4º PÁSCOA-A

4ºDOMINGO DA PÁSCOA-ANO A

DOMINGO DO BOM PASTOR-

30/04/2023

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


Primeira Leitura: Atos 2, 14.36-41

Salmo Responsorial: 22(23)-R- O Senhor é o pastor que me conduz; para as águas repousantes me encaminha. 

Segunda Leitura: 1 Pedro 2,20b-25

Evangelho: João 10,1-10

 Naquele tempo, disse Jesus: 1'Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. 2Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. 4E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. 5Mas não seguem um estranho, antes fogem dele,  porque não conhecem a voz dos estranhos.' 6Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que ele queria dizer. 7Então Jesus continuou: 'Em verdade, em verdade vos digo, eu sou a porta das ovelhas. 8Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. 9Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. 10 -O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.


DE DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP

Jo 10,1-10

Uma figura importante do evangelho de hoje é a do porteiro. No AT os porteiros do palácio e do templo são os responsáveis pela segurança. Também na parábola de hoje o porteiro tem essa função: ele não deixa o ladrão entrar, mas abre a porta ao pastor. Podemos interpretar essa imagem do porteiro como uma explicação e como uma crítica. É uma explicação da futura função dos Apóstolos: eles são os encarregados de não permitir que algumas pessoas desviem os discípulos de Cristo para o erro e fazer com que Cristo entre na vida dos fiéis e que permitam que os fiéis sigam o mestre. É também uma crítica para os que não se comportam bem e permitem que os discípulos se desviem de Cristo.

Um detalhe importante da parábola é que o pastor é descrito como aquele que leva as ovelhas para fora do redil e caminha à frente delas. Não se fala do pastor que traz as ovelhas de volta ao redil. De fato, a missão de Cristo é salvar do pecado. De fato, Ele não traz os discípulos de volta para o pecado, mas os conduz para a vida em plenitude.

Outro detalhe é menos chamativo mas não menos importante. Trata-se da relação pessoal do pastor com cada ovelha: ele conhece as ovelhas pelo nome, e as ovelhas reconhecem a voz do seu pastor e só a ele seguem. No Gênesis, Adão impôs os nomes aos animais segundo as espécies: assim um pássaro indica todos os pássaros da mesma espécie, um cavalo é o nome dos animais da mesma espécie. No Evangelho de hoje, o pastor dá nome individual, ou melhor, pessoal a cada ovelha. Ele cumpre o que está na profecia de Is 43,1: “chamei-te pelo nome, tu és meu”.

As ovelhas não escutam os ladrões e assaltantes; elas só ouvem o verdadeiro pastor. Os falsos pastores do passado e do presente são mencionados nessa parábola como uma advertência: precisamos tomar cuidado, não devemos escutá-los. Muitos se apresentam como mestres e guias, mas é preciso discernimento e não ir atrás de qualquer um.

Como podemos ser ajudados nesse discernimento?

Cristo deixou à frente da Igreja pessoas com a autoridade de pastor. O que é essa autoridade? Eles não são chefes ou dignitários. São pastores porque, como Jesus, se dedicam ao povo de Deus. A autoridade na Igreja é uma autoridade delegada por Cristo a alguns homens. Não é uma autoridade absoluta; é uma autoridade que está ligada a Cristo ressuscitado: Cristo está presente nos pastores que Ele pôs à frente do Seu rebanho. Assim os fiéis obedecem aos pastores, obedecendo neles o próprio Cristo, pois reconhecem nos pastores terrenos o sinal vivo do Ressuscitado que está presente na e que conduz a Igreja.



A importante missão de “ser porta” para os outros - Adroaldo Palaoro


4º Domingo de Páscoa – Jo 10,1-10-Ano A-30-04-23



“Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem.” (Jo 10,9)


A liturgia deste quarto domingo de Páscoa nos traz, em primeiro lugar, a imagem de Jesus-Pastor que conduz e guarda, anima e protege aqueles(as) que o seguem; a segunda imagem pascal é a “porta da liberdade” pela qual saem e entram as ovelhas, ou seja, todos nós, sem que ninguém nos persiga nem domine. O próprio Cristo Ressuscitado é a porta da liberdade.

A terceira imagem refere-se a todos nós, transformados pelo Ressuscitado em pastores e porta de liberdade em um mundo onde impera a escravidão da violência, da indiferença e do ódio.

“Eu sou a porta”: Jesus não se refere à peça de madeira ou ferro que gira para abrir ou fechar o curral das ovelhas, mas o espaço por onde se pode ter acesso ao recinto. Por isso, Jesus afirma que é a porta das ovelhas, não do redil. “Passar por Ele” é “entrar” na Vida, é deixar-se revestir pelo seu modo de ser e viver. Todos os que vieram antes são ladrões ou bandidos porque não facilitaram a liberdade e a vida às ovelhas.

Entrar pela porta que é Jesus é o mesmo que “aproximar-se dele”, “identificar-se com Ele”, “aderir a Ele”; isso implica assemelhar-se a Ele, ou seja, caminhar com Ele na busca do bem das pessoas. Ele dá a vida definitiva, e aquele que possui essa Vida ficará a salvo da exploração. Ele é a alternativa à ordem injusta.

Em Jesus, o ser humano pode alcançar a verdadeira salvação. “Poderá entrar e sair”, ou seja, terá liberdade de movimento. “Encontrará pastagem” é o mesmo que dizer: “não passará fome nem sede”.

O Bom Pastor inaugura um movimento de vida; Ele não vem fundar novas instituições que travam a liberdade das pessoas, nem vem trazer novas leis que se tornam peso nas costas dos seus seguidores. Seu jugo é suave e seu peso é leve (cf Mt 11,30). Por isso Ele se define como “Porta da Vida” que está sempre aberta. Por ela temos acesso ao seu coração carregado de bondade e compaixão.

Aqueles que escutam sua voz deixam o ambiente opressor e vivem em liberdade. Jesus não vem substituir uma instituição por outra; não tira as ovelhas de um curral para prendê-las em outro.

“Entrar” e “sair” pela porta: aí está a experiência de viver a vida ressuscitada em toda a sua plenitude e de “saborear” a existência em toda a sua promessa.

A porta é uma realidade e é um símbolo. “Entrar” e “sair” pela Porta que é o próprio Cristo Ressuscitado, desata em nós a consciência de sermos “portas abertas em nossa interioridade”.

Passar pela “Porta” do Ressuscitado é destravar a porta de nossa interioridade para que a vida possa se expandir e receber novos ares; passar pela “Porta” do Vivente é ter acesso à nossa verdadeira identidade.

Quando a experiência de encontro com Aquele que é a “Porta da Vida” abre a porta de nosso redil interior, ela faz emergir à nossa consciência as profundidades desconhecidas do nosso ser, reacende nossa vida e libera em nós as melhores possibilidades, recursos, capacidades, intuições…; ao mesmo tempo nos faz descobrir em nós, nossa verdade mais profunda de pessoas amadas, únicas, sagradas, responsáveis...

Assim, de portas abertas, nossa vida se expande em direção aos outros e à Criação, possibilitando uma conexão livre com toda a realidade, através da íntima solidariedade e do compromisso ativo.

