28º DOM TC-A

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM- ano A

15/10/2023 

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Isaías 25, 6-10a

Salmo Responsorial 22(23)R- Na casa do Senhor habitarei eternamente

2ª Leitura: Filipenses 4,12-14.19-20

Evangelho: Mateus 22,1-14


Jesus voltou a falar em parábolas aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, 2 dizendo: “O Reino dos Céus é como um rei que preparou a festa de casamento do seu filho. 3 Mandou seus servos chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram vir. 4 Mandou então outros servos, com esta ordem: ‘Dizei aos convidados: já preparei o banquete, os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde para a festa!’ 5 Mas os convidados não deram a menor atenção: um foi para seu campo, outro para seus negócios, 6 outros agarraram os servos, bateram neles e os mataram. 7 O rei ficou irritado e mandou suas tropas matar aqueles assassinos e incendiar a cidade deles. 8 Em seguida, disse aos servos: ‘A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. 9 Portanto, ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’. 10 Os servos saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados. 11 Quando o rei entrou para ver os convidados, observou um homem que não estava em traje de festa 12 e perguntou-lhe: ‘Meu caro, como entraste aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem ficou sem responder. 13 Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai os pés e as mãos desse homem e lançai-o fora, nas trevas! Ali haverá choro e ranger de dentes’. 14 Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP


Mt 22, 1-14

As parábolas de Jesus não visam a uma bela teoria, mas chamam a atenção para um comportamento concreto. Elas não são somente um recurso pedagógico para transmitir doutrina ou ensinamento; não estão no terreno das ideias, de verdades teóricas. O campo das parábolas é sempre o da conduta. Assim a primeira pergunta a ser feita é: que tipo de comportamento está em causa nessa parábola dos convidados para a festa?

Um comportamento não existe fora da pessoa. Ao contar uma parábola, Jesus se dirigia a interlocutores tinham um modo de ver e de agir diferente do seu. Assim as parábolas são um modo de continuar um diálogo através do qual Jesus espera mudar alguns comportamentos bem concretos. As parábolas não são um instrumento polêmico com a finalidade de reduzir ao silêncio adversários maldispostos, elas estão a serviço de um diálogo em vista de uma conversão. A segunda pergunta é: a quem se dirige a parábola dos convidados?

Jesus deseja, por isso, convencer seus interlocutores. Para essa finalidade a parábola traduz sempre uma experiência, pois é ela que lhe dá força de persuasão. A terceira pergunta é: que experiência é colocada em realce pela parábola dos convidados?

Esta parábola dos convidados tem o objetivo de explicar a razão de Jesus se dirigir aos pecadores públicos e às prostitutas. O primeiro grande convite tinha sido feito primeiramente aos “justos”. Ele respeitou a eleição divina, manteve o privilégio do povo da AT, mas eles “não tiveram tempo” para aceitar o convite.

v. 2: A festa de casamento do filho do rei. Vir para a festa é sinal de lealdade ao rei. O banquete era o reconhecimento especial em favor do filho, e todos estavam na obrigação de reconhecer que esse filho era o herdeiro do trono. O casamento do filho é o estabelecimento oficial de sua autoridade. Por isso, recusar o convite era considerado um insulto seríssimo, uma vez que se tratava de desprezar um privilégio altíssimo. O desprezo dos convidados não é motivado por maldade, mas pela absorção nas ocupações diárias. 

As atividades cotidianas geralmente parecem mais importantes do que as solicitações de Cristo. As pessoas se preocupam com carros, terras, casas, alimento, roupas, esporte, sexo, diversões, etc.

Os convidados não quiseram vir porque estavam ocupados com seus afazeres e não estavam dispostos a deixar tais afazeres. É verdade que todos nós consideramos uma festa algo muito bom e desejável, mas quando se trata de um convite dirigido pessoalmente e que requer minha decisão, muitas vezes, a reação é a de “não dar a mínima atenção”, porque não estamos dispostos a deixar nossas preocupações para “perder tempo com a festa”.

v. 4: Enviou outros servos. Atitude surpreendente! Mandou outros empregados para dizer “já preparei o banquete”, “bois e animais cevados”. Os empregados não foram mandados só para convidar, mas também para insistir, para persuadir os convidados a virem. Deveriam falar das delícias preparadas. Todo esse esforço, porém, não encontrou boa acolhida.

v. 5: “Não deram a menor atenção. Para os convidados a coisa mais importante não é a festa, não é o convite de Deus. A mensagem de Cristo não tem valor. A luta pela subsistência, os negócios, o orgulho da riqueza, são mais importantes. Ir para a festa obriga a sair do próprio mundo particular para descobrir o mundo dos outros, para ir ao seu encontro.

O texto não diz que os convidados resistiram ao convite. Certamente eles achavam o convite uma coisa boa. Diz que eles simplesmente não tinham tempo para isso. Não tinham o menor desejo de deixar seus próprios interesses. Quando isso acontece na Igreja, as pessoas ficam impacientes e irritadas com uma exigência maior na vida cristã.

Existem aqueles que preferem uma vida sonolenta, uma vida preocupada somente em desfrutar tranquilamente das coisas e das pessoas. Não é possível impulsioná-las para uma vida de maior profundidade espiritual por mais que se fale ou descreva.

As pessoas se deixam absorver inteiramente pelos afazeres, pelo dinheiro, pelo sucesso pessoal a qualquer custo que se atolam neles. Todo seu pensamento, todas as suas energias se concentram obcecadamente nos seus empreendimentos que não sobra mais nada para a vida cristã e para o progresso espiritual.

