TRANSFIGURAÇÃO

TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

06/08/2023


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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Daniel 7,9-10.13-14 

Salmo Responsorial 96 (97)R-Deus é Rei, é o Altíssimo, muito acima do universo 

2ª Leitura - 2 Pedro 1,16-19

Evangelho Mateus 17,1-9 

Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os fez subir a um lugar retirado, numa alta montanha. 2 E foi transfigurado diante deles: seu rosto brilhou como o sol e suas roupas ficaram brancas como a luz. 3 Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. 4 Pedro, então, tomou a palavra e lhe disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias”. 5 Ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E, da nuvem, uma voz dizia: “Este é o meu filho amado, nele está meu pleno agrado: escutai-o!” 6 Ouvindo isto, os discípulos caíram com o rosto em terra e ficaram muito assustados. 7 Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos, não tenhais medo”. 8 Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser Jesus. 9 Ao descerem da montanha, Jesus recomendou-lhes: “Não faleis a ninguém desta visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP

 Mt 17,1-9

Celebramos hoje o dia em que Jesus se transfigurou no monte diante dos discípulos Pedro, Tiago e João. A liturgia da palavra nos fala do significado deste acontecimento.

1. O que a transfiguração significa em si mesma? Qual é a sua importância para a fé cristã? A transfiguração revela para nós quem é Jesus Cristo. Ela possui um valor em si mesma como um fato miraculoso pelo qual se nos revela quem é Jesus. Neste momento o véu que encobria o mistério de sua pessoa é retirado. Por detrás de suas origens humildes, de sua pobreza, da insignificância de seus meios se esconde, verdadeiramente, a glória do Filho eterno do Pai.

Os discípulos não ficaram imunes às dúvidas em relação a Jesus. Quase todas as pessoas e as instituições daquele tempo se voltaram contra Ele. Jesus foi acusado de falso profeta, de herege, de possesso, de charlatão. Ora, diante de tudo isso se levanta a pergunta: com quem está a verdade? Com a minoria – Jesus e os discípulos – ou com a maioria da sociedade e da religião daquela época?

A transfiguração desfaz todas as ambiguidades. É o próprio Deus do céu que se pronuncia em favor de Jesus: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o sempre!". Diante deste homem fraco e contestado nos encontramos diante do próprio Filho de Deus que visitou o seu povo para o libertar. A fé dos apóstolos e a nossa sai fortalecida porque o escândalo da insignificância histórica de Jesus é superado: vemos a glória de Deus, a Lei e os Profetas que dão testemunho dEle.

2. Qual o significado da Transfiguração para Jesus? A transfiguração também tem um sentido para o próprio Jesus. Jesus estava vivendo um momento de crise provocado pela sua própria pregação, pelas suas atitudes e pela sua vida.

A primeira fase do ministério público de Jesus tinha se caracterizado pelo entusiasmo, pela reação positiva do povo e dos apóstolos. Na medida, porém, que ia ficando claro o que Jesus queria com o anúncio do Reino uma crise começou a se armar. 

Por que? Jesus pregava um Reino que era a transformação total do homem e do mundo mediante a conversão radical, de um novo tipo de relacionamento para com Deus, Pai de infinita bondade e para com todos os irmãos. E não era isso que o povo esperava: ansiava por um Messias libertador que iria instaurar um novo poder terrestre. Ora, Jesus não aceitou este tipo de messianismo. Por isso ele foi ficando cada vez mais só.

Nesse momento, Jesus se coloca em oração. É um momento importante, decisivo na vida de Jesus. É assim que neste clima de crise e tentação, mas também de oração que o Pai se manifesta ao Filho.

Jesus jamais quebrou a fidelidade ao seu Pai. Sofreu, mas assume aquilo que se revelou como vontade concreta de Deus: seguir fiel, mesmo tendo de morrer rejeitado na cruz. A transfiguração significou para Jesus a certeza de que Deus não o havia abandonado. Todos podiam tê-lo rejeitado, os discípulos podiam ter compreendido mal sua palavra, Deus, entretanto, confirmou a justeza das decisões de Jesus. A voz do Pai é clara: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o sempre!”. Não somente os apóstolos, mas também Jesus sai fortalecido em sua fidelidade e obediência ao Pai.

3. Qual o sentido da transfiguração para os apóstolos? Os apóstolos guardaram viva a lembrança deste acontecimento e os evangelistas nos transmitiram isto não apenas com a intenção de nos revelar o mistério da pessoa de Jesus, o Filho de Deus encarnado, nem somente para mostrar o apoio do Pai no meio das tentações de Jesus, mas também para nos comunicar uma lição.

Qual lição? O seguimento de Jesus implica comungar de sua vida e também de seu destino. Seguir Jesus significa abraçar o Reino de Deus e rejeitar o reino deste mundo, o pecado. Este seguimento inclui conversão, sacrifícios, rupturas. Mas o sentido de todo este empenho nos é revelado pela transfiguração: na cruz de Cristo há ressurreição, em todo o sacrifício vigora uma redenção, e na morte por amor triunfa uma vida. Seguir Jesus não é só carregar a cruz, mas também ser glorificado, ser transfigurado nEle. Eis a grande lição que se tira da transfiguração de Jesus.



Transfigurar nossa capacidade de escuta - Adroaldo Palaoro


Transfiguração do Senhor - Mt 17,1-9 - A – 06-08-2023


“Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!” (Mt 17,5)


O apelo do Deus de Jesus a seu povo, a cada filho e filha é este: “escutar”. O maravilhoso “Shemá Israel”, que nossos irmãos judeus tanto repetem e veneram, esteve nos lábios de Jesus infinitas vezes ao longo de sua vida. Em seus lábios sim, como bom judeu que era, mas sobretudo em sua vida, como uma atitude.

De Jesus falamos mais de suas palavras e de seus feitos, o que Ele “fez e disse”.

Quando nos referimos ao seu “fazer”, nós nos fixamos em suas curas, em seus gestos eloquentes como multiplicar o pão para alimentar a multidão, no gesto de lavar os pés dos seus discípulos, de devolver vida e força às pessoas alquebradas por enfermidades etc.

E o que Ele “disse”, os textos canônicos e apócrifos conservam para serem rezados, estudados, repetidos diariamente em centenas de liturgias, nos corações orantes, nos estudiosos enamorados da Palavra...

De Jesus falamos muito pouco de sua escuta. Jesus é “Shemá” em sua mais pura essência. Embora pareça que tenha falado muito, sempre nos inspira uma etapa longa de sua vida, antes de seu batismo, na qual vivia uma vida normal, como todo bom judeu, cujo guia foi a fidelidade ao “Shemá”.

Jesus escutava seu Abba, sua realidade social e religiosa e continuou escutando. E porque escutou, se tornou um buscador; encontrou João no deserto e o escutou. Depois de um tempo, tomou uma decisão, deixou-se batizar e imediatamente foi conduzido pelo Espírito ao deserto para escutar.

O motor da atividade de Jesus foi a escuta da voz do Pai, dos textos revelados e do pulsar da vida.

