7º PÁSCOA-A-ASCENSÃO

ASCENSÃO DO SENHOR -A

21/05/2023 

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


Primeira Leitura: Atos 1,1-11 


Salmo Responsorial 46(47) R- Por entre aclamações Deus se elevou, / o Senhor subiu ao toque da trombeta! 


Segunda Leitura: Efésios 1,17-23 


Evangelho:  Mateus 28,16-20

Os onze discípulos voltaram à Galiléia, à montanha que Jesus lhes tinha indicado.17 Quando o viram, prostraram-se; mas alguns tiveram dúvida. 18 Jesus se aproximou deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.19 Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo 20- e ensinando-os a observar tudo o eu vos ordenei! Eis que eu estarei convosco até ao fim do mundo”.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP


Mt 28,16-20

Os textos da liturgia da Ascensão estão carregados de uma forte tensão espiritual. De fato, o evento da subida aos céus provoca reações de saudades, de tristeza e de temor nos discípulos. Os amigos de Jesus experimentam a ascensão como um distanciamento, quase como se estivessem sendo abandonados. Ainda era forte neles a impressão das aparições do Ressuscitado, ainda desejavam eles sentir de maneira quase física a proximidade do Mestre. A subida de Jesus ao céu parece interromper essa experiência de proximidade e de presença. Por isso eles se sentiam um pouco decepcionados: depois de tanta alegria provocada pela ressurreição e pelas aparições, vivem a ascensão como uma nova separação.

Por que os discípulos têm tanta dificuldade com a ascensão de Jesus? A dificuldade deles consiste na resistência deles em aceitar que as relações com Jesus sejam transformadas. É a dificuldade de permitir que o vínculo com Jesus amadureça de uma maneira totalmente nova em relação à condição terrena anterior. É como se os discípulos quisessem ainda uma relação com o Jesus da tumba. “Ascender ao céu” significa de fato desaparecer da vista, mas não é desaparecer dos olhos da fé. Não é o mesmo que se ausentar do coração que ama e deseja na esperança.

O evangelista Lucas faz uma afirmação importante para viver a ascensão dessa forma. “Então os olhos deles se abriram e o reconheceram. Ele, porém, desapareceu da vista deles” (Lc 24,31). Esse momento em que Jesus desaparece da vista dos discípulos de Emaús é já “ascensão do Senhor”. Jesus desaparece da vista dos discípulos porque agora, com os olhos do coração e da fé abertos, a visão física de Jesus não é mais necessária. Ele desparece da vista deles porque a relação com o Ressuscitado foi transformada totalmente. A partir da ressurreição, a relação com Jesus é uma relação espiritual (participa da liberdade, da profundidade, da plenitude do Espirito).

A ascensão inaugura assim o novo tempo da presença glorificada de Jesus entre os discípulos e na Igreja. Inaugura o novo “tempo dos sinais”, isto é, o tempo em que a presença de Jesus ressuscitado se dá de modo real nos mistérios da salvação. No que consiste esta presença de Jesus nos mistérios? É a presença real de Jesus nos sinais que Ele próprio deixou: a Igreja, os sacerdotes, os sacramentos, o amor fraterno, a Palavra, o pobre. Todas estas são formas de presença real de Cristo. Neste novo tempo (tempo que começa com a ascensão e se concluirá com a segunda vinda de Cristo na sua glória), serão os sinais que trarão a presença do glorificado entre nós. Ou melhor: o Ressuscitado permanecerá mais presente do que nunca através dos sinais visíveis que ele mesmo deixou para nós até a sua segunda vinda.

A ascensão inaugura também o tempo da missão da Igreja. Jesus mandou batizar. Ele nos deixou o sacramento essencial para a salvação, o sacramento para ser recebido na Igreja e para se vincular definitivamente a Jesus. 

O mandato de Jesus é universal. É universal como a salvação que Ele trouxe. A missão se estende a todas as nações não por motivos proselitistas, mas porque se a salvação não for universal não é salvação que mereça tal nome. 

