5º DOM. TC-A

5 º DOMINGO COMUM-A

05/02/2023

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO

 

1ª Leitura: Isaías 58,7-10

Salmo 111(112) R- Um luz brilha nas trevas para o justo, permanece para sempre o bem que fez.

2ª Leitura: 1 Coríntios 2,1-5

Evangelho de Mateus 5,13-16


Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 13“Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. 14Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. 15Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro, onde brilha para todos os que estão na casa. 16Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”. – Palavra da salvação. 


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP


Mt 5,13-16

Através de três pequenas parábolas, do sal, da lâmpada e da cidade construída sobre um monte, Jesus ensina sobre a missão que os cristãos devem desempenhar.

Os cristãos são sal da terra. O sal tempera, preserva os alimentos e é símbolo da sabedoria. O sal serve para preservar os alimentos da corrupção. Como o sal, os cristãos com sua pregação e seu comportamento anunciam a Boa Nova do Evangelho. Eles ensinam uma sabedoria e edificam os homens com seu comportamento. Por meio da pregação do Evangelho, eles devem fazer com que os homens, distantes de Deus pelo pecado, voltem à sua amizade. Por isso os Apóstolos devem transmitir a mensagem de Cristo como ela é, uma boa nova, uma mensagem que se escuta com alegria e com sede.

Por outro lado, para que o Evangelho seja uma boa notícia, é preciso que a pregação seja acompanhada de uma vida santa, marcada pelo exercício das obras de caridade fraterna.

E se o sal se tornar insosso? As coisas melhores quando se degeneram se tornam as piores. As coisas mais úteis, quando perdem sua utilidade, se tornam as mais inúteis. O pregador do Evangelho que se desvirtua, que dá escândalo, torna-se um grande obstáculo para a salvação dos outros. Assim como não existe sal para salgar o sal, assim também será muito difícil encontrar um outro Apóstolo que devolva e recupere o que o pregador infiel perdeu com seu comportamento escandaloso. Um dos grandes obstáculos para a evangelização é a vida incoerente dos cristãos: pais, padres, religiosos, catequistas, etc. Sobre nós pesa o juízo de Deus: se o sal se tornar insosso, ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. A parábola coloca os discípulos e as comunidades cristãs sob o juízo. Se a comunidade não desempenhar sua missão, será rejeitada como sal sem sabor.

Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Muitos poderiam se sentir incomodados com esta situação dos cristãos. Uma situação de evidência. Seria melhor e mais cômodo uma situação de menos evidência, mas quem se tornou cristão perdeu o direito de viver comodamente. Todos observam se o comportamento do cristão corresponde àquilo que ele prega e ensina.

Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus. Esta afirmação parece contradizer Mt 6,1-4: “Evitai praticar vossas boas obras diante dos homens para serdes notados por eles, porque assim não tereis recompensa da parte de vosso Pai que está nos céus... Quando, portanto, deres esmolas, não faças tocar a trombeta diante de ti, como procedem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, com o fim de serem aplaudidos pelos homens. Eu vos declaro esta verdade: já receberam a sua recompensa. Mas, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, para que a tua esmola fique oculta. O Pai, que vê a ação oculta, te recompensará.”

A contradição é apenas aparente. O “para que vejam vossas boas obras” não é uma finalidade, mas uma consequência. Devemos fazer as boas obras para que os outros vejam, não para que sejamos louvados, mas para que eles se encontrem com Deus e louvem a Deus. Devemos nos preocupar em ter uma vida de boas obras, coerente com o Evangelho, não por causa de nós mesmos, mas por causa de Deus. Não buscamos a glória para nós mesmos, mas para Deus. Não queremos ser vistos pelos outros, queremos que todos vejam Deus em nossa vida. O cristão se esforçará em ter uma vida santa, não por ostentação ou exibicionismo, mas por saber que sua condição é aquela da cidade construída sobre o monte. Sabe que o lugar de destaque é privilégio e responsabilidade.

Vós sois a luz do mundo. Devemos nos lembrar que Jesus é a luz do mundo e não os cristãos. A luz brilha por si mesma; os discípulos brilham por causa da luz de Cristo. O discípulo é luz somente na medida em que ele luzir a luz que é Cristo. Ele não tem luz própria. Em Jo 1,4.5.9 lemos: “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz brilha na escuridão e a escuridão não a pôde extinguir ... o Verbo era a luz, a verdadeira luz que vindo ao mundo, ilumina todo homem”. O cristão deve fugir da presunção de querer se colocar no lugar de Cristo. Sem Cristo, o cristão é sal insosso, é luz debaixo da vasilha. A verdadeira fecundidade apostólica só é possível na união com Cristo.



 A LUZ DAS BOAS OBRAS - José Antonio Pagola


Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez


Os seres humanos tendem a aparecer diante dos outros como mais inteligentes, melhores, mais nobres do que realmente somos. Passamos a vida a tentar aparentar diante dos outros e diante de nós mesmos uma perfeição que não possuímos.

Os psicólogos dizem que essa tendência se deve, sobretudo, ao desejo de nos afirmarmos perante nós mesmos e os outros, para nos defendermos assim da sua possível superioridade.

Falta-nos a verdade das «boas obras» e enchemos a nossa vida de conversa e de todo o tipo de divagações. Não somos capazes de dar ao filho um exemplo de vida digna e passamos os dias exigindo o que nós não vivemos.

Não somos coerentes com nossa fé cristã e tentamos justificar-nos criticando aqueles que abandonaram a prática religiosa. Não somos testemunhas do evangelho e dedicamo-nos a pregá-la a outros.

Talvez tenhamos que começar por reconhecer pacientemente as nossas incoerências, para apresentar aos outros apenas a verdade de nossa vida. Se tivermos a coragem de aceitar a nossa mediocridade, iremos abrir-nos mais facilmente à ação desse Deus que ainda pode transformar a nossa vida.