Assim como aconteceu com Jesus, ativar a capacidade de escuta é a que nos possibilita a entrada no mistério. A escuta é como um sacramento que nos unge para a trajetória do seguimento de Jesus, para a travessia que nos faz sair das pequenas ou grandes atrofias: maneiras de pensar, opiniões petrificadas e inamovíveis sobre Deus e os outros, atitudes petrificadas, moralismos doentios, culpas mórbidas... para poder caminhar em direção à plenitude de vida, que é a meta. Tal plenitude não é um lugar físico, é um “estado interior” que nos ajuda a descobrir a direção e a felicidade. Na mentalidade judaica trata-se da “Terra prometida”.

Esta não consiste simplesmente em estarmos bem, mas em estarmos em comunhão com tudo, em descobrir que somos uno, que estamos conectados, que somos uns com os outros, que possivelmente passou por nossos pulmões o mesmo oxigênio que passou pelo resto da humanidade, que somos pó de estrelas...; logo, pertencemos ao infinito, ao cosmos e desfrutamos contemplando as estrelas. Somos família.

Escutar é perigoso, subverte; e é libertador, pois nos arranca da estabilidade e da acomodação. Quem escuta sai de si e se põe em movimento. Escutar é conectar com o pulsar de tudo e sentir que é preciso ser pessoa de travessia para outra margem, pessoa capaz de soltar para acolher, para abraçar e acompanhar.

A vida não é um mistério para aqueles que elegem caminhos seguros. Nossa vida começa a sentir o mistério quando escutamos e entramos em sintonia com a realidade e de sua mão nos deixamos introduzir em outro nível, o do “Shemá”, o da escuta da pulsação d’Aquele que é Presença providente e cuidadosa.

A festa da Transfiguração nos anima a que nos tornemos homens e mulheres de “Shemá”, de escuta. Deixar que o longo tempo que Jesus se dedicou a escutar nos contagie; deixar que este aspecto de nossa essência configure mais e mais nossa identidade como pessoas “escutadoras”.

A escuta mais profunda se realiza a partir da quietude e do silêncio interior. Como no lago sem ondas, em cuja superfície lisa se refletem as imagens, o ouvido interno capta o som de vida criada e criadora só quando os ruídos artificiais forem aquietados. É preciso afinar mais a capacidade de escuta interior para melhor sentir, discernir e optar.

Ao escutar Jesus nos sentiremos movidos a sair de nosso conformismo, romper com um estilo de vida egóico no qual estamos, talvez, confortavelmente instalados e começar a viver mais atentos à interpelação que nos chega a partir dos mais excluídos e desvalidos de nossa sociedade.

Saber escutar nos liberta do fechamento indiferente, do fanatismo e do conservadorismo que aprisiona a vida; liberta-nos também da surdez cúmplice dos ruídos alienadores que bloqueiam os clamores que provém da Terra machucada e dos irmãos violentados.

O “ouvido evangelizado” nos permite abrir ao diferente, à palavra e ao silêncio, à brisa e ao rugir da tormenta. Através do ouvido podemos saborear a beleza das melodias da natureza (água, vento, árvores, pássaros...) e da criação artística. Um ouvido atento que possa perceber o Silêncio, um silêncio carregado de Presença, e o Mistério que pode ser nomeado de diversos modos: Transcendência, Ser, Energia Puríssima, Alá, Deus, Ser, Presença...; Jesus de Nazaré o denominou “Abba”, como expressão de sua experiência de relação amorosa.

Saber escutar foi e continua sendo uma aprendizagem longa e difícil, que não termina nunca, e que vai nos conduzindo a um encontro com a Vida; portanto, a uma aprendizagem no caminho em direção ao amor.

É preciso aprender o ofício de “escutadores/as”; escuta descentrada que nos coloca no lugar da outra pessoa, escuta para ativar os dois ouvidos: um atento às necessidades dos outros, e o outro atento às nossas próprias ressonâncias interiores.

Por isso, é importante aprofundar no que significa fazer do ouvido um lugar para o encontro com o Ser, com a vida, com o Amor, porque isto supõe uma aprendizagem, requer arte e técnica, supõe transitar caminhos diferentes, cultivar um modo original de nos fazer presentes na realidade que nos envolve.

É preciso afinar cada vez mais nossos ouvidos para poder escutar a voz dos sem voz, daqueles que já não tem nem forças para gritar, daqueles que perderam a esperança de serem escutados, daqueles que ficaram exaustos, atirados nos caminhos que eles acreditavam serem de vida e na realidade se converteram em ratoeiras de morte. Escutar não só os sem voz, mas todas as vozes silenciadas pelo medo, opressão, exclusão, violência, machismos imperantes durante tantos séculos. Vozes de quem não lhes damos voz, porque não são dos nossos, porque nos parece que não tem nada a contribuir, ou porque suas vozes diferentes das nossas nos ameaçam em nossas “seguranças-inseguras”, porque nos deslocam e nos põem em dúvida, porque nos denunciam e desmascaram nossas mentiras pessoais, sociais, culturais e religiosas.

Nossos ouvidos estão muito condicionados pelo nosso lugar social, racial, geográfico, familiar, ideológico...

Escutar não é ouvir. Ouvir é um processo fisiológico, escutar é outra coisa. É um processo psicológico e espiritual que supõe a implicação de toda a nossa pessoa, requer atenção, interesse, motivação...

Saber escutar é uma arte e uma missão, uma aprendizagem no qual podemos nos exercitar.

A escuta é, em si mesma, terapêutica pela capacidade que tem de facilitar a chave de compreensão da realidade do outro e de nós mesmos.

Sem escuta profunda a vida se desumaniza e o ser humano se automatiza egoísticamente.


Para meditar na oração:

Inimiga número um da escuta é a pressa e a ansiedade que ela costuma trazer consigo.

A oração, por si mesma, é uma rebeldia contra a pressa dominante: uma oração mesclada de silêncio profundo, de respeitosa contemplação, isto é, de verdadeira escuta.

- Tome consciência daquilo que obstrui os seus ouvidos e os torna “incapazes de prestar atenção” (Jer. 6,10).

- Tome consciência da superficialidade diante da voz da consciência e da incapacidade de escutar o outro, fazendo ressoar a sua voz no seu coração.

- Tome consciência de todas as mensagens negativas que transformaram, seduziram e enganaram seus ouvidos, tornando-os surdos às mensagens celestes, à Palavra da verdade e da vida.

- Tome consciência da hipersensibilidade auditiva que o faz reagir bruscamente frente à incompreensão ou o seduz diante das vozes de morte que alienam e matam a capacidade de discernir.


Transfiguração do Senhor - Padre Luciano Marini, Missionário Comboniano


Mt 17,1-9

-* 1 Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, os irmãos Tiago e João, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. 2 E se transfigurou diante deles: o seu rosto brilhou como o sol, e as suas roupas ficaram brancas como a luz. 3 Nisso lhes apareceram Moisés e Elias, conversando com Jesus. 4 Então Pedro tomou a palavra, e disse a Jesus: «Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias.» 5 Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra, e da nuvem saiu uma voz que dizia: «Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz.» 6 Quando ouviram isso, os discípulos ficaram muito assustados, e caíram com o rosto por terra. 7 Jesus se aproximou, tocou neles e disse: «Levantem-se, e não tenham medo.» 8 Os discípulos ergueram os olhos, e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. 9 Ao descerem da montanha, Jesus ordenou-lhes: «Não contem a ninguém essa visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos.»



