TODOS OS SANTOS-A

Solenidade de Todos os Santos 

05/11/2023

LINK AUXILIAR:

AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


Primeira Leitura: Apocalipse 7,2-4.9-14

Salmo Responsorial: 23(24)R-É assim a geração dos que procuram o Senhor!

Segunda Leitura: 1 João 3,1-3

Evangelho: Mateus 5,1-12a (Bem-aventuranças).


Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 1vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2e Jesus começou a ensiná-los: 3“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus. 4Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. 5Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. 11Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim. 12Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”. – Palavra da salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP      


 Mt 5,1-12

Celebramos a solenidade de todos os Santos e Santas. Há alguns dias fizemos a Comemoração de todos os Fiéis Defuntos (dia de finados). Essa sucessão não é sem propósito: ela destaca o mistério da comunhão dos santos. Podemos dizer que a “comunhão dos santos” é, em relação às pessoas, a imensa e admirável comunidade de todos os fiéis vivos e falecidos, e, em relação aos bens espirituais, a inserção de cada um dos filhos de Deus na vida de Cristo como membros de um só e mesmo corpo. Em poucas palavras, “comunhão dos santos” tem dois significados estreitamente ligados: “comunhão nas coisas santas” (sancta) e “comunhão entre as pessoas santas (sancti)” (CatIgCat 948). 

“Uma vez que todos os fiéis formam um só corpo, o bem de uns é comunicado aos outros. E assim, deve-se acreditar que existe uma comunhão de bens na Igreja. Ora, o membro mais importante é Cristo. Assim, o bem de Cristo é comunicado a todos os membros. Como a Igreja é governada por um só e mesmo Espírito, todos os bens por ela recebidos tornam-se necessariamente um fundo comum” (CatIgCat 947). 

A comunhão dos santos acentua as relações dos fiéis entre si. De um lado, como os ramos da videira partilham a mesma terra, recebem a mesma seiva, respiram o mesmo ar, bebem da mesma chuva, amadurecem sob o mesmo sol, assim todos os membros da Igreja comungam das mesmas realidades santas. De outro lado, como os ramos formam e são a única videira, assim cada fiel participa da saúde, vitalidade e fecundidade dos outros membros.

“O que é a Igreja senão a assembleia de todos os santos? Desde a origem do mundo, todos, patriarcas, profetas, mártires, e também todos os justos que existiram e existirão, formam uma só Igreja, porquanto foram justificados por uma mesma fé, uma mesma forma de viver, marcados por um só Espírito, e tornados um só corpo cuja cabeça se chama Cristo. Além disso, os próprios anjos pertencem a essa única Igreja, de acordo com a doutrina do Apóstolo que nos ensina que em Cristo Jesus são reconciliadas todas as coisas, não somente as da terra, como também as do céu” (Nicetas, De Symbolo, 5,10).

Essa comunhão dos cristãos nos mesmos bens torna ainda mais bonita a relação entre santos e pecadores na Igreja.

Os santos dos céus não estão tão absorvidos na sua própria felicidade que se esqueçam das almas que deixaram para trás. Na verdade, ainda que quisessem, não o poderiam fazer. O seu perfeito amor a Deus inclui um amor a todas as almas em que o Espírito Santo mora e pelas quais Jesus morreu. Em resumo, os santos amam as pessoas que Jesus ama, e o amor que os santos dos céus têm pelas pessoas do purgatório e da terra não é um amor passivo. Os santos estão ansiosos por ajudar essas almas, porque agora estão em condições de apreciar o valor infinito delas como antes não podiam. E se a oração de uma pessoa boa na terra pode mover o coração de Deus, como não será a força das orações que os santos oferecem por nós?

Nós de nossa parte devemos venerar e honrar os santos. Não só porque podem e querem interceder por nós, mas porque o nosso amor a Deus assim o exige. Quando se elogia a obra de um artista, honra-se o artista. Os santos são as obras-primas de Deus; quando os honramos, honramos Aquele que os fez, o seu Redentor e Santificador. A honra que se presta aos santos não é subtraída a Deus. Ao contrário, é uma honra que lhe tributamos de uma maneira que Ele mesmo pediu e deseja.

“Aquele que não dá a mão, não é cristão: é um estranho. O pecador estende a mão ao santo, porque o santo oferece a mão ao pecador. E os dois juntos, um puxando o outro, sobem até Jesus, fazem uma cadeia que sobe até Jesus, uma cadeia de mãos dadas. Aquele que não é cristão, aquele que não possui a mínima competência em matéria de cristianismo não dá a mão. O cristão não se define de maneira alguma pela secura, mas pela comunhão” (Péguy).


Santos(as) somos todos(as) porque o divino nos fortalece - Pe Adroaldo Palaoro


“Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,12)

A festa de “Todos os Santos” pode ter um profundo sentido se a entendemos como convite à comunhão de todos em Deus. Não recordamos a santidade de cada um como indivíduos separadamente.

Celebramos a Santidade de Deus que se faz visível em cada um(a). Não se trata de distinguir melhores e piores, mas de tomar consciência daquilo que “há de Deus” em todos nós. Não estamos falando de nossas qualidades, mas de Deus, nossa essência, o tesouro que carregamos em vaso de barro.

Que celebramos realmente hoje? Embora a festividade litúrgica se refira aos santos e santas canonizados(as) pela Igreja, a verdade é que deveríamos ter a coragem de ir mais além e abordar em profundidade a concepção bíblica sobre a santidade para celebrar também hoje o fato inquestionável de que, por sermos criaturas divinizadas, todos somos santos e santas. Por isso, além de fazermos memória de toda a corte celestial, hoje deveríamos celebrar nosso próprio “santo” particular, não o do santo de nosso onomástico, mas o que corresponde a cada um de nós.

