SSMA. TRINDADE-A

DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE-ANO A

04/06/2023

“UNIÃO COM CRISTO E O PAI NO ESPÍRITO” 


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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


Primeira Leitura: Êxodo 34,4b-6.8-9

Salmo Responsorial: Daniel 3, 52-56-R- A vós louvor, honra e glória eternamente!

Segunda Leitura:-2 Coríntios 13,11-13

Evangelho:  João 3,16-18

16Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.18Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. Palavra da Salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP


Jo 3,16-18

Normalmente a liturgia nos remete a um evento histórico da salvação. Ela nos coloca, por exemplo, diante do evento da encarnação, do nascimento, do sofrimento, da morte e ressurreição de Jesus. E não podia ser diferente: é Deus que vem ao nosso encontro para nos salvar e isso implica vir para a nossa história e nosso tempo.

Hoje a liturgia não nos remete a um acontecimento histórico, mas ao próprio mistério de Deus. Trata-se do mistério cristão por excelência, o mistério do qual nasceu toda a história da salvação e tem origem todos os eventos salvadores. É o mistério pelo qual o cristianismo se distingue em seu vértice de todas as outras tradições religiosas. O mistério de Deus: um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.

A Trindade é um mistério para nós. Este “para nós” deve ser entendido no sentido de que somos os destinatários da revelação do Mistério mais íntimo de Deus: Deus quis em sua bondade e condescendência revelar realmente a si mesmo. 

O mistério da Trindade revelado “para nós” é o mistério da condescendência de Deus: “De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho Unigênito... Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele”. A revelação da Trindade coincide com a ação da infinita bondade do Pai em nos enviar o Filho e o Espírito Santo para a nossa salvação.

O filósofo Platão exprimiu como o mundo antigo via a relação de Deus com o ser humano: “nenhum deus pode se misturar com o homem”. A revelação da Trindade representa uma revolução e um evento totalmente inesperado: Deus quis “misturar” a sua vida com a nossa, e Ele o faz nos enviando o Filho e o Espírito Santo.

A vida dos cristãos está agora indissoluvelmente ligada ao Pai, o Filho e ao Espírito Santo. Todos nós estamos ligados a pessoas que nos são familiares: os pais, os filhos, os irmãos e o cônjuge. Nossa existência está tão ligada a estas pessoas que nos sentimos parte deles e eles como parte de nós. Quando falta algum deles ou alguém desses nós é tirado, temos a sensação de perder uma parte de nós mesmos. Parece que não somos mais os mesmos se algum desses familiares se ausentar.

Nenhuma pessoa, porém, por mais familiar que nos seja, está tão radicada em nós do que o Pai, o Filho e o Espírito Santo. As três pessoas divinas lançaram suas raízes profundamente em nossa existência no dia de nosso batismo. Eles estabeleceram em nós a sua morada e nos são mais íntimos a nós do que nós mesmos; estão mais presentes em nós do que nós em nós mesmos (Santo Agostinho).

Crer no Pai, no Filho e no Espírito Santo não é aceitar uma ideia de Deus. É aceitar e viver conscientemente a felicidade dessa relação radical, dessa presença no coração, dessa intimidade e presença da Trindade em nós. O dogma da Trindade não é uma teoria! É a presença da realidade de Deus em nós. Santa Isabel da Trindade testemunhou: “Eu encontrei o céu na terra, porque o céu é a Trindade e a Trindade está dentro de mim”. A vida cristã sem essa fé, sem essa habitação interior, sem essa divina presença, é uma vida cansativa, sobretudo porque vive fora do ambiente do amor. 

Essa é a “Trindade da fé”: presença, inabitação, intimidade, interioridade.

Devemos cair na conta da “Trindade da esperança”. A Trindade nos espera: está em nós para que estejamos nela por toda a eternidade; habita em nós como num templo para que possamos habitar nela como nossa morada definitiva. Atravessamos o vale de lágrimas acompanhados pela divina presença da Trindade para chegar à vida eterna “quando será enxugada toda lágrima”. Caminhamos na obscuridade da fé, às apalpadelas, guiados pela Trindade que nós veremos “face a face”. No nosso caminho o coração se aquece quando o divino peregrino nos explica as Escrituras, até que os nossos olhos se abram e a Luz, que é Deus, iluminar toda a história e todo universo. 

Caminhamos em direção do Pai, do Filho e do Espírito, atraídos pela força gravitacional do amor. Na verdade, tudo é atraído para a Trindade: a humanidade, a história e o cosmos. 

“A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”.

Festa da Santíssima Trindade - Jo 3, 16-18 - A - 04-06-23.


Se tu vês a caridade, vês a Trindade (S. Agostinho)


Pe Adroaldo Palaoro


“Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único...” (Jo 3,16)


Com a festa da Santíssima Trindade chegamos ao cume do tempo litúrgico pascal. A revelação nos diz que nosso Deus não é solidão, mas comunhão de Pessoas: Pai-Filho-Espírito Santo.

A Trindade não é um problema numérico (três em um), mas um mistério de amor, de salvação e de vida.

Deus-Trindade é, portanto, a relacionalidade por excelência; total relacionalidade de cada uma das pessoas divinas com respeito às outras, de tal forma que se implicam e incluem reciprocamente sempre e em cada momento, sem que uma seja a outra.

Deus só existe como ser em relação. A grande novidade cristã é que a divindade só existe comunicada, partilhada. Deus é relação. Deus é só relação. Deus é só amor.

“No princípio está a relação” (G. Bachelard).

