SAGRADA FAMÍLIA

DOMINGO DA SAGRADA FAMÍLIA-ANO B

JESUS, MARIA E JOSÉ

31/12/2023


 LINK AUXILIAR:

AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Gênesis 15,1-6;21,1-3

Salmo 104(105)-R- O Senhor, ele mesmo é o nosso Deus, ele sempre se lembra da Aliança. 

2ª Leitura Hebreus 11,8.11-12.17-19

Evangelho de Lucas 2,22-40

22    E quando se completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, 23      conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”. 24       Para tanto, deviam oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, como está escrito na Lei do Senhor. 25Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. 26        Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor. 27      Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições da Lei, 28     Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: 29        “Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, 30    porque meus olhos viram a tua salvação, 31   que preparaste diante de todos os povos: 32  luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo”. 33 O pai e a mãe ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. 34Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: “Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição 35        – uma espada traspassará a tua alma! – e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”. 36Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. 37      Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. 38    Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. 39Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor, eles voltaram para Nazaré, sua cidade, na Galiléia. 40O menino foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele.


Dom Júlio Endi Akamine, Arcebispo de Sorocaba SP



Lc 2,22-40

Todos nós estamos ligados necessariamente a uma família. Nela, nós encontramos as raízes de nossa existência e nossa origem como pessoa humana: ser pessoa humana é ser de outros. Somos como um tecido de fios de muitas outras vidas, gerados por um homem e uma mulher, ambos tecidos de duas outras famílias. São duas correntes da humanidade que se uniram e que, num dado momento, geraram uma nova vida. Portanto, estar ligado a uma família, dela receber a existência, por ela ser acolhido e educado é próprio de nossa condição humana e corresponde à nossa natureza.

Ao se encarnar, o Filho de Deus assumiu integralmente a natureza humana que inclui o fato surpreendente de ter nascido em uma família. Jesus teve uma família. Deus leva a sério a encarnação e assume todas as suas consequências: torna-se homem como nós sem deixar de ser Deus. O Filho de Deus não se contentou apenas de entrar na história humana através de uma família, mas também participou de todo o processo de crescimento e amadurecimento dentro da família como qualquer um de nós. Jesus aprendeu na família a arte de ser homem. É a partir da família que Jesus aprendeu a se relacionar com o mundo e com os homens; a partir dela, foi ampliando seu círculo até dimensões mais vastas. Com efeito, no evangelho, se relata que Jesus “crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele” (Lc 2,52).

A Sagrada Família (Jesus, Maria e José) revela que a família é sagrada, porque o Filho de Deus nela viveu a maior parte de sua vida. Por trinta anos aproximadamente, Jesus partilhou a condição da imensa maioria das pessoas; viveu uma existência cotidiana sem grandeza aparente; trabalhou e ganhou o próprio sustento com suas mãos e com o suor do seu rosto; foi submisso aos seus pais; experimentou a beleza austera e simples da vida com Maria, José e os parentes próximos.

Os Evangelhos não nos narram muito sobre a vida de Jesus em Nazaré, mas, a partir de sua vida pública, muito podemos intuir dela. Assim a obediência filial total da Quinta-feira Santa (“não a minha vontade...” Lc 22,42) tem suas raízes e sua antecipação na submissão diária de Jesus a seus pais; o amor extremo de Cristo pelos mais pobres e sofredores foi preparado e semeado na experiência que ele faz do afeto humano genuíno que estava na base dos relacionamentos familiares. Podemos até mesmo ver nas parábolas de Jesus evocações de experiências feitas no lar de Nazaré: a mulher que mistura o fermento na massa, que varre a casa em busca da dracma perdida, o sal que conserva e dá sabor, a luz acesa no candeeiro, as refeições diárias e as festivas, o amigo que bate à porta em hora inoportuna...

Com o nascimento de Jesus em Belém e a sua vida oculta em Nazaré, a noite da humanidade se ilumina. O menino de Belém, o adolescente e o jovem de Nazaré nos revela: tudo possui um sentido secreto e tão profundo que o próprio Deus quis assumi-lo. Vale a pena viver em família! Tanto que o Filho de Deus viveu oculto na Sagrada Família por trinta anos! Ele entra, toma parte, participa de nossa vida que é constituída principal e essencialmente de vida familiar. Nazaré nos mostra que vale a pena viver a vida familiar como a experimentamos: às vezes, monótona e anônima, sempre trabalhosa e fiel na luta de sermos cada dia melhores. Vale a pena viver em família: vida exigente na paciência, em suportar as contradições e em aprender delas.

A vida em família é ameaçada de muitas maneiras: rompimentos dolorosos do pacto matrimonial, infidelidade ao amor prometido, ofensas à sacralidade do matrimônio, concepções e práticas que contradizem a essência da vida familiar. Dois homens ou duas mulheres não podem ser considerados família. Os cristãos não se rendem aos que querem justificar o que não pode nem deve ser justificado porque têm sempre diante dos olhos Cristo e o modo como ele viveu a vida humana. No lar de Nazaré encontram o modelo e a meta de sua existência que inclui também a vida em família.

Neste natal, olhemos bem fundo nos olhos do menino Jesus: nele sorri a humanidade e a jovialidade de nosso Deus. Tentemos, neste natal e também durante nossa vida toda, ser bons e realmente irmãos uns dos outros. Assumamos nossa vida cotidiana, anônima, trabalhosa, cheia de dificuldades com alegria assim como Cristo a assumiu. Olhemos para nossas mães e para as nossas esposas com respeito, e descubramos nelas um símbolo da Virgem Maria. Fixemos o olhar em nossos pais e redescubramos neles a solicitude e a dedicação altruísta de José. Olhemos para nosso próximo e lembremo-nos que ele é um irmão de Cristo e nosso irmão. Façamos de cada pessoa um próximo e de cada próximo um irmão. Neste natal, abracemos nossos filhos, nossas crianças como se abraça o Filho que Deus nos dá no Natal.

Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!



SAGRADA FAMÍLIA - Pe Francisco Cornelio F. Rodrigues


Lucas 2,22 – 40-Ano B – 31-12-23



O evangelho da festa da Sagrada Família neste ano é Lc 2,22-40, texto que contém a narrativa do episódio conhecido como apresentação de Jesus no templo de Jerusalém. Com este relato, o evangelista não pretendia apresentar um tratado sobre a família, mas revelar a identidade messiânica de Jesus e, ao mesmo tempo, a sua “normalidade”: ele não caiu do céu, mas nasceu e criou-se no seio de uma família judaica, condicionado aos costumes e leis da sua época, embora capaz de contradizê-los e até negá-los, quando for necessário, como será demonstrado ao longo do Evangelho. 

Esse é um texto de alta concentração cristológica, no qual convergem diversos elementos do Antigo Testamento para a novidade de Jesus, como preparação para o seu reconhecimento como salvador universal e “luz de todas as nações (v. 32). Inserido no chamado “evangelho da infância” de Lucas (Lc 1 – 2), faz parte de uma sequência de episódios iniciada com o relato do nascimento de Jesus (Lc 2,1-7): o anúncio do anjo aos pastores (Lc 2,8-12), o canto dos anjos glorificando a Deus (Lc 2,13-14), a visita dos pastores à manjedoura em Belém (Lc 2,15-20), a circuncisão e imposição do nome Jesus (Lc 2,21).

Além do relato da apresentação do menino e da purificação da mãe, como cumprimento dos preceitos da Lei (vv. 22-24), o texto contém os testemunhos de Simeão (vv. 25-35) e Ana (vv. 36-38), o que lhe confere uma riqueza ímpar. De fato, o simples cumprimento dos preceitos da Lei não revela nada de extraordinário; inclusive, a intenção do evangelista ao mencioná-lo é mostrar a inserção de Jesus na história, na vida concreta de um povo, vivendo o seu cotidiano. O que, de fato, desconcerta e apresenta grande novidade são os testemunhos de Simeão e Ana, enriquecendo a cristologia do texto com suas respectivas revelações da identidade messiânica de Jesus. Na conclusão, o autor fala do retorno de Jesus com seus pais à vida cotidiana de Nazaré e apresenta uma pequena síntese do seu crescimento acompanhado da força e a graça de Deus (vv. 39-40).

Como afirmamos anteriormente, esse texto tem uma alta concentração cristológica; o seu centro é o Cristo, e isso já pode ser percebido no primeiro versículo: “Quando se completaram os dias da purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor” (v. 22). Ora, o preceito de purificação era aplicado somente à mãe: quarenta dias após o parto, se a criança fosse menino, e oitenta dias se fosse menina (Lv 12,1-8). A lei exigia apenas que a mãe se apresentasse ao sacerdote, levando a oferta prescrita. Ao inserir Jesus na cena, Lucas pretende evidenciar a sua importância e centralidade. Não havia nenhum preceito que exigisse a apresentação da criança. 

