sua vida anota:

“Ver em todo homem uma alma para salvar e dedicar-se à salvação dos homens como o seu Bem-amado, a tal ponto que o nome de ‘salvador’ resuma a sua vida como resume a vida de Jesus”. Para si adotou como lema Jesus Caritas, simbolizado num coração, encimado por uma cruz.

08- O DIÁLOGO COM O DIFERENTE


Pelo seu próprio testemunho de vida, Charles de Foucauld evidencia que a consagração religiosa não existe para si mesma. Sendo uma forma singular de seguimento de Cristo, deve assumir as mesmas opções de vida do seu Senhor. Jesus entendeu sua missão como essencialmente salvífica: um serviço aos homens por expressa vontade do Pai. “Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).

Fruir da solidão e deleitar-se com um silêncio calmo e tranqüilizador, nunca podem ser para nós, religiosos e religiosas, um fim em si. Enquanto andamos aqui na terra, a verdadeira contemplação cristã desdobra-se, por coerência evangélica, em doação apostólica. A clausura não pode produzir um isolamento, um fechamento sobre si mesmo, pessoal ou comunitariamente. Vida cristã, segundo o espírito de Jesus, sempre procura estabelecer comunhão de vida com Deus e com os irmãos. Todos nós somos — em virtude de nosso batismo — chamados a anunciar a boa-nova do Reino, embora as modalidades desta missão possam variar consideravelmente.

Foucauld, como já vimos, entende sua missão apostólica na perspectiva de Nazaré. Não é a única opção e não é necessariamente a melhor ou mais perfeita. Mas não deixa de ser uma dimensão essencial do mistério de Cristo e, ao que parece, de uma grande atualidade num mundo em que as instituições oficiais do cristianismo sofrem forte abalo e, não raras vezes, caem em descrédito pelas próprias contradições que manifestam.

Evangeliza-se — na visão de Charles de Foucauld — pelo testemunho silencioso da própria vida. A 10-2-1910, escreve a alguém que queria partilhar sua experiência no deserto: “Há sempre muito que fazer pelo exemplo, pela bondade e a oração. Podem-se estabelecer relações mais amigáveis com almas indiferentes ou afastadas da fé a fim de as ir levando, pouco a pouco, à força da paciência, mansidão, bondade, pela influência da virtude mais do que por conselhos, a uma vida mais cristã ou à fé. Pode-se entrar em relações de amizade com pessoas completamente contrárias à religião para dissipar, pela bondade e a virtude, suas prevenções, encaminhando-as deste modo a Deus...”34

Charles de Foucauld, já no início do século XX, ou seja, praticamente há cem anos, praticava o que hoje conhecemos como inculturação e diálogo inter-religioso. Foi, nesses campos, um pioneiro em plena época colonial. Pioneiro com as limitações impostas naquele tempo pela mentalidade eclesiástica e pelos condicionamentos políticos35 . Promoveu uma concepção diferente da missão ad gentes, respeitando o ser diferente do outro e de sua cultura. Insistiu na solidariedade e na possibilidade de diálogo e, neste sentido, encaminhou iniciativas verdadeiramente inovadoras. Escreveu a respeito disso o Papa João Paulo II: “O Irmão Carlos que, para traduzir os Evangelhos, aprendeu a língua dos tuaregues, compondo um léxico e uma gramática nesse idioma, não exorta, porventura, as pessoas que se inspiram no seu carisma a entrar em diálogo com as culturas dos homens de hoje e a percorrer o caminho do encontro com as outras tradições religiosas, em particular com o Islã? Assim, as diferentes comunidades religiosas serão verdadeiramente ‘como comunidades comprometidas num diálogo de respeito, e nunca mais como comunidades em conflito’ (Discurso na Mesquita Omeyade, em Damasco, na Síria, 6-5-2001)...

Que as instituições espirituais do Padre Charles de Foucauld continuem a imbuir na vida da Igreja que o amor é mais forte do que todos os tipos de tensão e de divisão”36 . Foucauld nos ensina a termos atenção para com as coisas aparentemente sem importância, para com aquilo que se nos afigura tão comum, para com a vida “oculta” de tantas pessoas sem destaque social. Ele quer “marcar presença” no meio dessas realidades com a força da fé e o calor da amizade.

E desta forma contesta esquemas de superioridade cultural e eclesiástica. Esforça-se por estar com “os últimos” e pretende, ele mesmo, ocupar “o último lugar”, identificando-se com os pequenos e os pobres. Mostra-se, assim, francamente avesso a todo carreirismo na Igreja e rejeita uma posição privilegiada para o clero. Apresenta-se simplesmente como “Irmão Carlos”, irmão menor (petit frère — irmãozinho) de seu Irmão maior, que é Jesus. Como Ele quer ser servo e irmão de todos, para levá-los indistintamente à nova vida que o Filho de Deus abriu para nós.