Jesus fala do perigo de que «o sal se torne insonso». São João da Cruz diz de outra maneira: «Deus nos livre que se comece a envaidecer o sal, que, embora pareça que faz algo por fora, em substância nada será, quando é verdade que as boas obras não podem ser feitas senão por virtude de Deus».

Para ser «sal da terra», o importante não é o ativismo, a agitação, o protagonismo superficial, mas “as boas obras” que nascem do amor e da ação do Espírito em nós.

Com que atenção deveríamos escutar hoje na Igreja estas palavras do próprio Juan de la Cruz: «Advirtam, pois, aqui os que são muito ativos e pensam rodear o mundo com as suas predicações e obras exteriores, que muito mais proveito fariam à Igreja e muito mais agradariam a Deus … se passassem sequer metade desse tempo em estar com Deus em oração».

Caso contrário, de acordo com o místico doutor, «tudo é martelar e fazer pouco mais que nada, e às vezes nada e às vezes até prejudicar». No meio de tanta atividade e agitação, onde estão as nossas «boas obras»? Jesus dizia aos Seus discípulos: «Ilumine a vossa luz os homens, para que vejam as vossas boas obras e deem glória ao Pai».


SOMOS LUZ E SABOR - PE. ADROALDO PALAORO sj


“Vós sois a luz, vós sois o sal...”


O evangelho deste domingo é a conclusão das bem-aventuranças, proclamadas no domingo passado.

Jesus faz uma afirmação lapidar: “vós sois o sal, sois a luz”. O artigo determinado nos adverte que não há outro sal, que não há outra luz. Todos têm direito a esperar algo de nós. O mundo dos cristãos não é um mundo fechado e à parte. A salvação que Jesus propõe é a salvação para todos. É preciso que a única história, o único mundo fique temperado e iluminado pela vida daqueles(as) que seguem a Jesus.


Mateus nos traz uma mensagem de muita transcendência para o discipulado. Este texto pertence ao Sermão da Montanha no qual transparece a intenção de Jesus de construir uma nova comunidade, aquela que decide pertencer ao movimento de vida iniciado por Ele, identificando-se com o modo de ser e viver do Mestre da Galileia. Aqui está a verdadeira identidade dos seguidores(as): ser presença que ilumina e dá sabor à realidade carregada de tantos conflitos e divisões.

A originalidade desta nova comunidade não está centrada na pertença a uma nova religião, com seus ritos, leis, doutrinas, hierarquias…, mas no fato de prolongar o movimento humanizador iniciado por Jesus. Movimento de inclusão de todos, movimento que põe em questão toda forma de submissão, movimento que abre um horizonte de esperança e de vida.


É importante destacar que as palavras de Jesus dirigidas ao discipulado não são uma promessa, mas uma realidade existencial, porque lhes diz que já são “sal da terra” e já são “luz do mundo”. Ele utiliza estas duas imagens para que todos compreendam que estão equipados de sabedoria e luz para iniciar este caminho.

O sal não tem valor para si mesmo, mas para conservar e dar sabor, para diluir-se no processo da vida da terra. Não somos sal para nós, para um pequeno grupo, mas sal para a terra inteira.

Ser luz… Tampouco a luz tem valor em si mesma, mas para iluminar os outros.

 

Devemos cair na conta de que Jesus não pede para salgar ou iluminar, mas ser sal, ser luz. O matiz tem sua importância. A missão fundamental de cada um está dentro dele mesmo, não fora. A preocupação de cada um deve ser alcançar a plenitude humana. Se é sal, tudo o que ele toca ficará temperado. Se é luz, tudo ficará iluminado ao seu redor. Com demasiada frequência o cristã acredita ser sal e luz, mas sem dar-se conta de que perdeu toda capacidade de dar sabor e iluminar a vida, porque é sal insosso e luz tímida.

 

O simbolismo do sal aqui é extraordinário: ele não pode salgar a si mesmo. Sua capacidade não lhe é útil para nada. Mas é imprescindível para os outros. É para ser acrescentado a outro alimento, é para ressaltar seu sabor. O humilde sal é feito para os outros, para que os outros sejam eles mesmos. Ele garante o sabor, com a condição de que se dissolva.

O sal serve para ativar o sabor dos alimentos; não é o sal que “dá sabor”, mas é ele que realça o sabor de cada alimento. As palavras “sabor” e “sabedoria” tem a mesma raiz do verbo latino: “sapere”, que significa, ao mesmo tempo, tanto “saber” quanto “ter sabor”. Assim como está o sabor para os alimentos, também está o sabor da vida.

 

Sabedoria rica e nova: o coração é “sábio” quando sabe “saborear a verdade”, quando é livre, quando intui a direção da própria existência, quando se sente “seduzido” pelo que é verdadeiro, bom e belo.

Saber é experimentar o gosto das coisas. Saber é sentir o sabor.

“Sapiencia” quer dizer conhecimento que tem sabor. Segundo a Anotação 2 dos EE, “não é o muito saber que sacia e satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente”.

Portanto, sabedoria é a arte de degustar, distinguir, discernir…

O sábio é aquele que conhece, não com a razão, mas sente o gosto daquilo que já está dentro dele.

 Sábia é a pessoa que sintoniza atentamente seus ouvidos aos desejos do coração.

“Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?” (T.S. Eliot). 


A verdadeira sabedoria, portanto, nos ajuda a descobrir a profunda raiz da vida e como investir, da melhor maneira e em sua justa medida, nossas energias vitais. Mas, há um forte alerta: “se o sal perde seu sabor, com que se salgará?” Esta frase é um provérbio usado na literatura rabínica pois se refere a um sal extraído do mar Morto e que perdia seu sabor muito rapidamente. Agora, Jesus situa o discipulado diante de uma grande responsabilidade: a inutilidade de uma fé centrada na razão e não vivida a partir da profundidade humana. Viver o seguimento a partir de uma fé focada na doutrina gera ideologia; mas, quando é vivida como raiz existencial gera sentido para chegar a ser o que somos em potencialidade.