Deus é essencialmente relação; e essa relação, “num belo dia”, transbordando de vida, transbordando de gratuidade, pôde abrir-se a nós para nos fazer existir, concedendo-nos o ser e convidando-nos a entrar no fluxo dessa mesma relação trinitária.

Jesus não pregou sobre a Trindade, mas abriu o caminho que conduz ao Pai e enviou seu Espírito.

A partir de sua própria experiência de Deus, Jesus convida seus seguidores a se relacionarem de maneira confiada com Deus Pai, a seguirem fielmente seus passos de Filho de Deus encarnado e a se deixarem guiar e alentar pelo Espírito Santo. Ele os ensina, assim, a se abrirem ao mistério santo de Deus.

Também os primeiros cristãos não elaboraram argumentos sobre a Trindade (nem Pedro, nem Paulo, nem os evangelhos, nem mesmo os chamados Padres apostólicos), mas todos falaram sem cessar do Pai, do Filho Jesus e do Espírito Santo.

Só no final do séc. II e princípio do séc. III alguns teólogos audazes começaram a falar da Trindade e descobriram que esse nome era mais cômodo para referir-se, ao mesmo tempo, ao Pai, a Jesus e ao Espírito, de maneira que começaram a empregá-la com certa frequência.

A Trindade não é um dogma separado da Bíblia ou da Igreja; no centro da Bíblia e da vida cristã se encontra o mistério de Deus-Pai, que conhecemos por Jesus e compartilhamos pelo Espírito Santo, em sua união e diferenças. Esses Três, que são Um, em amor e vida, constituem o que, com palavra imperfeita, mas talvez imprescindível, chamamos Trindade, para confessar por ela que o Deus dos homens é dinamismo de vida e impulso de amor na mesma história dos homens. Entendida assim, a Trindade constitui, com a Encarnação, o centro do mistério cristão: por ela sentimos e sabemos que Deus é fonte inesgotável e comunhão criadora de amor que anima e sustenta a história dos homens.

Conta-se que, certa vez, um homem provocou S. Agostinho dizendo que não podia ver a Trindade. Este lhe respondeu: “Tu vês a Trindade quando vês a caridade” (De Trinitate VIII, 8,2). Esta resposta, tão fulgurante como esclarecedora, nos situa no coração do mistério de Amor que presidiu a Criação, centrou-se na Encarnação e alcançará sua plenitude na Ressurreição.

A partir desse Amor vivemos a fé e a comunhão trinitária como a expressão mais adequada da vida única, radiante, irradiadora, do Pai, do Filho e do Espírito Santo que, contemplando-se um ao outro, se revelam como fonte e origem de tudo o que existe. A criação inteira procede das entranhas amorosas das Três Pessoas divinas; não só isso, a Criação é também morada da Trindade; em tudo encontramos “marcas” da ação trinitária e, de maneira especial, onde a caridade é vivida.

Assim, à luz da afirmação de S. Agostinho, podemos sentir e “ver” a Presença da Trindade lá onde o amor se expande e se externaliza na prática da caridade.

Esta é a nossa credencial como seguidor(a) de Jesus: a vivência do amor, desse amor que contempla a vida e sente o pulsar da Trindade na beleza da criação e na dignidade de cada ser humano.

Portanto, o mistério da Trindade não é uma verdade a ser pensada, mas uma presença a ser vivida; presença que perpassa tudo e se faz visível em toda realidade; presença que ultrapassa tudo o que pensamos e refletimos sobre ela. Só quem tem olhos contemplativos vê as “marcas” da presença do Deus Uno e Trino em tudo e em todos.

É da essência da Trindade ser “amor em movimento”; por isso, onde há amor e caridade, aí está a Trindade; e só corações solidários são capazes de entrar no fluxo desse amor e adorar o Deus trinitário.

Sabemos que “caridade” provém de “cháris”= Graça. Caridade é Graça em ação, é amor incondicional, é dom gratuito, é favor concedido a alguém, é generosidade radical. A caridade é a visibilização da ação trinitária. O ser humano entra no movimento amoroso da Trindade quando sai de si e se revela presença solidária juntos aos mais necessitados; ali ele deixa transparecer o rosto amoroso da Trindade.

Aqui está a grandeza do ser humano, criado à imagem e semelhança do Deus Trindade. E é fácil intuir isso: sempre que sentimos o dinamismo de amar e ser amados, sempre que sabemos acolher e buscamos ser acolhidos, quando compartilhamos uma amizade que nos faz crescer, quando sabemos dar e receber vida..., estamos saboreando o “amor trinitário” de Deus. Esse amor que brota em nós tem n’Ele sua fonte.

Por isso, quem vive o amor a partir da Trindade, aprende a amar a quem não lhe pode corresponder, sabe doar sem esperar recompensa, é capaz de compadecer-se dos mais pobres e excluídos, pode entregar sua vida para construir um mundo mais amável e digno de Deus.

Nesse sentido, o melhor caminho para aproximar-nos do mistério da Trindade não são os tratados teológicos que falam dela, mas as experiências amorosas que compartilhamos na vida. Só encontramos e “vemos” a Trindade com o coração.

Quem é incapaz de dar e receber amor, quem não sabe compartilhar nem dialogar, quem só escuta a si mesmo, quem resiste relacionar-se com os outros, quem só busca seu próprio interesse, quem só deseja o poder, a competição e o triunfo, não pode experimentar nada da Trindade amorosa.