Existem também os que se opõem amargamente à verdade, à busca espiritual chegando a perseguir e a matar aqueles que proclamam a mensagem de Cristo. Infelizmente, no caso de Jesus, os mais incrédulos foram exatamente os convidados, os que pareciam os mais religiosos e piedosos.

v. 9: Encruzilhadas dos caminhos; todos os que encontrardes. As encruzilhadas são o lugar dos mendigos, dos que vivem na rua; é o lugar do lixo da sociedade.

v. 10: Bons e maus. No seio da Igreja há bons e maus. Os maus são os que não se convertem realmente e que permanecem na Igreja somente por interesse pessoal. Mas o desejo de Deus é que também estes se convertam e se salvem.

v. 11: Veste nupcial. Ensina a graça de Deus, mas também ensina que ninguém pode abusar dessa graça, pois a aceitação da graça deve resultar no revestimento da justiça e da caridade. Podemos frequentar a Igreja, mas o olhar de Deus examina o caráter de nossa adesão. Ele percebe quem não tem a veste de casamento. A graça de Deus deve ser aceita pessoalmente. E isso se verifica na retidão pessoal, no exercício da caridade. A graça de Deus quando é aceita transformar a natureza da nossa vida: nos transforma em santos.

Esse hóspede sem a veste nupcial serve de símbolo dos que pronunciam a palavra da fé, mas a sua vida não demonstram os resultados da fé; dos que olham para Cristo como salvador, mas de forma alguma é transformado por Ele; dos que conhecem as fórmulas, seguem os ritos, mas não é verdadeiro participante da vida de Cristo; dos que dizem “eu creio”, mas nada sabem da comunhão de vida com Cristo, não sabem o que é a amizade com Cristo.

v. 13: Choro e ranger de dentes. Parece exagerado, mas nenhum simbolismo poderia descrever de maneira mais impressionante a angústia de quem foi abandonado por Deus. Deus, porém, não abandona, se antes não foi abandonado.



Também hoje é possível ouvir a Deus- José Antonio Pagola


28° DTC - Mt 22,1-14-Ano A -15-10-23


Isso é afirmado por todos os estudos. A religião está em crise nas sociedades desenvolvidas do Ocidente. Cada vez menos pessoas se interessam por crenças religiosas. As elaborações dos teólogos têm pouco eco. Os jovens abandonam as práticas religiosas. A sociedade está se tornando cada vez mais indiferente.


No entanto, há algo que os crentes nunca devem esquecer. Deus não está em crise. Aquela Realidade suprema, que é apontada pelas religiões com nomes diferentes, está viva e ativa. Deus também está em contato imediato com cada ser humano hoje. A crise do religioso não pode impedir que Deus continue se oferecendo a cada pessoa no profundo mistério de sua consciência.


Dessa perspectiva, é um erro "demonizar" excessivamente a crise religiosa atual, como se fosse uma situação impossível para a ação salvadora de Deus. Não é assim. Cada contexto sociocultural tem suas condições mais ou menos favoráveis para o desenvolvimento de uma religião específica, mas as possibilidades do ser humano de se abrir ao Mistério último da vida, que o interpela profundamente em sua consciência, permanecem intactas.


A parábola dos "convidados para o casamento" lembra isso de maneira expressiva. Deus não exclui ninguém. Seu único desejo é que a história humana termine em uma alegre festa. Seu único desejo é que a sala espaçosa do banquete seja preenchida com convidados. Tudo está preparado. Ninguém pode impedir que Deus envie seu convite a todos.


É verdade que a chamada religiosa encontra rejeição em muitos, mas o convite de Deus não para. Todos podem ouvi-lo, "bons e maus", aqueles que vivem "na cidade" e aqueles que estão perdidos "nas encruzilhadas dos caminhos". Toda pessoa que ouve o chamado do bem, do amor e da justiça está acolhendo a Deus.


Penso em tantas pessoas que quase não sabem nada sobre Deus. Elas só conhecem uma caricatura da religião. Elas nunca poderão suspeitar da "alegria de acreditar". Tenho certeza de que Deus está vivo e ativo no âmago de seu ser. Estou convencido de que muitos deles estão aceitando seu convite por caminhos que me escapam.


Nosso Deus sempre vem a nós em festa- Adroaldo Palaoro


“E a sala da festa ficou cheia de convidados” (Mt 22,10)


A imagem que Jesus escolheu para nos falar daquilo que é central no Reino é a do banquete, uma refeição festiva. Seu gesto de compartilhar a mesa com as pessoas excluídas prefigurava e preparava a Eucaristia como culminação de algo que foi sendo gestado e vivido naquelas refeições, onde os últimos e os marginalizados eram acolhidos e tinham um lugar preferencial.

Além disso, Jesus nos revelou que Deus sempre quis assumir realidades humanas para manifestar seu plano de Salvação; e uma dessas realidades escolhidas por Ele é o banquete festivo, onde todos são convidados a participar. É o que a parábola deste domingo deixa transparecer.

A festa de casamento estava preparada; muitos foram convidados. Mas, estes estavam ocupados em seus afazeres de campo e de negócio e não aceitaram o convite. Mais ainda, agiram com violência com aqueles que anunciavam a Boa Notícia da festa.

O evangelho deste domingo nos motiva a uma profunda reflexão sobre a imagem cristã de Deus, um Deus que pretende atrair a humanidade toda a um banquete inclusivo e não a um juízo excludente. O Reinado de Deus é um banquete, lugar da festa e da comunhão, celebração da vida feliz entre os comensais. É uma mensagem que não convém esquecer quando muitos cristãos estabelecem uma oposição entre experiência de Deus e vivência da felicidade. No entanto, inspirado no modo de ser e viver de Jesus, o essencial do cristianismo é, precisamente, viver a felicidade e a plenitude de vida, superando o mal, o sofrimento e a morte.

Muitíssimas pessoas e grupos religiosos moralistas espontaneamente relacionam Deus com o sofrimento, com a proibição de coisas que nos agradam e a obrigação de outras que nos desagradam; e, acima de tudo, veem a Deus como poder absoluto que desperta ou alimenta nossos sentimentos de culpa e que é vivido como uma ameaça de castigos para esta vida e, o que é pior, do castigo eterno do inferno.

Essas pessoas não costumam estabelecer a mesma relação entre Deus e a felicidade de viver e têm uma ideia de Deus que pouco ou nada tem a ver com o Deus que se deu a conhecer a nós em Jesus de Nazaré. O que Deus tanto deseja, acima de qualquer outra coisa, é o mesmo que todos nós, seres humanos, mais queremos: a felicidade.

