4º DOM. ADV. B

4º DOMINGO DO ADVENTO ANO A 

24/12/2023

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Isaías 7,10-14 

Salmo Responsorial 23(24)-R-O rei da glória é o Senhor onipotente; abri as portas para que ele possa entrar! 

2ª Leitura: Romanos 1,1-7

Evangelho de Mateus 1,18-24 

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – 18A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo. 20Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe em sonho e lhe disse: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. 22Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco”. 24Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado e aceitou sua esposa. – Palavra da salvação. 


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA - SP

Lc 1,26-38

O evangelho da anunciação nos permite falar de duas coisas: sobre as grandezas de Maria (a cheia de graça, a mãe de Deus, a esposa do Espírito Santo) ou sobre a pequenez de Maria (a serva do Senhor, a mulher que se perturba, que tem que crer). Ambas as perspectivas são verdadeiras e devem sempre ser pensadas juntas: aquela que é a serva humilde, mulher simples do povo é também a cheia de graça, a bendita entre as mulheres e a mãe de Deus é também aquela que apesar da perturbação acredita.

Ao contemplarmos Maria, corremos o risco de imaginar que nela tudo foi fácil e transparente. Ela sabia tudo:

que seria a mãe de Deus,

que o menino Jesus era o Messias e o Filho de Deus,

de que ela era a bendita entre as mulheres.

Os evangelhos não falam dessa forma, pelo contrário, mostram-nos Maria

caminhando na fé

andando na obscuridade da fé

nem sempre entendendo os caminhos misteriosos de Deus.

Por isso a real grandeza de Maria, segundo os evangelhos é sua vida de fé, de entrega humilde e confiante aos desígnios de Deus.

Duas coisas na vida de Maria devemos destacar:

a. Sua vida de fé que não entende tudo mas confia (Lc 1,38)

b. sua fé que cresce mediante a reflexão e a meditação. O evangelho de hoje mostra que “Maria refletia no que poderia significar a saudação”

Como dizem os santos padres: primeiro Maria concebeu em seu coração, depois em seu seio; primeiro concebeu no espírito mediante a fé, depois no corpo.

a. O anjo comunica a Maria coisas difíceis de entender:

ela é cheia de graça;

sendo virgem vai conceber um menino;

a força geradora não será um homem, mas o Espírito Santo;

filho que nascer, Jesus, será por um lado seu filho, mas também Filho do Altíssimo;

será o Messias cujo Reino não terá fim.

Como crer em tudo isto? Não é alucinação? Poderá Deus fazer tantas maravilhas numa simples mulher do povo e no anonimato da história?

Maria se perturba e tem medo. Mas não duvida. Apenas pergunta como se fará tudo isso. Ela ouve as promessas e aceita as coisas que não se veem. Ela creu, pois para Deus nada é impossível. Na carta aos hebreus temos a seguinte definição: “a fé é a antecipação das coisas que se esperam, a prova das realidades que não se veem” (Hb 11,12).

b. Maria acreditou sem dar-se conta de toda a profundidade daquilo que ouvia: certamente teve consciência real de sua maternidade ligada ao Espírito Santo e de a salvação da humanidade está vinculado ao filho que começa a nascer em seu seio. Mas ela teve que caminhar e crescer na fé, no sentido de que a vida vai tornando manifesto aquilo que ainda lhe era obscuro e confuso. Este é o caminho de Maria: é o caminho de quem deve peregrinar na fé.

A fé convive com a perplexidade, mas não pode subsistir com a dúvida. A dúvida deve ser superada. Zacarias não conseguiu superar a dúvida e por isso foi castigado. Maria acreditou e por isso recebeu o elogio de Isabel.

O que significa crer? Olhando o exemplo de Maria podemos dizer três coisas sobre a fé.

1. Crer significa confiar apesar da obscuridade; acolher apesar de não ver claro porque é Deus quem está falando; entregar-se e arriscar na esperança de não ser enganado pelo outro. É uma atitude que exige pobreza interior, desapego das próprias seguranças, liberdade para o novo e o inaudito.

2. Crer significa aceitar e assumir a verdade do outro. Não basta confiar no outro; é preciso abrir-se aos planos e à verdade do outro ainda que não se veja claro a transparência destes planos. Maria acolheu o conteúdo das palavras do anjo: de ser virgem e mãe, de o Filho ser Deus, Messias e Salvador. Crer é poder dizer fiat: faça-se não conforme a minha compreensão e os meus desejos, mas conforme a vontade de Deus.

3. Crer significa obedecer. Obedecer é oferecer-se para realizar os planos do outro; obedecer é ouvir a palavra do outro, acatá-la e cumpri-la. Obedecer não é ser escravo, porque o escravo não é livre. Deus nos quer livres e por isso ele não invade o seio de Maria, mas antes pede licença e oferece sua proposta de salvação. Maria se prontifica a realizar sua missão

Maria é o modelo para todos os que cremos. Assim como o AT começa com Abraão que esperando contra toda esperança acreditou e tornou-se pai de uma multidão de povos, assim o NT começa com Maria. Ela é modelo de fé, ela é a nova Eva.


Em Maria, Deus vai - Adroaldo Palaoro

“Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38)

Estamos nos aproximando da festa do Nascimento de Jesus; a liturgia deste domingo nos coloca diante da atitude de Maria que abriu espaço para que “Deus se fizesse carne nela”. Com seu “sim” radical, a distância entre Deus e o ser humano foi quebrada, o divino se humanizou e o humano se divinizou.