Assim, possuímos uma vocação à comunhão, que é antes de tudo comunhão com o Pai. Essa comunhão se realiza em e por Cristo: Ele nos introduz na relação filial com o Pai e permite que possamos chegar a ser, mediante o Espírito Santo, filhos e filhas do Pai. Então, não somos simplesmente “ícone” da Trindade, mas criaturas cuja plenitude de vida consiste na participação da vida trinitária. Fomos criados “à imagem e semelhança de Deus”, e Deus é amor, comunhão, relação em si mesmo e na Trindade. Desta fonte nasce o sentido das relações mútuas entre os seres humanos.

O Pai está gerando continuamente o Filho dentro do nosso coração. E Pai e Filho deixam emergir o Espírito Santo na profundidade do nosso espírito. A Trindade habita nosso ser mais profundo. Deus está dentro. Somos como que o sacrário que acolhe Deus e, por isso, podemos louvar, festejar, porque somos o templo de Deus. É a Trindade que vem ao nosso encontro e faz de nosso interior sua morada, não cada uma das “pessoas” separadamente. Não estamos falando de “três em um”, mas de uma única realidade que é relação.

Santa Teresa d’Ávila, mestra da espiritualidade, afirma que dentro de cada um de nós, há uma morada secreta do amor divino. A espiritualidade consiste em caminhar no escuro e numa busca insistente, de aposento em aposento, de câmara em câmara do próprio coração, até atingir essa morada íntima de Deus em nós. Lá Ele nos espera.

O escutamos no despojamento de tudo o que possa nos distrair e dispersar da sua presença discreta. Só assim poderemos cantar e dançar para Ele o nosso amor.

Para meditar na oração

A oração é sempre uma experiência de comunhão.


Ela nos abre a um Outro que é comunhão, partilha, diálogo, e só podemos ir a Ele se entramos nesse intercâmbio contínuo de amor.


É configurando-nos ao Filho, no Espírito, que a oração nos faz glorificar o Pai. É abrindo-nos a uma atitude filial, no seguimento de Jesus, que nos tornamos templos do Espírito, para a alegria do Pai.

- Entre no fluxo do “amor trinitário”; deixe o Espírito clamar em seu interior: “Abba, Pai”.

- Seja “transparência da Trindade” nos relacionamentos com as pessoas na sua vida cotidiana.



Um Amor que nos compromete

Ana Maria Casarotti

Continuamos com as grandes festas da nossa fé. Neste domingo celebra-se a Festa da Santíssima Trindade, que nos lembra dum aspecto essencial da nossa vida cristã. A liturgia de hoje contribui para que aprofundemos na presença do Espírito Santo na comunidade, que nos revela o Amor de Deus Pai e Mãe na pessoa de Jesus.

O trecho do evangelho situa-se no cenário do encontro entre Jesus e Nicodemos, que “foi encontrar-se com Jesus à noite”. Diz-se que os rabinos estudavam até a noite e o evangelho nos traz assim esta busca de Jesus como fonte de conhecimento. Nicodemos era “um judeu importante” que conhecia os sinais que Jesus realizava e por isso vai até ele.

Sua presença diante de Jesus à noite sinala também seu medo diante dos seus, como também expressa uma possível pergunta que havia sido feita por alguns fariseus sobre a origem de Jesus: será ele o profeta enviado por Deus para acelerar a chegada do reino de Deus mediante o cumprimento da Lei? Mas Jesus fala da necessidade de nascer de novo, é fundamentalmente nascer do alto! Apesar de ser mestre de Israel, Nicodemos não compreende as palavras de Jesus e sua mensagem!

“Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna.” Assim começa a narrativa sobre a qual meditamos hoje. Para acolher as palavras de Jesus é preciso abrir-se e receber o amor de Deus na pessoa de Jesus. Esse é o Pai que Jesus vai nos revelar. No amor de Deus não há limites, só é preciso acolher a pessoa de Jesus que faz nascer em nós a vida eterna.

O amor de Deus é um amor que só pode ser compreendido se é experimentado. É uma experiência da sua presença na nossa vida e na vida das comunidades que nos conduz a redescobrir sua presença de amor no meio de nós. Ele está presente, mas muitas vezes nossas atitudes impedem que possamos reconhecê-lo e, assim, acolhê-lo para que faça morada em nós.

A Trindade é uma relação de amor entre as Pessoas que se manifesta no grande amor ao ser humano na entrega de seu Filho. Esta festa é uma memória vivente da presença do Pai, Filho e Espírito Santo que põem sua morada na nossa vida e nas comunidades que não fecham a porta ao seu Amor. Desta forma pode-se falar da experiência de Deus que nos conduz a Ele, à vivência da sua presença e ternura. Não há distinção de pessoas porque seu amor é “para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 16).

Como disse Enzo Bianchi, “Eis o dom dos dons de Deus: dom gratuito, dom de si mesmo, dom irrevogável e sem arrependimento; dom nunca merecível, mas que deve ser acolhido com fé; dom feito apenas por um amor louco de Deus, que quis se tornar homem, carne frágil e mortal (cf. Jo 1, 14), para estar no meio de nós, conosco, e assim compartilhar a nossa vida, a nossa luta, a nossa sede de vida eterna” (Texto completo: Uma comunhão de amor).

Podemos perguntar-nos, como descobrimos sua Presença na história de salvação? Como é possível reconhecê-lo neste momento histórico que estamos vivendo?

Nosso Deus não ficou separado da humanidade, senão pelo contrário, é um amor que se entregou por cada um e cada uma de nós. Não é possível acreditar em Deus se não acredito no irmão que está ao meu lado. Acreditar em Deus e receber seu amor deve-se expressar no compromisso com todas as pessoas que sofrem as injustiças sociais, a marginalização ou, como acontece neste tempo de pandemia, a exclusão social pela possibilidade de contágio e por isso devem ficar à beira do caminho, “fora da cidade”.

