4º DOM. TP-B

4ºDOMINGO DA PÁSCOA-ANO B

DOMINGO DO BOM PASTOR-

21/04/2024

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


Primeira Leitura: Atos 4,8-12

Salmo Responsorial: 117(118)-R- A pedra que os pedreiros rejeitaram, tornou-se, agora, a pedra angular.  

Segunda Leitura: 1 João 3,1-2

Evangelho: João 10,11-18

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12    O assalariado, que não é pastor e a quem as ovelhas não pertencem, vê o lobo chegar e foge; e o lobo as ataca e as dispersa. 13          Por ser apenas um assalariado, ele não se importa com as ovelhas. 14      Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, 15        assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. 16 Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste redil; também a essas devo conduzir, e elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17      É por isso que o Pai me ama: porque dou a minha vida. E assim, eu a recebo de novo. 18  Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade. Eu tenho poder de dá-la, como tenho poder de recebê-la de novo. Tal é o encargo que recebi do meu Pai”.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP

Jo 10,11-18

Nós estamos muito longe da vida e da cultura rural e pastoril. Vivemos na cidade, entre prédios, asfalto, veículos automotivos. É preciso levar em conta essa distância da vida rural para contemplar o nosso Bom pastor. Ainda que nunca tenhamos visto o pastor e suas ovelhas, é possível meditar o evangelho do Bom pastor, pois mais importante do que a imagem e o próprio Jesus na sua relação conosco.

Jesus se apresenta como o bom pastor em oposição aos mercenários. Ele é o bom pastor porque Ele entregou a sua vida para a nossa salvação. A relação de cuidado e de dedicação pessoal até o sacrifício de si mesmo é o mistério que se revela na imagem do pastor.

O mercenário é aquele que cuida só de si mesmo e só pensa nas ovelhas a partir dos interesses pessoais. Jesus é o bom pastor em contraposição aos mercenários porque ama e dá a vida por amor.

O Evangelho de hoje é um convite a assumirmos o comportamento do pastor e não o do mercenário. 

Por exemplo, diante da obra prima da Pietà posso ter o olhar do mercenário, quando vejo somente a sua estética e o seu valor comercial. Posso ter outro olhar, quando me pergunto sobre quanta paixão tinha Michelangelo por Maria ao esculpir aquela imagem. Que beleza e quanto amor ele nos transmite através da sua obra.

O olhar do pastor vê uma criança e enxerga a beleza que ela traz dentro de si, a esperança que carrega em si, se preocupa pela sua proteção e educação, para que não caia no mundo da criminalidade. Mesmo infrator, o olhar de pastor enxerga nela o sofrimento de seus pais, se entristece com a desestruturação da sua família, se angustia pela dor de uma vida ameaçada de perdição.

O olhar do bom pastor nunca vai acreditar que uma pessoa não tem remédio. Sabe que sempre existirá um resquício de luz e vai procurar a beleza ainda presente no coração.

A figura do Bom Pastor é para nós um consolo: somos desejados e amados por Ele. Ao mesmo tempo essa alegria deve despertar o esforço em não trair o Bom Pastor. 

Com efeito, o Bom Pastor indica que as “minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas em seguem”. Reconheçamos a voz do Pastor. Não sigamos outros maus pastores e mercenários. Não nos deixemos enganar por tantas solicitações para o mal e o engano.



Vá conosco -  José Antonio Pagola


4° DomQuaresma – Jo 10,11-18-Ano B- 21-04-2024


O símbolo de Jesus como bom pastor produz hoje um certo aborrecimento em alguns cristãos. Não queremos ser tratados como ovelhas num rebanho. Não precisamos de ninguém para governar e controlar nossas vidas. Queremos ser respeitados. Não precisamos de nenhum pastor.

Os primeiros cristãos não se sentiam assim. A figura de Jesus, o bom pastor, logo se tornou a imagem mais querida dele. Já nas catacumbas de Roma ele é representado carregando nos ombros a ovelha perdida. Ninguém pensa em Jesus como um pastor autoritário, dedicado a monitorar e controlar os seus seguidores, mas como um bom pastor que cuida das suas ovelhas.

O “bom pastor” cuida das suas ovelhas. É sua primeira característica. Ele nunca as abandona. Ele não os esquece. Dá-lhes atenção. Ele está sempre atento aos mais fracos ou doentes. Não é como o pastor mercenário que, ao ver o perigo, foge para salvar a vida, abandonando o rebanho.

Jesus deixou uma memória indelével. As histórias evangélicas descrevem-no como preocupado com os doentes, os marginalizados, os pequenos, os mais indefesos e esquecidos, os mais perdidos. Ele não parece se importar consigo mesmo. Ele sempre é visto pensando nos outros. Ele se preocupa acima de tudo com os mais desamparados.

Um amor sem limites. Mas há algo mais. “O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas”. É a segunda característica. O evangelho de João repete esta linguagem até cinco vezes. O amor de Jesus pelas pessoas não tem limites. Ele ama os outros mais do que a si mesmo. Ele ama a todos com o amor de um bom pastor, que não foge do perigo, mas dá a vida para salvar o rebanho.

Por isso, a imagem de Jesus, o “bom pastor”, logo se tornou uma mensagem de conforto e confiança para os seus seguidores. Os cristãos aprenderam a se dirigir a Jesus com palavras retiradas do Salmo 22: O Senhor é meu pastor, nada me faltará... ainda que eu caminhe por vales tenebrosos, não temerei mal algum, pois tu estás comigo... Tua bondade e tua misericórdia me acompanharão todos os dias da minha vida.