A salvação que Deus deseja para todos consiste na ascensão de todos para além da condição terrena na qual todos nascemos. Deus deseja que participemos da sua natureza divina. Deseja que sejamos deus com Ele e em comunhão com Ele. Mesmo tendo origem da terra e permanecendo terrestres, o desígnio de Deus consiste em que todos sejam mais do que pó e barro da terra: Ele quer que estejamos sempre com Ele. Por isso nos enviou o Filho e também pelo mesmo motivo glorificou a humanidade assumida pelo Filho na encarnação. A missão da Igreja consiste em levar a todos essa Boa Notícia. Mais do que isso: na força do Espírito, a Igreja leva a todos o poder de se tornar filho de Deus. Não é um poder próprio. Esse poder foi confiado por Jesus ao mandar batizar todos os povos.

Evangelizar é, portanto, anunciar e transmitir a todos este poder de subir ao céu, onde está Jesus sentado à direita do Pai. A orientação definitiva e última da nossa vida é Jesus Glorificado. Sabemos que viemos do pó da terra, mas a ascensão nos põe diante deste mistério da glorificação da humanidade de Jesus que é antecipação e sinal da nossa.


Ascensão: quando “subir” significa “descer” - Pe Adroaldo Palaoro


“Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,20)


Na dinâmica do Tempo Litúrgico, após uma longa e criativa caminhada com Jesus, a liturgia nos faz “desaparecer em Deus”, como o Cristo da Ascensão “desapareceu em Deus”.

“Depois de sua paixão, Jesus mostrou-se vivo a eles, com numerosas provas; apareceu-lhes por um período de quarenta dias, falando do Reino de Deus” (At 1,3).

Tivemos, portanto, 40 dias que nos prepararam para acolher a nova maneira de presença de Jesus, depois que, segundo nos diz o evangelho, Ele “ascendeu” ao céu.

O número 40 aparece com frequência na Bíblia, sempre relacionado com tempos de experiências vitais profundas, cruciais, fundantes. Algumas vezes, tempo de caminho incansável, outras vezes, tempo de espera paciente, mas sempre tempos de busca, preparação, escuta e crescimento pessoal ou comunitário.

Falamos, então, de tempo (40 dias) e espaço (a ascensão ao céu). Tempo e espaço que, de modo claramente pedagógico, são utilizados pelo evangelho como meios de preparação para que possamos amadurecer o nosso processo no seguimento de Jesus Cristo.

Por tudo isso, é importante que estejamos atentos às últimas palavras que Jesus nos diz no evangelho de hoje: “Ide, pois, fazei discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Fica claro que Jesus, ao “subir”, coloca seus seguidores em movimento. “Por que ficais aqui, parados?”, dirá o livro dos Atos.

Portanto, não percamos tempo; já tivemos o tempo suficiente, 40 dias. Já não há desculpas. O Senhor não só nos preparou para esse momento, mas promete continuar ao nosso lado, atuar junto a nós e confirmar a nossa missão de sermos presenças inspiradas e criativas no mundo. Não fiquemos parados!

Mateus culmina seu evangelho relatando a despedida de Jesus. Aqui não aparece nenhuma “subida”; o que há é a promessa de uma permanente presença de Jesus. Mais que uma “subida”, há um “permanecer”, um estar todos os dias, uma contínua solidariedade. Não há ausência de Jesus, mas um novo modo de presença, a “d’Aquele que não tinha deixado o Pai ao descer à terra, nem tinha abandonado os seus discípulos ao subir ao céu” (S. Leão Magno). Por meio do Espírito se realiza este novo modo de presença. O Espírito faz com que Jesus Cristo, que se foi, venha agora e sempre de um modo novo. O Espírito não é uma compensação pela ausência de Jesus, mas o modo como Ele se faz presente. Graças ao Espírito continua a atividade salvífica d’Ele; graças ao Espírito, as palavras de Jesus se fazem novas, atuais, presentes.

Os Onze discípulos retornam à Galileia; são onze, porque um se perdeu, símbolo do perigo que correrá cada discípulo e cada comunidade. Eles voltam ao lugar onde tinham experimentado a sedução do primeiro chamado: “Segui-me e farei de vós pescadores do humano”. Tinham seguido Jesus com entusiasmo, embora lhes tenha custado muito entendê-lo e, sobretudo no final, o quão difícil foi superar o trauma de sua morte na Cruz e reconhecer no Crucificado a plenitude da Vida.

