2º DOM. ADV. A

PREPARAI O CAMINHO DO SENHOR!

SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO ANO A

04/01/2022


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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


 1ª Leitura: Isaías 11,1-10

Salmo 71(72) - R- Nos seus dias a justiça florirá

2ª Leitura: Romanos 15,4-9

Evangelho Mateus 3,1-12

 

"Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judeia 2.Dizia ele: “Fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus.” 3.Este é aquele de quem falou o profeta Isaías, quando disse: Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas (Is 40,3). 4.João usava uma vesti­menta de pelos de camelo e um cinto de couro em volta dos rins. Alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. 5.Pessoas de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a circunvizinhança do Jordão vinham a ele. 6.Confessavam seus pecados e eram batizadas por ele nas águas do Jordão. 7.Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham ao seu batismo, disse-lhes: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera vindoura?* 8.Dai, pois, frutos de verdadeira penitência. 9.Não digais dentro de vós: Nós temos a Abraão por pai! Pois eu vos digo: Deus é poderoso para suscitar destas pedras filhos a Abraão. 10.O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo. 11.Eu vos batizo com água, em sinal de penitência, mas aquele que virá depois de mim é mais poderoso do que eu e nem sou digno de carregar seus calçados. Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. 12.Tem na mão a pá, limpará sua eira e reco­lherá o trigo ao celeiro. As palhas, porém, serão queimadas num fogo inextinguível”."


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP


Mt 3,1-12

A conversão a Deus não é um tema moderno ou na moda. Diante dos problemas da fome, dos refugiados, das guerras, da destruição da natureza, da inflação, as pessoas mobilizam as forças para as mudanças de vida. É uma conversão do homem para si mesmo. Mas a conversão a Deus não entra na pauta das mudanças necessárias de nossa vida. O cristão tem consciência de que deve contribuir para a solução dos problemas atuais, dando o melhor de si mesmo. Mas, em tudo isso, onde se encontra a conversão a Deus? Se o cristão perder o senso da conversão a Deus, privará o mundo de um dom divino.

Por isso a pregação de João Batista é tão atual. Converter-se a Deus significa: preparar os caminhos do Senhor, endireitar suas veredas; aterrar o vale; rebaixar toda montanha e colina; endireitar os caminhos tortuosos e aplainar os caminhos acidentados.

A pregação de João Batista no deserto é chamado à conversão a Deus. Trata-se de não se iludir com práticas religiosas puramente exteriores, mas de conversão do coração. Trata-se de renúncia de toda forma de orgulho e de obedecer a Deus. Trata-se de se encontrar com Cristo e mais concretamente de viver esse encontro na eucaristia. Participar da eucaristia significa fazer tornar-se pão para os outros, como Cristo o é para nós. significa dar a vida para fazer crescer o amor e a justiça, o sorriso e a esperança.



Advento: tempo para cuidar das raízes - Pe Adroaldo Palaoro


“O machado já está na raiz das árvores” (Mt3,10)

2º DomAdvento - Mt 3,1-12-AnoA-04-12-22

Sentimos indignação quando alguém corta uma árvore e deixa desnudo uma cepa do velho tronco com suas raízes ainda fundadas na terra. Estava já velha, dizem alguns. Era um perigo, comentam outros. Só ocupava lugar, exclamam mais alguns. Todos apresentam justificativas para eliminá-la e jogá-la abaixo. Todos têm razão quando se trata de eliminar o que é visto como inútil ou velho.

No entanto, quando acreditavam que o velho tronco estava condenado a desaparecer, se esqueceram que ainda não tinham arrancado suas raízes. Subitamente, quando menos esperavam, viram como novos rebentos brotavam no tronco velho. O tronco estava para ser cortado, mas as raízes ainda tinham vida. E enquanto há vida nas raízes, a vida é possível. “Do velho tronco de Jessé, brotará o rebento que é Jesus”. A vida é mais forte que a velhice; a vida é mais forte que o robusto tronco; a vida sempre triunfa sobre aquilo que consideramos inútil, estorvo ou perigo.

O problema que nos aflige hoje, talvez, não seja tanto referente aos troncos, mas um problema de raízes. Há demasiadas vidas sem raízes profundas; há demasiadas instituições carentes de raízes, que terminam sendo instituições vazias; há demasiadas vocações sem raízes profundas, que nascem de ideais mais emotivos que evangélicos; há demasiadas decisões sem raízes, porque são tomadas em um momento emocional, mas sem terra que as sustente; há demasiadas convicções ideológicas sem raízes...

Por isso são vidas que morrem facilmente; morrem com a facilidade com a qual morrem os sentimentos que as sustentavam. Suas raízes estão tão na superfície da terra que acabam morrendo antes que o tronco.

Cultivamos os ramos com muito esmero, mas nos esquecemos das raízes. Cultivamos muito o tronco, mas não alimentamos as raízes; cultivamos muito a aparência, mas não nos preocupamos em colocar água nas silenciosas raízes que não se veem.

Quando as raízes têm vida, pode ser que alguns ramos se sequem, mas ainda permanecem outros sufici-entes para embelezar a árvore. Quando as raízes têm vida, podemos encontrar dificuldades no caminho, mas a vida é mais forte que os obstáculos. Quando as raízes têm vida, podemos passar por momentos de prova, mas a vida que sobe pelo tronco é mais forte. Com frequência, passamos a maior parte do tempo regando os ramos enquanto as raízes morrem de sede.

O evangelho deste domingo nos revela que João Batista é o broto novo no velho tronco. No velho “tronco” de ontem (1º. Testamento), “vem a palavra de Deus sobre João, filho de Zacarias, no deserto”. João não é do AT. Tampouco do NT. Ele é a travessia, a ponte, o broto novo. Ele é o anúncio do novo que está prestes a brotar. O AT é um velho tronco que já não dá fruto, mas em suas raízes ainda perma-nece uma Vida que no NT será revitalizada.

Porque o que Deus semeou durante séculos são sementes de Vida. Desaparecerá o tronco, mas suas raízes ainda têm vida.

João é o novo rebento que anunciará a nova Árvore e a nova Vida. E ele mesmo começa por lançar água nas velhas raízes, anunciando a conversão do coração. Cultivar as raízes é fazer que, até os velhos troncos renunciem a morrer, mesmo que os cortemos, pois a vida das raízes encontrará novos brotos para continuar crescendo e vivendo. Serão vidas novas; serão troncos novos.