Os cristãos muitas vezes vivem um relacionamento muito pobre com Jesus. Precisamos conhecer uma experiência mais viva e cativante. Não acreditamos que ele se importa conosco. Esquecemos que podemos recorrer a ele quando nos sentimos cansados e sem forças, ou perdidos e desorientados.

Uma Igreja formada por cristãos que se relacionam com um Jesus pouco conhecido, confessado apenas doutrinariamente, um Jesus distante cuja voz não é bem ouvida nas comunidades... corre o risco de esquecer o seu Pastor. Mas quem cuidará da Igreja senão o seu Pastor?




Bom pastor: amigo das pessoas, não guardião de gado - Adroaldo Palaoro


“Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem” (Jo 10,14)


A liturgia do quarto domingo de Páscoa sempre celebra a imagem do Ressuscitado como “Bom Pastor”.

Terminados os relatos de Aparições do Ressuscitado, continuamos com textos pascais que nos falam de “dar a Vida”; a experiência pascal é que Jesus nos comunica Vida. Nós temos a possibilidade de fazer nossa essa Vida; trata-se da Vida mesma de Deus, que é a chave do tempo pascal. João não nos fala de uma vida para o mais além, mas de uma Vida que deve ser vivida como ressuscitada, aqui e agora.

Para a grande maioria de nossos contemporâneos, a imagem do “pastor” se revela anacrônica, provocando alergia em muitos. Em primeiro lugar, porque nos encontramos muito distantes daquela cultura agrícola e pecuarista na qual nasceu esta imagem; por outro, porque resistimos às imagens que se movem em chave de poder/submissão e que arrastam, com frequência, uma história de dominação.

Concretamente, a imagem do pastor evoca, por si mesma, a da “ovelha” e do “rebanho”. E o contraste entre ambas faz aflorar na consciência de muitos a contraposição entre autoritarismo, por um lado, e submissão e alienação, por outro. Sem dúvida, a imagem do “pastor”, bem como a do guru ou do mestre, muitas vezes serve de pretexto para justificar abusos de diversos tipos, todos eles baseados no “poder religioso” que aquelas mesmas imagens conferem.

Não é “pastor” quem procura domesticar, manipular e dominar as “ovelhas”, mas quem “conhece pessoas”. Biblicamente falando, “conhecer” é criar relações de amor entre pessoas, no sentido amplo; assim se diz que homem e mulher se “conhecem” quando se amam; assim se “conhecem” filhos e pais, amigos, companheiros... O bom pastor não só “conhece” as ovelhas, mas também “é conhecido” por elas.

“Bom pastor” é o que cria relações de solidariedade com seus amigos e amigas; não os utiliza em favor próprio, não está acima deles(as), mas que os(as) ama e se deixa amar por eles(as); reconstrói os laços de liberdade solidária e comunhão, em vida e até na morte. O “pastor” verdadeiro não manipula consciências, não alimenta medo e nem cria dependências; pelo contrário, o pastor tem “autoridade” no sentido de ativar a autonomia e a autoria de quem o segue. Por isso, os seguidores e seguidoras de Jesus não são “servos(as)”, mas “amigos” do Bom Pastor e amigos uns dos outros.

A imagem de “ovelhas e pastor” deve ser usada com cuidado, porque pode justificar a existência de duas categorias na Igreja: quem manda e quem obedece.

Na Comunidade d’Aquele que disse que “quem quiser ser o primeiro que seja o último e o servidor de todos”, todos somos “pastores” de todos, todos somos responsáveis e todos podemos contribuir com nossos dons. Não se nega a função de coordenação ou de liderança. O que se nega é a sacralização do “poder religioso” em nome de Deus e que tem alimentado uma submissão doentia.

Esta alegoria do “Jesus Pastor” apresenta três características ou elementos principais:

- Pastor é Aquele que se esvazia de sua condição divina e se faz servidor de seus irmãos e irmãs; não vive para aproveitar-se deles(as), mas para acompanhá-los e ajudá-los.

- A essência mais profunda de todo pastor é o conhecimento: Jesus é verdadeiro pastor porque “conhece” às ovelhas, dialogando com elas em intimidade de coração.

- Pastor é quem “dá a vida”. Não se aproveita das “ovelhas”, vive para elas, em gesto de conhecimento e de entrega, em comunhão de vida.

Jesus sempre se revelou como “Pastor” desprovido de poder, de prestígio, de manipulação das consciências.

Sua identidade de “pastor” esteve centrada na arte do cuidado que é gesto amoroso para com o outro, gesto que protege e traz serenidade; o “cuidado” é sempre uma atitude de benevolência d’aquele que quer estar junto, acompanhar e proteger. Jesus, como Bom Pastor, sempre se revelou como um “Ser de cuidado”, pura transparência do Pai cuidador e providente.

Cuidar é entrar em sintonia com... Disso emerge a dimensão de alteridade, de respeito, de sacralidade...

Cuidar é envolver-se com o outro, mostrando zelo e preocupação.

Quer conhecer o outro com o coração e não com a cabeça. O cuidado abre caminho para viver, com mais intensidade, a própria humanidade. E viver “humanamente” significa viver em vulnerabilidade.

Quem não aceita a própria vulnerabilidade e interdependência não desenvolve atitudes de cuidado. Quem não aceita ser cuidado, também não está disposto a cuidar dos outros. Somos educados para sermos “super-homens” ou “supermulheres”; aprendemos a não admitir e a não aceitar o limite, a vulnerabilidade, o fracasso... O ser humano é finito, portanto, vulnerável. Ele não se basta a si mesmo; necessita de relações com o seu meio, com os seus semelhantes e com o Transcendente, dando sentido à sua existência.