O “Amém” de Maria, seu “Fiat”, é um Amém ao “Sim” de Deus à humanidade. Deus é para nós “Sim” e um “sim” sem arrependimento, sem volta atrás.

Nosso “Abbá” é aliança fiel, permanente, definitiva. Sua oferta de Aliança de amor sempre paira sobre a humanidade. Por isso, derrama seu Espírito com abundância sobre toda a terra e sobre “todo ser vivente”.

Maria disse “fiat” (“faça-se”) a essa oferta. Nela, a humanidade, cada um de nós, é chamado a dizer “fiat”. O “sim” proferido por ela é o melhor que a humanidade apresentou a Deus e desencadeou outros inúmeros “sins oblativos” na história.

Maria é o verdadeiro Templo, é espaço de presença do Espírito, lugar sagrado onde habita a divindade para, a partir dela, expandir-se depois a todo o povo. Ela é lugar de plenitude do Espírito, terra da nova criação, templo do mistério. Evidentemente, esta presença é dinâmica: o Espírito de Deus está em Maria para fazê-la mãe, lugar de entrada do Salvador na história.

Ela não é um instrumento mudo, não é um meio inerte que Deus se limitou a utilizar para que fosse possível a Encarnação. Maria oferece ao Espírito de Deus sua vida humana para que através dela o mesmo Filho Eterno pudesse entrar na história.

Toda envolvida pelo amor divino, Maria soube colocar-se, em total disponibilidade, nas mãos de Deus, para cumprir sua santa vontade: “Eis a serva do Senhor, faça-me em mim conforme a tua palavra”.

O Evangelho deste domingo nos convida a contemplar Maria como aquela que, movida pela Graça, realizou-se como pessoa que acolhe o desejo de Deus e lhe corresponde com seu mais profundo desejo.

Ao encarnar-se por meio dela, Deus não se impôs a partir de cima ou de fora, mas deseja e pede sua colaboração; por isso lhe fala e espera sua resposta, como indica o texto de Lucas, uma cena simbólica que pode apresentar-se como diálogo do consentimento: Maria respondeu a Deus em gesto de confiança sem fissuras; confiou n’Ele, lhe deu sua palavra de mulher, pessoa e mãe. Ambos se uniram para compartilhar uma mesma aventura de amor e de graça, a história divino/humana do Filho eterno.

No mistério da Encarnação a razão silencia. Agora começa a narração do evento da ternura, da compaixão... que revela a radical proximidade de Deus para com a humanidade, abraçando-a complemente, especialmente ali onde o ser humano está mais fragilizado e ameaçado. Aqui se faz “visível” o contínuo êxodo do amor trinitário para o encontro com a humanidade.

Partindo da afirmação de Jesus – “Deus amou tanto o mundo...” (Jo 3,16) – compreendemos que a Encarnação é uma oferta aberta a todos. Nada fica fora do “olhar trinitário”, ninguém fica excluído do dom da Vida. A história humana se faz “História da salvação”. A partir de agora, a humanidade pode acolher o dom da presença trinitária e iniciar com ela um novo diálogo, um caminho de vida.

A Encarnação não só des-vela a nova imagem de Deus, mas revela também a “re-criação” do ser humano. Nela descobrimos a imagem do “ser humano novo”; imagem a que todo ser humano é chamado a ser, fundamento de sua dignidade e plenitude de sentido. S. Atanásio afirma que a nossa carne está como que “verbificada”, pois o Verbo vem restaurar a imagem de Deus nos seres humanos. Neste corpo de carne, de alegrias e dores, Deus quis resgatar toda a sua Criação.

Assim, todas as dimensões da pessoa (corpo, mente, afetividade, coração...) são mobilizadas para se deixar “afetar” pelo mistério da Encarnação.

“No ventre de Maria, Deus se fez homem.

Mas na oficina de José, Deus também se fez classe.

O Verbo se fez carne. O Verbo se fez pobre, o Verbo se fez índio...

Planta entre nós a sua maloca” (D. Pedro Casaldáliga)

A Encarnação não é um evento isolado da história. Toda a Criação é “afetada” de maneira definitiva e irreversível; toda a humanidade é integrada no interior deste mistério; todos os fatos da história recebem nova luz e encontram seu sentido.

Assim como na Encarnação o Verbo “desceu” e se fez visível através das fendas e feridas da humanidade, Ele continua “descendo” e se fazendo “carne” nas profundezas de nosso ser, integrando e pacificando tudo.

“Assim novamente encarnado” (EE 109), nos diz S. Inácio.

Deus não só se encarna; Ele “é” encarnação contínua, desde toda a eternidade. A Encarnação, portanto, não é um evento ou ato isolado da história; a Encarnação é atitude eterna de Deus.

Se descobrimos Deus encarnado em Jesus, podemos afirmar que Deus é Encarnação e se encarna em todos.

Deus “não faz atos”; tudo o que Ele faz é porque “Ele é”; Deus não faz atos de bondade, de misericórdia, de amor... Ele é misericórdia, é bondade, é amor... Assim, Ele “é” Encarnação; é da sua essência.

Por isso, S. Inácio, na contemplação da Encarnação, reforça que as Três Pessoas divinas “determinam, em sua eternidade, que a Segunda Pessoa se faça homem...” (EE 102). A contemplação da Encarnação nos situa nesta Vontade fontal, primeira, eterna.

A Encarnação de Jesus Cristo, portanto, não foi “determinada” pelo pecado da humanidade. O ser humano não “obrigou” Deus a se encarnar, porque a Encarnação é um “sair de si” contínuo de Deus, é um “êxodo” permanente da Trindade em direção à humanidade. Tal mistério tem a marca da pura gratuidade.

