29º DOM TC-A

29º DOMINGO DO TEMPO COMUM -  ano A

22/10/2023

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Isaías 45,1.4-6 

Salmo Responsorial 95(96)R- Ó família das nações, dai ao Senhor poder e glória! 

2ª Leitura: 1 Tessalonicenses 1,1-5b

Evangelho Mateus 22,15-21

Os fariseus saíram e fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra. 16    Mandaram os seus discípulos, junto com alguns partidários de Herodes, para perguntar: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus segundo a verdade. Não te deixas influenciar por ninguém, pois não olhas a aparência das pessoas. 17      Dize-nos o que pensas: é permitido, ou não, pagar imposto a César?” 18Jesus percebeu-lhes a maldade e disse: ‘Hipócritas! Por que me armais uma cilada? 19        Mostrai-me a moeda do imposto!” Apresentaram-lhe a moeda. 20      “De quem é esta figura e a inscrição?”, perguntou ele. 21“De César”, responderam. Ele então lhes disse: “Devolvei, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”.


DE DOM JÚLIO ENDI AKAMINE

Arcebispo de Sorocaba SP

Fariseus e herodianos.

 O conluio desses dois grupos para “apanhar Jesus em alguma palavra” revela o clima extremamente perigoso que Jesus tinha que enfrentar. Como sempre Jesus não se esquivou, não retrocedeu e nem deu uma resposta de sentido dúbio. Ele expressa com sinceridade sua convicção quanto à questão político-religiosa de pagar imposto a César. Os fariseus se opunham à cobrança de impostos, e os herodianos eram favoráveis. Tendo encontrado um adversário comum, os dois grupos rivais se unem e lhe armam uma cilada para forçá-lo a fazer um pronunciamento que fosse desaprovado por um ou outro partido.

Mestre, sabemos que és verdadeiro. 

Aqueles homens usam a lisonja como isca. “Quando alguém agrada mais do que é necessário, ou já te enganou ou vai te enganar”. Os lisonjeiros, embora digam a verdade, são possuidores de uma alma vil e maliciosa. Fingindo uma curiosidade inocente ou uma admiração pessoal, elogiam com uma má intenção. Nessa lisonja eles reconheciam a fidelidade de Jesus como mestre, sua sinceridade, seu destemor, e que ele, à diferença deles, não era bajulador e não fazia acepção de pessoas. Era como uma confissão de culpa. Essa lisonja, porém, era também um insulto, porque pensavam que Jesus ficaria com medo de expressar sua convicção pessoal ou que caísse como um ingênuo na armadilha preparada.

É lícito ou não. 

Pagar imposto é um ato de reconhecimento de uma autoridade constituída. A questão política dessa obediência, devida ou não, se reveste de um cunho também religioso que envolvia a consciência. Além da mordida econômica, o imposto a César incluía o pagamento a uma potência estrangeira cujos governantes não podiam ser considerados legítimos representantes de Deus, pois eram pagãos e foram impostos pelos dominadores.

Jesus percebeu a maldade. 

Até mesmo um homem de menor estatura espiritual poderia perceber o que aqueles homens queriam. Jesus não era um alienado e não precisava de uma revelação extraordinária para perceber as intenções daqueles homens. Eles não vinham como polemistas. Se assim fosse, mereceriam ao menos o respeito de Jesus. Vários são os fariseus que polemizaram com Jesus honestamente. A maldade consiste em se fingir de justos, encobrindo no coração maus desejos. A pergunta não é feita para conhecer a vontade de Deus, mas para ter motivos para perseguir Jesus. Cada um dos grupos já tem sua própria resposta.

Mostrai-me a moeda do imposto... De quem é a figura e a inscrição? 

A inscrição do denário era: Tiberius Caesar divi Augusti filius Augustus. A pergunta de Jesus rompe os fios da rede que eles lançam sobre Jesus. Eles mesmos devem reconhecer que a moeda que eles trazem no bolso os insere no sistema econômico do império. Eles são forçados a admitir que levavam as moedas cunhadas por Roma, com a efígie do imperador romano e que deviam por isso aceitar as suas consequências. Com aquelas moedas estrangeiras eles compravam produtos e pagavam serviços. Provavelmente tinham avidez de amealhar a maior quantidade possível de tais moedas pagãs. Eles só se perguntam sobre a licitude de um ato quando tem que pagar, mas não estão nem um pouco preocupados com a moralidade quando se trata de interesses pessoais. Não tem dramas de consciência quando a moeda estrangeira lhes proporciona vantagem, quando recebem de César; só há problemas quando devem restituir a César.

Dai a César o que é de César. 

A resposta de Jesus é clara. Aceitando as moedas de César, os fariseus e os herodianos entram no sistema econômico do império romano e por isso devem aceitar suas consequências: a aceitação da moeda de César é a admissão de sua soberania. A primeira parte da resposta indica que Jesus aceitava César como governador de fato, mas não de direito. César impunha o seu domínio político pela força e isto não podia ser considerado legal, do ponto de vista político e ético.

... e a Deus o que é de Deus. 

Mas a resposta de Jesus continua: Ele reconhece César, mas declara também que César não é Deus. A César se deve o respeito civil e político, mas ele não pode reclamar a adoração que é própria de Deus. Por isso também César deve dar a Deus o que é de Deus. Acima dos governantes e dos poderes constituídos, os cristãos obedecem a Deus.

Jesus manda dar a César o que é de César. 

César é o poder vigente, o regime e o Estado. O que é que lhe pertence? S. Paulo responde (Rm 13,7): os impostos, as taxas e o respeito. Mas isso é pouco. O Estado não é questão de uma pessoa nem de um partido. O Estado é uma questão que envolve a todos. Portanto, dar a César o que é de César significa participar na organização da vida da Sociedade e do Estado. Em outras palavras: não esquecer a política; não perder de vista nossa responsabilidade pelo Bem Comum; contribuir para uma ordem social justa e fraterna; é romper com o comodismo e o egoísmo.

Jesus manda dar a Deus o que é de Deus.

Deus não está ao lado de César; está acima dele, e por isso está presente em tudo, também na política. Deus não é somente Senhor da Igreja, não é encontrado somente na missa e no culto, mas deve ser obedecido também fora da Igreja: na vida política, nos nossos negócios, no nosso trabalho profissional. O cristão dá a Deus o que é de Deus, quando se compromete politicamente em vista da fraternidade, quando age honestamente nos negócios, quando faz de sua profissão um serviço para o bem comum. Evidentemente o culto e as realidades seculares são coisas distintas, mas não devem estar separadas. Com a sua ação no mundo, os cristãos consagram as realidades seculares e exercem um verdadeiro sacerdócio em seu cotidiano quando são guiados pelo Evangelho do Reino.

Dar a Deus o que é de Deus é o critério para dar a César o que é de César. 

O cristão respeita a autoridade constituída, mas não é um aliado cego dele. Se o poder pretende ser absoluto e se colocar no lugar de Deus, o cristão tem o dever de questioná-lo. 