1- Este texto foi escrito para as comunidades primitivas e para nós.

2- Qual a finalidade do texto?

3- Os apóstolos esperavam um Messias forte e poderoso. Eles não aceitavam um messias sofredor. Eles queriam um grande rei todo-poderoso que eliminasse os inimigos do Império Romano.

4- O mesmo estava acontecendo com as comunidades e conosco hoje.

5- Pedro, querendo mostrar o seu amor a Jesus, tenta afastá-lo do sofrimento. Mas Jesus reage fortemente chamando-o de “SATANAS”, que quer dizer tentador que afasta do objetivo.

6- Em Mt 17, 1-9, Jesus nos mostra sua grandeza e seus sofrimentos para nos ensinar que não há triunfo se não houver batalha.

7- Para isso Jesus convida Pedro, os irmãos Tiago e João para uma conversa sobre uma alta montanha que era o lugar da revelação de Deus.

8- Jesus revela aos 3 discípulos uma parte dos frutos da sua opção.

9- Com Jesus aparecem também Moisés e Elias.

10- Moisés e Elias prefiguram respetivamente a lei e os profetas.

11- Na Transfiguração temos isso e mais. A cena gloriosa do Tabor destina-se a colocar na sua verdadeira luz a bem-aventurada Paixão do Calvário. E a nossa vida quotidiana pode ser uma térmica de sofrimentos: oferecido a Deus, torna-se já um vestuário de glória.

12- A Transfiguração que faz parte do mistério da Salvação, é bastante merecedora de uma celebração litúrgica, que a igreja, tanto do Ocidente como do Oriente celebrou de vários modos e em diferentes datas, até o papa Calisto II a estender à igreja universal.

13- Quando Deus veio à terra, na pessoa de Jesus, adotou uma forma humana. Fisicamente, Jesus se parecia como qualquer outro homem.

14- Ele teve fome, sede, cansaço, etc. Sua divindade foi vista apenas indiretamente, em suas ações e suas palavras. Mas, numa ocasião, a glória divina interior de Jesus resplandeceu e se tornou visível.

15- Jesus se revelou abertamente aos 3 discípulos que eram as colunas do grupo.

16- Os 3 ainda acreditavam em Moisés e Elias, e por isso fazem o projeto de 3 tendas.

17- Segundo Pedro o messias devia seguir o exemplo de Elias e de Moisés. 

18- Elias tinha sido um profeta zelante que matou pessoalmente 450 sacerdotes de outra divindade.

19- Moisés era o fundador da antiga aliança, o libertador do povo no Egito.

20- Para Pedro o messias devia ser um devoto observante de todas as regras da Lei.

21- Este era o Messias que sonhava Pedro: uma pessoa que observe a lei e a coloque me pratica com violência como Elias.

22- Mas Deus não está de acordo com Pedro e afirma que ele se revela completamente só em Jesus: Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz.» (Mt 17,6)

23- A reação dos discípulos foi que “ficaram muito assustados, e caíram com o rosto por terra”.(Mt 17,6). Foi a derrota do tipo de messias glorioso, mas os 3 discípulos não se convencem.

24- Não é este o Messias que os 3 estão procurando. O Messias deles é um messias triunfante que não morre.

25- Além disso o Pai lhes diz: “: «Levantem-se, e não tenham medo. » (Mt 19,8)

26- E tem mais um recado: “Jesus ordenou-lhes: «Não contem a ninguém essa visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos.» (Mt 17,9).

27- Tudo isso foi escrito também para nós.

28- Quais forma os momentos em que nós descobrimos melhor a Jesus Cristo?

29- A Transfiguração aconteceu com Jesus mas acontece também conosco.

30- Todo encontro com as pessoas muda o nosso ser.

31- Os encontros com as pessoas que amam o próximo nos transformam.

32- Isso acontece quando visitamos os doentes, os pobres, os marginalizados.

33- Acontece também quando nos encontramos com pessoas que renunciaram ao dinheiro, ao poder, ao sexo, ao sucesso... para se dedicar aos necessitados.

Padre Luciano Marini, Missionário Comboniano



O RISCO DE SE INSTALAR - José Antonio Pagola


Mais tarde ou mais cedo, todos corremos o risco de nos instalarmos na vida, procurando o refúgio cómodo que nos permita viver tranquilos, sem sobressaltos nem preocupações excessivas, renunciando a qualquer outra aspiração.

Conseguido já um certo êxito profissional, encaminhada a família e assegurado, de alguma forma, o futuro, é fácil deixar-se apanhar por um conformismo cómodo que nos permita continuar a caminhar pela vida da forma mais confortável.

É o momento de procurar uma atmosfera agradável e acolhedora. Viver descontraído num ambiente feliz. Fazer do lar um refúgio cativante, um canto para ler e escutar boa música. Saborear umas boas férias. Assegurar uns fins-de-semana agradáveis…

Mas, com frequência, é então quando a pessoa descobre com mais claridade que nunca, que a felicidade não coincide com o bem-estar. Falta nessa vida algo que nos deixa vazios e insatisfeitos. Algo que não se pode comprar com dinheiro nem assegurar com uma vida confortável. Falta simplesmente a alegria própria de quem sabe vibrar com os problemas e necessidades dos demais, sentir-se solidário com os necessitados e viver, de alguma forma, mais próximo dos maltratados pela sociedade.

Mas há além disso um modo de «se instalar» que pode ser falsamente reforçado com «tons cristãos». É a eterna tentação de Pedro, que nos espreita sempre os crentes: «colocar tendas no alto da montanha». Quer dizer, procurar na religião o nosso bem-estar interior, iludindo a nossa responsabilidade individual e coletiva em conseguir uma convivência mais humana.

E, no entanto, a mensagem de Jesus é clara. Uma experiência religiosa não é verdadeiramente cristã se nos isola dos irmãos, nos instala comodamente na vida e nos afasta do serviço aos mais necessitados.

Se escutamos Jesus, iremos sentir-nos convidados a sair do nosso conformismo, cortar com um estilo de vida egoísta em que estamos tal vez confortavelmente instalados e começar a viver mais atentos à interpelação que nos chega dos mais desprotegidos da nossa sociedade.


A Transfiguração prepara os companheiros de Jesus para a Cruz - Frei Carlos Mesters

Mateus 17 , 1-9

 Hoje comemoramos a festa da Transfiguração de Jesus. A Transfiguração acontece depois do primeiro anúncio da Morte de Jesus (Mt 16,21). 

Jesus morrer deste jeito transtornou a cabeça dos discípulos, sobretudo de Pedro (Mt 16,22-23). Eles tinham os pés no meio dos pobres, mas a cabeça estava perdida na ideologia dominante da época. Eles esperavam um messias glorioso. 

A cruz era um impedimento para crer em Jesus. A Transfiguração, onde Jesus aparece glorioso no alto da montanha, era uma ajuda para eles poderem superar o trauma da Cruz e descobrir em Jesus o verdadeiro Messias. 

