2º PÁSCOA-A

2º DOMINGO DA PÁSCOA-ANO A

DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA

16/04/2023

LINK AUXILIAR:

AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Atos 2,42-47

Salmo Responsorial 117 (118) - R- Dai graças ao Senhor porque ele é bom! Eterna é a sua misericórdia!

2ª Leitura: Pedro 1,3-9

Evangelho: João 20,19-31

Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: “A paz esteja convosco”. 20 Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor. 21 Jesus disse, de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio”. 22 Então, soprou sobre eles e falou: “Recebei o Espírito Santo. 23 A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão retidos”. 24 Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25 Os outros discípulos contaram-lhe: “Nós vimos o Senhor!” Mas Tomé disse: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei”. 26 Oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. 27 Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!” 28 Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” 29Jesus lhe disse: “Creste porque me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!” 30 Jesus fez diante dos discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. 31 Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.  


DOM JULIO ENDI AKAMINE - Arcebispo Metropolitano de Sorocaba


Meu irmão, minha irmã!  

Jo 20,19-31

Tomé estava ausente quando Jesus apareceu ressuscitado aos discípulos. Logo que viram Tomé chegar, eles comunicaram a Tomé o que tinha acontecido. “Vimos o Senhor!” Os discípulos, porém, recebem a ducha fria da incredulidade de Tomé. Como acreditar nesse absurdo? Jesus cheio de vida? Eles todos tinham visto Jesus morto na cruz e sepultado. O que eles viram devia ter sido uma outra pessoa parecida.

Os discípulos retrucam que era o próprio Jesus. Tinham visto as marcas dos pregos e o lado aberto de Jesus. Não era um outro parecido, era o próprio Jesus! Diante desse testemunho, Tomé exige ele mesmo ver também as marcas da paixão e da crucifixão. Em relação à ressurreição de Jesus, Tomé só aceita acreditar na própria experiência.

Oito dias depois, Jesus se apresenta de novo aos discípulos. Ele se dirige diretamente a Tomé. Não critica sua posição de incredulidade. Para Jesus, as dúvidas de Tomé não têm nada de ilegítimo ou de escandaloso. Sua resistência em crer revela sua honestidade. Jesus o entende e vem a seu encontro para lhe mostrar as feridas.


As feridas mais do que provas para verificar a verdade da ressurreição são os sinais do amor de Jesus que amou até o fim. Por isso, Jesus convida Tomé a tocar suas feridas. 

Não sabemos se Tomé tenha tocado as feridas de Jesus. Ele, porém, não necessita mais de provas, pois agora experimenta a presença do mestre que o ama. Tomé que tinha feito o caminho mais longo para chegar à fé no ressuscitado, foi também aquele que atingiu a maior profundidade na fé: Meu Senhor e meu Deus! Ninguém fez uma confissão como esta.

Não devemos nos assustar se encontramos dificuldades em nossa própria fé. Essas dificuldades podem nos resgatar de uma fé superficial que se contenta em repetir fórmulas, sem crescer em confiança e amor. As dificuldades podem nos levar a um amadurecimento na fé.


João 20,19-31: A missão da comunidade - Carlos Mesters, Francisco Orofino, Mercedes Lopes

Situando

Na conclusão do capítulo 20 (Jo 20,30-31), o autor diz que Jesus fez “muitos outros sinais que não estão neste livro. Estes, porém, foram escritos (a saber os sete sinais relatados nos capítulos 2 a 11) para que vocês possam crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, acreditando, ter a vida no nome dele” (Jo 20,31). Isso significa que, inicialmente, esta conclusão era o final do Livro dos Sinais. Mais tarde, foi acrescentado o Livro da Glorificação que descreve a hora de Jesus, a sua morte e ressurreição. Assim, o que era o final do Livro dos Sinais passou a ser conclusão também do Livro da Glorificação.

Comentando

1. João 20,19-20: A experiência da ressurreição

Jesus se faz presente na comunidade. As portas fechadas não podem impedir que ele esteja no meio dos que nele acreditam. Até hoje é assim. Quando estamos reunidos, mesmo com todas as portas fechadas, Jesus está no meio de nós. E até hoje, a primeira palavra de Jesus é e será sempre: “A paz esteja com vocês!” Ele mostrou os sinais da paixão nas mãos e no lado. O ressuscitado é o crucificado. O Jesus que está conosco na comunidade não é um Jesus glorioso que não tem mais nada em comum com nossa vida. Mas é o mesmo Jesus que viveu nesta terra, e traz as marcas da sua paixão. As marcas da paixão estão hoje no sofrimento do povo, na fome, nas marcas de tortura, de injustiça. É nas pessoas que reagem, lutam pela vida e não se deixam abater que Jesus ressuscita e se faz presente no meio de nós.

2. João 20,21: O envio: “Como o Pai me enviou, eu envio vocês!”

É deste Jesus, ao mesmo tempo crucificado e ressuscitado, que recebemos a missão, a mesma que ele recebeu do Pai. E ele repete: “A paz esteja com vocês!” Esta dupla repetição acentua a importância da paz. Construir a paz faz parte da missão. Paz significa muito mais do que só ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo todas o necessário para viver, convivendo felizes e em paz. Esta foi a missão de Jesus, e é também a nossa missão. Numa palavra, é criar comunidade a exemplo da comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

3. João 20,22: Jesus comunica o dom do Espírito Santo

Jesus soprou e disse: “Recebei o Espírito Santo.” É só mesmo com a ajuda do Espírito de Jesus que seremos capazes de realizar a missão que ele nos dá. Para as comunidades do Discípulo Amado, Páscoa (ressurreição) e Pentecostes (efusão do Espírito) são a mesma coisa. Tudo acontece no mesmo momento. Sobre a ação do Espírito, veja o Alargando do 5º Círculo.

4. João 20,23: Jesus comunica o poder de perdoar os pecados

O ponto central da missão de paz está na reconciliação, na tentativa de superar as barreiras que nos separam: “Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados e aqueles a quem retiverem serão retidos!” Este poder de reconciliar e de perdoar é dado à comunidade (Jo 20,23; Mt 18,18). No Evangelho de Mateus, é dado também a Pedro (Mt 16,19). Aqui se percebe a enorme responsabilidade da comunidade. O texto deixa claro que uma comunidade sem perdão nem reconciliação já não é comunidade cristã.

5. João 20,24-25: A dúvida de Tomé

Tomé, um dos doze, não estava presente. E ele não crê no testemunho dos outros. Tomé é exigente: quer colocar o dedo nas feridas da mão e do pé de Jesus. Quer ver para poder crer. Não é que ele queria ver milagre para poder crer. Não! Tomé queria ver os sinais nas mãos e no lado. Ele não crê num Jesus glorioso, desligado do Jesus bem humano que sofreu na cruz. Sinal de que havia pessoas que não aceitavam a encarnação (2Jo 7; 1Jo 4,2-3; 2,22). A dúvida de Tomé também deixa transparecer como era difícil crer na ressurreição.