O tema central da parábola deste domingo revela o desígnio de Deus para a humanidade, ou seja, aquilo que uma festa de casamento supõe na vida: amor, encontro, família, alimento, festa, prazer… Esse, e não outro, é o plano de Deus para a humanidade. Aqui estamos bem distantes daquela falsa imagem de Deus que é apresentada em muitos grupos e comunidades: Deus “estraga-prazer”, juiz que ameaça com o inferno, senhor que exige penitência, mortificação…

O Deus de Jesus é o Pai da festa, que somente celebra e quer celebrar uma festa, a festa da vida. Ele faz de tudo para que seus filhos e filhas sejam felizes, realizados…

Deus quer que toda a humanidade se salve, desfrute da vida, tenha esperança e viva com pleno sentido. Ou seja, Deus não criou “dois espaços”: um, como se fosse uma mansão celestial e outro, como se fosse sala de torturas. Deus não cria e não quer o inferno para ninguém. Ele quer um encontro universal, um banquete fraterno para a humanidade. Na mesa do Senhor há lugar para todos, bons e maus. Comensais da mesa do Senhor é a humanidade inteira, sem distinção de raça, de religião, de gênero…

Partindo da mensagem de Jesus, podemos afirmar que o sentido profundo da religião cristã está em sua capacidade de celebrar e de festejar seus santos e santas, os tempos litúrgicos sagrados, as datas fundacionais, os momentos festivos dominicais… E tudo acontece ao redor da mesa: mesa da inclusão, da partilha, da acolhida, da solidariedade… Quem participa dos tempos festivos celebra a alegria de sua fé no “Deus da festa”, em companhia de irmãos e irmãs que partilham suas mesmas convicções, escutam a mesma Palavra sagrada, repartem o mesmo pão, reforçam os laços e se sentem próximos d’Aquele que é festa.

Sabemos do trágico sintoma de uma sociedade saturada de bens materiais e que assiste lentamente, não a morte de Deus, mas a morte do próprio ser humano que perdeu a capacidade de festejar gratuitamente, de alegrar-se pela bondade da vida, de manifestar gratidão por tantos dons recebidos.

Por ter perdido a jovialidade e o espírito da alegria, grande parte dos nossos contemporâneos não sabe festejar. Conhecem a frivolidade, os excessos do comer e beber, a superficialidade na convivência…; nas festas comercializadas encontramos de tudo, menos alegria e solidariedade gratuita. Tal situação também se faz visível, muitas vezes, nas “festas litúrgicas”; muitas delas tem “cara de velório”.

As festas na vida cristã devem ser preparadas e celebradas por todos; ninguém tem o controle da festa. Sem esta disposição interior corremos o risco de perder seu sentido alimentador da vida que levamos. Muitas vezes, por não estarmos preparados e por não sabermos preparar as festas nas nossas comunidades, saímos delas vazios, com a sensação de termos cumprido somente uma obrigação. Uma festa assim não reforça os laços entre as pessoas, não desperta compromisso e não alimenta um novo sentido para a vida. O valor delas está justamente em saborear um sentido maior para levar adiante a vida, sempre desafiante e inspiradora.

E o sentido da festa cristã está na “memória” que fazemos d’Aquele que transitou por muitas refeições, algumas delas escandalosas, anunciando não um Deus que ameaça, mas um Deus que se alegra com a alegria festiva de seus filhos e filhas.

Fazendo a festa, a comunidade descobre que foi a festa que a fez.

A festa verdadeira é lugar da liberdade, da antecipação do futuro, abre espaço à igualdade, estabelece novas relações entre os participantes. Ela sim, recria a comunidade, recriando os participantes.

A festa é como um dom que já não depende de nós e que não podemos manipulá-la. Podemos preparar a festa, mas a festividade, ou seja, o “espírito da festa”, surge gratuitamente. Ninguém a pode prever nem simplesmente produzir. Só podemos nos preparar interior e exteriormente e acolhê-la.

A grandeza e a originalidade da vida cristã não estão na sua doutrina, nos seus dogmas, nas suas normas, e nem nos ritos de mortificação e penitência. A fonte da identidade cristã está nesta afirmação básica: “Deus é festa e Ele vem ao nosso encontro em festa”; e o lugar privilegiado da festa é a mesa da refeição, o banquete da vida. Por isso, a festa é um “sim” à vida, à comunhão, ao encontro. A festa é tempo forte no qual o sentido secreto da vida é vivido de uma maneira intensa. Da festa saímos fortalecidos para assumirmos os compromissos da vida com mais inspiração e criatividade.

O final da parábola deste domingo parece um pouco estranho, certamente um acréscimo bem posterior feito pela comunidade de Mateus. É evidente que a parábola não tem a intenção de terminar com um desfile de moda, quando alguém não traz a veste adequada. Também não se trata de uma questão moral, porque ao banquete são admitidos todos: bons e maus. Além disso, Jesus sempre reagiu a uma moral externa e sempre foi contra o legalismo. Ele não situa a moral em um traje. Para Jesus, o bom e o mau é o que sai de dentro e não tem nada a ver com a camisa ou veste que distingue de outras pessoas.

Aqui estamos, mais uma vez, no mundo do símbolo. Poderíamos pensar, talvez, que aquele homem não tivesse sentido de festa, de gratuidade, de amor. Se não tem sentido de fraternidade, não “pinta” nada no banquete; está isolado, sem sintonia com o momento. É como o irmão mais velho da parábola do pai misericordioso: não sentia alegria, gratuidade, paz pela volta de seu irmão mais novo que estava perdido.

Quem não tem esse sentido amável da vida não será nunca feliz em nenhum lugar. Quem não se alegra com o bem dos outros, com a presença dos pobres e excluídos, está deslocado e não será feliz.

Mas, mesmo que sejamos uns pobres invejosos e o nosso traje se chame ressentimento, contrariedade, rancor, intolerância… Deus também nos chama e nos convida à festa.


Texto bíblico: Mt 22,1-14


Na oração: – a sua “experiência de Deus” está associada à felicidade,  à festa, ao banquete…, ou, pelo contrário, está associada a sofrimento, mortificação, ameaça, medo, juízo…?