No atual contexto social e religioso tudo contribui para vivermos a cultura das “portas fechadas” que excluem, dividem, marginalizam...; isso provoca a contaminação de nosso coração: ódio, intolerância, indiferença, preconceito... Muitos de nós continuamos presos dentro de um medo neurótico, sem atrever-nos a ser o que somos, sem abrir a porta do coração de nossa vida.

Frente à realidade que insiste para que fechemos as portas, construamos muros, o evangelho deste domingo nos inspira a viver uma atitude de permanente abertura, de não ter medo frente à nova vida que nos chega através do Ressuscitado. Ele vem para abrir as portas, enviar-nos ao mundo com uma palavra de perdão, com um testemunho de vida, com uma presença libertadora...

Segundo a tradição bíblica, o que mais nos desumaniza é viver com um “coração fechado” e endurecido, um “coração de pedra”, incapaz de amar e de crer. Quem vive “fechado em si mesmo”, não pode acolher o Espírito de Deus, não pode deixar-se guiar pelo Espírito de Jesus.

Quando nosso coração está “fechado”, nossos olhos não veem, nossos ouvidos não ouvem, nossos braços e pés se atrofiam e não se movimentam em direção ao outro; passamos a viver voltados sobre nós mesmos, insensíveis à admiração e à ação de graças. Quando nosso coração está “fechado”, em nossa vida já não há mais compaixão e passamos a viver indiferentes à violência e injustiça que destroem a felicidade de tantas pessoas. Vivemos separados da vida, desconectados. Uma fronteira invisível nos separa do Espírito de Deus que tudo dinamiza e inspira; é impossível sentir a vida como Jesus sentia.

Em meio às mudanças e às transformações de nosso tempo, somos chamados, como seguidores(as) do Bom Pastor, a ser pessoas de interioridade. E interioridade é um caminho sempre inacabado.

Frente aos desafios que a vida hoje nos apresenta, é decisivo favorecer um espaço interior livre, ou seja, liberado de tudo aquilo que possa entorpecê-lo inutilmente, para “sentir e saborear as coisas internamente” (S. Inácio). Não é possível “ajudar os outros” a viver interiormente se nós mesmos não vivemos nesse redil de silêncio, de gratuidade e de interioridade, onde buscamos as motivações e as inspirações de nossa missão (família, trabalho, relações...). Sem buscar e encontrar os caminhos da interioridade corremos o risco de secar nossa generosidade cotidiana e de atrofiar o sentido de nossa existência e dos nossos mais fortes compromissos.

Para reavivar a graça pascal precisamos:

- “Ser” a porta da caridade e da misericórdia, revelando-nos agentes transmissores da bondade e da ternura de Deus; ser porta e mantê-la sempre aberta, mesmo que entrem fortes ventos ou pessoas inesperadas;

- “Ser” a porta para o novo, o diferente, superando toda suspeita, preconceito e medo; porta de passagem que nos possibilite compartilhar e aprender com todos os homens e mulheres de boa vontade para assumir os desafios mais cruciantes da humanidade de hoje;

- “Ser” porta aberta aos pobres e excluídos, reforçando a simplicidade como modo de vida e a solidariedade como proposta ousada;

- “Ser” a porta do encontro que é a chave de nossa cultura; que passemos e ajudemos a passar da chave da indiferença e da distância à chave da proximidade e do encontro;

- “Ser” a porta da comunicação direta, simples, inclusiva, transparente, próxima e fraterna.

- “Ser” a porta para denunciar a desigualdade social e econômica que produz tanta dor e tantas vítimas;

- “Ser” a porta que nos leve a um compromisso com a ecologia, o meio ambiente e o cuidado da natureza.

“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Apoc. 3,20). O convite é todo feito de ternura, de desejo e de liberdade, introduzindo-nos num movimento interior.

Como sempre, é Deus quem toma a iniciativa. O Espírito procura entrar para fecundar, recolocar em ordem, restaurar, unificar.

A experiência de “entrar” e “sair” da porta da interioridade é mobilização para “entrar” e “sair” com leveza alegre em cada circunstância da vida, para viver cada momento de maneira inspirada e ressuscitada.

Para meditar na oração

Todos nós podemos e devemos ser pastores e porta de liberdade para os outros.



Jesus é a porta- José Antonio Pagola


Jesus propõe a um grupo de fariseus um relato metafórico no qual critica com dureza os dirigentes religiosos de Israel. A cena é tirada da vida pastoral. O rebanho está recolhido dentro de um redil, rodeado por uma cerca ou muro pequeno, enquanto um guarda vigia o acesso. Jesus centra precisamente a sua atenção naquela «porta» que lhe permite chegar às ovelhas.

Há duas formas de entrar no redil. Tudo depende do que se pretende fazer com o rebanho. Se alguém se aproxima do redil e «não entra pela porta», mas pula «por outro lado», é evidente que não é o pastor. Não vem para cuidar do seu rebanho. É «um estranho» que vem «roubar, matar e fazer mal».

A atuação do verdadeiro pastor é muito diferente. Quando se aproxima do redil, «entra pela porta», chama as ovelhas pelo nome e elas atendem à sua voz. Tira-as para fora e, quando as reúne todas, coloca-se à frente e caminha à frente delas até aos pastos onde se poderão alimentar. As ovelhas seguem-no porque reconhecem a sua voz.

Que segredo se esconde nessa «porta» que legitima os verdadeiros pastores que passam por ela e desmascara os estranhos que entram «por outro lado», não para cuidar do rebanho, mas para fazer-lhe mal? Os fariseus não entendem de que lhes está falando aquele Mestre.

Então Jesus dá-lhes a chave do relato: «Asseguro-vos que sou a porta das ovelhas». Aqueles que entram no caminho aberto por Jesus e continuam a viver seu evangelho são verdadeiros pastores: saberão alimentar a comunidade cristã. Quem entra no redil deixando Jesus de lado e ignorando a sua causa são pastores estranhos: farão mal ao povo cristão.

Em não poucas igrejas, todos estamos sofrendo muito: os pastores e o povo de Deus. As relações entre a hierarquia e o povo cristão são frequentemente vividas de forma receosa, crispada e conflitiva: há bispos que se sentem rejeitados; há setores cristãos que se sentem marginalizados.

Seria demasiado fácil atribuir tudo ao autoritarismo abusivo da hierarquia ou à inaceitável insubmissão dos fiéis. A raiz é mais profunda e complexa. Criamos entre todos uma situação difícil. Perdemos a paz. Vamos necessitar cada vez mais de Jesus.

Temos que fazer crescer entre nós o respeito mútuo e a comunicação, o diálogo e a busca sincera da verdade evangélica. Necessitamos respirar quanto antes um clima mais amigável na Igreja. Não sairemos desta crise se não voltamos todos ao espírito de Jesus. Ele é «a porta».



Jo 10,1-18 - Jesus é o Bom Pastor - Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.


Situando

Jesus é o Bom Pastor que veio para que todas as pessoas tenham vida em abundância. O discurso sobre o Bom Pastor traz três comparações: 

Jesus fala do pastor e dos assaltantes (Jo 10,1-5); 

Jesus é a porteira das ovelhas (Jo 10,6-10); 

Jesus é o Bom Pastor (Jo 10,11-18).