Cuidar do outro significa, antes de tudo, velar por sua autonomia; significa ativar a capacidade de dar direção à sua própria vida. O exercício de cuidar não deve ser visto como uma forma de imposição sobre o outro, e menos ainda como um modo de exercer um controle, atrofiando a autonomia e a liberdade do outro. Pelo contrário, quando alguém se dispõe a cuidar compassivamente o outro, faz todo o possível para que esse outro possa viver e expressar-se conforme determina seu coração, mesmo quando isto não coincide necessariamente com a intenção do cuidador.

A identidade do verdadeiro pastor está na capacidade de “dar a vida”, como equivalente de um amor que não tem medida. No extremo oposto da voracidade egoica, que vê os outros e as coisas como objetos com os quais saciar o próprio vazio, o amor de quem transcendeu seu “eu” não busca outra coisa senão oferecendo, doando a vida, dia a dia.

À medida que o(a) seguidor(a) de Jesus vive como “ressuscitado”, sua vida se torna Vida maior e, assim, estará disposto(a) a “gastar” a vida em função dos outros. Esta Vida é um “movimento a partir de dentro”, ou seja, sair de si mesmo para ir ao encontro dos outros e potenciar suas vidas; tal movimento, que tem sua origem na mesma Vida do Ressuscitado, mobiliza o que há de “melhor” em cada um para que viva de maneira mais oblativa e comprometida no cuidado para com todos.

A partir desta perspectiva, podemos reconhecer a Jesus Ressuscitado como o “espelho” daquilo que já somos. Ele vive o que é na sua essência, e isso faz com que se desperte em nós o que somos, numa identidade compartilhada.

Todos somos pastores, mestres e discípulos. Todos nos encontramos em um processo de aprendizagem. Podemos, sem dúvida, reconhecer as pessoas que nos ajudaram e que despertaram o melhor de nós mesmos. Mas não foi porque se impuseram e se empenharam em conduzir nosso caminho, mas porque, sendo humildes e transparentes, nos remeteram ao nosso próprio “pastor e mestre interior”.

Não precisamos de pastores nem gurus, mas companheiros(as) de caminho, acompanhantes lúcidos e humildes, compartilhando aquilo que cada um nos proporciona experimentar.

Para meditar na oração:

Abrir espaço interior para que a Graça des-vele seu próprio interior: quem predomina aí dentro? O pastor cuidadoso ou o lobo voraz?

- Fazer memória do seu nobre “ministério do pastoreio”: na sua família, comunidade, ambiente de trabalho, relações sociais...



Jo 10,1-18 - Jesus é o Bom Pastor - Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.

Situando

Jesus é o Bom Pastor que veio para que todas as pessoas tenham vida em abundância. O discurso sobre o Bom Pastor traz três comparações ligadas entre si: Jesus fala do pastor e dos assaltantes (Jo 10,1-5); Jesus é a porteira das ovelhas (Jo 10,6-10); Jesus é o Bom Pastor (Jo 10,11-18).

Temos aqui um belo exemplo de como o Evangelho segundo João foi escrito. O discurso de Jesus sobre o Bom Pastor (Jo 10, 1-18) é como um tijolo inserido numa parede já pronta. Com ele a parede ficou mais forte e mais bonita. Imediatamente antes, em Jo 9,40-41, João falava da cegueira dos fariseus. A conclusão natural desta discussão sobre a cegueira está logo depois, em Jo 10,19-21. Ora, o discurso sobre o Bom Pastor foi inserido aqui, porque, como veremos, ensina como tirar esse tipo de cegueira dos fariseus.

Comentando

Jo 10,1-5: 1ª comparação: entrar pela porteira e não por outro lugar

Jesus inicia o discurso com a comparação da porteira: “Quem não entra pela porteira, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. Quem entra pela porteira é o pastor das ovelhas.” 

Naquele tempo, os pastores cuidavam do rebanho durante o dia. Quando chegava a noite, levavam as ovelhas para um grande redil ou curral comunitário, bem protegido contra ladrões e lobos. Todos os pastores de uma mesma região levavam para lá o seu rebanho. Um porteiro tomava conta de tudo durante a noite. No dia seguinte, de manhã cedo, cada pastor chegava, batia palmas na porteira e o porteiro abria. O pastor entrava e chamava as ovelhas pelo nome. As ovelhas reconheciam a voz do seu pastor, levantavam e saiam atrás dele para a pastagem. As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas elas não se mexiam, pois era uma voz estranha para elas. De vez em quando, aparecia o perigo de assalto. Ladrões entravam por um atalho ou derrubavam a cerca do redil, feita de pedras amontoadas, para roubar as ovelhas. Eles não entravam pela porteira, pois lá havia o guarda que tomava conta.

Jo 10,6-10: 2ª comparação: Jesus é a porteira

Os ouvintes, os fariseus (Jo 9,40-41), não entenderam o que significava “entrar pela porteira”. Jesus então explicou: “Eu sou a porteira das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes”. 

De quem Jesus está falando nesta frase tão dura?

Provavelmente, se referia a líderes religiosos que arrastavam o povo atrás de si, mas que não respondiam às esperanças do povo. Não estavam interessados no bem do povo, mas sim no próprio bolso e nos próprios interesses. Enganavam o povo e o deixavam na pior. Entrar pela porteira é o mesmo que agir como Jesus agia. O critério básico para discernir quem é pastor e quem é assaltante é a defesa da vida das ovelhas. Jesus pede para o povo não seguir as pessoas que se apresentam como pastor, mas não buscam a vida do povo. É aqui que ele disse aquela frase que até hoje cantamos: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” Este é o critério!