O tempo litúrgico do Advento se revela como um momento privilegiado que nos motiva a “descer” em direção às nossas raízes interiores, para ativá-las, cultivá-las e evangelizá-las. Nosso contexto social-político-religioso está saturado das “palhas” da aparência e da superficialidade, gerando o veneno do ódio, da intolerância e da violência contra quem “pensa-sente-ama” de maneira diferente. É preciso levar as águas vivas do evangelho às profundezas do coração.

Nesse sentido, Advento nos revela um componente de expansão, que alarga nosso ser, que nos dinamiza e nos eleva, ao mesmo tempo que é experiência radical daquilo que é mais humano em cada um. A partir das “raízes interiores” o Advento ilumina e dá sentido ao nosso modo de ser e viver; ao abarcar toda a vida, alcança também a nossa ação transformadora no mundo.

Espiritualidade do Advento é a força vital que sacode nosso mundo interior, alimenta nossas raízes e faz surgir novos brotos que se visibilizam na nossa maneira original e inspirada de ser e viver no mundo de hoje. Tal força regenerativa procede do Espírito Santo de Deus, que nutre e aquece nossa vida.

Compreendemos, então, que espiritualidade não tem a ver com práticas piedosas alienadas e autocentradas; é uma experiência que deve ter raízes no coração, precisa de interioridade. Se não tem interioridade, não tem sonhos nem criatividade. No interior de cada um existe uma riqueza acumulada que procura se expressar (sentimentos, atitudes e valores, crenças, motivações, intuições...). O nível profundo é o nível da Graça, da gratuidade, da abundância... onde a pessoa mergulha no silêncio à escuta de todo seu ser.

O Evangelho de Mateus nos apresenta João Batista clamando por conversão, “porque o reinado de Deus está próximo”.

João contempla a realidade de seu povo e sente o impacto da violência e exclusão que tanto o poder religioso como o civil impunham a todos. Sua mensagem se concentra neste grito: “Preparai o caminho do Senhor, endireitar suas veredas!” Também o Papa Francisco grita a mesma mensagem aos cristãos de hoje e nos lança uma pergunta: “Estamos decididos a percorrer os caminhos novos que a novidade de Deus nos apresenta ou nos entrincheiramos em estruturas caducas, que perderam a capacidade de resposta?”.

O Advento nos mobiliza a “descer” ao chão da vida para cultivar e cuidar do nosso ser essencial com o mesmo cuidado que tem o camponês quando trabalha a terra e a plantação. Apenas aquelas pessoas que se mantêm próximas ao chão, às raízes da vida, conseguem manter também esta postura totalmente radical, a “humilitas” que vem de húmus, o chão escuro, úmido e fértil da terra.

Somos Advento, ou seja, pessoas “radicais”, que vivem a partir das raízes.

“Radicalidade” significa, portanto, ser suportado, carregado e alimentado por uma raiz que está plantada fundo no chão. É como uma árvore que se apoia, se sustenta e se alimenta das suas raízes. Radical é aquele que vive perto da raiz, que se alimenta da raiz, que toma as coisas pela raiz, pelo fundamento.

O sentido que “radicalidade” transmite é esta proximidade do chão, este estar plantado no chão da vida ou estar enraizado na terra, na realidade. Quando dizemos que os homens e as mulheres do Advento costumam ser radicais, queremos mencionar, em primeiro lugar, esta proximidade da terra e do húmus, esse enraizamento profundo que alimenta a vida, que sustenta o tronco e a copa da árvore em todo e qualquer tempo, dando-lhes firmeza e consistência.

Para meditar na oração:

Sou pessoa de “raiz” ou me deixo determinar pela superficialidade, aparência? Posso dizer que minha vida está enraizada na pessoa de Jesus e na causa do Reino?

- João foi o oposto da sociedade de seu tempo; ou seja, não se encaixou comodamente à maneira de ser e de pensar de seus contemporâneos. Como eu me comporto no ambiente em que vivo? Há algo de anúncio-denúncia em minha maneira de ser e viver? Minha presença na realidade cotidiana é inspiradora? Faz a diferença?...


2ºDomAdvento - José Antonio Pagola


Pelos anos 27 ou 28 apareceu no deserto próximo do Jordão um profeta original e independente que provocou um forte impacto no povo judeu: as primeiras gerações cristãs viram-no sempre como o homem que preparou o caminho a Jesus.

Toda a sua mensagem se pode concentrar num grito: “Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!”. Depois de vinte séculos, o Papa Francisco grita-nos a mesma mensagem aos cristãos: abri caminhos a Deus, voltai a Jesus, acolhei o Evangelho.

Seu propósito é claro: «Procuremos ser uma Igreja que encontra caminhos novos». Não será fácil. Nos últimos anos vivemos paralisados pelo medo. O Papa não se surpreende: “A novidade dá-nos sempre um pouco de medo porque nos sentimos mais seguros se temos tudo sob controle, se somos nós os que construímos, programamos e planejamos a nossa vida». E faz-nos uma pergunta a que temos de responder: «Estamos decididos a percorrer os caminhos novos que a novidade de Deus nos apresenta ou nos entrincheiramos em estruturas caducas que perderam a capacidade de resposta?».

Alguns espaços da Igreja pedem ao Papa que efetive o mais pronto possível diferentes reformas que se consideram urgentes. No entanto, Francisco manifestou sua postura de forma clara:«Alguns esperam e pedem-me reformas na Igreja, e deve ocorrer”. “Mas antes é necessária uma alteração de atitudes”.

Parece-me admirável a clarividência evangélica do Papa. O prioritário não é assinar decretos reformistas. Previamente é necessário colocar as comunidades cristãs em estado de conversão e recuperar no interior da Igreja as atitudes evangélicas mais básicas. Só nesse clima será possível concretizar de forma eficaz e com espírito evangélico as reformas que a Igreja necessita com urgência.

O próprio Francisco indica-nos todos os dias as mudanças de atitude de que necessitamos. Assinalarei algumas de grande importância.

Colocar Jesus no centro da Igreja: «Uma Igreja que não leva a Jesus é uma Igreja morta».

Não viver numa Igreja fechada e autorreferencial: «Uma Igreja que se encerra no passado e atraiçoa a sua própria identidade».

Atuar sempre movido pela misericórdia de Deus para com todos seus filhos: não cultivar “um cristianismo restauracionista e legalista que quer tudo claro e seguro, e não encontra nada”.

Procurar uma Igreja pobre e dos pobres. Ancorar nossa vida na esperança, não “nas nossas regras, nos nossos comportamentos eclesiásticos, nos nossos clericalismos”.


