11º DOM. TC-A

11º DOMINGO DO TEMPO COMUM- A

18/06/2023

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO

Primeira Leitura: Êxodo 19,2-6a

Salmo Responsorial-99(100)-R- Nós somos o povo e o rebanho do Senhor.

Segunda Leitura: Romanos 5,6-11

Evangelho: Mateus 9,36-10,8 

Naquele tempo Jesus disse: 36 Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: 37 “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38 Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!” Chamando os doze discípulos, Jesus deu-lhes poder para expulsar os espíritos impuros e curar todo tipo de doença e de enfermidade. 2 Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, chamado Pedro, e depois André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João; 3 Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 4 Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor de Jesus. 5E Jesus enviou esses doze, com as seguintes recomendações: “Não deveis ir aos territórios dos pagãos, nem entrar nas cidades dos samaritanos! 6 Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! 7 No vosso caminho, proclamai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. 8 Curai doentes, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expulsai demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar!


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP

 Mt 9,36-10,8

Jesus enviou os doze discípulos com uma ordem expressa: De graça recebestes, de graça dai!

Deus escolhe para enviar. É pela missão que os eleitos de Deus se tornam instrumento e veículo de eleição para todos os povos: tendo recebido gratuitamente, gratuitamente dá, ou melhor, se dá gratuitamente.

Deus escolheu para si e privilegiou uma pequena porção da humanidade. Primeiro escolheu o povo hebreu, depois escolheu a Igreja. Além de escolher ainda estabeleceu aliança com eles. Se as coisas parassem por aqui, essa escolha de Deus seria um privilégio difícil de engolir. Será que os cristãos, pelo fato de terem sido escolhidos por Deus, formam uma casta privilegiada que se aliou com Deus contra os outros povos? A resposta para essa dificuldade é dada no Evangelho de hoje: De graça recebestes, de graça dai!

Dai de graça! Dar o que? Tudo o que recebemos, tudo o que somos por graça! Tudo deve circular, tudo deve ser repartido. Isso vale primeiramente para o amor: o amor que recebemos de Deus, o amor que nos elegeu e privilegiou deve transbordar para os outros como amor ao próximo. Os filhos da Igreja não podem se contentar em amar somente os próprios membros da Igreja. Nesse sentido, nos ajuda outro ensinamento de Jesus: “Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis?  E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito”.

Dai de graça! De que modo? Eis a palavra mais importante da liturgia de hoje: a missão! Jesus escolheu os doze e os mandou em missão, mostrando, com isso, que, se ele escolhe e privilegia, o faz para enviá-los aos outros, para enviá-los às multidões cansadas e abatidas como ovelhas que não têm pastor. 

Os cristãos somos escolhidos por Deus e nos tornamos aliados de Deus não para nos separar dos outros, nem para estar contra os outros, mas em favor deles, para buscar a salvação de todos. 

Não cabe a nós julgar o que Deus faz em sua liberdade e bondade: Ele escolhe alguns e não todos! Deus, porém, revela na missão dos doze discípulos que o privilégio de Deus implica a responsabilidade dos escolhidos em levar a todos a salvação. O privilégio faz parte da experiência cristã, mas essa experiência não nos fecha em nós mesmos, antes nos impulsiona para a missão. Privilégio e serviço constituem duas faces da mesma moeda.

O privilégio da eleição e o serviço missionário estão condensados na ordem de Jesus: De graça recebestes, de graça dai!


Chamado – seguimento com a marca da compaixão - Pe Adroaldo Palaoro


“Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas...” (Mt 9,36)


O atributo primeiro do Deus de Jesus não é o poder, a majestade, o senhorio..., mas a compaixão. Ele não vem para impor-se e dominar o ser humano. Ele se aproxima para tornar nossa vida mais digna e ditosa.

Esta é a experiência que Jesus comunica em suas parábolas mais comovedoras e a que inspira toda sua trajetória a serviço do Reino de Deus. De fato, na sua vida pública, Jesus deixa transparecer o rosto do Pai compassivo na sua relação com a humanidade, sobretudo com os sofredores, vítimas de violência e exclusão. A imagem do Deus revelado por Ele não está acima ou à margem do sofrimento humano.

Jesus é a primeira testemunha da compaixão do Pai; Ele foi o primeiro a viver totalmente a partir deste sentimento tão divino e tão humano, desafiando claramente o sistema de santidade e pureza que predominava naquela sociedade. Ele quer que, a partir de então, os enfermos, os famintos, os excluídos..., experimentem em sua própria vida a compaixão de Deus.

A atuação de Jesus era diferente das autoridades religiosas, pois Ele via tudo a partir da compaixão de Deus. O que lhe preocupava, antes de mais nada, era o sofrimento que destruía, humilhava e marginalizava tantas pessoas. Jesus não caminhava pela Galileia buscando pecadores para convertê-los de seus pecados, mas aproximava-se dos enfermos, famintos e endemoninhados para libertá-los de seu sofrimento.

É precisamente esta compaixão de Deus que faz Jesus tão sensível ao sofrimento e à humilhação das pessoas, que o atrai para as vítimas inocentes: os maltratados pela vida ou pelas injustiças dos poderosos.

Sua paixão pelo Deus do Reino se traduz em compaixão pelo ser humano. O Deus do templo, o Deus da lei e da ordem, do culto e do sábado, não poderia alimentar sua entrega a todos os sofredores.

Por isso, a compaixão, é a opção e atitude fundamental de Jesus diante dos sofredores, famintos e excluídos.

Diante deles, Ele não permanece impassível, mas sente remover suas entranhas.

A palavra hebraica que se traduz por compaixão é “rahamim”, derivada de “rahem”, ventre, entranhas.

Na antropologia bíblica, ventre é o lugar da compaixão e é aplicado a Deus, pois só Ele é capaz de atuar compassivamente a partir de suas entranhas. A tradição bíblica do Êxodo apresenta Javé movido pela compaixão diante dos sofrimentos do povo hebreu; Ele escuta os gritos que chegam ao céu e compromete-se com a libertação da escravidão do Egito (Ex 3,7-12).

