27º DOM TC-A

27º DOMINGO DO TEMPO COMUM-ANO A

 08/10/2023  

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO

 

1ª Leitura: Isaías 5,1-7 

Salmo Responsorial 79(80)-R- A vinha do Senhor é a casa de Israel 

2ª Leitura: Filipenses 4,6-9 

Evangelho Mateus 21,33-43

“Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, cavou nela um lagar para pisar as uvas e construiu uma torre de guarda. Ele a alugou a uns agricultores e viajou para o estrangeiro. 34        Quando chegou o tempo da colheita, ele mandou os seus servos aos agricultores para receber seus frutos. 35   Os agricultores, porém, agarraram os servos, espancaram a um, mataram a outro, e a outro apedrejaram. 36          Ele ainda mandou outros ser-vos, em maior número que os primeiros. Mas eles os trataram do mesmo modo. 37     Por fim, enviou-lhes o próprio filho, pensando: ‘A meu filho respeitarão’. 38   Os agricultores, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e tomemos posse de sua herança!’ 39          Então agarraram-no, lançaram-no fora da vinha e o mataram. 40   Pois bem, quando o dono da vinha voltar, que fará com esses agricultores?” 41Eles responderam: “Dará triste fim a esses criminosos e arrendará a vinha a outros agricultores, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”. 42Então, Jesus lhes disse: “Nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram, esta é que se tornou a pedra angular. Isto foi feito pelo Senhor, e é admirável aos nossos olhos’? 43          Por isso vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e entregue a um povo que produza frutos.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP

Mt 21,33-43

Esta parábola não fala somente da punição futura, mas demonstra claramente a natureza da culpa dos líderes religiosos e por qual motivo deveriam ser punidos: haveriam de assassinar o Filho.

Aquela vinha contava com todas as benfeitorias possíveis. A vinha é o povo de Deus: pela providência de Deus, o povo escolhido tinha todas as vantagens, semelhante à de uma vinha bem organizada. Plantou uma vinha (obra de Deus, graça), pôs uma cerca em volta (=proteção, identidade, predileção), fez nela um lagar (espera os frutos, a justiça e a misericórdia) e construiu uma torre de guarda (os profetas para advertir e não permitir a perversão no pecado). Israel recebeu a lei e os profetas, inclusive orientações específicas. Como uma vinha bem cultivada, nada faltava ao povo de Deus.

Quando chegou o tempo da colheita... Mandou de novo outros empregados

Deus esperou bons frutos de seu povo, como um proprietário cuidadoso espera abundância de uvas. Apesar de todos as providências tomadas, a preparação cuidadosa e o trabalho feito com carinho, os frutos não foram entregues, não porque a vinha não tenha produzido fruto, mas porque os arrendatários se apossaram injustamente da vinha. 

Esse é o pecado dos responsáveis religiosos: a impiedade deles não se modificou com a passagem do tempo, apesar de haver um aumento do número dos profetas enviados. Pelo contrário, o envio de outros profetas serviu para intensificar a violência dos vinhateiros. Ao invés de entregar a produção dos frutos, os vinhateiros ficaram ainda mais pervertidos, pensando que podiam escapar do castigo. O proprietário está “longe” e eles pensam que suas más ações poderiam escapar do castigo. Eles parecem presos e cegados pela noção de que nenhum castigo lhes sobrevirá. Essa atitude só causa a piora da situação moral e a desintegração da consciência moral. Não é o mesmo que acontece hoje? Indivíduos estão tão habituados em agir contra o direito e a justiça, estão tão seguros de que não devem prestar contas a ninguém nem à própria consciência que acabam por perverter a própria personalidade.

O proprietário da vinha, no entanto, não desiste e toma uma decisão derradeira: envia o filho pensando, “ao meu filho eles vão respeitar”. Aí está uma pessoa que mereceria o respeito de todos, até mesmo de pessoas más e perversas. Os profetas eram apenas servos do proprietário, ao passo que Jesus é o Filho único e amado. A expressão “respeitarão o meu filho” mostra como é grave a culpa de não terem acolhido reverentemente o Filho de Deus.

Os vinhateiros o reconheceram, mas se tornaram ainda mais gananciosos e violentos do que nunca: Este é o herdeiro. Em suas mentes pervertidas calcularam que morte dele só poderia beneficiá-los grandemente. Pensavam que, matando o herdeiro, a herança passaria às mãos deles. Eis a loucura e a estupidez sem nome de homens que gradualmente arruinaram a sua própria consciência moral.

O que fará com esses vinhateiros? A reação dos ouvintes de Jesus não podia ser outra. Mas condenando os vinhateiros, os ouvintes declaram, eles próprios, que punição merecem e confessam a própria culpa.

Nós vemos com facilidade e com clareza a necessidade de castigo para os outros pecadores, mas ficamos cegos para com nossas próprias iniquidades. Que Deus nos ajude a não sermos cegos. “Eu esperava deles frutos de justiça – e eis injustiça; esperava obras de bondade – e eis iniquidade” (Is 5,7).


Que fizemos com a vinha do Senhor - Pe Adroaldo Palaoro


“Quando o dono da vinha voltar, o que fará com os vinhateiros?” (Mt 21,40)


Na perspectiva bíblica, a vinha aparece sempre como aliada do ser humano; ela nos ensina a viver em harmonia com a água, com a terra e com todos os seres, numa relação de aliança.

A vinha é dada por Deus em função da vida. Ela deve, por isso, ser recebida como fecundidade, não como algo que é objeto de conquista e domínio.


Por isso a Vinha é sagrada e é lugar de contemplação e encontro íntimo com o Criador; ela é o teatro da glória de Deus, isto é, da manifestação da presença divina.


E o ser humano é chamado a “trabalhar com” o Criador, cuidando da Vinha, para que ela seja fecunda e alimente a alegria de todos. Aqui já não cabe mais nenhuma atitude de dominação, de exploração, de depredação e de posse. O cuidado e a beleza da vinha impõem-se ao desejo consumista desenfreado, pois somos jardineiros e não exploradores.