A César damos o imposto com a consciência de que o dinheiro não pertence àquele que o detém. A riqueza é por sua natureza mais profunda fruto da terra e do trabalho humano. Portanto deve servir ao bem de todos. Nas últimas décadas foram gastos recursos imensos no desenvolvimento e aquisição de armamentos. Se esses recursos tivesse sido aplicados com inteligência e honestidade na saúde pública, na educação, no saneamento, nas política públicas não só teríamos dado a César o que de César, mas César teria dado ao povo o que é do povo.



A vida é só para Deus José Antonio Pagola

 

A exegese moderna não deixa lugar a dúvidas. O primeiro para Jesus é a vida, não a religião. Basta analisar a trajetória da Sua atividade. Vê-se que está sempre preocupado em suscitar e desenvolver, no meio daquela sociedade, uma vida mais sã e digna.

Pensemos na sua atuação no mundo dos doentes: Jesus aproxima-se de quem vive a sua vida de forma diminuída, ameaçada ou insegura, para despertar neles uma vida mais plena. Pensemos na sua aproximação aos pecadores: Jesus oferece-lhes o perdão que os faça viver uma vida mais digna, resgatada da humilhação e do desprezo. Pensemos também nos endemoniados, incapazes de ser donos da sua existência: Jesus liberta-os de uma vida alienada e desequilibrada pelo mal.

Como sublinhou Jon Sobrino, pobres são aqueles para quem a vida é uma carga pesada, pois não podem viver com um mínimo de dignidade. Essa pobreza é o oposto ao plano de vida original do Criador. Onde um ser humano não pode viver com dignidade, a criação de Deus aparece aí como viciada e anulada.

Por isso Jesus se preocupa tanto com a vida concreta dos camponeses da Galileia. O primeiro que necessitam aquelas pessoas é viver e viver com dignidade. Não é a meta final, mas agora mesmo o mais urgente. Jesus convida-os a confiar na salvação última do Pai, mas faz salvando as pessoas de males e aliviando doenças e sofrimentos. Anuncia-lhes a felicidade definitiva, no seio de Deus, mas faz introduzindo dignidade, paz e felicidade neste mundo.

Por vezes, os cristãos expomos a fé com tal confusão de conceitos e palavras que, na hora da verdade, poucos entendem sobre o que é exatamente o reino de Deus de que fala Jesus. No entanto, as coisas não são tão complicadas. A única coisa que Deus quer é isto: uma vida mais humana para todos e desde agora, uma vida que alcance a sua plenitude na vida eterna. Por isso não há que dar a nenhum César o que é de Deus: a vida e a dignidade dos seus filhos.

  

Nós vivemos a serviço de quem? De Deus ou de Cesar - Adroaldo Palaoro


“Devolvei a César o que é de César, e dai a Deus é que é de Deus” (Mt 22,21)


No evangelho de hoje continua o confronto entre Jesus e as autoridades religiosas. Os sacerdotes, anciãos e escribas tinham sido criticados e denunciados por Jesus na parábola da vinha. Agora, os mesmos pedem aos fariseus e herodianos para armar uma cilada contra Jesus - “é lícito ou não pagar imposto a César”?, a fim de poder apanhá-lo e condená-lo.


O tema era muito polêmico em tempos de Jesus. Vai mais além do simples pagar imposto ou não. Revela uma concepção de vida que tem a ver com ser livre ou escravo.

São o povo de Israel, povo eleito por Deus: como, então vão se submeter a César?

Jesus percebe a hipocrisia. Na sua resposta, ele não perde tempo em discussões inúteis, e vai direto ao centro da questão. Ele não cai na armadilha (pagar ou não pagar), mas propõe um caminho diferente: devolver a moeda a César, dar o que é seu, sair de seu império econômico, para assim ocupar-se verdadeiramente das coisas de Deus.


Este é um tema antigo, mas também atualíssimo, que nos situa diante do ideal de uma humanidade fraterna em gratuidade (sinal de Deus) e a realidade de uma política e economia sustentadas por tributos que, em princípio, poderiam e deveriam estar a serviço de todos, mas que na realidade tendem a ser controlados por alguns.


Diante da pergunta sobre o pagamento de impostos, Jesus dá à sua resposta uma profundidade que seus adversários não esperavam e que não lhe perguntaram: “e dai a Deus o que é de Deus”.

Que é de Deus? Para os judeus, como para nós, tudo é de Deus. Se a moeda tem a imagem de César, toda pessoa humana é, em si mesma, imagem de Deus; todos somos filhas e filhos seus. E, a partir dessa realidade, tudo muda em nossa vida. Portanto, não se trata de estar a serviço de dois senhores, de dividir os afetos entre eles, de estabelecer proporções e equilíbrios entre Deus e César. Jesus não coloca Deus e “César” no mesmo plano; são tantos “césares” a quem pagamos tributo e de quem nos fazemos súditos que até esquecemos que “Deus é o único Senhor”. Deus não pede impostos, nem se impõe sobre nós, é pura gratuidade. Sua presença é sempre providente e cuidadosa e que desperta em nós uma profunda gratidão: devolver a Ele todos os bens e dons que recebemos.


A única coisa que Deus deseja para todos é esta: uma vida mais humana desde agora e uma vida que alcance sua plenitude na vida eterna. Por isso, nunca se pode dar a nenhum “César” o que é de Deus: a vida e a dignidade de seus filhos e filhas.

Só ali onde é devolvida a César a moeda é que se pode dar a Deus o que é de Deus, ou seja, tudo o que somos e temos, inaugurando um tipo de vida diferente, em gratuidade, isto é, sem “capital” de império, sem a violência política e econômica que o tributo simboliza, sem o poder que desumaniza.

A resposta de Jesus aos fariseus e herodianos revela a existência de dois dinamismos, duas forças, ou duas presenças em nosso interior. Nossa liberdade sente-se movida e atraída em duas direções; estas tendências encontram-se instaladas no cento mesmo do coração.


Nele se encontram, com efeito, as raízes dessa dinâmica que, por um lado, se deixa conduzir pelo “césar da vida” fechando a pessoa no seu próprio ego e fazendo-se o centro; e, por outro, quem se deixa conduzir pela presença do Espírito, entra no fluxo da expansão de vida em direção à alteridade, ao serviço, à partilha. De um lado, o impulso para ir além de si mesmo; de outro, o movimento de retração e fechamento em si.


É preciso despertar a consciência da presença destas duas forças opostas (uma de alargamento ou expansão de si mesmo em direção aos outros, à criação, a Deus; e outra de fechamento, resistência e medo).

Aqui não se trata de alimentar um combate entre “Deus” e "César”, entre o bem e o mal; tampouco se trata de uma leitura moralista diante da presença das chamadas “tentações” (tendências, impulsos, inclinações... presentes em todos nós).


O seguimento de Jesus não é luta interna que desgasta, levando ao sentimento de impotência e desânimo. O combate dualístico (entre o bem e o mal) desemboca no puritanismo, no farisaísmo, no legalismo, no perfeccionismo, no voluntarismo... onde o centro sou “eu”.