A Lei determinava apenas a consagração do primogênito (v. 23 = Ex 13,2). Para essa consagração não havia necessidade de levar a criança ao sacerdote, mas apenas o pagamento do seu resgate (Ex 34,19-20). As motivações de Lucas são estritamente teológicas, ao inserir no episódio elementos que, de certo modo, contradizem as normas e os costumes do povo judeu. Com isso, ele apresenta Jesus inserido na vida concreta do povo judeu com suas tradições, mas com plena liberdade para transgredir. Quer dizer que nenhuma tradição ou doutrina é capaz de conter Jesus e seu agir, como será mostrado nos relatos da sua vida pública.

Como um dos temas mais caros ao Evangelho segundo Lucas é a opção pelos pobres, também neste episódio ele faz questão de evidenciá-lo, através da descrição da oferta de José e Maria pela purificação da mãe: “Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos – como está ordenado na Lei do Senhor” (v. 24). A oferta deveria ser de um cordeiro, com exceção para as famílias pobres que podiam oferecer um par de rolas ou dois pombinhos (Lv 12,8), como fizeram José e Maria. Com isso, o evangelista evidencia que Jesus veio pelos pobres, para os pobres e para ficar com os pobres, especialmente. Sua identificação é clara com os últimos de Israel e, consequentemente, de todo o mundo: humildes, pecadores, mulheres e marginalizados em geral. É com esse detalhe que o evangelista encerra as descrições rituais do episódio. Nos versículos seguintes ele apresentará os testemunhos de Simeão e Ana como centro do relato. Na verdade, ele usou os preceitos da Lei e os ritos apenas como pretexto para tratar da identidade messiânica de Jesus, como faz em seguida.

Simeão e Ana são personagens exclusivos de Lucas. São frutos da sua teologia e são personalidades corporativas, ou seja, representam uma coletividade: a parcela do povo de Israel que permaneceu fiel às promessas de Deus, especialmente os mais pobres, e que reconhece Jesus como o cumprimento das promessas e a plenitude da Lei. Eis a descrição de Simeão: “Em Jerusalém havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor” (v. 25-26). As qualidades de justo e piedoso sintetizam o que Deus espera do ser humano. É sinônimo de conduta reta diante de Deus e do próximo. Esperar a consolação significa reconhecer e assumir uma situação de tristeza, de negação da vida. Por isso, Lucas enfatiza tanto a alegria ao longo do seu Evangelho.

Israel vivia uma situação caótica e triste e, diante disso, muitos perderam a esperança e o gosto pela vida. Simeão soube esperar e reconhecer em Jesus o consolo definitivo, a salvação de quem estava literalmente perdido, sem perspectivas, devido à opressão causada pelos sistemas de poder, tanto o político-econômico quanto o religioso. Vivendo em situação tão adversa e caótica, somente tendo consigo o Espírito Santo, Simeão poderia sentir a libertação definitiva tão próxima. Esse dado é importante: é o Espírito Santo quem credencia o ser humano a acolher a novidade de Jesus e do Evangelho.

Ao dizer que “Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus” (v. 28), Lucas quer afirmar que o velho acolheu o novo, os dois testamentos (alianças) se encontraram e podem, de agora em diante, conviver em harmonia, desde que haja abertura ao Espírito Santo da parte do antigo. O povo da antiga aliança é consolado ao participar da nova aliança, cedendo aos apelos do Espírito Santo. Isso requer um aprofundamento na vivência da fé, graças ao Espírito Santo. Conforme já profetizara Isaías (Is 49,6), Simeão percebe que é preciso abrir mão de certos pensamentos hegemônicos: a glória de Israel é compatível com a luz das nações.

 Ora, luz é também sinal de glória. Portanto, se Israel encontra sua glória, os povos de todo o mundo são também iluminados, e não dominados, como esperavam os movimentos mais nacionalistas e radicais. Lucas aproveita a cena para introduzir mais um cântico no seu “evangelho da infância”, colocando-o, dessa vez, na boca de Simeão (vv. 29-32), conforme já fizera com Maria (Lc 1,46-55), com Zacarias (Lc 1,68-79), e com os anjos (Lc 2,14).

Somente com olhos e coração atentos ao Espírito Santo, era possível afirmar que a salvação foi vista, contemplada. Assim, Simeão e, nele, todo o Israel fiel, pode dizer: “podes deixar teu servo partir em paz” (v. 30). De fato, o Antigo Testamento deu ao Novo seu lugar! Simeão, ajudado pelo Espírito Santo, antecipa a missão de Jesus e o efeito dessa: ser sinal de contradição e causa de queda e reerguimento para muitos em Israel (v. 34). O Evangelho não será acolhido por todos e, portanto, a sua acolhida causará divisão, angústia e, consequentemente, queda e elevação. 

Na verdade, Lucas está reforçando o que já tinha apresentado no cântico de Maria: o Deus de Israel e de Jesus eleva os humildes e faz cair os soberbos (Lc 1,52ss). Quanto ao que Simeão diz em relação a Maria, a mãe, não é uma profecia sobre o drama da cruz, como muitas interpretações afirmam. A espada é uma imagem da palavra de Deus no Antigo Testamento (Is 49,2). Portanto, será a Palavra de Deus, revelada plenamente em Jesus, a atravessar a alma de Maria: o Evangelho dividirá o povo judeu; uns o acolherão, outros não. Como imagem e figura de Israel, Maria viveu em si esse drama: ela acolheu a Palavra de corpo e alma (Lc 1,38), mas assistiu a uma grande parcela do seu povo rejeitá-la.

Quanto a Ana, seu papel é semelhante ao de Simeão, embora a sua descrição seja bem diferente: “Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido” (v. 36). É característica de Lucas atribuir importância a pessoas praticamente destinadas ao esquecimento. Assim ele faz com Ana.

Ao mencioná-la, ele quer enfatizar o papel da mulher na nova aliança, resgatando uma importância que a antiga lhe tinha negado. Ao qualificá-la como profetisa, o evangelista lhe atribui um papel importante, pois somente quatro mulheres receberam esse título no Antigo Testamento, e cinco em toda a Bíblia, incluindo ela: Maria, irmã de Moisés e Aarão (Ex 15,20), Débora (Jz 4,4), Hulda (2Rs 22,14), a esposa de Isaías (Is 8,3), e Ana. A tribo de Aser, da qual Ana era proveniente, localizada no extremo norte da Galileia, era a mais distante de Jerusalém, e sua população era considerada quase pagã pelas autoridades religiosas da época. Esse dado também evidencia a predileção de Deus pelo que é rejeitado e marginalizado.

A idade de Ana é bastante significativa: 84 anos, o que significa 7 vezes 12, ou seja, Israel (número 12) chegando a sua perfeição (número 7); portanto, Ana representa o Israel ideal que encontrou em Jesus a sua razão de ser. Por isso, ela “pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” (v. 38). O louvor é consequência de quem se reencontra com a alegria e o gosto pela vida, algo que Lucas valoriza bastante em sua obra (Evangelho e Atos). Ana, ao louvar a Deus, se solidariza com todos aqueles que esperavam a libertação. Ora, libertação é o desejo de quem se sente na escravidão. Ela reconhece Jesus como a libertação definitiva de quem se encontrava escravizado pelos poderes econômico, político e religioso da época.

Diante de tudo o que se dizia do menino, a reação dos seus pais não poderia ser diferente: estavam maravilhados (v. 33). Assim como Simeão e Ana, José e Maria também estavam cansados da vida com suas mazelas, exploração e desencantos. Porém, mantiveram a esperança viva; não desanimaram, esperaram no Senhor e viram a chegada da libertação e da consolação. 

Por isso, são para nós testemunhas autênticas de um Deus que não deixa de cumprir as suas promessas e que olha, especialmente, pelos mais necessitados de todos os tempos. Em Jesus, as promessas de Deus são realizadas, o Antigo Testamento é cumprido, porém, de modo surpreendente: a mensagem salvífica de Jesus é tão grande que Israel não é capaz de comportá-la; por isso, transcende, é luz para todos os povos! Maravilhar-se é admirar-se, encantar-se. Em Jesus, uma nova história começa tendo como protagonistas os pobres, pequenos e humildes, ou seja, os necessitados de consolação e de libertação.




ESPAÇO FAMILIAR: Adroaldo Palaoro

romper bolhas, derrubar muros


“... Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor” (Lc 2,22)

Certamente todos já viram um invento recreativo para crianças, composto de um globo inflável que flutua sobre um reservatório de água; ali elas são introduzidas, e ficam se movendo prazerosamente. Tal invento evoca um comportamento frequente nas famílias de hoje. Sem se darem conta, elas mesmas fabricam uma bolha e se fecham nela como num reduzido microcosmo. Elaborado pela mente e inflado pelo ego, esse pequeno globo enclausura as pessoas em um mundo familiar muito definido: o êxito, a vaidade, o dinheiro, os bens materiais, um ambiente raquítico de espaço e tempo, torna-se sua única realidade.