MUDAR NOSSO CORAÇÃO - Marcel Domergue


João Batista nos conclama a que mudemos nosso coração e convertamo-nos à misericórdia, no serviço de acolher...

Somente assim podemos preparar os caminhos do Senhor.


Marcel Domergue

Tradução Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.


1ª leitura: “Ele não julgará pelas aparências, mas trará justiça para os humildes.” (Isaías 11,1-10)

Salmo: Sl 71(72) - R/ Nos seus dias, a justiça florirá.

2ª leitura: O Cristo salva todos os homens. (Romanos 15,4-9)

Evangelho: “Convertei-vos, porque o reino dos Céus está próximo.” (Mateus 3,1-12)


Com a vida pela frente

Quando a idade vai chegando (atenção, jovens: este comentário é também para vocês), costumamos falar em "ter a vida pelas costas".A esta constatação, podemos acrescentar que, se formos lúcidos, uma retrospectiva rápida sobre a nossa vida não nos despertaria nenhum desejo de festejar.Aliás, há momentos em que, olhando o passado, só vemos o que foi bom, e outros momentos em que só percebemos fracassos e insuficiências.


No fundo, não importa porque, qualquer que seja a nossa idade ou estado de saúde, a nossa vida não está para trás, no passado, mas, sim, diante de nós, à nossa frente. Estamos indo em direção à vida, no que nem sempre é fácil acreditar. Pois eis que estamos, aqui e agora, num ponto preciso da nossa existência.


O passado está inscrito em nosso corpo e em nosso espírito como se fossem camadas geológicas, mas ativas, para o melhor e para o pior. É grande a tentação de imaginar que o passado nos enclausura numa espécie de destino. Mas não é nada disso, pois, onde quer que estejamos, estamos sob o domínio de um apelo que nos vem dum outro lugar, dum "ainda não aí".

Estamos em processo de criação: estamos ainda “por vir”. Por isso, as três leituras deste domingo, cada uma a seu modo, nos colocam numa posição de espera, de expectativa, ou seja, de esperança (palavra tirada da segunda leitura, onde é dada como sinônimo de perseverança e coragem).A plenitude da vida está diante de nós, no final da nossa estrada.


O que estamos esperando?

A primeira leitura tem a resposta: “Um ramo sairá do tronco de Jessé, um rebento brotará de suas raízes.” O Novo Testamento vê esta promessa cumprida na pessoa de Jesus Cristo. Seria, portanto, o final desta espera? Não, porque a imagem do rebento, ou do broto, sugere um crescimento.

O nosso conhecimento de Cristo, como diz Paulo, por ora é imperfeito. E mais, há o crescimento deste corpo de Cristo que é nossa comunhão na unidade. E que, portanto, em certo sentido, é o crescimento do próprio Cristo, que só atingirá todo o seu porte na hora de “sua vinda, na glória”, o que para nós permanece um mistério.

Em 1 João 3,1-2, ficamos sabendo que o nosso próprio crescimento e o ATINGIR A PERFEIÇÃO DA NOSSA CRIAÇÃO coincidirá com a revelação do Cristo tal qual Ele é. Seremos então "participantes da natureza divina" (2 Pedro 1,4.) Quanto ao evangelho de hoje, que relata a pregação de João Batista, está todo ele voltado para "Aquele que vem".

Cuidemos, no entanto, de não situar a vinda de Cristo num futuro indeterminado: o "Ele virá" ganha permanentemente a forma do "Ele vem". As Escrituras dão testemunho deste duplo aspecto: o Reino de Deus é para o final dos tempos; e, no entanto, "está próximo", "já está aí, no meio de vós" (ou "entre vós", que incorpora o Reino de Deus ao amor).

Em nós, a esperança já é de fato a presença e a posse do que esperamos (numa tradução abrangente de Hebreus 11,1).


O fim do futuro

Aqui estamos, pois, começando sempre a viver uma história, na qual cada instante já vem carregado com a presença do futuro. E esta é uma presença ativa e criadora, uma vez que se trata da Presença divina. Se fôssemos condicionados somente por nosso passado, estaríamos -é preciso repetir- enclausurados na prisão do destino.

O nosso passado é de fato assumido e reconstruído ao se desenvolver a nossa aliança com Deus, aliança que faz gerar o novo, pois Deus é sempre novo. Pensemos numa criança, em seu nascimento: há todo um passado dentro dela, no DNA da sua herança. E, no entanto, ela é nova, imprevisível e única.

Ser filho de Abraão é uma boa herança, mas, por Deus ser livre, ou seja, detentor do poder de fazer surgir o novo (as crianças nascidas "destas pedras"), ser aliados d’Ele nos torna participantes da sua liberdade absoluta. Mas João Batista nos anuncia o final deste percurso e a hora do balanço.

Ele vê em perspectiva a vinda do Cristo, que veio já em Belém, mas que, agora, com a sua última vinda, está na vigília de nascer para o cumprimento da sua missão: proferir a palavra cortante que opera a triagem entre o bem e o mal, entre o que vale e o que nada vale.

Atemorizante? Não, pois somos todos portadores de palha e do bom grão: a triagem final libertará cada um de nós "do homem iníquo e fraudulento" (Salmo 43) que, em nós, que somos imagem de Deus, vive como uma parasita. Tudo virá à luz, mas tudo o que vem à luz, até mesmo as nossas trevas, se torna luz (Efésios 5,13 e Salmo 139,12).


CONVERSÃO PERMANENTE - Maria Cristina Giani"


"Toda nossa vida é um processo de conversão permanente, mas a sabedoria da Igreja nos oferece tempos especiais para que retomemos esperançosos nossa caminhada, o tempo de Advento é um deles”.


Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia: «Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo.» João foi anunciado pelo profeta Isaías, que disse: «Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!»

João usava roupa feita de pelos de camelo, e cinto de couro na cintura; comia gafanhotos e mel silvestre. Os moradores de Jerusalém, de toda a Judéia, e de todos os lugares em volta do rio Jordão, iam ao encontro de João. Confessavam os próprios pecados, e João os batizava no rio Jordão. Quando viu muitos fariseus e saduceus vindo para o batismo, João disse-lhes: «Raça de cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir da ira que vai chegar? Façam coisas que provem que vocês se converteram. Não pensem que basta dizer: ‘Abraão é nosso pai’.

Porque eu lhes digo: até destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão. O machado já está posto na raiz das árvores. E toda árvore que não der bom fruto, será cortada e jogada no fogo. Eu batizo vocês com água para a conversão. Mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. E eu não sou digno nem de tirar-lhe as sandálias. Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo. Ele terá na mão uma pá: vai limpar sua eira, e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele vai queimar no fogo que não se apaga.»