Temos aqui um exemplo de como o Evangelho segundo João foi escrito. O discurso o Bom Pastor (Jo 10, 1-18) é como, se fosse, um tijolo inserido numa parede já pronta., e com isso a parede ficou mais forte e mais bonita. 

Imediatamente antes, em Jo 9,40-41, Jesus disse: —Eu vim a este mundo para julgar, a fim de que os cegos vejam, e que fiquem cegos os que vêem. Os fariseus perguntaram: —Será que isso quer dizer que nós somos cegos? Se vocês fossem cegos, não teriam culpa! —respondeu Jesus. —Mas, como dizem que podem ver, então continuam tendo culpa.

 João falava da cegueira dos fariseus. A conclusão natural desta discussão sobre a cegueira está logo depois, em Jo 10,19-21. “Quando ouviu isso, o povo se dividiu outra vez. Muitos diziam: — Ele está dominado por um demônio! Está louco! Por que é que vocês escutam o que ele diz? Outros afirmavam: — Quem está dominado por um demônio não fala assim! Será que um demônio pode dar vista aos cegos?” Ora, o discurso sobre o Bom Pastor foi inserido aqui, porque, como veremos, ensina como tirar esse tipo de cegueira dos fariseus.

Comentando

Jo 10,1-5: 1ª comparação: entrar pela porteira e não por outro lugar

Jesus inicia o discurso com a comparação da porteira: “Quem não entra pela porteira, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. Quem entra pela porteira é o pastor das ovelhas.” 

Naquele tempo, os pastores cuidavam do rebanho durante o dia. Quando chegava a noite, levavam as ovelhas para um grande redil ou curral comunitário, bem protegido contra ladrões e lobos. Todos os pastores de uma mesma região levavam para lá o seu rebanho. Um porteiro tomava conta de tudo durante a noite. No dia seguinte, de manhã cedo, cada pastor chegava, batia palmas na porteira e o porteiro abria. O pastor entrava e chamava as ovelhas pelo nome. As ovelhas reconheciam a voz do seu pastor, levantavam e saiam atrás dele para a pastagem. As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas elas não se mexiam, pois era uma voz estranha para elas. De vez em quando, aparecia o perigo de assalto. Ladrões entravam por um atalho ou derrubavam a cerca do redil, feita de pedras amontoadas, para roubar as ovelhas. Eles não entravam pela porteira, pois lá havia o guarda que tomava conta.

Jo 10,6-10: 2ª comparação: Jesus é a porteira

Os ouvintes, os fariseus (Jo 9,40-41), não entenderam o que significava “entrar pela porteira”. Jesus então explicou: “Eu sou a porteira das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes”. 

De quem Jesus está falando nesta frase tão dura?

Provavelmente, se referia a líderes religiosos que arrastavam o povo atrás de si, mas que não respondiam às esperanças do povo. Não estavam interessados no bem do povo, mas sim no próprio bolso e nos próprios interesses. Enganavam o povo e o deixavam na pior. Entrar pela porteira é o mesmo que agir como Jesus agia. O critério básico para discernir quem é pastor e quem é assaltante é a defesa da vida das ovelhas. Jesus pede para o povo não seguir as pessoas que se apresentam como pastor, mas não buscam a vida do povo. É aqui que ele disse aquela frase que até hoje cantamos: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” Este é o critério!

Jo 10,11-15: 3ª comparação: Jesus é o bom pastor

Jesus muda a comparação. Antes, ele era a porteira das ovelhas. Agora, é o pastor das ovelhas. Todo mundo sabia o que era um pastor e como ele vivia e trabalhava. Jesus, porém, não é um pastor qualquer, mas sim o bom pastor! A imagem do bom pastor vem do AT. Dizendo que é o Bom Pastor, Jesus coloca em prática as esperanças da profecia e que são as esperanças do povo. Vejam, por exemplo, a belíssima profecia de Ezequiel (Ez 34,11-16). Há dois pontos em que Jesus insiste: (1) Na defesa da vida das ovelhas: o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas; (2) No mútuo reconhecimento entre pastor e ovelhas: o Pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem o pastor. Jesus diz que, no povo, há uma percepção para saber quem é o bom pastor. Era isto que os fariseus não aceitavam. Eles desprezavam as ovelhas e as chamavam de povo maldito e ignorante (Jo 7,49; 9,34). Eles pensavam ter o olhar certo para discernir as coisas de Deus. Na realidade, eram cegos.

O discurso sobre o Bom Pastor ensina duas regras como curar este tipo bastante frequente de cegueira: (1) Prestar muita atenção na reação das ovelhas, pois elas reconhecem a voz do pastor; (2) Prestar muita atenção na atitude de quem se diz pastor, a fim de ver se o seu interesse é a vida das ovelhas e se é capaz de dar a vida por elas.

Certa vez, na festa de posse de um novo bispo, as “ovelhas” colocaram uma faixa na porta da igreja que dizia: “As ovelhas não conhecem o pastor”. As “ovelhas” não foram consultadas. Foi uma advertência séria para quem nomeia os bispos.

Jo 10,16-18: A meta de Jesus: um só rebanho e um só pastor

Jesus abre o horizonte e diz que há outras ovelhas que não são deste redil. Elas ainda não ouviram a voz de Jesus, mas quando a ouvirem, vão perceber que ele é o pastor e vão segui-lo. É a dimensão ecumênica universal.

Alargando

A Imagem do Pastor na Bíblia

Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecemos a imagem do motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as pastagens (Jr 2,8; 10,21; 23,1-2). Esta crítica aos maus pastores foi crescendo na mesma medida em que, por responsabilidade dos reis, o povo acabou sendo levado para o cativeiro (Ez 34,1-10; Zc 11,4-17).

Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo, que é o próprio Deus: “O Senhor é meu pastor e nada me falta” (Sl 23,1-6; Gn 48,15). Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor para guiar o seu rebanho (Is 40,11; Ez 34,11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: “Oxalá, ouvísseis hoje a sua voz!” (Sl 95,7). Esperam que Deus venha como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas do rebanho (Ez 34,17). Surgem o desejo e a esperança de que, um dia, Deus suscite bons pastores e que o messias seja um bom pastor para o seu povo (Jr 3,15; 23,4).

Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom Pastor, diferente dos assaltantes que roubaram o povo ontem e o seguem roubando. Ele se apresenta também como o Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe separar as ovelhas dos cabritos, isto é, os justos dos injustos (Mt 25,31-46). Jesus realiza a esperança do profeta Zacarias. Ele diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que ele faz: “Vão bater no pastor e as ovelhas se dispersarão” (Zc 13,7).

No fim, Jesus é tudo: é a porteira, é o pastor e é o cordeiro!


Jesus, a porta sempre aberta- Ana Maria Casarotti


Neste quarto domingo de Páscoa, medita-se sobre a alegoria joanina do Jesus Bom Pastor das ovelhas que ele cuida e protege. Esta imagem é uma das representações mais antigas da arte cristã como, por exemplo, o afresco de Jesus Bom Pastor que se encontra na Catacumba de Priscila, em Roma. Em geral, nos evangelhos, para falar de Deus são necessárias as metáforas, os símbolos.