O tema da luz é muito frequente na Bíblia. Partindo de um dado experimental, descobre-se sua importância para o desenvolvimento da vida. Não só porque a luz é imprescindível para a vida, mas porque o ser humano não pode desenvolver-se na escuridão. Daí que a luz tenha se convertido no símbolo da vida mesma e de tudo o que a rodeia. Assim como a escuridão se converteu no símbolo da morte e de tudo o que a provoca. 

A escuridão nos paralisa; tudo está aí, mas não podemos nem nos mover. A pequena luz põe as coisas em seu devido lugar, nos faz capaz de contemplar a beleza presente em tudo. É como o primeiro momento da Criação: “Faça-se a luz”, e a partir daí o caos foi se transformando em cosmos.

Quem segue Aquele que é a Luz, reacende a faísca de luz dentro de si e se torna reflexo da Luz de Cristo.

A vida inspirada pelo seguimento é um “caminhar na Luz”.

“Deus é luz e nele não há treva alguma” (1Jo 1,5). Deus revela, potencializa, ilumina, dá sabor. A pessoa que vive descentrada de si mesma torna-se um canal por onde passa a mesma luz divina. Não a impede, não a retém e nem se apropria dela, mas permite que a Luz divina ilumine tudo.

Ser luz, significa explorar nossas possibilidades humanas e espirituais e pôr toda essa riqueza a serviço dos demais. Devemos ter cuidado de iluminar, sem deslumbrar.

Ninguém é “a” luz, senão que tem um pouco de luz. E todos compartilhamos mutuamente a luz que vem de Deus. Nossa pequena luz reforça e ativa a luz presente no outro.


A missão do cristão é dar sabor ao mundo e iluminá-lo - Francisco Cornélio Freire Rodrigues

I. Introdução geral

Com as imagens do sal e da luz, a liturgia deste dia define a missão dos discípulos e discípulas de Jesus no mundo: dar sabor e iluminar. Essas imagens estão mais evidentes no evangelho, sendo utilizadas explicitamente por Jesus, mas encontramos ecos e ressonâncias também nas outras duas leituras, sobretudo na primeira, que também emprega a imagem da luz.

Ao povo que imaginava agradar a Deus com práticas penitenciais como o jejum, o autor da primeira leitura faz uma advertência: se não estiver acompanhada de ações concretas em favor dos mais necessitados, essa prática é inútil. A luz de Deus só é refletida na vida de uma pessoa quando esta é praticante da justiça e do bem. A advertência do profeta está claramente em sintonia com o evangelho, no qual Jesus declara que seus seguidores são “sal da terra” e “luz do mundo”. Jesus confere uma responsabilidade ímpar aos seus discípulos, indicando que a construção do Reino de Deus neste mundo depende essencialmente da coerência de vida deles. A segunda leitura traz o testemunho de um cristão que assumiu radicalmente a missão de ser sal da terra e luz do mundo. É o caso de Paulo, que fez de tudo para refletir na própria vida a luz de Cristo e dar sabor ao mundo, em uma comunidade marcada por divisões e vaidades, como a de Corinto.

Damos sabor ao mundo e o iluminamos, portanto, quando fazemos das opções de Deus as nossas, praticando o bem e anunciando integralmente o evangelho de Jesus Cristo, o crucificado e ressuscitado, mesmo que isso pareça loucura para o mundo (cf. 1Cor 1,23).

II. Comentários dos textos bíblicos

1. I leitura: Is 58,7-10

A terceira parte do grande livro de Isaías (Is 56-66), chamada de “Terceiro Isaías”, é uma obra anônima do pós-exílio (século V a.C.). A primeira leitura, retirada dessa obra, apresenta algumas advertências do profeta sobre a vida religiosa do povo, que tinha retornado do exílio da Babilônia. O que está em questão é a prática do jejum (cf. Is 58,1-12). O povo acreditava que bastava jejuar e cumprir ritos penitenciais para agradar a Deus e, consequentemente, atrair seus favores. O profeta, no entanto, pensava diferente.

O que agrada a Deus é que sua vontade seja feita, e esta não consiste em práticas penitenciais ou ritos, mas em obras de justiça e amor em favor dos mais necessitados, como o profeta recorda: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o” (v. 7). É nas necessidades mais básicas e elementares do próximo que o amor deve se manifestar, e é esse tipo de jejum que Deus espera do seu povo. Não basta, porém, praticar o bem para agradar a Deus; é necessário igualmente não ser conivente com nenhum tipo de mal e exploração. Por isso, o profeta recomenda também que sejam destruídos os instrumentos de opressão e sejam evitadas atitudes como a prepotência e a difamação (cf. v. 9).

Somente quem age dessa forma pratica um culto agradável a Deus e se torna reflexo da sua luz (cf. vv. 8.10b). As práticas religiosas não são ruins, mas não têm sentido se não são acompanhadas de uma vida coerente e atenta às necessidades do próximo. Embora empregue somente a imagem da luz, o texto profético antecipa, ao menos parcialmente, a mensagem de Jesus no evangelho do dia.

2. II leitura: 1Cor 2,1-5

Paulo é exemplo de quem assimilou a identidade e a missão cristã de ser sal da terra e luz do mundo. É incontestável seu esforço para refletir na própria vida a luz de Cristo e dar sabor ao mundo pelo testemunho. A segunda leitura é uma demonstração disso. Nela, o apóstolo recorda as bases da sua experiência evangelizadora na comunidade de Corinto.

