À PROCURA DA OVELHA PERDIDA

À PROCURA DA OVELHA PERDIDA

Charles de Foucauld (Retiro em Nazaré, Novembro de 1897)

À procura da ovelha perdida

Ia-me afastando mais e mais de Vós, meu Senhor e minha vida, e a minha vida começava a ser uma morte, ou antes, era já uma morte a vossos olhos. E neste estado de morte me conserváveis ainda. […] A fé tinha desaparecido por completo, mas o respeito e a estima haviam permanecido intactos. Concedíeis-me outras graças, meu Deus, mantínheis em mim o gosto pelo estudo, pelas leituras sérias, pelas coisas belas, a repugnância pelo vício e pela fealdade. Fazia o mal, mas não o aprovava nem o amava. […] Dáveis-me essa vaga inquietação de uma má consciência que, por adormecida que esteja, nem por isso está morta.

Nunca senti esta tristeza, este mal-estar, esta inquietação, senão nessa altura. Era, pois, um dom vosso, meu Deus; que longe estava eu de suspeitar de que assim fosse! Que bom sois! E, ao mesmo tempo em que impedíeis a minha alma, por essa invenção do vosso amor, de se afundar irremediavelmente, preserváveis o meu corpo: pois se tivesse morrido nessa altura, teria ido para o inferno. […] Os perigos da viagem, tão grandes e tão numerosos, de que me fizestes sair como que por milagre! A saúde inalterável nos lugares mais malsãos, apesar de tão grandes fadigas! Ó meu Deus, como tínheis a vossa mão sobre mim, e quão pouco eu a sentia! Como me protegestes! Como me abrigastes sob as vossas asas, quando eu nem sequer acreditava na vossa existência! E, enquanto assim me protegíeis, e o tempo ia passando, parecia-Vos que tinha chegado o momento de me reconduzir ao cercado.

Desfizestes, apesar de mim, todos os laços maus que me teriam mantido afastado de Vós; desfizestes mesmo todos os laços bons que me teriam impedido de ser, um dia, todo vosso. […] Foi a vossa mão, e só ela, que fez disto o começo, o meio e o fim. Que bom sois! Era necessário fazê-lo, para preparar a minha alma para a verdade; o demónio é excessivamente senhor de uma alma que não é casta, para nela deixar entrar a verdade; não podíeis entrar, meu Deus, numa alma onde o demónio das paixões imundas reinava como senhor. Queríeis entrar na minha, ó Bom Pastor, e fostes Vós que dela expulsastes o vosso inimigo.

Disse Charles de Foucauld: “Ser tudo para todos, com um único desejo no coração: o de dar Jesus às almas”.

CONCLUSÃO

O grande marco na vida de Charles de Foucauld foi ir ao encontro do outro, seja perto ou longe, conhecido ou desconhecido, religioso ou não, pobre ou rico, livres ou escravos, amigos ou inimigos, no entanto, o mais importante é ser testemunha de Cristo como “Irmão Universal”. O Evangelho proclamado com a vida revelando ardentemente a busca do Absoluto. Ir ao encontro do outro é viver numa dimensão do amor que uni, que promove a paz, que a justiça é para todos, que a fraternidade conecta com todo bem comum e que a graça e a fé cristã são recebidas pela misericórdia do Pai Eterno. Charles de Foucauld viveu a cultura do encontro, se junta com o outro em prol da comunhão, trabalhando a caridade com todos e sendo irmãos e amigos de todos. Sua missão era de compaixão pelos mais desfavorecidos, os últimos. Em Charles de Foucauld aprendemos a arte de ser e fazer amigos. Sua vida evangélica é uma Boa Nova de construir amizade comunitária e para vida eterna.

Pe. Inácio José do Vale

Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas

Irmãozinho da Visitação da Charles de Foucauld

E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com