Neste segundo domingo de Advento a Igreja faz ecoar até os dias de hoje as palavras de João Batista: «Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo.»

Esta exortação está presente em toda a Bíblia, de modo particular na pregação dos profetas que continuamente convidam ao povo a “voltar para Deus”, para pedir-lhe perdão e mudar seu estilo de vida.

Converter-se, significa mudar de direção e dirigir-se novamente ao Senhor, na certeza de que Ele nos ama e o seu amor é sempre fiel. Para acolher a ternura de Deus que nos traz o menino Jesus no próximo Natal, precisamos aceitar hoje o convite à conversão que nos faz o Batista.

O passo seguinte neste processo de volta a Deus, é dar-se conta onde cada um/a de nós está, por quais caminhos está indo a nossa vida?

Respondamos estas perguntas desde o olhar misericordioso de Deus que “sabe ler no coração de cada pessoa incluindo o seu desejo mais profundo e que deve ter primazia sobre tudo” (Misericordia et Misera 1).

E continuando com as palavras da carta do Papa Francisco podemos afirmar que a Misericórdia ajuda a olhar para o futuro com esperança, prontos para recomeçar nossa vida, a partir de agora se quisermos, poderemos proceder no amor (Ef 5,2).

Estas últimas palavras da carta aos Efesios, “proceder no amor” é a exigência que o Batista coloca aos fariseus que o escutavam: “Façam coisas que provem que vocês se converteram”.

Ou seja a conversão não é mágica e não acontece da boca para fora, a mesma é um processo, um caminho marcado pela graça de Deus que se manifesta num estilo de vida pautado pelo amor, pela compaixão diante as necessidades de nossos irmãos e irmãs.

Por isso toda nossa vida é um processo de conversão permanente, mas a sabedoria da Igreja nos oferece tempos especiais para que retomemos esperançosos nossa caminhada, o tempo de Advento é um deles.

E tem sua lógica porque que nos precede no Amor, É a quem esperamos ansiosamente, nas palavras do Profeta: “Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo”.

Semelhante promessa requer de nós uma preparação amorosa, uma vida coerente, que anuncie desde já a beleza, a ternura e a força do Emmanuel, Deus conosco.

A continuação um trecho do texto de Cecilia Meireles, Primavera, pode ajudar a compreender desde outra linguagem o tempo de advento, tempo de conversão e esperança:

“A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores”.

Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judeia: “Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo”.  João foi anunciado pelo profeta Isaías, que disse: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!”. João usava roupa feita de pelos de camelo, e cinto de couro na cintura; comia gafanhotos e mel silvestre.

Os moradores de Jerusalém, de toda a Judeia, e de todos os lugares em volta do rio Jordão, iam ao encontro de João. Confessavam os próprios pecados, e João os batizava no rio Jordão. 

Quando viu muitos fariseus e saduceus vindo para o batismo, João disse-lhes: “Raça de cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir da ira que vai chegar? Façam coisas que provem que vocês se converteram. Não pensem que basta dizer: 'Abraão é nosso pai’. Porque eu lhes digo: até destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão. O machado já está posto na raiz das árvores. E toda árvore que não der bom fruto, será cortada e jogada no fogo. Eu batizo vocês com água para a conversão. Mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. E eu não sou digno nem de tirar-lhe as sandálias. Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo. Ele terá na mão uma pá: vai limpar sua eira, e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele vai queimar no fogo que não se apaga”.


Vozes que gritam - Ana Maria Casarotti.


No domingo anterior iniciamos o Advento, um tempo que nos convida a preparar-nos para a Vinda de Jesus no meio de nós. Neste domingo aprofundamos na vigilância e também na esperança.

Baseado na pregação de João Batista, hoje o Evangelho convida-nos à conversão: “Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo”.

João Batista, considerado o último dos profetas, geralmente é visto como quem faz a passagem entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Ele anuncia o Reino de Deus que está chegando e por isso é necessária a conversão para acolhê-lo.

Sua pregação é realizada no deserto como significado de que o Reino de Deus que está perto e que ele anuncia é diferente da religiosidade estabelecida e praticada pelo povo judeu. Ele está fora da cidade, no deserto, numa vida totalmente diferente das estruturas estabelecidas.

Ele convida à conversão – metanoia – que significa mudar a orientação de nossa vida e o caminho que devemos percorrer. É preciso realizar mudanças na nossa vida, nas nossas atitudes, nos nossos costumes para recebê-lo!

Se deixarmos que essas palavras mexam no fundo da nossa vida e nos perguntarmos: Qual é o melhor caminho para nós? Por onde devemos andar?

Em algumas oportunidades isto pode resultar em algo simples e até quase evidente. Mas há outros momentos em que as possibilidades são várias e é preciso escolher aquilo que favorece nossa preparação para receber o Reino de Deus.

É preciso discernir para reconhecer esse caminho de conversão pessoal que nos ajuda na caminhada que devemos realizar.

O discernimento de fundo "torna-se necessário diante das decisões individuais, das escolhas precisas a serem feitas, especialmente quando envolvem a forma a ser dada à nossa vida. Os nossos desejos mais profundos e persistentes, os nossos caminhos de busca da felicidade precisam, mais do que nunca, ser passadas pelo crivo”, comenta o monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose.(Cfr O discernimento espiritual. Artigo de Enzo Bianchi )

O profeta Isaías tinha falado de uma voz que grita no deserto: "Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!”. Quais são as vozes que gritam nas nossas margens, fora das cidades, das estruturas religiosas e sociais? Temos capacidade para escutá-las?

Talvez a primeira decisão sincera que devemos ter é despertar nossa sensibilidade e nos perguntarmos: Como vivemos as situações de morte e injustiça que temos ao nosso redor?

São palavras que nos questionam e nos convidam a uma sincera mudança de rumo; não ficarmos adormecidos ou somente escutando aquilo que desejamos, senão acordar nossos ouvidos interiores a tantas vozes que há ao nosso redor.

O Papa Francisco denuncia continuamente a situação de injustiça dos refugiados, os países que fecham suas fronteiras porque eles e elas os incomodam, as milhares de pessoas que ficam nas periferias das cidades, no "deserto", recebendo as migalhas que "caem de suas mesas".