A única diferença entre nós e os santos canonizados, à qual a liturgia de hoje se refere, é que estes foram reconhecidos como “exemplares” por um alto tribunal da Igreja após uma rigorosa análise de sua vida e uma prova sobrenatural de que eles dispunham da força de Deus para fazer um milagre. Mas a realidade é que tanto eles como todos nós, que ainda continuamos nossa peregrinação terrestre, estamos sempre com Deus, revestidos necessariamente de sua santidade. A canonização é a forma que a Igreja tem de reconhecer virtudes heroicas de alguns de seus fiéis e de apresentá-los como exemplares para que os tenhamos como referência inspiradora no seguimento de Jesus.

“Fazer memória” dos santos e santas é poder afirmar: a santidade é um modo de viver inspirado na santidade divina. Não é um atributo a ser conquistado por nossos méritos ou por nossas excelsas virtudes, mas porque em nós continua refletindo-se o rosto santo de Deus. Nossa vocação à santidade significa deixar transparecer, no nosso modo de ser e viver, a Santidade do Deus Providente e cuidadoso.

Assim celebrada, a festa de hoje se converte numa autêntica comunhão de todos, de vivos e mortos e inclusive daqueles que ainda só existem na mente e no coração de Deus, ou seja, de todos aqueles que virão depois de nós. Falamos da grande comunhão que Deus realiza com todos os seus filhos e filhas.

Deus é a graça que transborda, a bondade que se derrama, o perfume que se expande, a fonte que mana e corre em todos os seres, transformando e divinizando tudo, sem que percebamos. Deus é a possibilidade universal da santidade, da liberdade para o bem, para a misericórdia, para a justiça.

Uma das imagens bíblicas mais potentes, por sua simplicidade e ternura, e mais antigas, é a de Deus Santo comparado com uma águia que conduz seus filhotes sobre suas asas. Em diferentes textos a Palavra nos aproxima de uma imagem materna, a águia que conduz seus filhotes sobre suas penas e, para ensinar-lhes a voar desce, de vez em quando, para que eles exercitem todas as suas capacidades; no entanto, ela, a águia, voa vigilante, debaixo dos pequenos, como braços sempre abertos para acolhê-los e conduzi-los.

O Deus Santo vem ao nosso encontro e, sobre suas asas, tira nossa vida dos limites estreitos e atrofiados, expandindo-a em direção a horizontes inspiradores de vida e compromisso.

O evangelho deste domingo nos revela que ser santo(a) é fazer das Bem-aventuranças a pauta de seu viver.

As bem-aventuranças constituem a carta magna do Reino e princípio fundamental do(a) seguidor(a) de Jesus para viver a sua vocação à santidade; nela aparece a visão que Jesus tinha e desejava para o ser humano.

Este texto não é apenas uma normativa, uma ética, mas um modo de entender a vida humana; elas oferecem um programa de felicidade e de esperança, ou seja, elas nos ensinam a ser ditosos, no desprendimento e na solidariedade, na pureza de coração e de vida, na liberdade radical, na esperança... tanto no nível pessoal como comunitário.

Jesus nos convida a viver uma felicidade que já está em marcha. A vida é movimento e as bem-aventuranças possibilitam a passagem de uma vida suportada para uma vida plenamente assumida.

Nelas, Jesus nos desperta para sairmos de nossa paralisia e fixação, colocando-nos em marcha através de nossa fome e sede de justiça, através dos lutos que temos de superar e das oposições que temos de enfrentar, através da mansidão, da busca da paz, da presença compassiva...

As bem-aventuranças são um resumo das atitudes básicas que devemos nós, seguidores(as) de Jesus, ter diante dos irmãos, seguindo as pegadas de Seu exemplo.

Jesus afirma que são felizes os que têm como desejo fundamental em sua vida a fome de que se cumpra na humanidade o Projeto de Deus Pai. Mas sofrem porque se dão conta de que estão longe do ideal divino. E por isso se solidarizam, visceralmente com misericórdia, com as vítimas do anti-reino, mas sem violência, nem improvisações, senão com a mansidão eficaz de uma boa preparação e planejamento; e com coração puro, cheio de amor, sem manchas egoístas de interesses pessoais.

Assim se convertem em construtores da paz, essa paz de Cristo, que não é a do mundo, senão fruto da justiça de Deus.

São felizes os que sabem manter-se firmes nesta atitude cristológica, apesar das oposições e perseguições que o mundo dos orgulhosos possa lhes infligir.

Estes são verdadeiramente os pobres em espírito, que optaram por ser pobres como Jesus, e por isso sabem compartilhar com seus irmãos tudo o que são e tem, e assim conseguem o cume da felicidade.

Deles é o Reino de Deus, pois eles são seriamente “filhos de Deus”.

Mas, o que mais nos surpreende é que, relendo e saboreando as nove bem-aventuranças, nos encontramos com o inesperado: nenhuma delas indica práticas relacionadas com a religião. Elas indicam condutas relacionadas com a vida, com esta vida, com as condições e atitudes a partir das quais se pode fazer algo eficaz para que esta vida seja mais humana, mais leve, mais feliz.

Aqui está a surpreendente novidade do projeto oferecido por Jesus. Ele não promulgou mandamentos, nem um código de moral, muito menos uma lista de proibições; simplesmente anunciou bem-aventuranças. Ou seja, passamos de uma ética de “deveres e obrigações” para uma ética de “felicidade e ventura”.