Muitos anos depois, quando a Boa Nova já estava espalhada pela Ásia Menor e pela Grécia, a Cruz continuava sendo um grande impedimento para os judeus e para os pagãos aceitarem Jesus como Messias. “A cruz é uma loucura e um escândalo!”, assim diziam (1Cor 1,23). Um dos maiores esforços dos primeiros cristãos consistia em ajudar as pessoas a perceber que a cruz não era escândalo nem loucura, mas sim a expressão mais bonita e mais forte do poder e da sabedoria de Deus (1Cor 1,22-31). 

O evangelho de hoje dá a sua contribuição neste esforço. Ele mostra que Jesus veio realizar as profecias e que a Cruz era o caminho para a Glória. Não há outro caminho.

Mateus 17,1-3: Jesus muda de aspecto.

Jesus sobe a uma montanha alta. Lucas acrescenta que ele subiu para rezar (Lc 9,28). Lá em cima, Jesus aparece na glória diante de Pedro, Tiago e João. Junto com Jesus aparecem Moisés e Elias. A Montanha alta evoca o Monte Sinai, onde, no passado, Deus tinha manifestado sua vontade ao povo, entregando as tábuas da lei. As vestes brancas lembram Moisés que ficava fulgurante quando conversava com Deus na Montanha e dele recebia a lei (cf. Ex 34,29-35). Elias e Moisés, as duas maiores autoridades do Antigo Testamento, conversam com Jesus. Moisés representa a Lei, Elias, a profecia. Lucas informa que a conversa foi sobre o “êxodo” (a morte) de Jesus em Jerusalém (Lc 9,31). Assim fica claro que, o Antigo Testamento, tanto a Lei como os Profetas, já ensinava que, para o Messias, o caminho da glória tinha de passar pela cruz.

Mateus 17,4: Pedro gostou, mas não entendeu.

Pedro gostou e quis segurar o momento agradável na Montanha. Ele se oferece para construir três tendas. Marcos diz que Pedro estava com medo, sem saber o que estava dizendo (Mc 9,6), e Lucas acrescenta que os discípulos estavam com sono (Lc 9,32). Eles são como nós: têm dificuldade para entender a Cruz!

Mateus 17,5-8:  A voz do céu esclarece os fatos.  

Enquanto Jesus é envolvido pela glória, uma voz do céu diz: "Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz". A expressão “Filho amado” evoca a figura do Messias Servo, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1). A expressão “Escutem o que ele diz” evoca a profecia que prometia a chegada de um novo Moisés (cf. Dt 18,15). Em Jesus, as profecias do AT estão se realizando. Os discípulos já não podem duvidar. Jesus é realmente o Messias glorioso e o caminho para a glória passa pela cruz, conforme tinha sido anunciado na profecia do Messias Servo (Is 53,3-9). A glória da Transfiguração o comprova. Moisés e Elias o confirmam. O Pai o garante. Jesus o aceita. 

Diante de tudo que estava acontecendo os discípulos ficam com muito medo e caíram com o rosto por terra. Jesus se aproxima, toca neles e diz: "Levantem-se, e não tenham medo." Os discípulos levantam os olhos e veem só Jesus e ninguém mais. Daqui para a frente, Jesus é a única revelação de Deus para nós! Jesus, e só ele, é a chave para podermos entender a Escritura e a Vida.

Mateus 17,9: Saber guardar o silêncio.

Jesus pedia aos discípulos para não dizer nada a ninguém até que ele tivesse ressuscitado dos mortos. Marcos diz que eles não sabiam o que significava ressurreição dos mortos (Mc 9,10). De fato, não entende o significado da Cruz quem não liga o sofrimento com a ressurreição. A Cruz de Jesus é a prova de que a vida é mais forte que a morte. A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galileia até Jerusalém.

Para um confronto pessoal

1- A sua fé em Jesus já proporcionou a você algum momento de transfiguração e de alegria intensa? 

2 - Como estes momentos de alegria lhe dão força na hora das dificuldades?

3 - Como que a gente consegue transfigurar, a nossa vida pessoal, familiar, nossa vida em comunidade, para conseguirmos entender que o caminho para a glória tem que passar pela cruz?


Este é o meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o! - Ildo Bohn Gass


Neste domingo a liturgia nos propõe a reflexão sobre a transfiguração de Jesus. A narrativa apresenta Jesus transfigurado, sugerindo a experiência das comunidades, ali representadas por Pedro, Tiago e João, com Jesus ressuscitado.


Felizes os que são perseguidos por causa da justiça


Segundo os evangelistas, a cena da transfiguração está em meio aos anúncios da paixão. A intenção é mostrar como a cruz faz parte da vida de quem assume o projeto do Pai e lhe é fiel até as últimas consequências. A fidelidade a Deus e ao resgate da vida dos pobres contraria interesses religiosos, econômicos e políticos. Nesse sentido, a perseguição pelos poderes que governam este mundo é inevitável na vida de quem assume a causa do Reino e de sua justiça. Não é por acaso que a comunidade de Mateus incluiu a seguinte bem aventurança para quem é perseguido e julgado injustamente: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois quando vos injuriarem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós (…), pois foi assim que perseguiram os profetas que vieram antes de vós” (Mateus 5,10-12). E Jesus sobe ao monte, simbolicamente um lugar privilegiado para encontrar-se com Deus, a fim de fortalecer-se e se manter fiel ao projeto do Pai.


A vitória de Jesus sobre a morte na cruz

Este relato é uma leitura pós-pascal e pretende narrar antecipadamente a vitória de Jesus sobre a morte na cruz, apresentando-o como o messias glorioso. É o que indicam o “seu rosto brilhante como o sol e suas roupas brancas como a luz” (Mateus 17,2). A ressurreição, a vitória sobre todos os poderes, é a vida em toda a sua plenitude que vence a morte. Nesse sentido, o martírio é uma possibilidade para as pessoas que se engajam de corpo e alma no testemunho das relações do Reino.

O fato se dá “seis dias” depois do acontecimento da narrativa anterior (Mateus 17,1). Essa referência aos seis dias quer mostrar que, tal como a criação em seis dias e o descanso de Deus no sétimo (Gênesis 1,1-2,4a), Jesus é a nova criatura, a vida nova. Ele vem trazer essa vida recriada para todas as pessoas que acolhem e aderem ao seu projeto. É por isso que Paulo escreve: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas. Eis que se faz uma realidade nova” (2 Coríntios 5,17).

“Moisés e Elias falavam com ele” (Mateus 17,3). Elias é o representante da profecia. Moisés faz lembrar não somente o êxodo, mas também todo Pentateuco, toda lei, que a tradição judaica atribuía a ele. Por um lado, a lei e os profetas, isto é as Escrituras todas, se cumprem em Jesus. Ou seja, o Nazareno dá continuidade à primeira aliança, levando-a a sua plenitude. Por outro lado, a comunidade de Mateus apresenta Jesus como um profeta que, tal como os profetas Elias (1 Reis 17,1) e Moisés (Deuteronômio 18,15), veio anunciar um novo êxodo de liberdade para seu povo. Jesus torna histórica a antiga esperança profética. Portanto, ele está em continuidade com as tradições do seu povo.