Jo 10,11-15: 3ª comparação: Jesus é o bom pastor

Jesus muda a comparação. Antes, ele era a porteira das ovelhas. Agora, é o pastor das ovelhas. Todo mundo sabia o que era um pastor e como ele vivia e trabalhava. Jesus, porém, não é um pastor qualquer, mas sim o bom pastor! A imagem do bom pastor vem do AT. Dizendo que é o Bom Pastor, Jesus coloca em prática as esperanças da profecia e que são as esperanças do povo. Vejam, por exemplo, a belíssima profecia de Ezequiel (Ez 34,11-16). Há dois pontos em que Jesus insiste: (1) Na defesa da vida das ovelhas: o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas; (2) No mútuo reconhecimento entre pastor e ovelhas: o Pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem o pastor. Jesus diz que, no povo, há uma percepção para saber quem é o bom pastor. Era isto que os fariseus não aceitavam. Eles desprezavam as ovelhas e as chamavam de povo maldito e ignorante (Jo 7,49; 9,34). Eles pensavam ter o olhar certo para discernir as coisas de Deus. Na realidade, eram cegos.

O discurso sobre o Bom Pastor ensina duas regras como curar este tipo bastante frequente de cegueira: (1) Prestar muita atenção na reação das ovelhas, pois elas reconhecem a voz do pastor; (2) Prestar muita atenção na atitude de quem se diz pastor, a fim de ver se o seu interesse é a vida das ovelhas e se é capaz de dar a vida por elas.

Certa vez, na festa de posse de um novo bispo, as “ovelhas” colocaram uma faixa na porta da igreja que dizia: “As ovelhas não conhecem o pastor”. As “ovelhas” não foram consultadas. Foi uma advertência séria para quem nomeia os bispos.

Jo 10,16-18: A meta de Jesus: um só rebanho e um só pastor

Jesus abre o horizonte e diz que há outras ovelhas que não são deste redil. Elas ainda não ouviram a voz de Jesus, mas quando a ouvirem, vão perceber que ele é o pastor e vão segui-lo. É a dimensão ecumênica universal.

Alargando

A Imagem do Pastor na Bíblia

Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecemos a imagem do motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as pastagens (Jr 2,8; 10,21; 23,1-2). Esta crítica aos maus pastores foi crescendo na mesma medida em que, por responsabilidade dos reis, o povo acabou sendo levado para o cativeiro (Ez 34,1-10; Zc 11,4-17).

Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo, que é o próprio Deus: “O Senhor é meu pastor e nada me falta” (Sl 23,1-6; Gn 48,15). Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor para guiar o seu rebanho (Is 40,11; Ez 34,11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: “Oxalá, ouvísseis hoje a sua voz!” (Sl 95,7). Esperam que Deus venha como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas do rebanho (Ez 34,17). Surgem o desejo e a esperança de que, um dia, Deus suscite bons pastores e que o messias seja um bom pastor para o seu povo (Jr 3,15; 23,4).

Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom Pastor, diferente dos assaltantes que roubaram o povo ontem e o seguem roubando. Ele se apresenta também como o Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe separar as ovelhas dos cabritos, isto é, os justos dos injustos (Mt 25,31-46). Jesus realiza a esperança do profeta Zacarias. Ele diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que ele faz: “Vão bater no pastor e as ovelhas se dispersarão” (Zc 13,7).

No fim, Jesus é tudo: é a porteira, é o pastor e é o cordeiro!



A vida do pastor: as suas ovelhas - Ana Maria Casarotti


Hoje celebramos o Domingo do Bom Pastor. A leitura que a liturgia nos oferece no Evangelho de João é um texto que descreve a figura de um pastor e o vínculo de amor que ele tem com cada uma de suas ovelhas, seu cuidado e defesa de cada uma no caso de ser necessário, o conhecimento que ele tem de cada uma e o profundo anseio por outras ovelhas que, embora não sejam de seu aprisco, ele as ama igualmente e quer cuidar delas com o mesmo carinho.

Nós nos concentramos na figura do pastor. Em nossa sociedade ocidental e industrializada, em que a vida transcorre em meio a grandes edifícios habitados por pessoas que não se conhecem, com sons constantes e variados, meios de transporte que transportam passageiros que buscam chegar ao trabalho para descansar no fim da tarde, a imagem de um pastor e suas ovelhas nos remete a pinturas, vídeos ou outros espaços pertencentes a outras culturas. Um pastor geralmente não faz parte de nossa vida cotidiana. Se o texto falasse de outras figuras, como um professor e seus alunos, ou um proprietário e seus funcionários em uma loja, ou um hotel e seus hóspedes, talvez estivesse mais próximo de nós. Mas Jesus usa a imagem do pastor. E isso nos leva a perguntar: quem eram os pastores na época de Jesus? Como eles viviam? O que significa cuidar de cada uma das ovelhas, como Jesus diz no texto?

O pastor era uma pessoa itinerante, que não possuía grandes bens, sendo sua riqueza as ovelhas que ele cuidava com carinho e ternura. Podemos pensar em alguém simples, que conhece a terra onde suas ovelhas pastam, sabe onde estão as nascentes ou pequenas fontes de água para dar de beber ao seu rebanho. Ele está atento aos vários sons do campo, dos animais, para distinguir aqueles que podem ser perigosos para seu pequeno rebanho. Sua vida e suas ações acontecem no mesmo lugar que a de suas ovelhas: os pastos com muita ou pouca grama, o dia e a noite que ele conhece muito bem para cuidar, abrigar e proteger seu rebanho. É uma pessoa cuja vida se desenvolve "de acordo com cada uma de suas ovelhas", e por elas se sacrifica, dorme pouco, está atento tanto de dia quanto de noite para que nenhuma delas se perca, nem sofra com os possíveis acidentes do terreno onde as leva para pastar.