O texto deste domingo começa assim: “Eu garanto a vocês: aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante”.

Se nos detemos nas palavras de Jesus, destaca-s  uma porta e duas atitudes diferentes referidas à via de acesso ao curral das ovelhas. Está a pessoa que ingressa pela porta e está também o ladrão e assaltante, considerado assim porque “sobe por outro lado”.

Uma porta simboliza uma possibilidade de inter-relação entre o exterior e o interior, do conhecido ao desconhecido, de um ambiente ao outro, de fora para dentro, do sagrado ao profano, do campo à cidade. A porta favorece então a comunicação entre dois espaços, é uma passagem, que dá a possiblidade de entrar ou sair, abrir ou fechar.

Lembremos que as cidades estavam amuralhadas e tinham diferentes portas. No Antigo Testamento são nomeadas às vezes de acordo com a sua localização. Assim aparece a porta lateral, a porta do templo, a porta oriental, a porta da cidade, a porta do Santo, a porta dos mortos.

Lemos também a referência simbólica como disse o salmo: “Abram para mim as portas do triunfo: vou entrar agradecendo a Javé. Esta é a porta de Javé: os vencedores entrarão por ela (Sl 118,19-20)”.

Ou com um sentido profético como alude o profeta Oseias quando descreve o amor misericordioso de Deus, que apesar do agir do povo vai conquistar de novo o coração do seu povo: “O Vale da Desgraça se transformará em Porta da Esperança” (Os 2,17).

No evangelho de João encontramos uma alusão a uma piscina situada perto da porta das ovelhas. Ali ficavam deitados cegos, coxos, paralíticos, esperando que a água da piscina se movesse. Estas pessoas estavam quase fora da cidade, num lugar que era uma passagem de ovelhas, seguramente sujo e desasseado.

Voltando ao nosso texto, Jesus tinha dito “quem não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante”. Como “eles não entenderam o que Jesus queria dizer”, Jesus continua falando e diz: “eu sou a porta das ovelhas. Ele mesmo é a passagem, a via de acesso para entrar no redil das ovelhas!

Jesus é uma porta sempre aberta, sem exceções. Não se fecha, pelo contrário, parece que fica ainda mais aberta quando procuram levar o controle dos que entram por ela, assim como o pastor deixa entrar todas as ovelhas porque todas fazem parte do seu redil. Não há exclusivismos ou rejeições nela, pelo contrário, ele sempre está convidando-nos a entrar no seu interior, na sua casa.

Neste tempo de pandemia, em muitos lugares vivemos de portas fechadas. Mas o Senhor nos convida a abrir a porta da nossa esperança que a encontramos nele e nos nossos irmãos e irmãs. Sua proximidade alimenta nossa esperança e fortalece nossa confiança e solidariedade abrindo-nos aos mais afetados por esta crise sanitária.

Como disse Francisco: “Eu tenho esperança na humanidade, nos homens e nas mulheres, tenho esperança nos povos. Tenho muita esperança. Os povos levarão ensinamentos desta crise para repensarem suas vidas. Vamos sair melhores, em menor número, claro. Muitos ficam pelo caminho que é duro. Porém, tenho fé: vamos sair melhores”. 'Tenho esperança na Humanidade. Vamos sair melhores', aposta o papa Francisco

Apesar da difícil situação que estamos vivendo, o Senhor nos convida a ser uma porta que gera alegria, a porta da ressurreição que traz vida onde há morte, consolação onde há desalento. Dar uma palavra de alento à pessoa desconsolada pela dor e pelo sofrimento de que padece.

Neste domingo lembremos as diferentes narrativas dos encontros com o Ressuscitado que escutamos nos domingos anteriores. Ele vai ao encontro de seus amigos e amigas para que também eles/as possam passar pela porta da ressurreição. Participar da morte e ressurreição de Jesus, passar pela porta, “sair para fora”, marca o início de uma nova vida, o Espírito nos introduz na vida de Deus para vivê-la nesta terra.

Peçamos ao Senhor Ressuscitado ser uma porta sempre aberta como Ele. Que sejamos portadores da sua vida para que toda pessoa possa receber seu consolo e sua palavra de alento.

Oração

Oração pela Paz

Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz.

Onde há ódio, que eu leve o amor.

Onde há ofensa, que eu leve o perdão.

Onde há discórdia, que eu leve a união.

Onde há dúvida, que eu leve a fé.

Onde há erro, que eu leve a verdade.

Onde há desespero, que eu leve a esperança.

Onde há tristeza, que eu leve a alegria.

Onde há trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre,

Fazei que eu procure mais

consolar que ser consolado;

compreender que ser compreendido;

amar que ser amado.

Pois é dando que se recebe,

é perdoando que se é perdoado,

é morrendo que se vive para a vida eterna.

São Francisco de Assis



João 10.1-10 - pastor que garante a vida- Tomé McGrath


1. Introduzindo 

Nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, temos mais de quarenta parábolas (uma comparação com uma mensagem), mas nenhuma delas aparece no Evangelho de João. E as duas, que temos em João, e que normalmente chamamos de parábolas são, na verdade, alegorias (uma comparação onde cada elemento tem um sentido): a do bom pastor (10.1-18) e a da videira (15.1-17). Essas duas são exclusivas do Quarto Evangelho

Esse pastor verdadeiro, essa porteira do aprisco quer possibilitar o acesso ao verdadeiro pastor do povo - Deus. Assim está descrito no Salmo 23, o Salmo de meditação de hoje. Ele nos faz descansar em pastos verdes (alimento) e águas tranquilas (segurança). Ele guia seu povo pelo caminho da justiça, mesmo por sombras da morte e vales escuros. Em sua presença e companhia há vida, há dignidade, fartura, comunhão, alegria.

Jesus é a porta, Jesus é o verdadeiro e bom pastor, Jesus é o cordeiro que levou sobre si nosso pecado na cruz, para que vivêssemos uma vida em retidão e justiça. 

2. Situando as comunidades – tensão interna e perseguição externa

Contexto histórico

Nos anos após a ressurreição de Jesus, as pessoas começaram a congregar-se ao redor do discípulo amado (João), uma figura-chave para elas, pois lhes transmitia seu testemunho sobre Jesus. Essas conversas marcam o início da formação do Evangelho de João (tradição oral). Aos poucos, essa pregação oral foi colocada por escrito para uso na catequese ou na liturgia.

A vontade de anunciar o evangelho levou os cristãos para fora da Palestina: passagem para o Ocidente, indo de uma cultura rural para uma cultura urbana, comunidades organizadas mais nas casas. 

Os imperadores Romanos dessa época exigiam culto à sua pessoa usando até títulos divinos - “Senhor” ou “Deus”. Os seguidores de Jesus negavam a prestar culto ao imperador (Ap 6.9; 7.14,) e por isso as perseguições foram desencadeadas. Emitiu um decreto contra as comunidades cristãs, considerando sua religião ilícita.