6. João 20,26-29: Felizes os que não viram e creram

O texto começa dizendo: “Uma semana depois”. Tomé foi capaz de sustentar sua opinião durante uma semana inteira. Cabeçudo mesmo! Graças a Deus, para nós! Novamente, durante a reunião da comunidade, eles têm uma experiência profunda da presença de Jesus ressuscitado no meio deles. E novamente recebem a missão de paz: “A paz esteja com vocês!” O que chama a atenção é a bondade de Jesus. Ele não critica nem xinga a incredulidade de Tomé, mas aceita o desafio e diz: “Tomé, venha cá colocar seu dedo nas feridas!”. Jesus confirma a convicção de Tomé, que era a convicção de fé das comunidades do Discípulo Amado, a saber: o ressuscitado glorioso é o crucificado torturado. É neste Cristo que Tomé acredita, e nós também. Com ele digamos: “Meu Senhor e meu Deus!” Esta entrega de Tomé é a atitude ideal da fé. E Jesus completa com a mensagem final: “Você acreditou porque viu. Felizes os que não viram e no entanto creram!” Com esta frase, Jesus declara felizes a todos nós que estamos nesta condição: sem termos visto acreditamos que o Jesus que está no nosso meio é o mesmo que morreu crucificado!

7. João 20,30-31: Objetivo do Evangelho: levar a crer para ter vida

Assim termina o Evangelho, lembrando que a preocupação maior de João é a Vida. É o que Jesus diz: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).


Alargando – SHALOM: a construção da paz

O primeiro encontro entre Jesus ressuscitado e seus discípulos é marcado pela saudação feita por ele: “A paz esteja com vocês!” Por duas vezes Jesus deseja a paz a seus amigos. Esta saudação é muito comum entre os judeus e na Bíblia. Ela aparece quando surge um mensageiro da parte de Deus (Jz 6,23; Tb 12,17). Logo em seguida, Jesus os envia em missão, soprando sobre eles o Espírito. Paz, Missão e Espírito! Os três estão juntos. Afinal, construir a paz é a missão dos discípulos e das discípulas de Jesus (Mt 10,13; Lc 10,5). O Reino de Deus, pregado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidades animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz (Lc 1,79; 2,14). O Evangelho de João mostra que esta paz, para ser verdadeira, deve ser a paz trazida por Jesus (Jo 14,27). Uma paz diferente da paz construída pelo Império Romano.

Paz na Bíblia (em hebraico é shalom) é uma palavra muito rica, significando uma série de atitudes e desejos do ser humano. Paz significa integridade da pessoa diante de Deus e dos outros. Significa também uma vida plena, feliz, abundante (Jo 10,10). A paz é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um “Deus da paz” (Jz 6, 24; Rm 15,33). Por isso mesmo, a proposta de paz trazida por Jesus também é sinal de “espada” (Mt 10,34), ou seja, de perseguições para as comunidades. O próprio Jesus faz este alerta sobre as tribulações promovidas pelo Império tentando matar a paz de Deus (Jo 16,33). É preciso confiar, lutar, trabalhar, perseverar no Espírito para que um dia a paz de Deus triunfe. Neste dia, “amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam” (Sl 85,11). Então, como ensina Paulo, “o Reino será justiça, paz e alegria como fruto do Espírito Santo” (Rm 14,17), e “Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28).


Alegria e paz- José Antonio Pagola


Não foi fácil para os discípulos expressar o que estavam vivendo. Procuraram recorrer a todo o tipo de recursos narrativos. O núcleo, no entanto, é sempre o mesmo: Jesus vive e está de novo com eles. Isto é o decisivo. Recuperam Jesus cheio de vida.

Os discípulos encontram-se com O que os chamou e a quem abandonaram. As mulheres abraçam a quem defendeu sua dignidade e as recebeu como amigas. Pedro chora ao vê-Lo: já não sabe se O quer mais do que os outros, apenas sabe que o ama. Maria de Magdala abre seu coração para quem a seduziu para sempre. Os pobres, as prostitutas e os indesejáveis sentem-no de novo próximo, como naquelas inesquecíveis refeições com Ele.

Já não será como na Galileia. Terão que aprender a viver da fé. Deverão encher-se do seu Espírito. Terão que recordar suas palavras e atualizar seus gestos. Mas Jesus, o Senhor, está com eles, cheio de vida para sempre.

Todos experimentam o mesmo: uma paz profunda e uma alegria incontida. As fontes evangélicas, tão sóbrias sempre para falar de sentimentos, sublinham uma e outra vez: o Ressuscitado desperta neles alegria e paz. É tão central, esta experiência, que se pode dizer, sem exagero, que desta paz e desta alegria nasceu a força evangelizadora dos seguidores de Jesus.

Onde está hoje essa alegria numa igreja às vezes tão cansada, tão séria, tão pouco dada ao sorriso, com tão pouco humor e humildade para reconhecer sem problemas os seus erros e limitações? Onde está essa paz numa igreja tão cheia de medos, tão obcecada pelos seus próprios problemas, procurando tantas vezes a sua própria defesa, antes da felicidade do povo?

Até quando poderemos continuar a defender nossas doutrinas de maneira tão monótona e aborrecida, se, ao mesmo tempo, não experimentamos a alegria de «viver em Cristo»? A quem atrairá nossa fé se às vezes não podemos nem aparentar que vivemos dela?

E, se não vivermos do Ressuscitado, quem vai encher nossos corações? Onde se vai alimentar nossa alegria? E, se falta a alegria que brota Dele, quem vai comunicar algo «novo e bom» aos que duvidam? Quem vai ensinar a acreditar com mais vida? Quem vai contagiar com esperança os que sofrem?


A paz esteja com vocês- Ana Maria Casarotti


Neste domingo, finaliza-se a Oitava de Páscoa, em que por oito dias se prolonga a celebração da Ressurreição. Durante esta semana se leem as narrativas escritas nos evangelhos que relatam as aparições de Jesus Ressuscitado. Nelas descrevem-se as diferentes atitudes e situações dos discípulos e discípulas depois da morte de Jesus e antes de reconhecer pessoal ou grupalmente que Jesus está vivo, que ele está Ressuscitado!

Neles há desconfiança, dúvidas, incertezas, frustração, dor pela perda do seu mestre, medo aos romanos que o tinham matado. Lembremos que eles ainda permaneciam em Jerusalém e para os residentes desta cidade as pessoas nascidas na Galileia não tinham importância, eram pouco reconhecidas, pessoas sem muita cultura, simples pescadores. Possivelmente também abrigassem alguma “esperança duvidosa”: teria ressuscitado o Senhor ou era loucura de Maria Madalena?

A Ressurreição não é uma evidência que se impõe! As aparições do Ressuscitado vão encarnando-se no coração e na vida das comunidades progressivamente.

A narrativa que lemos hoje começa com uma frase bastante significativa que nos situa numa nova realidade: “Era o primeiro dia da semana”. Significa o início de uma nova etapa para a comunidade cristã: é o dia da Ressurreição. Jesus Ressuscitou! Sua vida e suas palavras têm um novo sentido diante desta realidade. Sua morte não foi em vão. A vida e esperança ressuscitam no coração de cada um e cada uma dos que o seguiram e deixaram tudo diante do seu convite.