Peçamos ao Senhor para que saibamos reconhecer qual é nosso caminho e despertar aos gritos de tantas vozes que clamam no deserto de nossas cidades. Façamos nossas as palavras do Papa Francisco no Centro Astalli em Roma: "Muitas vezes, não os recebemos – disse o Papa. Perdoem o fechamento e a indiferença de nossas sociedades que temem a mudança de vida e de mentalidade que sua presença exige. Tratados como um peso, um problema, um custo, vocês são, ao contrário, um dom. São o testemunho de como nosso Deus clemente e misericordioso sabe transformar o mal e a injustiça daqueles que sofrem em um bem para todos. Porque cada um de vocês pode ser uma ponte que une povos distantes, que torna possível o encontro entre culturas e religiões diferentes, um caminho para voltar a descobrir nossa humanidade comum”. (Texto completo: Papa Francisco: “Refugiados, perdoem o fechamento e a indiferença em nossas sociedades”)


Um mundo novo governado por um menino - (Mateus 3,1-12)

Thomas McGrath

1. O texto do Evangelho deste Domingo II do Advento (Mateus 3,1-12) apresenta algumas notas salientes: 

1) É notória a sintonia de João com Jesus, dado que ambos abrem o seu ministério, dizendo as mesmas palavras: «Convertei-vos, porque se fez próximo o Reino dos Céus» (Mateus 3,2; cf. Mateus 4,17);

 2) ambos colocam o seu ministério com referência a Isaías (Mateus 3,3; cf. Isaías 40,3; 4,14-15; 8,23-9,1); 

3) ambos abrem no deserto a sua missão, evocando o Êxodo do Egito, o novo Êxodo da Babilónia (Ezequiel 20,33-38) e o Êxodo do noivado de Deus com Israel (Oseias 2,16-23), mas também a febre messiânica que situava no deserto o princípio da renovação escatológica;

4) a indumentária de João Batista (Mateus 3,4) evoca a de Elias (2 Reis 1,8), com o qual é, de resto, identificado por Jesus (Mateus 11,14; 17,12-13).


2. Se é evocada a continuidade dos ministérios de João e de Jesus, não deixa também de ser bem acentuado o confronto entre os dois: 

1) vê-se bem que João Batista anuncia um Messias juiz, que traz na mão o machado e a pá de joeirar (3,10-12), enquanto que Jesus assumirá a figura de Servo do Senhor manso e humilde (12,17-21); 

2) o apelo à conversão que João faz não é dirigido aos pagãos, mas aos israelitas piedosos (3,7-10): portanto, face ao Messias juiz que vem aí, também os justos se devem converter; não é a raça de Abraão que conta, mas a fé; 

3) a conversão manifesta-se em fazer fruto, uma ideia recorrente em Mateus (cf. 7,16-20; 12,33; 13,8; 21,41 e 43; 25,40 e 45…); 

4) a conversão, aqui expressa pelo verbo metanoéô, não deve ser vista apenas pelo seu significado etimológico: mudar de mentalidade; seria uma maneira de ver muito intimista, mostraria o homem debruçado sobre si mesmo, sobre os seus pecados; ora, a raiz hebraica shûb, sobretudo depois de Jeremias (Isaías 31,6; 45,22; 55,7; Jeremias 3,7.10.14.22; 4,1; 8,5; 18,11; 24,7; 25,5; 26,3; 35,15; 36,7; 44,5; Lamentações 3,40; Ezequiel 13,22; 14,6; 18,23 e 30; 33,9 e 11; Oseias 11,5; 12,6; 14,1-2; Joel 2,12-13; Zacarias 1,3-4; Malaquias 3,7), não implica o dobrar-se do homem sobre si mesmo, mas o orientar-se para ALGUÉM, para Deus, com quem o ser humano cortou relações, distanciando-se e quebrando a aliança. Esta ideia de conversão como caminho de regresso a Deus estava muito disseminada no judaísmo primitivo, mas era desconhecida na religião grega; 

5) à vista de Jesus que vem no meio da multidão, como verdadeiro Servo do Senhor (3,13-14), que assume as faltas da multidão, João fica confuso; na verdade, esperava um Juiz, e não um Servo solidário com o povo no pecado (por isso, vem, no meio do povo, a este batismo de penitência); 

6) além disso, e contra todas as expectativas de João, Jesus não vem para batizar, mas para ser batizado (3,11.13-14); 7) o diálogo travado entre João Baptista e Jesus (3,14-15) é exclusivo de Mateus (nenhum outro Evangelho o descreve).

3. Faz-se notório o sonho de um Deus que desce ao nosso meio, não para nos condenar ou derrubar, mas para se tornar solidário conosco.

4. Isaías 11,1-10, que serve hoje de ressonância ao Evangelho, mostra muito mais o tom manso e suave do Servo do Senhor que Jesus incarna do que o martelo do Juiz que João Batista prenuncia. Isaías abre diante de nós um mundo novo, tenro e terno, que, visto desde este nosso mundo escuro e tantas vezes desumano, soa a sonho. Ei-lo desenhado nestes versos imensos: «Então o lobo habitará com o cordeiro, o leopardo deitar-se-á com o cabrito, o bezerro e o leãozinho andarão juntos, e um menino pequeno os conduzirá. A vaca e o urso pastarão juntos, juntas se deitarão as suas crias, o leão comerá feno com o boi, e a criança de peito brincará com a víbora» (Isaías 11,6-8).

5. Avista-se daqui o Menino de Belém. Uma paz a perder de vista, sem princípio e sem fim. Um mundo novo governado por um menino pequeno. Vê-se bem que este mundo belo e manso não se parece nada com o nosso, cheio de raivas e de ódios, invejas, mentiras, manhas, astúcias, violências e guerras. Nenhum menino poderia governar um mundo assim. E o problema que nos assalta não está no menino; está neste nosso mundo mentiroso, fraudulento e violento.

6. Contra este mundo empedernido e embrutecido embate a ternura do Menino de Belém. Entenda-se bem outra vez: não é o menino que está errado; somos nós que estamos completamente errados. É por isso que somos convidados à conversão.

7. O mundo novo e saboroso que emerge dos textos de hoje é também sublinhado por S. Paulo nas exortações que nos dirige na Carta endereçada aos Romanos 15,4-9. Como seria belo um mundo pautado por uma verdadeira fraternidade em que todos vivêssemos sob o impulso e o alento carinhoso e criador de Deus. Na verdade, todos respiramos o mesmo alento, que o texto grego diz com o belo termo composto homothymadón (Romanos 15,6), que junta homós [= mesma] e thymós [= alma], sendo que thymós deriva de thýô [= soprar]. E que mundo maravilhoso surgiria, rompendo a crosta do egoísmo e da dureza de coração, se «nos acolhêssemos uns aos outros, como Cristo nos acolheu a nós» (Romanos 15,7). Aí está então a comunidade humana irmanada e reunida, porque todos recebemos de Deus o mesmo alento, o mesmo sopro criador (Génesis 2,7), e com uma só boca (en henì stómati) e a uma só voz cantamos os louvores do nosso Deus (Romanos 15,6). Esta linguagem e esta harmonia enchem por inteiro a comunidade primitiva (Atos 1,14; 2,46; 5,12).