Em torno de 85 d.C., os judeus que aderiram a Jesus como o Messias esperado por Israel foram expulsos das sinagogas, e assim ficaram sem identidade – não são mais Judeus, e sem casa – não podem participar na sinagoga. Isso resultou em muito conflito nas próprias comunidades.

Estes dois conflitos (externo com o Império, e interno com os Judeus tradicionais) provocou uma releitura das palavras de Jesus, influenciando a formação do evangelho. Alguns estudiosos concluem que a redação final do texto foi realizada por volta do ano 100 na cidade de Éfeso, Ásia Menor.

Contexto Bíblico/cultural

A situação de perseguição levou a comunidade joanina a usar uma linguagem simbólica, mas que lhe era familiar, com imagens tiradas do cotidiano, da tradição judaica e do momento presente.

Imediatamente antes do texto, Jesus está se referindo à cegueira espiritual dos fariseus. A conclusão dessa discussão vai aparecer em João 10.19-21. Portanto o discurso sobre o pastor verdadeiro, a porta, o bom pastor foi inserido aqui para tirar esse tipo de cegueira.

Na Palestina, a cultura de criação de cabras e ovelhas garantia a sobrevivência do povo. As imagens usadas por Jesus fazem parte do cotidiano da comunidade. A imagem do pastor indica a função de quem guia, governa, cuida, mostra o caminho e guarda dos perigos. Já os profetas criticavam os reis por cuidar mal dos seus rebanhos, do povo, a ponto de serem levados ao cativeiro. A partir daí surge a esperança de que venha o verdadeiro pastor e que o povo saiba reconhecer sua voz: o Messias. Jesus realiza essa esperança e apresenta-se como o pastor verdadeiro, diferente dos que vêm para roubar o povo.

Nos outros três evangelhos, a expressão preferida de Jesus para falar da sua missão é o anúncio do reino de Deus. Em João, a expressão preferida é vida eterna, vida em abundância, ou simplesmente vida. Por isso crer em Jesus -usado 98 vezes no seu evangelho - é algo dinâmico, significa adesão à pessoa e ao projeto de vida de Jesus, tendo uma prática consequente, manifesta por seus sinais.

3. Comentando

Jesus inicia o discurso de João 10.1-10 com a comparação entre o verdadeiro pastor que entra pela porteira e os ladrões e assaltantes que não entram pela porteira, mas pulam o muro. 

Para entender essa comparação, temos que lembrar que, naquele tempo, pastores cuidavam dos rebanhos o dia todo. Quando a noite chegava, levavam as ovelhas para um curral comunitário, protegido por muros contra ladrões e perigos. Todos os pastores da mesma região levavam para lá os seus rebanhos. Um porteiro tomava conta durante a noite. No dia seguinte, o pastor chegava, batia palmas na porteira e o porteiro abria. Então o pastor entrava e chamava as ovelhas. As ovelhas reconheciam a voz do seu pastor e saíam com ele para a pastagem. Acontecia, de vez em quando, que ladrões entravam por atalhos, derrubando o muro, feito de pedras amontoadas, e roubavam ovelhas. Eles não entravam pela porteira, pois havia o porteiro tomando conta.

Nessa comparação, Jesus está relacionando a figura do pastor com a função de quem lidera ou governa o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores, que não cuidavam dos seus rebanhos. No contexto das comunidades joaninas, podemos afirmar que a comparação também inclui os governantes, especialmente quando eles se autodenominam “Deus” e “Senhor” e, ao invés de cuidarem das necessidades do povo, exploram, perseguem e agem em benefício próprio. Porém a comparação também se estende às lideranças judaicas, que por meio dos preceitos e leis excluem, intimidam e matam, especialmente, gentios, mulheres, doentes, samaritanos, pobres e demais grupos que não se alinhavam às suas normas. Jesus chama essas lideranças de “estranhos”, pois o rebanho ouve sua voz, mas não a reconhece, pois esses não as conhecem nem as chamam pelo nome.

Diante de tantas frustrações sofridas com os desmandos dos “ladrões e assaltantes”, aparece a comparação com o verdadeiro pastor, que é o próprio Deus (Sl 23). Jesus é o verdadeiro pastor. Ele conhece as ovelhas pelo nome, e elas reconhecem sua voz.

Creio que aí está o centro: na hierarquia e no poder instituído há roubo, enganação, violência e morte. A proposta de Jesus, compreendida pelas comunidades, é outra. O curral é espaço comunitário, coletivo e seguro.

As comunidades joaninas eram comunidades abertas, tolerantes e ecumênicas. Reuniam pessoas de diferentes grupos, culturas e mentalidades: judeus, galileus, samaritanos, estrangeiros, doentes, pobres, ricos, mulheres e homens, chamados a viver a nova aliança, baseada no amor e na solidariedade. Eram comunidades de periferia, sem poder, marginalizadas e excluídas do sistema. Mas experimentam o amor de Deus que se revelou em Jesus de Nazaré. “Amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, que vocês se amem uns aos outros!” (13.34). O amor era a única lei. A vivência do amor como sinal do discipulado de Jesus.

4. Alargando

Ser cristão é amar com gratuidade, sem esperar ou exigir algo em troca; sentir a presença viva de Jesus no Espírito enviado pelo Pai. Essa é a autoridade nas comunidades. Por isso não se permitia que suas comunidades se hierarquizassem (ou, pelo menos, esse era o princípio).

O perigo de que ladrões e assaltantes venham para roubar as ovelhas sempre há. Mas o desejo é que elas, agora, ouçam e reconheçam a voz do verdadeiro pastor. Então Jesus diz: “Eu sou a porta... Os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes...”. Aqui ele está se referindo aos líderes religiosos que arrastavam o povo atrás de si, mas não respondiam às esperanças por vida que eles tinham. Entrar pela porteira é o mesmo que agir como Jesus agia. O critério básico para discernir é a defesa da vida e vida plena, vida abundante.

Tarefa da comunidade cristã é colocar em prática o sonho de Jesus: garantir vida e vida em abundância para todos, sem exclusão de ninguém, sem um poder hierarquizado que busca manter a si próprio e seus interesses, e sim baseado na lei do amor. Somos chamados/as a organizar nosso modo de ser e de viver de acordo com os princípios que o pastor verdadeiro Jesus ensinou: uma comunidade de diferentes, mas iguais em valor, dignidade e cuidados. Será isso possível? Reconhecemos a voz do pastor verdadeiro? Passamos pela porta? Ou deixamo-nos roubar e assaltar por propostas diferentes?

(O aprisco, redil ou curral, é uma grande cerca, muitas vezes construída com paredes de pedra, onde os rebanhos de ovelhas ficam protegidos durante a noite. Tem apenas uma porta de entrada/saída.)

Baseado na reflexão “Pastor que garante a vida” Anelise Lengler Abentroth



At 2,14.36-41 – a essência da Boa Nova - Tomé McGrath


A leitura de hoje é a continuação do discurso que o Pedro fez no dia de Pentecostes. Na leitura do domingo passado lemos a primeira parte deste discurso, discurso este que apresenta os elementos essenciais da mensagem dos apóstolos, o Kerygma. 