O famoso biblista Joaquim Jeremias disse que o Sermão da Montanha não é Lei, mas Evangelho, de tal forma que a diferença entre um e outro é esta: “A Lei põe o ser humano diante de suas próprias forças e pede-lhe que as use até o máximo; o Evangelho situa o ser humano diante do dom de Deus e pede-lhe que converta verdadeiramente esse dom inefável em fundamento de sua vida”.

Jesus compreendeu que o meio mais eficaz e mais direto para nos aproximar do Deus Santo, e para que vivamos a santidade como seres humanos, não é estabelecer proibições, mas fazer propostas que mais e melhor se harmonizem com nossa condição humana, com aquilo que mais desejamos.

A experiência histórica nos ensina que os mandatos e as proibições têm cada vez menos força para modificar a vida das pessoas. Todo mandamento e toda proibição têm certos limites, aos quais alguém se ajusta e assunto encerrado. Enquanto a proposta da felicidade contém em si uma busca sem limites. Aqui se constata até onde chega a generosidade de uma pessoa, sua fé e a entrega a uma causa que leva a sério.


Para meditar na oração:

Rezar as dimensões da vida que estão paralisadas, impedindo-lhe viver a dinâmica das bem-aventuranças. Viver a santidade no cotidiano é “arriscar-se” em Deus; é navegar no oceano da gratuidade, da compaixão, da solidariedade, da justiça...


Festa de Todos os Santos - Quininha Fernandes

 

O construtor da paz é santo e bem-aventurado porque clama por um mundo de amor onde haja vida e liberdade.

Hoje a liturgia celebra a festa de Todos os Santos, que se encontra sempre registrada no nosso calendário no dia 1o de novembro.

No princípio a Bíblia reservou a Iahweh o título de “Santo”, palavra que tinha então um significado muito próximo ao “sagrado”: Deus é o “Outro”, tão transcendente e tão longíquo que o ser humano não pode pensar em participar da sua vida. Mas em Jesus, tornado “Senhor” pelo Pai, toda a humanidade fica “santificada” levando as pessoas a participar da sua santidade.

A santidade cristã manifesta-se, pois, como uma participação na vida de Deus, que se realiza numa vida de intimidade amorosa com Deus e com os irmãos. A santidade não é o fruto do esforço humano, que procura alcançar a Deus com suas forças; ela é dom do amor de Deus, é resposta do ser humano à iniciativa divina.

No Evangelho de hoje, Jesus anuncia que são bem-aventurados, felizes, santos, os que buscam o Reino de Deus e sua justiça. Jesus está diante de uma multidão! Subiu à montanha e assume uma posição de mestre, n’Ele o divino e o humano se encontram: É o Filho de Deus que fala ao povo.

As bem-aventuranças resumem todas as expressões de amor fraterno. De maneira clara elas exaltam os pobres, os que sofrem e os que lutam por justiça.

As bem-aventuranças não indicam um estado de felicidade de alguém que se esforça e se aplica em crescer em virtudes pessoais, mas reforçam sim a felicidade da comunhão com os irmãos, particularmente os excluídos, em um processo de libertação e integração social, e nesta comunhão com os irmãos, a felicidade da própria comunhão com Deus.

Ao anunciar “felizes os pobres em espírito”, Jesus quer dizer que são todos aqueles que têm atitudes de total confiança no Senhor; felizes os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça significa que o reinado de Deus é a busca e prática da justiça.

Estas bem-aventuranças têm em vista a transformação da sociedade; a fome e a sede de justiça devem levar à misericórdia, que impulsiona a ação solidária, tendo em vista a construção de um mundo sem ambição e violência. São felizes, são bem-aventurados e santos os misericordiosos, os puros de coração e os que promovem a paz.

Aqui não se trata de puro sentimentalismo, mas de verdadeiro culto a Deus que leva a criar laços de solidariedade a partir de uma efetiva prática da justiça.

O construtor da paz incomoda com sua presença e grita bem alto diante das situações injustas, não-éticas, opressoras… O construtor da paz é santo e bem-aventurado porque clama por uma mundo de amor onde haja vida e liberdade. E estes serão perseguidos, injuriados, difamados… qual é a novidade? Jesus pede que se alegrem quando passarem por estas situações por causa d’Ele, pois terão sua recompensa nos céus!

Bem aventurado é sinônimo de feliz, de santo! A sutileza do evangelho desta festa consiste em entender que as situações descritas não são objeto de santidade: fome, pobreza, injustiça, injúria, perseguição, lágrimas são expressões do mal, do não-Reino de Deus, mas as pessoas que não se deixam derrotar por elas, são santas e bem-aventuradas.

Se nos identificamos com as práticas lembradas por Jesus neste belíssima página de Mateus, podemos então celebrar, pois hoje é também o nosso dia: Dia de Todos os Santos! Não só dos que foram canonizados e estão nos nossos altares, mas também de tantos que anonimamente fazem o bem, defendem os pobres, lutam pela justiça e de todos nós que estamos tentando, fazer o mesmo!

Neste festa recuperemos a nossa fé no céu! E como nos diz o amigo teólogo Pagola: “Acreditar no céu para mim é rebelar-me com todas as minhas forças a que esta imensa maioria de homens, mulheres e crianças, que só conheceram nesta vida miséria, fome, humilhação e sofrimentos, fique enterrada para sempre no esquecimento.

Confiando em Jesus, creio numa vida onde já não haverá pobreza nem dor, ninguém estará triste, ninguém terá que chorar. Eu os verei chegar à sua verdadeira pátria”. Também acredito neste céu! Amém.