Como disse o Papa Francisco na carta aos irmãos e irmãs dos movimentos e organizações populares: “vocês são um verdadeiro exército invisível que luta nas trincheiras mais perigosas. Um exército sem outra arma senão a solidariedade, a esperança e o sentido da comunidade que reverdecem nos dias de hoje em que ninguém se salva sozinho. Vocês são para mim, como lhes disse em nossas reuniões, verdadeiros poetas sociais, que desde as periferias esquecidas criam soluções dignas para os problemas mais prementes dos excluídos”.

E continua dizendo: “Quero que saibam que nosso Pai Celestial olha para vocês, vos valoriza, reconhece e fortalece em sua escolha. Quão difícil é ficar em casa para quem mora em uma pequena casa precária ou para quem de fato não tem teto. Quão difícil é para os migrantes, as pessoas privadas de liberdade ou para aqueles que realizam um processo de cura para dependências. Vocês estão lá, colocando seu corpo ao lado deles, para tornar as coisas menos difíceis, menos dolorosas”.

Deixando que suas palavras ecoem na nossa vida e no nosso agir, celebramos esta festa da Trindade sendo testemunhas vivas do amor do Pai por toda a humanidade.

Oração

Deus exposto

Em teu Filho Jesus

te ex-puseste,

saíste da eternidade

à intempérie dos tempos,

e em uma herança corrompida,

divino e humano conosco,

aninhou teu amor um vôo

de asas solidárias

girando até a altura,

elevando sem fim o horizonte.

Em teu Filho Jesus

te ex-puseste,

te encarnaste para dizer-te perto,

na inaudita pretensão

de ser todas as línguas e cores

em uma carne mortal e reduzida,

de ser uma parábola inesgotável

de matizes infinitos pelos séculos,

chegando viva e nova para todos

até o umbral dos sentidos.

Em teu Filho Jesus

te ex-puseste

te arriscaste no lugar mais baixo

vigiado, excluído e fracassado,

para oferecer-nos a Vida

em encontros vulneráveis,

na face sem falsidade,

às vezes beijado como amigo

e no final triturado sem remédio

até a morte e o escárnio.

Em teu Filho Jesus

te ex-puseste,

não te impuseste com teofanias

de fogos e espantos siderais,

nem com a sedução astuta,

nem com o poder armado,

porque somente em encontros livres

podem engendrar-se auroras

para ressurgir desde a noite

mais divinamente amanhecidos

Benjamin González Buelta

Salmos para sentir e saborear internamente as coisas



Abri-nos ao mistério de Deus

José Antonio Pagola


Ao longo dos séculos, os teólogos fizeram um grande esforço para aproximar-se do mistério de Deus, formulando com diferentes construções conceituais as relações que vinculam e diferenciam as Pessoas Divinas no seio da Trindade. Esforço, sem dúvida, legítimo, nascido do amor e desejo de Deus.

Jesus, no entanto, não segue esse caminho. A partir da sua própria experiência de Deus, convida seus seguidores a relacionar-se de forma confiada com Deus Pai, a seguir fielmente seus passos de Filho de Deus encarnado, e a deixar-nos guiar e alentar pelo Espírito Santo. Ensina-nos assim a abrir-nos ao mistério santo de Deus.

Antes de tudo, Jesus convida seus seguidores a viver como filhos e filhas de um Deus próximo, bom e afetuoso, a quem todos podemos invocar como Pai querido. O que caracteriza este Pai não é seu poder e força, mas sua bondade e compaixão infinitas. Ninguém está sozinho. Todos têm um Deus Pai que nos compreende, nos quer e nos perdoa como ninguém.

Jesus mostra-nos que este Pai tem um projeto nascido do seu coração: construir com todos seus filhos e filhas um mundo mais humano e fraterno, mais justo e solidário. Jesus chama-lhe «reino de Deus» e convida todos a entrar nesse projeto do Pai, procurando uma vida mais justa e digna para todos, começando com seus filhos mais pobres, indefesos e necessitados.

Ao mesmo tempo, Jesus convida seus seguidores a que confiem também nele: «Não se perturbe vosso coração. Acreditais em Deus; acreditai também em mim». Ele é o Filho de Deus, imagem viva do seu Pai. Suas palavras e gestos mostram-nos como nos quer o Pai de todos. Por isso convida a todos a segui-Lo. Ele nos ensinará a viver com confiança e docilidade ao serviço do projeto do Pai.

Com seu grupo de seguidores, Jesus quer formar uma família nova onde todos procurem «cumprir a vontade do Pai». Esta é a herança que quer deixar na terra: um movimento de irmãos e irmãs ao serviço dos mais pequenos e desamparados. Essa família será símbolo e germe do novo mundo, querido pelo Pai.

Para isso, precisam acolher o Espírito que alenta o Pai e o Seu Filho Jesus: «Vós recebereis a força do Espírito Santo, que virá sobre vós, e assim sereis Minhas testemunhas». Este Espírito é o amor de Deus, o alento partilhado pelo Pai e o Seu Filho Jesus, a força, o impulso e a energia vital que fará dos seguidores de Jesus suas testemunhas e colaboradores ao serviço do grande projeto da Santíssima Trindade.


Deus é amor, sempre em autodoação

Enzo Bianchi

No domingo após Pentecostes, os cristãos do Ocidente celebram o mistério da Tri-unidade de Deus, do Deus uma e três vezes santo. Deus é uma comunhão de amor entre Pai, Filho e Espírito Santo, comunhão que não permanece fechada em si mesma, mas que se abre para nós, homens e mulheres, chamados a acolher e a responder a esse amor. E, como sempre acontece no cristianismo, a meditação sobre Deus começa com o homem Jesus Cristo, “o Filho unigênito que narrou Deus” (Jo 1,18).