A compaixão também está na base da legislação hebraica que defende os direitos dos órfãos, das viúvas e dos estrangeiros, os mais vulneráveis entre o povo. É o centro da mensagem e a prática dos profetas de Israel, para quem a religião verdadeira não consiste em oferecer sacrifícios, mas em fazer o bem, estabelecer o direito e praticar a justiça.

A compaixão expressa, portanto, uma reação visceral, o estremecimento mais íntimo e humano que uma pessoa pode experimentar. Nesse sentido, a compaixão é o motor da vida e da conduta do ser humano.

A partir de sua experiência radical da compaixão, Jesus introduz na história um princípio decisivo de ação: “Sede compassivos como vosso Pai é compassivo” (Lc 6,36). A compaixão é a força que pode mover a história para um futuro mais humano. A compaixão ativa e solidária é a grande lei da dinâmica do Reino, aquela que faz reagir diante do clamor daqueles que sofrem e mobiliza a todos para construir um mundo mais justo e fraterno. Esta é a grande herança que os cristãos precisam manter sempre ativa. Afinal, eles são os seguidores do Compassivo.

A compaixão é a virtude por excelência proclamada no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os compassivos...”. Felicidade e compaixão são inseparáveis. Uma pessoa é feliz partilhando e aliviando a dor das pessoas que sofrem. A falta de entranhas de misericórdia torna infelizes aqueles que não praticam tal virtude e aqueles que sofrem.

Por isso, pode-se dizer que se trata de um princípio ético universal, que transcende todas as culturas e religiões, de maneira que, precisamente por isso, está presente onde há humanidade.

A compaixão é comum a todos e é anterior a toda instituição religiosa. Ela está inscrita no mais profundo de todo ser humano, independentemente de sua opção religiosa.

Fomos criados à imagem e semelhança do Deus Compassivo e trazemos “tatuado” em nossas entranhas a marca da compaixão, que é continuamente ativada diante dos dramas da vida. Este sentimento, tão humano e tão divino, constitui a essência do nosso “eu” verdadeiro e revelador da nossa identidade mais original e profunda.

No entanto, quando nos deixamos seduzir pelo “ego inflado”, a compaixão se atrofia, a sensibilidade se petrifica, os afetos se esvaziam... Consequências: o agravamento da cultura do ódio, da intolerância, do preconceito e da indiferença frente à realidade marcada pela violência, miséria e exploração.

Compaixão bloqueada dá margem ao processo de desumanização.

O eu entrincheirado em seu “bunker” necessita passar por um processo de higiene e saúde, respirar novos ares, não viciados ou contaminados; precisa abrir suas portas e janelas ao outro, sair às ruas, fazer-se presente junto às situações desumanizadoras.

Viver fechado em si e para si termina por afogar-se nas águas poluídas do narcisismo. Só a compaixão vem a ser o melhor antídoto contra o egoísmo tão enraizado no ser humano. Impulsionado pelo sentimento da compaixão ele quebra as paredes de seu “bunker”, sai ao encontro do outro e se compromete com ele. Escreve E. Levinás: “a partir do momento em que o outro me olha, eu sou responsável por ele”.

No evangelho deste domingo, Mateus esclarece que foi no contexto da compaixão de Jesus diante da multidão faminta e sem pastor que o “chamado e o envio” acontecem. O chamado de Jesus emerge no calor da compaixão; só este sentimento tão nobre dará inspiração e sentido ao seu seguimento.

Sem deixar-se guiar pela compaixão, o seguimento de Jesus “passa pelo outro lado” diante do sofrimento humano e se torna cúmplice dele. A alternativa é o seguimento como vivência do amor, da justiça e do cuidado, que faz sua a dor das vítimas; um seguimento carregado de com-paixão, que denuncia os geradores de vítimas e toma partido pelas pessoas, os coletivos e a natureza, sofredores que gritam aos céus.

Seguir Jesus sem compaixão é ser “burocrata” do Reino; é viver uma religião sem afeição pelo Mestre da Galileia. Sem compaixão não há identificação com o Compassivo; só quando inspirado pela compaixão é que o(a) seguidor(a) poderá anunciar a Boa Nova do Reino, “curar os doentes, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos, expulsar os demônios”. Igualmente, só a compaixão desperta outro sentimento tão nobre, o da gratidão: “de graça recebestes, de graça deveis dar”.

Num mundo “sem-compaixão” a primeira coisa que devemos fazer, como cristãos, é resgatar a compaixão de uma concepção sentimental e moralizante. Não podemos reduzi-la à assistência caritativa ou a um sentimento eventual. “Ser compassivo” é modo permanente de viver e proceder.

Inspirados(as) pela mensagem e pela atuação profética de Jesus, a compaixão se expressa como um grito de indignação absoluta: o sofrimento dos inocentes deve ser levado a sério, não pode ser aceito como algo normal, pois é inaceitável para Deus.

O apelo de Jesus a sermos compassivos como o Pai implica uma maneira nova de nos relacionar com o sofrimento injusto que há no mundo. Para além de chamamentos morais e religiosos, Ele está pedindo que a compaixão, ativa e solidária, penetre mais e mais nos fundamentos da convivência humana, erradicando todo tipo de sofrimento e suas causas. Só assim, o Reinado do Pai se faz presente em nossa história.


Para meditar na oração

A grande novidade e originalidade de Jesus (sua subversão) começou em sua maneira de olhar a realidade e de deixar-se afetar por ela. A “subversão” da vida começa pela subversão do olhar e vice-versa. O coração sente de acordo com o que os olhos veem, mas os olhos veem de acordo com o que sente o coração. A realidade subverte o olhar, e o olhar subverte a realidade. Olhos que não veem, coração que não sente. Mas os olhos não veem quando o coração não sente.