Em vez de uma Igreja triunfalista, dona da verdade, sempre reivindicando proteção e prerrogativas dos grandes deste mundo, sua opção é por uma Igreja pobre e servidora, na qual os pequenos se sentem “em casa”, recebidos como hóspedes de honra na Casa de Nazaré. Na regra que elaborou para aqueles que quisessem compartilhar sua vida anota:

“Ver em todo homem uma alma para salvar e dedicar-se à salvação dos homens como o seu Bem-amado, a tal ponto que o nome de ‘salvador’ resuma a sua vida como resume a vida de Jesus”. Para si adotou como lema Jesus Caritas, simbolizado num coração, encimado por uma cruz.

09- CONCLUSÃO

Ao que tudo indica, Charles de Foucauld não era um homem de fácil convivência. Por temperamento é impulsivo e freqüentemente imprevisível. Faz planos ousados que depois, bruscamente, abandona ou modifica substancialmente. Sua vida apresenta numerosas rupturas e reviravoltas. Cioso de sua independência e liberdade, deixa-se, paulatinamente, seduzir por Aquele que se torna o grande Amor de sua vida. Chega, de fato, a uma generosa entrega de si mesmo a Deus, não obstante resistências que experimenta no seu interior. Venceu a si mesmo e encontrou-se no mais profundo de seu ser!

Tornou-se pequeno e vulnerável e nesta condição pôde ser um dócil e providencial instrumento nas mãos de Deus, sobretudo em favor dos últimos, dos pobres e abandonados.

Na evolução de sua vida espiritual vemos surgir lentamente uma nova síntese entre contemplação e ação, entre o estar-com-Deus e a inserção fraterna nas realidades humanas mais comuns e desafiadoras.

A preciosa herança do Irmão Carlos de Jesus pode ser compendiada nos seguintes elementos intimamente associados: autêntico e cativante testemunho evangélico; solidariedade comprometida com aqueles que se encontram à margem da sociedade; diálogo inter-religioso, particularmente com o Islã, e, por fim, um valioso ensaio de inculturação da fé cristã, numa grande abertura ao diferente.

Em suma: uma mensagem de esperança que traz no seu bojo a utopia evangélica da fraternidade universal, capaz de superar as diferenças e as oposições étnicas, culturais e religiosas37 . Existe um paralelismo surpreendente entre Teresa de Lisieux — nossa Santa Teresinha do Menino Jesus (1873- 1897) — e Charles de Foucauld (1858-1916). Ambos trilham

a pequena via ou o caminho da infância espiritual, marcada pela simplicidade, a confiante entrega à misericórdia divina e o zelo apostólico. Interessante notar que Irmão Carlos de Jesus começa a sua vida de Nazaré no mesmo ano (1897) em que Teresa termina seu caminho terrestre.

A mensagem espiritual de Foucauld prolonga e completa a de sua irmã na fé — nascida 15 anos depois dele — quando esta morre com apenas 24 anos de idade38 . Yves Congar OP (1904-1995) chamou Charles e Thérèse “os dois grandes luminares místicos da nossa época sombria” (“deux phares mystiques à notre époque si sombre”), mas podemos acrescentar a estes dois nomes um terceiro: o de Pierre Teilhard de Chardin SJ (1881-1955). Se Carlos e Teresinha vivenciam particularmente o mistério da encarnação divina, Teilhard aponta para o mistério da ressurreição de Cristo, verdade da fé igualmente central no cristianismo. “Com a encarnação, Deus se faz pequeno, da medida de nossas dores e as dores de todos os que sofrem. Mas, faz-se pequeno e pobre, não para nos consolar nessa condição, mas, para nos revelar a nossa verdadeira grandeza. Esta grandeza é nossa vocação trinitária, que se manifesta com a Ressurreição do Filho de Deus e o seu retorno ao seio da Comunidade Trinitária.

A Trindade é, ela mesma, relação dinâmica e amorosa, fonte do relacionamento que une tudo e todos no Universo.

O Irmãozinho Charles de Foucauld é o testemunho mais visível [junto com Teresinha do Menino Jesus, acrescentaríamos] no meio de nós, desse cristianismo dos pequenos, da encarnação de Jesus nas realidades terrenas. Por sua vez, a clarividência do Padre Teilhard de Chardin faz o nosso olhar descentrar-se da nossa pequenez para nos descobrirmos irmanados com todas as forças que regem o Universo.

Pela ressurreição de Jesus, o Universo inteiro torna-se transparente e essa presença do Sagrado que se manifesta — mas não se confunde — em cada partícula subatômica ou estrela, verme ou animal, vinho e festa, pão e refeição. O Universo inteiro se converte, assim, em sacramento da presença da Trindade e permanece à espera de que eduquemos nosso olhar para enxergarmos essa presença”39 .