Em particular, a Igreja nos convida a contemplar esse mistério através da leitura de um breve trecho tirado do terceiro capítulo do Evangelho segundo João. Nos versículos que o precedem, narra-se um diálogo entre dois mestres, o fariseu Nicodemos e Jesus, “o mestre que vem de Deus” (Jo 3,2).

Eles discutem sobre uma questão difícil e ao mesmo tempo crucial: a possibilidade de um autêntico renascimento do ser humano. Jesus afirma que ele só pode acontecer “do alto” (Jo 3,3), por obra do poder de Deus, mas o outro não entende...

Jesus então rebate que esse poder é o Espírito de Deus, é ele quem pode operar um novo nascimento (cf. Jo 3,5-8). Depois, acrescenta uma revelação à primeira vista enigmática: para que o Espírito seja derramado por Deus sobre a humanidade, é preciso que ele, o Filho do homem, seja “elevado”, como Moisés havia elevado uma serpente de bronze durante o caminho de Israel no deserto (cf. Nm 21,4-9). Olhando para aquele imagem, o povo era preservado da morte que o atingia por causa das serpentes venenosas: assim como a serpente era um sinal de salvação, assim será o Filho do homem uma vez elevado da terra, e quem crer nele terá a vida eterna (cf. Jo 3,14-15).

Mas o que significa “ser elevado”? Certamente significa ser elevado da terra, e Jesus o será na cruz (cf. Jo 8,28); mas também significa ser elevado por Deus (cf. Jo 12,32), que tomará Jesus na sua glória e o proclamará Senhor.

Em suma, estamos diante do anúncio central da nossa fé, feito na língua joanina: a da paixão, morte e ressurreição de Jesus. É por isso que o evangelista sente a necessidade de interromper o relato para comentar o anúncio de Jesus e o faz com palavras que representam uma espécie de evangelho no Evangelho: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”.

Com toda a sua vida gasta até sua morte na liberdade e por amor nosso, com a sua passagem entre nós, fazendo o bem no poder do Espírito Santo (cf. At 10,38), Jesus Cristo nos narrou que “Deus é amor” (1Jo 4,8.16); nos manifestou, na concretude de uma existência humana, o ato gratuito com que Deus escolheu enviá-lo no mundo, a ele, o seu único Filho, entregando-se sem reservas a nós, homens e mulheres.

Por isso, o autor pode continuar: “Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”. Somos nós que nos julgamos sozinhos, acolhendo ou rejeitando o amor vivido por Jesus...

João expressará novamente essa realidade na sua Primeira Carta, com palavras de contemplação que são o melhor comentário às do Evangelho: “Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos a vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados. (...) A prova de que permanecemos nele, e ele em nós, é que ele nos deu do seu Espírito. E nós vimos, e damos testemunho: o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo” (1Jo 4,9-10.13-14).

Sim, o amor vem de Deus e chega até nós, homens e mulheres, e não vice-versa: “Nós amamos, porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19)! Portanto, somos convidados a nos reconhecer como criaturas amadas radicalmente por Deus no poder do seu Espírito Santo, a “crer no amor” (cf. 1Jo 4,16), que se manifestou definitivamente no Filho Jesus Cristo.

Acolhendo esse amor, somos capacitados a exercitá-lo, amando-nos uns aos outros: é assim que o amor de Deus pode se espalhar e se manifestar na história. Na verdade, como canta um antigo hino da Igreja, “onde o amor é verdadeiro, lá está Deus”!



Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho único – João 3,16-18 –


Tomé (Thomas McGrath)

O evangelho de João é como um tecido, feito com três fios diferentes, mas parecidos. Os três combinam tão bem entre si que, às vezes, não dá para perceber quando se passa de um fio para outro. 

1. O primeiro fio são os fatos e as palavras de Jesus dos anos trinta, conservados pelas testemunhas oculares que guardaram as coisas que Jesus fez e ensinou. 

2. O segundo fio são os fatos da vida das comunidades. A partir da sua fé em Jesus e convencidas da presença dele em seu meio, as comunidades iluminavam a sua caminhada com as palavras e os gestos de Jesus. Isto influenciou a descrição dos fatos. Por exemplo, o conflito das comunidades com os fariseus do fim do primeiro século marcou a maneira de descrever os conflitos de Jesus com os fariseus. 

3. O terceiro fio são comentários feitos pelo evangelista. Em certas passagens, é difícil perceber quando Jesus deixa de falar e o próprio evangelista começa a tecer seus comentários. 

O texto do evangelho de hoje, por exemplo, é uma reflexão bonita e profunda do próprio evangelista a respeito da ação de Jesus. A gente quase nem percebe a diferença entre a fala de Jesus e a fala do evangelista. De qualquer maneira, tanto uma como outra, ambas são palavra de Deus.

O trecho de hoje é tirada de uma conversa entre Jesus e Nicodemos (João 3,1-21). Palavras dirigidas a todas as pessoas.

João 3,16: Deus amou o mundo.  A palavra mundo é uma das palavras mais frequentes no evangelho de João: 78 vezes! Ela tem muitos significados - a terra, o espaço habitado pelos seres humanos (Jo 11,9) ou o universo (Jo 17,5.24). Mundo também significa as pessoas que habitam esta terra, a humanidade toda, ou ainda, um grupo numeroso de pessoas, tipo “todo mundo” (Jo 12,19; 14,27). Aqui a palavra mundo tem o sentido de humanidade, todos os seres humanos. Deus ama a humanidade de tal modo que chegou a entregar seu filho único. Quem aceita que Deus chega até nós em Jesus, já passou pela morte e já tem a vida eterna.