O Evangelho deste domingo revela que, quando as pessoas rompem a aliança com Deus e se afastam d’Ele, a vinha fica estéril. Quando uns poucos se apropriam dela como donos, ela passa a ser o lugar da espoliação, da devastação, da morte e deixa de ser espaço para a convivência fraterna e solidária.

De fato, contemplando a “grande Vinha do Senhor”, percebemos que o poder-dominação sobre a natureza e o consumismo exacerbado destruiu o sentido cordial das criaturas e legou-nos um devastador vazio existencial.


Todo ser humano, chamado à comunhão e à união com o seu Criador, com os outros e com as criaturas, experimenta em si, ao mesmo tempo, a tendência egóica de se apoderar do grande dom da Vinha, que limita, trava, perturba seu desejo de viver em sintonia com o Senhor e em harmonia com os demais.


Na perspectiva bíblica, o pecado aparece em primeiro lugar como a ruptura de uma aliança com o Criador, com os outros e com as criaturas. Não se trata de uma mera infração, uma quebra de lei, nem mesmo de uma falta contra nós mesmos, mas sim de quebra de uma relação de amor e de amizade. A Bíblia nos falará da situação do pecador como sendo, radicalmente, uma situação de fechamento, de estar bloqueado, incapaz de viver a vocação de jardineiro e de cuidado. Em uma palavra, trata-se de uma recusa a viver e a amar.


Segundo a revelação bíblica, no cenário da Grande Vinha, as criaturas não estão colocadas umas ao lado das outras, em justaposição, mas são todas sinfônicas, interligadas, interdependentes. Há uma grande unidade, feita de muitos níveis, de muitos seres diferentes, todos eles ligados e religados entre si. E, por isso, num profundo e intenso dinamismo.


O drama do ser humano é não se sentir em comunhão num todo maior e perder a memória de que é parte do todo; é não se sentir um elo vivo e esquecer que este é um elo da única corrente de vida.


A antropologia bíblica é iluminadora ao reconhecer a vida humana numa estreita interconexão com outros seres, como uma teia interdependente.


“A terra não pode ser vendida para sempre porque a terra é minha e vocês são inquilinos e hóspedes meus” (Lev. 25,23). Desta afirmação podemos deduzir claramente que o ser humano não é senhor da terra e não pode fazer com ela e com os outros seres aquilo que quiser.

Ao predominar a autoafirmação e o domínio do ser humano sobre a Vinha, produziu-se a quebra da “re-ligação” com tudo e com todos. Ele se colocou num pedestal solitário a partir de onde pretende dominar a Terra e os céus; como consequência dessa atitude temos a devastação da vinha.


O embrutecimento do ser humano, de sua interioridade, a perda do gosto pela verdade, pelo bem e pelo belo, o extravio da ternura e da transcendência, repercutem em falta de respeito pela natureza, em ruptura com as outras criaturas, em insensibilidade ecológica.


Há um clamor generalizado que emerge da realidade desafiante enfrentada pela humanidade: o planeta Terra está gravemente enfermo. As consequências trágicas estão presentes por toda parte: degradação do meio ambiente, diminuição acelerada das fontes de água potável, desertificação, degelo das calotas polares com a consequente elevação do nível do mar, grande incidência de furacões e de queimadas, extinção de milhares de espécies de animais, escassez de alimento, proliferação de doenças, migrações forçadas... - Estrangulou-se a capacidade de enternecimento, de encantamento e de reverência diante da profundidade da vida; o ser humano não é mais capaz de “louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor”.


Enfim, o desequilíbrio dos ecossistemas pode comprometer, de forma irreversível, todas as formas de vida sobre a terra.

Ferir a Vinha é ferir o próprio Criador. Quando observamos vinhas outrora verdejantes e agora destruídas ou entulhadas de lixo, uma sensação de violação, de tragédia, quase de sacrilégio, se manifesta no nosso interior. E uma voz ecoa das profundezas da destruição: “Que fizestes de minha vinha?”.


Como seres humanos, somos convocados a desenvolver uma consciência criatural, em que a Vinha deixa de ser vista como objeto de domínio. Ela é um dom de Deus que deve ser acolhido com reverência, respeito e louvor.

É nesse momento dramático que uma nova cosmologia se revela inspiradora. Em vez de “dominar” a natureza, situa-nos no seio dela em profunda sintonia e sinergia.


O que caracteriza essa nova atitude é o cuidado em lugar da dominação, o reconhecimento do valor de cada criatura e não sua mera utilização humana, o respeito por toda forma de vida e os direitos e a dignidade da natureza, não sua exploração.


A primeira relação do ser humano com a Vinha, portanto, não é a da posse, nem a da pergunta pelo seu porquê, mas a da acolhida em seu ser dado. A forma dessa acolhida é o assombro de sua presença e o temor diante de sua possível perda.


Enfim, a parábola do evangelho deste domingo aponta para uma relação de acolhida agradecida e reconhecida para com a Vinha, pois ela é o lugar no qual não só existimos, mas somos chamados a uma plenitude de vida, em aliança e comunhão com o Deus Trindade

.

Assim, o exercício do senhorio, ou a dominação, por parte do ser humano, deve significar respeito à ação criativa divina e contribuir com o crescimento e a evolução da natureza em todas as suas dimensões; igualmente, cuidar e fazer da vinha uma fonte de bênçãos, ou seja, de comunhão com ela e, a partir dela, crescer em harmonia interior, comunhão com as outras pessoas e estreitamento de relações com o próprio Criador.

O evangelho nos dá a única alternativa possível ao desastre ecológico: fazer do amor a pedra angular.

A primeira lei não é a superioridade do ser humano em relação ao cosmos senão a solidariedade cósmica. “Tudo foi criado” para uma imensa e cósmica solidariedade.


Para meditar na oração

Mobilize seus sentidos para ver, ouvir, tocar, sentir e saborear a beleza de nossa terra.


- Considere sua conexão com esta beleza e como ela lhe faz perceber o amor da Trindade ao cosmos, em constante evolução.


- Considere o novo sentimento de maravilha que cresce em seu coração e como dá novo sentido à sua missão de colaborador(a) no grande jardim do Criador.