- Sua vivência do Seguimento de Jesus é marcada pelo “olhar compassivo e comprometido” ou por práticas piedosas alienadas, que não o(a) projetam em direção aos mais sofredores?



Cada domingo - José Antonio Pagola


Para celebrar a Eucaristia dominical, não basta seguir as normas prescritas ou pronunciar as palavras obrigatórias. Não basta, tampouco, cantar, abençoar-nos ou darmos a paz no momento adequado. É muito fácil assistir à missa e não celebrar nada no coração; ouvir as leituras correspondentes e não escutar a voz de Deus; comungar piedosamente sem comungar Cristo; darmos a paz sem nos reconciliarmos com ninguém. Como viver a missa do domingo como uma experiência que renova e fortalece a nossa fé?


Para começar, temos de escutar com atenção e alegria a Palavra de Deus, e em concreto o evangelho de Jesus. Durante a semana, vimos a televisão, ouvimos a rádio e lemos a imprensa. Vivemos confundidos por todos os tipos de mensagens, vozes, notícias, informações e publicidade. Precisamos escutar outra voz diferente que nos cure por dentro.


É um respiro escutar as palavras diretas e simples de Jesus. Trazem verdade à nossa vida. Libertam-nos de enganos, medos e egoísmos que nos fazem mal. Ensinam-nos a viver com mais simplicidade e dignidade, com mais sentido e esperança. É uma sorte fazer o percurso da vida guiados, cada domingo, pela luz do evangelho.


A oração eucarística constitui o momento central. Não podemos distrair-nos. «Levantamos o coração» para dar graças a Deus. É bom, é justo e necessário agradecer a Deus pela vida, por toda a criação e pelo presente que é Jesus Cristo. A vida não é apenas trabalho, esforço e agitação. É também celebração, ação de graças e louvor a Deus. É bom reunir-nos cada domingo para sentir a vida como um presente e dar graças ao Criador.


A comunhão com Cristo é decisiva. É o momento de acolher Jesus na nossa vida para experimentá-lo em nós, para nos identificarmos com Ele e trabalhar, confortar e fortalecer pelo seu Espírito. Tudo isto não vivemos encerrados no nosso pequeno mundo. Cantamos juntos o Pai Nosso sentindo-nos irmãos de todos. Pedimos que a ninguém falte o pão nem o perdão. Damos a paz e procuramos para todos.



As multidões estavam cansadas e abatidas - Ana Maria Casarotti

O Evangelho deste domingo convida-nos a refletir sobre o encargo dado por Jesus aos seus discípulos e discípulas. Eles/as devem continuar e expandir Sua missão: anunciar a Boa Nova a um povo que sofre, abatido pela desesperança, pela marginalização, indigno de receber a promessa de Deus.

“Vendo as multidões...” Hoje também há multidões que sofrem pela falta de pão na sua mesa, pelas carências geradas por interesses econômicos, porque não têm como defender seus direitos, pela crise humanitária que o mundo inteiro está atravessando pela incerteza que gera a pandemia, pelas mortes de tantas pessoas queridas. Multidões que sofrem sem saber qual é o caminho a seguir, qual é a palavra que deve ser escutada.

“Jesus teve compaixão”. A compaixão acompanhou o sentir de Jesus e motivou seu agir durante toda sua vida. É sinalada em diferentes oportunidades pelos evangelistas como uma maneira de aproximar-se das pessoas, quase como o coração do seu viver. Jesus vê as multidões que “estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” e diante do seu sofrimento ele sente compaixão.

Mais adiante Mateus descreve a compaixão de Jesus num cenário similar: “Ao sair da barca, Jesus viu grande multidão. Teve compaixão deles, e curou os que estavam doentes” (Mt 14,14). Diante de numerosas multidões que “o seguem levando consigo coxos, aleijados, cegos, mudos, e muitos outros doentes” para que sejam curados, Jesus chama seus discípulos e lhes revela aquilo que sente: “Tenho compaixão dessa multidão” (Mt 15,32).

Neste momento quais são as multidões às quais Jesus dirige seu olhar e despertam nele compaixão? Quais são as povoações que caminham à procura de vida, de uma terra, de defesa dos seus bens que estão sendo roubados, deixando-os na miséria e pobreza absoluta? Neste tempo a pandemia atinge mais fortemente as populações vulneráveis em todo o mundo e são sempre os mais pobres e desprotegidos os que mais sofrem suas consequências. No Brasil a pandemia está atingindo os povos indígenas e comunidades tradicionais.

Como disse dom Roque Paloschi, “o tempo de pandemia revela uma situação que é já conhecida desde sempre em relação à precariedade dos povos originários”. “Essa pandemia mostrou o caos que se vive na saúde, na questão das políticas públicas, de atenção aos povos amazônicos”[...] “Nossa pátria está assistindo ao desaparecimento dos nossos povos originários, algo que vem desde a chegada dos primeiros colonizadores”´[...] Diante da morte de muitos anciãos indígenas em decorrência do coronavírus, ele os define como “livros vivos dos povos, uma biblioteca do povo, e a morte desses guerreiros e guerreiras é sinal de perda, de empobrecimento das tradições dos povos”.

Desde este olhar Jesus descobre a necessidade mais profunda das pessoas que estão ao seu redor. Não são simplesmente “pessoas”, é seu povo amado e companheiro de caminho. São seus amigos e amigas, seus vizinhos, as pessoas que o conheciam e possivelmente ele também sabia da história e da vida delas. E assim ele sente sua dor, seu cansaço e abatimento. Neste momento ele descobre “a necessidade mais profunda daquelas pessoas: andam ‘como ovelhas sem pastor’. O ensino que recebem dos mestres e letrados da lei não lhes oferece o alimento de que necessitam. Vivem sem que ninguém cuide delas. Vivem sem pastor que as conduza e as defenda”.