A questão de fundo é saber: quem alimentamos em nossa vida? “Deus” ou “César”? Quem ocupa o centro da nossa vida? Estamos a serviço de quem? Onde estão nossos afetos: ordenados para Deus ou para “César”? Aqui nossa liberdade é ativada para deixar-nos conduzir pelo Espírito, assim como as águas do riacho se deixam conduzir em direção ao Grande Oceano. O centro é o Espírito.


Na perspectiva bíblica, há uma incompatibilidade radical entre “Deus” e “César”, entre o “Deus de Amor” e o “César do poder”, entre a paixão pelas riquezas e a paixão pelo Reino. Ninguém pode servir a dois senhores, pois não se pode investir afetivamente em duas direções.

Não é possível amar a Deus, isto é, amar a generosidade, a entrega, a solidariedade, a compaixão, a misericórdia, e ao mesmo tempo amar o “César”, isto é, amar o poder, a acumulação de riquezas que é base de toda injustiça e de todo desamor: fome, violência, exclusão, exploração...

A fidelidade ao Deus único fica interditada e o seguimento de Cristo fica fragilizado.


O apego aos “césares” dos bens, das riquezas, do poder... apresenta-se como uma das tentações mais poderosas para todo seguidor de Jesus. Como todo ídolo, o “César” provoca o fascínio, a adoração e as identificações mais perniciosas.

Daí surgem as racionalizações com a desculpa de servir a Deus; no fundo, manipulamos Deus para santificar nossos afetos desordenados. “Eu quero um Deus que queira o que eu quero”.

A proposta dos Evangelhos, nesse sentido, é clara e contundente.

Eleger a partilha e o despojamento é a base e condição para poder seguir Jesus no trabalho do Reino.

A escolha de uma vida despojada expressa a liberdade para colocar-se a serviço do Reino.

A afeição aos bens, ao poder, à vaidade..., pelo contrário, acarreta o enorme risco de se ficar cego e surdo para atender ao chamado de Jesus.

No centro da mensagem do evangelho encontramos a revelação de Deus como Pai e a proclamação da igualdade e da fraternidade de todos os homens e mulheres. A criação de uma comunidade onde o compartilhar substitua a acumulação, e que se apresente como alternativa àquilo que o mundo propõe, configura-se como uma das propostas mestras na proclamação do Reino de Deus.


A quantos “césares” pagamos tributos? Em chave de interioridade, alimentamos muitos “césares”, de quem nos tornamos súditos e dependentes, e que se impõem a nós com seus “impostos”. São os nossos apegos, instinto de posse, busca de poder e prestígio, posição social, títulos... que exigem alto investimento afetivo. Carregamos “nocivos hospedeiros” que um dia entraram em nossa vida, foram crescendo lentamente, alimentando-se de nós mesmos e acabam nos paralisando como em teias de aranha, destruindo-nos por dentro. É preciso reordenar todos os dinamismos e potencialidades humanas em direção a um horizonte de sentido: o Reino. O discípulo pela metade não pode ser discípulo. Deus é Santo, mas em sua santidade pede sinceridade na vontade e verdade no coração. Não servem as entregas pela metade. Deus não pode se contentar com “amor a prestações”, com retalhos de vida.


Para meditar na oração

Você se sente pessoa livre, que busca e escuta a verdade, Aquele que é a verdade?

- Você está a serviço da verdade, ou da mentira, das “fake news”? Seus afetos estão ordenados no serviço do “Deus do Reino” ou “César do poder”?



Mateus 22,15-21 - O que é de César a César… O que é mesmo de César? - Edmilson Schinelo.


Um plano bem armado: fazer Jesus cair na armadilha de suas próprias palavras! A cilada é introduzida por um elogio que é, ao mesmo tempo, reconhecimento de integridade: “Mestre, sabemos que és verdadeiro, que ensinas o caminho de Deus… que não consideras as pessoas pela aparência…” (v. 16). Depois do elogio, a pergunta: “É lícito ou não pagar o imposto a César?”

 


Inscrição da moeda: 

Tibério César, Filho Divino do Venerável Augusto


Em caso de resposta afirmativa, toda a pregação de Jesus cairia por terra diante do povo. A ocupação romana era o que havia de mais explorador, a transferência de impostos para Roma era elemento provocador de miséria e fome. Além disso, do ponto de vista religioso, pagar o imposto significava aceitar o culto ao imperador. Na própria moeda romana, podia-se ler: Tibério César, Filho Divino do Venerável Augusto. Por isso, os fariseus e a maioria do povo se opunham ao pagamento.

Por outro lado, se Jesus responde que não se deve pagar o tributo, é apanhado em atitude aberta de afronta ao império. Os próprios herodianos, favoráveis ao pagamento do tributo e a serviço dos romanos, ali estavam para o flagrante.

A resposta de Jesus desmascara qualquer religião fetichista e legitimadora do sistema, seja a divulgada pela propaganda imperialista, seja a alimentada por autoridades judaicas (no texto, representadas por fariseus). É possível que Jesus tenha tocado no coração do sistema religioso romano: o lucro proveniente da cobrança do tributo imposta às províncias conquistadas por Roma. Ao questionar o caráter divino do imperador, todo culto a ele prestado (leia-se: submissão, oferenda e pagamento do tributo) está deslegitimado.

Mas também está desautorizada e ridicularizada a prática de boa parte das lideranças judaicas, que mantinham duplo comportamento. Desejavam a expulsão dos dominadores, ao mesmo tempo em que reproduziam a dominação ou usufruíam das benesses propiciadas pela ocupação, incluindo o sistema de cobrança do tributo: ainda que a maior parte dos impostos fosse repassada a Roma, as elites alimentavam seu luxo com o que retinham do montante arrecadado pelos malvistos cobradores de impostos, os publicanos. Se, por um lado, as autoridades judaicas negavam-se a oferecer incenso ao divino César, por outro, eram beneficiadas com tal divinização.

Pagar ou devolver?

O texto de Mateus, seguindo a versão de Marcos (Mc 12,13), coloca juntos fariseus e herodianos. A narrativa de Lucas opta por classificá-los: “espiões que se fingiam de justos” (cf. Lucas 20,20). O interessante é que enquanto os falsos justos perguntam se é lícito ou não “pagar” (em grego, é o verbo dídomi) o tributo a César, Jesus responde com outra concepção de justiça: usa o mesmo verbo, mas acrescentando um prefixo (apo) que dá uma ênfase diferente: não se trata de pagar, mas de devolver, como pode ser traduzido o termo apodídomi.

Se na moeda está a imagem (literalmente a epigrafe) do seu proprietário, o dinheiro pertence ao opressor romano e é preciso devolver a ele. Como gosta de afirmar Gustavo Gutierrez, “se na pergunta dos fariseus está implícita a possibilidade de não pagar o tributo, também está a de ficar, nesse caso, com o dinheiro”. Jesus supera o pretenso nacionalismo dos fariseus, vai à raiz: “é preciso erradicar toda dependência do dinheiro. Não basta romper com o domínio político estrangeiro, é necessário romper a opressão que nasce do apego ao dinheiro e de suas possibilidades de exploração dos demais” (O Deus da vida. São Paulo: Loyola, 1990, p. 87-88).