Como afirmamos há dois domingos, essa comunidade enfrentava sérios problemas, devido às divisões e rivalidades que estavam sendo alimentadas entre seus membros, o que punha em risco a eficácia do anúncio. Após a saída de Paulo, surgiram lá novos pregadores que depositavam maior confiança em suas habilidades retóricas do que no conteúdo, o evangelho de Jesus Cristo, e isso dividia os cristãos em diversos partidos, pois se deixavam atrair pela retórica do pregador, e não pelo Cristo crucificado (cf. 1Cor 1,10-13.17). Corinto era uma grande cidade grega e nela a sabedoria humana era cultuada e propagada por diversas correntes filosóficas, o que gerava resistências à aceitação de um Deus com aparências tão frágeis, como Jesus crucificado. Diante disso, alguns pregadores procuravam adequar a pregação à sabedoria humana por meio da retórica, fazendo a cruz passar quase despercebida no anúncio.

Essa situação era intolerável para Paulo. Por isso, ele recorda sua experiência, afirmando que não recorreu aos artifícios da linguagem nem à sabedoria humana (cf. v. 1), pois tais elementos poderiam ofuscar o conteúdo e, consequentemente, tornar despercebido o poder do evangelho e da cruz. Ao ministro do evangelho não interessa outro conteúdo senão estes quatro elementos básicos, sobre os quais Paulo construiu sua experiência evangelizadora: o mistério de Deus (cf. v. 1), Jesus Cristo crucificado (cf. v. 2), o poder do Espírito (cf. v. 4) e o poder de Deus (cf. v. 5).

Para que a evangelização seja autêntica, o pregador deve renunciar a qualquer sinal de vaidade ou busca de reconhecimento, pois as pessoas não podem ser atraídas pelas suas habilidades, mas somente pelo Cristo. Com essa consciência, Paulo ensina como assimilou tão bem sua missão de ser sal e luz.

3. Evangelho: Mt 5,13-16

Iniciamos hoje a leitura do “discurso da montanha” (Mt 5-7), cuja parte inicial, correspondente às bem-aventuranças (5,1-12), foi saltada, devido à festa da Apresentação do Senhor, celebrada no domingo passado. O trecho que lemos nesta liturgia é sua continuidade. Vale a pena recordar que as bem-aventuranças são o núcleo central de toda a mensagem de Jesus, retratam seu estilo de vida e constituem o programa que ele propõe também aos seus discípulos.

Empregando as imagens do sal e da luz, Jesus fala da missão dos discípulos e do efeito transformador deles no mundo, se viverem efetivamente as bem-aventuranças. De fato, da vivência das bem-aventuranças depende a instauração do Reino que ele oferece como alternativa a um mundo marcado por injustiças, egoísmo, corrupção, violência e todo tipo de mal. Esse Reino só pode se concretizar quando as pessoas, começando pelos discípulos, assumirem um estilo de vida semelhante ao de Jesus, ou seja, puserem em prática o programa das bem-aventuranças.

O sal é um elemento essencial para a vida e pode ser utilizado para diversas funções, porém as principais são dar sabor e conservar. Os discípulos de Jesus, em sua maioria pescadores, compreendiam muito bem o impacto de uma afirmação como esta: “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos?” (v. 13a). A atividade pesqueira utilizava bastante o sal para conservar os peixes para a comercialização. Os discípulos pescadores sabiam o problema que era um sal estragado. Seria um desastre total, todo o esforço da pesca seria perdido. Assim, além de dar sabor ao mundo, transformando realidades, os discípulos têm a função de conservar no mundo os valores do Reino. Esse sal, portanto, é o conjunto das bem-aventuranças, as quais só têm sentido e funcionalidade se forem vividas concretamente e de modo contínuo.

A imagem da luz atravessa toda a Bíblia e é mais fácil de ser compreendida, pois seu efeito é muito mais visível. O próprio Mateus apresentou a missão de Jesus na Galileia como a irrupção de uma grande luz que iluminava quem estava nas trevas (cf. Mt 4,16). Ao dizer aos discípulos “Vós sois a luz do mundo” (v. 14), Jesus está compartilhando com eles sua própria vida e missão, e indicando-lhes a responsabilidade de, pelo testemunho, tornarem acesa como a luz a presença deles no mundo. Os dois exemplos ilustrativos, a cidade sobre o monte e a lâmpada acesa no candeeiro (cf. v. 15), só reforçam a responsabilidade dos discípulos e dos cristãos de todos os tempos: manter o mundo iluminado por Jesus e pelo seu evangelho, cuja síntese está nas bem-aventuranças.

Concluindo, Jesus adverte: os cristãos não podem buscar reconhecimento pessoal pelas boas obras que realizam. Quem tem de ser louvado é o Pai celestial (cf. v. 16).

III. Pistas para reflexão

Destacar a relação entre as três leituras e o apelo ao testemunho que elas fazem: não tem sentido uma prática religiosa marcada por muitas devoções e poucos gestos de amor em favor dos mais necessitados (I leitura); os seguidores de Jesus têm a responsabilidade de transformar o mundo pelo anúncio e, sobretudo, pelo testemunho (evangelho); o anúncio, para ser autêntico e credível, não pode ter a sabedoria humana como fundamento, e sim Jesus Cristo crucificado (II leitura). O cristão dá sabor ao mundo e o ilumina quando se conforma a Jesus, vivendo, como ele, as bem-aventuranças.


DO QUE DEUS SENTE FALTA? - Pe. Leomar Antonio Montagna

Arquidiocese de Maringá


Em nossas celebrações e eventos, do que Deus sente falta: de ritos ou de justiça social?

Na Liturgia deste Domingo, V do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Is 58, 7-10), que o profeta Isaías reage contra uma religião feita de puro formalismo e explica quais são as práticas religiosas agradáveis a Deus. Nas grandes celebrações, do que Deus sente falta: de ritos ou de justiça social? O culto separado da justiça social não funciona, o pecado é não fazer a vontade de Deus. “A religião pura e sem mancha diante de Deus, nosso Pai, consiste em socorrer os órfãos e viúvas em seu sofrimento e não se deixar corromper pelo mundo” (Tg 1, 27).