A parte lida a semana passada enfatiza a centralidade da ressurreição, e o trecho de hoje fala da necessidade de conversão e adesão. Isso porque Jesus de Nazaré - crucificado e ressuscitado - foi constituído por Deus como Senhor, o Cristo, o Messias.

É impossível ficar indiferente a essa maravilha de Deus. A fala de Pedro tem a forma de um diálogo com seus ouvintes, que perguntavam o que deveriam fazer. Pedro respondia falando de três etapas fundamentais – a conversão, o batismo e a abertura ao dom do Espírito Santo (cf. v. 38) –, exigências concretas para aderir a Jesus Cristo.

Essas exigências, inicialmente apresentadas aos judeus, são destinadas à todos os seguidores de Jesus, e por fim toda a humanidade. Os membros da Comunidade são chamados/as à conversão, isto é, uma mudança de mentalidade para acolher o Espírito Santo e viver a nova vida, incorporando os ensinamentos e o comportamento de Jesus. O batismo é a porta de entrada da a Comunidade, e a vida em (v,10).

A conclusão (cf. vv. 40-41), mais do que descrever fatos concretos, revela o otimismo do autor e funciona como um estímulo aos pregadores futuros: o anúncio coerente do Ressuscitado, compreendendo o testemunho, é capaz de transformar corações e estruturas.


TEXTO EM ESPANHOL- Dom Damián Nannini, Argentina

CUARTO DOMINGO DE PASCUA CICLO "A"


Primera lectura (He 2,14.36-41):


La primera lectura de este domingo continúa con la predicación de Pedro en Pentecostés que comenzamos a leer el domingo pasado.

Esta lectura nos presenta la reacción del auditorio ante la predicación testimonial de Pedro, ante el anuncio del kerigma cristiano, que es más bien afectiva: la compunción del corazón (katenu,ghsan th.n kardi,an). Este verbo aparece sólo aquí en el NT y literalmente significa “perforar” o “desgarrar”; y referido al corazón tiene el sentido de profunda conmoción en el sentido de arrepentimiento. La LXX utiliza este verbo en el Sal 34,15 para hablar de "desgarro permanente". 

En breve, los oyentes acusaron el golpe, sintieron que habían obrado mal y ahora quieren reparar, por eso preguntan: "¿qué debemos hacer?". Esta expresión y esta reacción la encontramos ya en la obra de San Lucas pues es lo mismo que pregunta la gente (3,10), los publicanos (3,12) y los soldados (3,14), después de la predicación de Juan el Bautista. 

La respuesta de Pedro a esta pregunta práctica incluye tres acciones:

1. Convertirse; 

2. Hacerse bautizar en el nombre de Jesucristo para el perdón de los pecados; 

3. Recibir el don del Espíritu Santo.


La conversión y el hacerse bautizar (en pasivo) son acciones de los hombres; el perdón de los pecados y el "don" del Espíritu son acciones de Dios.


Segunda lectura (1Pe 2,20-25):


Este texto busca motivar a los cristianos para soportar los sufrimientos injustos, a ejemplo de Cristo. Más aún, considera una gracia y un aspecto de la vocación propia del cristiano el sufrir haciendo el bien. "Es una exhortación sorprendente, lejanísima de la mentalidad de hoy", opina con tino el Card. Martini1. 

El autor de esta carta expone con amplitud la inocencia de Cristo y su actitud paciente y pacífica durante su pasión. Insiste en que Cristo padeció la cruz, no como castigo por su pecado, sino como sacrificio de redención por nuestros pecados. 

Del sacrificio de Cristo nos ha venido la salvación y la vida de la Gracia ("El llevó sobre la cruz nuestros pecados, cargándolos en su cuerpo, a fin de que, muertos al pecado, vivamos para la justicia. Gracias a sus llagas, ustedes fueron curados; 1Pe 2,24).

Al final del texto de hoy aparece la metáfora de las ovejas y el pastor en consonancia con el evangelio de este domingo. Mediante la misma se expresa el fruto del sacrificio de Cristo: las ovejas perdidas han regresado a su Pastor. Para referirse a este regreso utiliza el verbo epistrefō que suele usarse para hablar de la conversión al igual que metánoeō, pero que pone el acento en el matiz de cambio de dirección, de giro decisivo.

Junto al calificativo de Pastor (poimēn) se encuentra el de Guardián o vigilante (episcopos). Esta vinculación la encontramos de modo análogo en He 20,28 donde Pablo llama así a los presbíteros de Éfeso al referirse a su misión pastoral (poimainō): "Velen por ustedes, y por todo el rebaño sobre el cual el Espíritu Santo los ha constituido guardianes para apacentar a la Iglesia de Dios, que él adquirió al precio de su propia sangre".

Notamos que Jesús actualmente es el Pastor y Guardián de las almas de los destinatarios de la primera de Pedro. Por tanto, es permanente su presentación integral del misterio Pascual, pues si bien insiste en la pasión no descuida que Jesús está resucitado, vivo y ejerciendo su oficio de Pastor y Guardián de las almas.

Evangelio (Jn 10,1-10):


Los estudiosos insisten en vincular este capítulo con el anterior, como una prolongación del mismo, pero con otras imágenes. Por ejemplo X. León Dufour2 dice: “La controversia de Jesús con algunos fariseos (9, 39-41) prosigue con un verdadero «discurso» dirigido a ellos («os lo digo»), introducido por un doble amén y caracterizado por la metáfora del pastor y las ovejas”.

Los especialistas dividen esta sección del capítulo 10 del evangelio de san Juan (10,1-30) en cuatro partes: un discurso sobre el pastor, la puerta del corral y las ovejas (1-6); seguido por tres desarrollos del mismo: sobre la puerta (7-10); sobre el Pastor (11-18); sobre las ovejas (22-30); mientras que hay un intermedio (19-21) con la reacción de los oyentes. En este cuarto domingo del «ciclo A» leemos las dos primeras partes.

Notemos que el relato no comienza hablando del buen Pastor sino describiendo las acciones del falso pastor, del que es un ladrón y un asaltante: no entra por la puerta, sino que "trepa" (avnabai,nw) por otro lado (10,1). 

En contraposición, en 10,2-5 nos detalla las acciones que identifican al verdadero Pastor y la respuesta de parte de las ovejas:

Entra por la puerta; 

el portero le abre;

llama a cada una por su nombre; 

las ovejas escuchan su voz

las hace salir; 

camina delante de ellas. 

las ovejas lo siguen, porque conocen su voz.


Después de hacer esta comparación (παροιμία) entre el ladrón asaltante y el pastor de las ovejas, dice el texto que "ellos" no la comprendieron (10,6). Se refiere a los fariseos con quienes Jesús viene debatiendo después de la curación del ciego de nacimiento (cf. Jn 9,40s). Notemos que la paroimía es un género literario utilizado con frecuencia por el evangelio de Juan y distinto de la parábola y la alegoría. Lo podemos describir como “un discurso de revelación en dos tiempos, misterioso y enigmático el primero, claro y manifiesto el segundo, ambientado en el contexto histórico de Jesús, que habla en el templo de su obra de salvación hasta el anuncio del don de sí a la humanidad”3.