8. Também os versos sublimes do Salmo Real 72 cantam a mesma melodia de alegria que se insinua nas pregas do coração da inteira humanidade maravilhada com a presença de Rei tão carinhoso. Também aqui encontramos a hiperbólica «idade do ouro», o grão que cresce mesmo no cimo das colinas, e a felicidade dos pobres, que serão sempre os melhores «clientes» de Deus. Extraordinária condensação da esperança da nossa humanidade à deriv.


TEXTO EM ESPANHOL - Dom Damián Nannini, Argentina


SEGUNDO DOMINGO DE ADVIENTO CICLO "A"


CONVERTIRSE PARA PREPARAR EL ENCUENTRO CON EL SEÑOR QUE VIENE



Primera Lectura (Is 11,1-10):


En esta profecía se anuncia el nacimiento de un vástago del tronco de Jesé, quien fuera el padre de David. Se trata, por tanto, de un descendiente de David quien estará lleno del espíritu del Señor  y que sintetiza por sus atributos los grandes personajes del pasado: sabio como Salomón, fuerte como David y lleno de temor de Dios como Moisés. Para apreciarlo más como actualización de la promesa davídica es interesante compararlo con el testamento de David en 2 Sam 23,1-7. 

En Is 11,3-5 vemos cómo esta plenitud y estabilidad del espíritu en este "retoño del tronco de Jesé" desemboca en un gobierno justo. Este descendiente de David será un justo juez pues su juicio no se basará en la apariencia o en el comentario. Con esto se indica que su juicio será al modo del juicio de Dios, pues en el Antiguo Testamento se tiene la certeza de que Dios ve y conoce el corazón humano, no la apariencia, y que por esto su mirar es diverso al de los hombres .  Y este mirar profundo y verdadero de Dios es el fundamento de su justo juicio. Por tanto, la misión de este descendiente de David será establecer el juicio de Dios entre los hombres, por lo cual los débiles y los pobres serán defendidos de los violentos y malvados, que sufrirán su merecido castigo.

Por su parte Is 11,6-10 describe los efectos sociales y cósmicos de esta acción pues creará una situación de paz, será como una vuelta al paraíso, un mundo sin violencia donde hasta los animales podrán convivir pacíficamente entre sí (notemos los pares de animales: doméstico y salvaje) y con los hombres (al final menciona al niño). Allí, en la montaña santa, todos conocerán al Señor y las naciones se reunirán. Este poema es paralelo y complementario de Is 9,1-6 y desde allí se vincula con Is 7,10-17 que contiene la promesa del nacimiento del Enmanuel.

El profeta insiste en que la intervención futura de Dios en la historia se concentra en el nacimiento de un niño, de un descendiente de David. Pero este nuevo David poseerá una plenitud del espíritu del Señor y, por tanto, su presentación escatológica está muy acentuada y nos remite a su cumplimiento en la persona de Jesús. 



Segunda Lectura (Rom 15,4-9):


San Pablo les recuerda a los romanos que todo lo escrito en la Sagrada Escritura está dirigido a los cristianos de cada tiempo para su instrucción con el fin de que reciban de ella constancia y consolación y, de este modo, mantengan la esperanza. Aparecen entonces la constancia o perseverancia (en griego hupomoné: u`pomonh,) y la consolación (en griego paráklesis: παράκλησις) como causantes de la Esperanza (en griego élpis: ἐλπίς) dándole a la afirmación un discreto horizonte escatológico . Existe un cierto paralelismo formal entre la esperanza judía y la cristiana pues ambas miran al pasado y ambas esperan en el futuro. El recuerdo del pasado, presente a través de las Escrituras, es una constante invitación a esperar en el futuro la victoria final de Dios (cf. Ap 12,10-11; 15,2-4). 

A continuación, Pablo presenta estas virtudes como atributos divinos (“Dios de la paciencia y el consuelo”: θεὸς τῆς ὑπομονῆς καὶ τῆς παρακλήσεως) a quien le pide en favor de los Romanos la unidad y concordia para gloria de Dios.

Luego san Pablo pide a Dios les conceda tener, a ejemplo de Cristo Jesús, sentimientos de paz y unidad para con todos. Ya que Dios, en Cristo, nos ha recibido a todos, somos invitados a "recibirnos o aceptarnos unos a otros". Es decir, la recepción del don de Dios que es el mismo Cristo nos llevará a la aceptación fraterna de los demás y a glorificar a Dios por su misericordia. Para muchos estudiosos el principio propuesto en los versículos 7-9 es como un compendio de toda la carta a los Romanos. Lo cierto es que “la mutua aceptación, la mutua acogida, sería la característica, la ley fundamental, de toda convivencia cristiana. Así «se construye Iglesia»” . Es una invitación a imitar la acción concreta de Jesús por cuanto ha cumplido las promesas de Dios para con su pueblo, los judíos, "para confirmar la fidelidad de Dios"; y en el exceso de su misericordia ha dado sus dones también a los paganos con la intención de que toda la humanidad se una en la alabanza divina.



Evangelio (Mt 3,1-12):


El texto comienza sin muchos preámbulos presentando a Juan Bautista predicando en el desierto de Judea. Esta indicación geográfica – en el desierto – es importante porque cumple la profecía de Isaías que se cita a continuación. 

Luego de la presentación del Bautista, Mateo, siempre atento a las Escrituras, considera que en él se cumple la profecía de Isaías 40,3 acerca de la voz que grita en el desierto para que preparen el camino del Señor, que allanen los senderos. Aquí se define su misión de precursor en cumplimiento de las Escrituras. Pero notemos que Isaías se refiere al Señor Yavé, mientras Mateo al decir: “enderezad sus caminos”, se refiere a los caminos de Jesús. Por tanto, ha tomado un texto profético referido a Dios y se lo aplica a Jesús.