E, movido pela compaixão, “Jesus disse a seus discípulos: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos! Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita». Antes de chamar a cada um por seu nome, Jesus convida-os a olhar a multidão como ele a vê e reconhecer assim a necessidade profunda que há nesse povo que precisa de trabalhadores.

O chamado nasce do olhar compassivo de Jesus e do pedido ao Pai que envie trabalhadores para a colheita. Os discípulos são chamados a ser pastores deste rebanho que não tem pastor e os envia com recomendações: “Vão e anunciem: ‘O Reino do Céu está próximo’. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, deem também de graça!”.

Neste momento também somos convidados/as a viver e comunicar a gratuidade do Amor de Deus que se oferece sem medida. Anunciar o Reino do Céu é colocar-se em primeiro lugar ao serviço das pessoas, das suas necessidades. Seguindo o exemplo de Jesus que se fez servo de todos/as, solidário de toda a humanidade para desde as suas entranhas realizar o caminho de libertação e ressurreição.

Neste domingo Jesus nos convida, de forma especial no contexto histórico que estamos vivendo, a levar adiante este serviço que se expressa no cuidado dos que mais sofrem as consequências da pandemia, dos povos mais vulneráveis. Deve manifestar-se em atos e gestos proféticos, numa luta real, que manifestam a presença ativa de Deus e são assim sinais visíveis do Invisível. Hoje a intervenção para a justa distribuição dos bens econômicos, a luta pelos direitos dos seres humanos, pela conservação do meio ambiente, podem ser consideradas atividades que estão no mesmo plano que curar enfermos e ressuscitar mortos.

Olhemos com Jesus nosso mundo hoje. O que Ele nos mostra? O que Ele sente? Somos convidados a unir nosso olhar ao olhar de Jesus. Deixemos que sua compaixão ecoe no nosso interior para escutar assim seu convite para anunciar a Boa Nova.

 

Oração

Em tudo

Em tudo contemplar-te

porque em tudo alentas

interior e última energia

onde tudo consiste,

em tudo descobrir-te

perfurando a casca

bela ou destroçada

de tudo o que vive.

Em tudo anunciar-te

próximo e inédito

venturoso futuro

surgido do abismo.

Em tudo sofrer-te

solidário nas perdas

que amputam a toda criatura

perfurando seu peito.

Em tudo amar-te

Deus íntimo e universal

no abraço que enternece

e na comunhão cósmica.

Em tudo servir-te

trabalhando a convergência em ti,

certa e impossível,

de tudo o que existe.

Benjamin González Buelta

Salmos para sentir e saborear internamente as coisas



Mt 9,36-10,8 – Jesus Envia Missionários - Thomas Mc Grath (Tomé)

Situando. 

Na época em que Mateus escreve o Evangelho, as comunidades cristãs, 40/50 anos após a morte e ressurreição de Jesus, passavam por momentos difíceis: conflitos com as lideranças judeus - o judaísmo já não aceitavam eles nas sinagogas; além disso, eles estavam sendo perseguidos pelo Império romano, por não aceitar o imperador como um Deus. O entusiasmo missionário andava desmotivado. Como resposta a essa situação Mateus, usando as palavras de Jesus, escreve o discurso sobre a missão, para falar da vivencia dos seus seguidores na sociedade da época. 

Comentando

9, 36-38. Primeiramente faz uma introdução (9,36-38) mostrando que Jesus, se compadece das multidões cansadas, abatidas, e abandonadas. Ninguém se preocupava com eles. Eles pareciam um rebanho sem pastor (Jr 23; Ez 34).

A compaixão resuma e marca a missão de Jesus. Na Bíblia, a compaixão é uma forma de amor maternal: como uma mãe olha e ama uma criancinha sem defesa. Ter compaixão de alguém significa sentir suas dores e sofrimentos. Não significa nenhum olhar de superioridade sobre um coitadinho que merece piedade, mas solidariedade de quem assume o destino de sofrer juntos para juntos se libertar.

10,1-8. Na segunda parte Jesus chama os que o acompanham mais de perto a sentirem a mesma compaixão (10,1-4). No começo eram quatro apóstolos, mas agora são doze, isto é, um grupo completo que resume o povo de Israel, como os 12 patriarcas. O número doze simboliza totalidade. Os doze representa as doze tribos do antigo Israel. O termo apóstolo quer dizer enviado. Na época, era comum grupos e instituições judaicas terem missionários.

No v 38 Jesus havia explicitado a situação aos discípulos: "A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos". A urgência da missão eviden¬cia-se pela imagem "a colheita é grande". Exige um número maior de colaboradores. É preciso insistir junto ao "Senhor da messe" que envie muitos operários. Jesus recomenda aos discípulos: "Peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita". Diferentemente dos líderes políticos e sociais, os discípulos devem ser solidários com os sofrimentos do povo. A missão de anunciar o Reino nasce da percepção da necessidade de solidariedade para com o povo abandonado.

Jesus aponta aos doze a prioridade da missão: "Não tomem o caminho dos pagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos! Vão antes às ovelhas perdidas da casa de Israel!". Para o Mestre, a urgência é ir ao encontro das “ovelhas perdidas do povo de Israel” e colocar-se a serviço daqueles de quem a dignidade e a liberdade foram roubadas e que se encontram subjugados aos mecanismos da escravidão e da morte.

A primeira coisa é que Ele lhes dá poder sobre os espíritos maus, para expulsá-los e para curar toda enfermidade, ressuscitar os mortos e purificar os leprosos. “Vocês receberam sem pagar; portanto, deem sem cobrar”.

O conteúdo da mensagem: "Vão e anunciem: o Reino do Céu está próximo". A presença do Reino revela-se por meio de relações de fra¬ternidade, paz, compaixão e gratuidade. Seu anúncio deve gerar relações que gerem um novo estilo de vida. Enfim, os doze são enviados para fazerem o mesmo que Jesus fez: "Curar os doentes, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos e expulsar os demônios". Isto é acabar com as exclusões, integrando de novo as pessoas excluídas – doentes, leprosos, possuídas, - e gerar um novo povo, libertando as pessoas de tudo o que as oprime, conforme o projeto de Deus.