O risco de fraudar Deus - José Antonio Pagola

 

A parábola dos «viticultores homicidas» é tão dura que é difícil para nós, cristãos, pensar que esse aviso profético, dirigido por Jesus aos líderes religiosos de seu tempo, tem algo a ver conosco.

 

O relato fala de uns lavradores encarregados por um homem para trabalhar a sua vinha. Chegado o tempo da vindima ocorre algo surpreendente e inesperado. Os lavradores recusam-se a entregar a colheita. O senhor não colherá os frutos que tanto espera.

 

A sua ousadia é incrível. Um após o outro, vão matando os servos que o senhor lhes envia para recolher os frutos. Mais ainda. Quando lhes envia o seu próprio filho, atiram-no «para fora da vinha» e matam-no para ficarem como únicos donos de tudo.

 

Que pode fazer o senhor da vinha com esses lavradores? Os líderes religiosos, que escutam nervosos a parábola, chegam a uma conclusão terrível: fará com que morram e transferirá a vinha para outros lavradores «que lhe entreguem os frutos no devido tempo». Eles mesmos se estão condenando. Jesus diz-lhes na cara: «Por isso vos digo que o reino de Deus vos será retirado e entregue a um povo que produz os seus frutos».

 

Na «vinha de Deus» não há lugar para quem não dá frutos. No projeto do reino de Deus que Jesus anuncia e promove não podem continuar a ocupar lugar «lavradores» indignos que não reconheçam o senhorio do seu Filho, porque se sentem donos, senhores e amos do povo de Deus. Devem ser substituídos por «um povo que produza frutos».

 

Por vezes pensamos que esta parábola tão ameaçadora aplica-se ao povo do Antigo Testamento, mas não para nós, que somos o povo da Nova Aliança e temos já a garantia de que Cristo estará sempre conosco.

 

É um erro. A parábola também está a falar de nós. Deus não tem que abençoar um cristianismo estéril do qual não recebe os frutos que espera. Não tem de se identificar com as nossas incoerências, desvios e pouca fidelidade. Também agora, Deus quer que os trabalhadores indignos de Sua vinha sejam substituídos por um povo que produza frutos dignos do reino de Deus.

 

 Um patrão diferente! - Ana Maria Casarotti

 

Jesus conta uma nova parábola, dirigida especialmente aos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei e aos anciãos do povo. Eram os que “tinham ficado indignados quando viram as maravilhas que Jesus fazia” porque tinha curado os cegos e os aleijados que foram à sua procura!

Para este grupo, que se considerava com autoridade e direito de controlar e levar adiante o fiel e intransigente cumprimento da Lei de Deus na vida do povo, esta pessoa (Jesus) não podia vir de Deus. Conforme seus critérios, ele continuamente desrespeitava e até ultrajava a Lei de Deus, sua ortodoxia e seu cumprimento, de que eles cuidavam tão rigidamente.

Vários textos no Antigo Testamento identificam a casa de Israel com uma vinha. No profeta Isaías ou também em Oseias, lemos o relato de que dava fruto abundante: “Israel era uma parreira exuberante que produzia uvas com fartura”. (Os 10,1)

Nesta passagem há uma vinha muito querida que o proprietário arrenda para que alguns agricultores cuidem dela e assim ela produza muito fruto. Ele sente carinho pela sua vinha, e seu desejo é que esteja bem cuidada. Não lhe é indiferente. Investe na vinha, pois constrói uma torre, procura agricultores para cuidar dela e, assim, espera que a colheita de seus frutos seja abundante. Mas quando os empregados chegam para recolher os frutos, os agricultores os agarram, batem num, matam outro e apedrejam o terceiro.

O dono da vinha aparece como uma pessoa muito especial. Ele tem uma grande perseverança na busca dos frutos de sua vinha e no envio de pessoas que os recolham.

Imaginemo-lo não só preocupado, mas com um grande amor. Deixemos que esta sensibilidade e amor ecoem no nosso interior. É um amor que excede a lógica. Ele poderia ter retirado da sua vinha os malvados e os agressores de seus empregados antes de enviar para lá seu filho querido.

Sua insistência no desejo de enviar novos empregados pode parecer sem coerência ou sem discernimento do que havia acontecido. Mas Jesus está ensinando que há um amor que não tem limite, que excede toda razão. Deus é um mistério insondável do amor misericordioso. Ele não se esquece dos seres humanos, pelo contrário, está muito perto, ao seu lado continuamente. Seu amor excede tudo aquilo que se espera.

E assim é este patrão com sua vinha. Ele se preocupa, envia servidores, deseja recolher os frutos dessa vinha que foi especialmente plantada e cuidada. Mas ele colhe o contrário: agricultores infiéis, que só oprimem seus enviados.

Jesus está falando aos sacerdotes e aos anciãos do povo como, ao longo da história de Israel, eles rejeitaram os profetas e não escutaram suas palavras. Suas pregações incomodavam e chamavam a uma mudança na sua vida.

Mas, hoje, podemos meditar sobre qual é aquela pequena vinha que o Senhor nos confiou pessoal ou comunitariamente?

Neste mundo em que estamos envolvidos, com suas grandes diferenças sociais, estou contribuindo para que a vinha do Senhor produza um fruto de justiça e igualdade? Minha vida está caracterizada por uma oferta sem limites, tentando fazer com que a paz reine ao redor, e não a vingança, o aproveitamento do outro e de sua condição social e cultural?

O amor de Deus se expressa na medida do amor ao próximo. Como disse a Primeira Carta de João: “Amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,7-8).

O sentido profundo da vinha se dá na medida em que ela produz frutos abundantes. Ela não vai produzir nada se os agricultores só estiverem preocupados em tê-la como propriedade sua!

Ao longo da história, houve muitíssimas pessoas que, em razão da sua busca de igualdade, da defesa dos mais pobres, de suas incessantes denúncias dos sistemas opressores, de seus protestos contra um mundo que está sangrando, foram torturadas e assassinadas.

No século XX e neste século, muitas pessoas enviadas por Deus sofreram a rejeição dos chefes do mundo, aqueles que se consideram os donos do mundo.