Fazendo uso do imperativo, a comunidade de Mateus mantém enfática a resposta de Jesus: devolvam ao imperador o que lhe é devido; e, da mesma forma, a Deus o que é de Deus! No Sermão da Montanha, a comunidade já havia lembrado: Não se pode servir a dois senhores, não há como servir a Deus e ao dinheiro (Mateus 6,24). O culto a Deus não se coaduna com o culto a Mamon, aqui representado pelo sistema do império romano.

Mas o que é mesmo de César? E o que é de Deus?

Neste “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” ainda cabe a pergunta: o que mais é de César e o que é de Deus?

Em terra ocupada, toda a população sabia que além do denário, também era de César o procurador da Judeia, nomeado pelo próprio imperador. Eram de César os exércitos invasores com todo o seu aparato bélico. “A César o que é de César” inclui, portanto, todo o anseio de libertação. O clássico texto de Marcos 5,1-20 já tinha descrito, através da imagem dos porcos lançando-se ao mar, o mesmo desejo: a legião (termo militar para designar uma corporação de soldados) volta pelo caminho da onde veio, o mar (pelo Mediterrâneo chegavam os exércitos de César). Da mesma forma que no Êxodo, o mar havia engolido os cavalos do faraó e a opressão do Egito foi vencida, a comunidade espera que os porcos do império sejam devolvidos ao mar. É o que pode também ser lido no “Devolvam a César o que é de César”.

Em contrapartida, o que mesmo é de Deus? Conforme Levítico 25,23, a terra pertence a Deus, o povo é nela hóspede. Logo, não pode a terra ser tomada por outra divindade, o império romano. Mas não somente a terra pertence a Deus. Também o povo, em última instância, é o “povo de Deus”, com ele Deus fez aliança (Josué 24). A liberdade do povo é dom de Deus. E ele não pode ser oprimido por nenhum outro poder, seja nacional ou estrangeiro.

Cumprir a sugestão de Jesus pode trazer-nos riscos

Há que se repetir que o processo de divinização de Jesus feito pelas comunidades é oposição implícita (ou até mesmo explícita) à divinização do imperador. Não o imperador, mas o profeta de Nazaré é o Filho de Deus. Isso nos permite afirmar que o movimento de Jesus, ou pelo menos a leitura que dele se fez na segunda metade do primeiro século, traz em si forte reação anti-imperialista. E se reconhecemos que a teologia romana era, de fato, o centro ideológico do poder imperial, seu coração teológico, devemos admitir também que a comunidade cristã entendeu que proclamar Jesus Cristo como filho de Deus significava deliberadamente negar a César o seu mais alto título. Também não é por acaso que a equipe missionária de Paulo foi acusada de alta traição ao “revolucionar o mundo, agindo contra o decreto de César ao afirmar que há outro rei, Jesus” (cf. Atos 17,6-7).

Consequências viriam… Não por menos, tantas lideranças tiveram a mesma sorte de Jesus. A essa altura, só restaria mesmo a um camponês de periferia, já considerado blasfemo pelas autoridades religiosas de seu povo (Marcos 14,60-64), ser condenado como malfeitor (Lucas 23,33-34). Como o próprio Jesus, as comunidades experimentariam que não é simples “devolver a César o que é de César”. O império não costuma aceitar. 

Edmilson Schinelo é biblista popular e assessor do CEBI. 


  

A Deus o que é de Deus - Ana Maria Casarotti

 

Então os fariseus se retiraram, e fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra. Mandaram os seus discípulos, junto com alguns partidários de Herodes, para dizerem a Jesus: “Mestre, sabemos que tu és verdadeiro, e que ensinas de fato o caminho de Deus. Tu não dás preferência a ninguém, porque não levas em conta as aparências. Dize-nos, então, o que pensas: É lícito ou não é, pagar imposto a César?”

Jesus percebeu a maldade deles, e disse: “Hipócritas! Por que vocês me tentam? Mostrem-me a moeda do imposto.” Levaram então a ele a moeda. E Jesus perguntou: “De” quem é a figura e inscrição nesta moeda?” Eles responderam: “É de César.” Então Jesus disse: “Pois dêem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Ouvindo isso, eles ficaram admirados. Deixaram Jesus, e foram embora.

 

Esta narrativa do Evangelho de Mateus situa-se nos conflitos que Jesus tem com as autoridades judaicas. Neste texto e os que seguem, Mateus apresenta a tentativa dos judeus de pegar Jesus em alguma contradição o incoerência para ter como acusá-lo. Por isso eles fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra.

É preciso lembrar a situação de escravidão que sofriam os povos que pertenciam ao Império Romano. Eles tinham que reconhecer o César como uma divindade e oferecer-lhe todas as reverências próprias de um deus. Uma prática totalmente contrária a sua fé e a Lei do Moisés que eles tentavam obedecer fielmente.

Além disso, os povos escravos, neste caso os judeus, tinham que pagar um imposto para o rei Herodes, outro para o Templo de Jerusalém e os sacerdotes junto com as alfândegas, pedágios que todos os judeus tinham que pagar.

Por isso continuamente anelavam a libertação do povo Romano e na sua fé sustentava-se na espera de um libertador que os levasse a uma terra nova onde a escravidão não exista mais.

Os mais desfavorecidos eram os camponeses porque isto acrescentava sua situação de pobreza. Os impostos recaiam fundamentalmente sobre eles, que trabalhavam as terras.

Jesus incomodava o sistema socio-cultural estabelecido, romanos e os herodianos e os saduceus que estavam comodamente posicionados dentro do sistema. Os sacerdotes eram beneficiários dos tributos que se deviam pagar!

Os discípulos dos fariseus e os partidários de Herodes introduzem a pergunta com quatro capacidades e competências de Jesus, a primeira vista, positivas: “tu és verdadeiro”, “ensinas de fato o caminho de Deus”, “não dás preferência a ninguém” porque “não levas em conta as aparências”.

E depois desta introdução aparece o verdadeiro objetivo: Dize-nos, então, o que pensas: “É lícito ou não é, paga  imposto a César?”

Jesus encontra-se numa encruzilhada. Se ele responde afirmativamente, então confirma que é preciso obedecer ao Império Romano, sem preocupar-se do povo, dos pobres, dos que sofrem a escravidão, mas se responde negativamente ele é um revolucionário e seria denunciado ao Imperador.