Jesus lhes indica com toda precisão qual deve ser a missão deles. Não é propriamente “ensinar uma doutrina”, não é só “anunciar o Ressuscitado”. Sem dúvida, os discípulos de Jesus deverão cuidar diversos aspectos: “dar testemunho do Ressuscitado, “proclamar o Evangelho”, “implantar comunidades” ..., mas tudo está finalmente orientado a um objetivo: “fazer discípulos de Jesus”.

A festa da Ascensão nos recorda que Jesus não “subiu” fisicamente ao céu. A Ascensão do Senhor é outra coisa; se “subiu” é porque primeiro “desceu”. Porque se “humanizou”, fazendo-se servidor, foi “exaltado por Deus” (Fil 2,9). “Quem se humilha, será exaltado” (Mt 23,12). Só a partir desta atitude é possível compreender a recomendação que Jesus faz a seus seguidores(as): aquele(a) que quer ser o primeiro, que seja o(a) servidor(a) de todos.

Subir, elevar-se, estar acima dos outros, triunfar, conquistar o primeiro lugar... são expressões que se revelam sempre tentadoras. “Subir” é a aspiração de todo ser humano no terreno político, laboral, financeiro, esportivo, relacional… Assim funciona a nossa sociedade competitiva.

Mas, “entre vós não deve ser assim”, nos diz Jesus. Quando buscamos as “subidas”, nossas obras serão de morte (ódio, competição, divisão, indiferença...) e as obras de vida serão esvaziadas; é preciso viver a “mística da descida”, ou seja, acolher o estrangeiro, atender ao enfermo, defender o maltratado, perdoar quem nos ofende... Se entrarmos no “fluxo de descida” de Jesus, nossas obras serão de vida.

Agora, Jesus nos convoca de novo à Galileia, à montanha das bem-aventuranças, para nos confiar outra missão, muito mais exigente: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos”. Não temos de voltar à Jerusalém, o centro do poder político e religioso, que havia crucificado o Mestre. O horizonte é agora universal: “todos os povos”, sem nenhuma discriminação. Encontraremos raças diferentes, línguas desconhecidas, culturas surpreendentes. Não teremos de mudá-las, mas iluminá-las com a verdade e a originalidade do modo de ser e viver de Jesus.

Diremos só uma palavra essencial: “amem-se”. Amem-se com a riqueza de suas próprias tradições, com a originalidade de seus próprios costumes e ritos. Amem-se e conheçam Aquele que nos amou primeiro, que entregou sua vida por amor. Não translademos a outros povos nossa cultura, não imponhamos nossos costumes e nossas leis; não preguemos outra lei a não ser o mandamento do amor, pois muitos a praticam em diferentes formas, iluminados pelo mesmo Espírito que não se deixa prender por uma instituição ou religião.

E batizemos “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”: inundemos o mundo do amor da Trindade santa, comunidade de amor que nos faz partícipes de sua vida divina.

Esta é a nossa missão: fazer “seguidores” de Jesus para que conheçam sua mensagem, sintonizem-se com seu projeto, aprendam a viver como Ele e prolonguem hoje a presença d’Ele no mundo. Atividades tão fundamentais como o batismo, compromisso de adesão a Jesus e o ensinamento a observar tudo o que Ele ordenou, são vias para aprender a ser seus discípulos. Jesus nos promete sua presença e ajuda constante. Não estaremos sozinhos nem desamparados.

Assim é a comunidade cristã. A força do Ressuscitado a sustenta com seu Espírito. Tudo está orientado a aprender e ensinar a viver como Jesus e a partir de Jesus. Ele continua vivo em suas comunidades; continua conosco e entre nós curando, perdoando, acolhendo... salvando.