“A misericórdia de Deus sobre nós está associada à nossa misericórdia com o próximo. Quando esta não encontra espaço em nosso coração fechado. Se eu não abro a porta de meu coração ao pobre, estou perdido!” Disponível em Francisco, contundente: “Ignorar os pobres é desprezar a Deus”.

Somos convidados hoje a imitar esse amor do Pai e dos que foram enviados e que se mantiveram fiéis à vinha que lhes foi confiada.

Oração

A felicidade vem da partilha (Salmo 118)

Feliz quem teme a Javé e anda em seus caminhos!

Você comerá do trabalho de suas próprias mãos, tranquilo e feliz.

Sua esposa será como vinha fecunda, na intimidade do seu lar.

Seus filhos, rebentos de oliveira, ao redor de sua mesa.

Essa é a bênção para o homem que teme a Javé.

Que Javé abençoe você desde Sião,

e você veja a prosperidade de Jerusalém todos os dias de sua vida.

Que você veja os filhos de seus filhos. Paz sobre Israel!

 

 

A parábola dos violentos assassinos usurpadores da vinha -  Carlos Mesters


Mateus 21,33-46

Situando o texto

O texto do evangelho de hoje faz parte de um conjunto mais amplo que engloba Mateus 21,23-46. 

Os chefes dos sacerdotes e os anciãos tinham perguntado a Jesus com que autoridade ele fazia as coisas (Mt 21,23). Eles se consideravam os donos de tudo e achavam que ninguém podia fazer nada sem a licença deles. A resposta de Jesus consta de três partes: 

1) Ele faz uma contra-pergunta e quer saber deles se João Batista era do céu ou da terra (Mt 21,24-27). 

2) Conta a parábola dos dois filhos (Mt 21,28-32). 

3) Conta a parábola da vinha (Mt 21,33-46) que é o evangelho de hoje.

Comentando a parábola

Mateus 21,33-40: A parábola da vinha.

   Jesus começa assim: "Escutem essa outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, cercou-a, fez um tanque para pisar a uva, e construiu uma torre de guarda”. A parábola é um resumo bonito da história de Israel, tirado do profeta Isaías (Is 5,1-7). Jesus se dirige aos chefes dos sacerdotes, aos anciãos (Mt 21,23) e aos fariseus (Mt 21,45) e dá uma resposta à pergunta que eles tinham feito sobre a origem da sua autoridade (Mt 21,23). Por meio desta parábola, Jesus esclarece várias coisas:  

(1) Revela qual a origem da sua autoridade: ele é o filho, o herdeiro.  

(2) Denuncia o abuso da autoridade dos vinhateiros, isto é, dos sacerdotes e anciãos que não cuidavam do povo de Deus. 

(3) Defende a autoridade dos profetas, enviados por Deus, mas massacrados pelos sacerdotes e anciãos. 

(4) Desmascara as autoridades que manipulam a religião e matam o filho, porque não querem perder a fonte de renda que conseguiram acumular para si, ao longo dos séculos.

Mateus 21,41: A sentença dada por eles mesmos

   No fim da parábola, Jesus pergunta: “Pois bem: quando o dono da vinha voltar, o que irá fazer com esses agricultores?” Eles não se deram conta de que a parábola estava falando deles mesmos. Por isso, pela resposta dada eles decretaram sua própria condenação: “Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: É claro que mandará matar de modo violento esses perversos, e arrendará a vinha a outros agricultores, que lhe entregarão os frutos no tempo certo". Várias vezes Jesus usa esse mesmo método. Ele leva a pessoa a dizer a verdade sem ela se dar conta de que está condenando-se a si mesma. Por exemplo, no caso do fariseu que condenou a moça como pecadora (Lucas 7,42-43) e no caso da parábola dos dois filhos Mt 21,28-32).

Mateus 21,42-46: A sentença dada por eles mesmos é confirmada pelo comportamento deles.

   Pelo esclarecimento de Jesus, os sacerdotes, os anciãos e os fariseus entenderam que a parábola falava deles mesmos, mas eles não se converteram. Pelo contrário! Mantiveram o seu projeto de matar Jesus. Rejeitaram “a pedra fundamental”. Mas não tiveram a coragem de fazê-lo abertamente porque tinham medo do povo.

Alargando

Os vários grupos no poder no tempo de Jesus. No evangelho de hoje apareceram alguns dos grupos que, naquele tempo, exerciam o poder junto ao povo: sacerdotes, anciãos e fariseus. Quem são estes grupos:

1. Sacerdotes: Eram os encarregados do culto no Templo. Era para o Templo que o povo levava o dízimo e as outras taxas e ofertas para pagar suas promessas. O sumo sacerdote ocupava um lugar muito importante na vida da nação, sobretudo depois do exílio. Era escolhido ou nomeado entre as três ou quatro famílias aristocratas, que detinham mais poder e maior riqueza.

2. Anciãos ou Chefes do povo: Eram os líderes locais nas várias aldeias e cidades. Sua origem vinha das chefias das tribos de antigamente.

3. Saduceus: Eram a elite leiga aristocrata da sociedade. Muitos deles eram ricos comerciantes ou latifundiários. Do ponto de vista religioso eram conservadores. Não aceitavam as mudanças defendidas pelos fariseus, como por exemplo, a fé na ressurreição e a existência de anjos.

4. Fariseus: Fariseu significa: separado. Eles lutavam para que, através da observância perfeita da lei da pureza, o povo chegasse a ser puro, separado e santo como o exigiam a Lei e a Tradição! Por causa do testemunho exemplar da sua vida dentro das normas da época, eles tinham uma liderança moral muito grande nas aldeias da Galiléia.

5. Escribas ou doutores da lei: Eram os encarregados do ensino. Dedicavam sua vida ao estudo da Lei de Deus e ensinavam ao povo como fazer para observar em tudo a Lei de Deus. Nem todos os escribas eram da mesma linha. Uns estavam ligados aos fariseus, outros, aos saduceus.

 Para um confronto pessoal

  Se Jesus voltasse hoje e contasse a mesma parábola, como eu iria reagir?

  Onde eu me situo nessa parábola? Por que?