– “Deus da religião” x “Deus de Jesus”: o que predomina em sua comunidade cristã?


– busque vivenciar os “momentos festivos” numa atitude de profunda reverência pela vida.


“De Deus dizemos tranquilamente coisas que não nos atreveríamos a

dizer de nenhuma pessoa decente” (Pe. Tony de Mello, SJ)


Mateus 22,1-14 – A festa do casamento - Frei Carlos Mesters

Introduzindo o assunto

O evangelho de hoje traz a parábola do banquete que se encontra em Mateus e em Lucas, mas com diferenças significativas, provenientes da perspectiva de cada evangelista. O pano de fundo, porém, que levou os dois evangelistas a conservar esta parábola é o mesmo. 

Nas comunidades dos primeiros cristãos, tanto de Mateus como de Lucas, continuava bem vivo o problema da convivência entre judeus convertidos e pagãos convertidos. Os judeus tinham normas antigas que os impediam de comer com os pagãos. Mesmo depois de terem entrado na comunidade cristã, muitos judeus mantinham o costume antigo de não se sentar à mesma mesa com um pagão. Assim, Pedro teve conflitos na comunidade de Jerusalém, por ter entrado na casa de Cornélio, um pagão, e ter comido com ele (At 11,3). 

Este mesmo problema, porém, era vivido de maneira diferente nas comunidades de Lucas e nas de Mateus. Nas comunidades de Lucas, apesar das diferenças de raça, classe e gênero, eles tinham um grande ideal de partilha e de comunhão (At 2,42; 4,32; 5,12). Por isso, no evangelho de Lucas (Lc 14,15-24), a parábola insiste no convite feito a todos. O dono da festa, indignado com a desistência dos primeiros convidados, mandou chamar os pobres, os aleijados, os cegos, os mancos para virem participar do banquete. Mesmo assim sobrava lugar. Então, o dono da festa mandou convidar todo mundo, até que a casa ficasse cheia. 

No evangelho de Mateus, a primeira parte da parábola (Mt 22,1-10) tem o mesmo objetivo de Lucas. Ele chega a dizer que o dono da festa mandou entrar “bons e maus” (Mt 22,10). Mas no fim ele acrescenta uma outra parábola (Mt 22,11-14) sobre o traje de festa, que insiste no que é específico dos judeus, a saber, a necessidade da pureza para poder comparecer diante de Deus.

Comentando 

Mateus 22,1-2: O convite para todos

Alguns manuscritos dizem que a parábola foi contada para os chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo.  Esta afirmação pode até servir como chave de leitura, pois ajuda a compreender alguns pontos estranhos que aparecem na história que Jesus conta. A parábola começa assim: "O Reino do Céu é como um rei que preparou a festa de casamento do seu filho”. Esta afirmação inicial evoca a esperança mais profunda: o desejo do povo de estar com Deus para sempre. Várias vezes nos evangelhos se alude a esta esperança, sugerindo que Jesus, o filho do Rei, é o noivo que veio preparar o casamento (Mc 2,19; Apc 21,2; 19,9).

Mateus 22,3-6:  Os convidados não quiseram vir

O rei fez dois convites muita insistentes, mas os convidados não quiseram vir. “Um foi para o seu campo, outro foi fazer os seus negócios, e outros agarraram os empregados, bateram neles, e os mataram”.  Em Lucas são os deveres da vida cotidiana que impedem os convidados de aceitar o convite. O primeiro diz: “Comprei um terreno. Preciso vê-lo!” O segundo: “Comprei cinco juntas de bois! Vou experimentá-las!” O terceiro: “Casei. Não posso ir!” (cf. Lc 14,18-20). Dentro das normas e costumes da época, aquelas pessoas tinham o direito e até o dever de recusar o convite que lhes foi feito (cf Dt 20,5-7).

Mateus 22,7:  Uma guerra incompreensível

A reação do rei diante da recusa surpreende. “Indignado, o rei mandou suas tropas, que mataram aqueles assassinos, e puseram fogo na cidade deles. Como entender esta reação tão violenta? A parábola foi contada para os chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo (Mt 22,1), os responsáveis pelos da nação. Muitas vezes, Jesus tinha falado a eles sobre a necessidade da conversão. Ele chegou a chorar sobre a cidade de Jerusalém e dizer: "Se também você compreendesse hoje o caminho da paz! Agora, porém, isso está escondido aos seus olhos! Vão chegar dias em que os inimigos farão trincheiras contra você, a cercarão e apertarão de todos os lados. Eles esmagarão você e seus filhos, e não deixarão em você pedra sobre pedra. Porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la." (Lc 14,41-44). A reação violoenta do rei na parábola refere-se provavelmente ao que aconteceu de fato de acordo com a previsão de Jesus. Quarenta anos depois, Jerusalém foi destruída (Lc 19,41-44; 21,6;).

Mateus 22,8-10:  O convite permanece de pé

Pela terceira vez, o rei convida o povo. Ele disse aos empregados: “A festa de casamento está pronta, mas os convidados não a mereceram. Portanto, vão até as encruzilhadas dos caminhos, e convidem para a festa todos os que vocês encontrarem. Então os empregados saíram pelos caminhos, e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados“. Os maus que eram excluídos como impuros da participação no culto dos judeus, agora são convidados, especificamente, pelo rei para participar da festa. No contexto da época, os maus eram os pagãos. Eles também são convidados para participar da festa de casamento. 

Mateus 22,11-14: O traje de festa

Estes versos contam como o rei entrou na sala da festa e viu alguém sem o traje da festa. O rei perguntou: 'Amigo, como foi que você entrou aqui sem o traje de festa?' Mas o homem nada respondeu.  A história conta que o homem foi amarrado e jogado fora na escuridão. E conclui: “Muitos são chamados, e poucos são escolhidos”.  Alguns estudiosos acham que aqui se trata de uma segunda parábola que foi acrescentada para abrandar a impressão que ficou da primeira parábola onde se disse que “maus e bons” entraram para a festa (Mt 22,10). Mesmo admitindo que já não é a observância da lei que nos traz a salvação, mas sim a fé no amor gratuito de Deus, isto em nada diminui a necessidade da pureza do coração como condição para poder comparecer diante de Deus.

