3º DOM. TC-A

JESUS É A LUZ DO MUNDO

3º DOMINGO COMUM-A

22/01/2023


LINK AUXILIAR:

AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª leitura: Isaías 8,2.3b-9,3

Salmo 26(27) R- O Senhor é minha luz e salvação.

2ª leitura: 1 Coríntios 1,10-13.17

Evangelho de Mateus 4,12-23

Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galiléia. 13Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galiléia, 14no território de Zabulon e Neftali, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: 15'Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galiléia dos pagãos! 16O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz. 17Daí em diante Jesus começou a pregar dizendo: 'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo. 18Quando Jesus andava à beira do mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. 19Jesus disse a eles: 'Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens.' 20Eles, imediatamente deixaram as redes e o seguiram. 21Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai Zebedeu consertando as redes. Jesus os chamou. 22Eles, imediatamente deixaram a barca e o pai, e o seguiram. 23Jesus andava por toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo. Palavra da Salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP


Mt 4,12-23

O Evangelho de hoje nos mostra que Jesus cumpre o que tinha sido predito pelos profetas do AT: “O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma grande luz”. 

Como brilhou essa grande luz? Como essa luz apareceu? Essa grande Luz é “Jesus que começou a pregar, dizendo: ‘Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo’”. Ele apareceu como a Grande Luz que ilumina “os que viviam na região escura da morte”.

Jesus se revela como Deus e homem. Deus, porque fala em nome de Deus, anunciando em todos os lugares: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. Ele se revela verdadeiro homem, cheio de compaixão para com todos os necessitados e doentes. O Evangelho de hoje nos diz: “Jesus andava por toda a Galileia... curando todo tipo de doença e enfermidade do povo”. Jesus revela o seu coração humano e o seu poder divino. Ele anuncia o Reino dos Céus e, mais importante ainda, o torna presente.

A confissão de que Jesus é verdadeiro homem e verdadeiro Deus é fundamental para a nossa fé. Devemos reconhecer que Jesus, verdadeiro Deus, veio na nossa carne, aceitando a nossa vida concreta, a nossa vida cotidiana, as nossas responsabilidades do dia-a-dia. Nós encontraremos Jesus nessa nossa carne porque Ele a assumiu. Não o encontraremos no mundo do sonho, da evasão. Não o encontraremos fora da nossa condição humana e cotidiana.

É exatamente o fato de Jesus ter se encarnado que nos faz encontrá-lo em nosso cotidiano. O nosso trabalho cotidiano, as nossas responsabilidades concretas (em suma: a nossa carne) não são apenas tarefas a serem cumpridas, mas podem ser o nosso apostolado, o nosso modo concreto de colaborar com a salvação do mundo e de dar glória a Deus, desde que encontremos Jesus no nosso cotidiano. Com a encarnação do Verbo, a nossa carne está repleta da presença de Jesus. É encontrando Jesus na carne que podemos consagrar a nossa carne como sacrifício agradável a Deus e transformá-la em apostolado.

O nascimento de Jesus como homem fez da nossa vida humana o caminho para encontrar Deus. O nascimento de Jesus transformou a nossa vida humana em apostolado. No nosso trabalho de hoje, nas nossas responsabilidades atuais, nas nossas tarefas assumidas procuremos reconhecer Jesus encarnado, que prega e que cura, que se imola e que salva.


Tudo começou na Galileia - Pe Adroaldo Palaoro


“Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas...” (Mt 4,23)


Galileia foi a primeira decisão importante que Jesus tomou no início de sua vida pública.

Uma decisão que foi essencial em sua vida, porque Jesus permaneceu na Galileia até pouco antes de morrer.

Jesus viu claramente que o melhor lugar em que Ele podia e devia comunicar sua mensagem era precisamente a Galileia. Assim sendo, é evidente que o lugar de onde fala condiciona o que essa pessoa diz. Não é a mesma coisa falar de uma cátedra no Templo que da janela de uma casa simples em um povoado perdido.

“Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galileia” (At. 10,37), dirá Pedro em seu discurso, batizando para sempre a Galileia como lugar dos começos. Os galileus não viviam preocupados em conservar a memória de antepassados ilustres ou de veneráveis predecessores; nenhum personagem de peso tinha marcado aquela região com sua fama; nenhuma tumba patriarcal a havia convertido em terra sagrada; nenhum profeta ocorreu nascer ali. O pior da Galileia já havia sido descrito por Isaías quando disse: “caminho do mar, do outro lado do Jordão, Galileia dos gentios... (8,28). Respiravam ares de liberdade naquela sociedade mesclada e heterogênea, acostumada ao vai-e-vem das caravanas do Oriente e de muitos gregos e romanos nas ruas das cidades.

Havia algo de “marginalidade” em uma Galileia refratária a continuar escutando os discursos, palavras e temas de sempre.

O fato é que Jesus, para realizar sua missão docente, não se dirigiu à capital, Jerusalém, nem à importante província da Judéia. Logo após sua decisão, Jesus foi viver e desenvolver sua atividade, pregar sua mensagem numa região distante, habitada por humildes camponeses e pescadores pobres, pessoas que, naquele tempo, eram consideradas uma população sem influência, que não vivia na abundância e que, ainda por cima, tinha má fama, má reputação. Os “galileus” do tempo de Jesus não gozavam de especial estima (Jo. 7,52); eram considerados ignorantes e impuros com os quais se devia manter distância.

Se efetivamente Jesus queria “evangelizar”, ou seja, comunicar uma “boa notícia” à sociedade de seu tempo, não buscou conquistar para si os notáveis e as classes influentes da sociedade, nem procurou os postos de privilégios, nem o favor dos mais influentes e, muito menos, os que tinham poder e dinheiro.

Mais ainda, quando Jesus tomou a decisão de ir pregar na Galileia, o que na realidade fez foi dirigir-se a um país governado por um tirano sem escrúpulos (Herodes) e que não estava disposto a admitir “denúncias proféticas” de ninguém. Portanto, Jesus foi para esta região ciente de que estava “entrando na boca do lobo”. Mas nada disso o desviou de seu projeto de ir em busca dos pobres e dos marginalizados, nem o fez tomar precauções para denunciar as mazelas dos poderosos de seu tempo.

Por isso, Galileia é o lugar da luta e compromisso pela vida, o lugar dos excluídos e desprezados, o lugar do discipulado, o lugar no qual Jesus realizou os gestos libertadores em favor da vida.