Deus prefere aqueles que as pessoas descartam - Enzo Bianchi


Tradução Moisés Sbardelotto.

 

Estamos ainda no Templo de Jerusalém, onde Jesus dirige aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo uma segunda parábola, depois daquela sobre os dois filhos, ouvida no domingo passado.

Um proprietário “plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda” (cf. Is 5,2). São palavras extraídas do “cântico da vinha” do profeta Isaías, bem conhecido pelos ouvintes de Jesus: essa página expressa de modo admirável a história do amor de Deus pela sua vinha, isto é, o povo de Israel (cf. Is 5,7; Sl 80), mas também a Igreja e toda a humanidade.

É o Senhor quem cria, conserva e preenche de dons a sua vinha, instaura com ela aquela relação que é fonte de fecundidade: porém, é preciso que as pessoas acolham esse amor, porque Deus precisa de parceiros que acreditem no seu amor e lhe respondam com um amor capaz de dar frutos abundantes.

Depois de iniciar a obra, o proprietário confia a vinha a agricultores e parte em viagem. No momento da colheita, ele enviar alguns servos para retirarem as uvas, mas eis que ocorre o impensável: “Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram; e o mesmo ocorre uma segunda vez, quando o proprietário manda servos mais numerosos do que os anteriores.

Quanto mais ele cuida da sua vinha, mais cresce a hostilidade daqueles que deveriam simplesmente colaborar com ele na colheita dos frutos. Mas o proprietário não desanima, mas continua perseverando em uma lógica de louca gratuidade, até enviar o seu próprio filho, dizendo: “Ao meu filho eles vão respeitar!”.

Ao verem este último, o ódio dos vinhateiros atinge o seu ápice. Eles primeiro conspiram contra ele, certos de que, assim que o herdeiro for eliminado, a herança passará para eles. Depois, passam para a ação: “Agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram”.

Essa afirmação é fundamental para decodificar a parábola e, consequentemente, iluminar a autoconsciência de Jesus: ele é o Filho que será crucificado fora dos muros de Jerusalém (cf. Mt 27,31-33); é ele quem “padeceu fora da porta da cidade” (Hb 13,12). E, então, fica claro que os servos enviados anteriormente são os profetas, doados com carinho por Deus e, mesmo assim, sempre hostilizados pelo povo, particularmente pelos seus guias religiosos: basta pensar nas perseguições sofridas por Jeremias por obra dos sacerdotes do templo...

Jesus tem diante de si precisamente alguns líderes religiosos, mas significativamente não emite nenhum julgamento; limita-se a fazer uma pergunta, deixando-se que eles mesmos tomem consciência da sua situação: “Quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?”. Eles respondem sem hesitar: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”. Eles pensam provavelmente que o duro veredito não os atinge diretamente, mas diz respeito a outros...

É por isso que Jesus novamente os remete à autoridade das Escrituras: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos’?” (Sl 118,22-23).

Certamente, eles haviam lido o Salmo, assim como conheciam a passagem de Isaías, mas não haviam compreendido a Palavra contida nas Escrituras em profundidade: eles não podiam aceitar a lógica paradoxal de Deus, as suas maravilhas operadas por ele através daquilo que é desprezado pelas pessoas (cf. 1Cor 1,18), a sua salvação do mundo através do escândalo de um Messias impotente e crucificado (cf. 1Cor 1,17-25)!

Nesse ponto, finalmente, os interlocutores de Jesus entendem que ele está falando deles e tentam capturá-lo (cf. Mt 21,45-46): desta vez, não conseguem, mas para Jesus o fim se aproxima...

Antes de concluir esse difícil diálogo, Jesus afirma: “O Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”. Essas palavras não dizem respeito apenas aos seus interlocutores históricos, mas são dirigidas também a nós, sempre tentados a pensar que o julgamento não nos afeta, nem pessoalmente, nem como Igreja. Elas solicitam a nossa responsabilidade de deixar Deus reine sobre nós.

Como? Fazendo de Jesus a Rocha sobre a qual devemos fundamentar a nossa vida (cf. 1Pd 2,4-5), não “uma pedra de tropeço, de escândalo” (cf. 1Pd 2,8). Isto é, confiando na sua promessa: “Bem-aventurado quem não se escandaliza por causa de mim” (Mt 11,6).

 

Frutos de bondade -  Dom Paulo Peixoto

O bem praticado por alguém faz bem e ajuda positivamente àqueles que se encontram por perto. Esse foi o anúncio principal de Jesus Cristo ao convocar as pessoas para a construção do Reino de Deus. Para melhor entendimento de seu propósito, usou de parábolas conforme a linguagem própria do tempo. Uma delas é a plantação de uma vinha comparada com os objetivos idealizados do Reino.

A expectativa do vinhateiro é colher uvas saborosas. Mas acontece o contrário, as uvas são amargas. Essa realidade se encaixa perfeitamente na cultura moderna, como vinha que produz maus frutos para a vida do povo. Não se sabe onde está o problema, se na qualidade da semente plantada ou na terra desfavorável, num país de riquezas inconfundíveis, onde parte do povo tem vida amarga.

O Brasil pode ser comparado a uma vinha produtiva, porque é um país privilegiado e com condições favoráveis para fazer uma boa colheita, mas depende do esforço de todos os brasileiros. Existe muita prática de destruição e de pouco zelo pela sua identidade. São gestos frequentes de irresponsabilidade, falta de partilha, de política suja, de desmatamento, de queimadas criminosas etc.

Não faz bem eliminar a esperança da produção de uvas boas. A Nação tem solução, pode ser diferente, porque concentra possibilidades, riquezas naturais e humanas, mas supõe vontade política. A força está nas bases, no meio do povo, nos Municípios, no voto consciente. Vamos votar este ano naqueles que estão mais perto e no meio das comunidades, Vereadores e Prefeitos. 

Os frutos de bondade, atualmente esperados, dependem de uma trajetória coletiva de fidelidade apoiada nos principais valores éticos e morais da atual cultura. Sem honestidade e justiça é quase impossível colher frutos de confiança, porque as coisas não são feitas conforme as exigências de uma boa administração. Quantos frutos amargos acumulados pela grande maioria do povo brasileiro!