No entanto, para as famílias cristãs, poderíamos perguntar se há algo mais além, por detrás dessa bolha, desse globo fechado no qual todos brincam como crianças inconscientes. Despertar o “eu profundo e universal” é descobrir-se habitante de um universo novo e espaçoso, um “eu sou” com sabor de infinito, onde nem a escassez ou a riqueza, nem a saúde ou a enfermidade, nem a vida curta ou longa..., é o mais essencial, mas a consciência expandida que rompe a bolha e faz a pessoa sentir a liberdade amorosa dos filhos e filhas de Deus.

Deus “se fez diferente” e é na “diferença” que Ele vem ao nosso encontro como chance de enriquecimento vital e de intercâmbio criativo. Deixemo-nos surpreender pelo Deus da vida que rompe esquemas, crenças, legalismos, bolhas...; ou nossa vivência de fé se reduzirá a um ritualismo fechado, impedindo sair de nós mesmos.

Também os muros estão voltando à moda. Não podemos esquecer que os muros foram criados para a segregação dos “diferentes”. O muro econômico que exclui, se visibiliza no muro que segrega os excluídos.

Um muro é uma ordem, um silêncio forçado e prolongado, é vontade de poder e domínio sobre os outros.

Muros são pedras da vergonha no nosso percurso vital. Como tirá-los do caminho?

Muros não têm semente, embora se multipliquem pelo mundo. O muro é um veneno. Muros são concretos: muros entre ricos e pobres, entre homens e mulheres, entre ignorantes e doutores, entre negros e brancos, entre centro e periferia.

Muros são urros. Muros são murros, são muito burros! Todos os muros deviam se envergonhar, pois se os muros pudessem ensinar alguma coisa, desistiriam de serem muros.

A festa da Sagrada Família, que se deslocou a Jerusalém, nos instiga a romper a bolha que asfixia a vida e derrubar os muros que cercam o coração das famílias, atrofiando sua própria existência.

A mudança de mente, de coração, de esperança, de paradigmas... exige que todos, de tempos em tempos, revisem suas vidas, conservando umas coisas, alterando outras, derrubando ideias fixas, convicções absolutas, modos fechados de viver...   que impedem a entrada do ar para arejar a própria vida.

Há em todo ser humano uma tendência a cercar-se de muros, a encastelar-se, a criar uma rede de proteção. Também as famílias não estão imunes desta tentação.

No entanto, nada mais contrário ao espírito cristão que a vida instalada e uma existência estabilizada de uma vez para sempre, tendo pontos de referência fixos, definitivos, tranquilizadores...

         Numa vida assim faltaria por completo o princípio da criatividade, a capacidade de questionar-se, a audácia de arriscar, a coragem de fazer caminho  aberto à aventura.

 

Se quisermos que a família cristã tenha a marca da Família de Nazaré, é necessário compreender que ela é chamada a um compromisso diferente e mais profundo:  sair da reclusão dopróprio mundo para entrar na grande “casa” de Deus; romper com o tradicional para acolher a surpresa; deixar a “margem conhecida” para vislumbrar o “outro lado”; desnudar-se de ilusões egocêntricas; afastar a “pedra” da entrada do coração para poder viver com mais criatividade...

As respostas do passado às questões atuais já não satisfazem; as velhas razões para fazer coisas novas, simplesmente já não movem os corações num mundo repleto de novos desafios.

Não há razão para permanecer nas bolhas e condomínios quando todas as circunstâncias mudaram.

 

Comprovamos hoje um “déficit de interioridade”. O ser humano “pós-moderno” perdeu a direção do seu coração; dentro dele há um “condomínio” onde portas se fecham, chaves se perdem, segredos são esquecidos... e mergulha na mais profunda solidão estéril. Vive perdido fora de si mesmo e não consegue colocar as grandes perguntas existenciais: “de onde venho? quem sou? para onde vou? quê devo fazer?”

Muitos já não conseguem mais recolher-se e voltar para “dentro” de si, para recuperar o centro gravitacional de sua vida, o ponto de equilíbrio interior. São vítimas da chamada “síndrome da exteriorização existencial”, tem dificuldades de introspecção, silêncio, reflexão, contemplação...; não são capazes de velejar nas águas da interioridade, vivendo uma vida superficial e sem sentido.

            Seduzidos pelos estímulos ambientais, envolvidos por apelos vindos de fora, cativados pela mídia, pelas inovações rápidas, magnetizados por ofertas alucinantes... muitos ambientes familiares se esvaziam, perdem a dimensão da interioridade, afastam-se do horizonte de sentido e... se desumanizam. Tudo se torna líquido:  o amor, as relações, os valores, a ética, as grandes causas...

Longe de um ambiente humano dinâmico, operante, ousado, solidário..., o que elas deixam transparecer é, pelo contrário, um ambiente humano neutro, apático, estagnado.

Inspirando-se em Maria e José, pais e mães convertem-se em fonte de vida nova; e a sua missão mais apaixonante é aquela de poder dar uma profundidade e um horizonte novo aos seus filhos; sabem integrar “vida em Nazaré” (espaço de interioridade) e “presença em Jerusalém” (vida expansiva, aberta ao novo e ao diferente).

“O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria”; esta expressão sugere a atitude básica dos pais e mães:cuidar a vida frágil de quem começa o seu percurso neste mundo. Como seguidores(as) de Jesus e com sua presença humanizadora, eles(elas) são promotores(as) de habilidades na vida de seus filhos: “dão asas” e despertam neles as potencialidades do humano presentes em cada um, levando-os a experimentar condições ousadas de crescimento e realização; na convivência cotidiana, interagem com eles e conseguem extrair deles o melhor, fomentam o papel ativo deles, incentivam-nos a desenvolver sua autonomia e dar asas à sua imaginação.

            O ambiente familiar, sadio e instigante, torna os filhos conscientes de que são seres em movimento, protagonistas de mudanças, capazes de criar novos modos de existir, de romper com o instituído e buscar o diferente, o novo, o desconhecido... A família é o espaço das inovações, dos riscos, dos experimentos... Nela se encontra o lugar dos sonhos, dos desejos, da liberdade e autonomia.

Texto bíblico:  Lc 2,22-40

Na oração: A exortação apostólica “amoris Laetitia”, do Papa Francisco,  inspira os casais cristãos a que se convertam em pontes, ponham suas energias, sua forma-ão, dedicação, sua vida a serviço de criar, alimentar e sustentar os laços humanos, relações sociais, estruturas políticas e econômicas que tornem possível a solidariedade entre todos os seres humanos e aponte para um mundo fraterno e justo. A vocação para estender pontes, superando fronteiras, é algo crucial para o mundo de hoje.

- Seu ambiente familiar: risco da aventura ou medo asfixiante? Contínua surpresa ou perene rotina?  Espaço de liberdade ou vivências dentro de bolhas asfixiantes e muros de proteção?

 

 LARES CRISTÃOS -  José Antonio Pagola

 

Hoje fala-se muito da crise da instituição familiar. Certamente, a crise é grave. No entanto, apesar de estarmos a ser testemunhas de uma verdadeira revolução na conduta familiar, e muitos previram a morte de diversas formas tradicionais de família, ninguém anuncia hoje seriamente o desaparecimento da família.

 

Pelo contrário, a história parece ensinar-nos que nos tempos difíceis se estreitam mais os vínculos familiares. A abundância separa os homens. A crise e a penúria une-os. Ante o pressentimento de que vamos viver tempos difíceis, são bastantes os que pressagiam um novo renascer da família.

 

Com frequência, o desejo sincero de muitos cristãos de imitar a Família de Nazaré favoreceu o ideal de uma família cimentada na harmonia e felicidade do próprio lar. Sem dúvida é necessário também hoje promover a autoridade e responsabilidade dos pais, a obediência dos filhos, o diálogo e a solidariedade familiar. Sem estes valores a família fracassará.

 

Mas não é qualquer família que responde às exigências do reino de Deus colocadas por Jesus. Há famílias abertas ao serviço da sociedade e famílias egoístas, viradas sobre si mesmas. Famílias autoritárias e famílias onde se aprende a dialogar. Famílias que educam no egoísmo e famílias que ensinam solidariedade.

 

Concretamente, no contexto da grave crise económica que estamos a padecer, a família pode ser uma escola de insolidariedade em que o egoísmo familiar se converte em critério de atuação que configurará o comportamento social dos filhos. E pode ser, pelo contrário, um lugar no qual o filho pode recordar que temos um Pai comum, e que o mundo não acaba nas paredes da própria casa.

 

Por isso não podemos celebrar a festa da Família de Nazaré sem escutar o desafio da nossa fé. Serão os nossos lares um lugar onde as novas gerações poderão escutar a chamada do Evangelho à fraternidade universal, à defensa dos abandonados e à busca de uma sociedade mais justa, ou se converterão na escola mais eficaz de indiferença, inibição e passividade egoísta ante os problemas dos outros?