O fato de Jesus subir, acompanhado por Pedro, Tiago e João, “no alto de uma montanha” (Mateus 17,1), confirma esta perspectiva, pois é uma referência ao monte Sinai, no qual Deus deu a conhecer ao povo o seu projeto de vida e de liberdade, que Moisés registrou no decálogo (Êxodo 19-20). A tradição identificou a montanha da transfiguração com o monte Tabor. E Jesus é apresentado ao mundo como o novo Moisés que vem para resgatar a essência da lei, isto é, o amor que liberta e promove a vida de todos igualmente.

Ao propor ficar na montanha e construir “três tendas” (Mateus 17,4), Pedro revela sua cegueira e dureza de coração. Fazia pouco tempo que Jesus já tinha chamado a atenção para sua cegueira, acusando-o de cumprir a função de Satanás como pedra de tropeço no projeto de Deus (Mateus 16,22-23). No entanto, Pedro ainda não compreendera que a construção da justiça do Reino não permite privilégios, nem acomodação. Ser discípulo não é somente participar da glória de Jesus, mas é também carregar a sua cruz nas cruzes de tantos crucificados, gerando e defendendo a vida.

A “nuvem” (Mateus 17,5) é um dos símbolos privilegiados na Bíblia para falar da presença de Deus (Êxodo 13,21; 16,10; 34,5; 40,34-38; Números 12,5). E, tal como em Lucas o anjo dissera a Maria “o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra” (Lucas 1,35), agora desceu uma nuvem sobre a montanha, “cobrindo-os com a sua sombra”. É o Pai confirmando a missão do Filho. Da nuvem saiu uma voz que disse: “Este é meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o”, da mesma forma como já havia anunciado por ocasião do batismo (Mateus 3,17; cf. Isaías 42,1). Jesus é o Emanuel, presença libertadora de Deus entre nós (Mateus 1,23).

Descer para junto do povo sofrido

Não é possível acomodar-se no alto da montanha, refugiando-se em uma espiritualidade desligada da vida de tantas pessoas crucificadas. Ouvir a sua voz desinstala e leva a descer para junto do povo sofrido e tornar as relações do Reino de Deus presentes em suas lutas por vida em abundância, sem ufanismo ou triunfalismo (Mateus 17,9). Mas ciente de que o seguimento humilde da prática libertadora de Jesus significa estar disposto a também sofrer as consequências da cruz.



Que tal o texto em poesia! - Louraini Christmann


1. Que tal o texto em poesia!

Para iniciar, quero propor a leitura desse texto “em versos populares”, escritos por Severino Batista (A Palavra na Vida, 146, CEBI). 

1 – Ali seu rosto em clarão

Igual ao sol brilhava

Sua veste reluzente

Em brancura se tornava

Eis que Moisés e Elias

Muita atenção lhe prestavam.

2 – Pedro pediu a palavra

Dizendo: Senhor, atenção

É bom estarmos aqui

Se queres na ocasião

Três tendas para os três

Eu farei com perfeição.

3 – Uma será para ti

Outra pra Moisés eu dou

Outra pra Elias faço

Eis que uma nuvem baixou

Mais luminosa que tudo

E tudo ali rodeou.

4 – Daquela nuvem se fez

Ouvir com toda atenção

Uma voz que lhe dizia

Meu filho do coração

Amado em quem pus

Toda minha perfeição.

5 – Ouvindo estas palavras

Os três discípulos caíram

Com a face sobre a terra

Muito medo eles sentiram

Mas Jesus os levantou

Rápido que eles não viram.

6 – Quando eles desciam

Jesus começou a falar

Não conteis para ninguém

Proibiu-lhes de contar

Que viram o filho do homem

Só quando ressuscitar.


2. Mateus pergunta: Quem somos nós? E qual é a nossa missão?

O Evangelho de Mateus quer dar essa resposta em uma época em que o judaísmo tenta se adaptar ao novo em Jesus. Ele é, sim, o Messias (Mt 17.5). Para sempre Jesus estará com a gente (Mt 28.20), mesmo que no presente passemos pelas mais diversas crises.

Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino definem a função do Evangelho de Mateus assim: “Neste Evangelho, as comunidades de judeu-cristãos encontravam uma fonte de consolo para o momento presente, uma nova maneira de entender o passado e uma prática que abria o caminho para o futuro com Deus” (na introdução ao livro “Travessia – Quero Misericórdia e não Sacrifícios” – Palavra da Vida – 135/136 – CEBI).

Em nosso texto me parece que aparecem justamente estes elementos: consolo para o presente: a visão; nova maneira de entender o passado: agora a mensagem de Moisés e Elias é radicalizada ou completada por Jesus; prática que abre o caminho para um futuro com Deus: as palavras de Deus para os discípulos – “Ouçam o que ele diz” – e a palavra de Jesus – “Não tenham medo”.

Bom pensar que esse texto poderia ser um pouco o resumo do evangelho todo.

Paralelos

Mateus, Marcos e Lucas narram a mesma passagem. Antecede sempre o anúncio da cruz e vem logo após o anúncio da boa-nova da cura de um menino. E nos três também aparecem claramente os discípulos de Jesus negando a cura ao menino, os mesmos discípulos dentre os quais Pedro, Tiago e João, que de imediato queriam construir tendas para este Jesus brilhante e glorioso. É! Temem o Jesus da cruz, que desafia a cura, inclusive do menino ao qual negam a cura, e querem prender a si o Jesus da glória, do brilho.

É claro que a cruz angustia. É claro que ela preocupa. Mas Jesus não pode voltar atrás e isto Pedro não entende e não aceita. “Arreda, Satanás” para Pedro (Mt 16.23). Mas parece que o tal de Satanás continua firme nos discípulos, agora na vontade de perpetuar uma paz gloriosa, uma paz fictícia, uma paz sem paz. E para Jesus poder iniciar a construção da paz verdadeira é preciso que ele passe pela cruz. Não tem outro jeito.

3. “Senhor, como é bom estarmos aqui”

Sim, é bom ver Jesus daquele jeito, com o rosto brilhante como o sol, com as roupas brancas como a luz. É um momento forte.

Sim, é bom estar aí. Também para Jesus. Por isso sobe para um alto monte, onde sempre acontecem momentos importantes. Pois ele precisa também se alimentar de um momento importante, especial, sublime, como também nós precisamos.

O momento no alto do monte, da reza, da busca por energia para enfrentar a vida, é um momento do coração, não da razão. E o coração precisa desses momentos. Ah, como precisa!

Também é importante saber adorar esse Deus com toda a intensidade por um outro motivo: isso faz a gente se desprender da gente mesmo. Isso nos impede de adorar a nós mesmos.

Armar barraca para a glória

Mas Pedro, Tiago e João querem perpetuar esse momento, querem ficar só nele, querem esquecer a cruz. Por isso propõem a construção de uma barraca. A barraca seria a maneira de segurá-lo desse jeito, de garantir que ele não viesse de novo com aquela conversa da cruz. Ali, brilhando, reluzindo ao lado de Elias e Moisés, seria muito mais fácil assumi-lo.

Nós, muitas vezes, sentimos também essa tentação. Desenvolver uma fé descomprometida, apenas contemplativa, é também hoje armar barraca para a glória, é também hoje ignorar a passagem pela cruz. Imaginar Jesus eternamente ao lado de Elias e Moisés, conversando com eles, é não querer seguir o rumo da cruz.