Quininha Fernandes. Assessora das CEBs do Brasil


 A felicidade que nasce da compaixão - Ana Maria Casarotti


No texto evangélico que a liturgia deste domingo nos oferece, destacam-se, em primeiro lugar, três ações: Jesus vê a multidão, sobe ao monte e senta-se. Parece que ao ver a multidão que o segue Jesus reconhece nela um convite, um apelo a transmitir a forma e o projeto de vida que será o fundamento do Reino. Depois de se sentarem, os discípulos se aproximam de Jesus e Ele começa a ensinar como viver a felicidade compartilhada.

Ao longo da história, muito se estudou e publicou sobre as bem-aventuranças e a profunda mensagem nelas contida. Às vezes eram incompreendidos e a felicidade ou bem-aventurança estava diretamente relacionada a uma certa passividade diante do que cada pessoa tem que viver. A mensagem de Jesus foi entendida como um certo chamado à paciência e, de alguma forma, a ser vítima sofredora e ineficaz diante da dor própria ou alheia. Permanecer inativo diante da injustiça, diante da fome, porque a recompensa viria depois da morte. Se uma pessoa passar fome agora, será recompensada no céu. Se alguém estiver agora aflito, no céu, será consolado.

Ressaltamos que Jesus não fala em termos de individualidade, mas dirige-se a um grupo de pessoas e por isso o faz no plural: são felizes! Desta forma ele nos diz que a felicidade não é possível se não for compartilhada. A alegria do Reino só pode ser vivida em comunidade. É nesta perspectiva que podemos compreender e viver o espírito das bem-aventuranças e ser imbuídos da novidade da sua mensagem.

“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu”.

Jesus promete “ter” o Reino para aqueles que são pobres de espírito. Parece que o Reino é tão grande que só quem deixa espaço na sua vida para ele pode recebê-lo e de alguma forma possuí-lo. O reino não é compatível com outras opções ou posses. É preciso esvaziar-se, ser necessário, acolher, conhecer e assim usufruir das riquezas do Reino. É fundamental o desapego daquilo que pode nos prender ou manter-nos escravos de determinados bens, para que os nossos sentidos sejam sensíveis ao Reino que pulsa nas nossas vidas e comunidades.

“Felizes são os aflitos, porque serão consolados”.

Os aflitos são mais vulneráveis e por isso são mais sensíveis à dor e reconhecerão o consolo nas diferentes formas que ela apresenta. Jesus está falando pelo nosso presente. A sua mensagem não é para um “além”, mas pelo contrário, ele está nos ensinando a viver comunitariamente as diferentes situações pelas quais passa a nossa caminhada neste mundo. Cada pessoa humana sabe o que significa estar triste, magoado, pesaroso. E também todos sabemos que estes momentos geraram nas nossas vidas e nas nossas comunidades uma maior empatia com aqueles que sofrem e passam por situações semelhantes. Por isso, o consolo que se comunica não são as palavras, mas é uma experiência de vida que se transparece através de uma palavra, de um gesto, do apoio de um grupo específico que não exige uma mudança imediata, mas, pelo contrário, nos encoraja. passar por aquele momento de dor e aflição.

"Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados".

Aqueles que têm fome e sede procuram uma forma de satisfazer essa necessidade. Jesus acolhe esta experiência vital de cada ser humano, mas une-a à justiça. A mesma busca pela justiça leva a viver um estilo de vida onde a honestidade e a verdade são os trilhos que apontam o caminho. É impossível separar esse profundo anseio por justiça da alegria do desejo satisfeito.

Hoje celebramos todas as pessoas que já estão junto ao Pai no Céu, mas também aqueles que estão ao nosso redor e procuram comunicar a verdadeira alegria do Reino de Deus. Eles e elas são felizes porque procuram que sua vida e a vida das suas comunidades sejam conduzida pela pobreza, pela compaixão, pela verdade e na sinceridade. Pecamos ao Deus da vida que guie nosso caminhar para viver sempre conforme a sua mensagem de vida e esperança.

"Felizes os puros de coração, porque verão a Deus".

Ser puro de coração é não deixar que mentiras ou enganos orientem as decisões e ações de cada pessoa e comunidade. A sinceridade de uma vida que leva ao reconhecimento dos erros e dos acertos traz consigo uma paz interior que irradia alegria. Como disse o salmista: “Os preceitos de Jesus são desafios, alegria para o coração. O mandamento de Javé é transparente, é luz para os teus olhos” (Sl 18, 9).

Hoje, celebramos todas as pessoas que estão próximas do Pai do Céu, mas também aquelas que nos rodeiam e procuram comunicar a verdadeira alegria do Reino de Deus. Eles são felizes porque tentam garantir que as suas vidas e as vidas das suas comunidades sejam guiadas pela pobreza, pela compaixão, pela verdade e pela sinceridade. Pecamos para o Deus da vida que nos guia em nosso caminho para viver sempre de acordo com sua mensagem de vida e esperança.


 As Bem Aventuranças-FREI CARLOS MESTERS

 

No Evangelho de Mateus, escrito para as comunidades de judeus convertidos da Galileia e Síria, Jesus é apresentado como o novo Moisés, o novo legislador. 

No AT a Lei de Moisés foi codificada em cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Imitando o modelo antigo, Mateus apresenta a Nova Lei em cinco grandes Sermões espalhados pelo evangelho:

 

1) O Sermão da Montanha (Mt 5,1 a 7,29);

2) O Sermão da Missão (Mt 10,1-42);

3) O Sermão das Parábolas (Mt 13,1-52);

4) O Sermão da Comunidade (Mt 18,1-35);

5) O Sermão do Futuro do Reino (Mt 24,1 a 25,46). 

 

As partes narrativas, intercaladas entre os cinco Sermões, descrevem a prática de Jesus e mostram como ele observava a nova Lei e a encarnava em sua vida.

 

*Mateus 5,1-2: O solene anúncio

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.