Como disse Raymond Gravel “A pergunta é realmente uma armadilha: quer Jesus responda sim ou não, ele se enrosca de uma ou de outra maneira. A fórmula: "É permitido...’, é a fórmula clássica para a observância da Lei de Moisés. Se Jesus responde que sim, isso significa que ele está em conluio com os romanos, que idolatram o imperador; mas se ele responde que não, isso significa que ele convida à desobediência e incentiva movimentos extremistas como os zelotes à revolta contra a ocupação romana. (Texto completo em: Nos somos imagens de Deus)

Podemos imaginar os sentimentos de Jesus diante deste grupo de pessoas que vai à sua busca procurando sua própria contradição. Na sua resposta percebemos a capacidade de discernimento, sua serenidade interior apesar do incómodo da situação.

Como Jesus escuta as lisonjas e adulações que introduzem a pergunta? Ele não fica com as palavras separadas das pessoas que as formulam. Percebe o interesse de quem as pronuncia. As palavras que saem dessa boca são falsas! Imaginemos Jesus que escuta, mas não ouve atentamente. Ele percebe o fingimento e a falsidade da pergunta. Por isso reage com acusando-lhes de hipócritas. Nem as adulações nem a pergunta contêm sinceridade. Ele sabe distinguir que todo é usado para seduzi-lo. A intenção é outra.

Quantas vezes nos deixamos enganar por frases lisonjeadoras que nos levam para um caminho errado! Expressões bajuladoras que compensam sentimento de soledade ou necessidade de reconhecimento, que geram orgulho interior, mas como consequências levam-nos por caminhos errados.

Ele pede a moeda do imposto e com a moeda em suas mãos pergunta de quem é a figura e inscrição que há nela. Era a figura do César e a Lei mosaica proibia o uso de imagens porque o considerava idolatria.

Jesus responde devolvendo-lhes sua própria pergunta. Na sua pergunta sobre a imagem, coloca-os na sua encruzilhada: se a imagem é do Cesar eles não deveriam usá-la e não pertence a Deus. Por isso a resposta de Jesus é muito inteligente: “Pois dêem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.”

Esta resposta que foi interpretada erroneamente em várias oportunidades. Jesus não separa a preocupação das coisas deste mundo e as coisas de Deus porque isso trouxe consequências totalmente negativas. Muitas vezes se tentou que Deus fique no céu sem nenhuma incidência na vida dos seres humanos. Um Deus que gera uma fé desencarnada e menos comprometida. Pelo contrário. Jesus está ensinando que nos somos imagem de Deus e aqui radica a origem da nossa vida como criaturas amadas por Deus.

Cabe-nos perguntar: Acredito que Deus age na vida e na história da humanidade? Minha fé leva-me a um compromisso com o tempo histórico que estou vivendo?

“Dar a Deus o que é de Deus” , é responder a seu infinito Amor que tudo nos deu, e essa resposta passa pelo amor a nosso próximo e também na luta por eliminar tudo aquilo que signifique diminuição da vida para nossos irmãos, especialmente os mais pobres, e em contra da natureza

Paremos para reconhecer tudo o que de Deus recebemos, e podemo-nos perguntar a que ou a quem estou doando minha vida, minhas capacidades? Em favor do César do momento ou em favor do Reino de Deus?

Oração

Baseado no texto evangélico faça uma oração espontânea ou se deseja reze com a oração sugerida a continuação.

Tomai, Senhor e recebei toda a minha liberdade, minha memória e entendimento e toda a minha vontade. Tudo o que tenho ou possuo. Vós me destes. A vós, Senhor o restituo. Tudo é vosso. Disponde segundo a vossa vontade. Dai-me o vosso amor e vossa graça, pois ela me basta. (Oração de Santo Inácio de Loyola).

 

 Cesar não é Deus, e os ministros de Deus não são Cesar - Enzo Bianchi


“Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”: esse dito de Jesus exige de nós, cristãos, a responsabilidade de uma interpretação inteligente e sempre renovada nos diversos contextos históricos, de um discernimento a partir do qual decorra uma práxis consequente na companhia dos homens e mulheres.

Jesus acaba de revelar os obstáculos opostos pelas autoridades religiosas à salvação oferecida por Deus, e eis que os fariseus “fizeram um plano” contra ele, como já haviam feito anteriormente (cf. Mt 12,14) e como o Sinédrio fará para o prender (cf. Mt 26,4; 27,1).

Aqui os fariseus tentam pegá-lo em falso nos seus discursos. Juntam-se a eles os herodianos, partidários de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia, obsequiosos ao poder romano. Estes dirigem-se juntos a Jesus com palavras aduladoras, que na realidade são tão afiadas quanto a lâmina de um punhal (cf. Sl 55,22): “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas aparências”.

No entanto, contra a sua própria intenção, eles estão dizendo a verdade: Jesus fala com franqueza, revela a vontade de Deus a todos, a quem está disposto a lhe acolher, assim como a quem a rejeita em nome dos seus próprios esquemas e das suas próprias tradições (cf. Mt 15,3)

A pergunta capciosa segue: “Dize-nos, pois, o que pensas: é lícito ou não pagar imposto a César?”. Eles querem pegar Jesus em falso na sua posição política: a sua resposta deveria revelá-lo como um colaboracionista do poder romano e, portanto, desprezado pelo povo, ou como um inimigo do imperador e, portanto, denunciável como rebelde.

A gravidade da questão é demonstrada pela acusação falsa feita contra Jesus pelo Sinédrio diante de Pilatos: “Achamos este homem proibindo pagar os tributos a César” (Lc 23, 2), um dos motivos invocados para a sua condenação à morte…

Mas Jesus, reconhecendo a duplicidade dos seus interlocutores, sabe discernir o verdadeiro motivo da sua pergunta: “Hipócritas! Por que me preparais uma armadilha? Mostrai-me a moeda do imposto!”.

Ao ver a moeda de prata usada para pagar esse imposto, ele por sua vez faz uma pergunta: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?”. E ao ouvir a resposta: “De César” – isto é, de Tibério César, o imperador da época – ele proclama: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.

Jesus não dá receitas sobre o comportamento político, mas o transcende: ele não convida as pessoas a se rebelarem contra os romanos, nem abençoa a estrutura existente, como se César fosse um ministro de Deus. Não, ele simplesmente afirma que é preciso dar a César aquilo que ele tem direito de exigir: o imposto.

Depois acrescenta, sem que a pergunta que lhe é feita o exija: “Dai a Deus o que é de Deus”. Ou seja, diante de César, existe uma ordem mais alta, a de Deus, a quem é preciso dar aquilo que lhe pertence, isto é, tudo, já que “do Senhor é a terra com o que ela contém” (cf. Sl 24,1): é preciso oferecer a Deus toda a própria pessoa (cf. Rm 12,1)!

É à luz desse primado que deve ser relativizado aquilo que compete a César: se o poder político exige para si a adoração que cabe a Deus – como o imperador fazia – o cristão não é obrigado a lhe dar; se a autoridade estatal pode exigir o respeito (cf. Rm 13,7), o temor deve ser reservado apenas a Deus (cf. 1 Pd 2,17).

Em outras palavras, Jesus afirma uma distinção essencial entre política e religião. Negar tal distinção é uma tentação constante e afeta tanto os “defensores” de Deus quanto os de César: sempre encontramos aqueles que gostariam de identificar a fé cristã com a ordem política, desejando um Estado confessional, e aqueles que gostariam, especularmente, de uma ordem política sustentada pela religião, com o resultado da “religião civil”.