Charles de Foucauld não teve companheiros permanentes durante sua vida e não conseguiu nenhuma conversão entre os muçulmanos do Saara. Somente depois de sua morte vêm à luz famílias religiosas que retomam seu carisma, junto com grupos de leigos e movimentos de sacerdotes que se inspiram nele. Os Irmãozinhos de Jesus surgem em 1933, sob a dinâmica orientação do Padre René Voillaume (1905-2003).

Seis anos depois, Magdeleine Hutin dá origem às Irmãzinhas de Jesus.

A Família foucauldiana consta hoje de aproximadamente onze Congregações Religiosas, sete Associações de Leigos (entre os quais Institutos Seculares) e uma Espiritualidade Presbiteral. Além desses grupos, existem numerosos outros que encontram na pessoa e na espiritualidade do Irmão Carlos de Jesus uma fonte de inspiração para seguir o Cristo, hoje, antes de tudo na sua vida nazarena.

“Tende muita concórdia entre vós — exorta São Paulo na sua Carta aos Romanos (12,16); — não tenhais pretensões a grandezas, mas deixai-vos atrair pelo que é humilde”.


BIBLIOGRAFIA E NOTAS DE RODAPÉ

BIOGRAFIA IR. CARLOS

LITERATURA CONSULTADA:

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· BARAT, Denise e Roberto. Charles de Foucauld e a fraternidade. Rio de Janeiro: Agir, 1961. 192p. (Mestres espirituais, 7).

· BENTO XVI. Saudação aos peregrinos presentes na cerimônia de beatificação, realizada no domingo 13 de novembro. L’Osservatore Romano, Cidade do Vaticano, n.47, 19-11-2005, p.3.

· BORAU, José Luis Vásquez. Carlos de Foucauld e a espiritualidade de Nazaré. São Paulo: Loyola, 2003. 157p. · CASSIERS, Benito et alii (Orgs.). Eu sou teu irmão: no seguimento de Jesus de Nazaré. São Paulo: Loyola, 1993. 135p.

· Charles de Foucauld, kleine broeder van Jezus. [Charles de Foucauld, irmãozinho de Jesus]. ID-Woord- em Wederwoord, Informatiedienst Centraal Missionair Beraad Religieuzen, ano 37, maio 2005, n.5, p.2-3.

· CHATELARD, Antoine. La prière d’Abandon de Charles de Foucauld. Revista Vie Consacrée, 1995, n.4, p.208-223.

· CMBR (Central Missionair Beraad Religieuzen). Op zoek naar sporen van God [Em busca de pegadas de Deus] — deel III [parte III] — Visiestuk van het CMBR over missionaire presentie en de traditie van Charles de Foucauld [uma visão sobre a presença missionária e a tradição de Charles de Jesus Cáritas 46 Foucauld]. Den Haag, maio 2007. 80p.

· FOUCAULD, Charles de. Meditações sobre o Evangelho. Lisboa: Duas Cidades, s/d. 218p.

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· JOÃO PAULO II. Exortação apostólica pós-sinodal sobre a Vida Consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo. 2.ed. São Paulo: Paulus, 1996 (Magistério da Igreja, 9).

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· MOORMAN, Gerard (Red.). Charles de Foucauld: missionaire presentie toen, nu en in de toekomst [Charles de Foucauld: presença missionária ontem, hoje e no futuro]. Nijmegen: NIM (Nijmeegs Instituut voor Missiologie), 2006. 53p.

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· SIX, Jean-François. Carlos de Foucauld hoje. São Paulo: Paulinas, 1979. 96p.

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· SIX, J.-F. La posterité de Charles de Foucauld. Revista Études, n.397, p.63-73, jul./ago. 2002.

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· ZUBIZARRETA, Ion Etxezarreta. Irmão Carlos de Foucauld: ao encontro dos mais abandonados. São Paulo: Loyola, 1999. 270p.

Frater Henrique Cristiano José Matos Matos, irmão leigo, e-mail: fraterhc@terra.com.br


1 Esse artigo foi publicado na Revista Convergência 25/08/2007, e o publicamos no Boletim das Fraternidades com a autorização do autor.

2 Denise e Roberto BARAT, Carlos de Foucauld e a fraternidade, p.27 e 167.

3 Este estudo iniciou-se com um pedido do fundador do Eremitério Nazaré da Serra (ERNAS), cujos patronos são Santa Teresinha do Menino Jesus e o Beato Charles de Foucauld. Temos a intenção de ampliá-lo para ser publicado oportunamente em forma de livro.