A Ressurreição sinala o início de uma nova etapa na vida da comunidade que está reunida, como narra o Evangelho. Mas esse grupo de discípulos está reunido “ao anoitecer”, com as portas fechadas “por medo das autoridades dos judeus”, e ali “Jesus entrou, ficou no meio deles e disse: ‘A paz esteja com vocês’”.

Destaca-se o momento em que acontece esta realidade, “ao anoitecer”, ou seja, na obscuridade. Em vários momentos Deus disse para uma pessoa ou para seu povo em geral, “não tenha medo”. Muitas vezes ainda acrescenta “não seja covarde”. No evangelho de Mateus, narra-se que “O Anjo do Senhor disse para José ‘não tenha medo de receber Maria como esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo’”. Assim acontece no Evangelho de Lucas quando o anjo se dirige a Zacarias, a Maria e tantas outras pessoas em diferentes situações, dizendo-lhes “não tenham medo”. Jesus também utiliza essa expressão em várias situações.

Destacamos algumas que descrevem diferentes realidades: quando Pedro e seus companheiros apanham tanta quantidade de peixes que as redes se arrebentam, precisam da ajuda dos outros companheiros e “o espanto tinha tomado conta deles”. Jesus disse-lhes “não tenham medo" e chama-os a segui-lo. Jesus disse para Jairo, que vai ao seu encontro à procura de ajuda, “não tenha medo, apenas tenha fé”, também a seu rebanho: "Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai tem o prazer de dar-lhes a vocês o Reino”.

No discurso de despedida do Evangelho de João, Jesus promete sua paz, uma paz nova e diferente daquela que oferece o mundo porque é Sua paz e a relaciona imediatamente com as palavras: “Não fiquem perturbados, nem tenham medo” (Jo 14,28). É uma paz que só Jesus pode dar.

Voltando ao nosso texto, vemos que estamos diante de um grupo que está na obscuridade e se sente desamparado, temerário e ainda cercado por um ambiente hostil. Isso nos leva a perguntar-nos: “fechamos as portas da nossa vida e atitudes para alguma realidade, pessoa ou grupo determinado?” Como atuamos diante de determinadas situações que possivelmente gerem incertezas, inquietação, dúvidas, deixando, como consequência, falta de coragem e fraqueza?

Mas o Amor de Jesus inunda: Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos ficaram contentes por ver o Senhor. Jesus se apresenta no meio da comunidade, ele é o centro da nova comunidade. Sem sua Presença é simplesmente um grupo de pessoas que está ao anoitecer, com medo, de portas fechadas! Jesus aparece no meio deles porque ele é o ponto de referência, o centro da vida da comunidade, é a fonte de água onde todos procuraram saciar sua sede!

E para que os discípulos não tivessem nenhuma dúvida de que aquele que aparece em seu meio era o mesmo que tinha sido crucificado, ou seja, seu Mestre, lhes mostra as mãos e o lado.

Como disse o Papa Francisco na sua mensagem de Páscoa: “A Ressurreição de Cristo é princípio de vida nova para todo o homem e toda a mulher, porque a verdadeira renovação parte sempre do coração, da consciência. Mas a Páscoa é também o início do mundo novo, libertado da escravidão do pecado e da morte: o mundo finalmente aberto ao Reino de Deus, Reino de amor, paz e fraternidade”. Mensagem do Papa Francisco no Domingo de Páscoa

O primeiro fruto do encontro do Ressuscitado com a comunidade, que Ele mesmo tinha formado nesses anos de caminho pela Galileia, é a alegria. Não é uma alegria passageira como a que encontramos hoje, mas uma alegria cálida e pacífica. Em que momentos de nossa vida pessoal ou comunitária vivemos essa alegria?

Jesus continua dizendo: “‘A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.’ Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: ‘Recebam o Espírito Santo. Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados.’”

Essas palavras e ação do Ressuscitado nos revelam que está acontecendo uma nova criação. O mesmo Espírito que Deus soprou na criação do ser humano para que este fosse um ser vivente, é o Espírito que Jesus sopra sobre seus discípulos, capacitando-os, assim, para serem os seguidores de sua missão.

No dia da Ressurreição nasce uma nova comunidade que, com a Presença de Jesus Ressuscitado, recebe o poder de servir a todos e todas para que o amor generoso e gratuito do Pai continue libertando e gerando vida nova neste mundo.

Mas a comunidade não estava completa porque faltava Tomé, que se recusa a acreditar no que seus amigos lhe falavam sobre a ressurreição de Jesus: «Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei» (Jo 20,25).

Ele precisa ver e tocar os sinais da paixão. A figura de Tomé e suas dúvidas acontecem na nossa vida em várias ocasiões. Podemos perguntar-nos: temos fé naquilo que narram nossos amigos e amigas? Acreditamos nas suas palavras, ou precisamos ter nossa experiência pessoal e individual?

O evangelho nos relata que uma semana depois, estando todos reunidos, inclusive Tomé, o Senhor volta a se fazer presente no meio deles, comunicando-lhes novamente sua paz. Jesus se dirige com amor a Tomé e o convida a tocar suas mãos e seu lado, exortando-o a ter uma fé madura, baseada no testemunho da comunidade, não em fatos ou sinais extraordinários.

Diante disso Tomé responde com uma das mais bonitas confissões de fé: «Meu Senhor e meu Deus!». Reconhece em Jesus Ressuscitado que leva as marcas da crucifixão, o servo de Deus que foi por ele glorificado!

Recebemos assim a única bem-aventurança narrada no evangelho de João: «Felizes os que acreditaram sem ter visto.» Nestas palavras cada um/a de nós somos convidados a acreditar na palavra que nos é transmitida pela Igreja e desta forma conseguiremos ver sua presença no meio de nós!

Somos convidados como Tomé a crer em Jesus Ressuscitado, presente em cada ser humano que está neste mundo, levando as chagas da cruz.

Seguindo as palavras do papa Francisco, peçamos ao Senhor Ressuscitado que: “Perante os inúmeros sofrimentos do nosso tempo, o Senhor da vida não nos encontre frios e indiferentes. Faça de nós construtores de pontes, não de muros. Ele, que nos dá a paz, faça cessar o fragor das armas, tanto nos contextos de guerra como nas nossas cidades, e inspire os líderes das nações a trabalhar para acabar com a corrida aos armamentos e com a difusão preocupante das armas, de modo especial nos países mais avançados economicamente. O Ressuscitado, que escancarou as portas do sepulcro, abra os nossos corações às necessidades dos indigentes, indefesos, pobres, desempregados, marginalizados, de quem bate à nossa porta à procura de pão, dum abrigo e do reconhecimento da sua dignidade.

Queridos irmãos e irmãs, Cristo vive! Ele é esperança e juventude para cada um de nós e para o mundo inteiro. Deixemo-nos renovar por Ele!”

Oração

Por meio deste poema, peçamos a Jesus que nos dê sua paz para que possamos continuar sua missão.

Dá-nos, Senhor aquela Paz inquieta que denuncia

a Paz dos cemitérios e a Paz dos lucros fartos.

Dá-nos a Paz que luta pela Paz!

A Paz que nos sacode com a urgência do Reino.