 

BANDEIRA DISCUTIDA - José Antonio Pagola

 

Simão é uma figura querida. Imaginamo-lo quase sempre como um sacerdote ancião do Templo, mas nada disso é dito no texto. Simão é um homem bom do povo que guarda no seu coração a esperança de ver um dia «o consolo» que tanto necessitam. «Impulsionado pelo Espírito de Deus», sobe ao templo no momento em que entram Maria, José e o menino Jesus.

 

O encontro é comovedor. Simão reconhece no menino trazido por aquele pobre casal judeus piedosos, o Salvador, que leva tantos anos esperando. O homem sente-se feliz. Num gesto atrevido e maternal, «toma o menino nos seus braços» com amor e grande carinho. Abençoa a Deus e abençoa os pais. Sem dúvida, o evangelista apresenta-o como modelo. Assim temos de acolher o Salvador.

 

Mas, repentinamente, dirige-se a Maria e o seu rosto altera-se. As suas palavras não pressagiam nada tranquilizador: «Uma espada trespassará a tua alma». Este menino que tem em Seus braços será uma «bandeira discutida»: fonte de conflitos e confrontos. Jesus fará que «uns caíam e outros se levantem». Uns O acolherão e a sua vida adquirirá uma dignidade nova: a Sua existência encher-se-á de luz e de esperança. Outros O rejeitarão e a sua vida perder-se-á. A rejeição de Jesus será a sua ruína.

 

Ao tomar uma posição ante Jesus, «ficará clara a atitude de muitos corações». Ele colocará a descoberto o que há de mais profundo nas pessoas. O acolhimento deste menino pede uma alteração profunda. Jesus não vem a trazer tranquilidade, mas a gerar um processo doloroso e conflituoso de conversão radical.

 

Sempre é assim. Também hoje. Uma Igreja que toma a sério a sua conversão a Jesus Cristo, não será nunca um espaço de tranquilidade mas de conflito. Não é possível uma relação mais vital com Jesus sem dar passos para maiores níveis de verdade. E este é sempre doloroso para todos.

 

Quanto mais nos aproximamos de Jesus, melhor veremos as nossas incoerências e desvios; o que há de verdade ou de mentira no nosso cristianismo; o que há de pecado em nossos corações e nas nossas estruturas, em nossas vidas e nas nossas teologias.

 

 Reconhecer Jesus nos Pobres - Ana Maria Casarotti, 


Missionária de Cristo Ressuscitado.

Hoje a Igreja celebra a Festa da Sagrada Família. O Evangelho de Lucas nos descreve um momento muito importante para a vida de Jesus e para Maria e José. Jesus é levado no Templo de Jerusalém para ser consagrado ao Senhor conforme está escrito na Lei de Moisés: «Todo primogênito de sexo masculino será consagrado ao Senhor».

Pela circuncisão o homem israelita era incorporado ao povo da Aliança e a partir desse momento pertencia ao Senhor como todo primogênito.

O texto de hoje pertence às narrativas da infância de Jesus. Neste rito da circuncisão, Jesus era aceito pelo seu pai como filho e ao mesmo tempo é acolhido na comunidade da Aliança. O menino torna-se para sempre membro do povo da aliança. E recebe o nome de Jesus, Jeshúa, “Javé salva”.

Nessa época era um nome muito comum, e por isso Jesus às vezes era conhecido como Jeshua bar Josef, “Jesus, o filho de José”, e em outras partes como Jeshúa há-notsrí, “Jesus, o de Nazaré”.

O lugar de procedência de uma pessoa era muito importante assim como sua família. Era uma forma de conhecer muito sobre essa pessoa. Assim acontecia com Jesus. Hoje, nos evangelhos, muitas vezes conhecemos o lugar de procedência e não se conhece o nome. Sabemos do cego que estava sentado à beira do caminho quando Jesus ia a caminho de Jericó. Escutando seus gritos é chamado e curado por Jesus (Lc 18) e assim, no seu caminhar, aparecem outros encontros que geram vida na pessoa.

Voltando ao texto, aparecem “os pais” Maria e José, que levam Jesus ao Templo. A pessoa de José aparece pouco nos evangelhos, e Mateus descreve um pouco mais sobre ele, a dificuldade em aceitar a incorporação de Jesus na sua vida, mas sua obediência total àquilo que lhe era dito em sonhos: aceitar Maria grávida era aceitar o projeto de Deus de uma forma diferente. Da mesma forma, quando lhe é dito, vai para o Egito e volta no momento que também lhe é anunciado num sonho. José era um homem justo e forma uma família onde a presença de Deus se manifesta de forma imprevisível. E ele aceita caminhar por este sendeiro.

Jesus nasce, assim, numa família judia e vive como um judeu. Sua família é pobrecomo tantas famílias dessa época que viviam submetidas ao poder religioso e ao pagamento que era necessário realizar ao poder romano. O texto nos descreve que a oferta que eles fazem no Templo: “um par de rolas ou dois pombinhos”, manifesta sua condição social.

Por isso o coração da família de Jesus é um exemplo para todos nós, seus seguidores. O coração dessa família tinha o mais essencial, que é o amor. Nas atitudes de sua mãe e de seu pai, José, já desde o início aparece o Sim ao amor de Deus.

Como disse Francisco: “A família é o ‘sim do Deus amor”. E acrescenta: “sem amor não se pode viver como filhos de Deus, como cônjuges, pais e irmãos”. E o que significa viver no amor? “Significa concretamente doar-se, perdoar-se, não perder a paciência, antecipar-se ao outro, respeitar-se. Como melhoraria a vida familiar se todos os dias se vivessem as três simples palavras ‘licença’, ‘obrigado’, ‘desculpa’!” (Texto completo: “Sonho com uma Igreja em saída, não autorreferente, que não passe longe das feridas do homem”, escreve Francisco).

Na narrativa evangélica aparece um homem, justo e piedoso, chamado Simeão que esperava a consolação de Israel. “Movido pelo Espírito, Simeão foi ao Templo. Quando os pais levaram o menino Jesus, para cumprirem as prescrições da Lei a respeito dele, Simeão tomou o menino nos braços, e louvou a Deus”, reconhecendo no menino o Messias como tinha sido prometido para ele pelo Espírito. Reconhece que será luz das nações e para todo o povo de Israel. Simeão abençoa os pais, que lhe escutavam maravilhados.

Apresenta-se também uma mulher idosa, profetisa, viúva e servia continuamente no Templo. Reconhece o menino e o proclama a “todos os que esperavam a libertação de Israel”.

Duas pessoas que ao longo de sua vida aguardavam o Messias tinham uma fervorosa esperança e por isso souberam reconhecê-lo.

Durante o tempo de Advento estamos nos preparando para este momento da presença de Jesus diante de nós. Celebramos o Natal, seu nascimento num presépio, porque não tinham outro lugar. E assim nasce o Filho de Deus, escolhendo ficar entre os mais pobres, marginalizado da sociedade.

Como reconhecemos hoje seu nascimento na nossa sociedade? Que características brotam desta Família que escuta sem entender, mas com fé, as palavras ditas sobre a criança?

Podemos olhar tantos seres humanos, tantas famílias que vivem hoje em condições pobres e miseráveis. Pensemos naqueles que estão nos campos de refugiados, em todos esses grupos que tiveram que deixar tudo o que tinham à procura de um pouco de paz e vida, mas ainda ficam nesse espaço restrito porque nos países “não há lugar para cada um deles”.

Sabemos reconhecer neles a presença do Salvador? Temos os sentidos e a esperança aberta para esse reconhecimento?

  

Sagrada Família - Reflexão

Lucas 2, 22-40

O Evangelho da Festa da Sagrada Família, é tirado dos primeiros capítulos de Lucas.  Mais uma vez, encontramos um tema muito importante para esse Evangelho – o encontro entre a Antiga e a Nova Aliança.  Durante Advento, Lucas fazia paralelo entre Isabel, Zacarias e João Batista, e Maria, José e Jesus.  No texto de hoje, os justos da Antiga Aliança são representados pelas figuras de Simeão e Ana, profeta e profetisa.  Outros dois temas de Lucas também se destacam nesse relato – o Espírito Santo e a opção pelos pobres.

Lucas destaca que os pais de Jesus foram ao Templo conforme a Lei (cf. Lv 12,8), para oferecer o sacrifício de dois pombinhos pela purificação. Na Lei, esse sacrifício era permitido aos pobres.  Mais uma vez, continuando a lição da manjedoura e dos pastores, Lucas sublinha o amor especial de Deus pelos pobres. Deixa bem claro que Maria, José e Jesus eram contados entre eles como, aliás, era toda a população do Nazaré de então.