Sim, o crente em Jesus Cristo é aquele que “está no mundo sem ser do mundo” (cf. Jo 17,11-16), que habita com plena lealdade a cidade dos homens, mas cuja verdadeira cidadania está no céu (cf. Fp 3,20). É o que se lê também em um esplêndido texto das origens cristãs: “Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem pelo território, nem pela língua, nem pelos hábitos. Habitando em cidades gregas ou bárbaras, eles dão exemplo de um estilo de vida maravilhoso e paradoxal. Eles habitam a sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cidadãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda terra estrangeira é a sua pátria, e toda pátria é terra estrangeira”.

  

O princípio diferenciador entre Jesus e Cezar-ESTEF

 

Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF

Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e 

Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.

 

A comunidade de Mateus é testemunha dos horrores da repressão romana contra Jerusalém em 70 d.C. e da continuidade da perseguição contra as comunidades cristãs. Esta narrativa é um dos eixos que percorrem todos os Evangelho Sinóticos e que a comunidade de Mateus incorpora, mas enfatiza esta passagem como princípio de diferenciador entre o Projeto de Jesus Cristo e o sistema imperial vigente.

O texto de Mt 22,15-21 em relação a Marcos 12,13-17

A narrativa é comum ao três Evangelhos Sinóticos. No entanto, vamos nos concentrar na relação entre Mateus e Marcos (que certamente foi uma das suas fontes). Na narrativa de Mateus o texto se apresenta dentro de um conjunto que acontece num único dia. O contexto é o da última semana de Jesus em Jerusalém. Ele inicia como a narrativa da maldição da figueira (21.18s) e reúne uma série de confrontos com os “anciãos do povo”, fariseus, escribas, herodianos e saduceus. Estes dois últimos grupos concentrem as críticas por terem uma inserção popular maior que os outros (cf. 21,23.45;22,15.23.34.41 e todo o capítulo 23).

Ao comparar estes textos, podemos ver o sentido do resgate dado pela comunidade de Mateus. Enquanto, nos primeiros versículos a narrativa de Marcos apresenta “fariseus e herodianos” como um grupo só, a comunidade de Mateus (v.15-16) os diferencia, dizendo que os herodianos (braço político do Império Romano) foram enviados pelos “fariseus” (braço religioso do Império). Assim, seguindo a denúncia que é feita ao longo do Evangelho, destaca o mal que é feito quando a fé é usada como instrumento de opressão e repressão.

Da mesma forma, enquanto Marcos, acusa este grupo de serem “hipócritas”, Mateus assinala a sua “maldade”: “E conhecendo Jesus a maldade deles, lhe disse: por que me tentais hipócritas?” (v.18).

Relacionando com os outros textos

Na segunda parte do Livro de Isaías (Deutero-Isaías 40-55), o Imperador Ciro representa a oportunidade de retornar da Babilônia para a terra natal. Em Is 40,1 , Ciro é chamado “messias”. No entanto, embora em momento conjunturais imperadores pareçam ser “instrumentos de Deus”, no longo prazo ficou demonstrado que a fé e a Igreja, em muitas ocasiões, foram manipuladas como instrumentos de opressão. Já a 1ª Carta aos Tessalonicenses (uma das primeiras cartas do apóstolo Paulo), lembra que não devemos cair na tentação da aliança com os que dominam e oprimem, mas buscar a prática do Evangelho que tenha coerência na práxis e não apenas em palavras (cf. 1 Ts 1.5a).

 

 

TEXTO EM ESPANHOL De Dom Damian Nannini, Argentina

DOMINGO 29 DURANTE EL AÑO CICLO "A"


Damian Nannini


Primera lectura (Is 45,1.4-6)


En la sección anterior de esta profecía (Is 40,12-44,23) se refutaba la falsedad y vaciedad de los ídolos y su incapacidad para salvar a Israel. Como contrapartida se presentaba a Dios como el único liberador de su pueblo. En esta nueva sección (Is 44,24-48,22) se referirá concretamente a la actuación de Dios en la historia a favor de su pueblo. Hasta aquí nos mantenemos dentro de la tradición de fe israelita. Pero surge algo inesperado y difícil de aceptar: el instrumente de esta liberación será un pagano, Ciro, rey de medos y persas.

Las referencias a Ciro indican que lo que está pasando a mediados del siglo VI a. C. con las victorias del estratega persa es obra de Dios en vistas a la liberación de los cautivos. En esos contextos aparecen las preguntas retóricas ("¿quién ha suscitado...?", 41,2ss) o las afirmaciones enfáticas ("yo soy el que dice a Ciro... ", 43,28), que hacen de Dios el único actor trascendente en la historia. Se excluyen, por tanto, los otros dioses, y se relativiza la acción del propio Ciro. 

El profeta expresa así de manera concreta la amplitud de horizontes y el universalismo que le caracterizan. En efecto, los israelitas estaban acostumbrados a considerar al rey de Israel como el «ungido de Yavé», es decir, aquel que el Señor consagraba dándole su Espíritu para hacerlo instrumento de su acción a favor de su pueblo. Pues bien, Isaías II da este título de «ungido» a Ciro, un rey pagano; a quien Dios mismo ha llamado por su nombre, le ha ceñido la corona, le ha tomado de la diestra y marcha delante de él abriéndole camino en su recorrido victorioso. Es la única vez que un oráculo de Dios se dirige a un rey pagano de modo favorable. Lo que más llama la atención es que todo esto ocurre sin que Ciro conozca a Yavé (la expresión se repite dos veces: vv. 4 y 5); pero ello no es obstáculo para que el Señor en su dominio soberano lo tenga como instrumento de su acción para llevar a cabo su plan de salvación a favor de su pueblo. 

El texto deja en claro la motivación del obrar de Dios: su amor por Jacob, su siervo, por Israel, su elegido. El título de "mi siervo" sugiere que Israel ya no es esclavo de los caldeos sino de Dios y se está sugiriendo que la situación económica, social y política de los exiliados está por cambiar. 

En fin, el profeta confiesa abiertamente que Dios es el único Señor de la historia que domina sobre todas las naciones y los reinos, sin que nada escape a su acción, aunque muchas veces sus caminos son misteriosos y ocultos para nosotros.



Evangelio (Mt 22,15-21)

Con el texto de hoy comenzamos una subsección del evangelio de Mateo caracterizada por la oposición creciente de los fariseos hacia Jesús (Mt 22,15-46). En efecto, la intención de estos es sorprenderlo en alguna afirmación comprometedora para acusarlo. En este domingo - y en los dos próximos - leeremos escenas del evangelio que testimonian esta controversia.

Justamente la intención de los fariseos la expone Mateo al comienzo del evangelio de hoy: "Los fariseos se reunieron entonces para sorprender a Jesús en alguna de sus afirmaciones (παγιδεύσωσιν ἐν λόγῳ.)" (Mt 22,15). Este versículo sirve de título a toda esta subsección que contiene los distintos intentos para “cazar” o “atrapar” a Jesús en alguna palabra (se utiliza el verbo παγιδεύω que literalmente significa “conducir o llevar a una trampa de caza”). 