A Paz que nos invade, com o vento do Espírito,

a rotina e o medo, o sossego das praias e a oração

de refúgio.

A Paz das armas rotas na derrota das armas.

A Paz da fome de Justiça,

a paz da Liberdade conquistada,

a Paz que se faz “nossa” sem cercas nem fronteiras,

Que tanto é “Shalom” como “Salam”, perdão, retorno, abraço...

Dá-nos a tua Paz, essa Paz marginal que soletra

Em Belém e agoniza na Cruz e triunfa na Páscoa.

Dá-nos, Senhor, aquela Paz inquieta,

que não nos deixa em paz!

Pedro Casaldáliga


Ressurreição: alegria com cicatrizes- Pe. Adroaldo Palaoro


“...e mostrou-lhes as mãos e o lado; então os discípulos se alegraram por verem o Senhor” (Jo 20,20)


Este 2º. Domingo de Páscoa revela-se como o domingo dos dons pascais: o dom da paz, como reconciliação do Ressuscitado com os seus discípulos; o dom do Espírito Santo que os recria como seres humanos novos; o dom da missão que os faz continuadores da obra de Jesus; o dom do perdão como expressão do amor pascal da e na comunidade; o dom da fé como adesão Àquele que é Vida; o dom da comunidade como lugar visível da presença do Ressuscitado.

Durante a paixão e morte de Jesus quase todos falharam: uns fugiram ou se esconderam, outro o traiu, um outro o negou abertamente, afirmando não ser seu discípulo ou conhecê-lo. Por isso, no encontro com o Ressuscitado, eles se sentem envergonhados e temerosos. E a primeira coisa que o Ressuscitado faz é devolver-lhes a alegria da

reconciliação, ativando neles o dom da paz e do consolo.

Além disso, era preciso reconstruí-los por dentro; por isso, “soprou sobre eles” o dom do Espírito Santo, recriando-os. Se na criação Deus soprou nas narinas de Adão tornando-o um ser vivente, agora o Ressuscitado sopra sobre eles e não só comunica o dom da vida, mas seu próprio Espírito, tornando-os “homens novos da Páscoa”. E lhes confia a continuidade da missão que o Pai lhe havia encomendado.

Jesus também é consciente de que, apesar de tudo, seus amigos continuam sendo homens limitados e frágeis e lhes deixa o maravilhoso dom do perdão, capaz de reconstruí-los e de reforçar os vínculos comunitários.

Jesus ressuscitado não criou algumas estruturas nas quais a nova comunidade pudesse se mover e se organizar. Ele despertou um dinamismo interno capaz de mobilizar a nova comunidade dos seus seguidores.

Por isso, o primeiro dia da semana é o “domingo da comunidade”. Quase todas as aparições pascais têm lugar na comunidade. Jesus começa por curar e pacificar sua comunidade; uma comunidade enferma por sua infidelidade, seus medos e covardias; agora, uma comunidade curada e reconciliada já na primeira aparição. Mas alguém está ausente da comunidade: “Tomé não estava com eles”. Continua ferido e enfermo.

E a comunidade se dá conta; não o exclui, pelo contrário, o protege. A comunidade procura integrá-lo, levantando-lhe o ânimo: “vimos o Senhor!”. “Está vivo; alegra-te conosco!”.

Mas Tomé não acredita neles; também ele quer ver o Senhor como os outros. Também ele quer ser curado pelo Ressuscitado. Com suas “feridas”, o Ressuscitado cura as feridas de cada um da comunidade.

Na segunda aparição destaca-se a presença de Tomé. Também ele vê; e o que os outros não fizeram, ele consegue tocar aquelas mãos chagadas. É o único que consegue pôr o dedo na chaga do lado. Mas terá que estar presente na comunidade.

Tomé não pecou contra Jesus; ele pecou contra a comunidade, pois não acreditou no testemunho dos seus companheiros de discipulado. Por isso Jesus o resgata e o faz proclamar publicamente, na comunidade, sua fé n’Ele, o Vivente. A comunidade agora curada pela presença do Ressuscitado torna-se comunidade pascal; é a comunidade do Ressuscitado; é a comunidade do Espírito Santo; é a comunidade da missão e do perdão; é a comunidade onde o Ressuscitado se faz visível.

Mas, esta nova comunidade ressuscitada não tem fim nela mesma. O evangelista João cuidou muito da cena em que Jesus vai confiar sua missão aos discípulos. Ele quer deixar bem claro o que é o essencial. Jesus está no centro da comunidade, como fator de unidade e transmitindo a todos sua paz e alegria, quebrando os medos, consolando-os e confirmando-os como continuadores da missão que Ele tinha iniciado na Galileia.

Agora, como Ressuscitado, Jesus os “envia”; concretamente não lhes diz a quem devem se dirigir, o que deverão fazer ou como deverão agir. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. A missão é a mesma que Jesus recebera do Pai: ser presença humanizadora no mundo, comprometendo-se com os enfermos e chagados, vítimas da situação social e religiosa de seu tempo.

Os discípulos já tinham visto de quem Jesus se aproximou, como cuidou dos mais desvalidos, como levou adiante seu projeto de humanizar a vida, como semeou gestos de libertação e de perdão. As feridas de suas mãos e seu lado lhes recordam sua entrega radical, evidenciando que é o mesmo que morreu na cruz. Ninguém pode tirar a verdadeira Vida que se revela em Jesus.

A permanência dos sinais de morte, indica a permanência de seu amor. Além disso, garante a identificação do Ressuscitado com o Jesus Crucificado.

Assim como durante sua vida pública Jesus se fizera presente junto aos feridos, aliviando o sofrimento humano, agora, como Ressuscitado, continua solidário com todos os crucificados e chagados da história. Ao mostrar suas chagas para os discípulos, Ele está dizendo onde eles devem encontrá-Lo: no compromisso com os sofredores e excluídos, vítimas das estruturas sociais injustas que desumanizam.

Há uma tradição ancestral entre os japoneses que se refere à arte de recompor vasos quebrados. Quando uma peça de cerâmica se quebra, os mestres desta arte recompõem-na com ouro, deixando a cicatriz da reconstrução completamente à vista e sem ocultar as marcas da quebra; para eles, a peça reconstruída é um símbolo perfeito que alia fortaleza, fragilidade e beleza.

Os primeiros cristãos também decidiram conservar e transmitir a história de Jesus sem ocultar as muitas rupturas, feridas e traições que lhe acompanharam durante sua vida. Podiam ter adocicado, suavizado ou omitido diretamente os aspectos mais polêmicos ou os elementos mais humilhantes de seu dramático fim.

Com certeza, teriam evitado controvérsias e facilitado a aceitação da mensagem cristã. No entanto, não fizeram isso. Pelo contrário, deixaram as cicatrizes de suas feridas completamente à vista de todos e sem nenhuma dissimulação. Mas, fizeram isso não só para serem fiéis à história de Jesus, mas, sobretudo, para mostrar a fortaleza, a fragilidade e a beleza da reconstrução realizada por Deus na sua ressurreição.

Convinha mostrar o ouro precioso que preenche os espaços entre as peças quebradas, as “marcas” de Deus nas cicatrizes da história.