Atualizando e alargando

1. Falar ao coração das pequenos. A boa nova é para o povo da aliança. A compaixão de Jesus pelo povo abandonado, como "ovelhas sem pastor", faz pensar na necessidade de solidariedade com as populações excluídas e esquecidas nas periferias das nossas cidades, nas cadeias superlotadas; faz pensar nos moradores de rua, as nações indígenas sendo eliminadas pela ganancia de ouro e terras; faz pensar nos milhões de crianças que dormem com fome; faz pensar nos refugiados que morrem no alto mar fugindo da fome, exclusão e de guerras, do tráfico de armas, drogas e tráfico de seres humanos; faz pensar nos famintos, desempregados, subempregados, os que arriscam as suas vidas nas motos e bicicletas do serviços “quarteirizados”. São essas as pessoas que compõem o rebanho sem pastor. São essas as pessoas que precisam de compaixão. Compaixão não é nenhum olhar de superioridade sobre um coitadinho que merece piedade. Compaixão é solidariedade de quem assume o destino de sofrer juntos para juntos se libertar.

Como anunciar a Boa-Nova do Reino nessas situações e para essa gente? É essa a pergunta que precisamos fazer e responder em comunidade. Jesus sentiu compaixão pelas “não-pessoas” porque ninguém se preocupava com elas, nem os dirigentes políticos, nem os dirigentes religiosos. 

A missão dos discípulos e das discípulas recebida de Jesus, quando eles andavam juntos ontem, é a mesma missão para a sua Igreja e as nossas Comunidades que quer andar junto com Jesus hoje.

Em Jesus, o Bom Pastor, Deus solidariza-se com as pessoas que mais sofrem. Em Jesus, o Pai continuou o projeto da aliança que ele havia feito com os pobres da terra da escravidão no Egito, da escravidão da Babilônia. É Deus solidarizando-se com as pessoas que mais sofrem nos “Egitos e Babilônios” de hoje. 

A missão evangelizadora é ter compaixão pelo povo abandonado mais do que simplesmente transmitir “conteúdo da fé”, ou enumerar o que pode ou não pode fazer. É ajudar os que não possuem os “3 Ts”, do Papa Francisco – Terra, Trabalho e Teto -, a alcançar os “3 Ts”.. 

2. Criar uma nova sociedade. A tarefa evangelizadora para a Igreja é chegar a atingir e transformar, pela força do Evangelho, os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e o modelo de vida da sociedade. Evangelizar, não é coisa decorativa, como se fosse aplicando um verniz superficial, mas mexendo com as raízes da convivência humana – anunciando e confirmando os sinais da vida, e denunciando as situações que destroem a vida. Revelando (tirando o véu que esconde) a presença de Deus, e apontando o dedo para as situações que destroem a vida

Os cristãos são convidados a "revelar a Boa-Nova" do Mestre, ser portadores de boas novas de esperança para a sociedade e não profetas de desventuras.

3. Gratuidade e alegria. É a gratuidade e a alegria do discípulo que é capaz de mudar o mundo atemorizado pelo futuro, e oprimido pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo e da discípula não é um sentimento de bem estar egoísta, mas uma certeza que brota de uma confiança (fé) que tranquiliza o coração, e potencializa para o anúncio da Boa-Nova do amor de Deus. A alegria vem da certeza que nem o calvário e nem a cru é capaz de nos vencer.



11º DOMINGO DO TEMPO COMUM - DEHONIANOS

Ex 19,2-6ª – Pacto, Aliança. “Berit”, Compromisso

Dehonianos

Situando

O texto que nos é proposto faz parte das “tradições sobre a aliança do Sinai” – um conjunto de tradições de origem diversa, cujo denominador comum é a reflexão sobre um compromisso (“berit” – “aliança”) que Israel teria assumido com Javé.

O texto situa-nos no deserto do Sinai, “em frente do monte”. Em si, o nome Sinai não designa um monte, mas uma enorme península de forma triangular, com mais ou menos 420 quilómetros de extensão. A península é um deserto árido de terreno acidentado e com várias montanhas que chegam a atingir 2400 metros de altura.

Uma tradição cristã identifica o “monte da aliança” com o “monte de Moisés”, um monte com 2244 metros de altitude, situado a sul da península. 

Vai ser aqui, no Sinai, diante de “um monte” que Javé e Israel vão se comprometer numa “aliança”. A palavra hebraica “berit”, usada neste contexto, define um pacto entre duas partes, que implica direitos e obrigações, muitas vezes recíprocos. A “berit” raramente era escrita, mas tinha sempre valor jurídico. Habitualmente, o compromisso era selado por um ritual consagrado pelo uso, incluindo um juramento e a imolação de animais em sacrifício.

Comentando

Em primeiro lugar, é importante reparar que a iniciativa da “aliança” é de Deus: é Javé que convoca Moisés – o intermediário entre Deus e o Povo – para a montanha e propõe, através dele, uma “aliança” à “casa de Jacob”. A iniciativa de estabelecer laços de comunhão e de familiaridade com o seu Povo é sempre de Deus.

Em segundo lugar, essa “aliança” que Deus propõe é uma realidade que envolve toda a história do Povo. As palavras de proposição da “aliança” aparecem em três estrofes, cada uma das quais abarca um tempo: passado, presente e futuro. É uma relação que aponta à totalidade da caminhada do Povo de Deus.

A primeira estrofe (vers. 4) refere-se ao passado. Faz referência à libertação da escravidão do Egito (“vistes o que Eu fiz no Egito”); à presença e assistência amorosa de Deus ao longo da marcha pelo deserto (“como vos transportei sobre asas de águia”); e ao chamamento à comunhão com o próprio Deus (“e vos trouxe até Mim”). Tudo isso resulta do “compromisso” que Deus assumiu com Israel, ainda antes da “aliança” do Sinai.