Pois Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3,16).

Agora, quando São João se refere à “vida eterna”, isso não somente indica a nova dimensão da vida após a morte. É uma expressão que também faz referência à vida presente. Convém conferir alguns versículos, onde assim está escrito: tem a vida eterna (João 6,40.47.54). Ali, como também em outras passagens, o verbo “ter” não está no futuro – “terá” mas no presente do indicativo – “tem”. Isso revela que o amor de Deus manifestado em Jesus gera, neste mundo, vida eterna, isto é, vida definitiva, vida plena, vida digna, vida cidadã, vida em abundância (João 10,10). Em João 17,3, Jesus define em que consiste a vida eterna: que eles te conheçam a ti, o Deus único e verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo. E conhecer a Deus é viver o amor e a justiça (cf. Jeremias 22,15-16; Oseias 2,21-22; 6,6).

Deus deu o seu filho por amor. Em João 3,14, está escrito que é necessário que seja levantado o filho do ser humano. É importante superar a falsa compreensão de que Deus queria a morte de Jesus. Não. O Deus de Jesus não é conivente com a morte. Nem ele mesmo é um assassino. O próprio Jesus afirma que ele é Deus de vivos (Marcos 12,27). Jesus mesmo dá a sua vida livremente (João 10,18). Só o amor é capaz de doar a vida. Além disso, Jesus diz para Pilatos: quem a ti me entregou tem maior pecado (João 19,11). Entregar Jesus à morte, portanto, é pecado. E o pecado não vem de Deus. É a vontade do diabo. Por fim, lembramos que Paulo e Sóstenes escrevem assim às comunidades de Corinto: nenhum dos príncipes deste mundo conheceu a sabedoria de Deus, pois se a tivessem conhecido não teriam crucificado o Senhor da glória (cf. 1 Coríntios 2,7-8).

Na tradição de Israel, a fonte da vida está na lei (Salmo 119, 37.40.50; Neemias 9,29). É ela que orienta as posturas e atitudes dos israelitas. No entanto, para as comunidades joaninas, não é mais a letra da lei, mas o amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor (Romanos 8,39), que é fonte de vida eterna, de vida em abundância.

Pois Deus enviou o seu filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele (João 3,17).

Deus enviou o seu filho. No grego, a palavra apóstolo significa enviado, mensageiro. Interessante notar que nenhuma vez este evangelho usa o título de apóstolo. A única vez que aparece esta palavra, ela tem o sentido de mensageiro, de enviado (João 13,16). É provável que essa escolha pretenda enfatizar que Jesus é o único enviado, o único apóstolo do Pai. Mas, o fato é que o próprio Jesus nos inclui em seu apostolado. Envia Madalena, tornando-a apóstola da ressurreição (João 20,17-18). Também nos envia como apóstolos e apóstolas com a mesma missão que o Pai lhe confiara (João 20,21).

Aquele que crê no Filho não é julgado; mas quem não crê já está julgado porque não crê no Filho único de Deus. (João 3,18)

Outra palavra muito cara para a comunidade joanina é “crer” ou “acreditar”. Ela aparece 39 vezes neste evangelho. É interessante que este verbete não apareça como substantivo, "crença" ou "fé". A intenção é enfatizar que a fé deve ser ativa. Crer em Jesus é aderir ao seu projeto, é comprometer-se com a mesma missão de amor que o Pai lhe confiou. Mais do que ter fé em Jesus, acreditar significa ter a mesma fé de Jesus. Não é somente ter a atitude de acolhida e abertura à graça amorosa de Deus. É mais. É aderir a ela, vivendo da mesma forma como Jesus viveu. 

Jesus, embora tenha sido condenado por este mundo injusto, não quer a sua condenação, o seu julgamento. Deus enviou Jesus não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele. O amor de Deus quer trazer salvação, isto é, vida eterna, vida em abundância para todas as pessoas (João 10,10).

Jesus foi enviado ao mundo para que o mundo seja salvo, isto é, para que tenha vida eterna. Da mesma forma, também ele nos envia para sermos seus cooperadores na promoção de vida digna neste mundo (João 17,18; 20,21).


TEXTO EM ESPANHOL - DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


SOLEMNIDAD DE LA SANTÍSIMA TRINIDAD - CICLO "A"


Primera lectura (Ex 34,4-6.8-9):


Este texto forma parte de la sección que constituyen los capítulos 32 a 34 del Éxodo. En la misma se narra que Israel no respetó la ley fundamental contenida en las tablas de  piedra (Ex 32) sino que pecó de idolatría haciéndose un becerro de oro, un "dios a medida". Justamente el becerro de oro es considerado como una divinidad rival de Yavé (cf. Ex 20,3; 32,1.8) y provoca una grave crisis que pone en peligro la misma existencia de Israel como pueblo de Dios. Una cuestión domina estos capítulos: después del episodio del becerro de oro, ¿continuará Yavé a habitar en medio de su pueblo y a guiarlo en el desierto? (Ex 33,3.5.14).  Pero Moisés intercede y finalmente Yavé cede (Ex 33,14.17). La lección es que el Dios que acompañará a Israel será un Dios de perdón y de misericordia (Ex 34,6-7; el texto de hoy). 