Também os discípulos estavam quebrados pelo fracasso, dor, tristeza, desânimo... O Ressuscitado, ao soprar sobre eles, recompôs com o fio de ouro do Espírito, tudo o que estava quebrado. Também eles foram ressuscitados e reconstruídos em sua essência.

E agora, também eles recebem a nova missão de recompor pessoas quebradas, machucadas, feridas... com o ouro da acolhida, da compaixão, da presença solidária. “Recompor o mundo quebrado” expressa a responsabilidade de todos para curar, reparar e transformar o mundo.

Uma das frases que melhor expressa este chamado ao compromisso de recompor o que está quebrado é encontrada no profeta Isaías: “Tu reconstruirás velhas ruínas, erguerás sobre os alicerces de outrora; e te chamarão reparador de brechas, restaurador de casas em ruínas” (Is 58,12).

Essa é a razão pela qual, para os cristãos, o compromisso com a restauração do mundo quebrado é um modo de atualizar a experiência da ressurreição e de viver a vocação. O(a) seguidor(a) escuta o chamado de Jesus para unir-se ao trabalho do Deus-Criador que, na Ressurreição, recria e recompõe de novo o tecido da humanidade quebrada.

É escandaloso o fato de muitos que não conseguem ver nos cristãos a paz, a alegria, a vida renovada; só encontram intolerância, moralismo, legalismo, ódio, críticas destrutivas... Cristãos que afirmam ser seguidores do Ressuscitado, mas envenenam seus ambientes e as redes sociais com o “mau cheiro dos túmulos”.


Para meditar na oração:

Consolados pelo Ressuscitado, somos chamados a exercer o ministério da consolação. Trata-se da consolação de Deus como dom para uma missão, neste mundo carregado de solidão, enfermidade e exclusão.

- Traga à oração as dimensões de sua vida que estão quebradas: corpo, memória, afetividade, relações...

- Deixe que o ouro do Espírito recomponha sua história quebrada para fazer transparecer uma nova obra de arte, uma vida ressuscitada.



TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


SEGUNDO DOMINGO DE PASCUA CICLO "A"

Breve introducción a la cincuentena pascual:


Es bueno, al comenzar el tiempo pascual, tener una visión global de las lecturas propias de los domingos. Para ello recurrimos al documento "Ordenación de las lecturas de la Misa" nº 100: "Hasta el domingo tercero de Pascua, las lecturas del Evangelio relatan las apariciones de Cristo resucitado. Las lecturas del buen Pastor están asignadas al cuarto domingo de Pascua. Los domingos quinto, sexto y séptimo de Pascua se leen pasajes escogidos del discurso y de la oración de Señor después de la última cena. La primera lectura se toma de los Hechos de los Apóstoles, en el ciclo de los tres años, de modo paralelo y progresivo; de este modo cada año se ofrecen algunas manifestaciones de la vida, testimonio y progreso de la Iglesia primitiva. Para la lectura apostólica, el año A se lee la primera carta de Pedro, el año B la primera carta de Juan, el año C el Apocalipsis; estos textos están muy de acuerdo con el espíritu de una fe alegre y una firme esperanza, propio de este tiempo".

Faltaría precisar que en Argentina el séptimo domingo coincide con la Ascensión del Señor; y que el octavo domingo es Pentecostés, solemnidades con las cuales llega a su plenitud el misterio pascual.

En cuanto al espíritu de este tiempo pascual, se insiste en su carácter unitario y festivo. En efecto "el tiempo pascual debe vivirse como una unidad hasta la tarde del día de Pentecostés. Aquel día, y no el día de la Ascensión, se apaga el cirio pascual, que ha sido el signo exterior de la celebración de la Nueva Vida del Señor" . El tono festivo y gozoso debe reflejarse también en las predicaciones pues puede ser cierto que "siempre resulta más fácil predicar para que la gente «se convierta» que predicar para que viva el gozo de la salvación" . Por tanto, se trata de insistir en la Presencia de Jesús Resucitado en la vida de la Iglesia y en nuestra propia vida; para que la descubramos y gocemos.



Primera lectura (He 2,42-47):


En tres sumarios el libro de los Hechos de los Apóstoles (cf. 2,42-47; 4,32-35; 5,11-16) nos describe los rasgos esenciales de la Iglesia Madre de Jerusalén en su formación. Justamente por ser sumarios tienen la función de generalizar y tipificar los constitutivos esenciales de la vida de la comunidad: la enseñanza de los Apóstoles (τῇ διδαχῇ τῶν ἀποστόλων), la vida en común (τῇ κοινωνίᾳ), la fracción del pan (τῇ κλάσει τοῦ ἄρτου) y las oraciones (ταῖς προσευχαῖς).  

En lo que sigue del texto de hoy tendríamos una explicitación de estas cuatro notas o rasgos esenciales de la comunidad. En efecto se habla primero de la admiración de todos ante los prodigios y signos de los Apóstoles; luego de la unidad de los creyentes expresada en la comunión de bienes (koina). En tercer lugar, vuelve a hacer referencia a la fracción del pan en el ámbito de las comidas comunitarias en las casas (tal como se celebraba la Eucaristía entonces) y, por último, se refiere a la alabanza a Dios u oración.

Por tanto, tenemos como primera nota la enseñanza (didajé) de los Apóstoles. En los otros versículos de Hechos donde aparece el término didajé se aclara que es la predicación acerca de Jesús que hacen los Apóstoles (He 5,28; 13,12; 17,19). Esto es muy importante y hace referencia al origen mismo de la vida cristiana: "La vida, como la del antiguo Israel, comienza por la escucha (shema´) de una Palabra que viene de Dios pero que ahora es mediada por los apóstoles que, según el mandato pascual, deben anunciar a todo el mundo el evangelio" .

En cuanto a la vida en común o koinonía algunos opinan que aquí este término no se refiere a la comunidad concreta, sino que es un término abstracto y espiritual para expresar la fraternidad y la concordia que se alcanzaba en la vida de la comunidad. Pero el contexto invita a pensar que se refiere a la comunión concreta de bienes que brotaba y expresaba la comunión de vida de las primeras comunidades según el ideal lucano.

La fracción del pan era uno de los nombres que recibía la celebración eucarística en algunas comunidades primitivas . De hecho, la misma expresión "fracción del pan" se utiliza con este sentido eucarístico en la narración de los discípulos de Emaús: "Ellos, por su parte, contaron lo que había pasado en el camino y cómo le habían conocido en la fracción del pan" (Lc 24,35).

En cuanto a las oraciones o alabanzas a Dios la expresión no necesita comentario.

Por tanto, tenemos aquí cuatro notas esenciales de la vida de la Iglesia. La cuestión para algunos es determinar si se trata de una comunidad ideal o un ideal de comunidad.