Todos sabemos que as “mudanças profundas e duradouras” na sociedade não vem de cima, mas de baixo, a partir da solidariedade e da identificação com os últimos deste mundo. Há uma esperança alentadora que vem das periferias e das margens, daqueles que se empenham por imprimir um movimento novo à história; neste lugar está a semente na qual Jesus viu a possibilidade de uma vida diferente, nova e mais promissora.

E Jesus foi o ponto de partida de uma profunda mudança na história da humanidade.

Foi na Galileia que Jesus anunciou uma notícia alvissareira: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”; foi na Galileia que Jesus lutou contra os poderes que atentavam contra a vida; foi ali que Ele abriu novo horizonte de vida a todos; foi ali que Ele despertou a esperança no coração de cada um: um mundo de fraternidade, de comunhão, de acolhida, de relações sadias...

O “Reino de Deus” constituiu o centro da mensagem de Jesus: a utopia que enchia seu coração, embora nunca explicasse seu conteúdo concreto. Poderia ser traduzido como o projeto de uma nova humanidade, centrada na vivência da fraternidade e marcada pela compaixão.

Por isso, o anúncio de Jesus não é, em princípio, uma exigência moral, nem a constituição de uma nova religião, com sua doutrina, normas, ritos... O original na mensagem de Jesus está no chamado a despertar, a tomar consciência da nossa verdade mais profunda. Dessa compreensão brotará uma atitude e um comportamento coerentes com o projeto humano – que é o projeto divino – do “Reino de Deus”.

Galileia foi também a terra do chamado e do discipulado.

No evangelho de Mateus, a cena do chamado de Jesus nos introduz na dinâmica da troca de olhares. A resposta ao chamado só é possível a partir do olhar inspirador e mobilizador de Jesus, que consegue ter acesso ao seu oceano interior de cada um e faz emergir as ricas possibilidades, criatividades, inspiração...

Com sua presença instigante, Jesus desperta, ativa e faz vir à tona o que há de mais humano nas pessoas e o potencializa. Debaixo das cinzas do cotidiano, encontram-se as brasas da paixão, daquilo que é mais nobre.

Assim aconteceu no encontro e chamado dos pescadores, homens rudes, mas que carregavam uma nobreza interior; Jesus os desafia a serem mais humanos. “Farei de vós pescadores do humano”.

“Pescar o humano” é trazer à tona o que de humanidade está escondido ou atrofiado em cada pessoa; é ajudar as pessoas a viverem com sentido, tirando-as do mar da desumanização.

O chamado-resposta é ocasião para motivar e buscar a inspiração no oceano interior.

Jesus revela a extraordinária capacidade de “pescar” o maior bem possível do outro, de fazer brotar o melhor de cada um, sem necessidade de dar-lhe lições ou arrastá-lo com argumentos racionais.

“Pescar o humano” é extrair a melhor e mais original versão humana de cada um, garimpar a autêntica qualidade humana no cascalho das limitações e fragilidades presentes em todos nós.

No contexto do chamado-resposta somos mobilizados a viver a experiência de ter os olhos fixos em Jesus e de nos sentir olhados por Ele, deixando-nos afetar pela Sua Pessoa, Suas relações, Sua paixão pelo Reino, Sua missão, Seu chamado...

“Chamado-resposta” implica, pois, uma troca comprometedora de olhares. O olhar transparente e livre de Jesus e sua Palavra mobilizadora ressuscitam o nosso olhar tímido e estreito e nos capacitam a olhar novas realidades: seu povo, seu mundo dividido e excluído... Seu olhar e sua palavra nos predispõem a encontrar motivações saudáveis e maduras que nos permitam olhar e viver no contexto atual e plural com amor, com entusiasmo e criatividade.

Jesus nos precede com seu olhar, se adianta à nossa necessidade, nos convida e nos desafia a ir mais além de nós mesmos, destravando nossa estreita vida; em outras palavras, o olhar de Jesus vai mais além da casca humana para buscar o que é mais nobre e digno em cada pessoa. Este jogo de olhares é humanizador e não possessivo: nosso olhar fixo em Jesus e deixar-nos olhar por Jesus.

Uma vez que levantamos o olhar para Jesus e nos deixamos olhar por Ele, brota a Palavra. Depois do olhar, a Palavra. Depois do amor, a missão. O olhar de Jesus gera uma atitude de serviço.



Algo novo e bom - José Antonio Pagola


O primeiro escritor que recolheu a atuação e a mensagem de Jesus resumiu tudo dizendo que Jesus proclamava a “Boa Nova de Deus”. Mais tarde, os demais evangelistas utilizam o mesmo termo grego (euaggelion) e expressam a mesma convicção: no Deus anunciado por Jesus, as pessoas encontravam algo “novo” e “bom”.

Há ainda nesse Evangelho algo que possa ser lido, no meio da nossa sociedade indiferente e descrente, como algo novo e bom para o homem e a mulher dos nossos dias? Algo que se possa encontrar no Deus anunciado por Jesus e que não é fornecido facilmente pela ciência, pela técnica ou pelo progresso? Como é possível viver a fé em Deus nos nossos dias?

No Evangelho de Jesus, os crentes se encontraram com um Deus do qual sentem e vivem a vida como uma oferenda que tem sua origem no mistério último da realidade que é o Amor. Para mim, é bom não me sentir só e perdido na existência, nem nas mãos do destino ou do azar. Tenho Alguém em quem posso confiar e a quem posso agradecer a vida.

No Evangelho de Jesus, encontramo-nos com um Deus que, apesar da nossa falta de jeito, nos dá força para defender a nossa liberdade sem acabarmos por ser escravos de qualquer ídolo; para seguir aprendendo sempre formas novas e mais humanas de trabalhar e de disfrutar, de sofrer e de amar. Para mim, é bom poder contar com a força da minha pequena fé nesse Deus.

No Evangelho de Jesus, encontramo-nos com um Deus que desperta a nossa responsabilidade para não nos desentendermos dos outros. Não conseguiremos fazer grandes coisas, mas sabemos que podemos contribuir para uma vida mais digna e mais ditosa para todos pensando sobretudo nos mais necessitados e indefesos. Para mim, é bom acreditar num Deus que com frequência me pregunta o que faço pelos meus irmãos. Contribui para que viva com mais lucidez e dignidade.

No Evangelho de Jesus, encontramo-nos com um Deus que nos ajuda a vislumbrar que o mal, a injustiça e a morte não têm a última palavra. Um dia, tudo o que aqui não pôde ser, o que ficou a meio, os nossos maiores anseios e os nossos mais íntimos desejos alcançarão em Deus a sua plenitude. A mim faz-me bem viver e esperar a minha morte com esta confiança.