É preciso saber levantar-se depois dos momentos de glória, depois dos momentos de se ajoelhar. Jesus faz isto também. Busca momentos de se reabastecer e vai à luta. Este ir à luta começa aí não aceitando a proposta de Pedro.

4. “Escutem o que ele diz!” (Mt 17.5c)

Aí o próprio Deus coloca a sua proposta. Deus leva a visão para a audição: “Escutem o que ele diz”. É preciso ouvir o que Jesus diz, porque “este é seu Filho querido, este lhe dá muita alegria” (Mt 17.5).

Ao ouvirem essa voz, os discípulos tremem na base. Sabem já o que isso significa. Já ouviram tanto ele dizendo, desafiando, convocando…

“Levantem-se e não tenham medo” (Mt 17.6b). É preciso levantar-se e viver o que ele diz. Para isso necessita-se de coragem, de energia, de fibra. Não é fácil ser seguidor de alguém que assume o sofrimento. Bem mais fácil seria seguir um Jesus que aceitasse a instalação de uma confortável barraca ao lado de Elias e Moisés, personagens gloriosos da história de Israel.

5. Jesus é mais brilhante do que Elias e Moisés

Jesus é o filho amado de Deus. Não Elias, nem Moisés. Só Jesus. Isto o deixa em destaque. Elias e Moisés lembram Deus revelando sua palavra. Mas Jesus é mais do que isso. Jesus é o verbo que se fez carne. Eles são importantes, sim. Estão aí, no alto do monte, conversando com Jesus. Mas Jesus é o filho amado que a gente precisa ouvir e seguir.

Depois da visão, Moisés e Elias desaparecem. Fica bem claro quem é que interessa dali para frente. A mensagem do evangelho passa a valer mais do que a lei e os profetas. Mas o importante é que Jesus faz essa ponte entre essas mensagens, todas com o seu devido valor, devidamente explicadas, vividas no decorrer do evangelho de Jesus.

Somem tradições e costumes. Fica Jesus.

Jesus aparecendo com o rosto brilhante e as roupas brancas como a luz quer ser a prova de que é o Messias tão esperado. Ele tem a ver com os anjos, ele tem a ver com Deus. É o seu filho amado, que lhe dá tanta alegria.

6. O momento do brilho entre as cruzes hoje

Como necessitamos de momentos de brilho também entre as nossas cruzes hoje! E é a vida comunitária, vivida com responsabilidade e intensidade, que dá isso para a gente. Precisamos poder também transfigurar comunitariamente, na base da história que a gente já viveu, na base de tudo o que a gente já aprendeu, na base da vida.

As nossas celebrações comunitárias deveriam ser esses momentos fortes de brilho e glória.

Deveriam iniciar com canções marcantes, que possam nos emocionar. Os nossos cultos precisam ser um preparo para a vida, um fortalecimento para a vida, porque a vida não é uma beleza o tempo todo. Penso que, no geral, a gente, como igreja de origem luterana e alemã, dá muita ênfase à razão em detrimento da emoção. Não é necessário explicar tudo em nossas celebrações. Não é preciso entender tudo. Mas é preciso sentir tudo, é preciso conseguir juntar as coisas que a gente sente com a vida do dia a dia, onde a gente sente muito.

7. “Não tenham medo! Levantem-se” (Mt 17.6b)

Mas não dá para ficar no momento do brilho. Isto é muito pouco. Não dá para perpetuar o momento da glória. Este Jesus glorioso também anuncia a cruz. Pois não dá para negar a cruz. Ela precisa ser assumida em todas as suas dimensões. É preciso que nos levantemos do êxtase e que não tenhamos medo.

Pedro quer se apoderar de Jesus, quer construir uma barraca para prendê-lo a esse momento de glória; ele merece uma indireta bonita de Deus: Ouçam o que Jesus diz! Isto é o que importa. Será que a gente não merece também uma indireta dessas? Eu penso que não, simplesmente porque em muitas de nossas comunidades nem há esse momento de brilho. Há celebrações frias, racionais, estáticas. Há muitas celebrações sem celebração alguma. Lastimável, mas é.

8. A celebração como um todo, liturgia e pregação

A celebração precisa ser bonita, precisa mexer com a emoção, como todas, aliás. Mas esta em especial deve lembrar-nos de que temos a necessidade também dos nossos momentos de brilho. Precisamos sentir a glória de Jesus inundando aquele momento todo especial na companhia da comunidade reunida. Penso que deveria ser pensado especialmente em detalhes brilhantes, talvez inclusive lembrando coisas do passado (Moisés e Elias), importantes para nós. Uma pessoa poderia ser vestida de uma maneira chamativa, talvez uma menina vestida de anjo com muito brilho. Assim, em época fora do Natal, chamaria bastante a atenção. Esse anjo poderia ser despido do brilho durante a pregação, restando nele roupas rústicas, que lembram trabalho, sofrimento, cruz, que lembram o trabalho do dia a dia. Ele poderia estar prostrado e ser convidado a se levantar e seguir o caminho. Poderia ser convidada uma pessoa da comunidade para estender a mão ao anjo agora despido de brilho. Essa poderia ser convidada a dirigir-lhe uma palavra de Jesus, já que Deus fala que é preciso ouvir o que este nos diz.

Quanto aos passos da pregação, penso que poderiam ser seguidos os mesmos desta minha meditação. Organizei esta de tal maneira que isso fosse possível.

Bibliografia

BATISTA, Severino. O Evangelho de Mateus em Versos Populares – A Palavra na Vida 146. CEBI, 2000.

MALSCHITZKY, Harald. Auxílio sobre Mt 17.1-9 – Proclamar Libertação Vol. XVIII, São Leopoldo: Sinodal, 1992.

MESTERS, Carlos; LOPES, Mercedes; OROFINO, Francisco. Travessia – Quero misericórdia e não sacrifícios– A Palavra na Vida 135/136, CEBI, 1999.

VASCONCELOS, Pedro Lima; RODRIGUES da Silva, Rafael. Feliz quem tem fome e sede de justiça, a Boa Notícia segundo a comunidade de Mateus – A Palavra na Vida 134, CEBI, 1999.


TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA



FIESTA DE LA TRANSFIGURACIÓN DEL SEÑOR

(en el domingo XVIII durante el año ciclo A)



Evangelio (Mt 17,1-9):


El relato de la transfiguración viene colocado en los tres sinópticos a continuación del primer anuncio de la pasión y de la exigencia de renuncia total para seguir a Jesús (cf. Mt 16,21-28). En Mateo esta vinculación se hace explícita con la referencia cronológica con que se inicia el relato: “Seis días después”. Esta indicación cronológica nos remite al primer anuncio de la pasión por parte de Jesús, cuyo final tendría en la transfiguración su cumplimiento. 

Relacionando, por tanto, la transfiguración con el primer anuncio de la pasión podemos decir que se hacía necesario que al menos algunos de sus discípulos (Pedro, Santiago y Juan, los considerados como columnas en Gal 2,9), tuvieran una experiencia que disipara el temor y la angustia generados por tal anuncio y, para ello, les concede una visión anticipada de la gloria prometida después de padecer.