A segunda estrofe (vers. 5a) refere-se ao presente. Javé convida Israel a aceitar estabelecer com Deus laços de comunhão e de familiaridade. Para que isso aconteça, Deus pede a Israel que escute a sua voz e guarde a “aliança” (os mandamentos de Deus são as exigências com que o Povo se deve comprometer).

A terceira estrofe (vers. 5b-6) refere-se ao futuro. Se Israel aceitar comprometer-se com Deus numa “aliança”, Deus oferecerá ao Povo uma relação especial, que o tornará o Povo eleito de Deus, um reino de sacerdotes e uma nação santa. Entre todos os povos da terra, Israel passará a ser o Povo eleito, que Deus escolheu. Será, além disso, um reino de sacerdotes – quer dizer, um Povo cuja missão é testemunhar Deus e torná-lo presente no mundo. Será finalmente uma nação santa – quer dizer, um Povo “à parte”, separado do convívio dos outros povos para se dedicar exclusivamente ao serviço de Javé.

A “aliança” aparece aqui como parte integrante do projeto de salvação que Deus tem para os homens. Israel é convidado por Deus a desempenhar um papel primordial nesse processo: se aceitar fazer parte da comunidade de Deus e percorrer um determinado caminho (o caminho dos mandamentos), ele será o Povo escolhido por Deus para o seu serviço e para ser um sinal de Javé diante de todos os outros povos. Esta “eleição” não é um privilégio, mas um serviço, que se concretiza numa missão profética: ser um sinal vivo de Deus no mundo.

Descobre-se aqui o sentido fundamental do Êxodo: a libertação do Egito não se resume em fazer sair um povo da escravidão para a liberdade: a caminhada que Javé começou com este Povo no Egito aponta para o compromisso com Deus e com os homens; aponta para a construção de um Povo que não só conquista a sua liberdade mas se torna testemunha de Deus, sinal de Deus, sacerdote de Deus no meio do mundo.


TEXTO EM ESPANHOL - DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA

UNDÉCIMO DOMINGO DURANTE EL AÑO CICLO "A"


Primera lectura (Ex 19,1-6)


La sección de Israel en el Sinaí que comprende desde Ex 19,1 a Nm 10,10 se abre con la noticia de la llegada del pueblo al desierto del Sinaí, frente al monte (Ex 19,1-2). La santidad de esta montaña arranca del hecho de que Dios se reveló allí a Moisés y al pueblo. En el Éxodo predomina el nombre de Sinaí; mientras que en el Deuteronomio de Horeb. El Sinaí es ante todo el punto de encuentro entre Dios y su pueblo.

En el oráculo que abre esta sección, Dios les recuerda el éxodo y propone a Israel ser su propiedad exclusiva entre todos los pueblos de la tierra; un reino sacerdotal; una nación santa. Esta gracia o este privilegio está condicionado por la obediencia y la observancia de la alianza (berît) que ha continuación va a establecer Dios con su pueblo. 

Esta alianza es la conclusión del acto redentor obrado por Dios al liberar a su pueblo de Egipto y, por tanto, tiene en esta iniciativa divina su fundamento y motivación. El establecimiento de la alianza anunciado en Ex 19,3-8 se sella ritualmente en Ex 24,3-8.-

En el contexto litúrgico de este domingo es de resaltar la elección de Israel por parte de Dios. Este es un tema central de la Revelación Bíblica tal como nos lo recuerda un documento de la Pontificia Comisión Bíblica : “La idea de la elección es fundamental para la comprensión del Antiguo Testamento y de toda la Biblia. La teología de la elección subraya a la vez el estatuto distinto y la especial responsabilidad del pueblo que ha sido escogido entre todos los demás para ser la posesión personal de Dios  y para ser santo, pues Dios es santo” 


Evangelio (Mt 9,35-10,8)


El evangelio de este domingo es la primera parte del "sermón o discurso apostólico" de Jesús (9,36-11,1) que seguiremos leyendo en los próximos dos domingos.

Notemos que el versículo inicial de la lectura de hoy (9,35: “Jesús recorría todas las ciudades y los pueblos, enseñando en las sinagogas, proclamando la Buena Noticia del Reino y curando todas las enfermedades y dolencias”) es considerado más bien como la conclusión de la sección anterior, ya que hace inclusión con un sumario casi igual en 4,23.

El discurso o sermón apostólico comienza propiamente en 9,36 donde el evangelista nos narra la mirada de Jesús sobre la multitud. Esta expresión, “al ver a la multitud”, la encontramos ya en 5,1 dando inició al Sermón del Monte. Allí se nos decía que la acción de Jesús que siguió esta mirada fue subir al monte para hablar, para enseñar. Aquí, en cambio, se nos describe el sentimiento profundo que provoca en Jesús esta mirada: la compasión (splagjnízomai, que quiere decir conmoción visceral, a nivel de las entrañas). Este sentimiento de Jesús ante la multitud vuelve a repetirse en 14,14 y 15,32.

A continuación se nos explica la causa o motivo de esta compasión: "porque estaban fatigados y abatidos, como ovejas que no tienen pastor". La imagen de las ovejas sin pastor es frecuente en el Antiguo Testamento (cf. Nm 27,17; 1Re 22,17; Ez 34,5). Relacionándolo con las curaciones de enfermos de los capítulos anteriores (8 y 9) es claro que Mateo se refiere al pueblo de Israel que está enfermo y desprotegido porque no tiene guía ni orientación; no tienen pastor.

Luego Jesús comienza a hablar a sus discípulos presuponiendo la anterior mirada sobre la multitud y les dice: "La mies es mucha, pero los obreros pocos. Por tanto, rogad al Señor de la mies que envíe obreros a su mies".

Jesús interpreta la situación de la multitud como una abundante mies o cosecha para la que faltan cosechadores. A lo que añade, como primera respuesta a esta necesidad, el mandato de rezar, de pedir al dueño de los sembrados (Dios) que envíe los trabajadores que hacen falta.