Isaías apresenta as condições para ser luz: encontrar Deus no sofrimento e na vida das pessoas, sentir suas aflições, dar de si, acolher. Não basta o cumprimento de ritos estéreis e vazios, é necessário o compromisso concreto, uma opção com políticas públicas e Projetos Políticos de Governo que levem as pessoas a viver com dignidade, pois os pobres devem receber por direito e não por esmola. Nisso está a insistência da Igreja quando diz que “a política é a melhor forma de viver a caridade”.

Na 2ª Leitura (1 Cor 2, 1-5), o apóstolo Paulo não se serviu de artifícios humanos para anunciar o Evangelho aos Coríntios. Foi por meio da sua fraqueza e de testemunho que ele anunciou o ponto central do projeto de Deus: Jesus crucificado. Vemos, então, que, pelo poder de Deus, o Espírito Santo agiu abundantemente sobre a Comunidade de Corinto.

No Evangelho (Mt 5, 13-16), Jesus nos diz que diante de um mundo insípido devemos ser sal (não açúcar) da terra e luz do mundo.

Quais são as funções do sal e da luz?

Sal

- dá sabor às comidas (não falamos que sal gostoso e, sim, que comida gostosa);

- é curativo, preserva (vivência equilibrada, valores);

- é tempero: nem muito: só vale o meu ego, Grupo, Movimento; nem pouco: sem conteúdo, insosso;

- impede a corrupção dos alimentos;

- é conservante;

- retira a ferrugem de alguns objetos;

- afasta a traça dos tapetes.

Assim foi Jesus: com o sal de sua palavra, ia dando sabor a todas as situações humanas: alegres e dolorosas. Ia preservando os valores humanos e morais com sua mensagem divina, para que não se corrompessem.

Luz

- sinal de vida, de calor, dinamismo, trabalho (nenhum ser vivo vive sem luz);

- serve para afastar aos animais perigosos;

- para mostrar o caminho, as belezas presentes na natureza;

- para iluminar os objetos.

Na criação: a luz recorda o primeiro ato do Criador.

No Êxodo do Egito, a coluna de fogo guiava o povo para a Terra Prometida.

Em Isaías: O Servo de Javé: "Luz das nações".

Jesus: "Eu sou a Luz do Mundo".

É a Luz que dá sentido à vida, à dor e à própria morte. Uma pessoa que tem luz é uma pessoa sábia, que tem rumo, horizontes.

Todos os seres se identificam pela sombra, somente Deus, pela luz.

Ninguém é luz por si próprio: é ligado a uma fonte geradora. Como a lâmpada depende do gerador, assim nós dependemos do gerador que é Cristo para iluminar. E iluminamos na medida em que estivermos ligados a Ele. Essa união se faz pela meditação da palavra de Deus, pela participação na Comunidade, pela comunhão eucarística, pela caridade e pela oração.

Sempre digo que cada um de nós é como a lua, a lua não tem luz própria, mas ilumina, pois reflete a luz que o sol lhe manda. Nós, também, não temos luz, mas, quando iluminamos, certamente é a luz de Deus que reflete em nós e vamos passando esse esplendor a todos os ambientes em que estamos inseridos.

Sal e Luz são símbolos do que deve ser um cristão



Sabor para a vida - D. Paulo Peixoto

O sal e o açúcar dão sabor para os alimentos. Em excesso, ambos são vistos como perigosos para a vida. Até dizem: “pouco sal e pouca açúcar, mais saúde”. Mas o sabor da vida ultrapassa o prazer sentido nos alimentos. Muitos acontecimentos, tanto os considerados naturais, como também aqueles provocados pela ação humana trazem consequências, em muitos casos, desastrosas.

Imaginamos o sofrimento de tantos mineiros e capixabas flagelados pelo excesso de chuva neste início de ano. Não é tão fácil perder entes queridos, casa, bens materiais adquiridos com trabalho e sacrifício. A vida tem muitos sabores prazerosos, mas também tem a experiência do sofrimento. Podemos dizer que a vida tem as marcas da vulnerabilidade, ela não está em nossas mãos, não nos pertence.

Existem duas atitudes humanas, de muito valor, que não podemos abrir mão delas: “fazer justiça e fazer o bem”. São práticas iluminadoras da vida e que dão o grau de satisfação e sabor para a pessoa humana. Aí está a fonte dos ensinamentos do Evangelho de Jesus, onde é possível construir o Reino de Deus. Quem age assim consegue dar sabor ao mundo e à sua própria história de vida.

Por outro lado, existem atitudes consideradas abomináveis, que não condizem com princípios cristãos. Uma delas é a conivência passiva com situações de injustiça e de maldade. No meio dessas práticas normalmente acontece algum tipo de exploração e atitudes de prepotência. São práticas que não favorecem o sentido da vida e causam situações de sofrimento, tirando o sabor do bem viver.

A palavra “vida” tem um conceito muito amplo, que se estende do nascer ao morrer. É dentro desse espaço de tempo que cada ser humano experimenta uma realidade de conforto ou de sofrimento. Ela é um mistério, porque cada indivíduo é uma realidade única e insubstituível, com capacidade de se autor realizar, mas quando tem à sua disposição os meios necessários para tal.

O mundo todo marcado por injustiças necessita de caminhos alternativos para dar o verdadeiro sabor para a vida. Um deles é o estilo de vida semelhante ao de Jesus Cristo, apoiado no que ensinam as bem-aventuranças (Mt 5,1-12). Jesus foi uma luz que brilhou na vida dos apóstolos e de seus seguidores em todos os tempos e espaço. É Ele quem dá a sustentação para uma vida alegre e feliz.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.