Atrevo-me a fazer uma analogia, embora possa ser polêmica, sobre o que esse vínculo pessoal implica com o cuidado e a relação que temos hoje com os animais e com os cães em geral. Se nos concentrarmos exclusivamente no vínculo, saberemos que há um tratamento amoroso, um cuidado que envolve preocupação e conhecimento mútuos, cada um tem seu próprio nome e é diferente. Eles podem compartilhar a mesma raça, mas isso não os torna iguais, pelo contrário, muitas vezes é motivo de diálogo entre as pessoas que "têm" ou cuidam de cães dessa raça. Envolve um vínculo especial com tempo e dedicação, você deve preparar o local onde ele vai ficar, passear, correr e dormir. Quem cuida ou se preocupa com esse cão organiza o dia de acordo com suas necessidades e isso implica dedicação, atenção e há afeto, amor e é um relacionamento que cresce com o tempo.

Mantendo as diferenças em mente, podemos nos aproximar para entender um pouco mais sobre o relacionamento de um pastor com cada ovelha. Ele envolve uma familiaridade, uma vida compartilhada e uma maneira original de lidar com cada uma delas e com as outras que também fazem parte do rebanho. Há preocupação com o alimento e com os lugares onde há pasto abundante. Ele está atento ao clima para não submeter suas ovelhas a longas caminhadas ao sol ou a possíveis tempestades. Ele está equipado com tudo o que é necessário para o cuidado e a proteção de seu rebanho.

Na história do cristianismo, a imagem do pastor foi desfigurada ao ser identificada com o proprietário, com o instrutor, com aquele que impõe suas ideias ao outro, aquele que já conhece o caminho, alguém que tem certo poder sobre suas ovelhas. Se fosse esse o caso, Jesus teria usado outra figura: um administrador, o dono de uma casa ou de uma terra... No entanto, ele escolheu a imagem simples de um pastor que ama, cuida e zela por cada uma de suas ovelhas.

Por isso é preciso desconstruir a identificação do pastor com uma determinada posição hierárquica, ou daquele que está à frente de uma comunidade, para nos aproximarmos da proposta de Jesus: o pastor pobre e simples que não tem nada e, no entanto, tem tudo: seu pequeno e amado rebanho. Jesus deixa claro que ele não é um empregado, porque elas são "suas ovelhas" e enfatiza a capacidade do pastor de dar a vida por cada uma delas. Se a mantivermos identificada com uma vocação específica, ou com quem estiver em um púlpito e pregar, perderemos a riqueza que Jesus nos propõe. Lembremo-nos das palavras frequentemente citadas do Papa Francisco: pastores com cheiro de ovelhas. Embora ele tenha dito isso em uma reunião de padres, essa frase pode ser aplicada a todas as pessoas em seu relacionamento com os outros. Ser pastor não é um diploma que se recebe, mas um vínculo que se constrói progressivamente, um relacionamento que é mútuo e no qual o amor e o conhecimento mútuo se encontram.

Neste domingo, pedimos a Jesus, o Bom Pastor, que nos ensine a estar perto de nossos irmãos e irmãs seguindo o exemplo de Jesus. Façamos nossas as palavras do Papa Francisco: “Um Deus que se faz próximo por amor, caminha com seu povo e este caminhar chega a um ponto que é inimaginável. É impensável que o próprio Senhor se faça um de nós e caminhe conosco, permaneça conosco, permaneça em sua Igreja, permaneça na Eucaristia, permaneça em sua Palavra, permaneça nos pobres, permaneça conosco caminhando. E esta é a proximidade: o Pastor próximo a suas ovelhas, que conhece uma a uma” (cf. Francisco, O Senhor conhece a bela ciência das carícias).



 TEXTO DE DOM DAMIAN NANNINI, ARGENTINA

Traduzido do espanhol pelo tradutor Google, sem revisão nossa

D. Damian Nannini, Argentina. 


QUARTO DOMINGO DO CICLO DE PÁSCOA “B”


 Primeira leitura (Hb 4,8-12): 


         Este discurso de Pedro tem como público “os chefes dos judeus, os anciãos e os escribas, com Anás, o sumo sacerdote, Caifás, João, Alexandre e todos os membros das famílias dos sumos sacerdotes” (Hb 4:5). -6). Estes se reuniram em Jerusalém e fizeram aparecer Pedro e João para a cura do paralítico e para a pregação da Ressurreição de Jesus. Então eles perguntam: “Com que poder ou em nome de quem vocês fizeram isso?” (Hb 4,7). Pedro toma a palavra e, cheio do Espírito Santo, pronuncia o discurso que temos como primeira leitura deste domingo.


         Como diz J. Roloff[1]: “O breve discurso de Pedro retorna aos temas de 3:12-26, mas de forma mais concisa. Como no discurso anterior, a cura do paralítico, como prova do poder do nome de Jesus, é o ponto de partida para o desenvolvimento do esquema antitético." Este autor com “esquema antitético” refere-se ao contraste entre a ação dos judeus que rejeitaram Jesus e a ação de Deus que o ressuscitou e deu poder ao seu Nome. Com efeito, Pedro mais uma vez deixa claro que a cura se deve ao “Nome de Jesus Cristo de Nazaré”, respondendo assim à pergunta das autoridades judaicas. Segue-se então o contraste entre a crucificação, a obra dos judeus, e a ressurreição, a obra de Deus. Ora, esses acontecimentos já foram anunciados nas Escrituras e, como prova, cita-se o Salmo 118:22, que é o salmo responsorial deste domingo. Este salmo, que faz parte do grande Halel (salmos recitados no final da refeição pascal), no seu sentido literal primário é o louvor a Deus por um israelita piedoso por uma intervenção salvadora inesperada em seu favor. O versículo citado refere-se à “pedra angular”, que se refere à primeira pedra do fundamento sobre a qual assenta todo o edifício (cf. Is 28,16). Aplicado a Jesus significa que os judeus, os construtores, rejeitaram uma pedra que mais tarde, pela intervenção de Deus, se tornou a pedra angular, o fundamento sobre o qual assenta a fé da Igreja.