A sociedade está repleta de grandes vinhateiros homicidas, que impossibilitam a vida digna de tanta gente. O excesso de riqueza sem o gesto fraterno da partilha acaba desvalorizando a dignidade da pessoa, que às vezes até age com gesto de violência contra o pobre. Na verdade, o importante mesmo é produzir frutos agradáveis para Deus, fundamentados na justiça e no amor ao próximo.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba. 



TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


DOMINGO 27 DURANTE EL AÑO CICLO "A"


Primera lectura (Is 5,1-7)


Al comienzo de este texto, alguien no identificado, expresa en primera persona su intención de cantar el canto de amor de su amigo por su viña (v. 1). Luego refiere muy brevemente la historia de la relación entre su amigo y la viña: la cavó y limpió el terreno, la plantó con cepas escogidas, edificó una torre y excavó un lagar esperando que diera uvas, pero sólo dio frutos agrios (v. 2). A continuación, involucra a los habitantes de Jerusalén y de Judá para que tomen partido haciendo de jueces entre la viña y el amigo; quien ahora aparece en primera persona como dueño de la viña haciendo su descargo resaltando todo lo que hizo en favor de su viña y expresando su dolor por la cosecha frustrada (v. 3-4). Y sin esperar respuesta anuncia una serie de medidas punitivas contra la viña infecunda (vv. 5-6). 

La dificultad en la interpretación está en la identificación de los personajes porque en vv. 1-2 se habla de la viña del amigo mientras que en vv. 3-6 habla el propietario de la viña ("mi viña"). Más allá de esta confusión, en el v. 7 aparece claro que el cantor es el profeta, el amigo es el Señor y la viña Israel.  

En síntesis, la canción de la viña rememora la acción salvadora de Dios en favor de su pueblo y la desazón del Señor ante el mal comportamiento de Israel. A pesar de haber sido amado por el Señor, amor manifestado en gestos concretos de elección y cuidado preferencial, Israel no respondió de acuerdo a las expectativas y los dones del Señor. No dio buenos frutos de justicia, sino frutos agrios de injusticias que se detallan a continuación (cf. Is 5, 8-25) .



Evangelio (Mt 21, 33-46)


Esta narración no es técnicamente una parábola, que sólo tiene un punto de comparación y una enseñanza, sino más bien una alegoría donde cada miembro o personaje de la historia tiene una correspondencia con la realidad . En concreto esta alegoría es una versión libre y ampliada de la canción a la viña de Is 5,1-7 que leímos como primera lectura de hoy. Como bien dice U. Luz: "Jesús narra una historia nueva de la "antigua" viña" . Desde este trasfondo veterotestamentario es claro deducir que el dueño de la viña es Dios; la viña elegida y cuidada es Israel; los arrendatarios o viñadores son los dirigentes religiosos de Israel; los servidores (δούλους) enviados a buscar frutos (καρπός) son los profetas; el hijo del dueño, el heredero enviado como último recurso y asesinado por los viñadores es Jesús mismo; los nuevos arrendatarios serían los judíos creyentes y los gentiles o paganos.

Por tanto, a través de esta alegoría se narra, en síntesis, toda la historia de la salvación desde la donación de la tierra a Israel hasta la muerte de Jesús. 

Con la pregunta “¿qué les parece que hará con aquellos viñadores?" (Mt 21,40) Jesús quiere justificar la decisión de Dios de quitar la viña a los dirigentes religiosos de Israel. Al responder acertadamente, los oyentes - los sumos sacerdotes y fariseos - terminan por condenarse a sí mismos pues, en cierto modo, firman su propia sentencia. Así lo afirma Jesús hacia el final en una especie de sentencia condenatoria: “Por eso les digo que el Reino de Dios les será quitado a ustedes, para ser entregado a un pueblo que le hará producir sus frutos” (Mt 21,43). 

Por tanto, Dios no es injusto si les quita el privilegio de tener la viña, el Reino, y se lo confiere a otro pueblo que de fruto de verdad. A decir verdad, Dios ha tenido una paciencia enorme y en su intento de conseguir los frutos debidos ha enviado dos series de profetas que fueron tratados de manera escandalosa. Desde el primer rechazo y maltrato de los servidores (profetas) por parte de los arrendatarios se justificaba el quitarle la viña y dársela a otros. Pero en vez de esto el dueño, Dios, ha enviado a la viña hasta a su propio Hijo. 

Como era de esperar en Mateo, Jesús apela a una cita bíblica revelando así que todo esto estaba previsto por el Padre. Se trata del Sal 118,22 que habla de una piedra desechada que pasa a ser la piedra angular, esto es "una piedra superior, bien visible y bellamente labrada, en una de las esquinas del edificio" . La tradición cristiana interpretó esta piedra desechada y recuperada en referencia a la pasión y resurrección de Cristo (cf. Mc 8,31; 1Pe 2,4.6-8; Bern 6,2-4). 


En la aplicación a los dirigentes de Israel que hace Jesús al final (21,43: “A ustedes se les quitará…”) añade algo novedoso, no sólo con respecto a Is 5, sino también a la parábola anterior (cf. Mt 21,31) que se refería a la preeminencia de los publicanos y las prostitutas en su ingreso al Reino. Se trata de quitar el Reino de Dios a los dirigentes de Israel como consecuencia de haber desechado la piedra angular – el rechazo y asesinato de Jesús (el “por esto” - διὰ τοῦτο - lo conecta claramente con el v. 42) –; para dárselo a otro pueblo o nación. El término utilizado aquí que se traduce por “pueblo o nación” (e;qnoj) no se identifica sin más ni con los paganos o gentiles (en Mt el término utilizado para ellos está siempre plural y no en singular como aquí) ni con la Iglesia. Según U. Luz  esta indefinición de Mateo sirve para resaltar el segundo aspecto de los nuevos poseedores del Reino de Dios: "que le hará producir sus frutos" y no se referiría entonces a la Iglesia que ocupa el lugar de Israel, sino que es una llamada a aquellos que no pertenecían hasta ahora a Israel para que produzcan frutos. Recordemos que "en Mateo y en otros textos del Nuevo Testamento, «fruto» es una metáfora para expresar el arrepentimiento, la conversión y las acciones que manifiestan tal conversión […] Fruto en Mateo funciona como metáfora para la verdadera conversión. Los frutos que el dueño buscaba eran la conversión como respuesta a la proclamación de Juan y a la enseñanza de Jesús […] Mateo no pretende tanto condenar a los judíos cuanto amonestar a su propia comunidad" .