En particular hay que notar que la misericordia y la clemencia aparecen como los atributos esenciales de Yavé (Ex 34,6) . En efecto, se proclama solemnemente a Dios como “bondadoso y compasivo” (rahum y hanun); “lleno de misericordia y verdad” (hésed we emet); o sea que su misericordia es fiel y permanente, que se mantiene por mil generaciones y perdona o soporta la culpa, la rebeldía y el pecado. Se utiliza aquí una expresión que los estudiosos llaman “fórmula litúrgica” pues, con algunas variaciones, la encontramos presente también en Nm 14,18; Sal 86,15 y 103,8. Se ha dicho que esta “fórmula de gracia” es “la afirmación central sobre Dios en el Antiguo Testamento que define no sólo los actos sino el carácter de Dios pues dicha fórmula subraya los atributos divinos que tocan el ser mismo de Dios, del cual se deriva su comportamiento” .

Ante esta manifestación Divina, Moisés responde con un gesto de adoración y con la petición, como prueba de esta actitud amigable de Dios, de que siga acompañando al pueblo estando presente en medio de ellos.



Segunda lectura (2Cor 13,11-13):


San Pablo concluye esta segunda carta a los Corintios, comunidad marcada por fuertes divisiones, con una exhortación a vivir en armonía y en paz. Si alcanzan esto, entonces "el Dios del amor y de la paz" permanecerá con ellos. Luego con la invocación final precisa que este Dios del amor y de la paz que permanecerá con ellos es el Dios cristiano, la Trinidad: el Señor Jesús; Dios el Padre y el Espíritu Santo. A Jesús se le atribuye la "gracia" (járis), al Padre el "amor" (ágape) y la comunión (koinonía) al Espíritu Santo. Por tanto, es Dios en su comunión íntima de Personas el fundamento y la causa de la comunión entre los cristianos.



Evangelio (Jn 3,16-18):


Jn 3,16: Sí, Dios amó tanto al mundo, que entregó a su Hijo único para que todo el que cree en él no muera, sino que tenga Vida eterna. 


En este versículo notamos siempre en primer lugar la entrega del Hijo para nuestra salvación, para que tengamos vida eterna. Pero también aquí se nombra a alguien muy importante y que a veces no tenemos tanto en cuenta: Dios Padre. La fuente del amor que lleva al Hijo a entregarse y que da sentido a su pasión es el amor del Padre: "tanto (Ou[twj: así; de este modo) amó Dios al mundo". Y en el versículo siguiente (3,17) se afirma que “Dios no envió a su Hijo al mundo para juzgar al mundo, sino para que el mundo sea salvo por Él”. O sea que tanto el envío y como la misión salvífica del Hijo proceden de Dios Padre. Hay dos verbos principales en 3,16-17 que definen el querer de Dios respecto a su Hijo: «darlo» (v. 16: dídomi) y «enviarlo» (v. 17: apostéllo). O sea que tanto el envío y como la misión salvífica del Hijo proceden de Dios Padre. De este modo el evangelio insiste en que la salvación nos viene por la entrega del Hijo, pero que la misma es obra del Padre que "tanto amó al mundo".

El término “mundo” tiene aquí un sentido positivo, se refiere a la totalidad de la humanidad, a la que Dios ha creado, ama y quiere salvar. Hay un claro universalismo en la finalidad salvífica de la entrega de Jesús.

   Ante esta donación amorosa de la salvación eterna por parte del Padre los hombres tienen que dar su respuesta: su opción fundamental que es recibirla o rechazarla, creer o no creer en ella. Y esta opción es tan fundamental que decide, ya en el presente, la salvación o condenación del hombre. Y en esto mismo consiste el juicio, por cuanto en el evangelio de Juan se da ya en el presente y provoca la separación entre los hombres según acepten o rechacen a Jesucristo como revelador del Padre .



Algunas reflexiones:


Cada vez que nos hacemos la señal de la cruz, invocamos a Dios como Padre, Hijo y Espíritu Santo confesando lo esencial de nuestra fe cristiana: la Santísima Trinidad y la cruz de Cristo. Sin embargo, este este misterio de Un sólo Dios en Tres personas distintas, nos resulta extraño o lejano; siendo tan esencial y cotidiano en nuestra vida cristiana.

Comencemos con dos ejemplos que tal vez nos ayuden. En primer lugar, pensemos que a las personas sólo podemos conocerlas bien cuando hablan y cuando actúan. Porque sólo nos damos a conocer, revelamos lo que sentimos y pensamos, cuando hablamos y cuando obramos. De modo semejante, Dios se nos ha dado a conocer obrando la historia de la Salvación y revelándose en ella a través de acciones y palabras. Justamente todo que hemos estado celebrando a lo largo de la Cuaresma y del tiempo Pascual, en especial la muerte, resurrección y ascensión de Jesús y su envío del Espíritu Santo a la Iglesia, nos ha revelado que Dios es único, es uno sólo; pero en su intimidad hay una comunión de Tres Personas distintas: el Padre Creador; el Hijo redentor y el Espíritu Santo santificador. 

Dios se ha manifestado desde el principio como el Creador y origen de todo. Ahora bien, en la plenitud de los tiempos “Dios amó tanto al mundo que entregó a su propio Hijo para salvarnos”, que es Jesús, el Hijo de Dios hecho hombre. Y Jesús nos ha revelado que en la intimidad divina existen el Padre, el Hijo y el Espíritu Santo; porque Dios es amor y el amor exige comunión de Personas. Por tanto, los cristianos creemos en un Único Dios que es Padre, Hijo y Espíritu Santo; y que llamamos la Santísima Trinidad.