TEXTO EM ESPANHOL- Dom Damián Nannini, Argentina.


QUINTO DOMINGO DURANTE EL AÑO CICLO "A"


Primera lectura (Is 58,7-10)


El capítulo 58 de Isaías puede datarse a finales del siglo VI a. C., a la vuelta del exilio, época en la que adquiere especial auge la práctica del ayuno, conocida antes del destierro, pero que ahora se celebra en fechas fijas como ser en el aniversario del asedio de Jerusalén, del día de la caída de la capital, del incendio de la ciudad y del templo, del asesinato del gobernador Godolías. Se trata de un día de humillación y mortificación para conseguir el favor divino (Is 58,1-6). Pero el autor de este texto piensa que más que el camino para obtener la salvación pasa no tanto por el ayuno sino por la justicia y el amor al prójimo. En efecto, después de "mofarse" de los ritos que acompañan al ayuno (mover la cabeza, acostarse sobre estera y ceniza), indica los verdaderos ritos que deben constituir el ayuno, y que están orientados en beneficio de los oprimidos, hambrientos, pobres sin techo y desnudos. Compartir con ellos pan, casa y vestido es lo que Dios espera de su pueblo. Es decir, al mejor estilo profético se critica el ritualismo exterior sin el compromiso del corazón, de la interioridad; se critica la búsqueda interesada e individualista del favor divino sin la práctica de la compasión y de la caridad para con el prójimo necesitado. "Sólo quien sabe asumir el sufrimiento y las limitaciones del otro, quien sabe comprometerse luchando contra cualquier tipo de injusticia, sin hacer distinción de personas, descubrirá la verdadera luz de Dios y se convertirá en un manantial perenne"1.Ya desde Amós el mensaje de los profetas es que la religión no es auténtica sin la justicia y el culto sin compromiso social es incompleto.

Cuando el pueblo adopte la postura correcta que le pide Dios a través del profeta, cambiará su situación y podrá gozar con la alegría de la salvación de Dios que se presenta con el símbolo de la luz que ahuyenta las tinieblas y la oscuridad.


Segunda lectura (1Cor 2,1-5)


En 2,1-5 Pablo aplica el principio de la sabiduría de la Cruz a su propio ministerio pues su anuncio del evangelio siguió esta lógica de la cruz. Aquí retoma y amplia lo anunciado en 1,17, en el mismo sentido de presentación negativa "no en sabiduría de palabra" (2,1.4); pero ahora con la novedad de presentar su contraparte positiva "sino con demostración del espíritu y de poder" (2,4). También como en 1,17, la razón está en Cristo crucificado (2,2) que focaliza toda la atención de Pablo, aunque no sea el tipo de salvador esperado por los judíos o buscado por los griegos. En 2,5 Pablo explica el motivo de su obrar: para que los corintios no basaran su fe en la sabiduría de los hombres sino en el poder de Dios. Es otra forma de decir que los creyentes sólo pueden gloriarse en el Señor. Indirectamente está señalando también la raíz de las divisiones que se daban entre los corintios por cuanto ponían su fe, su gloria, en la persona de los predicadores o apóstoles.



Evangelio (Mt 5,13-16)


Esta perícopa hace de transición entre las bienaventuranzas que la preceden (5,3-12) y las “antítesis” que le siguen (5,17-48). Se vincula con lo anterior porque se dirige a los mismos discípulos ("Ustedes son…") que sufren persecución para exhortarlos a perseverar en la vida cristiana pues tienen una misión irrenunciable de cara a ese mundo que los rechaza, expresada con las imágenes de la sal y la luz. Y se continúa con la sección siguiente por cuanto las buenas obras que deben irradiar los discípulos serán explicitadas allí; por eso la función de prólogo o exordio que atribuimos a esta perícopa en la estructura general del Sermón del Monte. En efecto, no se dice aquí cómo el discípulo puede llegar a ser sal y luz; sólo que tiene que serlo. Justamente el cómo llegar a serlo lo desarrolla la sección siguiente del Sermón con todas las normas concretas para vincularse correctamente con el hermano en el Reinado de Dios inaugurado por Jesús. Es decir, quienes viven estas enseñanzas del Sermón del Monte, quienes las practiquen, serán sal y luz.

La metáfora de la sal remite a un elemento necesario e insustituible en la alimentación cotidiana (Mc 9,50; Lc 14,34). Esta función de la sal deriva de su propia virtualidad de salar, de dar sabor y conservar los alimentos; si llegase a faltarle esta propiedad, se volvería inútil. Si la sal se desvirtúa, pierde su función de salar, ya no sirve y se la tira. El verbo griego moraino que se traduce por "perder el sabor", "desvirtuarse"; significa también volverse necio, loco (cf. Rom 1,22; 1Cor 1,20). El adjetivo derivado del mismo (morós) se aplica al hombre necio o insensato que construye su casa sobre arena de Mt 7,26 y a las vírgenes necias de Mt 25,1-21. Los términos ser "tirado fuera" y "pisoteado" remiten al juicio de Dios (cf. Mt 3,10; 7,19; 13,42); por tanto, un discípulo que no viva como tal y que no ejerza alguna influencia en su ambiente, será rechazado por Dios. 