4) Confrontando a gente

1. Quais as pessoas que normalmente são convidadas para as nossas festas? Por que? 

2. Quais as pessoas que não são convidadas para as nossas festas? Por que?

3. Quais os motivos que hoje limitam a participação de muitas pessoas na sociedade e na igreja? 

4. Quais os motivos que certas pessoas alegam para se excluir do dever de participar na comunidade? Será que são motivos justos?


O convite para uma festa diferente - Ana Maria Casarotti

 

Uma vez mais, Jesus se dirige por “parábolas aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo”. Na sua fala Jesus compara o Reino do Céu com uma festa de casamento, com um banquete. Como acontece ainda hoje, ser convidados para uma Festa, e ainda mais um grupo de pessoas simples, que foram encontradas pelos caminhos, é um grande convite quase impensável! Eles e elas foram escolhidos para participar desse momento tão significativo.

Uma festa de casamento envolve comida e bebida abundante, presença da família e amigos. As pessoas tentam colocar as melhores roupas que possuem, e assim arrumar tudo o que é necessário para participar de uma forma digna.

Desta forma Jesus está comunicando-nos que o Reino de Deus é uma celebração de amor, uma aliança que se consolida e se projeta com esperança ao futuro, onde está presente a família, os amigos e amigas. É uma aliança de Deus com os homens e mulheres e deles entre si.

Há um estilo de vida que fica para trás, para iniciar uma nova experiência de uma vida onde ninguém fica fora, todos são convidados. O futuro impulsiona este movimento de amor que renova cada integrante da humanidade.

A lei que rege é o amor, a vida, todos e todas são iguais e convidados a viver numa liberdade nova. Jesus disse aos empregados que no convite digam que o banquete já está preparado: ‘eu já preparei o banquete, os bois e animais gordos já foram abatidos, e tudo está pronto. Que venham para a festa’ (22,4).

 

Não há limite de convidados, ninguém fica excluído.

Quais seriam os sentimentos de Jesus ao pronunciar estas palavras? Sem dúvida uma grande alegria, mas também uma grande dor ao reconhecer que há alguns que rejeitam esse convite preparado com tanto carinho pelo seu Pai. Jesus sabia que cada pessoa tem liberdade para escolher aquilo que deseja.

Em várias oportunidades ele se dirige aos sacerdotes e anciãos do povo através de parábolas como uma tentativa de oferecer sua mensagem, o tesouro que há escondido nas suas palavras, mas eles são surdos a sua voz e cegos às transformações que estão acontecendo ao redor.

Eles “não quiseram ir” e desacolhem o convite para a Festa do casamento de seu Filho. Mas o Rei, Deus Pai, não abandona a tentativa de convidá-los, e procura uma nova forma para invitá-los a participar da grande Festa de seu Filho.

Contudo eles não querem escutar e agem até violentamente! “Mas os convidados não deram a menor atenção; um foi para o seu campo, outro foi fazer os seus negócios, e outros agarraram os empregados, bateram neles, e os mataram.” Pessoas ingratas diante de tanta generosidade e gratuidade! Por que acontece assim?

É um convite pessoal que hoje também chega até cada um e cada uma de nós. Como o recebemos? São palavras que chegam até cada um de nós? Os ouvidos estão abertos para escutar esse apelo para uma grande festa? O convite para entrar na Festa do Reino é pessoal.

Podemos perguntar-nos: Atuamos desde nossa liberdade e gratuidade interior ou respondemos como a multidão, simplesmente porque todos fazem assim, sem critério?

A novidade do Reino tem uma atração pessoal que chega em diferentes momentos e oportunidades de nossa vida. Mas podemos ser cristãos e não “ter tempo para escutá-lo” e ainda menos descobrir a beleza de sua novidade. O trabalho, a família, até as preocupações na paróquia, na comunidade religiosa, e tantas outras coisas aparecem como nomes que justificam o rechaço à novidade do Reino.

Neste momento, ajuda-nos refletir quando escutamos pessoalmente esse convite? Por onde aparece? Temos capacidade para escutá-lo, ou consideramos que já somos membros do Reino e não deixamos tempo para ouvir a voz do Senhor no nosso interior ou através de outras pessoas?

Mas a Festa continua e os empregados continuam chamando as pessoas que estão nos caminhos: “Vão até as encruzilhadas dos caminhos, e convidem para a festa todos os que vocês encontrarem.”

Quem são os que estão nas encruzilhadas dos caminhos? Na época de Jesus eram todos os que eram excluídos do sistema social e religioso, desempregados, doentes, prostitutas, estrangeiros. Os pobres, mas que procuram sair dessa situação e buscam não viver mais sob o jugo da opressão, perseguem uma liberdade profunda. São os que lutam incansavelmente pelos seus direitos e necessidades.

Hoje há milhares de pessoas que no mundo inteiro procuram sair da escravidão e preferem arriscar sua vida e a de sua família, morrendo ao tentar atravessar o mar para sair de situações de marginalização, luta, escravidão.  Mulheres escravas para vender e ser usadas como prostitutas. E assim muitas outras realidades.

Nesta parábola este grupo são os que aceitam o convite! Eles não sabiam todas as normas sociais, culturais e religiosas, mas tinham um grande desejo na procura de outro estilo de vida. Neste grupo toda a humanidade está representada. Ninguém fica excluído, porque o convite do Reino é para todos e todas por igual.

Na sua pobreza, recebem o convite para participar da festa do rei, para iniciar uma nova vida mais digna, mais justa, mais fraterna, e aceitam! Na Festa do Reino entram todos, no coração do Pai ninguém fica excluído, toda pessoa tem direito a participar!

O Pai convida cada ser humano para sua Festa e oferece-lhe um novo estilo de vida para ser revestido de seus sentimentos e do seu projeto de vida e assim participar da Festa. É tudo de graça, mas é necessário aceitá-lo e deixar-nos renovar pelo seu Espírito para acolher um novo estilo de vida.