Deus “é” Encarnação porque não vive fechado em si mesmo, mas é contínuo deslocamento, “descida”, fazendo-se presente em tudo, em tudo habitando e em tudo deixando-se transparecer.

A Encarnação (mistério fundante) encontra diferentes expressões na História da Salvação; sua máxima revelação acontece em Jesus Cristo, mas ela está presente na Criação, na história do povo de Israel, no “hoje” da nossa história: “assim novamente encarnado” (S. Inácio).

O termo “novamente” expressa a atualidade, desde sempre e para sempre nova, do Verbo, isto é, a sua eternidade. Pois, algo que para sempre e desde sempre é novo, é eterno.

Quando dizemos que “o Verbo se fez Carne” não fazemos referência a um evento externo à nossa própria existência, senão que acontece a partir de “dentro” da humanidade, a partir de dentro de cada ser humano concreto, e a partir de dentro da história, que vai se transformando em História de Salvação.

Assim compreendido, todos somos “terra da Encarnação”. O Verbo continua se fazendo “carne” na nossa carne; Ele continua se humanizando em nossa humanidade; Ele se “historiza” em nossa história.

“A carne é o eixo da salvação” dizia Tertuliano.

Para meditar na oração:

Deus continua enviando mensageiros para comunicar-nos sua vontade; o que nos falta é ter o espírito desperto para discernir e re-conhecê-los. As pessoas dispostas, os cristãos vigilantes, os santos e santas se encontram com muitos mensageiros que lhes comunicam mensagens do Senhor. Advento é realizar uma limpeza de ouvidos para escutar cada vez mais fielmente os mensageiros (anjos) do Senhor.

- “Sentir Maria” é reencontrar em nós mesmos aquilo que diz sim à vida, quaisquer que sejam as formas que esta vida tomar. “Sentir Maria” é superar toda expressão de desconfiança, de dúvida, de temor diante daquilo que a vida vai nos oferecer para viver.

- Faça memória das experiências de “anunciação” em sua vida: o que mudou? quê movimentos vitais surgiram?


A visita do anjo a Maria: Surpresas de Deus - Carlos Mesters e Mercedes Lopes.


O texto que meditaremos neste final de semana fala da visita do anjo a Maria. É um texto muito conhecido. Quando as coisas são muito conhecidas, a gente já não presta tanta atenção. Assim acontece com a visita de Deus em nossas vidas. Ela é tão presente e tão contínua que, muitas vezes, já não a percebemos e, por isso, perdemos uma grande oportunidade de viver na paz e na alegria.

Situando

O anúncio do anjo a Maria (Lc 1,26-38) vem depois do anúncio do anjo a Zacarias (Lc 1,5-25). Nos dois casos anuncia-se um nascimento. Vale a pena comparar os dois anúncios para perceber as semelhanças e diferenças. Descrevendo a visita do anjo a Maria e a Isabel, Lucas evoca as visitas de Deus a várias mulheres estéreis do AT: Sara, mãe de Isaque (Gn 18,9-25), Ana, mãe de Samuel (1Sm 1,9-18), a mãe de Sansão (Jz 13,2-5).

A todos elas o anjo tinha anunciado o nascimento de um filho com missão importante na realização do plano de Deus. E agora, ele faz o mesmo anunciando a Isabel, esposa de Zacarias, e a Maria. Maria não é estéril. Ela é virgem. No AT, o anjo de Deus, muitas vezes, é o próprio Deus.

A Palavra de Deus chega a Maria não através de um texto bíblico, mas através de uma experiência profunda de Deus, manifestada na visita do anjo. Foi graças à ruminação da Palavra de Deus da Bíblia que ela foi capaz de perceber a Palavra viva de Deus na visita do anjo.

Comentando

Lucas 1,26-27: A Palavra faz a sua entrada na vida

Lucas apresenta as pessoas e os lugares: uma virgem chamada Maria, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. Nazaré, uma cidadezinha na Galileia. Galileia era periferia. O centro eram a Judeia e Jerusalém. O anjo Gabriel é o enviado de Deus para esta moça virgem que morava na periferia. O nome Gabriel significa Deus é forte. O nome Maria significa Amada de Javé ou Javé é o meu Senhor. A história da visita de Deus a Maria começa com a expressão “No sexto mês”. Trata-se do “sexto mês” de gravidez de Isabel, parenta de Maria, uma senhora já de idade, precisando de ajuda. A necessidade concreta de Isabel é o pano de fundo de todo este episódio. Encontra-se no começo (Lc 1,26) e o fim (Lc 1,36.39).

Lucas 1,28-29: A reação de Maria

Foi no Templo que o anjo apareceu a Zacarias. A Maria ele aparece na casa dela. A Palavra de Deus atinge Maria no ambiente da vida de cada dia. O anjo diz: “Alegra-te! Cheia de Graça! O Senhor está contigo!” Palavras semelhantes já tinham sido ditas a Moisés (Ex 3,12), a Jeremias (Jr 1,8), a Gedeão (Jz 6,12), a Rute (Rt 2,4) e a muitos outros. Eles abrem o horizonte para a missão que estas pessoas do AT deviam realizar a serviço do povo de Deus. Intrigada com a saudação, Maria procura saber o significado. Ela é realista, usa a cabeça. Quer entender. Não aceita qualquer aparição ou inspiração.