 

De acordo com o contexto do evangelho de Mateus, no momento em que Jesus pronunciou o Sermão da Montanha, havia apenas quatro discípulos com ele (cf. Mt 4,18-22). Pouca gente. Mas uma multidão imensa estava à sua procura (Mt 4,25). No AT, Moisés subiu o Monte Sinai para receber a Lei de Deus. Como Moisés, Jesus sobe a Montanha e, olhando o povo, proclama a Nova Lei. 

 

É significativa a maneira solene como Mateus introduz a proclamação da Nova Lei: “Ao ver as multidões Jesus subiu o monte e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo: Felizes os pobres em Espírito, pois deles é o Reino do Céu”

 

As oito Bem-Aventuranças formam a solene abertura do "Sermão da Montanha". Nelas Jesus define quem pode ser considerado feliz, quem pode entrar no Reino. São oito categorias de pessoas, oito portas de entrada para o Reino, para a Comunidade. Não há outras entradas! Quem quiser entrar no Reino terá que identificar-se ao menos com uma destas oito categorias.

 

*Mateus 5,3: Felizes os pobres em espírito

Jesus reconhece a riqueza e o valor dos pobres (Mt 11,25-26). Define sua própria missão como “anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4,18). Ele mesmo, vive como pobre. Não possui nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Mt 8,20). E a quem quer segui-lo ele manda escolher: ou Deus, ou o dinheiro! (Mt 6,24). No evangelho de Lucas se diz: “Felizes vocês pobres!” (Lc 6,20). Então, quem é o “pobre em espírito”? É o pobre que tem o mesmo espírito que animou Jesus. Não é o rico. Nem é o pobre com cabeça de rico. Mas é o pobre que, como Jesus, acredita nos pobres e reconhece o valor deles. É o pobre que diz: “Eu acredito que o mundo será melhor quando o menor que padece acreditar no menor”.

 

1.Felizes os pobres em espírito - deles é o Reino dos Céus 

2.Felizesos mansos - herdarão a terra 

3.Felizes os aflitos - serão consolados - serão saciados 

5.Felizesos misericordiosos - em espírito”. É o pobre que tem o mesmo espírito que animou Jesus. Não é o rico. Nem é o pobre com cabeça de rico. Mas é o pobre que, como Jesus, acredita nos pobres e reconhece o valor deles. 

6.Felizesos de coração puro - verão a Deus

7.Felizesos promotores da paz - serão filhos de Deus

8.Felizes os perseguidos por causa da justiça – deles é o Reino dos Céus

 

*Mateus 5,4-9: O novo projeto de vida

Cada vez que na Bíblia se tenta renovar a Aliança, se recomeça restabelecendo o direito dos pobres e dos excluídos. Sem isto, a Aliança não se refaz! Assim faziam os profetas, assim faz Jesus. Nas bem-aventuranças, ele anuncia o novo Projeto de Deus que acolhe os pobres e os excluídos. Ele denuncia o sistema que exclui os pobres e persegue os que lutam pela justiça. A primeira categoria dos “pobres em espírito” e a última categoria dos “perseguidos por causa da justiça” recebem a mesma promessa do Reino dos Céus. E a recebem desde agora, no presente, pois Jesus diz “deles é o Reino!” O Reino já está presente na vida deles. Entre a primeira e a última categoria, há três duplas ou seis outras categorias de pessoas que recebem a promessa do Reino. Nestas três duplas transparece o novo projeto de vida que quer reconstruir a vida na sua totalidade através de um novo tipo de relacionamento: com os bens materiais (1ª dupla); com as pessoas entre si (2ª dupla); com Deus (3ª dupla). A comunidade cristã deve ser uma amostra deste Reino, um lugar onde o Reino começa a tomar forma desde agora.  

 

*As três duplas: 

 

Primeira dupla: os mansos e os aflitos: Os mansos são os pobres de que fala o salmo 37. Eles foram privados de suas terras e vão herdá-las de novo (Sl 37,11; cf Sl 37.22.29.34). Os aflitos são os que choram diante da injustiça no mundo e no povo (cf. Sl 119,136; Ez 9,4; Tob 13,16; 2Pd 2,7). Estas duas bem-aventuranças querem reconstruir o relacionamento com os bens materiais: a posse da terra e o mundo reconciliado. 

 

Segunda dupla: os que tem fome e sede de justiça e os misericordiosos: Os que tem fome e sede de justiça são os que desejam renovar a convivência humana, para que ela esteja novamente de acordo com as exigências da justiça. Os misericordiosos são os que temo coração na miséria dos outros porque querem eliminar as desigualdades entre os irmãos e irmãs. Estas duas bem-aventuranças querem reconstruir o relacionamento entre as pessoas através da prática da justiça e da solidariedade. 

 

Terceira dupla: os puros de coração e os pacíficos: Os puros de coração são os que tem um olhar contemplativo que lhes permite perceber a presença de Deus em tudo. Os que promovem a paz serão chamados filhos de Deus, porque eles se esforçam para que a nova experiência de Deus possa penetrar tudo e realize a integração de tudo (Shalôm). Estas duas bem-aventuranças querem reconstruir o relacionamento com Deus: ver a presença atuante de Deus em tudo e ser chamado filho e filha de Deus.