Al respecto, comenta U. Luz: "Como ya se ha visto en el sermón de la montaña, la oración es para Mateo el fundamento de la existencia misionera de los discípulos. Así, con una mirada al Dueño de la mies, cuya labor hacen los discípulos, comienza el discurso a los discípulos, y concluye con la referencia a Aquel que está presente en los enviados (10,40)" .


Acto seguido, Jesús llama a “sus doce discípulos" (τοὺς δώδεκα μαθητὰς αὐτοῦ) y les confiere su mismo poder de expulsar a los espíritus impuros y de curar toda enfermedad y toda dolencia. Notemos que se describe este poder de sanar con las mismas palabras con que se describió la actividad de Jesús en 9,35; y que la imagen de las ovejas sin pastor ya nos remitía a Israel, ahora se refuerza la referencia por el número “doce” que rememora a las doce tribus de Israel. Como bien nota A. Rodríguez Carmona  “la misión de los enviados está enraizada en la propia misión de Jesús. Los versículos siguientes concretan el origen del apostolado en Jesús, Buen Pastor, y en el envío del Padre por medio de Jesús”.

Entonces, estos doce son presentados como "apóstoles" (δώδεκα ἀποστόλων) y se los identifica por su nombre. La exégesis católica ha prestado especial atención al primer lugar (prw/toj) conferido a Pedro. Estos mismos doce son los enviados, donde es clara la relación entre el título o vocación de apóstol (avpo,stoloj) y el verbo enviar (avposte,llw).

Este envío va acompañado de instrucciones o mandatos. Sobre la actualidad de las mismas bien dice U. Luz : "Hay pocos textos que dejen traslucir tan claramente como este la distancia entre su situación originaria y nuestro tiempo. La cuestión de la validez permanente de las distintas instrucciones se plantea con especial gravedad en este texto". Por ello es fundamental entenderlas en el contexto de todo el evangelio.

Así, en primer lugar, Jesús les limita claramente el campo de la misión, fijando como únicos destinatarios “las ovejas perdidas de la casa de Israel”. Se refiere a las ovejas con el mismo término que utilizó en 9,36 (pro,bata) aunque la calificación de las mismas es aquí más grave: están perdidas, pero no en el sentido de simplemente extraviadas, sino de liquidadas, al borde de la muerte (cf. el uso de avpo,llumi en Mt 2,13; 9,17; 10,28.29; 12,14). Es de notar que es el mismo campo de misión de Jesús y así le responde a la mujer cananea: "No he sido enviado más que a las ovejas perdidas de la casa de Israel" (15,24). Por tanto, por lo que se refiere a los destinatarios de la misión parece claro que Mateo considera que Jesús fue enviado en primer lugar a Israel, el heredero de las promesas. Pero luego, ante el rechazo de Israel, la misión se abre a todas las naciones, como lo deja claramente expresado el envío de Jesús resucitado: "Vayan, y hagan que todos los pueblos sean mis discípulos" (28,19).

Luego les precisa el contenido del anuncio: "el Reino de Dios está cerca". Es el mismo anuncio o proclamación de Juan Bautista (3,2) y de Jesús (4,17). Las acciones que siguen, al igual que en el ministerio de Jesús, son los signos claros de la llegada del Reino de Dios pues indican la victoria sobre los males que afligen a los hombres.


Algunas reflexiones:


La primera invitación que nos hace el evangelio de este domingo es a “mirar” la “mirada” de Jesús para llegar a compartirla, para tener su misma mirada sobre la realidad. En el fondo, y tal como nos enseña la encíclica Lumen Fidei, la fe es un compartir la mirada de Jesús: “Gracias a la unión con la escucha, el ver también forma parte del seguimiento de Jesús, y la fe se presenta como un camino de la mirada, en el que los ojos se acostumbran a ver en profundidad” (LF 30); “Viendo la unión de Cristo con el Padre, incluso en el momento de mayor sufrimiento en la cruz (cf. Mc 15,34), el cristiano aprende a participar en la misma mirada de Cristo” (LF 57). Y por eso termina pidiendo a la Virgen María: “Enséñanos a mirar con los ojos de Jesús, para que él sea luz en nuestro camino” (LF 60). 

Volviendo al evangelio de hoy, es claro que Jesús tenía mucha cercanía con la gente y percibía su situación. Y en este texto se nos presenta la mirada de Jesús sobre la multitud y lo que siente ante lo que ve. Se trata de la mirada del pastor que ve las ovejas fatigadas, abatidas y desorientadas. Y esta mirada provoca en Él un sentimiento profundo: la compasión. Jesús se duele entrañablemente de la situación en que viven los hombres. Pero al mismo tiempo Jesús ve también a la multitud como un inmenso campo de acción, una cosecha abundante. Y ante esta realidad declara que hay pocos trabajadores en comparación con las dimensiones del sembrado. Entonces, movido por esta "mirada sobre la realidad", lo primero que hace Jesús es elevar la mirada al Padre, al dueño de la mies; e invitar a sus discípulos a hacer lo mismo: pedir que mande los trabajadores necesarios para la cosecha. Y esto porque Dios es el dueño de la mies, corresponde a Él, y sólo a Él, llamar y mandar a los cosechadores. Y lo hace por medio de Jesús como vemos a continuación donde es Él quien llama a los doce apóstoles y los envía a la misión (cf. 10,1-5).


¿Cuál es nuestra mirada sobre la realidad que nos toca vivir? Pienso que lo que vemos es muy semejante a lo que vio Jesús: mucha dispersión, desorientación y abatimiento. Lo diferente es la reacción que esta mirada nos provoca: el desaliento, el desánimo y la desesperanza. Es que no basta tener la mirada de Jesús, hay que tener sus mismos sentimientos, su mismo corazón. La misión es fruto, en parte, de una mirada sobre la multitud abandonada que provoca compasión. Una compasión que no se queda en la queja o el lamento; sino que mueve a la acción. Y la primera y necesaria acción es la oración. Porque no somos los dueños de los sembrados; las personas pertenecen a Dios. Hay que pedirle a Él que envíe misioneros; que despierte vocaciones misioneras.