Justamente dado el carácter enigmático de la presentación y la falta de comprensión por parte de los fariseos, Jesús les "explica" la comparación. 

En primer lugar (10,7), Jesús retoma lo ya dicho en 10,1.3 y se identifica con la puerta de las ovejas, por cuanto hay que entrar y salir por Él para encontrar la salvación y el alimento. De este modo Jesús se presenta como el único camino de salvación (cf. Jn 14,6: "Yo soy el camino, la verdad y la vida, nadie va al Padre sino por mí"); es la única puerta que lleva a la vida que procede del Padre. Luego en 10,8-9 identifica a los ladrones y salteadores con quienes vinieron antes que Él. Al final (10,10), siguiendo la contraposición con el ladrón y salteador, se identifica con el pastor que ha venido para “que tengan vida y la tengan en abundancia”, mientras aquellos vienen a hacer daño a las ovejas, incluso a quitarles la misma vida.

Con respecto a la aplicación de la comparación a la comunidad joánica dice L. Rivas4:

"Aunque en el texto no se explicita, queda sobreentendido que en la comunidad cristiana existen "pastores" que ingresan a través de la Puerta que es Jesucristo, pero hay otros que pretenden entrar saltando por otra parte […] Se podría entender que en el contexto del discurso de Jesús, con el título infamante de "ladrones y delincuentes" se está aludiendo a los Fariseos presentes, y tal vez a los Saduceos. Pero en el contexto del autor del evangelio y para los lectores de la obra, estos falsos pastores serían todos los que ofrecen caminos de salvación que no se identifican con Jesucristo, entre los cuales se podría incluir a los zelotes. Jesús es el único camino que conduce a la salvación, y queda rechazada cualquier otra alternativa que se proponga".

Algunas reflexiones:


Llamamos a este día "domingo del Buen Pastor". Se nos invita en el mismo, en primer lugar, a reconocer a Jesús como nuestro Buen Pastor Resucitado, presente en nuestra vida ejerciendo su oficio pastoral. Hoy Él nos habla, debemos reconocer su voz y seguirlo, hacernos sus discípulos. Como dejaba en claro la segunda lectura, Jesús es actualmente el Pastor y Guardián de las almas. De modo discreto pero real sigue obrando en nuestra vida; nos sigue llamando y debemos aprender a escuchar y reconocer su voz para seguirlo. Y hacerlo con gran confianza porque él ha venido y viene para darnos la vida en abundancia.

Pero en la realidad de nuestra vida también aparecen muchas otras voces que son falsas, que buscan apartarnos del camino de Jesús y de su Iglesia; y tenemos que aprender a rechazarlas y no seguirlas. Cuánta confusión reina en las redes sobre todos los temas, incluido el religioso. Por eso es tan importante pedir el don del discernimiento, del que hablaba el Papa Francisco en “Alegraos y regocijaos” n° 166: “¿Cómo saber si algo viene del Espíritu Santo o si su origen está en el espíritu del mundo o en el espíritu del diablo? La única forma es el discernimiento, que no supone solamente una buena capacidad de razonar o un sentido común, es también un don que hay que pedir. Si lo pedimos confiadamente al Espíritu Santo, y al mismo tiempo nos esforzamos por desarrollarlo con la oración, la reflexión, la lectura y el buen consejo, seguramente podremos crecer en esta capacidad espiritual”.


Además, en el contexto litúrgico del tiempo pascual, se nos invita a buscar en la fe los "lugares" de la presencia de Jesús Resucitado. En esta búsqueda encontramos que el Señor ha elegido y elije algunos hombres para que sean signos suyos, signos del Buen Pastor. Esta es la esencia de la vocación al sacerdocio ministerial: hacer presente a Jesús Buen Pastor en medio de su pueblo. Y para ser tales, esto es signos que revelan al Buen Pastor, ellos deben encarnar en su vida las acciones que nos ha descrito el evangelio de hoy. Sobre estas acciones del buen Pastor comenta G. Zevini5: “Si en el Antiguo Testamento Dios mismo precedía en el camino a su pueblo, ahora es Jesús el que camina delante de sus discípulos y es seguido por ellos. El secreto del seguimiento está en la intimidad de la relación personal, alimentada por la Palabra, que el Señor resucitado establece con sus fieles. De este modo los que tienen en la Iglesia la función de hacer presente a Jesús-Pastor tienen que demostrar su veracidad y ser reconocidos por la comunidad sobre la base de la identificación personal con Jesús”.

Ahora bien, en el evangelio de hoy Jesús se presenta también como la puerta por la que entra el que es pastor de las ovejas, en oposición a los que no son tales, sino que son ladrones y salteadores, quienes no entran por la misma. Al respecto dice Benedicto XVI: "Jesús, antes de designarse como Pastor, nos sorprende diciendo: "Yo soy la puerta" (Jn 10, 7). En el servicio de pastor hay que entrar a través de él. Jesús pone de relieve con gran claridad esta condición de fondo, afirmando: "El que sube por otro lado, ese es un ladrón y un salteador" (Jn 10, 1). Esta palabra "sube" ("anabainei") evoca la imagen de alguien que trepa al recinto para llegar, saltando, a donde legítimamente no podría llegar. "Subir": se puede ver aquí la imagen del arribismo, del intento de llegar "muy alto", de conseguir un puesto mediante la Iglesia: servirse, no servir. Es la imagen del hombre que, a través del sacerdocio, quiere llegar a ser importante, convertirse en un personaje; la imagen del que busca su propia exaltación y no el servicio humilde de Jesucristo. Pero el único camino para subir legítimamente hacia el ministerio de pastor es la cruz. Esta es la verdadera subida, esta es la verdadera puerta. No desear llegar a ser alguien, sino, por el contrario, ser para los demás, para Cristo, y así, mediante él y con él, ser para los hombres que él busca, que él quiere conducir por el camino de la vida. Se entra en el sacerdocio a través del sacramento; y esto significa precisamente: a través de la entrega a Cristo, para que él disponga de mí; para que yo lo sirva y siga su llamada, aunque no coincida con mis deseos de autorrealización y estima. Entrar por la puerta, que es Cristo, quiere decir conocerlo y amarlo cada vez más, para que nuestra voluntad se una a la suya y nuestro actuar llegue a ser uno con su actuar". (Homilía que pronunció el Papa Benedicto XVI en la santa misa de ordenación sacerdotal de quince diáconos de la Diócesis de Roma en la Basílica de San Pedro el domingo 7 de mayo de 2006).


Es lo que Dios ha dispuesto con su sabia pedagogía: elegir a hombres que, con toda su carga de fragilidad propia de lo humano, hagan presente a Jesús Buen Pastor. Esto es posible mediante la Gracia del Sacramento del Orden que es un inmerecido Don y, al mismo tiempo, una fuerte llamada a configurar la propia vida con la de Jesús. El Presbítero es llamado en primer lugar a pasar por la Puerta que es Cristo, a dejarse pastorear por Él, a escuchar con atención su voz, a identificarse lo más posible con Él. Entonces, y sólo entonces, cumplirá su misión de ser signo visible de nuestro Buen Pastor Invisible.