Como disse São Paulo, “Revistam-se do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade. Abandonem a mentira: cada um diga a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. [..] Quem roubava, não roube mais; ao contrário, ocupe-se trabalhando com as próprias mãos em algo útil, e tenha assim o que repartir com os pobres.” (Ef 4,24.28)

Diante do convite gratuito de Deus para participar de seu Reino, qual é a minha resposta?

Oração

Pai misericordioso, nós vos pedimos pelo Brasil!

Ajudai-nos a construir um país justo e fraterno. 

Que todos estejamos atentos 

às necessidades das pessoas mais fragilizadas e indefesas! 

Que o diálogo e o respeito vençam o ódio e os conflitos! 

Que as barreiras sejam superadas por meio do encontro e da reconciliação! 

Que a política esteja, de fato, 

a serviço da pessoa e da sociedade 

e não dos interesses pessoais, partidários e de grupos.

Pai misericordioso, nós vos pedimos pelo Brasil!

Neste ano em que celebramos os 300 anos 

do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, 

queremos seguir o exemplo de Maria, 

permanecendo unidos a Jesus Cristo, 

que convosco vive, na unidade do Espírito Santo.

Amém!

(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB)

 

Vida como banquete -  Dom Paulo Peixoto


A natural sensibilidade humana se expressa, normalmente, no conjunto das atividades que acompanham a vida das pessoas. Não é um ato de momento, instantâneo, que não deixa de ser passageiro, mas envolve seu modo de ser e de atuar na sociedade. A vida não é só uma festa de alegria, de banquetes e lazer. Ela experimenta o lado sombrio enxertado de tristeza, desesperança e sofrimento.

A bíblia apresenta a imagem do banquete da vida, com ricas iguarias, simbolizando a abundância dos dons e das bencãos de Deus. Mas tem que ser um banquete que não exclui ninguém, senão essa benção não acontece. Assim é a Nação brasileira, onde há fartura em muitas mesas, mas hermeticamente fechadas para a grande maioria da população e espaço onde a presença do pobre vira estorvo.

A vida deixa de ser banquete quando há o domínio da injustiça, da ganância e da violência. O Reino de Deus, que Jesus anunciou, tem a evidência da fartura e da partilha, onde não há domínio de uns sobre os outros, porque reina a fraternidade. Desta forma podemos dizer de vida em abundância, porque ali existe possibilidade de acesso de todas as pessoas, indistintamente.

Um banquete pode ser usado como local de congraçamento e de fortalecimento de amizades. Para os empresários, é espaço de negociação e conquista de prosperidade econômica. Sempre é mesa de abundância, mas o apóstolo Paulo diz que a vida pode ser feliz tanto na abundância como na miséria, quando tudo for realizado com critério de honestidade e preocupação com a vida digna dos outros.

O Brasil é como um “grande banquete”, mas manipulado por pessoas inconsequentes e irresponsáveis. No mundo político é uma lástima, como estamos assistindo no cenário nacional. Vemos, a todo instante, administradores de má conduta na mira da justiça, paixões políticas provocando assassinato de candidato e empresários indo para a cadeia por práticas ilícitas. O país é banquete da morte.

  Para participar do banquete do Reino de Deus é necessário estar com vestes próprias. São as vestes das bem-aventuranças, do despojamento e da vida pautada pelos bons propósitos. Não é um banquete que exclui determinadas pessoas, mas a exclusão pode acontecer através das atitudes praticadas pela própria pessoa, por não aceitar colocar em prática as exigências do banquete.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.

 

TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIAN NANNINI, ARGENTINA.

DOMINGO 28 DURANTE EL AÑO CICLO "A"


Damian Nannini


Primera lectura (Is 25,6-10)


Este texto integra la sección mayor compuesta por los capítulos 24-27 de Isaías que ha recibido el nombre de "Apocalipsis de Isaías". Para algunos especialistas este nombre no es muy feliz ya que no tiene los rasgos propios del género apocalíptico presentes, por ejemplo, en los libros de Daniel y el Apocalipsis del Nuevo Testamento . Más bien hacen referencia a la intervención de Dios al final de los tiempos, por lo que hoy se lo prefiere considerar como parte del género denominado "escatología profética".

Es un texto muy rico en imágenes con fuerte carga simbólica. Concretamente, "se pueden reconocer en este texto cuatro motivos diferentes: la montaña como escenario del banquete (Is 25,6.10ª); el banquete mismo (Is 25,6); la presencia de la multitud de pueblos y naciones (Is 25, 6-7); y la transformación de la situación de duelo, lágrimas y muertes (Is 25,7-8). El Señor aparece como el agente principal de este cambio profundo" .

La nota dominante de este texto es la perspectiva universalista de la intervención de Dios. Así como en el capítulo anterior se anunció la salvación futura de Egipto y de Asiria, ahora se anuncia la salvación para todos los pueblos. Pero hay una condición: tienen que llegarse hasta Jerusalén, a su monte santo, corazón del pueblo de Israel. Podemos decir que el dinamismo de la salvación Divina, si bien tiene un horizonte universal, es todavía centrípeto por cuanto se trata de llegarse a su centro de acción que es Jerusalén.  



Evangelio (Mt 22,1-14)


Esta parábola consta de una introducción (vv. 1-2), seguida de tres momentos (vv. 3-13) y un epílogo o conclusión didáctica (v.14). 

La introducción nos adelanta que va a comparar el Reino de los cielos con un rey que celebra un banquete de bodas para su hijo. A diferencia de las dos parábolas anteriores, ésta viene presentada como “parábola del Reino”. En este caso puede suponerse que los lectores cristianos, sobre el trasfondo judío de las bodas mesiánicas de Dios con su pueblo, no tendrán problemas en identificar al rey con Dios y a su hijo con Jesús, a quien Mateo ya había presentado como novio (cf. 9,15) y a quien la esperanza cristiana lo aguarda como novio celestial al fin de los tiempos (cf. Mt 25,1-13; 2Cor 11,2; Ap 19,7-9; 21,2.9). Ahora bien, notemos con A. Rodríguez Carmona  que el rey es el verdadero protagonista de la narración, el único que habla y domina toda la acción: es el Señor de la Historia de la Salvación.