É muito importante a particularidade do ensinamento. Não se trata de ensinar doutrinas, nem ritos, nem normas legais, mas de ativar uma maneira de proceder. Isto está muito de acordo com a insistência dos evangelhos nas obras como manifestação da presença de Deus em Jesus, e como consequência, da adesão a Jesus. Se temos em conta que o núcleo do evangelho é o amor, compreenderemos que na prática, o amor é o primeiro que deve se visibilizar em um cristão.

Parece claro que, na intenção de Jesus, não figurava a ideia de converter todos os povos, nem que todos eles se integrassem na Igreja católica (parece claro também que Ele não pensou em fundar nenhuma instituição religiosa). O que ocupava seu coração era o “Reino de Deus”, um projeto de nova sociedade, caracterizado pela vivência da fraternidade, fundada na experiência prazerosa de perceber Deus como “Abba”. Em certo sentido, poder-se-ia dizer que a mensagem de Jesus é totalmente aberta e inclusiva; nada de suspeitas, moralismos, fundamentalismos ou pretensão de ser “dono da verdade”. O decisivo é o compromisso com a “vida e vida em plenitude”.

Para meditar na oração

“Elevar-nos” a Deus implica “descer” ao chão da nossa vida: corpo, razão, sentimentos, afetos, desejos... Nossa interioridade clama por ser “evangelizada”; o apelo de Jesus – “ide e fazei discípulos meus todos os povos” – têm ressonância em nosso próprio interior: somos “habitados” por uma “multidão” que se sente à margem e não foi ainda integrada: perdas, fracassos, crises, vivências não pacificadas, afetos reprimidos, sentimentos feridos, sonhos não realizados...

- Caminhe com o Senhor por esta “terra de missão” do seu coração; abraça espaço para que a boa nova do Evangelho chegue até às raízes mais profundas de sua vida.



A MISSÃO DOS POVOS MARGINALIZADOS - Ana Maria Casarotti

Neste domingo celebra-se a festa da Ascensão do Senhor. Depois de ressuscitar e aparecer às mulheres e aos apóstolos, Jesus se despede deles/as antes de voltar ao Pai, “subir ao céu”. A ausência física de Jesus traz novas responsabilidades para o grupo de pessoas que o seguem e serão aquelas que continuarão sua missão. Jesus entrega-lhes suas recomendações a seguir.

Os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. Os discípulos e discípulas estão ali onde Jesus havia designado. É o lugar fundamental onde estiveram juntos com Jesus, onde muitos deles/as receberam seu convite para segui-lo e participaram de suas predicações e milagres. Conheceram Jesus, receberam sua mensagem do Reino de Deus, também presenciaram os conflitos com alguns judeus ou representantes de suas autoridades.

Assim como foram testemunhas da fé do povo e da sua dificuldade para acreditar em Jesus como o Messias prometido, porque não coincidia com as expectativas do Messias que tinha o povo em geral. A dedicação de Jesus aos mais pobres, às pessoas desprezadas e marginalizadas pela cultura social e religiosa do seu entorno, proporcionou novos paradigmas sobre a proximidade de Deus com seu povo revelado como o Pai misericordioso que chama a todos e todas para ser parte do Reino.

"Quando viram Jesus, ajoelharam-se diante dele. Ainda assim, alguns duvidaram". Diante de Jesus eles se ajoelham, apresentando assim o reconhecimento da identidade do Cristo Ressuscitado que acontece na Galileia, o lugar onde conheceram o Jesus histórico. Não há grandes manifestações, é uma descrição simples do que está acontecendo.

O monte é, na tradição bíblica, lugar da revelação de Deus e é assim como aparece no trecho do evangelho. A presença de Jesus Ressuscitado gera reconhecimento – ajoelham-se diante dele –, mas também “alguns duvidaram”. Desta forma o texto apresenta uma realidade muito humana e próxima das comunidades daquele momento e também do futuro. Assinala-se assim a necessidade do processo da fé e não se escandalizar diante das dúvidas. Melhor ainda reconhecê-las como parte do caminho das pessoas que decidem acreditar em Jesus Ressuscitado!

Neste momento é a comunidade que reconhece Jesus, seu Amigo e Senhor, e por isso se ajoelham diante dele, como sinal de respeito e adoração. A comunidade está assim preparada para acolher as últimas palavras de seu Mestre.