Lucas 1,30-33: A explicação do anjo

“Não tenha medo, Maria!” Esta é sempre a primeira saudação de Deus ao ser humano: não ter medo! Em seguida, o anjo recorda as grandes promessas do passado que vão ser realizadas através do filho que vai nascer de Maria. Este filho deve receber o nome de Jesus. Ele será chamado Filho do Altíssimo e nele se realizará, finalmente, o Reino de Deus prometido a Davi, que todos estavam esperando ansiosamente. Esta é a explicação que o anjo dá a Maria para ela não ficar assustada.

Lucas 1,34: Nova pergunta de Maria

Maria tem consciência da missão importante que está recebendo, mas ela permanece realista. Não se deixa embalar pela grandeza da oferta e olha a sua condição: “Como é que vai ser isto, se eu não conheço homem algum?” Ela analisa a oferta a partir dos critérios que nós, seres humanos, temos à nossa disposição. Pois, humanamente falando, não era possível que aquela oferta da Palavra de Deus se realizasse naquele momento.

Lucas 1,35-37: Nova explicação do anjo

O Espírito Santo, presente na Palavra de Deus desde o dia da Criação (Gênesis 1,2), consegue realizar coisas que parecem impossíveis. Por isso, o Santo que vai nascer de Maria será chamado Filho de Deus. Quando hoje a Palavra de Deus é acolhida pelos pobres sem estudo, algo novo acontece pela força do Espírito Santo! Algo tão novo e tão surpreendente como um filho nascer de uma virgem ou como um filho nascer de Isabel, uma senhora já de idade, da qual todo o mundo dizia que ela não podia ter neném! E o anjo acrescenta: “E olhe, Maria! Isabel, tua prima, já está no sexto mês!”

Lucas 1,38: A entrega de Maria

A resposta do anjo clareia tudo para Maria. Ela se entrega ao que Deus está pedindo: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Maria usa para si o título de serva, empregada do Senhor. O título vem de Isaías, que apresenta a missão do povo não como um privilégio, mas sim como um serviço aos outros povos. Mais tarde, Jesus, o filho que estava sendo gerado naquele momento, definirá sua missão como um serviço: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28). Aprendeu da mãe!

Alargando

Maria, modelo de comunidade

Lucas não fala muito sobre Maria, mas aquilo que fala tem grande profundidade. Quando fala de Maria, ele pensa nas comunidades. Apresenta Maria como modelo para a vida das comunidades. É na maneira de ela relacionar-se com a Palavra de Deus que Lucas vê a maneira mais correta para a comunidade relacionar-se com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer. Esta é a visão que está por trás dos textos dos capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas, que falam de Maria, a mãe de Jesus.

  

Alegra-te - Jose Antonio Pagola


Nestes tempos que nos parecem incertos e sombrios, cheios de problemas e dificuldades, a primeira coisa que nos pedem é não perder a alegria. Sem alegria, a vida se torna cada vez mais difícil.

A alegria à qual somos convidados não é o otimismo forçado ou o autoengano fácil. É a alegria interior que nasce naqueles que enfrentam a vida com a convicção de que não estão sozinhos. Uma alegria que nasce da fé.


A história da anunciação a Maria é um convite a despertar em nós algumas atitudes básicas que devemos cuidar para viver a nossa fé com alegria e confiança. Basta-nos passar pela mensagem que é colocada na boca do anjo.

"Alegra-te". É a primeira coisa que Maria ouve de Deus e a primeira que também devemos ouvir. “Alegrai-vos”: esta é a primeira palavra de Deus a cada criatura. Nestes tempos que nos parecem incertos e sombrios, cheios de problemas e dificuldades, a primeira coisa que nos pedem é não perder a alegria. Sem alegria, a vida se torna cada vez mais difícil.

"O Senhor está com você". A alegria à qual somos convidados não é o otimismo forçado ou o autoengano fácil. É a alegria interior que nasce naqueles que enfrentam a vida com a convicção de que não estão sozinhos. Uma alegria que nasce da fé. Deus nos acompanha, nos defende e busca sempre o nosso bem. Podemos reclamar de muitas coisas, mas nunca podemos dizer que estamos sozinhos, porque isso não é verdade. Dentro de cada um de nós, nas profundezas do nosso ser, está Deus, nosso Salvador.

"Não temas". Existem muitos medos que podem despertar em nós. Medo do futuro, da doença, da morte. Temos medo de sofrer, de nos sentirmos sozinhos, de não sermos amados. Podemos ter medo das nossas contradições e inconsistências. O medo é ruim, dói. O medo sufoca a vida, paralisa as forças, nos impede de caminhar. O que precisamos é de confiança, segurança e luz.

Sustentado pela graça e pelo amor

"Você encontrou graça diante de Deus". Não só Maria, mas também devemos ouvir estas palavras, porque todos vivemos e morremos sustentados pela graça e pelo amor de Deus. A vida ainda está aí, com suas dificuldades e preocupações. A fé em Deus não é uma receita para resolver problemas diários. Mas tudo é diferente quando vivemos buscando em Deus luz e força para enfrentá-los.

Nestes tempos nem sempre fáceis, não precisamos despertar em nós mesmos a confiança em Deus e a alegria de nos sabermos acolhidos por ele? Por que não nos libertamos um pouco dos medos e das ansiedades, enfrentando a vida a partir da fé num Deus próximo?


Surpresas de Deus - Ana Maria Casarotti

Estamos no Quarto Domingo de Advento, perto da celebração pela qual estamos nos preparando e abrindo nosso desejo: a Vinda de Jesus. Ele vem hoje ao nosso mundo, na nossa realidade, no contexto sócio-político e cultural que vivemos.