 

*Mateus 5,10-12: Os perseguidos por causa da justiça e do evangelho

As bem-aventuranças dizem exatamente o contrário do que diz a sociedade em que vivemos. Nesta, o perseguido pela causa da justiça é visto como um infeliz. O pobre é um infeliz. Feliz é quem tem dinheiro e pode ir no supermercado e gastar à vontade. Feliz é quem tem fama e poder. Os infelizes são os pobres, os que choram! Na televisão, as novelas divulgam este mito da pessoa feliz e realizada. E sem nos se dar conta, as novelas acabam se tornando o padrão de vida para muitos de nós. Será que na nossa sociedade ainda há lugar para estas palavras de Jesus: “Felizes os perseguidos por causa da justiça e do evangelho! Felizes os pobres! Felizes os que choram!”? E para mim, que sou cristão ou cristã, quem é feliz de fato? 

 

TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIAN NANNINI, ARGENTINA

SOLEMNIDAD DE TODOS LOS SANTOS

 

            En esta solemnidad de todos los santos se aplica el principio de la lectura litúrgica de los textos bíblicos. Por tanto, el tema transversal a la luz del cual hay que considerar las tres lecturas de hoy es la "santidad" pues el sentido de esta solemnidad es celebrar a todos aquellos cristianos que ya gozan de la presencia de Dios en el cielo, canonizados o no.

 

Primera lectura (Ap 7,2-4.9-14):

 

            Al vidente del Apocalipsis se le concede contemplar "una enorme muchedumbre, imposible de contar, formada por gente de todas las naciones, familias, pueblos y lenguas. Estaban de pie ante el trono y delante del Cordero, vestidos con túnicas blancas; llevaban palmas en la mano y exclamaban con voz potente: ¡La salvación viene de nuestro Dios que está sentado en el trono, y del Cordero!". 

            Se resalta aquí que son innumerables los que forman este grupo y que su proveniencia es muy diversa. Reflejan de este modo la universalidad de la Iglesia. Y ¿cuál es su situación? Están en la presencia de Dios llevando los signos de la pureza (vestiduras blancas) y de la victoria (palmas en las manos). Y hacen una excelente profesión de fe: la salvación viene de Dios y de Jesucristo (el Cordero). Sólo en Dios se encuentra la salvación definitiva. Y la misma se alcanza por la sangre del Cordero, el único que puede "santificar" a los hombres para que accedan a la presencia del Tres veces Santo.

            En síntesis, los santos serán muchísimos y de todo origen, o sea que se cumple el llamado universal a la santidad que Dios hace. Están en la presencia de Dios y han sido transformados por la fuerza del misterio pascual de Jesucristo. 

 

Segunda Lectura: 1Jn 3,1-3

 

            Esta lectura nos ayuda a considerar la santidad como vínculo, como comunión con el Padre que nos ha hecho sus hijos. Esta filiación se vive ahora como una dimensión interior en la vida del creyente, por eso el mundo no puede reconocerla. Pero cuando al final de los tiempos esta realidad ontológica del cristiano se manifieste, quedará patente la excelencia de este vínculo por cuanto Dios nos ha hecho semejantes a Él y lo veremos tal cual es. Por tanto, se trata de una santidad oculta a los hombres, pero real a los ojos de la fe. Y esto la hace difícil pero meritoria. Se trata de una vivencia expectante, de una esperanza que nos va purificando y asemejando a Él; y así nos prepara para el día del cara a cara, de la visión de su santidad y de nuestra propia y asombrosa santificación.

 

 

Evangelio: Mt 4,25-5,12

 

En el evangelio de hoy podemos distinguir la introducción narrativa (4,25-5,2), que vale para todo el Sermón de la Montaña (SM cf. Mt 5-7), y las bienaventuranzas (5,3-12) que son el prólogo o exordio del Sermón reflejando el gozo por la llegada del Reino.

La introducción del Sermón de la Montaña nos presenta el auditorio y el lugar del discurso. En un primer momento pareciera dirigido sólo a sus discípulos, pero en realidad se incluye a la gran multitud que lo seguía (cf. 4,25; 5,1; 7,28)[1]. Para pronunciar su discurso Jesús “subió a la montaña”. Esta descripción no tiene sólo un sentido funcional sino teológico. La montaña remite al Sinaí (Ex 19-20) y al Horeb (Dt 5) donde Dios ha establecido su alianza con Israel y revelado allí su voluntad. 

Jesús se sienta; esta es la posición típica del maestro (cf. 13,2; 24,3) y del juez (cf. 19,28; 25,31). Estar sentado significa segura e indiscutida autoridad y competencia. 

            Siguen las bienaventuranzas, que son ocho, porque si bien el adjetivo maka,rioi (Felices/bienaventurados) aparece 9 veces, la novena vez (5,11) es mejor considerarla como una ampliación de la octava con la intención de aplicarla a la gente presente pues pasa de la 3a a la 2a persona plural. 

            En cuanto a la estructura común a cada bienaventuranza, distinguimos tres elementos:

1)   Un adjetivo en posición predicativa que presupone el verbo ser: “Felices son...”.

2)   Un sujeto con artículo que se refiere a personas caracterizadas por una situación humana penosa (los que lloran, los perseguidos, los insultados) o una actitud positiva desde el punto de vista del evangelio (los pobres de espíritu, los pacientes, los misericordiosos, los que tienen hambre y sed de justicia, los puros de corazón, los que trabajan por la paz).

3)   Una acción divina introducida por un o[ti (porque) causal que da el motivo de la felicidad. Describe la forma cómo los hombres son alcanzados por la acción de Dios, pues son pasivos teológicos. 

 

En cuanto al tiempo, en 1) y 2) no viene indicado, y se presupone una situación presente; mientras que en 3) se refiere al futuro escatológico (5,4-9.12); salvo 5,3.10 que están en presente.

 

Concatenación lógica: 1) es la consecuencia o resultado; 2) la condición; 3) la causa o motivo.