Al respecto J. Roloff dice que: “La presentación lucana es, sin género de dudas, una imagen ideal de los primeros tiempos del cristianismo”, pero luego matiza su afirmación: “No hay duda de que la imagen ideal trazada por Lucas encierra mucho de verdad histórica”. Se trata de un ideal, no de un idealismo, pues el mismo Lucas coloca entre el segundo y el tercer sumario el episodio de Ananías y Safira que insiste de manera dramática en la presencia del pecado en la Iglesia (5,1-10). Por tanto, el mensaje es que la caridad es un constitutivo esencial de la Iglesia, pero esta caridad se ve continuamente amenazada y tiene que ser sostenida por la autoridad de Pedro y los apóstoles. Lo mismo vale para la unidad (“un solo corazón y una sola alma” 4,32) la cual es amenazada por divisiones que Lucas no teme relatar como el problema entre helenistas y hebreos (6,1); o el surgido a causa de la obligatoriedad de la ley de Moisés (15,1-5) o las diferencias entre Pablo y Bernabé que termina en su separación (15,36-40). 

En conclusión, por una parte, no podemos dudar que tanto por el entusiasmo y la generosidad del comienzo como por el privilegio de una particular acción del Espíritu Santo y de la presencia de los apóstoles la primitiva comunidad gozó de un carácter modélico, vivió la comunidad ideal. Por otra parte, debemos tener en cuenta el carácter teológico-parenético del relato lucano y que, por tanto, nos presenta el ideal de comunidad.  



Segunda lectura (1Pe 1,3-9):


Este texto es una bendición o eulogia que suele estar presente en las epístolas en lugar de la típica "acción de gracias" (cf. Ef 1).

En la primera parte (1,3-5) el tema dominante es la esperanza que brota para los cristianos de la Resurrección de Jesucristo. Esta esperanza tiene, por una parte, un carácter definitivo y absoluto en cuanto dada por Dios, en su misericordia, por la Resurrección de Jesús. Por otra parte, se trata de una "esperanza viva" reservada para los creyentes y que se manifestará plenamente en el momento final. Si bien su realización será escatológica, se trata de una esperanza que ayuda vivir la vida presente.

Ahora bien, esta esperanza no excluye las dificultades y tribulaciones de la vida presente, sino que las ilumina mostrando su función purificadora de la fe y el premio de gloria eterna que encierran. La esperanza nos abre a la certeza de la salvación que promete la fe.

Es de notar que el mérito de la fe está en amar a Cristo sin haberlo visto, de creer en él sin verlo: “Porque ustedes lo aman sin haberlo visto (οὐκ ἰδόντες ἀγαπᾶτε), y creyendo en él sin verlo todavía (εἰς ὃν ἄρτι μὴ ὁρῶντες, πιστεύοντες), se alegran con un gozo indecible y lleno de gloria” (1 Pe 1,8).


Evangelio (Jn 20,19-31):


Encontramos en este relato dos apariciones del Resucitado: una el mismo día de la resurrección con la presencia de los apóstoles y la ausencia de Tomás, uno de los Once; y la segunda, ocho días más tarde, con la presencia del grupo completo, incluido ahora Tomás. 

Estas apariciones tienen lugar "el primer día de la semana", que es nuestro domingo, día del Señor, y que desde la época apostólica es entonces el día de la reunión de los cristianos.

La primera aparición tiene lugar "al atardecer de ese mismo día, el primero de la semana" (20,19), y de este modo se relaciona con el relato precedente de la aparición a las mujeres que tuvo lugar ese mismo día, pero de mañana. No se precisa el lugar dónde se encontraban reunidos, pero sí se señala que las puertas estaban cerradas por temor a los judíos. El miedo y el encierro son signos de la falta de fe de la primera comunidad, todavía golpeada por los acontecimientos vividos en los últimos días.

En su primera aparición Jesús Resucitado saluda a los discípulos diciéndoles: “¡Paz a ustedes!”. Más que de un augurio o deseo, se trata aquí de la donación efectiva de la paz, de una presencia real de la paz como don escatológico tal como lo había indicado Jesús en su discurso de despedida: “Les dejo la paz, les doy mi paz, pero no como la da el mundo” (Jn 14,27). Esta paz, según el trasfondo del Antiguo Testamento (Shalom), incluye todos los bienes necesarios para la vida presente y la plenitud de bienes en la vida futura. Pero lo que en el Antiguo Testamento era promesa, por la muerte y resurrección de Cristo se vuelve realidad. Justamente en el AT se considera que la presencia de Dios en medio de su pueblo es el bien supremo de la paz (cf. Lev 26,12; Ez 37,26). Entonces para el evangelista Juan la presencia de Jesús resucitado en medio de los suyos es la fuente y la realidad de la paz que se hace presente. Y esta paz no está ligada a su presencia corporal sino a su realidad de resucitado, victorioso de la muerte, y por eso les da, junto con su paz, el Espíritu Santo y el poder de perdonar los pecados (20,22-23). 

 F. Moloney  sostiene que como en la expresión eirênê hymin (“paz a ustedes”) falta el verbo, la misma debe traducirse como "paz con ustedes" en sentido de que Jesús declara que la paz ya está presente entre los discípulos. Y esto se debe justamente a que Jesús resucitado está presente en medio de ellos. 

En fin, ahora Jesús resucitado, con la plenitud de vida que ha recibido del Padre, puede dar a los suyos la paz que proviene del Padre y que permite vivir en comunión con Dios y con los hermanos

Luego, Jesús les muestra sus heridas para probarles que es el Crucificado que ha Resucitado; que es él mismo, pero en un estado diferente.

A continuación, vuelve a darles la paz y pronuncia las palabras de envío mientras realiza el gesto de soplar sobre ellos. El tema de la misión, con distintas formulaciones, aparece como una constante en los relatos de aparición de Jesús en los evangelios. En la formulación joánica se resalta que se trata de una única y misma misión, que se origina en el Padre que envía a su Hijo Jesús, quien ahora hace partícipes de la misma a sus discípulos. También es común en los evangelios unir la misión con el don del Espíritu Santo; pero en san Juan la donación se hace de modo personal mediante el gesto de soplar sobre ellos . Sobre este gesto, algunos estudiosos ven aquí una referencia al gesto primordial de Dios en la creación del hombre (cf. Gen 2,7) . Entonces el soplo de Jesús es el signo de la nueva creación: Jesús glorificado comunica el Espíritu que hace renacer al hombre (cf. Jn 3, 3-8), dándole a compartir la comunión divina. Además, según X. León Dufour , aquí está el cumplimiento de lo anunciado por Juan Bautista de que Jesús "tenía que bautizar en el Espíritu Santo" (Jn 1,32-33); y también de la alianza definitiva anunciada por los profetas y caracterizada por la efusión del Espíritu (cfr. Jer 31,33; Ez 36,26s). 

Con esta donación del Espíritu Santo a los Apóstoles se les comunica también el poder perdonar o retener los pecados y, de este modo, son ellos ahora transmisores de la vida nueva. Además, éste sería el objeto de la misión: el perdón de los pecados, la misericordia. Al respecto comenta I. de la Potterie : “La obra que tendrán que cumplir los discípulos será una continuación de la suya. Pues bien, él es ‘el cordero de Dios que quita el pecado del mundo’ (1,29), el Hijo de Dios que con su sangre ‘nos purifica de todo pecado’ (1Jn 1,7). Ahora se comprende todavía mejor la alusión explícita a la cruz en nuestra perícopa: la palabra de Jesús sobre el poder de perdonar los pecados acompaña al gesto con que mostraba las llagas de su pasión. Es como si quisiera hacer comprender a los discípulos que su ministerio de perdón será la actualización del sacrificio de Cristo y de su significación soteriológica, ya que Jesús, el buen Pastor, ‘da su vida por las ovejas’ (cf. 10,15)”.