Simeão e Ana representam, quase nos mesmos termos de Zacarias e Isabel, os justos que esperavam a salvação de Deus – o grupo conhecido no Antigo Testamento como os anawim, ou “pobres de Javé”.  É de notar que, no seu canto, Simeão proclama que ele pode “ir em paz”, simbolizando que as esperanças dos justos da Antiga Aliança agora estavam se realizando em Jesus. Tal como, na visitação, a idosa Isabel, símbolo também dos justos, acolhia com alegria a chegada de Maria com Jesus, agora Simeão e Ana recebem com a mesma alegria a novidade da Nova Aliança, concretizada em Jesus. Mais uma vez, Lucas coloca juntos homem e mulher, um tema comum nos seus escritos (cf. Lc 4,25-28; 4,31-39; 7,1-17; 7,36-50; 23,55–24,35; At 16,13-34). Assim, Lucas insiste que mulher e homem se colocam juntos diante de Deus. São iguais em dignidade e graça, recebem os mesmos dons e têm as mesmas responsabilidades.

Como já fez em Lc 2,19 e fará de novo em Lc 2,50, novamente o evangelista frisa que os seus pais ainda não entenderam plenamente o alcance do mistério de Jesus. O v. 33 insiste que “o pai e a mãe do menino estavam admirados do que se dizia dele”. Mais uma vez, apresenta-nos José e, especialmente, Maria como modelos de fé. Apesar de qualquer revelação que tivessem, José e Maria também caminharam na escuridão da fé, descobrindo, passo a passo, o que significava ser discípulo de Jesus.

Jesus “crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria, e o favor de Deus estava com ele”.  Como acontece com todos nós, esse crescimento foi gradual, e a sua família tinha um papel importantíssimo no seu crescimento. Se, como adulto, ele podia revelar-nos a imagem de Deus como o amoroso Pai – tema tão caro a Lucas – era porque também aprendeu isso através da experiência com José. Se cresceu na espiritualidade dos anawim, era porque aprendeu isso desde o berço, junto com os seus pais. Se foi fiel na busca da vontade de Deus, era porque assim aprendeu no ambiente familiar.

Nossa sociedade desvaloriza a vida familiar, especialmente por seu consumismo desenfreado e seu materialismo. Diante disso o texto de hoje anima-nos e desafia-nos, tal como Maria e José, na claridade ou na escuridão da caminhada, a que criemos um ambiente onde o amor possa florescer e onde a nossa juventude possa aprender a importância do amor nutrido em uma fé viva.

 

Ninguém ignora que hoje a família tradicional enfrenta enormes dificuldades.  Diante dos problemas, respostas fáceis não servem. Nem sempre é óbvio o caminho a seguir.  Novas dificuldades e novas perguntas exigem um novo olhar da parte das Igrejas. Nesse sentido, há pouco, presenciamos algo inédito na Igreja Católica em Roma: a realização de um sínodo sobre a família onde todos os participantes foram convidados pelo Papa a expressarem as suas opiniões abertamente e sem medo. Houve divergências, obviamente, pois nem tudo está claro. Há quem prefere ignorar a realidade, fechar os olhos diante de problemas reais que causam, muitas vezes, sofrimento no seio das famílias, e refugiar-se em chavões legalistas em lugar de procurar descobrir o que Jesus faria em tais situações. O Espírito Santo ilumina as Igrejas e as famílias que realmente buscam juntas as maneiras evangélicas de como responder aos novos desafios.

Rezemos pelas famílias, pelas que estão bem firmes e pelas desestruturadas. Rezemos também pelas lideranças de nossas Igrejas, para que tenham força e saúde, a fim de testemunharem, nos nossos tempos, a missão de Jesus compassivo e misericordioso.

 

TEXTO DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


TEXTO ARGENTINO DE DOM DAMIAN NANNINI TRADUZIDO DO ESPANHOL. Usamos o tradutor Google, de modo que pode haver algumas falhas. 


A SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ

 

Primeira Leitura (Gn 15,1-6; 17,5; 21,1-3):

 

A reação de Abrão neste texto é o lamento de um homem sem filhos. E muito compreensível porque para a mentalidade do Antigo Testamento uma vida sem filhos não é uma vida completa ou abençoada, muito pelo contrário. 

A resposta de Deus ao lamento de Abrão é a promessa de um filho seu, desde o seu ventre. E deste filho surgirão descendentes tão numerosos quanto as estrelas do céu. Olhar para o céu pode significar o convite a não se fechar na própria visão ou perspectiva e a abrir-se ao poder criativo de Deus. Com efeito, Abrão respondeu a Deus com base no que vê da sua realidade atual: ele não tem filhos e um servo o herdará. Poderíamos dizer que Abrão olha para baixo, para os seus descendentes, o que lhe falta. Então a Palavra de Deus convida você a sair e olhar para o céu para contar as estrelas. Em suma, a Palavra de Deus leva Abrão a olhar a realidade de forma diferente, para cima e para o futuro. Esta nova forma de ver as coisas permite a Abrán confiar e acreditar, aceitar a promessa dos seus próprios descendentes. Ele ainda não a vê presente, mas acredita que poderá vê-la porque confia na Palavra de Deus.

A promessa é seguida pela fé de Abraão, que é aceitação, confiança, confiança na Palavra de Deus[1]. A fé é um apoio em Deus, um ato de confiança e um consentimento aos planos de Deus na história da salvação. E esta atitude foi valorizada por Deus, foi levada em conta para a sua justificação. O termo justiça é um conceito relacional, pois se refere à relação comunitária entre Deus e o povo. Assim é o homem justo que aceita e obedece aos mandamentos de Deus, que respeita a aliança.

            O texto litúrgico de hoje, saltando alguns capítulos, conta-nos o cumprimento da promessa divina com o nascimento de Isaque, no tempo anunciado.

 

 

Evangelho (Lucas 2:22-40): 

 

Este texto pode ser subdividido em quatro partes:

 

v. 22-24: Quadro jurídico em que Maria e José levam o Menino ao Templo.

v. 25-35: Recepção do Menino por Simeão e duplo oráculo sobre o seu destino.

v. 36-38: Recepção do Menino pela profetisa Ana.

v. 39-40: Conclusão, com o regresso a Nazaré e o crescimento do Menino

 

A história começa apresentando a Sagrada Família que, para cumprir a lei de Moisés, leva o Menino Jesus ao Templo de Jerusalém. 

A primeira prescrição foi a consagração do filho primogênito ao Senhor, conforme estipulado em Êx 13:1-2: “O Senhor falou a Moisés nestes termos: Consagra-me todos os primogênitos. Porque as primícias do ventre dos israelitas, sejam homens ou animais, pertencem a mim”. Este rito recorda a preservação dos primogênitos dos israelitas quando a décima praga matou os primogênitos dos egípcios. 

A segunda prescrição é a purificação da mãe quarenta dias após o parto, conforme estabelecido em Lv 12,6-8: “No final do período da sua purificação, tanto para o filho como para a filha, a mãe apresentará ao sacerdote , à entrada da Tenda do Encontro, um cordeiro de um ano para oferecer em holocausto, e um pombo ou uma pombinha, para oferecer como sacrifício pelo pecado. O sacerdote a apresentará diante do Senhor e realizará o rito da expiação em seu nome. Assim ela será purificada da perda de sangue. Este é o ritual relativo à mulher que dá à luz um menino ou uma menina. E se não tiver recursos suficientes para adquirir um cordeiro, levará dois pombos ou dois pombos, um para o holocausto e outro para a oferta pelo pecado. O sacerdote realizará o rito de expiação em seu nome e assim ela será purificada.” Neste caso, por serem pobres, ofereceram um par de filhotes de pombo.

            Como no resto das histórias da infância de Lucas, os estudiosos reconhecem que também aqui o pano de fundo é a narrativa de 1 Sam 1-3, onde Ana leva o menino Samuel ao santuário de Siló e o consagra ao Senhor para o resto da vida.

            Uma vez esclarecido o motivo da presença da Sagrada Família em Jerusalém, o idoso Simeão aparece em cena. Ele é apresentado como “um homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel”. Como pano de fundo desta expressão, ressoam vários textos do profeta Isaías, como Is 40,1. 52,9; 66,12-13. Desta forma, Simeão encarna as autênticas expectativas messiânicas de Israel, porque tem dentro de si a presença do Espírito Santo e se deixa guiar por Ele.

            Quanto ao seu primeiro oráculo ou cântico, também é possível reconhecer aqui como pano de fundo vários textos de Isaías: "Ver a salvação, à vista de todas as nações, a luz para os gentios e a glória para Israel são temas que aparecem no Nunc Dimitis e constituem quase um paralelepípedo de passagens de Isaías"[2]. Simeão começa afirmando que pode acabar com a sua vida porque Deus cumpriu a sua Palavra, a sua Promessa. Ele descobre esta realização, movido pelo Espírito, no Menino Jesus, que confessa como Luz para iluminar as nações pagãs e a Glória de Israel. Devemos notar que há um universalismo nesta afirmação que vai além do que foi anunciado por Isaías e que encontrará a sua realização no livro dos Atos dos Apóstolos quando o evangelho for pregado aos pagãos, reconhecendo as mesmas possibilidades de salvação que os israelitas (cf. Hb 15.14; 28.28). 