         O discurso termina com uma solene profissão de fé no Nome de Jesus, único caminho de salvação para os homens.


Em suma, o discurso de Pedro tende a mostrar que, em virtude da sua ressurreição, Jesus tem o único nome pelo qual todos devem ser salvos.


 Segunda leitura (1Jo 3,1-2): 


         Estes versículos procuram deixar claro que a filiação divina é fruto do amor do Pai, que nos concede o poder de nos chamarmos seus filhos; e que realmente somos. O texto grego de 3:1 denota algo que algumas traduções não refletem bem, pois diz literalmente: “Vejam que grande amor o Pai nos deu (didōmi)”. Portanto, é claro que a filiação é um dom do amor do Pai. Como diz J. Casabó[2]: “Há uma nova relação com Deus; como aquela criada pela natureza entre um pai e o filho que ele gerou. Mas em e por meio de Cristo, implicando nele uma filiação original e distinta”. Por outro lado, notemos que para designar a condição filial dos crentes, utiliza-se o termo grego no plural técna, “meninos, filhos”, enquanto o uso do substantivo singular hyiós, “filho”, é reservado quando aplicado para Jesus.


         E assim como o mundo, no sentido de “um conjunto de forças opostas e hostis a Deus, o “lugar” espiritual da rejeição de Deus e do seu amor, que se configura na rejeição de Cristo”[3], não pode conhecer o amor de Deus, entra em comunhão com Ele, nem reconhece os filhos de Deus.


         Ora, este dom salvífico, a participação na filiação divina de Jesus, é algo atual, real e presente na vida do crente, mas ainda não completo. Somente na parusia terá a sua manifestação definitiva e gloriosa. Segundo as categorias da carta, no presente a filiação divina é vivida interiormente e pela fé; Na parusia haverá a manifestação externa e visível daquilo que já somos; e a fé deixará espaço para a visão de Deus.


 Evangelho (Jo 10,11-18): 


         A dupla apresentação que Jesus faz de si mesmo dizendo “Eu sou o bom pastor” (Ἐγώ εἰμι ὁ ποιμὴν ὁ καλός em Jo 10,11.14); permite que esta parte do discurso do capítulo 10 de São João seja dividida em duas: vv. 11-13 e vv. 14-18.


         Lembremos que a imagem do pastor era comum no antigo Oriente, onde os reis se designavam como pastores do seu povo. Isto também aconteceu em Israel, com a particularidade de Moisés e David, antes de serem chamados a tornarem-se os maiores líderes e guias do povo de Deus, terem sido especificamente pastores de rebanhos. Mais tarde, perante o fracasso dos pastores de Israel, isto é, dos líderes políticos e religiosos, o profeta Ezequiel anuncia que o próprio Deus será o Pastor do seu povo: «Como o pastor cuida do seu rebanho (...), assim Cuidarei das minhas ovelhas. Reuni-las-ei de todos os lugares onde foram espalhadas num dia de nuvens e névoas” (Ez 34, 12). No evangelho de João vemos que Jesus se apresenta como o bom Pastor em quem o próprio Deus cuida das suas ovelhas, reunindo os seres humanos e conduzindo-os ao verdadeiro pasto. 


Quanto ao significado da expressão “Bom Pastor” (poimēn kalós) L. Rivas[4] insiste que a tradução correta seria “verdadeiro pastor” ou “pastor autêntico”. Em particular, baseia-se no contexto do discurso onde a atitude de Jesus é contrastada com a dos “ladrões e salteadores” por um lado; e com os “funcionários”, por outro.


         Em Jo 10,11-13 Jesus expõe a sua primeira característica de Pastor que o qualifica como verdadeiro ou autêntico: “O bom pastor dá a vida pelas ovelhas”.


A expressão grega "Por ou expor a vida pela VIDA" (τὴν ψυχὴν αὐτοῦ τίθησιν ὑπὲρ τῶν προβάτων) significa que o pastor autêntico está disposto a morrer pelas ovelhas. Em Jo 13,37-38 encontramos isso na boca de Pedro disposto a dar a vida por Jesus. Em Jo 15,13 como expressão do amor supremo: a entrega da vida pelos amigos. Refere-se, portanto, a uma atitude de martírio própria do pastor autêntico e que se repete quatro vezes neste discurso (10,11.15.17.18).


Esta ação/atitude de Jesus, bom Pastor, é então contrastada com as ações/atitudes do “homem contratado” (μισθωτὸς). Este último termo refere-se a alguém que trabalha por um salário, não sendo o dono do “negócio”. No NT só aparece novamente para se referir aos “trabalhadores” que trabalhavam como pescadores para Zebedeu, pai de Tiago e João (cf. Marcos 1:20). Em suma, enquanto o autêntico pastor dá a vida pelas ovelhas porque as considera suas; O mercenário, que não é pastor e a quem as ovelhas não pertencem, diante do perigo as abandona e foge, não se importa com elas.