Então Jesus se aproximou, e falou: “Toda a autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra. Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês”.

Jesus faz assim sua comunidade continuadora de sua missão neste mundo. É uma missão universal porque a boa nova do Reino de Deus é para todos/as sem exclusão. É por isso que a missão faz parte da natureza, da identidade da comunidade eclesial, ela é convocada (discípula) e enviada (missionária).

Jesus faz sua última promessa aos seus amigos/as: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”. É esta certeza que fez e faz a Igreja caminhar no meio de luzes e sombras, buscando viver sua identidade de discípula-missionária, nos diferentes cenários culturais, sociais, religiosos da história. Assim Jesus se encarnou a fim de nos abrir caminho para o Pai, colocando sua tenda no meio de nós e permanecendo conosco. Sua comunidade, para levar adiante sua missão, precisa viver sempre inserida no mundo.

Recebendo essas palavras de Jesus devemos perguntar-nos, qual é o mundo que ele nos envia hoje? Deixemos ecoar também a pergunta do papa Francisco quando faz “chamado urgente” para o quinto aniversário da encíclica Laudato si’: “Que tipo de mundo queremos deixar para aqueles que nos sucedem, às crianças que estão crescendo?”. “Renovo meu chamado urgente a responder à crise ecológica”. “O grito da Terra e o grito dos pobres não aguentam mais. Cuidemos da criação, dom de nosso bom Deus Criador.

Hoje conclui-se esta Semana da Laudato si’ em que trazemos novamente à nossa memória o pedido do papa Francisco “à comunidade católica global que empreenda ações ambiciosas para enfrentar os crescentes perigos ambientais que o planeta e as pessoas enfrentam – as mudanças climáticas; os ecossistemas da Amazônia, da Austrália e do Ártico que se aproximam de pontos críticos; e a ameaça sem precedentes da perda de biodiversidade enfrentada por um milhão de espécies vegetais e animais”. 

Quais são os desafios que a Igreja tem neste momento histórico de pandemia que está atravessando nossa sociedade? Como disse a teóloga britânica Celia Deane-Drummond, “a Covid-19 está ensinando ao gênero humano lições importantes que ele aprendeu pela primeira vez no crisol do seu surgimento inicial no tempo profundo. Nossas vidas estão emaranhadas entre si e com as outras espécies, e essa é a fonte da nossa força singular, mas também da nossa vulnerabilidade. Honraremos melhor aqueles que sofreram e morreram ao aprendermos a levar muito mais a sério a nossa interconectividade com Deus, entre nós e com as outras criaturas" (Texto completo: Semana Laudato Si' - Cinco anos de Ecologia Integral)

Celebrar a festa da Ascensão é agradecer a Deus sua presença no meio de nós que continuamente nos chama a contribuir na construção de um mundo mais humano, mais solidário, mas justo e que seja habitável por todos e todas. Ele nos anima a comunicar seu Reino e sua Vida em abundância a toda pessoa que está ao nosso redor, e sua Ascensão lembra-nos o presente de nossa vocação eterna já alcançada para todos/as por Jesus e chama-nos a renovar nosso compromisso eclesial de ser comunidade convocada e enviada para que todos os povos tenham vida e vida em abundância.

Oração

Contigo esteja o Senhor...

O Senhor esteja diante de ti, para te mostrar o reto caminho.

O Senhor esteja ao teu lado, para te dar o braço e apoiar-te.

O Senhor esteja atrás de ti, para te guardar das ciladas do mau.

O Senhor esteja debaixo de ti, para te segurar, quando caíres.

O Senhor esteja em ti, para te consolar, quando estiveres triste.

O Senhor esteja ao teu redor, para te defender, quando te atacarem.

O Senhor esteja sobre ti, para te abençoar.

Que o bom Deus te abençoe.

Sedulius Caelius, monge e poeta, século III.


FAZER DISCÍPULOS DE JESUS - José Antonio Pagola

Mateus descreve a despedida de Jesus traçando as linhas de força que guiarão para sempre seus discípulos, os traços que deverão marcar sua Igreja para cumprir fielmente sua missão.