Cada um de nós deve decidir como quer viver e como quer morrer. Cada um deve escutar a sua própria verdade. Para mim, não é o mesmo acreditar em Deus que não acreditar nele. Para mim, faz bem realizar o caminho por este mundo sentindo-me acolhido, fortalecido, perdoado e salvo pelo Deus revelado em Jesus.



A bondade do Senhor na terra dos viventes - Marcel Domergue


Tradução Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.


1ª leitura: Na Galileia das nações, “o povo que andava na escuridão viu uma grande luz” (Is 8,23-9,3)

2ª leitura: “Sede concordes uns com os outros; não admitais divisões entre vós” (1Cor 1,10-13.17)

Evangelho: “Foi morar em Cafarnaum, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías” (Mt 4,12-23 ou 12-17)

A geografia não é destituída de significado

A prisão de João Batista parece ter sido um sinal para Jesus. Dali em diante, caberia a ele entrar em ação. Ele, de fato, substituiu desde então o Batista. O papel do precursor havia terminado. Mateus faz questão de precisar que João operava no deserto da Judeia, não muito distante, portanto, de Jerusalém, de onde, aliás, vinham-lhe os discípulos. Será que foi para recordar a entrada na terra prometida e a passagem milagrosa do rio (Josué 4) que o evangelista escreveu três vezes a palavra «Jordão» no capítulo que precede a nossa leitura? Tal insistência deve ter um sentido. Em todo caso, Jesus deixa a Judeia - herança de Davi, de quem é o descendente, e onde se encontra o centro do culto, Jerusalém e o seu templo - e retira-se para a Galileia. Lucas contenta-se com fazer notar o fato (4,14). Mas, para Mateus, tal deslocamento tem um significado. Cita Isaías 8,23 para nos fazer compreender que, se Jesus começa por aí a sua pregação do Reino, é porque a luz deve brotar das trevas, como escreve João em 1,4. Sabemos que, com sua população misturada e sua insignificância histórica, a Galileia gozava de má reputação. É, no entanto, nesta região que Mateus, Marcos e Lucas situam o essencial da atividade de Jesus. Para eles, Jesus só deixará a Galileia para ir até Jerusalém apenas uma vez: para morrer. João, ao contrário, menciona muitas viagens do Senhor até à Cidade Santa. Enquanto esperava, fixou-se em Cafarnaum. Foi morar ali, o que deixa supor que não era assim tão nômade como se supõe.

Os sem-direito

Aqui, podemos lembrar a escolha de Davi como o futuro rei de Israel; o menor e o último, que parecia não contar, foi o escolhido. O cenário é o mesmo para os territórios de Zabulon e Neftali, a Galileia periférica, região onde Israel se misturava com as nações. «Da Galileia não surge profeta», diziam os chefes dos sacerdotes e os fariseus, em João 7,52. Deus interveio aonde não se esperava. Os "sem-direito" é que receberam a sua visita; são eles o objeto da sua preferência, vendo-se encarregados da missão. Isto foi também o que se passou com Jacó e Esaú (Gênesis 27). Poderíamos citar muitos outros textos, particularmente com referência a José, vendido por seus irmãos, e a Moisés, que foi salvo das águas. A escolha de Pedro, Tiago e João, os primeiros discípulos, não foge a esta preferência de Deus, especialmente na versão de Lucas, na qual estes pescadores, desinteressados em ouvir o ensinamento de Jesus, consertavam as suas redes, enquanto o povo amontoava-se em volta dele. E Mateus, o publicano? Quem iria acreditar que Jesus fosse arcar com o peso de um personagem tão suspeito? A escolha de Deus não é uma recompensa pela boa conduta nem pela virtude, competência ou inteligência, mas reproduz o ato da criação, que parte do zero. E, aí, tudo recomeça. Podemos acrescentar a este dossiê a preferência de Jesus pelas crianças, despojadas e dependentes, e o conselho de nos tornarmos crianças. O que irá até à necessidade de renascer, conforme diz Jesus a Nicodemos, em João 3. Não vamos contar, portanto, com o nosso valor ou nossas qualidades, mas com a gratuidade do amor que nos faz ser. E para sermos imagens de Deus, para existirmos, portanto, vamos também nós até aos mais desprovidos de tudo, aos que não têm nenhum mérito.

O chamamento dos primeiros discípulos

Dali em diante, não se vê mais Jesus a sós, salvo vez ou outra, quando se ausenta para uma oração solitária. João Batista nunca havia pedido aos seus ouvintes para segui-lo: contentava-se com orientá-los para «aquele que viria depois dele». Jesus, ao contrário, pede-lhes que deixem tudo, pois, com ele, havia chegado o momento em que se cumpriram os tempos de espera e preparações. À luz deste chamado, aprendemos muitas coisas. Primeiro, que a ação de Deus não é nenhum constrangimento, mas que, ao contrário, exige a livre adesão: os chamamentos feitos por Cristo fizeram-se acompanhar de um «se queres», explícito ou subentendido. Aprendemos também, conforme uma velha fórmula, que Deus tem necessidade dos homens. O que Ele constrói conosco é uma Igreja, ou seja, uma comunhão. Assim, sem estes homens e mulheres que caminhavam com ele, o Cristo estaria privado do corpo. Compreendemos, enfim, que o chamamento de Cristo é um chamamento «até o fim». É uma atração exercida por Alguém que nos levará até a entrarmos em sua condição de Filho de Deus, até a nos tornarmos «participantes da sua natureza divina» (2 Pedro 1,4). O chamamento de Jesus convida-nos a segui-lo para onde ele for. Até à cruz, é claro, ou seja, até ao acolhimento das feridas que a vida nos inflige; mas não esqueçamos que a cruz não tem a última palavra e que se trata de atravessá-la, para irmos dar na vida e na alegria.