En Mt 22,16 se añade que para concretar esto "le envían sus discípulos junto con los herodianos". Este último dato es importante porque los herodianos eran los partidarios de la dinastía de Herodes Antipas, quien gobernaba como aliado de los romanos y, por tanto, defendían el cobro de tributos para ellos.

Primero tienen la palabra los fariseos quienes comienzan con una larga introducción alabando las actitudes de Jesús como maestro, que bien podría obedecer a las normas de la retórica de aquel tiempo (captatio benevolentiae); pero conociendo su intención verdadera suena a falsedad o adulación interesada. Luego van al grano de la cuestión: "¿es lícito pagar tributo al César o no?". Esta pregunta es tramposa porque si Jesús responde afirmativamente estaría dando su apoyo o su reconocimiento a la dominación romana y, con esto, se pondría en contra a la mayoría del pueblo judío que la rechazaba. En efecto, el pago de impuestos era un claro signo de sujeción al poder dominante. Por el contrario, si responde negativamente se lo podría acusar de opositor al gobierno y ser condenado por sedicioso o revolucionario. De hecho, en el proceso ante Pilato acusan a Jesús de esto mismo: "Y comenzaron a acusarlo, diciendo: "Hemos encontrado a este hombre incitando a nuestro pueblo a la rebelión, impidiéndole pagar los impuestos al Emperador" (Lc 23,2).

Jesús responde poniendo primero de manifiesto la intención maliciosa de los que preguntan y señalando que se trata de una tentación (se utiliza el verbo griego πειράζων, el mismo que designa las tentaciones diabólicas en Mt 4,1.3). Luego pide que le muestren una moneda de tributo, un denario romano, que llevaba grabada la efigie o imagen del emperador Tiberio con la inscripción: "Ti(berius) Caesar Divi Aug(usti) F(ilius) Augustus" (Tiberio César Augusto, hijo del Divino Augusto) y, al reverso, "Pontif(ex) Maxim(us)" (Pontífice máximo).

Al mostrárselo Jesús pregunta de quién es la imagen (εἰκὼν) y la inscripción (ἐπιγραφή). Y le responden: del César (Καίσαρος).

Entonces Jesús da su respuesta taxativa: "Den al César lo que es del César, y a Dios, lo que es de Dios" (ἀπόδοτε οὖν τὰ Καίσαρος Καίσαρι καὶ τὰ τοῦ θεοῦ τῷ θεῷ. Mt 22,21).

La primera parte de la respuesta, "den al César lo que es del César", aparece ante todo como una constatación de hecho: ustedes tienen una moneda que lleva la imagen del César, devuélvansela (éste sería el sentido exacto del verbo ἀπόδοτε), paguen el tributo ya que poseen una moneda del tributo. Por tanto, al César le pertenece su "denario" pues era la moneda fiscal y el símbolo del poder político y administrativo. No podemos decir que Jesús con esta frase esté avalando la dominación romana sobre Israel. Tampoco parece que se deba interpretar esta afirmación como una fundamentación teológica del deber ciudadano de pagar los impuestos. Para esto mismo es más claro el texto de Rom 13,6-7. Sí puede verse aquí un reconocimiento de la autoridad civil en su campo propio que es el económico.

El clímax de la narración está en el segundo miembro de la respuesta: "den a Dios lo que es de Dios". Si bien Jesús no precisa "lo que es de Dios", la tradición bíblica es clara al reconocer a Dios como Señor de todo el mundo: de las personas, de los reyes y de los reinos. Incluso podríamos vincular este texto con Gn 1,26 donde se afirma que el hombre y la mujer son "imagen" de Dios (en la versión griega se utiliza el mismo término - eikon εἰκὼν = imagen - que aquí). Por tanto, si el hombre y la mujer son y tienen la imagen de Dios, a Dios le pertenecen y a Dios se deben. Además, un poco más adelante en el contexto de estas disputas con saduceos y fariseos, Jesús recordará cuál es el mandamiento principal: "Amarás al Señor, tu Dios, con todo tu corazón, con toda tu alma y con todo tu espíritu" (Mt 22,37). De este modo Jesús coloca el amor/obediencia a Dios como el deber fundamental de todo hombre y de todo el hombre.

En síntesis, la respuesta final completa de Jesús no avalaría una separación total entre dos órdenes o poderes: el material o civil y el espiritual o religioso. Por el contrario, se trata más bien de la afirmación del Señorío universal y absoluto de Dios, ante lo cual el pago del tributo aparece como algo relativo y accidental .

Ante esta respuesta de Jesús, tan profunda y tan inteligente, sus adversarios se retiran admirados, hasta la próxima disputa…

Algunas reflexiones:


Tanto la primera lectura como el evangelio de hoy nos conducen a reflexionar sobre el Señorío de Dios y su primado en nuestras vidas. 

El profeta Isaías afirma sin tapujos que Dios es el Señor de la historia, más allá de las vicisitudes políticas del momento. Sin duda que su obrar es misterioso, pero la fe sabe esperar y reconocer su paso por la historia y por la vida.

De modo semejante, Jesús en el evangelio les recuerda a los fariseos y herodianos la primacía de Dios en la vida del hombre. Ser cristianos es aceptar a Jesús como Señor de nuestra vida; porque reconocemos que Dios nos ha dado la vida y nos pide que la vivamos intensamente. Por eso nuestra respuesta al Señor es orientar toda nuestra vida a Él. Como dice el Papa Francisco en Cristo Vive n° 256: “Es en definitiva reconocer para qué estoy hecho, para qué paso por esta tierra, cuál es el proyecto del Señor para mi vida. Él no me indicará todos los lugares, los tiempos y los detalles, que yo elegiré prudentemente, pero sí hay una orientación de mi vida que Él debe indicarme porque es mi Creador, mi alfarero, y necesito escuchar su voz para dejarme moldear y llevar por Él. Entonces sí seré lo que debo ser, y seré también fiel a mi propia realidad”.

Por tanto, el evangelio nos invita a tomar conciencia de nuestra dependencia para con el Señor y a recuperar la actitud que otorga la primacía a la adoración del único Dios y Señor.


Al mismo tiempo el evangelio nos invita a meditar sobre nuestro compromiso como ciudadanos en la construcción de un mundo mejor. Como les recuerda el Papa Francisco a los jóvenes en Cristo Vive n° 168: “la vocación laical es ante todo la caridad en la familia, la caridad social y la caridad política: es un compromiso concreto desde la fe para la construcción de una sociedad nueva, es vivir en medio del mundo y de la sociedad para evangelizar sus diversas instancias, para hacer crecer la paz, la convivencia, la justicia, los derechos humanos, la misericordia, y así extender el Reino de Dios en el mundo”.