         Em 10,14 a segunda parte começa com uma nova autoapresentação de Jesus e com a descrição da segunda característica do pastor autêntico: o conhecimento recíproco entre o pastor e as suas ovelhas. No evangelho de João, o conhecimento é “comunhão de vida”; portanto «este conhecimento entre Jesus e os seus discípulos vai muito além do simples conhecimento racional. É presença íntima de um no outro, compreensão e confiança mútuas, comunhão de coração e pensamento; É penetração total do amor, pois se baseia numa comunhão de vida e numa solidariedade de interesses entre o pastor e o seu rebanho”[5]. Além disso, a comunhão de conhecimento entre o pastor e as suas ovelhas é comparada à comunhão de conhecimento que existe entre o Pai e o Filho. E esta comparação pode ser entendida como causa-efeito ou derivação, se dermos à conjunção kathós uma nuance causal (porque em vez de como), como sugere L. Rivas[6]: “A forma como o Pai conhece Jesus não o faz. não é apenas um modelo, mas também a causa do amor de Jesus pelos crentes. Existe uma relação entre o conhecimento que o Pai tem de Jesus e o ato pelo qual Jesus dá a vida por aqueles que crêem.


         Entre estas duas características distintivas do bom pastor, dar a vida pelas ovelhas e ter com elas um vínculo de conhecimento-comunhão, existe uma estreita relação. O vínculo de conhecimento gera um “pertencimento” das ovelhas ao autêntico pastor, e esse conhecimento ou pertencimento mútuo é o que motiva a sua entrega. A este respeito, J. Ratzinger[7] diz: «O pastor conhece as ovelhas porque lhe pertencem, e elas o conhecem precisamente porque são suas. Conhecer e pertencer (no texto grego, ser “próprio”: taídia ) são basicamente a mesma coisa." Portanto, «o bom pastor oferece a sua vida pelas suas ovelhas por causa desta relação profunda, pessoal e amorosa. Ele não faz como o mercenário, que não tem uma relação profunda com as ovelhas. o mercenário só vê neles o benefício que pode tirar deles, e quando vê o lobo chegando, não o confronta, mas foge e abandona as ovelhas”[8].


         No V. 16 Jesus interrompe o fio do seu discurso para se referir a outras ovelhas que não estão no redil, que ouvirão a sua voz e serão conduzidas por ele, a tal ponto que haverá apenas um rebanho e um pastor. Esta frase refere-se à abertura aos pagãos, aos não-judeus, que serão chamados pelo próprio Jesus para se juntarem ao seu rebanho. Teríamos aqui uma terceira característica ou traço distintivo do bom pastor, que seria a sua abertura universal e a sua busca pela unidade do rebanho sob um único pastor.


         Em Jo 10,17-18 o tema da entrega da vida de Jesus e do amor do Pai por Ele é retomado e desenvolvido precisamente por isso. Em particular, destaca-se a liberdade com que Jesus dá a sua vida, insistindo que tem o poder (exousía) de dispor da sua vida, de a dar e de a recuperar. E como verdadeiro pastor, oferece-o por amor ao Pai e aos homens.


         Algumas reflexões:


Chamamos este dia de “Domingo do Bom Pastor” e nele somos convidados a reconhecer Jesus como nosso Bom Pastor Ressuscitado, presente em nossas vidas e exercendo também hoje seu ofício pastoral. E como Jesus exerce seu ofício de pastor? Como fez no seu tempo e como nos descreve o evangelho de hoje, apresentando três características que definem a “ação pastoral” de Jesus:

1. Ele dá a vida por nós. Sabemos que “não há amor maior do que dar a vida”; Portanto, assim Jesus vive e expressa o seu grande amor por nós, por cada um de nós. 2. Em segundo lugar, Jesus fala do conhecimento íntimo, da comunhão de vida, que procura ter connosco. Este conhecimento ou comunhão mútua é tão profundo que Jesus o compara ao vínculo que Ele tem com Seu Pai.

3. Em terceiro lugar, Jesus, como bom pastor, procura a unidade do rebanho, alarga o seu horizonte às outras ovelhas, não se fecha às que já existem, mas cuida e pensa naquelas que ainda não pertencem ao único rebanho de Deus.

O nosso olhar deve então dirigir-se para Jesus Cristo, que "ontem, hoje e sempre"é o verdadeiro, autêntico, bom Pastor. E ao mesmo tempo lembremo-nos que Deus, com a sua sábia pedagogia da encarnação, chama e escolhe alguns homens que, com todas as suas qualidades e talentos, mas também com todo o seu fardo de fragilidade típico do humano, seja osinais sacramentais de Jesus Bom Pastor. E o serão na medida em que viverem as atitudes de Jesus Bom Pastor que o evangelho de hoje nos descreve, especialmente a doação da própria vida por amor.

Ora, a doação da própria vida por amor é comum a todas as vocações de inspiração cristã, pois: “É verdade que a palavra “vocação” pode ser entendida num sentido amplo, como um chamado de Deus. Inclui o chamado à vida, o chamado à amizade com Ele, o chamado à santidade, etc. Esto es valioso, porque sitúa toda nuestra vida de cara al Dios que nos ama, y nos permite entender que nada  es fruto de un caos sin sentido, sino que todo puede integrarse en un camino de respuesta al Señor, que tiene  un precioso plan para nós”(Cristo Vivenº 248).

Portanto, o primeiro e fundamental em toda vocação é responder ao chamado de amizade que o Senhor nos faz e criar um vínculo vital e uma comunhão com Jesus. A este respeito, o Papa Francisco nos diz na sua mensagem para o dia de oração pelas vocações: “O Senhor fala ao nosso coração e quer encontrá-lo disponível, sincero e generoso. O seu Verbo encarnou-se em Jesus Cristo, que nos revela e comunica plenamente a vontade do Pai. Neste ano de 2024, dedicado precisamente à oração em preparação para o Jubileu, somos chamados a redescobrir o dom inestimável de poder dialogar com o Senhor, de coração a coração, tornando-nos peregrinos de esperança, porque «a oração é a primeira força de esperança». . Enquanto você ora, a esperança cresce e avança. Eu diria que a oração abre a porta à esperança. “A esperança está aí, mas com a minha oração eu abro a porta””.