A resposta dos discípulos

Quer sigamos a Cristo ou não, conheceremos o sofrimento e a morte. O chamamento de Cristo é a promessa de atravessá-los e chegarmos à outra margem. Estes a quem Jesus chamou, na beira do lago, ainda não sabem. Mas deixam tudo para segui-lo. Deixam, diz o texto, as suas redes, o seu barco e o seu pai. A mãe não é mencionada (será em outro momento), mas impossível não pensar em Gênesis 2,24: «O homem deixará seu pai e sua mãe para se juntar à sua mulher». O chamado de Cristo tem algo de nupcial, o que se confirmará em outros textos, particularmente no Apocalipse. União na vida e na morte. Mas para a Vida. Lembremos também do ponto de partida de Abraão, ao deixar a Caldeia. Iniciava-se também aí uma história: das alianças. Pois, com Jesus, tem início a Aliança nova e definitiva. Por ela, deixando seu pai, seu barco e suas redes, Pedro, André, Tiago e João, o primeiro terço da lista dos Doze, são arrancados do seu passado. Poderia se dizer, da sua origem humana? Entram agora numa nova vida, numa nova criação: «É necessário nascer de novo», diz Jesus a Nicodemos (João 3,3). «Nascer do Espírito.» Desde então os discípulos são como o vento: não se sabe mais de onde vêm e ignora-se para onde vão. Eles próprios também o ignoram. O barco e as redes garantiam-lhes a subsistência e os punha em segurança. Pois ei-los agora sem apoio, a descoberto; na espera confiante de um alimento que ainda não conhecem (João 4,32).



Na procura do Reino de Deus - Ana Maria Casarotti


O evangelho de hoje oferece-nos o dado que Jesus deixa Nazaré e vai morar em Cafarnaum, uma pequena aldeia de poucos habitantes, “que fica às margens do mar da Galileia”. Essa é a terra escolhida para iniciar sua pregação que Jesus começa dizendo: “Convertam-se, porque o Reino do Deus está próximo”.

Retoma assim as palavras que, no deserto de Judeia, João Batista aparece pregando e exortando o povo para que se prepare para receber “aquele que ia vir”.

Ele anunciava a necessidade da conversão porque “o Reino do Céu estava próximo” (Mt 3, 1-12).

Ao longo do tempo do Advento, fomos exortados a uma conversão: mudar a orientação de nossa vida e o caminho que devemos percorrer. 

Para introduzir-nos mais no texto que nos é oferecido, podemos ler duas ou mais vezes este trecho do Evangelho que nos é oferecido hoje e deixar ressoar estas palavras. Possivelmente são expressões já escutadas e até sabidas, e isso, às vezes, impede que ecoem na nossa vida atual.

O chamado à conversão tem um motivo fundamental: o Reino de Deus “está perto”. Mas, onde? Durante sua pregação, Jesus oferece vários exemplos dessa proximidade do Reino de Deus.

Nas parábolas, compara-o com um grão de mostarda, que é bem pequeno e depois se torna uma árvore grande, ou com um comerciante, que procura pérolas preciosas e, “quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens, e compra essa pérola" (Mt 13,46).

Numa homilia em Santa Marta, o papa Francisco disse que o Reino de Deus já existe na santidade escondida de todos os dias vivida por aquelas famílias que chegam ao fim do mês com apenas meio euro no bolso. 

O Reino de Deus está perto de nós, ele está “no meio de nós”. Nasce continuamente no nosso redor e tem diferentes manifestações, situações, espaços, lugares. Não possui um espaço ou estilo definido. Não o percebemos se nossos sentidos não estão acostumados a reconhecer sua presença.

Ele já está em nós como uma vida que germina lentamente. O silêncio interior, a escuta da nossa interioridade, colabora e favorece para perceber sua presença. Leva-nos a uma conversão interior “porque é o próprio Deus que vem morar entre nós para nos livrar do egoísmo, do pecado e da corrupção” (Trecho do Angelus, do papa Francisco, do dia 6 de dezembro de 2016. 

Tentemos s imaginar Jesus que caminha na beira da nossa vida, do nosso dia a dia. Nele se alternam abundantes pescas que trazem profundas alegrias e noites que “não pescamos nada”.

Por isso o primeiro convite que nos dirige Jesus, que caminha na beira da nossa vida hoje, é a converter-nos. Dessa maneira, teremos a capacidade de reconhecer sua presença, escutá-lo no silêncio, receber suas palavras.

Dessa forma, somos sensíveis para ouvir sua voz como Pedro, André, Tiago e João. Jesus se dirige hoje a cada um e a cada uma de nós e nos disse “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens”.

Somos convidados a deixar que seu Espírito conduza nossa vida, transforme nossos costumes, nossas indiferenças diante de tanto sofrimento que há ao nosso redor. Somos convidados a ter sua sensibilidade, seu amor preferencial por todos/as aqueles/as que ficam na beira do mar sem ter sequer instrumentos para pescar. Os que estão às margens das cidades, na beira dos caminhos, e são sempre esse amor preferencial de Jesus. Não podemos permanecer insensíveis diante de tanto sofrimento, seja aquele que sabemos ou, ainda pior, aquele que nos é desconhecido.

Jesus convida-nos a quebrar a cultura da indiferença que nos rodeia. Em palestra proferida no Congresso Internacional de Ávila, o teólogo espanhol José Antonio Pagola convida-nos a “aprender a seguir Jesus a partir das vítimas”. E continua dizendo “a partir do sofrimento das vítimas, abrir espaço, em nossas vidas, aos marginalizados e excluídos, promover a solidariedade em nível mundial pensando nas necessidades dos últimos e deixando de lado o desenvolvimento do nosso bem-estar. (Texto completo: Jesus, misericórdia encarnada de Deus. Conferência de José Antonio Pagola) 

Somos convidados durante esta semana a receber o chamado de Jesus à conversão para ter sua capacidade e ser assim pescadores de homens. Peçamos ao Espírito sua luz e sua força, que nos transforme e nos conduza pelos caminhos que nos fazem seguidores de Jesus.


 TEXTO EM ESPANHOL- DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA. 


TERCER DOMINGO DURANTE EL AÑO CICLO "A"

 

Primera lectura (Is 8,23-9,3)

 

El motivo de la situación de angustia y desolación que afligía al pueblo - y que viene descrita aquí por el profeta como oscuridad y tiniebla - es la segunda invasión de los asirios conducida por Tiglatpileser III, quienes ocuparon los territorios de las tribus del Norte, Zabulón y Neftalí (año 732 a.C., cf. 2Re 15,29). Los israelitas del Norte quedaron sometidos al dominio de los paganos con todo lo que esto implica de humillación, pérdida de soberanía y libertad. En este contexto, y por contraste, se percibe mejor el tono de Is 9,1-3 como anuncio de liberación ilustrado como caminar en la luz, rebosantes de alegría y de gozo.

Para el profeta Isaías la humillación, "en un primer tiempo", fue causada por Dios como castigo por el pecado. Pero en el futuro, "en un segundo momento", Dios mismo intervendrá para liberar a su pueblo y cambiar radicalmente la situación de opresión. Su presencia en esas tierras será el motivo de la luz y del gozo anunciado.