4 Mantemos no texto o nome original em francês (quando vem junto com o sobrenome), uma vez que esta versão já é bastante familiar no Brasil. Quando empregamos isoladamente o sobrenome “Foucauld”, eliminamos a preposição “de” para manter maior fluência em nosso idioma. Fazendo referência ao seu nome de consagrado “Irmão” ( frère), traduzimos o nome próprio em português: Irmão Carlos, ou — como gostava que o chamassem — Irmão Carlos de Jesus.

5 Jean-François SIX, Charles de Foucauld, p.12.

6 Charles de FOUCAULD, Cartas e anotações, p.11.

7 José Luis Vasquez BORAU, Carlos de Foucauld e a espiritualidade de Nazaré, p.36.

8 Jean-François SIX, Carlos de Foucauld hoje, p.34.

9 Benito CASSIERS et alii, Eu sou teu irmão, p.33.

10 Charles de FOUCAULD, Cartas e anotações, p.68.

11 Ibid., p.160.

12 Ibid., p.208.

13 In: Ion Etxezarreta ZUBIZARRETA, Irmão Carlos de Foucauld, p.185.

14 Benito CASSIERS et alii, Eu sou teu irmão, p.54.

15 Charles de FOUCAULD, Cartas e anotações, p.128.

16 Cf. Ion Etxezarreta ZUBIZARRETA, Irmão Carlos de Foucauld, p.249.

17 Cf. CMBR, Op zoek..., p.57.

18 Charles de FOUCAULD, Cartas e anotações, p.222.

19 Ibid., p.166.

20 Jean-François SIX, Charles de Foucauld, p.43.

21 Charles de FOUCAULD, Cartas e anotações, p.214.

22 Denise e Roberto BARAT, Charles de Foucauld e a fraternidade, p.128.

23 Charles de FOUCAULD, Cartas e anotações, p.108.

24 Charles de FOUCAULD, Meditações sobre o Evangelho, p.155.

25 JOÃO PAULO II, Exortação apostólica pós-sinodal “Vita Consecrata”, nJesus

26 Extraído de um texto do jovem frei franciscano Fabiano Aguilar Satler ( pro manuscripto), generosamente colocado à nossa disposição. Ver também: Card. José Saraiva MARTINS, O beato Charles de Foucauld: profeta da fraternidade, p.8, c.2: “O elemento mais novo do ensinamento de Charles de Foucauld sobre o mistério de Nazaré é que a vida escondida de Nazaré não foi unicamente uma etapa na preparação de Jesus para sua missão de Salvador, por quanto preponderante cronologicamente, era já salvação que começava a agir, por meio dele... Assim, uma alma plena de Jesus pode levar a salvação”.

27 Benito CASSIERS et alii, Eu sou teu irmão, p.45: “A intuição era novidade para seu tempo, pois até aquele momento a chamada ‘vid a oculta’ de Jesus tinha-se identificado com a vida monástica. O Irmão Carlos intuiu que o seguimento de Jesus no mistério de Nazaré, longe de levá-lo à vida enclausurada, impelia-o ao contrário a misturar-se com o povo e a ser como Jesus um a mais entre os pobres e desprezados. Sua vida contemplativa se desenvolveria no meio de gente humilde. Conheceria em profundidade o coração do Senhor na medida em que vivesse materialmente como ele viveu. Faria a experiência de fraternidade universal e a proporia ao mundo”.

29 René VOILLAUME, Fermento na massa, p.162. 30 Ibid., p.150. O desejo do Irmão Carlos de “imitar a vida humilde e laboriosa de seu bem-amado Irmão e Senhor está mesmo de maneira direta na origem daquilo que é verdadeiramente novo e propriamente original em sua concepção de vida religiosa. Nazaré inspirou ao Padre de Foucauld uma nova forma de vida exterior, enquanto que sua espiritualidade se alimenta na plenitude do mistério de Jesus, ao qual se une através do evangelho” (p.165).

31 Ibid., p.203.

32 Jean-François SIX, Carlos de Foucauld hoje, p.70-71.

33 FREI BETTO, Revista Sem Fronteiras, set. de 2003, p.35.

34 Charles de FOUCAULD, Cartas e anotações, p.198.

35 Miguel MARTEL, Carlos de Foucauld. In: Benito CASSIERS et alii, Eu sou teu irmão, p. 22: “... Ele via no colonialismo que ia submetendo esses povos uma oportunidade histórica para que eles pudessem romper suas estruturas feudais e escravagistas e abrir-se a uma cultura mais moderna e mais universal”.

36 Mensagem ao Bispo da Diocese de Viviers (26-5-2001).

37 Cf. CMBR, Op zoek..., p.11.

38 A exigüidade de um artigo (que mesmo assim ficou extenso) não permite desenvolver em pormenores este tema, assunto a ser retomado no projetado livro sobre Charles de Foucauld.

39 Frei Fabiano Aguilar Satler, ofm,