Notemos que en esta alegoría la cuestión no es el haber dado frutos malos como en Is 5; como tampoco el no haber dado frutos; sino el no haberlos entregado. Esta apropiación de los frutos nos recuerda las advertencias de Moisés al pueblo en el Deuteronomio (cf. Dt 8,11-19) sobre el peligro de la arrogancia que lleva al pueblo de Israel a considerar que por sí mismo ha conquistado la tierra y que los frutos de la misma son el resultado de su propio esfuerzo. Este olvido de Dios y de sus dones son la raíz del pecado para el deuteronomista. A su vez, considero importante remarcar que, a la luz de las tradiciones patriarcales y de la predicación de los profetas, Israel tiene una misión en relación con las demás naciones y, por tanto, al no dar fruto no cumplen con la misma y manchan el nombre santo de Dios y contaminan la tierra santa. Y es por esto también que se dará el Reino a otra nación que haga producir frutos a su debido tiempo.

Al final tenemos la reacción de los interlocutores de Jesús, que aquí son presentados como los “sumos sacerdotes y fariseos”; mientras que al inicio de la parábola anterior eran los “sumos sacerdotes y ancianos del pueblo” (21,23). Los dirigentes de Israel toman conciencia que la parábola estaba dirigida a ellos y buscaron arrestarlo o prenderlo a Jesús, sin saber que con esto terminan por dar cumplimiento a las Escrituras.

En conclusión, en consonancia con toda la teología de Mateo, lo importante para poseer el Reino de Dios no es la pertenencia a un pueblo determinado sino el dar frutos, es decir, cumplir la voluntad del Padre manifestada por Jesús. Este llamado a producir frutos formó parte esencial de la predicación del Bautista (cf. Mt 3,8), incluso con la amenaza de cortar a los que no lo den (cf. Mt 3,10). Es el criterio claro de discernimiento que da Jesús, pues un árbol se conoce por sus frutos (cf. Mt 7,16-20; 12,33). 

Algunas reflexiones:


Una dificultad real a la hora de comentar estas lecturas es que reflejan una situación propia de la primitiva Iglesia que es ajena a nuestras comunidades cristianas. Igualmente, vale el esfuerzo de comprenderla y comunicarla porque a través de la misma descubrimos un aspecto importante de la pedagogía Divina. La historia de la salvación es también nuestra propia historia, están aquí nuestras raíces y no podemos renunciar a ellas. Al mismo tiempo es posible, como veremos, actualizar su mensaje para nosotros hoy.


En primer término, debemos esforzarnos por comprender cuan arraigada estaba en los israelitas la conciencia de ser el pueblo elegido, la viña "mimada" por el Señor. Tal vez pueda ayudarnos a comprender esto el testimonio de Simone Weill (1909-1943), nacida en París, quien era de origen judío y agnóstica. Esta mujer judía llegó a ser una de las pensadoras más brillantes y desconcertantes del siglo pasado. Intelectual antifascista, combatiente en el lado republicano durante la guerra civil española y miembro de la Resistencia francesa, cuyo encuentro con el cristianismo fue tardío y poco convencional. Justamente el Cardenal C. M. Martini se vale del testimonio de vida de Simone Weill para ilustrar la conversión de San Pablo, la cual implicó la aceptación del evangelio que anuncia la apertura de la fe a los paganos. Al respecto dice el Cardenal Martini : "Hay que conocer a los hebreos para sentir con cuanta intensidad, aun hoy, dicen ser hebreos, confiesan su estirpe y su tradición. Es algo que entra en la carne como una segunda naturaleza, un modo de ser irrenunciable. El caso más típico es el de Simone Weil. Ella intuyó de manera profundísima los misterios del Bautismo, de la Eucaristía, de la oración, escribió páginas, tal vez entre las más bellas, sobre la vida cristiana, sobre el trabajo, sobre la contemplación; pero no llegó nunca al Bautismo, porque le parecía que no podía renunciar a ser hebrea. Aunque intuyó profundamente la belleza de la realidad cristiana y moría del deseo de alimentarse de la Eucaristía, en la que veía en realidad la culminación de la historia y de la creación, hasta el final de su vida la bloqueó la plenitud de las cosas que le parecía poseer y la necesidad de solidaridad con su pueblo martirizado".

Este ejemplo nos ayuda a comprender lo chocante que tiene que haberles resultado a los judíos de aquel tiempo el anuncio que hace Jesús de quitarles su condición de privilegio. La mejor prueba de esto es la reacción de los sumos sacerdotes y los fariseos, quienes “al oír estas parábolas, comprendieron que se refería a ellos. Entonces buscaron el modo de detenerlo, pero temían a la multitud, que lo consideraba un profeta” (Mt 21,45-46).


En cuanto al mensaje para nosotros hoy, recordemos que el evangelio del domingo pasado nos invitaba a meditar sobre la posibilidad real de la conversión, del cambio de vida, al cual el Señor nos invita de modo permanente mientras se queda esperando nuestra respuesta sincera.

Hoy el evangelio nos hace meditar sobre el realismo de nuestra conversión; es decir, tenemos que dar frutos, nuestra conversión tiene que manifestarse en un cambio de mentalidad, de vida y de acciones. El evangelista san Mateo acentúa el aspecto moral de la enseñanza de Jesús insistiendo en la necesidad de dar frutos buenos. En la misma línea decía Santa Teresa de Jesús: “obras son amores y no buenas razones”. O San Ignacio de Loyola: "El amor se ha de poner más en las obras que en las palabras". 