  

Segunda lectura (1Cor 1,10-14.16-17)

 

San Pablo comienza con una exhortación a los corintios en nombre de nuestro Señor Jesucristo para que vivan en la unidad y no haya divisiones entre ellos. En concreto les pide unidad en el hablar, en el pensamiento y en la opinión o intención.

            Los vv. 11-12 narran los hechos concretos con verbos al indicativo presente (situación actual); y revelan la fuente de la información: los de Cloe. Enumera cuatro personas detrás de las cuales se enrolarían los corintios enfrentándose entre sí: Pablo, Apolo, Cefas, Cristo. Se ha intentado identificar con precisión estos grupos pero todo queda en hipótesis[1]. De Apolo sabemos por He 18,24-19,1 que era un judío de origen alejandrino, hombre elocuente y versado en las Escrituras; que predicó en Corinto en ausencia de Pablo (1 Cor 3,6) y que se encontraba con él en Éfeso cuando escribió esta carta (1 Cor 16,12). Cefas era el nombre arameo de Pedro y viene citado otras veces en 1 Cor (3,22; 9,5; 15,5) indicando que era conocido en Corinto, aunque no podemos afirmar su presencia allí. Este grupo podría ser de tendencia judaizante si tenemos en cuenta la actitud de Pedro en Antioquía y su conflicto con Pablo que relata Gal 2,11-14. 

            La descripción de las divisiones que hace Pablo ("Me refiero a que cada uno afirma: "Yo soy de Pablo, yo de Apolo, yo de Cefas, yo de Cristo") permite suponer que las mismas se basan en posturas personales de los corintios sin que, al parecer, hubiera alguna responsabilidad por parte de los nombrados.

            En 1,13-16 Pablo hace un primer rechazo de esta actitud de los corintios llevando el tema al nivel cristológico: en Cristo no puede haber división (cf. 12,13); y, además, Cristo fue crucificado por ellos y en Su nombre fueron bautizados; y no en el de los apóstoles. Para dar un claro ejemplo de lo absurdo de esta actitud Pablo se aplica a sí mismo predicaciones exclusivas de Cristo que conforman el kerigma (cf. 1Cor 15, 3-5), como el hecho de ser crucificado por los demás o ser bautizados en su nombre. De aquí se deduce que para Pablo estas divisiones, además de afectar a la unidad de la comunidad, tocan el núcleo mismo de la fe cristiana[2]. No se trata, por tanto, de un tema menor. Pablo constata aquí el hecho de la formación de partidos o facciones en la comunidad de Corinto; pero nada dice explícitamente del motivo de esta división. Con el correr de la argumentación emergen algunas frases que inducen a pensar que los corintios hacían comparaciones entre los diversos apóstoles desde un punto de vista meramente humano y hacían depender la verdad del evangelio de la elocuencia del predicador. En este sentido Pablo llevaría la peor parte pues se lo consideraba falto de elocuencia en su hablar. Esto explica por qué Pablo lleva enseguida el tema al campo personal, a su propio ministerio de evangelizador (1,17). Así, al final de este exordio insinúa ya, contraponiéndolos, dos temas que tratará a continuación: la ‘elocuencia humana’ y la ‘cruz de Cristo’. En otras palabras, Pablo sostiene que el anuncio del evangelio no se puede fundamentar en la lógica humana sino en la lógica de la Cruz.

  

Evangelio (Mt 4,12-23)

 

            El evangelio de hoy comienza indicándonos que, tras el arresto de Juan Bautista, Jesús se traslada de Nazareth a Galilea, estableciéndose en los confines de Zabulón y Neftalí. Con esta indicación geográfica se señala, en primer lugar, el fin de la misión del Bautista y con ello la culminación de una etapa de la historia de la salvación con el surgimiento de algo nuevo que comenzará con la predicación y la acción de Jesús. Pero esta novedad no es absoluta por cuanto enseguida Mateo nos dice que con este desplazamiento geográfico Jesús está cumpliendo lo anunciado por el profeta Isaías y que hemos escuchado en la primera lectura de hoy: la promesa de una presencia luminosa de Dios en esta región que traerá la liberación y la alegría se está cumpliendo en la persona de Jesús. Él es presentado por Mateo como la "gran luz" para los que se hallaban en la oscuridad y las tinieblas; y mediante este desplazamiento se está cumpliendo el plan de Dios.

            En Mt 28,16-20 se menciona de nuevo a Galilea. Allí Jesús resucitado reúne a los discípulos y los envía a todas las naciones (v.19). La "Galilea de las naciones" a nivel histórico salvífico llega a ser un símbolo de la universalidad del mensaje evangélico. Notemos también que Galilea era un territorio de "periferia" con respecto al centro de la nación judía, que es Judea, y en ella, Jerusalén. Por eso Mateo tiene que "justificar" esta opción de Jesús presentándola como cumplimiento de la profecía de Isaías, es decir como voluntad de Dios. No es entonces casual que el comienzo del ministerio de Jesús sea en Galilea; y el comienzo del ministerio de los discípulos sea también en Galilea, y esta vez no es sólo para Israel sino para todas las naciones.

A continuación, Jesús dedica sus primeras palabras al anuncio (kerygma) de la venida del Reino: "A partir de ese momento, Jesús comenzó a proclamar: Conviértanse, porque el Reino de los Cielos está cerca" (Mt 4,17). 

            El kerygma en Mt se expresa con un imperativo "conviértanse" (metanoeite) al cual sigue como motivación la cercanía del reino de los cielos. Es la misma predicación de Juan el Bautista (cf.  Mt 3,2), pero estamos ya en una etapa distinta. 

            El término "conversión" (metanoia) es un concepto que sintetiza todo cuanto Jesús quiere del hombre, resume todo lo que el hombre debe hacer ante la venida del Reino de Dios a su vida. Esta conversión interior o cambio de mentalidad, se traducirá luego en el seguimiento de Jesús.

            La colocación del "conviértanse" en imperativo al comienzo de la frase puede hacer pensar que, en la relación entre fe y obras, entre compromiso ético y gracia, entre imperativo moral e indicativo, Mateo subraya el imperativo. Pero si atendemos a la partícula gar (porque) es claro que el imperativo (conviértanse) está requerido por el indicativo (el reino está cerca). Por lo tanto, la cercanía del Reino de los cielos (basileia) es lo determinante. No es el comportamiento del hombre lo que determina la venida del Reino, sino que es su cercanía o venida la que exige la respuesta del hombre: es el kerygma el que reclama un cambio radical de vida por parte de los oyentes. Además, no se trata de ir nosotros al Reino de Dios, sino de que el Reino viene-venga a nosotros, como lo pedimos en el Padrenuestro (cf. Mt 6,10). Recordemos esta petición del Padrenuestro pues vincula la venida del Reino a nosotros con el cumplimiento de la voluntad de Dios. 