       Es decir, la causa o motivo de la felicidad es lo que aparece al final de cada bienaventuranza, que es la acción de Dios en favor de las personas: darles el Reino, consolarlos, saciarlos, recibir misericordia, etc. El segundo miembro de cada oración describe la condición o la situación de las personas que se verán favorecidas por la acción de Dios y, por ello, son Felices, con una felicidad plena, tal el sentido de maka,rioi: se trata de la declaración de un estado actual de felicidad plena. Se trata de una felicidad que viene a nosotros, no de una felicidad producida por nosotros.

Vale decir que Jesús declara felices a cierto grupo de personas porque reciben el Reino de Dios. Este es el motivo o causa de la felicidad, la llegada del Reino. Y esta bienaventuranza puede convivir con situaciones penosas (aflicción; insultos y persecución) y es la recompensa de los que se esfuerzan por sintonizar con los valores del Reino (alma de pobres; paciencia; hambre y sed de justicia, misericordiosos, corazón puro; trabajan por la paz). 

En síntesis, las bienaventuranzas en primer lugar son declarativas por cuanto señalan como felices a grupos de personas cuyas situaciones o actitudes los hacen beneficiarios de la acción de Dios. Pero al mismo tiempo, de modo indirecto, invitan a vivir exigencias éticas y espirituales, actitudes y comportamientos evangélicos que el discípulo debería desarrollar como condiciones para recibir el Reino de Dios y la felicidad que conlleva. Estas exigencias están motivadas por la promesa del don escatológico del Reino, que es la causa última de la felicidad o bienaventuranza proclamada. Estos dos aspectos, presentes como 2° y 3° miembro respectivamente de cada bienaventuranza, no pueden separarse. Ahora bien, como lo revela la estructura misma, debemos reconocer la primacía del obrar de Dios. Es el reinado de Dios que se acerca (4,18) el motivo de la felicidad y la motivación del obrar humano que se dispone así a recibirlo, a entrar en comunión con Él. 

El orden de las bienaventuranzas tiene también un significado. Las cuatro primeras remiten a la relación del discípulo con Dios, ponderando la apertura humilde y confiada a él; el compromiso por vivir la voluntad del Padre (justicia en Mateo) y la aflicción por no poder hacerlo o no verlo en los demás. Las tres siguientes tratan de la relación con los demás, exaltando la misericordia, la honestidad o integridad y la búsqueda de la paz. La última refiere la actitud que puede provocar en los demás -persecución- la fidelidad en el cumplimiento de la voluntad de Dios. De este ordenamiento podemos deducir que la justa relación con los demás sigue a una justa relación con Dios.

Como conclusión, nos quedamos con lo que en su comentario al Sermón del Monte L. Sánchez Navarro ha escrito[2]: "La moral propuesta por la EM (Enseñanza de la Montaña) es una auténtica "ciencia de la felicidad". En ella, la primacía pertenece al don, a la gracia; pero eso no excluye, sino que implica necesariamente, la adquisición de virtudes sólidas". 

 

Algunas reflexiones:

 

Hoy celebramos a todos los santos declarados oficialmente por la Iglesia, pero también a todos aquellos “santos” a los que se refieren el Papa Francisco en “Alégrense y regocíjense” n° 7: “la santidad en el pueblo de Dios paciente: a los padres que crían con tanto amor a sus hijos, en esos hombres y mujeres que trabajan para llevar el pan a su casa, en los enfermos, en las religiosas ancianas que siguen sonriendo. En esta constancia para seguir adelante día a día, veo la santidad de la Iglesia militante. Esa es muchas veces la santidad «de la puerta de al lado», de aquellos que viven cerca de nosotros y son un reflejo de la presencia de Dios, o, para usar otra expresión, «la clase media de la santidad»”. 

Es importante reconocer y celebrar esta santidad presente en la Iglesia porque tantas veces en los medios de comunicación se publicitan más los pecados de hombres y mujeres que la integran, ciertos y muy tristes por cierto; pero que no son la mayoría. Celebramos hoy que exista tanta gente en Iglesia que vive bien y hace el bien, sin mirar a quien.

 

            Ahora bien, además de festejar a los santos, somos invitados en esta fiesta a entrar nosotros en el camino de la santidad propia de la vida cristiana. Con San Pablo podemos afirmar que santo es aquel que vive y obra guiado por el Espíritu Santo (Rom 8,14-16; Gal 5,16-18); y que la santidad es entonces el fruto de la acción del Espíritu en el creyente. Y también, como decía el Papa san Juan Pablo II: “¿Qué es la santidad? Es precisamente la alegría de hacer la Voluntad de Dios” (Hom. 18-1-1981). Por tanto, “santo” es el que cumple la voluntad de Dios movido por el Espíritu Santo; y la voluntad de Dios es que seamos santos (cf. 1Tes 4,3). 

La santidad es como una semilla plantada en nosotros por el Bautismo y que debe germinar y dar fruto. Por ello la vocación o llamado a la santidad es inherente a la vida de todo cristiano. Así lo enseñaba con insistencia el Concilio Vaticano II: “Todos los fieles cristianos, de cualquier condición y estado, fortalecidos con tantos y tan poderosos medios de salvación, son llamados por el Señor, cada uno por su camino, a la perfección de aquella santidad con la que es perfecto el mismo Padre” (Lumen Gentium n° 11). 

Este “don” de la santidad, por así decir “objetiva”, se da a cada bautizado. Pero el don se plasma a su vez en un “compromiso subjetivo” que ha de impregnar toda la vida del cristiano. Es un compromiso que no afecta sólo a algunos cristianos pues «todos los cristianos, de cualquier clase o condición, están llamados a la plenitud de la vida cristiana y a la perfección del amor» (Juan Pablo II, NMI n° 30). 