El punto culminante de la narración se encuentra en la segunda escena donde Tomás, el discípulo ausente la primera vez, es invitado a creer en el testimonio de la comunidad que ha visto al Señor Resucitado. Sin embargo, Tomás se resiste a creer si no puede ver. 

Los demás apóstoles han visto al Señor y han creído; Tomás desea también ver al Señor. Tomás quiere verificar la afirmación de sus compañeros comprobando con sus propios ojos que el que se les apareció es en verdad el Crucificado. Aplica rigurosamente las categorías del pensamiento judío sobre la resurrección de los muertos. Quiere una estricta continuidad entre los dos mundos, a fin de poder verificar concretamente que el que se aparece es el mismo ser de antes. Tiempo atrás ya Felipe quería ver al Padre (cf. Jn 14,8), y ahora Tomás quiere ver, en el sentido básico del término, al Hijo glorificado.

Entonces se le aparece Jesús Resucitado con los mismos signos de su crucifixión y le reprocha a Tomás su incredulidad. La respuesta de Tomás es grandiosa por cuanto pronuncia la profesión de fe más elevada del Evangelio de Juan (y del Nuevo Testamento) pues le aplica a Jesús los nombres que el Antiguo Testamento reservaba para Dios: Yahvé-Señor y Elohim. En efecto, Tomás llama a Jesús "Señor mío y Dios mío" que es la manifestación de fe cristológica suprema de todo el evangelio . Además, el posesivo "mío" indica su adhesión personal de fe y de amor a Jesús.

Las últimas palabras de Jesús (20,29) son una bienaventuranza donde declara dichosos a los que creen sin haber visto (μὴ ἰδόντες καὶ πιστεύσαντες). Estas palabras estarían dirigidas a los discípulos de la segunda generación cristiana que no habían sido testigos oculares de la resurrección de Jesús y contaban sólo con la palabra predicada. A ellos se los declara dichosos si, por la fuerza del Espíritu Santo, llegan a creer que Jesús está vivo, aunque no hayan tenido una aparición sensible como los Apóstoles . Se trata de una definición del creyente cristiano de todos los tiempos, a partir de la resurrección de Jesús. Como bien dice G. Zevini : “Es creyente aquel que, superando las dudas y las pretensiones de ver, acepta el testimonio autorizado de los que han visto. En el tiempo de Jesús se combinaban la visión y la fe, pero ahora, en el tiempo de la Iglesia, los discípulos no deben tener pretensiones de ver: les basta el testimonio apostólico. Se ha transformado el signo que conduce a la fe: ese signo no es ya objeto de visión directa, sino de testimonio. Lo cual no significa que actualmente esté cerrada para los creyentes toda experiencia personal de Cristo resucitado. Todo lo contrario. A los creyentes se les ofrece ahora la experiencia de la alegría, de la paz, del perdón de los pecados, de la presencia del Espíritu Santo. Pero la «historia» de Jesús tiene que ser aceptada a través del testimonio”.

Algunas reflexiones:

La cuaresma nos impulsó al ejercicio, arduo y difícil a veces, de mirarnos a nosotros mismos para reconocer los pecados o desórdenes y emprender un camino de conversión.

El tiempo pascual, más bien, nos invita a ejercitar una mirada de fe sobre nuestra realidad para descubrir allí la presencia viva y operante del Resucitado. Por eso el gran tema de este tiempo es la fe, esto es, creer en su Presencia invisible. Y llegar a ser feliz de creer sin ver. Al respecto dice San Agustín comentando la frase de Jesús a Tomás “felices los que crean sin haber visto”: “¿De quién hablaba, hermanos, sino de nosotros? Y no sólo de nosotros, sino también de los que vengan detrás de nosotros. En efecto, poco tiempo después de haberse alejado de los ojos mortales, para que se reforzara la fe en los corazones, todos los que han creído lo han hecho sin ver, y su fe ha tenido un gran mérito. Para tener esta fe se limitaron a acercar un corazón lleno de piedad a Dios, pero no la mano para tocar” (Sermón 88,2).

Sin duda que la fe es un don o regalo de Dios para nosotros. Pero también es el don o regalo que Jesús nos pide a nosotros; es el "obsequio de la razón" (DV nº 5) que le debemos ofrecer, regalar al Señor y para lo cual “necesitamos la gracia de Dios que previene y ayuda, y los auxilios internos del Espíritu Santo, el cual mueve el corazón y lo convierte a Dios, abre los ojos de la mente y da "a todos la suavidad en el aceptar y creer la verdad" (DV nº 5). Hay que pedir al Señor el don de la Fe. 

Ahora bien, no se trata de creer en el aire o en el vacío; sino que estamos llamados a tener una experiencia, en la fe, de la Presencia de Jesús Resucitado en nuestra vida, análoga a la que tuvieron los Apóstoles. Esta Presencia de Jesús escapa a los sentidos pues no lo podemos ver ni tocar como hizo Tomás; pero sí podemos sentir los efectos de su Presencia, de su paso por nuestra vida. El evangelio de hoy nos habla ante todo de la paz que el Señor regala a los suyos. Junto a la paz tenemos la alegría, que también refiere el evangelio de hoy. Íntimamente unido a estas experiencias está el tema del perdón de los pecados confiado a la Iglesia (la misericordia). Y por fin, la raíz o causa de todo: el don del Espíritu Santo.

Además de la fe, la otra condición indispensable para esta experiencia de Jesús Resucitado es la inserción o pertenencia comunitaria. También en esto el ejemplo de Tomás es claro. Sólo cuando se incorporó a la comunidad apostólica, la Iglesia naciente, pudo encontrarse con el Señor. El Señor se hace presente en la comunidad de los creyentes y allí podremos "verlo" con los ojos de la fe. Bien podemos decir que el tema que unifica este domingo es la fe en Cristo Resucitado y su dimensión comunitaria. Al respecto podemos citar el discurso de Benedicto XVI al inaugurar Aparecida: "¿Qué nos da la fe en este Dios? La primera respuesta es: nos da una familia, la familia universal de Dios en la Iglesia católica. La fe nos libera del aislamiento del yo, porque nos lleva a la comunión: el encuentro con Dios es, en sí mismo y como tal, encuentro con los hermanos, un acto de convocación, de unificación, de responsabilidad hacia el otro y hacia los demás”.

Ahora bien, para que la Iglesia haga visible a los hombres la Presencia de Jesús Resucitado tiene que vivir las notas características que nos describía la primera lectura. Iglesia que escucha la enseñanza de los Apóstoles; Iglesia que vive la comunión incluso a nivel de los bienes materiales; Iglesia que se nutre de la fracción del pan; en fin, Iglesia orante.