Sigue luego la creación del discipulado (Mt 4,18-22), con lo cual se indica que la llegada del Reino es esencialmente comunitaria, es decir, está referido a un pueblo concreto a quien va destinado y que está llamado a aceptarlo y hacerlo visible. Por cuanto el Reino de Dios es la comunidad con Dios en la comunidad de los hombres que se han unido a Jesús, la primera acción de Jesús después de anunciarlo es conformar la comunidad de sus discípulos. Lo expresa con claridad R. Aguirre[3]: “Si Dios interviene en la historia con un proyecto de humanidad, por algún punto concreto del tiempo y del espacio tiene que comenzar esta transformación. El Reino de Dios no se identifica simplemente con ningún pueblo concreto, pero sí conlleva la dinámica de encarnarse en uno determinado. La responsabilidad de Israel en el Antiguo Testamento y de la Iglesia en el Nuevo Testamento es aceptar el Reinado de Dios y visibilizar la transformación humanizante que supone la aceptación de esta soberanía de Dios”. 

            El llamado de Jesús a prepararse para la irrupción del Reino fue dirigido a todos, pero muy pronto eligió un grupo de discípulos a los cuales instruyó de una manera especial y con los cuales comenzó a formar la comunidad que se llamó “Iglesia” (los llamados o convocados). 

En esta escena, Jesús sigue siendo la figura dominante. Mostrando libertad de movimiento, elige las “orillas del mar de Galilea” como escenario, para constituir su comunidad, en patente oposición al judaísmo de Judea. Elegir aquellas fronteras implicaba universalidad, pero no menos una gran audacia y escándalo ¡Cómo imaginar que el Mesías comenzara su misión en tierra pagana!...

          Este primer grupo, en el que Pedro tiene un papel especial, está llamado a ser “sal de la tierra y luz del mundo” (Mt 5, 13-16), “levadura en la masa” (Mt 13, 33). Está orientado hacia el Reino, y en él se deben ver los primeros rasgos del Reino que se va haciendo presente. Tiene, como Israel en el Antiguo Testamento, la vocación de ofrecer al mundo el modelo de una comunidad diferente.

Los elementos constitutivos del llamado forman un esquema que se puede resumir de la siguiente manera: 1) La situación del llamado, 2) La llamada, 3) El seguimiento.

La situación o circunstancia de la llamada (4,18.21a) es junto al lago de Galilea mientras los apóstoles estaban realizando su tarea habitual, por cuanto eran pescadores. Los datos que tenemos en el pasaje son escasos. Se dice cómo se llaman, su relación de parentesco (hijos y hermanos); y su oficio (pescadores). Sorprende un poco que Jesús llame a cuatro pescadores para que lo sigan abandonando las redes sin tener en cuenta la menor preparación psicológica de los mismos ya que es el primer encuentro que tienen. Esta cierta falta de lógica literaria por parte del evangelista estaría justificada por su intención de acentuar la iniciativa de Jesús en el llamado. Jesús los ve trabajando y los llama. Nada parece presuponer esta llamada ni prepararla. Es por pura gratuidad. Como dice J. Bartolomé[4]: "Para seguirle era preciso ser invitado; no se convertía en discípulo quien quería, sino quien era querido: ser discípulo es un don antes que una orden".

La llamada (4,19.21b) por parte de Jesús incluye el “ver” (eiden) y las palabras: "vengan detrás de mí y yo los haré pescadores de hombres". El ver de Jesús es “electivo”, es el Mesías el que ve. Un caso similar se encuentra en Mt 9,9 (la vocación de Mateo). Las palabras no son una invitación sino un pedido incondicional. Aquí tenemos la impresión de que Jesús reivindica una suprema autoridad; que no actúa al modo de los profetas, ni de los maestros sapienciales o de los rabinos. La costumbre de la época era que el discípulo eligiese al maestro. Jesús, por el contrario, hace valer su voluntad y autoridad como si estuviera en el lugar de Dios. 

La modalidad de la llamada es una palabra personal de Jesús; y el contenido de la misma es una orden de seguirlo, de vincularse a su Persona ya que les dice "vengan detrás de mí" (deute opiso mou), sin otra precisión que un difuso horizonte misionero: "y los haré pescadores de hombres". Como nota A. Castaño “utiliza una metáfora que responde al oficio desempeñado por los cuatro primeros discípulos, lo que apunta también hacia la misión futura de los mismos: ir por todo el mundo para hacer discípulos a los pueblos (cf. 28,19)”[5].

El seguimiento (akolouzeō) es la respuesta de los discípulos (4,20.22), que nos sorprende por su prontitud y nos recuerda la de Abram (cf. Gn 12,1-4). También aquí se acentúa el carácter personal por cuanto dice el evangelio que "lo siguieron". Previo al seguimiento hubo un gesto fuerte de desprendimiento pues dejaron lo que tenían entre manos: las redes, la barca, el padre.

En síntesis, Mt 4,18-22 nos presenta el modelo de la respuesta al anuncio del Reino por parte de Jesús.

Como conclusión y a modo de síntesis de la actividad de Jesús, Mateo nos dice que: "Jesús recorría toda la Galilea, enseñando en las sinagogas, proclamando el evangelio del Reino y curando todas las enfermedades y dolencias de la gente" (4,23).

La actividad de Jesús se sintetiza con tres verbos: enseñar (didáskō), proclamar (kerissō) el evangelio del Reino y curar (zerapeúō) enfermedades y dolencias. Notemos que por primera aparece el término euangelion en Mateo y en estrecha relación con el Reino de Dios; por tanto el anuncio de la llegada del Reino es la buena noticia y el contenido de la buena noticia es el Reino. Y las curaciones que realiza Jesús son signos visibles de la llegada de este Reinado de Dios que implica la supresión del mal que afecta a los hombres. 

Este versículo, además ser un "sumario" de la actividad de Jesús, cierra la sección a modo de inclusión pues retoma el tema del Reino de Dios presente en 4,17. 