Al mismo tiempo Jesús es también la puerta por la que deben pasar las ovejas para encontrar la salvación, el pasto como alimento de vida. Por tanto, hay una invitación clara para todas las ovejas, o sea a todos los cristianos incluidos los pastores, a pasar sólo por la puerta que es Jesús. Y dice el evangelio que entran y salen por ella. Según el card. Vanhoye, se trata de una invitación a hacer pasar toda nuestra vida por Jesús para que la misma tenga un valor y sabor de plenitud, de eternidad. Esta es la vida abundante, trascendente que Jesús como buen Pastor nos ofrece. En efecto, dice este autor: "todo lo que hagamos en el mundo sólo tiene valor si pasamos por Jesús, si nos unimos a Él en nuestras relaciones con todas las demás personas. Un padre, una madre, para ocuparse de sus hijos, deben pasar por la puerta que es Jesús, es decir, deben unirse a Él, a fin de ser realmente progenitores que eduquen bien a sus hijos en el amor de Dios, en la caridad para con el prójimo, en la honestidad, en la acción de gracias a Dios. Todas nuestras relaciones con el prójimo deben pasar por Jesús. Todo lo que hagamos debemos hacerlo siempre en unión con el corazón de Jesús; o mejor aún, todo ello es obra de Jesús, en la que nosotros colaboramos. Jesús es el mediador universal. Es el único capaz de realizar verdaderamente la unión entre los hombres. Es el mediador entre los hombres y Dios, y es el mediador en las relaciones entre los hombres"6.

Podemos seguir poniendo ejemplos, como ser: un matrimonio debe pasar su amor por Jesús para santificarlo; los trabajadores hacer pasar por Jesús su labor. Todo, la amistad, la diversión, la comida, el descanso, tenemos que hacerlo pasar por Jesús para que sea medio de unión con Dios, nuestro Padre. Como leemos en Col 3,17: "Todo cuanto hagáis, de palabra y de obra, hacedlo todo en el nombre del Señor Jesús, dando gracias a Dios Padre por medio de él". 


Por último, en este domingo del Buen Pastor se celebra la 57 Jornada Mundial de oración por las vocaciones en la que se nos invita a rezar para que nunca falten en la Iglesia los buenos pastores. Sabemos que el cultivo de las vocaciones es una responsabilidad de toda la Iglesia, por tanto, todos somos invitados a pedir al Señor para por el aumento y perseverancia de las vocaciones sacerdotales. Y para los sacerdotes pastores es también una invitación a meditar sobre el sentido de nuestra vocación. Para esto pueden ayudarnos el mensaje del Papa Francisco para esta jornada donde nos ofrece una meditación partiendo del texto de Mt 14,22-33 que nos cuenta la singular experiencia de Jesús y Pedro durante una noche de tempestad, en el lago de Tiberíades. Y de aquí extrae lo que él llama “las palabras de la vocación”: GRATITUD – ÁNIMO – FATIGA – ALABANZA.


GRATITUD: “Toda vocación nace de la mirada amorosa con la que el Señor vino a nuestro encuentro, quizá justo cuando nuestra barca estaba siendo sacudida en medio de la tempestad. «La vocación, más que una elección nuestra, es respuesta a un llamado gratuito del Señor» (Carta a los sacerdotes, 4 agosto 2019); por eso, llegaremos a descubrirla y a abrazarla cuando nuestro corazón se abra a la gratitud y sepa acoger el paso de Dios en nuestra vida”.


ÁNIMO: “Lo que a menudo nos impide caminar, crecer, escoger el camino que el Señor nos señala son los fantasmas que se agitan en nuestro corazón. Cuando estamos llamados a dejar nuestra orilla segura y abrazar un estado de vida —como el matrimonio, el orden sacerdotal, la vida consagrada—, la primera reacción la representa frecuentemente el “fantasma de la incredulidad”: No es posible que esta vocación sea para mí; ¿será realmente el camino acertado? ¿El Señor me pide esto justo a mí? Y, poco a poco, crecen en nosotros todos esos argumentos, justificaciones y cálculos que nos hacen perder el impulso, que nos confunden y nos dejan paralizados en el punto de partida: creemos que nos equivocamos, que no estamos a la altura, que simplemente vimos un fantasma que tenemos que ahuyentar. El Señor sabe que una opción fundamental de vida —como la de casarse o consagrarse de manera especial a su servicio— requiere valentía. Él conoce las preguntas, las dudas y las dificultades que agitan la barca de nuestro corazón, y por eso nos asegura: “No tengas miedo, ¡yo estoy contigo!”.


FATIGA: “Si dejamos que nos abrume la idea de la responsabilidad que nos espera —en la vida matrimonial o en el ministerio sacerdotal— o las adversidades que se presentarán, entonces apartaremos la mirada de Jesús rápidamente y, como Pedro, correremos el riesgo de hundirnos. Al contrario, a pesar de nuestras fragilidades y carencias, la fe nos permite caminar al encuentro del Señor resucitado y también vencer las tempestades. En efecto, Él nos tiende la mano cuando el cansancio o el miedo amenazan con hundirnos, y nos da el impulso necesario para vivir nuestra vocación con alegría y entusiasmo”.


ALABANZA: “aun en medio del oleaje, nuestra vida se abre a la alabanza. Esta es la última palabra de la vocación, y quiere ser también una invitación a cultivar la actitud interior de la Bienaventurada Virgen María. Ella, agradecida por la mirada que Dios le dirigió, abandonó con fe sus miedos y su turbación, abrazó con valentía la llamada e hizo de su vida un eterno canto de alabanza al Señor”.



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


La Puerta…

 

Señor,

¿Dónde está esa puerta?

Mis pasos erráticos no dan con ella.

Se dejan confundir por el ese sitio halagador

Donde descansa mi pobreza

 

¡Oh, si yo supiera!

¡Si pudiera encontrar el camino hacia ella!

¡Caminar sin vacilar por una marcada senda

Y después de atravesarla, soñar…!

 

Pero no es así, ¿Verdad?

Es sencillo y al mismo tiempo fugaz

Estar atentos al hecho singular, regular

Rutinario y sin igual, donde padecemos.

 

Allí podemos vislumbrar

Una silueta de madera de tronco vertical

Donde unos brazos divinos cruzaron un signo

Y por él… fuimos atraídos.

 

Mortal, final y principio

Entramos y salimos junto al Pastor

Aunque siempre somos distintos

Vamos lento, andando con él, el Camino.

 

¡La Puerta eres Tú, Señor!

El Espíritu afine nuestros oídos

Pues solamente ante tu Voz

Se rinden nuestros sentidos. Amén.

1 C. M. Martini, El secreto de la primera carta de Pedro (San Pablo; Bogotá 2007) 106.

2 Cf. Lectura del evangelio de Juan. Jn 5-12. Vol. II, Salamanca, Sígueme 1992; 283. Puede verse también la opinión de Cf. F. Moloney, El evangelio de Juan, Estella, Verbo Divino 2005; 291-292.

3 G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 252.

4 L. H. Rivas, El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 300-301.

5 Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 256.

6 Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo A (Mensajero; Bilbao 2003)128-129.