El primer momento (cf. 22,3-7) comienza con la indicación del envío de los servidores (δοῦλος) a llamar a los invitados. Más precisamente, se hace referencia a dos llamadas o invitaciones del Rey al banquete de bodas de su hijo. Es interesante notar que el texto griego dice literalmente que los servidores son enviados "a llamar a los llamados/invitados” (καλέσαι τοὺς κεκλημένους) pues se utiliza el mismo verbo καλέω (llamar) que en el segundo caso tiene el sentido de “invitados”. Se podría suponer que ya se les había llamado/invitado previamente y ahora se les avisa que ya está todo preparado y que deben concurrir a las bodas. Como bien nota L. Sánchez Navarro : “el verbo καλέω («invitar, llamar») se repite insistentemente en la parábola (vv. 2. 4. 8. 9), y será retomado en la conclusión («llamados», κλητοί: v. 14). Es por tanto una parábola acerca de la vocación al reino”. 

La respuesta de los “llamados” a la primera invitación es una simple negativa: no quieren ir. 

Le sigue una segunda invitación cuando todo está "a punto" para comenzar. A esta llamada responden excusándose algunos y agrediendo a los servidores otros. Sobre la existencia de esta doble invitación en aquel tiempo nos informa B. Malina : “Las dobles invitaciones son de sobra conocidas en los antiguos papiros. Permitían a los potenciales huéspedes enterarse de quién acudía y si todo había sido dispuesto correctamente. Si los que iban eran personas adecuadas, todo el mundo acudiría. Si las personas consideradas adecuadas se retraían, el resto haría lo mismo. Se sucederían excusas triviales”.

Desde el punto de vista alegórico, la primera llamada o invitación sería la dirigida al pueblo judío por parte de los profetas. La segunda es la dirigida por Jesús y los apóstoles. Ambas reciben como respuesta el rechazo; y en el último caso se suma la violencia, que incluye el crimen. Esto provoca el enojo del Rey que manda destruir la ciudad, lo cual sería una referencia a la destrucción de Jerusalén en el año 70 d.C. Como comenta U. Luz , este suceso indica que "la historia de la relación de Dios con Israel parece haber tocado a su fin".


El segundo momento (22,8-10) comienza inesperadamente con un juicio o sentencia del rey diciendo que los "legítimos" invitados al banquete no resultaron “dignos” (ἄξιοι) del mismo. La resultante de esta afirmación es que el rey reacciona con un nuevo envío de los servidores para que inviten en las salidas o cruces de los caminos a todos cuantos encuentren. Según B. Malina  el término griego διεξόδους traducido por «cruces de caminos» en realidad hace referencia a las “salidas de los caminos”; es decir, a los lugares dónde las calles se abren en espacios públicos y allí se encuentra todo tipo de gente. 

Luego se especifica que los servidores reunieron a cuantos encontraron, malos y buenos (πονηρούς τε καὶ ἀγαθούς), de modo que se llenó la sala del banquete. Esta mención de malos y buenos nos recuerda la actitud del Padre celestial que les brinda el sol y la lluvia a ambos sin distinción (cf. Mt 5,45).

Esta tercera llamada, dirigida a los no-previamente invitados, alude a la invitación que Dios hace a los gentiles, a los que están fuera de la ciudad en la salida de los caminos, para que participen del banquete del Reino.


El tercer momento (22,11-13), nos narra que el rey ingresa al banquete para ver a sus invitados y se encuentra con un hombre que no tenía traje de fiesta y que por ello fue expulsado. Esta escena final sirve para complementar o aclarar lo dicho anteriormente: que se invitaron a buenos y malos. El traje de fiesta puede simbolizar, si lo relacionamos con las dos parábolas anteriores, el cumplimiento de la voluntad de Dios o los frutos de buenas obras. Los padres de la Iglesia solían identificar el traje con la santidad de vida o con la gracia. Vale decir que, al igual que en las parábolas del trigo y la cizaña; y de la red de pesca (Mt 13, 37-43.49), aquí se nos enseña que en el tiempo presente encontraremos en el Reino la presencia de buenos y malos. Sí, pero los malos, o sea los que no se convirtieron (no tienen traje de bodas), en el día del juicio final con el advenimiento del Reino definitivo, terminarán siendo echados "fuera, a las tinieblas. Allí habrá llanto y rechinar de dientes". Esta última frase remite indiscutiblemente a la condena escatológica, del juicio final, pues en este contexto la encontramos en otros lugares del mismo evangelio de Mateo (cf. 8,12; 13,42.50; 24,51; 25,30). También el hecho de que los servidores que ejecutan esta sentencia (διάκονοι) son distintos de los siervos (δοῦλοι) mencionados hasta ahora, cuya tarea ha concluido en el v. 10, refuerza la referencia al juicio final y, con gran probabilidad, hemos de ver representados en estos servidores (διάκονοι) a los ángeles, que asisten al Hijo del hombre en el juicio (al igual que en la parábola del trigo y la cizaña: 13,39.41.49)  .


El epílogo o conclusión didáctica (v. 14) es un refrán que sintetiza el mensaje de la parábola: “Porque muchos son llamados, pero pocos son elegidos" (πολλοὶ γάρ εἰσιν κλητοί, ὀλίγοι δὲ ἐκλεκτοί). Es decir, para salvarse, para ser del grupo de los elegidos/escogidos, no basta con haber sido invitado-llamado, hay que responder efectivamente a esa llamada.


En síntesis, se trata, sin lugar a dudas, de una parábola-alegoría de difícil interpretación, con algunos detalles faltos de lógica, como la campaña militar del rey cuando el banquete está listo o la exigencia del traje de fiesta a quien fue invitado de improviso. Aunque sobre este último punto nos dice B. Malina  que “el rey tendría preparada ropa adecuada para la gente no-elitista que acudía al banquete. Pero el rey se fija en alguien que no ha querido ponerse la ropa que le ha sido proporcionada, avergonzando por tanto al rey. El resultado se podía prever: el hombre impropiamente vestido queda avergonzado al ser echado fuera por los criados”.