 

Algunas reflexiones:

 

           El objetivo de las lecturas de estos primeros domingos durante el año es una presentación inicial de Jesús. Así, el domingo pasado Juan Bautista lo confesaba como el Cordero de Dios que quita el pecado del mundo. En este domingo Jesús es presentado como Dios presente en medio de su pueblo con la misión de iluminar a los que viven en la oscuridad. La relación entre la primera lectura y la primera parte del evangelio de hoy nos orientan en este sentido. La promesa del profeta Isaías de que Dios libraría a su pueblo de la esclavitud y de la oscuridad se cumple en la persona de Jesús. El mensaje central sería entonces que con Jesús se hace presente el reinado de Dios entre los hombres. Y donde Dios reina hay libertad, luz, alegría, consolación. 

Como bien dijo el Papa Benedicto XVI: "En la liturgia de hoy el evangelista san Mateo presenta el inicio de la misión pública de Cristo que consiste esencialmente en el anuncio del reino de Dios y en la curación de los enfermos, para demostrar que este reino ya está cerca, más aún, ya ha venido a nosotros. La "buena nueva" que Jesús proclama se resume en estas palabras: "El reino de Dios —o reino de los cielos— está cerca" (Mt 4, 17; Mc 1, 15). ¿Qué significa esta expresión? Ciertamente, no indica un reino terreno, delimitado en el espacio y en el tiempo; anuncia que Dios es quien reina, que Dios es el Señor, y que su señorío está presente, es actual, se está realizando. Por tanto, la novedad del mensaje de Cristo es que en él Dios se ha hecho cercano, que ya reina en medio de nosotros, como lo demuestran los milagros y las curaciones que realiza"[6]. 

En efecto, en castellano la palabra reino nos sugiere un 'estado' o 'lugar', pero cuando los evangelios hablan del “Reino de Dios” se refieren más bien a la situación que surge del gobierno o reinado de Dios, al ejercicio de la soberanía de Dios. “Reino de Dios” es lo mismo que Dios reina. 

La historia de Jesús es la última intervención de Dios en la historia y, por esto, el Reino se hace presente en la Persona de Jesucristo. Pero el Reino alcanzará su plenitud en el juicio final con la venida del hijo del hombre en la gloria (cf. Mt 24-25). Hay y habrá siempre una tensión que se resuelve, en parte, a nivel personal ya que lo que falta para que el Reino se haga presente es la respuesta humana, la fe y la conversión (1,15). Toca al hombre recibirlo creyendo en él y viviendo según él; y, de esta manera, comienza a hacerse presente el Reinado de Dios entre los hombres.

 

El otro tema central del evangelio de hoy es el del discipulado, sobre el que tanto nos ha insistido el documento final de Aparecida. Brevemente podemos decir que el camino del discipulado comienza con un encuentro personal con Jesús que llama a seguirlo. La iniciativa es toda de Jesús quien irrumpe en la vida del hombre en su situación cotidiana, con su trabajo y sus vínculos familiares. La llamada implica una opción radical: dejarlo todo y seguirlo. La exigencia y su respuesta están narradas aquí como afectiva y efectiva: se van detrás de Jesús dejándolo todo, subordinándolo todo a Él y a la misión por Él encomendada. 

Por su parte, el llamamiento de los discípulos está íntimamente relacionado con el anuncio del reinado de Dios porque "Jesús, en un gesto simbólico y al mismo tiempo con una acción bien concreta, anuncia y pone en marcha la renovación del pueblo de las doce tribus, la nueva convocación de Israel"[7]. Además, "es significativo que Jesús, desde el comienzo de su ministerio, quisiera llamar a algunos hombres para asociarlos a su ministerio. Jesús no se presenta como un personaje solitario, que pretende realizar su obra por sí solo, sin colaboración de nadie. De por sí, habría podido hacerlo, porque es verdaderamente único: el Hijo de Dios hecho hombre se encuentra en un ámbito inalcanzable para cualquier hombre. Sin embargo, quiso llamar enseguida a los apóstoles para asociarlos a su obra de salvación"[8].

            Si tenemos en cuenta también la segunda lectura podemos reflexionar sobre la pedagogía de Dios y el lugar de los apóstoles en ella. Lo fundamental es mantener viva la fe en la acción de Dios, por medio de Jesús, en nuestra historia y en nuestras vidas. El Señor Jesús es quien ha hecho presente el reinado de Dios y lo sigue haciendo presente; es quien nos ha salvado y nos sigue salvando, es quien nos ha llamado y sigue llamando. Ahora bien, a modo de instrumentos o ministros (servidores), el Señor nos invita a todos a colaborar con Su obra como discípulos y misioneros Suyos. Cuando se debilita la fe en la Presencia viva y operante del Señor Jesús, se "infla" el protagonismo de los hombres. Y las consecuencias de esto no son buenas. Una de ellas es generar divisiones en la comunidad de creyentes, como señala san Pablo en su carta a los corintios. Por el contrario, una fe madura sabe descubrir el Protagonismo de Jesús como Señor de la historia y de la Iglesia; y el necesario y legítimo segundo lugar de los apóstoles. Como bien dice el Card. Vanhoye[9]: "Todos debemos ser conscientes de la relativa importancia de los ministros del Señor. El único maestro, el único Señor, es Cristo. La obra de la evangelización es obra suya, y los apóstoles son sólo sus instrumentos, que gozan del privilegio, verdaderamente extraordinarios, de haber sido asociados a su obra, pero que no pueden tomar en absoluto su puesto. Si lo hicieran, ya no serían apóstoles. Alegrémonos, pues, de saber que Cristo continúa su obra por medio de los apóstoles, de los obispos, de los sacerdotes. Es a Cristo a quien debemos brindar toda nuestra adhesión, no atribuyendo una excesiva importancia a las personas, que son simples instrumentos de su obra extraordinaria".

            

Por último, la imagen de la LUZ es fuerte este domingo. Hay una luz que se oculta, la de Juan Bautista, quien es más bien el testigo de la Luz (Jn 1,7-8). Este ocultamiento del testigo es la señal para que la verdadera Luz se manifieste. Jesús es la LUZ de Dios en persona y por eso ilumina ante todo por lo que Él Es, el Hijo de Dios. Por eso dónde Él se hace presente se disipan las tinieblas y desaparece la oscuridad. Todo cambia, todo se ilumina. De modo especial Jesús nos ilumina con sus palabras y con sus acciones, esto es con la Luz de la Verdad y de la Caridad. Se trata de una luz que brota del amor, por eso es una Luz cálida, que ilumina y enamora, que invita a la renuncia y al seguimiento. Que pide dejar toda otra luz para dejarse guiar sólo por la Luz de su presencia. Al ponernos en camino, en seguimiento de Jesús y en obediencia a su Palabra, se disipan todas nuestras tinieblas y nos invade su Luz

Por ser Luz de amor, Luz de fuego, enciende otras luces para que a su vez iluminen. No una, sino muchas, de a dos, para que ardan juntas y la luz de la caridad se difunda. Cristo es la luz de las naciones y la Iglesia es como la luna, sin luz propia, llamada a reflejar la luz del Sol, de Cristo ("Conscientes del vasto horizonte que la fe les abría, los cristianos llamaron a Cristo el verdadero sol, «cuyos rayos dan la vida»”, LF nº 1).