Lo importante es el espíritu con el cual el cristiano tiene que vivir su compromiso social y político, como insiste el Papa Francisco en Fratelli Tutti (cf. 194-195). Es algo que ya lo presentaba muy claramente en Evangelii Gaudium 204: “La política, tan denigrada, es una altísima vocación, es una de las formas más preciosas de la caridad, porque busca el bien común. Tenemos que convencernos de que la caridad «no es sólo el principio de las micro-relaciones, como en las amistades, la familia, el pequeño grupo, sino también de las macro-relaciones, como las relaciones sociales, económicas y políticas». ¡Ruego al Señor que nos regale más políticos a quienes les duela de verdad la sociedad, el pueblo, la vida de los pobres! Es imperioso que los gobernantes y los poderes financieros levanten la mirada y amplíen sus perspectivas, que procuren que haya trabajo digno, educación y cuidado de la salud para todos los ciudadanos. ¿Y por qué no acudir a Dios para que inspire sus planes? Estoy convencido de que a partir de una apertura a la trascendencia podría formarse una nueva mentalidad política y económica que ayudaría a superar la dicotomía absoluta entre la economía y el bien común social”.

En esta última frase hay una síntesis del evangelio de hoy por cuanto el Papa afirma que la apertura a la trascendencia - el reconocimiento del Señorío de Dios – es la clave para superar la tan frecuente dicotomía entre lo económico y lo social en la vida política de un país.

En efecto, el evangelio nos llama a conjugar en nosotros estas dos realidades: el Señorío de Jesús en nuestra vida y nuestro compromiso en el mundo. Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus de 18 de octubre de 2020: “Y con esta respuesta, Jesús se sitúa por encima de la polémica. Jesús siempre más allá. Por una parte, reconoce que se debe pagar el tributo al César —también nosotros: hay que pagar los impuestos—, porque la imagen sobre la moneda es la suya; pero, sobre todo, recuerda que cada persona lleva en sí otra imagen —la llevamos en el corazón, en el alma—, la de Dios, y por tanto es a Él, y solo a Él, a quien cada uno debe la propia existencia, la propia vida.

En esta sentencia de Jesús no solo se encuentra el criterio para la distinción entre la esfera política y la religiosa, sino que de ella también emergen orientaciones claras para la misión de los creyentes de todos los tiempos, incluidos nosotros hoy. Pagar los impuestos es un deber de los ciudadanos, así como cumplir las leyes justas del Estado. Al mismo tiempo, es necesario afirmar la primacía de Dios en la vida humana y en la historia, respetando el derecho de Dios sobre todo lo que le pertenece.

De aquí deriva la misión de la Iglesia y de los cristianos: hablar de Dios y testimoniarlo a los hombres y a las mujeres del propio tiempo. Cada uno de nosotros, por el Bautismo, está llamado a ser presencia viva en la sociedad, animándola con el Evangelio y con la savia vital del Espíritu Santo. Se trata de esforzarse con humildad y con valor, dando la propia contribución a la edificación de la civilización del amor, en la que reinan la justicia y la fraternidad”.


Por último, no podemos dejar de lado que la frase de Jesús "den al César lo que es del César, y a Dios, lo que es de Dios", ha dado lugar a variadas interpretaciones y a diversas aplicaciones al tema de las relaciones entre la Iglesia y el Estado. La licitud del pago del impuesto a un poder dominante ilegítimo es un tema delicado e intrincado. Jesús no resuelve en profundidad este dilema ya que le fue propuesto con una intención capciosa, maliciosa. Si bien reconoce el derecho del emperador a acuñar sus propias monedas; ante todo afirma el Señorío universal de Dios, lo que le corresponde como Dios, Creador y Señor de todo.

Igualmente, es bueno recordar la interpretación auténtica de esta frase evangélica que hace el Magisterio de la Iglesia y su correcta aplicación a la realidad. Por ejemplo, el Papa Benedicto XVI, recordando las enseñanzas del Concilio Vaticano II, afirmaba en “Dios es amor” nº 28: "Es propio de la estructura fundamental del cristianismo la distinción entre lo que es del César y lo que es de Dios (cf. Mt 22, 21), esto es, entre Estado e Iglesia o, como dice el Concilio Vaticano II, el reconocimiento de la autonomía de las realidades temporales. El Estado no puede imponer la religión, pero tiene que garantizar su libertad y la paz entre los seguidores de las diversas religiones; la Iglesia, como expresión social de la fe cristiana, por su parte, tiene su independencia y vive su forma comunitaria basada en la fe, que el Estado debe respetar. Son dos esferas distintas, pero siempre en relación recíproca".

Por su parte, el Compendio de la Doctrina Social de la Iglesia en su nº 379 dice: "Jesús rechaza el poder opresivo y despótico de los jefes sobre las Naciones (cf. Mc 10,42) y su pretensión de hacerse llamar benefactores (cf. Lc 22,25), pero jamás rechaza directamente las autoridades de su tiempo. En la diatriba sobre el pago del tributo al César (cf. Mc 12,13-17; Mt 22,15-22; Lc 20,20-26), afirma que es necesario dar a Dios lo que es de Dios, condenando implícitamente cualquier intento de divinizar y de absolutizar el poder temporal: sólo Dios puede exigir todo del hombre. Al mismo tiempo, el poder temporal tiene derecho a aquello que le es debido: Jesús no considera injusto el tributo al César".


En conclusión, y más allá del tema de las relaciones entre la Iglesia y el Estado, las lecturas nos invitan a una confesión de fe en el Señorío de Dios en la historia y en nuestras vidas. Creemos que Dios sigue actuando en la historia en favor de su pueblo. Este acto de fe - a veces difícil ante la realidad que se presenta a nuestros ojos - es necesario y liberador. Sí, la adoración de Jesús como nuestro Dios y Señor es lo que nos libera, como Iglesia y como mundo, de las idolatrías del poder, del tener y placer. Y nos permite seguir esperando…



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Verdad y libertad, permitidas?


Señor y Maestro

Enviado del Padre, Hijo predilecto

Mira que andamos entre ambigüedades y dudas…

No te reconocemos


Mezclado entre la gente

Enfrentaste al letrado, al escriba y al fariseo

Nos miras hoy con decepción a nosotros como a ellos…

No te reconocemos



Es duro el entendimiento 

Las heridas y el pecado nos hacen escépticos

Calculadores y mezquinos hasta el céntimo…

No te reconocemos


Tu inteligencia divina 

Se vuelve a tu Pueblo y no se cansa de llamar,

De elegir a tanto necio, y aun así…

No te reconocemos


En la moneda de aquel tiempo

El rostro del gobierno, esclavista, manipulador

Como en estos tiempos… se repite y 

No te reconocemos


Como podremos hallar la paz

Calmar la ansiedad interior y vencer la violencia

Sin reconocerte Dios en medio nuestro

Y escuchar la propia conciencia


Verdad del Verdadero y Libertad del Libertador

Eres Tú Jesús, el único con Gloria y Poder

Señala a cada uno su deber y tu querer

Te rogamos Señor. Amén.