O Evangelho de hoje traz a cena de uma nova visita de Deus a seu povo. Mas esta visita tem características especiais. Previamente, o evangelho sinala outra visita para uma mulher: Isabel.

Ao longo de toda a história de Israel, Deus visitou seu povo e podemos sinalar a visita de Deus a mulheres como Sara, que foi mãe de Isaque; Ana, mãe de Samuel; a mãe de Sansão e assim outras mulheres que possivelmente não estão nos textos bíblicos. Deus sempre está presente na vida do seu povo, nas suas necessidades e dificuldades.

Quais são as características desta visita de Deus?

Nazaré pertence a Galileia. Os galileus eram considerados pessoas rudes, rústicas, sem cultura nem formação. Não eram da Judeia, onde estava o Templo, o centro cultural e religioso dos Israelitas. Nazaré era um povoado, e ali o anjo encontra-se com Maria, jovem, adolescente.

A narrativa evangélica preocupa-se com a pessoa de Maria, mas com critérios diferentes daqueles que a sociedade qualifica e diferencia as pessoas. Maria, que seria a Mãe do Messias Salvador, apresenta-se a nós como uma adolescente, nem sabemos o que estava fazendo, possivelmente estava na sua casa, porque esse era seu recinto e ambiente.

Desde os inícios da sua presença no meio de nós, Deus quebra os paradigmas tradicionais que ainda hoje temos continuamente ao nosso redor. Fotos, imagens, histórias, filmes sobre o nascimento de uma criança para apresentá-la à sociedade e saciar assim a fome de interesses passageiros e buscando receber elogios.

Mas Deus toma o caminho contrário. Por isso São Paulo dirá aos Filipenses que tenham os mesmos sentimentos de Jesus, que “não se apegou a sua igualdade com Deus”, mas “apresentou-se como simples homem”.

E assim é a visita de Deus para seu povo e na vida de cada um e cada uma. Ele não precisa de grandes espaços, nem de momentos especiais para estar ao nosso lado. Possivelmente somos nós que não reconhecemos sua presença ou não estamos preparados para percebê-lo.

No texto que lemos hoje, Maria soube escutar a voz do anjo que lhe fala no cotidiano da sua vida. Como dissemos anteriormente, não é nem um momento especial, nem uma situação particular.

Neste momento podemos lembrar as vezes que durante nossa vida experimentamos a visita suave e quase imperceptível de Deus na nossa vida que nos encheu com sua alegria profunda.

Alegra-te! Estas são as primeiras palavras do anjo. b, nos disse, porque eu estou contigo, porque existe um amor que transpassa a eternidade para sempre. Neste tempo de tantas dificuldades políticas, injustiça, pobreza, marginalizações, guerras, Deus segue visitando seu povo.

Como disse o Papa Francisco na sua visita a Myanmar e Bangladesh: “É o mistério da Encarnação que ilumina toda a nossa aproximação à realidade e ao mundo, toda a nossa proximidade com as pessoas, com a cultura. A proximidade cristã é sempre encarnada”. E continua: “Olhar, escutar sem preconceitos, mas com mística. Olhar sem medo e olhar misticamente: isso é fundamental para o nosso modo de olhar a realidade.” [...] “A inculturação é encarregar-me da cultura do povo ao qual sou enviado.”

"Não temas" é outra mensagem do anjo a Maria que também Jesus e a Igreja repetem ao longo da sua história.

Não ter medo daquilo que parece impossível, porque para Deus tudo é possível. Não ter medo de arriscar e chegar até o limite, de fazer perguntas, de questionar, de abrir horizontes, caminhar por caminhos novos.

Não ter medo de Deus, da sua presença na nossa vida, porque ele acompanha seu povo em cada momento que procura fazer o bem, contribuir com seu reino, mudar as estruturas que oprimem e marginalizam as pessoas.

Deus está ao nosso lado com sua presença, e seu Reino cresce como a Vida de Deus nasceu no ventre de Maria de uma forma imperceptível e inexplicável.

Somos convidados a participar do amor de Deus a cada pessoa. Ser partícipe dessa solidariedade de Deus e de Maria com toda pessoa humana. Isso nos desafia a reconhecer a visita de Deus através de toda pessoa que está ao nosso redor, especialmente os mais pobres e necessitados.

Neles Deus nos visita de uma forma especial!

Oração

Os símbolos nos chamam

Os símbolos mais nobres,

Reino, pobres, justiça, liberdade,

às vezes nos chamam,

mas as feridas profundas

colocam em marcha

espelhos enganosos

que nos devolvem

a nós mesmos.

e nos perdemos confusos

em nosso próprio labirinto

de tortuosas buscas

para tratar de encher

nossos vazios pessoais,

enquanto nomeamos absolutos.

Os símbolos mais nobres,

Reino, pobres, justiça, liberdade,

às vezes acendem

nossa fantasia

transida e rotineira,

e põem em marcha

o corpo e o espírito,

e nos unificam como o fogo

ardendo no risco

onde se dissolvem as cadeias.

uma atração de eternidade

nos move para adiante,

atravessando de absoluto

o instante e a tarefa.


 TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


CUARTO DOMINGO DE ADVIENTO - CICLO B

 Primera lectura (2Sam 7,1-5.8-12.14.16):

 

Este oráculo tuvo gran repercusión en la historia política y religiosa del pueblo de Dios[1]. Políticamente aseguró la continuidad de la dinastía davídica en Judá. Mientras el Reino del Norte, Israel, fue víctima de continuas conspiraciones y asesinatos para instaurar nuevas dinastías; en el Sur, Judá, la dinastía fundada sobre la promesa de Dios a la descendencia de David se mantuvo siempre firme. Desde el punto de vista religioso, la trascendencia del capítulo fue aún mayor. Cuando desapareció la monarquía judía en el año 586 ciertos grupos mantuvieron firme su esperanza en la promesa de Dios, por lo cual, aunque de momento estaban sin rey, esperaban que algún día surgiría un descendiente de David para recoger su herencia y salvar al pueblo. Esta "esperanza contra toda esperanza" se mantuvo a lo largo de los siglos y, más aún, el rey esperado adquirió tintes cada vez más grandiosos pues ya no sería un simple descendiente de David, sino el salvador definitivo, el Mesías esperado.

 La narración comienza con el deseo manifiesto de David de construir un templo al Señor. La respuesta inmediata del profeta Natán fue: «Haz lo que tienes pensado, que el Señor está contigo» (v. 3). Pero, esa misma noche, Natán recibe la palabra del Señor con un mensaje para David que consta de dos partes. En la primera el Señor rechaza la construcción del templo, aduciendo que Dios nunca se ha dejado anclar a un espacio concreto, sino que «siempre he andado de acá para allá en una tienda que me servía de santuario». 

La segunda parte del oráculo (vv. 8-16) suena como una prueba de agradecimiento de Dios ante la generosidad de David. Después de recordar los beneficios pasados de Dios a David, se habla del gran beneficio futuro. David ha querido construir una casa (bayt en hebreo) para Dios, pero será Dios quien le construya una casa (bayt) a David. El término bayt tiene la misma ambivalencia que en el castellano «casa» pues puede usarse para hablar de «la casa de Dios» (templo) y de «la casa de David» (dinastía).

            Siguiendo a J. L. Sicre[2] podemos resaltar dos aspectos llamativos de la promesa hecha por Dios a David. En primer lugar, y humanamente hablando, esta promesa carece de fundamento lógico, es puramente gratuita, basada en el amor de Dios a David. Este carácter ilógico de la promesa es fundamental para comprender la esperanza mesiánica, que tendrá siempre algo de ilógico. En segundo lugar, el oráculo concede especial importancia a la relación de Dios con el descendiente de David que será de tipo paterno-filial: «Yo seré para él un padre, y él será para mí un hijo». La fuerza de esta imagen nos ayuda a comprender que Dios mantiene con el rey unas relaciones más personales que con los demás hombres y, a su vez, preanuncia la filiación divina del definitivo Mesías: Jesús.

  

Segunda lectura (Rom 16,25-27):

 

Este texto es la doxología final con que termina la carta a los Romanos. En la misma se glorifica a Dios porque nos ha revelado en Jesucristo un secreto o misterio que había mantenido silenciado u oculto durante siglos. Es decir, mediante el evangelio "Dios ha hecho accesible en Jesucristo lo que había mantenido oculto a los hombres, lo que él sólo sabía. El contenido de este secreto que ahora se hace público tiene que ver con el nombre de Jesucristo, pero el texto no lo expone de modo explícito"[3]. Ya que esta doxología es como una síntesis del contenido fundamental de toda la carta bien podemos suponer que se refiere al “Evangelio de Jesucristo” (cf. Rom 1,16). Se trata, por tanto, del designio universal de salvación que se ha manifestado en Cristo para llevar a todos a la obediencia de la fe. Tenemos, por tanto, tres temas fundamentales: Dios, a quien va dirigida la alabanza; el misterio, que es el mismo plan de Dios; y el anuncio del evangelio a todas las naciones que es lo que Dios pide en estos últimos tiempos.

  

Evangelio (Lc 1,26-38):

 

Es sabido que el relato lucano sobre el nacimiento e infancia de Jesús está centrado en su Madre, María, a diferencia de Mateo que se centra en la persona de San José. Sin embargo, nada nos cuenta este evangelio del pasado de la Virgen. Nada nos dice de sus padres, de su lugar de nacimiento, de su crianza. Ni siquiera de cómo conoció a José y cuándo se había desposado con él. Sólo nos dice donde vivía, la ciudad de Nazareth en Galilea; su situación civil: era virgen, pero prometida o comprometida con José; y su nombre: María. Sólo dos versículos de presentación, pues la intención del evangelista es concentrarse en lo que sigue: la vocación y elección de María para ser la Madre del Mesías e Hijo de Dios. Por esto no cuenta tanto el pasado, sino más bien el futuro: lo que María está llamada a ser en el plan de Dios, su colaboración en la misión redentora de su futuro Hijo. El evangelio va directamente al momento presente porque lo más importante es el tiempo de la salvación, que el griego llama kairos, momento de la intervención de Dios en la historia; momento único y de plenitud.

            Dice R. Brown[4] que en este texto el evangelista Lucas, valiéndose del esquema estereotipado de anunciaciones angélicas de nacimientos, ha desarrollada fundamentalmente tres temas: la concepción virginal, los hechos futuros del Niño y el retrato de María.