Jesús hace presente el Reino de Dios, el Reino de la Luz. Nos lo hace cercano, al punto de poder iluminar toda nuestra existencia…si se lo permitimos, si no la rechazamos, si nos dejamos iluminar. "La fe sabe que Dios se ha hecho muy cercano a nosotros, que Cristo se nos ha dado como un gran don que nos transforma interiormente, que habita en nosotros, y así nos da la luz que ilumina el origen y el final de la vida, el arco completo del camino humano" (LF nº 20). 

Nuestra respuesta a esta iniciativa amorosa del Señor es, primero, dejarnos iluminar por su LUZ al punto de hacernos “luminosos”; y entonces sí, nos volveremos testigos de su LUZ ante el mundo, llegando hasta las periferias donde reina la oscuridad. 

En este domingo de la Palabra de Dios nos dice el Papa Francisco comentando el evangelio de hoy: “Él deja Nazaret, una aldea de las montañas, y se establece en Cafarnaúm, un centro importante a orillas del lago, habitado en su mayor parte por paganos, punto de cruce entre el Mediterráneo y el interior mesopotámico. Esta elección indica que los destinatarios de su predicación no son sólo sus compatriotas, sino todos los que llegan a la cosmopolita «Galilea de los gentiles» (v 15; cf. Isaías 8, 23): así se llamaba. Vista desde la capital Jerusalén, aquella tierra es geográficamente periférica y religiosamente impura, porque estaba llena de paganos, por la mezcla con quienes no pertenecían a Israel. Ciertamente de Galilea no se esperaban grandes cosas para la historia de la salvación. Y sin embargo, justamente desde allí — justo desde allí— se difunde aquella “luz” sobre la cual hemos meditado los domingos pasados: la luz de Cristo. Se difunde precisamente desde la periferia. El mensaje de Jesús reproduce el del Bautista, proclamando el «Reino de los Cielos» (v. 17). Este Reino no conlleva la instauración de un nuevo poder político, sino el cumplimiento de la alianza entre Dios y su pueblo, que inaugurará un periodo de paz y de justicia. Para estrechar este pacto de alianza con Dios, cada uno está llamado a convertirse, transformando su propio modo de pensar y de vivir. Esto es importante: convertirse no solo es cambiar la manera de vivir, sino también el modo de pensar. Es una transformación del pensamiento. No se trata de cambiar la ropa, ¡sino las costumbres! Lo que diferencia a Jesús de Juan Bautista es el estilo y el método. Jesús elige ser un profeta itinerante. No se queda esperando a la gente, sino que se dirige a su encuentro. ¡Jesús está siempre en la calle! Sus primeras salidas misioneras tienen lugar alrededor del lago de Galilea, en contacto con la muchedumbre, en particular con los pescadores. Allí Jesús no sólo proclama la llegada del Reino de Dios, sino que busca compañeros que se asocien a su misión de salvación. Nosotros, cristianos de hoy en día, tenemos la alegría de proclamar y testimoniar nuestra fe, porque hubo ese primer anuncio, porque existieron esos hombres humildes y valientes que respondieron generosamente a la llamada de Jesús. A orillas del lago, en una tierra impensable, nació la primera comunidad de discípulos de Cristo. Que la conciencia de estos inicios suscite en nosotros el deseo de llevar la palabra, el amor y la ternura de Jesús a todo contexto, incluso a aquel más dificultoso y resistente. ¡Llevar la Palabra a todas las periferias! Todos los espacios del vivir humano son terreno al que arrojar las semillas del Evangelio, para que dé frutos de salvación. Que la Virgen María nos ayude con su maternal intercesión a responder con alegría a la llamada de Jesús, a ponernos al servicio del Reino de Dios” (Ángelus del 22 de enero de 2017).

  

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

 

Detrás

 

Anhelo Señor, ver más allá

Dirigir al horizonte lejano la mirada

Y pensar en un glorioso mañana.

 

Peregrinar por este mundo

Sabiendo que la muerte no tiene

Ni tendrá nunca la última palabra.

 

Saberte cerca… porque detrás del velo

Estás resucitado, vivo de nuevo

Después de haberte encarnado y muerto.

 

Y así Juan el Bautista prisionero

Supo que ese no era el fin, pues Tú Señor

Eras el verdadero Maestro.

 

Que su martirio tendría ahora sentido,

Porque veía abrirse las puertas

Del anhelado Destino.

 

Hoy también pasas mostrando señales

Sanando, enseñando, abriendo el camino:

Al lugar preparado por los siglos de los siglos. Amén

 

[1] Cf. H. Lona, "Grupos y tendencias en la comunidad de Corinto", Estudios Proyecto 11 (1993) 83-123. Al respecto dice J. Dupont: "Las alusiones que Pablo hace a las divisiones de la Iglesia de Corinto no permite reconstruir con precisión la real situación de la comunidad. Más que describir la situación, Pablo se interesa por sus presupuestos: la actitud de espíritu que se encuentra en el origen de estas divisiones. Lo que inquieta en Corinto es el hecho mismo de que, por adherirse a predicadores diferentes, se puedan oponer unos a otros", "Reflexiones de San Pablo para una iglesia dividida", Revista Bíblica 2007 /3-4, 177.

[2] Cf. J. M. Díaz Rodelas, Primera carta a los corintios (Verbo Divino; Estella 2003) 61.

[3] Cf. R. Aguirre, Del movimiento de Jesús a la Iglesia cristiana, 57-58.

[4] J. J. Bartolomé, El discipulado de Jesús en Marcos, EstBib 51 (1993) 519.

[5] “Discipulado y misión en el Evangelio de Mateo, Bogotá, CELAM 2006, 39.

[6] Benedicto XVI, Ángelus del domingo 27 de enero de 2009.

[7] J. Ratzinger, Jesús de Nazaret. Desde el Bautismo a la Transfiguración, Planeta, Buenos Aires, 2007, 92.

[8]  Card. A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo A (Mensajero; Bilbao 2003) 178.

[9] Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo A (Mensajero; Bilbao 2003) 180.