En su primera visita a los Estados Unidos el Papa san Juan Pablo II, hablándoles a los Obispos de ese país poseedor de una cultura tan pragmática, les decía: "Qué es lo primero que hay que hacer? Lo primero que hay que hacer es rezar". Aceptar esto supone aceptar que Dios forma parte de la realidad, que no podemos excluirlo al hacer nuestro diagnóstico pastoral. 

Se trata, por tanto, de recuperar una mirada contemplativa, propia de un corazón creyente y amante, que es la que nos permite una visión completa de la realidad, sin reduccionismos, descubriendo la presencia de lo invisible en lo visible, de lo eterno en lo temporal, de Dios y su obra en nuestro mundo . 


También es posible y necesaria una actualización del llamado; más precisamente de la elección por parte de Dios para mantener la idea de la primera lectura. Dios nos sigue llamando por nuestro nombre, personalmente, y nos sigue enviando. Sólo con esta certeza interior de su llamada de amor podremos mantener el ardor misionero. Es una gracia, gratis hemos recibido; pero al mismo tiempo es una responsabilidad, gratis debemos dar, compartir la fe recibida.


Vimos también el valor simbólico del número “doce”. Pero más allá de este significado, lo cierto es que no son muchos ante la inmensidad de la multitud. Es claro que para Jesús la misión no es cuestión de cantidad. Lo importante es la respuesta fiel y perseverante a la llamada, que no fue total, porque uno de los doce lo traicionó. Pero con estos once apóstoles comenzó la misión de la Iglesia. Es cierto, hubo algunos más; pero no muchos más. Y en casi cuatro siglos convirtieron al cristianismo el imperio romano. La fuerza y la fecundidad vienen de la acción del Espíritu Santo. Esperar a ser muchos, a ser suficientes, es poner la confianza en nosotros mismos. Al respecto decía el Papa Benedicto XVI en su homilía del 15 de junio de 2008: “Como hemos escuchado, a los Doce "les dio autoridad para expulsar espíritus inmundos y curar toda enfermedad y dolencia" (Mt 10, 1). Los Doce deberán cooperar con Jesús en la instauración del reino de Dios, es decir, en su señorío benéfico, portador de vida, y de vida en abundancia, para la humanidad entera. En definitiva, la Iglesia, como Cristo y juntamente con él, está llamada y ha sido enviada a instaurar el Reino de vida y a destruir el dominio de la muerte, para que triunfe en el mundo la vida de Dios, para que triunfe Dios, que es Amor.

Esta obra de Cristo siempre es silenciosa; no es espectacular. Precisamente en la humildad de ser Iglesia, de vivir cada día el Evangelio, crece el gran árbol de la vida verdadera. Con estos inicios humildes, el Señor nos anima para que, también en la humildad de la Iglesia de hoy, en la pobreza de nuestra vida cristiana, podamos ver su presencia y tener así la valentía de salir a su encuentro y de hacer presente en esta tierra su amor, que es una fuerza de paz y de vida verdadera.

Así pues, el plan de Dios consiste en difundir en la humanidad y en todo el cosmos su amor, fuente de vida. No es un proceso espectacular; es un proceso humilde, pero que entraña la verdadera fuerza del futuro y de la historia. Por consiguiente, es un proyecto que el Señor quiere realizar respetando nuestra libertad, porque el amor, por su propia naturaleza, no se puede imponer. Por tanto, la Iglesia es, en Cristo, el espacio de acogida y de mediación del amor de Dios. Desde esta perspectiva se ve claramente cómo la santidad y el carácter misionero de la Iglesia constituyen dos caras de la misma medalla: sólo en cuanto santa, es decir, en cuanto llena del amor divino, la Iglesia puede cumplir su misión; y precisamente en función de esa tarea Dios la eligió y santificó como su propiedad personal […] Al respecto, es útil tener presente que los doce Apóstoles no eran hombres perfectos, elegidos por su vida moral y religiosa irreprensible. Ciertamente, eran creyentes, llenos de entusiasmo y de celo, pero al mismo tiempo estaban marcados por sus límites humanos, a veces incluso graves. Así pues, Jesús no los llamó por ser ya santos, completos, perfectos, sino para que lo fueran, para que se transformaran a fin de transformar así la historia. Lo mismo sucede con nosotros y con todos los cristianos”.

Por último, si por esas cosas de la vida alguno se siente fatigado y abatido, hay que atreverse a sentir la mirada compasiva de Jesús. El nos mira siempre así y se duele de nuestro abatimiento, de nuestra desorientación, de nuestra orfandad. Tengamos el cargo que tengamos, es bueno sentir esta mirada, pues nunca dejamos de ser ovejas ante sus ojos de Buen Pastor.



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):



Vayan a las ovejas perdidas…


Padre,

Te ruego, por Jesús tu hijo, mi Señor

más que nunca hoy, envía sobre nosotros

El espíritu Santo consolador

Dador de bienes, ayudador.


Confiados en su presencia

Llevaremos en la misión de cada día

La salud a las ovejas perdidas:

A los desanimados y caídos

A los enfermos de este tiempo 

Duro camino para el solitario

Para el olvidado o rechazado


Te ruego, Padre

Concede a nuestras palabras 

Y a nuestros gestos, darle sentido cristiano

Para salir al encuentro, llevarnos por delante

La tentación de la tristeza y la indiferencia

Y empezar la jornada

Con renovadas fuerzas.


Ten compasión de nosotros Señor

Haznos a todos y a cada uno

Discípulos siempre dispuestos

Porque la cosecha es abundante

Y son pocos los obreros

Suplicamos por esas manos

Más allá del fruto de nuestro esfuerzo. Amén.