El valor simbólico de la sal en la antigüedad y en la misma Biblia es amplio y variado; con especial acento en su propiedad de salar y de conservar los alimentos. Davies-Allison2, por ejemplo, enumeran once sentidos simbólicos posibles para la sal que consideran pertinentes; pero invitan a no querer elegir uno sino más bien a mantener un sentido amplio y a leerlo dentro del contexto mayor del Sermón de Monte, en particular las enseñanzas que siguen y que definen cómo ser sal y luz. También invitan a vincularlo con la metáfora que sigue – luz del mundo – que sí viene luego especificada como "las buenas obras" de los discípulos. Su interpretación conclusiva es que los discípulos, como la sal, tienen determinadas cualidades propias que, si las perdiesen, se volverían inútiles. De modo semejante L. H. Rivas dice que "la sal es condimento, transmite su sabor a las sustancias en las que es colocada. El discípulo está puesto en el mundo para transmitir a otros su «sabor», lo que tiene de propio por ser cristiano"3. L. Sánchez Navarro precisa más sosteniendo que "la sal simboliza al discípulo con fe viva y el desvirtuarse equivale a la pérdida de la fe"4

En fin, el sentido de la metáfora es claro: los discípulos tienen en el mundo una misión única y necesaria que cumplirán sólo en la medida que vivan conforme a las enseñanzas de Cristo.


La metáfora de la luz es frecuente en el AT y en el judaísmo, dónde se aplica a Dios, a Israel, al siervo de Dios, a la Torá y a Jerusalén. Tal vez los textos más cercanos sean Is 9,1-2 (cf. Mt 4,15-16) e Is 60,1-3. En ambos textos la luz es imagen de Dios que viene a salvar a su pueblo, con referencia también al Mesías. La misión de los discípulos será entonces una prolongación de la misión de Jesús quien vino a anunciar la llegada del Reinado de Dios, es decir, de la salvación del mundo. Así, el brillo de una vida conforme a las exigencias del Sermón del Monte es el signo de la presencia y de la acción transformadora de Dios en el discípulo, que al ser reconocido por los hombres los llevará a glorificar al Padre que ha intervenido.

Esta obra de Dios en los discípulos de Jesús no puede ocultarse, sería tan absurdo como querer ocultar una ciudad en un monte o una lámpara debajo de un cajón. Necesariamente brillará, pero para la gloria del Autor, que es el Padre celestial.

En síntesis "Mateo trata de que la vida de los cristianos actúe como testimonio de fe para gloria de Dios […] La luz del mundo cobra figura en las obras de los cristianos. Mateo entiende por obras, primariamente, el amor, tal como lo expone con las bienaventuranzas y con las antítesis"5.


Algunas reflexiones:


La fiesta de la Presentación del Señor estaba centrada en Cristo, "luz para iluminar a las naciones paganas y gloria de su pueblo Israel"; y se nos presentaba a Cristo como Luz del mundo; donde la luz se asocia a la salvación de Dios. Y hace dos domingos atrás escuchamos que Jesús anunciaba la llegada del Reino de Dios, de su soberanía. Es decir, en la Persona de Jesús, Dios se acerca a los hombres y les pide que lo reciban, que lo acepten como Señor. Ahora, en el evangelio de hoy Jesús insiste en que este Reinado de Dios, con su novedad de vida y de valores, es para vivirlo y transmitirlo. Vale decir que al aceptar el Reino de Dios que se hace presente en Jesús nos volvemos sus discípulos. Y Jesús no quiere que sus discípulos se encierren en un disfrute narcisista de este “Bien Inmenso” que es el Reino de Dios, que nos instalemos en nuestra zona de confort y nos olvidemos de los demás. Al contrario, somos llamados a testimoniar nuestra fe con la nuestra vida y, sobre todo, con nuestras buenas acciones.

Teniendo en cuenta el sentido de las dos metáforas elegidas por Jesús, la sal y la luz, no caben dudas que lo central del evangelio de este domingo es la "esencia" misionera de la vocación cristiana. El discípulo se vuelve sal para salar la tierra y luz para iluminar al mundo. Sería un contrasentido y un absurdo que la sal no sazone y que la luz se esconda para no iluminar. Pero importa respetar los pasos del anuncio de Jesús para no caer en un mero "funcionalismo" de la vida cristiana. Se trata de SER cristianos de verdad, de tener identidad. Si SOMOS cristianos seremos también sal y luz del mundo. Desde el SER cristianos OBRAMOS como cristianos y DAMOS TESTIMONIO ante el mundo de lo que SOMOS para GLORIA del PADRE.

Y también es bueno aclarar, como hace R. Cantalamessa6, que el cristiana es luz y alumbra no por la brillantez de sus ideas o pensamientos; sino por el amor manifestado en sus acciones.

La realidad de que toda vocación, toda elección de Dios es para la misión, es una constante en la Sagrada Escritura. Recordemos, por ejemplo, la vocación de Abraham (Gn 12,1-5), la de Moisés (Ex 3) y la del mismo pueblo de Israel, nación elegida entre las naciones para dar testimonio del Dios vivo. Y como no siempre se vivió así, los profetas recordaron que la elección no es un privilegio ni un refugio sino una responsabilidad y que si no se cumple se puede perder (cf. Am 3,2). Y lo mismo vale para los apóstoles: "Síganme, y yo los haré pescadores de hombres" (Mt 4,19).

Ahora bien, que la vocación es para la misión pasa a ser una de las estructuras básicas del cristiano nos lo explica muy bien J. Ratzinger7: "La fe cristiana solicita al individuo, pero no para sí mismo, sino para el todo; por eso la palabra "para" es la auténtica ley fundamental de la existencia cristiana […] Ser cristiano significa esencialmente pasar del ser para sí mismo al ser para los demás. Esto explica también el concepto de elección, a menudo tan extraño para nosotros. Elección no significa preferir a un individuo y separarlo de los demás... Por eso la decisión cristiana fundamental – aceptar ser cristiano – supone no girar ya en torno a sí mismo, en torno al propio yo, sino unirse a la existencia de Jesucristo consagrado al todo. El seguimiento de la cruz no es una devoción privada, sino que está subordinada a la idea de que el hombre, dejando atrás la cerrazón y tranquilidad de su yo, sale de sí mismo para seguir las huellas del crucificado y para existir para los demás, mediante la crucifixión del propio yo […] Digamos, por último, que no basta que el hombre salga de sí mismo. Quien sólo quiere dar, quien no está dispuesto a recibir, quien sólo quiere ser para los demás y no está dispuesto a reconocer que él vive del inesperado e inmotivado don-del-para de los demás, ignora la forma fundamental del ser humano y destruye así el verdadero sentido del para-los-demás. Cuando el hombre sale de sí mismo, para que esta salida sea provechosa, necesita recibir algo de los demás y, a fin de cuentas, de aquel que es en verdad el otro de toda la humanidad y que, a un tiempo, es uno con ella: Jesucristo, Dios-hombre".