 

            La concepción de Jesús por parte de María Virgen supone una intervención de Dios mucho mayor que en otros casos, frecuentes en la Biblia, donde tiene lugar la concepción por parte de madres estériles. Remite más bien a la teología de la nueva creación donde el Espíritu de Dios, activo ya en los orígenes de la vida (Gn 1,2), obra algo realmente nuevo y maravilloso. Justamente la pregunta de María: "¿cómo puede ser esto, ya que no conozco varón?" tiene como función, dentro del género literario de anunciación, dar pie a la clara explicación del ángel Gabriel que no deja dudas sobre la acción exclusiva del Espíritu Santo. Además, se ponen de manifiesto tanto la paternidad exclusiva de Dios sobre Jesús como el alcance de su filiación divina, de su ser Hijo de Dios.

 

            La descripción de los hechos futuros del Niño da luz sobre su identidad y su misión. En este relato Jesús es presentado como futuro Mesías davídico e Hijo de Dios por la fuerza del Espíritu Santo. Ambos títulos tienen sus raíces en la terminología del Antiguo Testamento y las expectativas del judaísmo, pero en el terreno de la fe cristiana han florecido de un modo muy superior a lo esperado. Jesús es el heredero del trono de David según las promesas del AT, pero es Hijo de Dios por cuanto fue generado por Dios mismo sin concurso de varón, y esto último ha superado en mucho las expectativas de Israel.

 

            María es retratada, al final del relato, como aquella que escucha y obedece a la Palabra de Dios, de quien se declara servidora o esclava.

 

Algunas reflexiones:

            Como señala A. Nocent[5], en este cuarto domingo la liturgia de Adviento se vuelve decididamente hacia el anuncio de la Natividad del Señor. Ahora bien, esta mirada hacia Jesús se realiza todavía desde la tierra del Antiguo Testamento. Por ello la primera lectura nos trae el anuncio de la promesa de Dios a David sobre la permanencia de su futura descendencia, de su dinastía-casa. Hunde sus raíces aquí la expectativa mesiánica del hijo de David que será considerado por Dios como su propio hijo.

            Pero también es cierto que Dios, al revelarse en el Antiguo Testamento, no ha dicho todo sino que ha mantenido en silencio un secreto que sólo lo ha revelado en Jesucristo. Sólo en Él, en el Evangelio, tenemos la plenitud de la Revelación, el pleno conocimiento de la voluntad de Dios. Este es el anuncio de san Pablo en la segunda lectura: la salvación de todos los hombres por Cristo, a quienes se les pide la obediencia de la fe para recibirla.

            

El evangelio, por su parte, nos trae el anuncio y también el comienzo del cumplimiento de las promesas del Antiguo Testamento. Cumplimiento que las supera por su PLENITUD y por su NOVEDAD. Al igual que en la creación, el Espíritu de Dios vuelve a actuar para dar origen a la nueva creación, al nacimiento del nuevo Adán, Jesucristo, hijo de David e Hijo de Dios.

            Este "desarrollo histórico" de la Revelación puede ayudarnos a tomar conciencia de quién es el que vendrá, el que nacerá, el que esperamos. Hasta ahora el adviento nos invitaba, con Juan Bautista, a preparar el camino, a convertirnos para recibirlo. También Juan Bautista nos invitaba a ir más allá de su bautismo y de su persona, para esperar al que es más grande y viene detrás de él. Hoy se nos revela el misterio oculto: Dios mismo se hace hombre en Jesucristo. Es Dios mismo quien en Jesucristo se hace niño para salvar y recrear la naturaleza humana.

            Hoy se nos revela lo que esperamos recibir esta Navidad: la presencia del Señor en nuestra vida. En cierto modo, recibiremos al mismo Señor Jesús que recibió la Virgen María. En efecto, «El Señor está contigo»: este saludo del ángel a María es la expresión del rostro de Dios que hoy se nos ofrece también a nosotros. Él está con nosotros mucho antes de que nos demos cuenta. Puede comenzar a nacer una vida nueva tomando en serio estas palabras, pero no se conoce esta confianza de Dios si en concreto no nos ponemos a caminar con él, como María”[6].

            

Al mismo tiempo el evangelio nos enseña cómo tenemos que recibir al Señor en esta Navidad presentándonos a la Virgen María como modelo o ejemplo de los que saben recibir la visita de Dios en sus vidas. Dios ha encontrado en Ella una criatura dispuesta a “dejarse dar”, capaz de recibir. Ella ofrece, simplemente, la propia fe. María escucha, acepta y recibe. María escuchó y creyó a la Palabra de Dios. Su humildad la hizo tomar esta actitud de Servidora de la Palabra, disponible a la voluntad de Dios: "Hágase en mí según tu palabra". Dijo sí al Plan de Dios sobre ella, aún sin entenderlo plenamente. Confió en Dios, en su poder para realizar su designio más allá de las leyes humanas. Creyó en lo imposible para los hombres, pero posible para Dios.

 

Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 24 de diciembre de 2014: “la respuesta de María es una frase breve que no habla de gloria, no habla de privilegio, sino solo de disponibilidad y de servicio: «He aquí la esclava del Señor; hágase en mí según tu palabra» (v. 38). También el contenido es diferente. María no se exalta frente a la perspectiva de convertirse incluso en la madre del Mesías, sino que permanece modesta y expresa la propia adhesión al proyecto del Señor. María no presume. Es humilde, modesta. Se queda como siempre. Este contraste es significativo. Nos hace entender que María es verdaderamente humilde y no trata de exponerse. Reconoce ser pequeña delante de Dios, y está contenta de ser así. Al mismo tiempo, es consciente de que de su respuesta depende la realización del proyecto de Dios, y que por tanto Ella está llamada a adherirse con todo su ser. En esta circunstancia, María se presenta con una actitud que corresponde perfectamente a la del Hijo de Dios cuando viene en el mundo: Él quiere convertirse en el Siervo del Señor, ponerse al servicio de la humanidad para cumplir el proyecto del Padre”.