Es decir, el Señor nos ha “encomendado” su viña, nos ha dado talentos y gracias que tenemos que hacerlos fructificar. Se nos ha confiado el Reino de Dios, la Presencia de Dios en nuestra vida, hay que cuidar este increíble don para no perderlo. Y lo cuidaremos si recordamos que la mejor manera de no perder lo que tenemos es valorarlo, sobre todo antes de llegar a perderlo. Y, además de valorarlo, hay que dejar que produzca fruto en nosotros, pues para esto se nos ha confiado. Por tanto, no podemos contentarnos con una vida cristiana raquítica, infructuosa, light.

La paciencia que nos tiene el Señor es muy grande y de modo permanente nos llama y nos espera. Pero como nuestra vida cristiana es misión, es necesario que demos frutos para la salvación del mundo. Por eso, en algún momento, podemos llegar a perder todos los dones recibidos del Señor si no los hacemos producir, si no damos frutos de conversión y misión. 

Esto aplica especialmente a los que tienen responsabilidades y cargos en la Iglesia, como decía el Papa Francisco en el ángelus del 4 de octubre de 2020: “Con esta dura parábola, Jesús pone a sus interlocutores frente a su responsabilidad, y lo hace con extrema claridad. Pero no pensemos que esta advertencia valga solamente para los que rechazaron a Jesús en aquella época. Vale para todos los tiempos, incluido el nuestro. También hoy Dios espera los frutos de su viña de aquellos que ha enviado a trabajar en ella. A todos nosotros. En cada época, los que tienen autoridad, cualquier autoridad, incluso en la Iglesia, en el pueblo de Dios pueden sentir la tentación de seguir su propio interés en lugar del de Dios. Y Jesús dice que la verdadera autoridad se cumple cuando se presta servicio, está en servir, no en explotar a los demás. La viña es del Señor, no nuestra. La autoridad es un servicio, y como tal debe ser ejercida, para el bien de todos y para la difusión del Evangelio. Es muy feo cuando en la Iglesia se ve que las personas que tienen autoridad buscan el propio interés”

Por tanto, escuchemos esta advertencia frecuente del Señor a su pueblo Israel, y también para nosotros hoy, sobre el peligro de apropiarnos los dones del Señor, de perder tanto la dimensión del don como de la responsabilidad social que los mismos implican. En este sentido dice el Cardenal A. Vanhoye : “Esta parábola debe ser también para nosotros un aviso contra la actitud posesiva. Todos tenemos responsabilidades: unos a un nivel modesto, otros a un nivel más alto, otros a un nivel altísimo. Mas para todos es decisiva la actitud que asumamos respecto a tales responsabilidades. La tentación que nos acecha es siempre la misma: adoptar una actitud posesiva, diciendo: «Dios me ha dado unos dones; soy su propietario, hago con ellos los que quiero. He recibido un puesto de autoridad, me aprovecho de él en mi propio interés, para acumular dinero, ect.». De este modo, asumimos una actitud posesiva, en vez de ejercer la autoridad en bien de todos. La actitud posesiva está en la base de muchísimos pecados y muchísimas injusticias. Con ella querríamos alcanzar la felicidad, pero, en realidad, no es eso lo que tiene lugar. En efecto, la verdadera felicidad sólo se encuentra en una vida de amor y de servicio. Todos los dones, todos los talentos que Dios nos ha dado y nos da son instrumentos para poder amar y servir a los demás. Si los usamos de una manera egoísta para buscar nuestro propio interés, nos pareceremos a los labradores rebeldes de la parábola. Y las consecuencias serán desastrosas para nosotros, así como para otras muchas personas”.


Dar frutos implica también involucrarse en la evangelización, anunciar a los demás las maravillas del Reino. Sobre el tema de “dar frutos” o “fructificar” nos dice el Papa Francisco:


“La evangelización tiene mucho de paciencia, y evita maltratar límites. Fiel al don del Señor, también sabe «fructificar». La comunidad evangelizadora siempre está atenta a los frutos, porque el Señor la quiere fecunda. Cuida el trigo y no pierde la paz por la cizaña. El sembrador, cuando ve despuntar la cizaña en medio del trigo, no tiene reacciones quejosas ni alarmistas. Encuentra la manera de que la Palabra se encarne en una situación concreta y dé frutos de vida nueva, aunque en apariencia sean imperfectos o inacabados. El discípulo sabe dar la vida entera y jugarla hasta el martirio como testimonio de Jesucristo, pero su sueño no es llenarse de enemigos, sino que la Palabra sea acogida y manifieste su potencia liberadora y renovadora” (EG 24).


“A través de todas sus actividades, la parroquia alienta y forma a sus miembros para que sean agentes de evangelización. Es comunidad de comunidades, santuario donde los sedientos van a beber para seguir caminando, y centro de constante envío misionero. Pero tenemos que reconocer que el llamado a la revisión y renovación de las parroquias todavía no ha dado suficientes frutos en orden a que estén todavía más cerca de la gente, que sean ámbitos de viva comunión y participación, y se orienten completamente a la misión” (EG 28).


En fin, recemos para que cuando el Señor nos visite podamos dejar en sus manos todos nuestros frutos, reconociendo que sólo somos fieles administradores de sus dones. Nos ha dado y nos da tanto, que le debemos algunos frutos de conversión, frutos de obras de misericordia y frutos de evangelización.

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Viñador de viñadores


Viñador de viñadores

De fértiles tierras y débiles trabajadores

Sembramos poco, sin cavar hondo

Y escasa el agua que llega al fondo


Apenas reverdece el terreno

Y pronto se vuelve estéril, opaco

Preso de alimañas y yuyos malos


Falta la plegaria de aquellos antepasados

Confiados en ti tiraban del arado,

Rogaban por la lluvia

Y no eran defraudados


Y cuando las primeras hojas asomaban

Como notas de una melodía

De puro gozo y alegría

Agradecidos alzaban los brazos


No te apenes Viñador de viñadores

No te hemos olvidado, 

Estamos dormidos por el ruido y el espanto


Viñador de viñadores

De fértiles tierras y débiles trabajadores

El Reino demanda trabajo y sudores

¡Envíanos tu espíritu Santo, no te demores! Amén.