  El Apóstol Tomás ha hecho un camino de la duda a la fe, ha resucitado; y es un ejemplo para todos nosotros como nos enseñaba el Papa en el Regina Coeli del 24 de abril de 2022: “el apóstol Tomás nos representa a todos nosotros, que no estábamos presentes en el cenáculo cuando el Señor se apareció y no hemos tenido otras señales o apariciones físicas de Él. También a nosotros, como aquel discípulo, a veces nos resulta difícil: ¿cómo podemos creer que Jesús ha resucitado, que nos acompaña y es el Señor de nuestras vidas sin haberlo visto, sin haberlo tocado? ¿Cómo podemos creer esto? ¿Por qué el Señor no nos da algún signo más evidente de su presencia y de su amor? Alguna señal que yo pueda ver mejor… Pues bien, nosotros también somos como Tomás, con las mismas dudas, los mismos razonamientos. Pero no debemos avergonzarnos de esto. Al contarnos la historia de Tomás, el Evangelio nos dice que el Señor no busca cristianos perfectos. El Señor no busca cristianos perfectos. Yo les digo: tengo miedo cuando veo a algún cristiano, a alguna asociación de cristianos que se creen perfectos. El Señor no busca cristianos perfectos; el Señor no busca cristianos que nunca duden y siempre hagan alarde de una fe segura. Cuando un cristiano es así, hay algo que no funciona. No, la aventura de la fe, como para Tomás, está hecha de luces y sombras. Si no, ¿qué tipo de fe sería? Conoce momentos de consuelo, impulso y entusiasmo, pero también de cansancio, desconcierto, dudas y oscuridad.

El Evangelio nos muestra la “crisis” de Tomás para decirnos que no debemos temer las crisis de la vida y de la fe. Las crisis no son un pecado, son un camino, no debemos temerlas. Muchas veces nos hacen humildes, porque nos despojan de la idea de ser correctos, de ser mejores que los demás. Las crisis nos ayudan a reconocer nuestra necesidad: reavivan nuestra necesidad de Dios y nos permiten así volver al Señor, tocar sus llagas, volver a experimentar su amor, como la primera vez. Queridos hermanos y hermanas, es mejor una fe imperfecta pero humilde, que siempre vuelve a Jesús, que una fe fuerte pero presuntuosa, que nos hace orgullosos y arrogantes. ¡Ay de estos! Y ante la ausencia y el camino de Tomás, que a menudo es el nuestro, ¿cuál es la actitud de Jesús? El Evangelio dice dos veces que Él «vino» (vv. 19.26). Una primera vez, y una segunda, ocho días después. Jesús no se rinde, no se cansa de nosotros, no tiene miedo de nuestras crisis y de nuestras debilidades. Él siempre vuelve: cuando se cierran las puertas, vuelve; cuando dudamos, vuelve; cuando, como Tomás, necesitamos encontrarlo y tocarlo más de cerca, vuelve. Jesús siempre vuelve, siempre toca la puerta, y no vuelve con signos poderosos que nos harían sentir pequeños e inadecuados, incluso avergonzados, sino con sus llagas; vuelve mostrándonos sus llagas, signos de su amor que se ha hecho suyas nuestras fragilidades.”

El evangelio nos habla también del “envío” de los discípulos, y en ellos toda la Iglesia recibe la responsabilidad de prolongar la misión de Jesús en el tiempo; misión que se puede resumir en el “perdón de los pecados”, en el ejercicio de la misericordia de Dios. Al tema de la fe y de la comunidad, unimos entonces el tema de la misericordia que es propio de este segundo domingo de Pascua que es llamado ahora también domingo "de la divina misericordia", con la intención es educar a los fieles para que comprendan esta devoción a la luz de las celebraciones litúrgicas de estos días de Pascuas. La finalidad es mostrar cómo la misericordia divina es comunicada por Cristo muerto y resucitado, fuente del Espíritu que perdona los pecados y devuelve la alegría de la salvación . En breve, la revelación de la misericordia divina tiene su cumbre en el misterio pascual. Y como dijo el Papa Francisco en su homilía del 19 de abril de 2020: “En esta fiesta de la Divina Misericordia el anuncio más hermoso se da a través del discípulo que llegó más tarde. Sólo él faltaba, Tomás, pero el Señor lo esperó. La misericordia no abandona a quien se queda atrás […]  En esa comunidad, después de la resurrección de Jesús, sólo uno se había quedado atrás y los otros lo esperaron. Actualmente parece lo contrario: una pequeña parte de la humanidad avanzó, mientras la mayoría se quedó atrás. Y cada uno podría decir: “Son problemas complejos, no me toca a mí ocuparme de los necesitados, son otros los que tienen que hacerse cargo”. Santa Faustina, después de haberse encontrado con Jesús, escribió: «En un alma que sufre debemos ver a Jesús crucificado y no un parásito y una carga… [Señor], nos ofreces la oportunidad de ejercitarnos en las obras de misericordia y nosotros nos ejercitamos en los juicios» (Diario, 6 septiembre 1937). Pero un día, ella misma le presentó sus quejas a Jesús, porque: ser misericordiosos implica pasar por ingenuos. Le dijo: «Señor, a menudo abusan de mi bondad», y Jesús le respondió: «No importa, hija mía, no te fijes en eso, tú sé siempre misericordiosa con todos» (24 diciembre 1937).”.

Siguiendo a H. U. von Balthasar  podemos resumir lo esencial de las tres lecturas: 

“Pascua es la fiesta en que se da a la Iglesia el poder de perdonar a todos que se arrepienten de sus pecados, y para ello recibe el Espíritu Santo de Jesús” (se revela y actúa la Misericordia de Dios).

Para que Jesús pueda obrar en nosotros hay que creer en Él, en la fuerza de su gracia. Y sobre todo que “lo que Dios obra en nosotros es mucho más grande que lo que entra en el pequeño recipiente de nuestra experiencia” (hay que creer sin ver, sin sentir).

“Pedro en la segunda lectura pronuncia un elogio memorable de aquellos que aman al Señor sin verlo” y experimentan un gozo inefable que brota de la fe que nos da una esperanza viva. En cierto modo este gozo es una forma de experimentar la fe.

“Esta “experiencia” de la fe, deseosa de llegar cuanto antes a la meta de la esperanza, el cristiano la tiene en la comunidad de la Iglesia… Tomás, como hombre incrédulo y escéptico, se había convertido en un ser aislado con respecto a la comunidad de los discípulos. Jesús le devuelve a la comunión, le integra de nuevo en esta comunidad”.

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Creyendo


Escrito en el Libro de los libros

Te quedaste vivo entre nosotros,

Para darnos nueva Vida.


Haciéndonos como niños

Va creciendo la fe dentro nuestro

Entregándolo todo, para no perderlo.


¡Cuánto cuesta lanzar nuestras certezas

Y abandonarnos en los brazos

Del Padre que nos apremia!


El Amor está vivo y eso nos llena,

Es suficiente para incendiar la tierra

y dar el paso a la vida eterna.


Felices, aunque veamos apenas

La obra de tu Espíritu  

En las mañanas serenas.


Sin conocerte más que de oídas

Y saber de tu presencia

En el Pan: Eucaristía!


Creo Señor, creemos, 

Y así será para todos y cada uno

Hasta que un día vuelvas. Amén