Luego se describen las vestiduras y la frugal comida del Bautista que demuestran su condición ascética y refuerzan su predicación del juicio. Pero como su vestimenta (“una túnica de pelos de camello y un cinturón de cuero” 3,4) coincide con la de Elías (cf. 2Re 1,8) y porque más adelante Mateo hace esta identificación de Juan Bautista con Elías (cf. Mt 17,10-13); se cumple también la profecía de Malaquías 3,23-24 según la cual, antes de la llegada del día del Señor, Dios enviaría al profeta Elías para reconciliar a los padres con los hijos.

En cuanto a su predicación, tiene dos partes. La primera señala el comienzo de la manifestación del Reino: “Conviértanse porque el Reino de Dios está cerca” (μετανοεῖτε· ἤγγικεν γὰρ ἡ βασιλεία τῶν οὐρανῶν). Es la misma expresión que aparecerá en boca de Jesús (4,17) y de los apóstoles (10,7) más adelante. Juan Bautista nos deja entonces a las puertas del Reino de Dios que Jesús hará presente y que ya está cerca. Ahora bien, por lo que sigue suponemos que Juan Bautista entendía esta venida del Reino como la última y definitiva manifestación de Dios, de la ira de Dios (3,7), identificándola con la parusía, con el juicio de Dios. Como bien nota A. Levoratti , el mensaje profético de Juan el Bautista surge del ambiente de la apocalíptica judía cuyo tema predominante es el anuncio del juicio final que pone fin al mundo presente y somete las fuerzas del mal a la soberanía de Dios.

La presencia y acción de Juan Bautista resulta eficaz por cuanto muchos y de varias partes acuden a él para ser bautizados confesando sus pecados. El anuncio de la llegada del Reino es una invitación al pueblo que sencillamente se prepara para recibirlo confesando los pecados.

Distinta es la actitud de los fariseos y saduceos y, por eso, Juan Bautista les dedica una segunda prédica que consiste en decirles que la verdadera pertenencia a la descendencia de Abrahám se manifiesta en vivir según la Ley; y que no alcanza con la pertenencia étnica a la descendencia del patriarca. Se anticipa así el choque con los fariseos que tendrá Jesús más adelante (la invectiva de 3,7 reaparecerá en 23,33). 

Para Juan Bautista el anuncio del Reino es anuncio del Juicio. Y el criterio de este juicio de Dios son las obras, los “frutos” que debe dar una sincera conversión.

Al final de su discurso (3,10-12), que incluye el anuncio del Mesías, Juan Bautista utiliza una simbología de corte apocalíptico que nos remite a la imagen del juez escatológico. Esta acentuación es una novedad de Mt (y de Lc) expresada claramente al señalar que “Él los bautizará con Espíritu Santo y con fuego” (3,11; cf. Lc 3,16) donde el fuego es un añadido en comparación con Mc 1,8. En Mateo la imagen del fuego está vinculada al juicio, más concretamente al castigo divino o fuego eterno o gehena. Por tanto, como dice U. Luz : "Con el juicio del Hijo del hombre empieza la predicación en el evangelio de Mateo y con ese mismo juicio concluirá (Mt 24). Fuego es la palabra central del primero y del último anuncio en el evangelio de Mateo (25,41). El futuro juicio aniquilador es una clave en la teología de Mateo; el que critica eso, critica el núcleo de la teología mateana". Pero debemos notar también que el obrar de Jesús no se conformará plenamente con esta expectativa mesiánica y esto pondrá en crisis al mismo Juan, tal como lo veremos el próximo domingo (cf. Mt 11,1-6).

En breve - y en el marco litúrgico del adviento - podemos ver que Juan Bautista anuncia la venida de tres realidades que exigen una respuesta por parte de los hombres.

Primero anuncia la venida del Reino de Dios, de su soberanía o señorío. Esto exige de parte de los hombres la conversión, cambio de mentalidad, arrepentimiento y confesión de los pecados.

Segundo les anuncia a los escribas y fariseos la venida de la ira de Dios, de su juicio. Y a ellos les reclama "frutos dignos de conversión". Por lo que sigue - y por el resto del evangelio - entendemos esta expresión como el reclamo a una conversión del corazón, interior, con obras hechas para agradar al Padre y no por apariencia u ostentación. Más aún, reconocimiento sincero del pecado y de la necesidad de la Gracia y del Perdón de Dios.

En tercer lugar, anuncia la venida del Mesías, de "aquel que viene detrás de mí… El los bautizará en el Espíritu Santo y en el fuego" (Mt 3,11). Por lo que sigue (Mt 3,12) y por lo que veremos el próximo domingo (Mt 11,2-6), parece claro que Juan Bautista esperaba que el Mesías fuera el juez definitivo de los hombres, o sea que venga a premiar a los justos y castigar a los pecadores. La imagen del fuego tendría esta connotación judicial propia del Antiguo Testamento. Pero será sorprendido, como San Pablo, por la infinita misericordia de Dios.



Orientaciones para la homilía: "convertirse".


La primera lectura del profeta Isaías busca, al igual que el domingo pasado, alimentar nuestra esperanza de un futuro mejor cuando el Señor haga nacer a su elegido para restablecer la paz paradisíaca. Un niño nacerá, un descendiente de David, y llevará a cabo el proyecto de paz, justicia y felicidad que Dios tiene para las naciones y que todos deseamos de corazón.

Las profecías del Antiguo Testamento son actuales para nosotros hoy pues la vida del cristiano está también siempre en transición hacia la plena realización. Como bien nota R. Cantalamessa : “La profecía de Isaías se ha confirmado; pero, en un plano superior, espiritual y universal. No a favor de un solo pueblo sino de todos los pueblos. A partir de Jesús, la paz, si no es una realidad de hecho y generalizada, es sin embargo al menos una «posibilidad» real ofrecida a todos «los hombres de buena voluntad» (Lucas 2,14). La de Jesús es una paz, que el mundo no puede dar, y por ello ni siquiera impedir […] Esta paz del corazón o interior es la única que puede favorecer también la otra paz, la exterior. Antes, al contrario, es hasta su condición y su raíz”.

San Pablo refuerza esta idea en la segunda lectura al afirmar que "todo lo que ha sido escrito en el pasado, ha sido escrito para nuestra instrucción, a fin de que por la constancia y el consuelo que dan las Escrituras, mantengamos la esperanza" (Rom 15,4). Y también nos presenta como fundamento de nuestra Esperanza la fidelidad de Dios quien en Cristo ha cumplido las promesas hechas a los antepasados. En efecto, "en esperanza fuimos salvados, dice san Pablo a los Romanos y también a nosotros (Rm 8,24). Según la fe cristiana, la «redención», la salvación, no es simplemente un dato de hecho. Se nos ofrece la salvación en el sentido de que se nos ha dado la esperanza, una esperanza fiable, gracias a la cual podemos afrontar nuestro presente: el presente, aunque sea un presente fatigoso, se puede vivir y aceptar si lleva hacia una meta, si podemos estar seguros de esta meta y si esta meta es tan grande que justifique el esfuerzo del camino" (Spe Salvi nº 1).