            O segundo oráculo investiga a missão do Menino e a forma como ele envolve sua mãe nela. R. Brown explica bem[3]: “Os olhos de Simeão olharam ao longe e viram a salvação que esta criança trará aos gentios, assim como a Israel; mas, como verdadeiro profeta, ele também vê a rejeição e a catástrofe; e a sua segunda visão, em tom de tragédia, dirige-se à mãe da criança, a primeira a quem chegou a boa notícia de Jesus; porque ela é a primeira a ouvir a palavra e a aceitá-la, deve encontra na sua alma o desafio da palavra e a tragédia da sua rejeição por parte de muitos pertencentes a Israel, a quem Jesus quis ajudar (1,54a)”.

 

            De repente, aparece a viúva Ana, profetisa, que começa a agradecer a Deus pelo dom do Menino e o anuncia a “todos aqueles que esperavam a redenção de Israel”. Com a intervenção de Ana, o evangelista qualifica um pouco o caráter negativo do segundo oráculo de Simeão e antecipa que o Espírito moverá os justos a anunciar primeiro a redenção a Israel.

            A conclusão, que narra o regresso à Galileia e o crescimento do Menino, encerra toda esta unidade e prepara a aparição de Jesus de Nazaré pregando uma mensagem cheia de sabedoria e manifestando a graça de Deus. O paralelo com a infância de Samuel é claro.

 

 

Algumas reflexões:        

 

            Esta Festa da Sagrada Família é celebrada depois do Natal como prolongamento deste mistério. Com a sua Encarnação, Deus santificou o homem, redimiu-o. Mas não só o homem considerado individualmente, mas o homem com os seus laços mais profundos e vitais. E é aí que entra a realidade da família, com razão. Jesus nasceu, cresceu e viveu com a sua família; e é por isso que a chamamos de Sagrada Família. E a partir dela podemos e devemos iluminar a vida de todas as famílias.

O evangelho nos oferece algumas pistas para reflexão. Como diz R. Brown[4], “um dos temas dominantes de Lucas 2:22-40 é que a lei e os profetas são cumpridos em Jesus”. Poderíamos completar isto acrescentando que a Sagrada Família nos é apresentada como cumpridora da lei do Senhor. Na verdade, Maria e José levam o Menino Jesus ao templo porque têm que cumprir o que ordena a lei de Moisés. Eles sabiam que este Menino era o Messias, o Salvador e o Senhor; mas não se sentiam isentos de cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei e que obrigava todos os israelitas.

Nem estarão isentos das dificuldades típicas de cada família da época. Pelo contrário, por causa da Criança, eles serão perseguidos e terão mais dificuldades do que outros. Isto fica evidente na profecia de Simeão: embora o Menino seja luz para os homens e causa de alegria e salvação para todos, a começar por Maria e José; Será também um sinal de contradição, será rejeitado, o que causará uma lágrima profunda no coração da Mãe.

A este respeito, o Papa Francisco disse-nos na Amoris Laetitia n.º 30: “Diante de cada família é apresentado o ícone da família de Nazaré, com a sua vida quotidiana feita de cansaço e até de pesadelos, como quando teve que sofrer a violência incompreensível. de Herodes., experiência que se repete tragicamente ainda hoje em tantas famílias de fugitivos descartados e indefesos. Como os Reis Magos, as famílias são convidadas a contemplar o Menino e a Mãe, a prostrar-se e adorá-Lo (cf. Mt 2, 11). Como Maria, eles são exortados a viver com coragem e serenidade os seus tristes e emocionantes desafios familiares, e a guardar e meditar no coração as maravilhas de Deus (cf. Lc 2, 19.51). No tesouro do coração de Maria estão também todos os acontecimentos de cada uma das nossas famílias, que ela guarda com cuidado. É por isso que pode nos ajudar a interpretá-los para reconhecer a mensagem de Deus na história da família”. 

            

Nos tempos que vivemos, tudo o que se diz a favor da família parecerá pouco. O melhor é, seguindo os passos da Sagrada Família, apresentar o ideal do casamento e da família cristã. Como diz com razão o Padre Cantalamessa[5]: «Sabemos bem que este é o ideal e que, como em todas as coisas, a realidade é muitas vezes bastante diferente, mais humilde e mais complexa, por vezes até trágica. de fracassos que talvez, por uma vez, não seja mau propor novamente o ideal do casal, primeiro a nível simplesmente natural e humano, e depois a nível cristão. incompreensão do realismo! O fim de uma sociedade, neste caso, estaria marcado. Os jovens têm direito a que os ideais lhes sejam transmitidos pelos mais velhos, e não apenas o ceticismo e o cinismo. Nada tem a força de atração que o ideal possui. "

 

Por fim, acolhamos o ensinamento prático do Papa Francisco no Angelus de 27 de dezembro de 2020: "À imitação da Sagrada Família, somos chamados a redescobrir o valor educativo da unidade familiar, que deve basear-se no amor que sempre regenera as relações, abrindo horizontes de esperança. Na família será possível experimentar a comunhão sincera quando for uma casa de oração, quando os afetos forem sérios, profundos e puros, quando o perdão prevalecer sobre a discórdia, quando as dificuldades diárias da vida forem suavizadas pela ternura recíproca e pela serena adesão à vontade de Deus. Desta forma, a família abre-se à alegria que Deus dá a todos aqueles que sabem dar com alegria. Ao mesmo tempo, encontra a energia espiritual para se abrir ao exterior, aos outros, ao serviço dos irmãos, à colaboração para a construção de um mundo sempre novo e melhor; capaz, portanto, de ser portador de estímulos positivos; A família evangeliza pelo exemplo de vida. É verdade, em toda família há problemas, e às vezes eles também são discutidos. "Pai, eu lutei..."; Somos humanos, somos fracos, e todos nós temos esse fato às vezes de que lutamos em família. Vou te dizer uma coisa: se lutarmos em família, não deixem o dia acabar sem fazer as pazes. "Sim, eu argumentei", mas antes que o dia acabe, faça as pazes. E sabe por quê? Porque a guerra fria no dia seguinte é muito perigosa. Não adianta. E depois, na família, há três palavras, três palavras que devem ser sempre guardadas: "Desculpe-me", "obrigado", "desculpe". "Permissão", não se intrometer na vida dos outros. Permissão: Posso fazer alguma coisa? Você está bem comigo fazendo isso? Permissão. Sempre, não seja intrometido. Desculpe-me, a primeira palavra. "Obrigado": tanta ajuda, tantos serviços que fazemos na família: sempre agradeça. A gratidão é o sangue da alma nobre. "Obrigado." E então, o mais difícil de dizer: "Sinto muito". Porque a gente sempre faz coisas ruins e muitas vezes alguém se ofende com isso: 'Me perdoe', 'Me perdoe'". Não se esqueça das três palavras: "com licença", "obrigado", "com licença". Se em uma família, no ambiente familiar, há essas três palavras, a família está bem."


O casamento também diz: "O verdadeiro vínculo é sempre com o Senhor. Todas as famílias precisam de Deus: todas, todas! Precisa da sua ajuda, da sua força, da sua bênção, da sua misericórdia, do seu perdão. E a simplicidade é necessária. Rezar em família requer simplicidade! Quando a família reza junta, o vínculo se fortalece" (Homilia da Missa do Encontro das Famílias, realizada em Roma, em outubro de 2013).


 

PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):

 

A criança estava crescendo

 

Ele estava cheio de sabedoria, o Servo de Deus

Das mãos da Virgem Maria

E José tomou as rédeas de uma casa consagrada

Aos costumes mais castos e simples

 

Macho primogênito em família respeitosa

Eles levaram a oferta ao templo

Filhotes de pombo, pagamento da lei

Fazendo o que era necessário, dever ordenado

 

Ancianos de piadosa historia

Eles deram sentido a tanto silêncio

El Niño será uma causa e também um sinal

Contradição dos séculos futuros

 

O coração trespassado de uma mãe

Fruto de muita dor: ele sentenciou

Ele sentiu a morte do filho de sangue,

Inocente, nas mãos do pecador.

 

A Sagrada Família, ternura dada,

Modelo de la terrena.

Seja sempre para os homens

Morada que abriga y preserva. Amén

 

Oração à Sagrada Família (do Papa Francisco in Amoris Laetitia)

 

Jesus, Maria e José

em você contemplamos

o esplendor do amor verdadeiro,

Para você, com confiança, nos voltamos.

 

Santa Familia de Nazaret,

também faça nossas famílias

lugar de comunhão e cenáculo de oração,

autênticas escolas do Evangelho

e pequenas igrejas domésticas.

 

Santa Familia de Nazaret,

Que nunca mais haja episódios nas famílias

de violência, fechamento e divisão;

que quem foi ferido ou escandalizado

Que ele logo seja consolado e curado.