En Mateo estos tres discípulos son los más cercanos a Jesús y aparecen junto a él en dos momentos claves: la transfiguración y el huerto de los Olivos (cf. Mt 26, 37). Por tanto estos tres discípulos están asociados a la agonía y a la gloria de Jesús. Esta asociación de los tres discípulos al misterio pascual es paradigmática para todos los discípulos de Jesús.

Jesús lleva a los discípulos a un monte alto. La presencia de Moisés y Elías más adelante nos permiten convalidar como trasfondo de la transfiguración lo sucedido en el monte Sinaí (Ex 19-34) u Horeb (Dt 5) donde Dios estableció su alianza con Israel y reveló su voluntad por medio de Moisés. Y tal vez más concretamente referirlo a la escena narrada en Ex 24 donde Moisés sube acompañado de tres hombres (Aarón, Nadad y Abihú) y allí la nube los envuelve y escuchan la voz de Dios. J. Ratzinger cita algunos estudiosos que ven como trasfondo de este relato la fiesta judía de las tiendas o chozas y su interpretación mesiánica en tiempos de Jesús. Sobre todo dicen que este trasfondo ayudaría a entender la expresión de Pedro: “La vivencia de la transfiguración durante la fiesta de las Tiendas hizo que Pedro reconociera en su éxtasis «que las realidades prefiguradas en los ritos de la fiesta se habían hecho realidad... La escena de la transfiguración indica la llegada del tiempo mesiánico». Al bajar del monte Pedro debe aprender a comprender de un modo nuevo que el tiempo mesiánico es, en primer lugar, el tiempo de la cruz y que la transfiguración —ser luz en virtud del Señor y con Él— comporta nuestro ser abrasados por la luz de la pasión.” . Por su parte, Mateo lo vincula también con el "monte alto" donde el demonio lleva a Jesús para someterlo a la tercera tentación (cf. Mt 4,8) y donde Jesús no acepta reconocer al demonio como Señor del mundo y mantiene oculta su divinidad, su ser Hijo de Dios. En cambio, en la transfiguración Jesús sí revelará a los suyos su divinidad para que superen la tentación del desaliento que provoca su ocultamiento y la cruz.


Una vez en el monte, Jesús se transfigura delante de los tres apóstoles. El término griego que utiliza el evangelio para describir la transfiguración (μεταμορφόω) supone una transformación o cambio de forma, imagen o figura. Referido a Cristo los Padres de la Iglesia lo han entendido como una manifestación de su Divinidad que hasta entonces permanecía oculta bajo el velo de su humanidad. Esta transformación viene expresada con dos efectos visibles externos: el rostro brillante como el sol y los vestidos blancos como la luz. Están imágenes luminosas recuerdan la forma de manifestarse la gloria de Dios en el Antiguo Testamento y también nos remiten a la figura gloriosa de Cristo resucitado. 

En la escena, junto a Jesús, aparecen Moisés y Elías, quienes representan a la Ley y los Profetas respectivamente y son dos hombres de oración que ayunaron durante 40 días y subieron al monte Sinaí para encontrarse cara a cara con Dios, para ver su rostro (Ex 33,8; 1Re 19,17). 

Ante esta escena Pedro reacciona con una auténtica exclamación: "Señor, que hermoso (kalós) es estarnos aquí". La transfiguración es un misterio de belleza divina, de esplendor de la verdad y del bien de Dios mismo. Pedro se siente "atrapado" por esta visión y quiere hacer tres carpas para quedarse allí. Según San Agustín, Pedro ha gustado el gozo de la contemplación y no quiere ya volver a las preocupaciones y fatigas de la vida cotidiana. Por eso quiere, en cierto modo, "eternizar" ese momento.

Mientras Pedro decía esto una nube luminosa, signo de la presencia de Dios y del Espíritu santo, los cubre con su sombra. Desde allí sale una voz: no hay dudas de que se trata de la voz del Padre. Para Mateo, a diferencia de los otros sinópticos, el centro del relato lo constituye la voz de Dios (v. 5) y, por tanto, lo más importante es la audición y no la visión del transfigurado. Y la Voz de Dios revela quién es Jesús, su Hijo amado y predilecto, y lo que sus discípulos tienen que hacer: escuchar a Jesús, es decir, obedecerle, seguirle. Es la misma voz del Padre que se escuchó al salir Jesús del Jordán luego de ser bautizado (cf. Mt 3,17). En ambos casos Dios acredita a Jesús como Hijo con la misma autoridad que Él tiene. Lo nuevo aquí es el mandato de escucharlo, por lo cual la Palabra del Hijo es la Palabra de Dios, de allí el imperativo que los discípulos tienen que seguir.

El efecto de esta voz sobre los discípulos – caen rostro en tierra y se llenan de miedo – confirma claramente que se trata de una manifestación de Dios, de una teofanía.

Luego, cuando el Señor les pide que se levanten y que no teman, ven a Jesús sólo, desaparecieron las otras voces de Dios, Moisés y Elías, la Ley y los Profetas; ahora tenemos la Palabra del Hijo como única expresión plena y definitiva de la voluntad del Padre.

El final del relato es muy importante, sobre todo para Mateo . Los discípulos son invitados por “Jesús solo” a levantarse y a no tener miedo. Sigue luego la referencia a la resurrección que le da a toda la narración el carácter de una gloria pascual anticipada, pero pasajera. Hay que bajar del monte y seguir el camino del abajamiento propio del hijo del hombre.


Algunas reflexiones:


Comencemos asumiendo que, según R. Cantalamessa, para entender lo que sucedió a Cristo en su transfiguración hay que hablar de éxtasis y de felicidad divina: "Jesús, aquel día, en su humanidad ¡entró en éxtasis! Esta es quizás la categoría menos inadecuada que poseemos para describir lo que entonces sucedió en Jesús […] Él estaba feliz. La Transfiguración es un misterio de felicidad divina. Todo el torrente de alegría que fluye entre el Padre y el Hijo, que es el mismo Espíritu Santo, en esa ocasión "desbordó" el jarrón de la humanidad de Cristo" .

Ahora bien, notemos que el verbo "transfigurarse", además de en las narraciones de la transfiguración, es utilizado dos veces por San Pablo aplicándolo a los cristianos:

Rom 12,2: "No tomen como modelo a este mundo. Por el contrario, transfórmense interiormente renovando su mentalidad, a fin de que puedan discernir cuál es la voluntad de Dios: lo que es bueno, lo que le agrada, lo perfecto".

2Cor 3,18: "Nosotros, en cambio, con el rostro descubierto, reflejamos, como en un espejo, la gloria del Señor, y somos transfigurados a su propia imagen con un esplendor cada vez más glorioso, por la acción del Señor, que es Espíritu."