El otro ejemplo es que una cosa es tener un trato formal con alguien y conversar de cosas exteriores a nosotros como el clima o el estado del tráfico; y otra muy distinta es tener un trato de amistad con alguien con quien compartimos lo que sentimos y pensamos; lo que esperamos y soñamos. Pues bien, Dios quiere tener con nosotros una relación de este segundo tipo, de amistad. Él quiere que lo conozcamos en su intimidad y se nos ha dado a conocer, se nos ha revelado; y quiere que nosotros también nos abramos a Él para ser amigos. 

Todos estamos invitados a experimentar la Trinidad que habita en nosotros; pues si dejamos que nuestra fe crezca y madure, nos vincularemos con cada Persona de la Trinidad de modo distinto. 

En nuestra relación con el Padre, nuestro creador, encontraremos al origen de la vida, la fuente primordial, y experimentaremos la paz que brota en nuestra alma al abandonarnos en sus firmes y suaves manos. 

En nuestra relación con el Hijo, con Jesús nuestro Salvador, experimentaremos al hermano y amigo que nos comprende, ante quien podemos abrir de par en par nuestro corazón, incluso en sus zonas más oscuras, pues siempre nos mirará con misericordia y nos ofrecerá el perdón del Padre. 

Al Espíritu Santo, nuestro Santificador, no podemos ponerle un rostro, pero sentiremos la fuerza del amor que engendra Vida, que hace cálida nuestra relación con el Hijo y que viene en ayuda de nuestra fragilidad y nos mueve a clamar a Dios llamándolo Abba, Padre (cf. Gal 4,6). Y también nos da la fuerza para confesar nuestra fe con valentía, para amar siempre y a todos los hombres; y ser testigos del amor de Dios delante de todos. 

Al respecto decía el Papa Francisco en el Regina Coeli del 7 de junio de 2020: “Dios Padre ama tanto al mundo que, para salvarlo, da lo más precioso que tiene: su único Hijo, que da su vida por la humanidad, resucita, vuelve al Padre y, junto con Él, envía el Espíritu Santo. La Trinidad es por lo tanto Amor, totalmente al servicio del mundo, al que quiere salvar y recrear. Y hoy pensando en Dios, Padre, Hijo y Espíritu Santo, ¡pensemos en el amor de Dios! Y sería bueno que nos sintiéramos amados: “¡Dios me ama!”. Este es el sentimiento de hoy.

Queridos hermanos y hermanas, la fiesta de hoy nos invita a dejarnos fascinar una vez más por la belleza de Dios; belleza, bondad e inagotable verdad. Pero también belleza, bondad y verdad humilde, cercana, que se hizo carne para entrar en nuestra vida, en nuestra historia, en mi historia, en la historia de cada uno de nosotros, para que cada hombre y mujer puedan encontrarla y obtener la vida eterna. Y esto es la fe: acoger a Dios-Amor, acoger a este Dios-Amor que se entrega en Cristo, que hace que nos movamos en el Espíritu Santo; dejarnos encontrar por Él y confiar en Él. Esta es la vida cristiana. Amar, encontrar a Dios, buscar a Dios; y Él nos busca primero, Él nos encuentra primero.

Que la Virgen María, morada de la Trinidad, nos ayude a acoger con un corazón abierto el amor de Dios, que nos llena de alegría y da sentido a nuestro camino en este mundo, orientándolo siempre hacia la meta que es el Cielo”.


Ahora bien, la respuesta del hombre, como lo señala con claridad el evangelio de hoy, es la aceptación de este amor salvífico mediante la fe. Así, la fe es justamente "creer en el amor de Dios". Dejarse amar y abrasar por este amor que supera todo conocimiento. La fe enamorada busca igualmente conocer al Amado en su intimidad, y a esto es invitada por la acción del Espíritu Santo. De este modo la inteligencia creyente de la Iglesia ha buscado penetrar en el misterio de Dios Amor y se ha encontrado con la revelación de Dios como comunión de Personas: Padre, Hijo y Espíritu Santo. Porque Jesús no sólo nos ha revelado el amor de Dios, sino a Dios como Amor, como comunión de Tres Divinas Personas en la unidad de una única Naturaleza Divina. Esta distinción de las Personas Divinas aparece con claridad en el saludo final de San Pablo a los Corintios, en la segunda lectura de hoy.


Por último, creemos que el hombre es imagen y semejanza de Dios. Sí, somos imagen de Dios Trinidad, de Dios que en su intimidad es comunión de personas. Es claro que alcanzaremos nuestra mayor realización como personas en la medida que vivamos la comunión y la entrega sincera de nosotros mismos a los demás por amor. Como bien nota E. Leclerc : "Estamos llamados a vivir el misterio de la comunión trinitaria en todas nuestras relaciones humanas, a actualizarlo y manifestarlo. Vivir la vida divina es vivir en el corazón mismo de la comunión trinitaria; es vivir esta experiencia de comunión, la cual, al unirnos a Dios, nos abre a todos nuestros hermanos". 




PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Dios amó tanto al mundo


Padre nuestro

Sabes de nuestra orfandad 

La soledad del corazón inquieto

Cuando se anhela lo eterno


Y vino El, tu hijo

A hacerse hermano nuestro

Lo podemos tocar y adorar

Saciarnos del verdadero Alimento


Es fácil creer, es de pequeños

Basta agacharse, permanecer de rodillas

Por un corto tiempo

Y pronunciar tu Nombre


Nada más y nada menos

Solo eso, y dejarnos arrullar por tu voz

Y volver a la ternura, a la inocencia

Al abrazo sincero


En todo perfecto Hijo de Dios,  Único, 

Con derecho de Juez aunque sin condena ni juicios

Ten compasión de nosotros

En tu amado mundo, aún peregrinos. Amén