 

Santa Familia de Nazaret,

conscientizar todos

do caráter sagrado e inviolável da família,

de sua beleza no projeto de Deus.

 

Jesus, Maria e José,

ouça, aceite nossa súplica. Amém.


PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Tu Realeza


Gracias Señor,

Dios pequeño en humana carne

El templo se vistió de Realeza 

Niño en brazos de tu Madre


Revelación divina para el anciano

Y la muerte un regalo

Vio la promesa envuelta en pañales

Se llenó de gozo y alabó al Padre


La redención se anunció por Ana

Ella supo esperar el momento

Profetiza primera a la luz de sus ojos

También engalanó el templo


Volvieron al silencio madre y padre

Y el niño crecía con ellos

Aprendían los tres, cómo era una familia 

que no paraba de amarse


Gracias Señor,

Dios pequeño en humana carne

El mundo contempló tu Realeza 

Niño en brazos de tu Madre. Amén.


Oración a la Sagrada Familia (del Papa Francisco en Amoris Laetitia)


Jesús, María y José

en vosotros contemplamos

el esplendor del verdadero amor,

a vosotros, confiados, nos dirigimos.


Santa Familia de Nazaret,

haz también de nuestras familias

lugar de comunión y cenáculo de oración,

auténticas escuelas del Evangelio

y pequeñas iglesias domésticas.


Santa Familia de Nazaret,

que nunca más haya en las familias episodios

de violencia, de cerrazón y división;

que quien haya sido herido o escandalizado

sea pronto consolado y curado.


Santa Familia de Nazaret,

haz tomar conciencia a todos

del carácter sagrado e inviolable de la familia,

de su belleza en el proyecto de Dios.


Jesús, María y José,

escuchad, acoged nuestra súplica. Amén.



[1] G. von Rad considera o julgamento teológico de Deus sobre a fé de Abraão totalmente desproporcional. É assim que ele comenta: "Esta fé não é descrita; é simplesmente declarada. Externamente, o fato oculto dessa fé é bastante negativo, isto é, consiste em silêncio, escuta tranquila e contemplação calma", no Livro de Gênesis.(Salamanca 1977) 225.

[2] R. Brown, O Nascimento do Messias. Comentário às histórias da infância (Cristianismo; Madrid 1982) 479.

[3] O Nascimento do Messias. Comentário às histórias da infância (Cristianismo; Madrid 1982) 481. 

[4] O Nascimento do Messias. Comentário às histórias da infância (Cristianismo; Madrid 1982) 465.

[5] R. Cantalamessa, Larguem as redes. Reflexões sobre os evangelhos. Ciclo A (EDICEP; Valência 2003) 58-59.


SANTA MARIA, MÃE DE DEUS (SOLEMNIDADE)-PORT.

 DOM DAMIAN NANNINI, ARGENTINA

Primeira Leitura (Nm 6,22-27):

        

Este texto preserva uma antiga bênção que os sacerdotes do Antigo Testamento realizavam sobre o povo nas vésperas das festas litúrgicas, particularmente do ano novo ou Ros-ha-sana . Seu conteúdo é interessante. Em primeiro lugar, pede-se a bênção de Deus. Sabemos que no Antigo Testamento o conteúdo fundamental contido em cada bênção divina é a vida longa e a fecundidade (cf. Gn 1-2; 12). Solicita-se então a tutela, custódia ou proteção de Deus para o seu povo. Portanto, aqui a bênção refere-se aos valores fundamentais e básicos do povo e do povo: saúde, prole, proteção contra o mal .

         Num segundo bloco, é solicitado o recebimento de realidades espirituais, mas não menos reais por isso. Que o Senhor lhe mostre o seu rosto. A Bíblia fala frequentemente da “face de Deus”. Ele usa esta expressão para se referir a Deus, assim que se liga ao homem, volta-se para ele. Que Deus mostre o seu rosto ao homem ou o faça brilhar diante dele significa que lhe concede a paz e a salvação. Por fim, pede-se que Deus conceda a Paz ( shalom ), conceito que contém todos os bens que o coração do homem pode desejar de Deus. É o dom fundamental.

 

 

Segunda Lectura (Gal 4,4-7):

        

É interessante considerar a estrutura interna deste texto para captar sua mensagem profunda:

 

Mas, quando chega a plenitude dos tempos,

         Deus enviou seu Filho , nascido de mulher, nascido sob a lei,

                             para resgatar aqueles que estavam sob a lei,

                                e para que pudéssemos receber a filiação adotiva .

A prova de que são crianças é que

Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: Aba, Pai!

                                Então você não é mais um escravo, mas um filho ;

                                e se for filho , também herdeiro pela vontade de Deus (Gl 4:4-7).

 

Assim como Jesus é o único caminho para ir ao Pai; Da mesma forma, através dele chegam até nós o amor e todos os dons do Pai, que podem ser reunidos num só: a filiação divina , isto é, a graça de sermos seus filhos . Especificamente, Deus é Pai dos crentes porque lhes comunica, através do seu Filho Jesus Cristo, a vida divina. Em São Paulo encontramos frequentemente esta ideia porque nas suas cartas ele considera sempre a obra de Deus “ de nós e para nós ” e, portanto, a revelação do Pai no Filho está orientada para a filiação dos crentes em Cristo. O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo é também o Pai dos cristãos, como se refere a isso na saudação inicial de quase todas as suas cartas. Para o Apóstolo, os cristãos são filhos de Deus como fruto da redenção realizada pelo Filho, que lhes concede a participação no seu espírito filial .

Precisamente na carta aos Gálatas, São Paulo compara os dois momentos da História da Salvação, a submissão à Lei ou Torá e a liberdade filial, com duas idades da vida humana: a da infância, que envolve a submissão ao pedagogo. a lei; e a maioridade em que o herdeiro goza de liberdade. Pois bem, com Cristo esta maioridade chegou aos homens porque Ele vem para nos libertar da escravidão da Lei e nos transformar em filhos adotivos . Podemos reconhecer por trás desta expressão paulina a manifestação da paternidade de Deus através do êxodo, mas aqui o resgate e a filiação adotiva atingem o seu pleno significado através do Filho. A prova e a experiência desta condição de liberdade encontram-se no envio do Espírito de Cristo – espírito filial – aos corações dos fiéis, que os move a chamar a Deus como Jesus o chamou: Abba – Pai. Esta condição dos filhos, como em Jesus, manifesta-se na oração.

Evangelho (Lucas 2:16-21):

 

Este evangelho foi escolhido para esta solenidade porque nos conta que oito dias depois de seu nascimento Jesus foi levado por Maria e José para cumprir o que era ordenado pela lei de Deus: ele deveria ser circuncidado no oitavo dia. O nome de Jesus é dado ali mesmo. Estamos no oitavo dia depois do Natal, depois do Nascimento de Jesus, mas para além das leituras a atenção da liturgia está totalmente voltada para Maria como Mãe de Deus, cuja solenidade celebramos.

É interessante o que dizem G. Zevini – PG Cabra [1] : “Há, então, diferentes atitudes que podem ser assumidas diante do Cristo: a busca pronta e alegre dos pastores, o espanto e o louvor daqueles que intervêm no na verdade, a história para outros da experiência vivida. Para o evangelista, só Maria adota a postura da verdadeira crente, porque sabe guardar com simplicidade o que ouve e meditar com fé no que vê, para colocar tudo no coração e transformar em oração a salvação que Deus lhe oferece. .

 

 

Algumas reflexões:    

 

         Nesta solenidade temos três temas principais sobre os quais teremos que refletir: a Maternidade Divina de Maria; o dia mundial de oração pela paz e o fim do ano.

 

1. Maria, Mãe de Deus

 

A confissão de Maria como Mãe de Deus é o dogma mariano fundamental. “Mãe de Deus”, Theotokos , é o título que foi atribuído oficialmente a Maria no século V, exatamente no Concílio de Éfeso, no ano de 431, mas que já havia se consolidado na devoção do povo cristão desde o século III. século, no contexto das fortes disputas daquele período sobre a pessoa de Cristo. Com esse título foi enfatizado que Cristo é Deus e que realmente nasceu como homem de Maria. Assim foi preservada a sua unidade de verdadeiro Deus e verdadeiro homem […] O título de Mãe de Deus, tão profundamente ligado às festividades do Natal, é, portanto, a denominação fundamental com que a comunidade dos crentes homenageia, poderíamos dizer, sempre a a Santíssima Virgem. Expressa muito bem a missão de Maria na história da salvação. Todos os outros títulos atribuídos à Virgem baseiam-se na sua vocação de Mãe do Redentor, criatura humana escolhida por Deus para realizar o plano de salvação, centrado no grande mistério da encarnação do Verbo divino.” (Bento XVI, 2 de janeiro de 2008).