Seamos sinceros, no suele resultarnos muy atractivo que nos recuerden que cada uno de nosotros estamos llamados a la santidad. Pero es el sueño de Dios para cada uno de nosotros y hoy tenemos que meditar sobre esto. Dios nos pensó desde toda la eternidad para que seamos santos, dice el himno de la carta a los Efesios. Imaginémonos en un matrimonio joven que está esperando su primer hijo. Cuantos sueños proyectan sobre este fruto eminente de su amor. De modo análogo Dios nos ha pensado y soñado para que seamos santos. Pero no santo “de molde”; sino realizando mi propia personalidad por este camino de plenitud. Al respecto nos dice el Papa Francisco en el “Cristo Vive” n° 162: “Pero te recuerdo que no serás santo y pleno copiando a otros. Ni siquiera imitar a los santos significa copiar su forma de ser y de vivir la santidad: «Hay testimonios que son útiles para estimularnos y motivarnos, pero no para que tratemos de copiarlos, porque eso hasta podría alejarnos del camino único y diferente que el Señor tiene para nosotros». Tú tienes que descubrir quién eres y desarrollar tu forma propia de ser santo, más allá de lo que digan y opinen los demás. Llegar a ser santo es llegar a ser más plenamente tú mismo, a ser ese que Dios quiso soñar y crear, no una fotocopia. Tu vida debe ser un estímulo profético, que impulse a otros, que deje una marca en este mundo, esa marca única que sólo tú podrás dejar. En cambio, si copias, privarás a esta tierra, y también al cielo, de eso que nadie más que tú podrá ofrecer”.

Para bajar a la vida, el evangelio de hoy nos presenta las bienaventuranzas como camino de santidad del cristiano. Sobre esto decía el Papa Francisco: 

“Las bienaventuranzas son el carné de identidad del cristiano; un programa de santidad que va «contracorriente» respecto a la mentalidad del mundo. Así, si alguno de nosotros plantea la pregunta: “¿Cómo se hace para llegar a ser un buen cristiano?”, la respuesta es sencilla: es necesario hacer lo que dice Jesús en el sermón de las bienaventuranzas. Es el programa de vida que nos propone Jesús. Un programa muy sencillo pero muy difícil al mismo tiempo” (Homilía del 9 de junio de 2014).

“Las Bienaventuranzas son el camino que Dios indica como respuesta al deseo de felicidad ínsito en el hombre, y perfeccionan los mandamientos de la Antigua Alianza. Nosotros estamos acostumbrados a aprender los diez mandamientos —cierto, todos vosotros los conocéis, los habéis aprendido en la catequesis— pero no estamos acostumbrados a repetir las Bienaventuranzas. Intentemos, en cambio, recordarlas e imprimirlas en nuestro corazón […] En estas palabras está toda la novedad traída por Cristo, y toda la novedad de Cristo está en estas palabras. En efecto, las Bienaventuranzas son el retrato de Jesús, su forma de vida; y son el camino de la verdadera felicidad, que también nosotros podemos recorrer con la gracia que nos da Jesús” (Catequesis del 6 de agosto de 2014). 

“Las bienaventuranzas son la guía de ruta, de itinerario, son los navegadores de la vida cristiana: precisamente aquí vemos, por este camino, según las indicaciones de este navegador, cómo podemos avanzar en nuestra vida cristiana” (Homilía del 6 de junio de 2016).

            Y, para terminar, la "definición" de la santidad de Sta. Teresita del Niño Jesús: "La santidad consiste en una disposición del corazón que nos hace humildes y pequeños en los brazos de Dios, conscientes de nuestra debilidad y confiados hasta la audacia en su bondad de Padre" (Novísima Verba 3.8.5).

 

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

 

Al ver a la multitud…

 

Déjame imaginar tu mirada, posada sobre aquellos hombres, mujeres y niños

En aquellos días de búsqueda, de curiosidad, de hambre de amor y de pan

 

Solo el verdadero Dios con toda su fuerza y pasión se expresó: ¡FELICES!

¡Era tu deseo tan profundo y pleno! Escuchado por el Padre del cielo.

 

En esta tierra se oyó tu Voz como un trueno y se hizo el silencio: ¡FELICES!

Y nadie quedó fuera de tu clamor que sonó como ruego.

 

Bienvenida la pobreza, que nos hace bajar la cabeza ante la miseria: ¡FELICES!

Y así definiste la riqueza, al alcance de todos, pero no para cualquiera.

 

Y primero fue la misericordia, luego la paciencia y aún la aflicción: ¡FELICES!

Todo significado o concepto se tornó palabra nueva.

 

Los hambrientos de justicia, perseguidos y de puro corazón: ¡FELICES!

Insultados, sedientos de justicia y, aun así, en paz… ¡Hay Señor!

 

De tu inteligencia divina bebamos, del Espíritu Santo Consolador

Abre su mente el hombre de hoy y se ablande su herido corazón.

 

La felicidad pronunciada así, nos vuelve pequeños y protegidos

En manos del Todopoderoso volvemos a esperar como niños …

 

La recompensa que será para nuevos y antiguos profetas

Después de este tiempo que pasa, contigo entrar en la Gloria Eterna. Amén 


[1] “El SM tiene dos círculos concéntricos de oyentes: los discípulos y el pueblo. Esto excluye determinadas interpretaciones del SM: no se puede hablar de una ética para discípulos en sentido estricto ni de una ética reservada a los perfectos. El SM es una ética para discípulos, pero ésta es válida también para el pueblo que escucha”, U. Luz, Mateo, I, 276.

[2] La Enseñanza de la Montaña. Comentario contextual a Mateo 5-7 (Verbo Divino; Estella 2005) 23-24.