Esta es claramente la propuesta de Jesús, aunque vaya a contramano de la cultura actual, como señala el Documento de Aparecida nº 110: "Ante el subjetivismo hedonista, Jesús propone entregar la vida para ganarla, porque “quien aprecie su vida terrena, la perderá” (Jn 12, 25). Es propio del discípulo de Cristo gastar su vida como sal de la tierra y luz del mundo". Frente a esto tenemos también el diagnóstico que hace Aparecida: "Tenemos un alto porcentaje de católicos sin conciencia de su misión de ser sal y fermento en el mundo, con una identidad cristiana débil y vulnerable" (nº 286). De aquí surge el desafío de recuperar la auténtica identidad cristiana de ser discípulos y misioneros del Señor de la vida.

Con su lenguaje tan personal predicaba el Papa Francisco sobre esto: "¿Qué es la sal en la vida de un cristiano, y qué sal nos ha dado Jesús? La sal que nos da el Señor es la sal de la fe, de la esperanza y de la caridad. La sal tiene sentido cuando se da para dar sabor a las cosas. También pienso que la sal conservada en un frasco, con la humedad, pierde fuerza y no sirve. La sal que nosotros hemos recibido es para darla, es para dar sabor, es para ofrecerla. De lo contrario se vuelve insípida y no sirve. Debemos pedir al Señor que no nos convirtamos en cristianos con la sal insípida, con la sal cerrada en el frasco. Pero la sal también tiene una característica: cuando se la usa bien, no se siente el gusto de la sal, el sabor de la sal… ¡No se siente! Se siente el sabor de cada comida: la sal ayuda a que el sabor de esa comida sea mejor, se conserve más, sea más sabrosa. ¡Esta es la originalidad cristiana! ¡La originalidad cristiana no es una uniformidad! Toma a cada uno como es, con su personalidad, con sus características, con su cultura y lo deja con todo ello, porque es una riqueza. Pero le da algo más: ¡le da el sabor! Esta originalidad cristiana es tan bella, porque cuando queremos hacer una uniformidad - todos somos salados del mismo modo - las cosas serán como cuando la mujer echa demasiada sal y se siente sólo el gusto de la sal y no el gusto de esa comida sabrosa con la sal. La originalidad cristiana es precisamente esto: cada uno es como es, con los dones que el Señor le ha dado…Y para que la sal no se eche a perder hay dos métodos a seguir, que deben ir juntos. Primero de todo darla, al servicio de las comidas, al servicio de los demás, al servicio de las personas. Se trata de la sal de la fe, de la esperanza y de la caridad: ¡darla, darla, darla! El otro método implica la trascendencia, es decir la tensión hacia el autor de la sal, el Creador, quien hace la sal. La sal no se conserva sólo dándola en la predicación. Necesita también de la otra trascendencia, de la oración, de la adoración. Y así la sal se conserva, no pierde su sabor. Con la adoración al Señor, trasciendo de mí mismo al Señor; y con el anuncio evangélico salgo fuera de mí mismo para dar el mensaje. Pero si nosotros no hacemos esto - estas dos cosas, estas dos trascendencias para dar la sal - la sal permanecerá en el frasco y nosotros nos convertiremos en cristianos de museo” (Homilía del 23 de mayo de 2013).



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):



Una pizca de sal

 

Nos pides iluminar, y apenas un hilo de luz se puede filtrar

Es tanta la oscuridad, las sombras espesas alrededor

Esfuerzo sobre humano y obra de tu Gracia

Digamos algo de ti Señor, y guardemos inútiles palabras.

 

A veces es el temor otras, nuestra condición precaria

Sin tu auxilio se ocultarán los rayos del Sol de la mañana

Y triunfará la noche de la duda y la desesperanza

Se cerrarán las puertas de la alegría, del canto y la alabanza.

 

Un mundo tenebroso se nos muestra con poder

Desabrido nos deja el gusto luego de beber.

Una pizca de sal y no más, a veces es suficiente

Si lo demás lo pones tú Señor: alimento de vivientes.

 

La impotencia de nuestra debilidad nos deja vacíos al dar

¡Todo parece poco para tanta necesidad, te rogamos!

Infúndenos tu Sabiduría y así sepamos actuar

Como lámpara encendida, el Rostro del Padre mostrar. Amén.  


1 G. Zevini – P. G. Cabra (eds.), Lectio Divina para cada día del año. Vol. 13, Verbo Divino, Estella, 2005, 46.

2 Cf. W. D. Davies – D. C. Allison, The Gospel acordina to Saint Mathew. Vol I., Clark, Edinburgh 1988, 472-473.

3 Diccionario de símbolos y figuras de la Biblia, Amico, Buenos Aires, 2012, 169.

4 L. Sánchez Navarro, La Enseñanza de la Montaña. Comentario contextual a Mateo 5-7, Verbo Divino; Estella, 2005, 55.

5 U. Luz, El evangelio según San Mateo. Vol. I (Sígueme; Salamanca 1993) 317.

6 Cf. Echad las redes. Reflexiones sobre los Evangelios. Ciclo A (EDICEP; Valencia 2003) 198.

7 Introducción al cristianismo (Sígueme; Salamanca 1982) 217-220.