 En conclusión, la parte ficticia de toda parábola-alegoría no debe confundirnos pues, más allá de estas oscuridades, nos parece muy claro el mensaje final que bien resume L. Sánchez Navarro: “Para gozar del banquete —para entrar en el reino— se requieren dos condiciones: primero, recibir la conveniente invitación; y segundo, responder a ella no sólo aceptándola sino también disponiéndose adecuadamente para la ocasión. La invitación es universal: a todo Israel (primera parte) y a todas las naciones (segunda); la respuesta es una decisión personal preñada de responsabilidad”. «Pocos son lo que todos deberían ser»” .



Algunas reflexiones:


Una primera reflexión brota del sentido de la parábola en el contexto del evangelio de Mateo ya que hay una novedad en relación con las dos anteriores y es la advertencia a los que aceptaron la invitación al banquete del Reino, pero no se pusieron su traje de fiesta. Es decir, el Señor nos ha dado de modo gratuito y sin mérito de nuestra parte, por pura misericordia, la posibilidad de tener parte en su Reino. Pero para permanecer en el Reino de Dios tenemos que aceptar y cumplir las exigencias que con tanta claridad Jesús ha expuesto en el evangelio, concretamente en el Sermón del Monte. Es decir, los dones de Dios nos comprometen a responder con la vida. Se trata de una llamada de atención para todos los cristianos a fin de que respondamos coherentemente a la vocación o llamada recibida de Dios. Al respecto decía el Papa Francisco en su homilía del 15 de octubre de 2017: “El Evangelio subraya un último aspecto: el vestido de los invitados, que es indispensable. En efecto, no basta con responder una vez a la invitación, decir «sí» y ya está, sino que se necesita vestir un hábito, se necesita el hábito de vivir el amor cada día. Porque no se puede decir «Señor, Señor» y no vivir y poner en práctica la voluntad de Dios (cf. Mt 7,21). Tenemos necesidad de revestirnos cada día de su amor, de renovar cada día la elección de Dios”.


Una segunda reflexión surge del contexto litúrgico de las lecturas, en particular de la imagen común presente en la primera lectura y el evangelio. Se habla del Reino de Dios como de un banquete, lo que implica un carácter festivo y gozoso. No se trata ya de trabajar en la viña, se trata de disfrutar de un banquete magnífico. Esto le da un matiz positivo tanto a la misión de los enviados como al contenido de la misión: se trata de invitar a una fiesta, de invitar a participar del gozo del encuentro con Dios. En fin, se trata del "evangelio", de la buena noticia, del “gozo del Evangelio”.


En un tercer momento, si nos paramos y miramos la parábola desde la perspectiva de los evangelizadores, de los enviados, bien vale lo que dice al respecto J. Donahue : "Con esta alegoría, Mateo anima a su iglesia a no temer el fracaso de la actividad misionera". ¡Y cuanto nos asusta y frena el miedo al fracaso apostólico! Ante el rechazo o la indiferencia de los hombres nos surgirá siempre la pregunta: ¿cómo es posible despreciar una invitación a semejante banquete? No se trata aquí de la invitación a renunciar a todo, a cargar con la cruz y seguirlo. Se trata de la invitación a una gran fiesta, un gran banquete de bodas. Sin embargo, otra vez las excusas, más o menos las mismas de siempre: se tienen otras ocupaciones, se valoran más otras cosas que a Dios y su amor. Y ante esto nos quedamos sin palabras ni gestos; bloqueados apostólicamente, tentados de encerrarnos a disfrutar nosotros solos del banquete. Pero esto no es lo que quiere el Señor, lo que desea en su Corazón. Es claro que el Señor siempre sigue apostando por la salvación de los hombres, pues si unos lo rechazan, nos manda invitar a otros que acepten participar de la fiesta del amor de Dios. Todo esto me recuerda una frase de J. Pipper, que sonaba más o menos así: lo difícil no es preparar una fiesta, sino encontrar personas dignas de participar de ella.


La parábola de hoy nos muestra con claridad cómo Dios no se deja vencer por los rechazos y reacciona ante la respuesta negativa de Israel con la apertura universal de la salvación y, por eso, nos envía a buscar a “buenos y malos”. Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 11 de octubre de 2020: “Jesús iba a almorzar con los publicanos, que eran los pecadores públicos, eran los malos. Dios no tiene miedo de nuestra alma herida por tantas maldades, porque nos ama, nos invita. Y la Iglesia está llamada a ir a las encrucijadas de hoy, es decir, a las periferias geográficas y existenciales de la humanidad, esos lugares marginales, esas situaciones en las que se encuentran acampados y viven fragmentos de humanidad sin esperanza. Se trata de no apoltronarse en las formas cómodas y habituales de evangelización y testimonio de la caridad, y de abrir las puertas de nuestro corazón y de nuestras comunidades a todos, porque el Evangelio no está reservado a unos pocos elegidos. También los que viven al margen, incluso los rechazados y despreciados por la sociedad, son considerados por Dios dignos de su amor”.



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):



Nos has invitado


De lejos se escuchan cantares

Risas y danzas, colores y brillos

Aroma de vino y sabrosos manjares.

La hora ha llegado.


Muchos han sido invitados:

De este pueblo y de otros poblados

Se dice del novio: “es el heredero,

El Ungido, el Santo”.


¿Quién no querría verte llegar

Vestido de púrpura, calzada tu corona

Mirando a todos y a cada uno

Buscando a los elegidos sin demora?


Quisiéramos estar allí, Señor

¡Novio de la Gran Boda, Cordero Dios!

La cita se grabó en tu memoria

No la olvidemos nunca nosotros


Sea ese momento conocido y desconocido

De esta vida peregrina o la próxima

No nos distraiga el trajín de este tiempo

La codicia y la arrogancia que aprisionan


Concédenos estar preparados, atentos

Esperando tu llegada revestidos

Para la ocasión y gravedad de la Hora

Como lo estuviste Tú Señor


Cuando dijiste “sí” al mandato Paterno

Voluntad y deseo se unieron

Memorial gravado en el corazón a fuego:

Tu Mesa, Tu Pasión y tu Gloria. Amén