        

Portanto, a confissão de Maria como Mãe de Deus deriva da confissão de Jesus Cristo como Filho de Deus. É por isso que com esta festa mariana reafirmamos a nossa fé na Encarnação do Filho de Deus no ventre da Virgem Maria. Agora, como diz R. Cantalamessa[2]: “O título Mãe de Deus proclama que Jesus é Deus e homem na mesma pessoa . Este é o propósito para o qual os Padres no Concílio de Éfeso adotaram este título. sobre a unidade profunda entre Deus e o homem realizada em Jesus; sobre como Deus se uniu ao homem e se uniu na unidade mais profunda que existe no mundo, que é a unidade da pessoa. Os Padres disseram que o ventre de Maria foi o quarto onde se realizou o casamento de Deus com a humanidade, o “tear” onde foi tecida a túnica da união, o laboratório onde se realizou a união entre Deus e o homem.

 

 

2. Dia Mundial da Paz 2023: “Inteligência artificial e paz ”.

 

O Papa Francisco inicia a sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2024 referindo-se à inteligência humana, um dom de Deus Criador ao homem criado à sua imagem e semelhança; e a ciência e a tecnologia como expressão desta qualidade humana. Agora, “o notável progresso das novas tecnologias da informação, especialmente na esfera digital, apresenta, portanto, oportunidades estimulantes e riscos graves, com sérias implicações para a busca da justiça e da harmonia entre os povos. Portanto, algumas questões urgentes precisam ser feitas. Quais serão as consequências, a médio e longo prazo, das novas tecnologias digitais? E que impacto terão na vida dos indivíduos e da sociedade, na estabilidade internacional e na paz?”

Depois o Papa Francisco, na sua mensagem, centra-se na Inteligência Artificial e afirma que: “deve ser entendida como uma galáxia de realidades diferentes e não podemos presumir a priori que o seu desenvolvimento dá uma contribuição benéfica para o futuro da humanidade e da paz. povos. Um resultado tão positivo só será possível se formos capazes de agir com responsabilidade e respeitar os valores humanos fundamentais como “inclusão, transparência, segurança, justiça, privacidade e responsabilidade”.

Para orientar estas novas tecnologias digitais para o bem comum, diz o Santo Padre, elas não atingem a conduta ética e responsável do desenvolvedor, mas será necessário criar organizações que analisem as questões éticas emergentes e protejam os direitos dos usuários . E isto porque é sempre possível ceder à tentação do egoísmo, do interesse pessoal, do desejo de lucro e da sede de poder. Diante desta possibilidade, o Papa Francisco afirma que “a dignidade intrínseca de cada pessoa e a fraternidade que nos une como membros de uma única família humana devem estar na base do desenvolvimento das novas tecnologias e servir como critérios indiscutíveis para avaliá-las antes de sua usar.” usar, para que o progresso digital possa ser realizado no respeito pela justiça e contribuir para a causa da paz. Os desenvolvimentos tecnológicos que não conduzem à melhoria da qualidade de vida de toda a humanidade, mas, pelo contrário, agravam as desigualdades e os conflitos, não podem ser considerados verdadeiros progressos.”

Na próxima seção, o Papa Francisco olha para o futuro e analisa algumas das mudanças que a aplicação da Inteligência Artificial trará, como máquinas que aprendem por conta própria.

Esta possibilidade, que se torna cada vez mais real, “deveria fazer-nos reflectir sobre o “sentido do limite”, aspecto muitas vezes negligenciado na actual mentalidade tecnocrática e eficiente, mas decisivo para o desenvolvimento pessoal e social. O ser humano, de facto, mortal por definição, pensando em ultrapassar todos os limites graças à tecnologia, corre o risco, na obsessão de querer controlar tudo, de perder o controlo de si mesmo, e na procura da liberdade absoluta, de cair em a espiral de uma ditadura tecnológica. Reconhecer e aceitar o próprio limite como criatura é para o homem uma condição essencial para alcançar ou, melhor ainda, acolher a plenitude como um dom. Por outro lado, no contexto ideológico de um paradigma tecnocrático, animado por uma presunção prometeica de auto-suficiência, as desigualdades poderão crescer desproporcionalmente e o conhecimento e a riqueza acumular-se-ão nas mãos de poucos, com sérios riscos para as sociedades democráticas e para a coexistência pacífica. .”

Depois de elencar alguns temas quentes para a ética e os desafios que a IA apresenta para a educação e o desenvolvimento do direito internacional, o Papa encerra a sua mensagem com um convite ao compromisso por parte de todos: “Espero que esta reflexão nos encoraje a progredir na o desenvolvimento de formas de inteligência artificial contribuirá, em última análise, para a causa da fraternidade humana e da paz. Não é responsabilidade de poucos, mas de toda a família humana. A paz, de facto, é fruto de relações que reconhecem e acolhem o outro na sua dignidade inalienável, e da cooperação e do esforço na busca do desenvolvimento integral de todas as pessoas e de todos os povos”.

 

 

3. Fim e início do ano

        

O Evangelho descreve com uma frase profunda a atitude de Maria perante os acontecimentos que teve de viver tão de perto: “Maria, por sua vez, guardava todas estas coisas e meditava sobre elas no seu coração” (Lc 2,19). Ou seja, Maria registrou os acontecimentos em seu coração e meditou sobre eles para descobrir o seu significado teológico, a mensagem pessoal que os acontecimentos que aconteceram ao seu redor continham para ela. Assim, nesta festa da Divina Maternidade de Maria, vemos que Ela vive, como a mais humilde das criaturas, os dois verbos – recordar e gerar – que o Papa Francisco propõe no seu discurso à Cúria Romana por ocasião do aniversário. saudação. em 23 de dezembro de 2021: “O humilde vive constantemente guiado por dois verbos: recordar – as raízes – e gerar , fruto das raízes e dos ramos, e assim vive a alegre abertura da fertilidade.

Lembrar significa etimologicamente “trazer ao coração”, lembrar. La memoria vital que tenemos de la Tradición, de las raíces, no es un culto del pasado, sino un gesto interior por medio del cual traemos constantemente al corazón aquello que nos ha precedido, aquello que ha atravesado nuestra historia, aquello que nos ha conducido até aqui. Recordar não é repetir, mas sim valorizar, reavivar e, com gratidão, deixar que a força do Espírito Santo incendeie o nosso coração, como os primeiros discípulos (cf. Lc 24,32).

Mas para que a lembrança não se torne uma prisão do passado, precisamos de outro verbo: gerar . O humilde – o homem humilde, a mulher humilde – não se interessa apenas pelo passado, mas também pelo futuro, porque sabe olhar para frente, sabe contemplar os ramos com uma memória cheia de gratidão. O humilde gera, convida e empurra para aquilo que não se conhece; Já o orgulhoso repete, endurece - a rigidez é uma perversão, uma perversão atual - e se tranca na sua repetição, sente-se seguro no que conhece e teme o novo porque não consegue controlá-lo, isso o faz sentir-se desestabilizado , porque ele perdeu a memória.

O humilde aceita ser questionado, abre-se à novidade e fá-lo porque se sente forte graças ao que o precede, às suas raízes, à sua pertença. O seu presente é habitado por um passado que o abre ao futuro com esperança. Ao contrário do orgulhoso, sabe que nem os seus méritos nem os seus “bons hábitos” são o princípio e o fundamento da sua existência, por isso é capaz de ter confiança; Os orgulhosos não têm isso.

Todos nós somos chamados à humildade porque somos chamados a recordar e a gerar, somos chamados a redescobrir a justa relação com as raízes e com os ramos; Sem eles estamos doentes e destinados a desaparecer.

Jesus, que vem ao mundo pelo caminho da humildade, abre-nos um caminho, mostra-nos um caminho, mostra-nos uma meta.

Queridos irmãos e irmãs, se é verdade que sem humildade não podemos encontrar Deus nem experimentar a salvação, também é verdade que sem humildade não podemos encontrar o próximo, o irmão e a irmã que vivem ao nosso lado”.

 

 

 

PARA ORAÇÃO (ressonâncias do evangelho em uma pessoa que ora):

 

Apaixonado

 

“Jesus”, disse Maria, sua Mãe

E o som fez vibrar o coração do pai

 

Isso é o que eles chamariam de Deus

Seus vizinhos e familiares

O nome que Ela ouviu da voz do Anjo

 

Quem poderia expressar

Tanta beleza, sem cantar uma canção

Notas giradas com ternura

 

Se apenas sua beleza

Colorea este mundo tan gris

Y nos abriga

 

Santa Mãe, Santa Maria!

Mantenha-nos em seu coração de menina

e fique perto

 

Viemos procurar por você

E nossa pobreza é grande,

¡Aquí estamos!

 

Para anunciar a todos

Que en esa humilde morada

Havia uma menina

 

Uma Virgem Mãe

Contemplando seu filho… Apaixonado. Amém.



[1] Lectio Divina para cada dia do ano. Vol. 2. Tempo de Natal (Palavra Divina; Estella 2003).

[2] Maria, Espelho da Igreja (Ágape; Buenos Aires 2013) 97-98