Por último, hay una invitación a estar dispuestos a aceptar que la obra del Señor supere nuestras expectativas o incluso nuestro proyecto personal de servicio a Dios. Tanto en la primera lectura como en el evangelio vemos esto. David tenía un proyecto santo, hacerle un templo al Señor, y buscó la confirmación del profeta Natán antes de realizarlo. Pero Dios lo invitó a dejar de lado lo que él quería hacer, para aceptar lo que Dios va a realizar en él: una casa para siempre, una dinastía. Como bien nota H. U. von Balthasar[7]: "Dios no habita en la soledad de los palacios, sino en la compañía de los hombres que creen y aman; estos son sus templos y sus iglesias, y nunca conocerán la ruina. La casa de David «se consolidará y durará para siempre» en su hijo. Esto se cumple en el evangelio". 

De igual modo, como muchos padres y doctores de la Iglesia piensan, la pregunta de María al ángel esconde y revela su secreto propósito de permanecer siempre Virgen. Es decir, su "proyecto personal" era la Virginidad consagrada, el no tener relaciones con ningún hombre y, por tanto, el renunciar también a la maternidad. Pero Dios le pide aquí que, permaneciendo Virgen, acepte ser Madre, la Madre del Hijo de Dios. A. Cannopi[8] lo dice bellamente, "María ya había entonado en su corazón un canto nuevo al Señor, un canto desacostumbrado en Israel, el canto de la virginidad. Estaba fascinada por él y sentía que era agradable a Dios. Lo que el ángel le dice es, por tanto, conmovedor. ¿Cómo es posible que Dios le pida cambiar de melodía? Si es grata siendo virgen ¿cómo es posible que la quiera madre? Aquí está el estupor de María".

            En otras palabras, estas lecturas nos preparan para aceptar que el cumplimiento de las promesas de Dios nos sorprenda por su plenitud y abundancia. Al respecto dice el Card. A. Vanhoye[9]: "Siempre pasa así: cuando Dios hace una promesa, su cumplimiento es siempre más bello y perfecto que lo que los hombres habían comprendido. El hijo de María no es sólo sucesor de David, sino verdaderamente el Hijo de Dios".

            

En fin, que el Señor nos conceda esperar SU VENIDA, incluso de la forma que menos pensamos, pero con la certeza de que VIENE A SALVARNOS. Porque “el único camino hacia la felicidad consiste en ser hombre, mujer de adviento: uno que escucha más que habla, sobre todo uno que es consciente de que nada es imposible para Dios. Si Dios nos da poco, significa que hemos esperado poco; y, de hecho, es imposible alimentar a alguien que no tenga hambre”.[10]

 

 PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

  

Hoy se cumple

 

En tu Palabra creo y sin saber de tu modo, espero

Como el cautivo anhela el día en que se abrirá la puerta de salida

El enfermo, la cura de mal; el engañado, descubrir la verdad

 

Todos se resume en un deseo profundo de libertad

Ese regalo del Principio, desperdiciado por Adán

No supimos decir sí a tu mandato y nos aprisionó la maldad

 

Ahora en este Tiempo de los tiempos, está la oportunidad

Es una niña orando, soñando serena, vacía de ella, en su intimidad

Nos enseña, tan pequeña, de su firmeza y de su humildad

 

Se vio nada ante el anuncio del Ángel: convidada a amar

No escuchó otras voces, no se distrajo en detalles

Solo dio el sí más rotundo que nadie nunca pudo dar.

 

Y se llenó de la obediencia que quisiéramos emular

Así la historia empezó de nuevo para toda la humanidad

Se partió cuando en Santo Misterio, Dios se quiso engendrar

 

Mira Señora de tan bello rostro, la aurora pintó tus rasgos

¡Y nosotros, solo te miramos ahora pues rogarte queremos, Maestra!

Enséñanos que el Niño nos trae la verdadera Libertad.

 

Despojados de todo, en adoración al Dios pequeño,

Madre, no nos permitas estar dispersos

La Salvación está preparada para todos, si estamos atentos.

 

La Gloria de Dios es la libertad del hombre para Amarlo más allá

De todo egoísmo, de todo cálculo o condición, de todo temor

Espíritu Divino modela el pesebre al Niño en cada corazón. Amén.


[1] "Este pasaje es el corazón de toda la historia de David, la raíz de todas las narraciones que hablan de él", C. M. Martini, David: pecador y creyente (Paulinas; Santa Fe de Bogotá 1991) 104.

[2] De David al Mesías (Verbo Divino; Estella 1995) 88-89.

[3] U. Wilckens, La carta a los Romanos vol. II (Sígueme; Salamanca 1992) 497.

[4] El Nacimiento del Mesías. Comentario a los Relatos de la Infancia (Cristiandad; Madrid 1982) 303-339. Vamos a seguir de cerca su comentario.

[5] Celebrar a Jesucristo I. Introducción y Adviento (Sal Terrae; Santander 1987) 141.

[6] G. Zevini- P. G. Cabra, Lectio divina para cada día del año vol. I (Verbo Divino; Estella 2001) 219.

[7] Luz de la Palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 128.

[8] "Mis ojos han visto tu Salvación". Lectio Divina sobre los evangelios de la infancia de Jesús (Ágape; Buenos Aires 2007) 21.

[9] Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo B (Mensajero; Bilbao 2008) 24.

[10] G. Danneels, Le stagioni della vita (Brescia 1998) 211.