Por tanto, la transfiguración, como todos los misterios de la vida de Cristo, no lo afectan sólo a Él sino también a los cristianos como parte de Su Cuerpo. Como decía san León Magno, la Providencia daba con este misterio: "un fundamento a la esperanza de la Iglesia, ya que todo el cuerpo de Cristo pudo conocer la transformación con que él también sería enriquecido, y todos sus miembros cobraron la esperanza de participar en el honor que había resplandecido en la cabeza" .  Ahora bien, aquí rescatamos lo que también nota R. Cantalamessa: "en la fiesta de la transfiguración, la Iglesia no sólo celebra la transfiguración de Cristo, sino también su propia transfiguración […] Mediante la contemplación podemos entrar, desde ahora, en el misterio de la Transfiguración, hacerlo nuestro, convertirnos en parte de él […] El hombre se convierte en aquello que contempla. Contemplando a Cristo nos hacemos semejantes a él, permitimos que su mundo, sus objetivos, sus sentimientos, se impriman en nosotros, sustituyan a nuestros pensamientos, objetivos y sentimientos, nos haga semejantes a él […] El Tabor ha sido la inauguración y sigue siendo la llamada más fuerte a esta contemplación de Cristo que transforma. Es, por excelencia, el misterio de la contemplación de Jesús" . 


En segundo lugar, señalemos que la transfiguración de Jesús tiene un valor pedagógico excepcional para nosotros como lo tuvo para los apóstoles: nos ayuda a entender que la pasión es un paso o camino hacia la gloria. La vida cristiana es un camino de fe. Debemos seguir a Cristo por el mismo camino por donde él transitó, que es el camino de la renuncia y de la cruz. No podemos amar la cruz por sí misma; ni podemos complacernos en morir a nosotros mismos mediante la mortificación. La entrega cuesta y duele, pero después viene el fruto maravilloso. La transfiguración nos recuerda a dónde nos conduce este camino: a ser transfigurados con Cristo, a participar de su Gloria. Al respecto, decía San León Magno :  "Sin duda esta transfiguración tenía sobre todo la finalidad de quitar del corazón de los apóstoles el escándalo de la cruz, a fin de que la humillación de la pasión voluntariamente aceptada no perturbara la fe de aquellos a quienes había sido revelada la excelencia de su dignidad escondida". Igualmente en el prefacio de la Misa de este día leeremos: "Él mismo, después de anunciar su muerte a los discípulos, les reveló el esplendor de su gloria en la montaña santa, para mostrar, con el testimonio de la Ley y los Profetas, que por la pasión debía llegar a la gloria de la resurrección".

Como discípulos, seguidores del Señor, tenemos que asimilar esta pedagogía de Dios en nuestra vida para responderle con una fidelidad activa. Dolores Aleixandre  nos lo explica muy bien: "El pasaje inmediatamente anterior a la transfiguración, el del anuncio de la pasión y la resistencia de Pedro, nos recuerda la imposibilidad de separar los aspectos luminosos de la existencia de los momentos oscuros, el dolor del gozo, la muerte de la resurrección. La contigüidad de las dos escenas parece comunicarnos la paradoja pascual: el inundado de luz es precisamente aquel que atravesó la noche de la muerte y el que accedió a la ganancia por el extraño camino de la pérdida […] Al igual que los discípulos, también nosotros necesitamos hacer de la experiencia de la proximidad del Dios consolador. Si nunca vivimos ese tipo de experiencias, podemos llegar a dudar de la existencia de la belleza y ver sólo los aspectos opacos de la realidad: la mediocridad que progresa, los cálculos egoístas que sustituyen la generosidad, la rutina repetitiva y vacía que ocupa el espacio de la alegría y la fidelidad. El relato de la transfiguración nos invita a evocar momentos de gracia en los que hemos vivido una experiencia de luz y nuestra vida apareció como transfigurada: el amor se convirtió en certidumbre, la fraternidad se hizo palpable y toda la realidad nos habló un lenguaje nuevo de esperanza y de sentido. Son fogonazos momentáneos que nos revelan el sentido del camino de fe emprendido".


A esto podemos sumarle la invitación del Padre: "escuchar a Jesús el Hijo amado". La Palabra definitiva de Dios ya no nos llega por la Ley y los Profetas (Moisés y Elías) sino mediante Jesucristo, el Hijo. Vivir en Alianza es vivir en la Escucha de su Palabra. Esta es la exigencia que supone el rechazo de tantas otras voces o solicitaciones que nos invaden. Al respecto, nos dice el Papa Francisco: “La ascensión de los discípulos al monte Tabor nos induce a reflexionar sobre la importancia de separarse de las cosas mundanas, para cumplir un camino hacia lo alto y contemplar a Jesús. Se trata de ponernos a la escucha atenta y orante del Cristo, el Hijo amado del Padre, buscando momentos de oración que permiten la acogida dócil y alegre de la Palabra de Dios. En esta ascensión espiritual, en esta separación de las cosas mundanas, estamos llamados a redescubrir el silencio pacificador y regenerador de la meditación del Evangelio, de la lectura de la Biblia, que conduce hacia una meta rica de belleza, de esplendor y de alegría. Y cuando nosotros nos ponemos así, con la Biblia en la mano, en silencio, comenzamos a escuchar esta belleza interior, esta alegría que genera la Palabra de Dios en nosotros” (ángelus del 6 de agosto de 2017). 

En fin, todo muy lindo allá arriba del monte Tabor, pero antes o después tenemos que estar dispuestos a bajar, a volver otra vez a lo mismo, a lo cotidiano. Pero nosotros ya no seremos los mismos pues tendremos nuestro corazón transformado y nuestra mirada iluminada por la Presencia del Señor para ponernos manos a la obra. Nos dice el Papa Francisco: “Transformados por la presencia de Cristo y del ardor de su palabra, seremos signo concreto del amor vivificante de Dios para todos nuestros hermanos, especialmente para quien sufre, para los que se encuentran en soledad y abandono, para los enfermos y para la multitud de hombres y de mujeres que, en distintas partes del mundo, son humillados por la injusticia, la prepotencia y la violencia” (ángelus del 6 de agosto de 2017).

Al respecto es muy interesante como San Agustín  completa su explicación de la frase dicha por Pedro con esta recomendación: "Desciende Pedro, deseabas descansar en el monte: desciende, predica la palabra de Dios, reprocha, exhorta, anima haciendo uso de toda tu paciencia y capacidad de enseñanza. Trabaja, cánsate mucho, acepta también el sufrimiento y suplicios. En el canto de la caridad se dice que ésta "no busca su propio interés". Cristo te reserva esta felicidad para después de la muerte, ¡oh Pedro! Ahora, sin embargo, Él mismo te dice: desciende a cansarte en la tierra, a servir en la tierra, a ser despreciado, a ser crucificado en la tierra".



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

Transfigurados


Es empinada la pendiente

Tiene piedras, espinas y alimañas

Cuesta subir sin caerse 

Y desmoronarse por la barranca


Aunque parezca inalcanzable

La cima lejana desafía al esfuerzo

Impulsa a perseverar, 

A renovar la fe y las ganas


Arriba todo será distinto

Habrá paz, silencio amoroso,

Una carpa que cobija de la noche

Y una inmensa calma


Siempre valdrá la pena intentarlo

Día tras día, al pie de la montaña

Bajar transfigurados, calladas las voces

Y llenos de confianza


Dios está junto a nosotros al pie

Sube también el monte

Nos llamó al diálogo amoroso

Nos invitó a su Casa


En su Palabra nos sumergimos

Y dejamos nuestras cargas

Baja con nosotros Señor

la misión nos aguarda. Amén