Por tanto, la primera y la segunda lectura nos invitan a mantener despierta la esperanza, a soñar con lo todo lo bueno que nos traerá la venida del Señor al final de los tiempos.

En cuanto al evangelio, mientras el domingo pasado orientaba la mirada creyente hacia el futuro, al Señor que viene al fin de los tiempos, ahora se vuelve al pasado, a la venida histórica de Jesús. Es que justamente esta primera venida del Señor es lo que nos permite esperar confiados su segunda y definitiva venida. Miramos hacia lo que ya pasó para saber cómo esperar en el presente lo que vendrá. 

El evangelio de este domingo comienza presentándonos a Juan Bautista quien es llamado “el precursor” por cuanto históricamente tuvo la misión de anunciar y de preparar la venida de Jesús. Por tanto, es lógico que sea también una de las figuras principales de la liturgia del Adviento y que nos ayude a prepararnos para la Navidad. En concreto se nos invita a escuchar la predicación del Bautista, quien anuncia la llegada del Reino de Dios e invita a prepararse con una sincera conversión. Como bien nota A. Nocent: "Esta voz que grita en el desierto resonará hasta el final de los tiempos. Siempre habrá que convertirse, el trabajo de la conversión no acaba nunca. No es suficiente el pertenecer a una raza cristiana, como no era suficiente tener por padre a Abraham. Hay que dar el fruto que pide la conversión. Esta conversión para el perdón de los pecados está íntimamente unida al bautismo, bautismo de Juan que lleva a la conversión y bautismo de Cristo que es bautismo de fuego y Espíritu Santo, bautismo que hace que renazcamos según Dios y que nos reúne en el pueblo de Dios" .

La conversión viene explicitada como "preparen el camino del Señor, allanen sus senderos". Ante la certeza de que el Señor viene a nuestro encuentro, lo primero era despertarse (el domingo pasado); ahora nos corresponde convertirse, preparar el camino, allanarlo, quitar los obstáculos para que nada impida su venida a nosotros. Y sabemos que, como insistía el evangelio del domingo pasado, nuestro estilo de vida puede ser un obstáculo. Y también podemos poner resistencia a su venida a nosotros al igual que los fariseos que se resistían a una sincera conversión y por eso Juan Bautista es tan duro con ellos. 

La conversión que nos pide este tiempo de Adviento consiste en un cambio existencial. Se nos invita a una revisión de nuestras actitudes ante lo presente y ante lo futuro y definitivo. Ante la posibilidad real del juicio de Dios, de lo definitivo, se nos invita a ordenar nuestra escala de valores, a distinguir entre lo esencial y lo secundario, entre lo importante y lo urgente. 

También en este segundo domingo todavía perduran los aspectos esperanzadores y amenazadores propios de la visión cristiana del futuro. Mientras el profeta Isaías sigue abriéndonos a la esperanza de un mundo mejor, Juan Bautista anuncia la venida del Mesías como juez escatológico para quien poco valen la raza, los títulos, rangos o cargos eclesiásticos, pues nos pedirá cuenta de nuestras obras, de "frutos dignos de conversión".

Si queremos bajar a lo más práctico y concreto: en primer lugar, el Señor nos pide conversión, arrepentimiento, confesión de los pecados. La gente sencilla lo entiende bien. El pecado no es un problema sin solución, pues existe la posibilidad del arrepentimiento y del perdón de Dios. El verdadero problema es la autosuficiencia e hipocresía de escribas y fariseos pues con esta actitud no preparan, sino que cierran el camino al Señor que viene. Como bien dice el P. Molinié : "el problema es el mismo para todos: el combate entre el orgullo y la humildad. Evidentemente, la vida nos lleva a afrontar otras muchas dificultades; pero desde el punto de vista de la salvación y de la santidad, no hay rigurosamente otras, pues Dios se encarga de todo y El hace cambiar lo que sucede (incluso los pecados) en bien de los que son humildes. Nada nos puede separar del amor de Cristo sino es el orgullo". 

Al respecto decía el Papa Francisco el 4 de diciembre de 2016: “Convertirnos cada día, un paso adelante cada día. Se trata de dejar los caminos, cómodos pero engañosos, de los ídolos de este mundo: el éxito a toda costa, el poder a costa de los más débiles, la sed de riquezas, el placer a cualquier precio. Y se trata de abrir el camino al Señor que viene: Él no nos quita nuestra libertad, sino que nos da la verdadera felicidad. Con el nacimiento de Jesús en Belén, es Dios mismo que viene a habitar en medio de nosotros para librarnos del egoísmo, del pecado y de la corrupción”.


En segundo lugar, notemos que la conversión en adviento es una invitación a revisar el uso de nuestro tiempo: para qué tenemos tiempo y para qué no tenemos nunca tiempo. ¿Tenemos tiempo para Dios? ¿Y para el prójimo, especialmente el necesitado? ¿Y para nosotros mismos, nuestra salud, nuestra vida interior, nuestros vínculos familiares? De hecho, en el juicio final daremos cuenta de lo que hicimos con nuestra vida, o con nuestro tiempo, que es lo mismo.

Ahora bien, esta conversión no queda reducida al ámbito individual, sino que debe extenderse al plano comunitario. Así San Pablo nos exhorta a aceptar a los demás, así como Cristo nos acepta a todos. La apertura solidaria al prójimo como hermano es causa y condición para recibir a Cristo que viene a nosotros.



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):




LA VOZ DEL DESIERTO


Desde un lugar desierto, en medio de tanto silencio,

Busco tu Voz, Señor.

Esos lugares áridos, andados senderos secos.

Mojado de tanto sudor te pido, 

Sopla Señor, sopla Señor tu Aliento.

 

Vienen muchos hacia mí, cansados y sedientos

- ¿Qué puedo hacer yo?, 

Nada es mío nada tengo.

Ayúdame Tú a discernir, a separar la paja del trigo

¡A distinguir lo verdadero!

 

Amenazan otras voces, asustan extraños ruidos

Tantos sonidos inciertos…

Solo una Voz oír deseo: ¡Espada de dos filos!

Talle en mí tu Figura

Y te haga Señor y Dueño. Amén.