O Papa também nos lembra nesta mensagem que fomos chamados a “ser peregrinos de esperança e construtores de paz; o que significa fundar a própria existência sobre a rocha da ressurreição de Cristo, sabendo que cada compromisso assumido, na vocação que abraçamos e levamos adiante, não cai em ouvidos surdos. Apesar dos fracassos e dos retrocessos, o bem que semeamos cresce silenciosamente e nada pode nos separar da meta conclusiva, que é o encontro com Cristo e a alegria de viver em fraternidade entre nós por toda a eternidade. Devemos antecipar todos os dias este apelo final, porque a relação de amor com Deus e com os nossos irmãos começa a partir de agora para realizar o projeto de Deus, o sonho de unidade, paz e fraternidade. Que ninguém se sinta excluído deste chamado! Cada um de nós, dentro das nossas possibilidades, no nosso estado específico de vida, pode ser, com a ajuda do Espírito Santo, um semeador de esperança e de paz. Por tudo isto digo-vos mais uma vez, como durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa: “Levantai-vos! - Levantar!" Despertemos do sonho, saiamos da indiferença, abramos as grades da prisão em que tantas vezes nos encerramos, para que cada um de nós possa descobrir a própria vocação na Igreja e no mundo e tornar-se um peregrino de esperança e criador de paz. Apaixonemo-nos pela vida e comprometamo-nos com o cuidado amoroso de quem está ao nosso lado e do ambiente onde vivemos. Apaixonemo-nos pela vida e comprometamo-nos com o cuidado amoroso de quem está ao nosso lado e do ambiente onde vivemos. Repito: tenha coragem de se envolver! Padre Oreste Benzi, apóstolo incansável da caridade, sempre a favor dos últimos e dos indefesos, repetia que não há ninguém tão pobre que não tenha nada para dar, nem há ninguém tão rico que não precise de algo para dar. receber.”.

Agora, como em quase todas as coisas, junto com o que é autêntico e verdadeiro, há também o que é enganoso e o que é falso, porque neste mundo o trigo e o joio crescerão sempre juntos. Neste caso, Jesus é contrastado com o “empregado”, que não é pastor nem cuida do rebanho. Uma descrição atualizada do “homem contratado” é dada por Santo Agostinho num dos seus memoráveis ​​sermões sobre os pastores.9:"Na Igreja há alguns – dos quais fala o Apóstolo – que anunciam o Evangelho por conveniência, procurando obter vantagens pessoais dos homens (cf. Fl 1, 15-17), quer em dinheiro, quer em honras, quer em louvores. humano. Procurando a todo custo receber recompensa, evangelizam não tanto em vista da salvação daquele a quem anunciam o Evangelho, mas no interesse próprio. Mas quem ouve o anúncio da salvação através de alguém que não o possui, se acredita no que quem a anuncia, e não deposita a sua esperança naquele por meio de quem a salvação é anunciada, quem recebe o anúncio obterá um ganho; mas quem o anuncia sofrerá dano".

Em suma, celebremos o nosso autêntico e único Pastor, Jesus Cristo Ressuscitado. Somente em seu nome se encontra a salvação. Só Ele pode levar-nos ao Pai e fazer-nos verdadeiramente seus filhos, boas ovelhas do seu rebanho. E como diz Santo Agostinho: “Se há boas ovelhas, também haverá bons pastores, porque dentre as boas ovelhas vêm os bons pastores” (Sermão 46).

Peçamos também a graça de poder ouvir a voz de Jesus, nosso bom pastor ressuscitado, para realizar em nossas vidas o sonho que Deus tem para cada um de nós. Além disso, especialmente neste domingo, toda a comunidade é convidada a rezar pelo aumento, perseverança e santificação das vocações sacerdotais.

Para oração (ressonância do evangelho em uma pessoa que ora):

Para o pai 

Senhor Jesus 

Leve-nos ao Coração do Pai 

Aquele lugar onde tudo é criado e recriado, 

Tornamo-nos como crianças novamente 

E nós nos purificamos 

Só você pode dirigir até lá 

Para este rebanho confuso e disperso 

Nós sabemos que você é o caminho 

E conhecemos a Voz do Amado 

Seu olhar se estende 

Até o último cordeiro pastando 

Que quando levanto a cabeça te descubro 

Assistindo e assistindo 

Em seus braços fortes 

Vamos carregados nessas direções, 

Reconheçamos os passos dos seus pés furados 

E que o mundo não nos desencaminhe 

E na dor e na tristeza, 

Vamos acariciar nossas mãos de onde você foi enforcado 

E não vamos esquecer o que você pagou 

Por nossos pecados. 

Amor tão bom! 

Do Pai, do Filho e do Espírito Santo, 

Leve-nos lá com você, pastor, 

Ele nos une em um único rebanho. Amém


[1] Hechos de los Apóstoles (Cristiandad; Madrid 1984) 120.

[2] La teología moral en San Juan (FAX; Madrid 1970) 255.

[3] J. Casabó, La teología moral en San Juan (FAX; Madrid 1970) 165.

[4] El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 303.

[5] G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 260.

[6] El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 305.

[7] Jesús de Nazaret. Desde el Bautismo a la Transfiguración (Planeta; Buenos Aires 2007) 329.

[8] Card. A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo B (Mensajero; Bilbao 2008) 131.

[9] Sermón 137,5 citado en Comentarios de San Agustín a los evangelios dominicales y festivos. Ciclo B (RyC; Buenos Aires 2008) 62.