O ponto de partida é a Galileia. Aí os convoca Jesus. A ressurreição não os deve levar a esquecer do vivido com Ele na Galileia. Aí o escutaram falar de Deus com parábolas comovedoras. Ali o viram aliviando o sofrimento, oferecendo o perdão de Deus e acolhendo os mais esquecidos. É isto precisamente o que deverão continuar a transmitir.

Entre os discípulos que rodeiam Jesus ressuscitado, há “crentes” e há quem “duvida”. O narrador é realista. Os discípulos “prostram-se”. Sem dúvida, querem acreditar, mas em alguns deles desperta a dúvida e a indecisão. Talvez estejam assustados, não podem captar tudo o que aquilo significa. Mateus conhece a fé frágil das comunidades cristãs. Se não contassem com Jesus, logo se apagariam.

Jesus “aproxima-se” e entra em contato com eles. Ele tem a força e o poder que lhes falta. O Ressuscitado recebeu do Pai a autoridade do Filho de Deus com “pleno poder no céu e na terra”. Se se apoiam Nele, não vacilarão.

Jesus indica-lhes com precisão qual deve ser sua missão. Não é propriamente “ensinar doutrina”, não é apenas “anunciar o Ressuscitado”. Sem dúvida, os discípulos de Jesus terão de cuidar de diversos aspectos: “dar testemunho do Ressuscitado”, “proclamar o evangelho”, “implantar comunidades”, mas tudo estará finalmente orientado para um objetivo: “fazer discípulos” de Jesus.

Esta é a nossa missão: fazer “seguidores” de Jesus que conheçam sua mensagem, que sintonizem com seu projeto, que aprendam a viver como Ele e que reproduzam hoje sua presença no mundo. Atividades tão fundamentais como o batismo, o compromisso de aderir a Jesus e o ensino de “tudo o que é ordenado” por Ele são vias para aprender a ser seus discípulos. Jesus promete-lhes sua presença e ajuda constante. Não estarão sós nem desamparados. Nem mesmo que sejam poucos. Nem mesmo que sejam apenas dois ou três.

Assim é a comunidade cristã. A força do Ressuscitado é sustentada com seu Espírito. Tudo está orientado para aprender e ensinar a viver como Jesus e a partir de Jesus. Ele continua vivo nas suas comunidades. Continua conosco e entre nós, curando, perdoando, acolhendo... salvando.


Mt 28,16-20 - Ressurreição e Missão - Estou com vocês todos os dias! - Mesters, Lopes e Orofino


Situando

a) No início do Evangelho de Mateus ele tinha dito que Jesus é Emanuel, Deus Conosco (Mt 1,23). Agora, no fim, ele comunica a mesma certeza, pois a fé, proclamada pelas comunidades, era esta: “Jesus ressuscitou como havia dito. Ele está vivo no meio de nós e nos envia em missão! Estará conosco sempre, até o fim dos tempos. (Mt 28,7.18-20). 

b)  Nos evangelhos, a ressurreição de Jesus é contada com uma linguagem simbólica, que revela o sentido escondido dos acontecimentos. Fala-se de tremor de terra, relâmpagos e anjos que anunciam a vitória de Jesus sobre a morte (Mt 28,2-4). É a linguagem apocalíptica, simbólica, muito comum naquela época, usada para retratar a experiência de ressurreição – nas comunidades e das comunidades. Para elas, o mundo foi transformado pelo poder de Deus! Realizou-se a esperança dos pobres. Maravilhadas, as comunidades afirmam: “Ele está vivo, no meio de nós! Ele nos ajudará, para que possamos fazer a mesma travessia da morte para a vida!”

Vamos relembrar o capítulo todo desde o início: 

Refletindo

1.    Mateus 28,1-8: A alegria da Ressurreição vence o medo

Na madrugada do domingo, o primeiro dia da semana, duas mulheres vão ao sepulcro. De repente, a terra treme e um anjo aparece como um relâmpago. Os guardas que estavam vigiando o túmulo desmaiam. As mulheres ficam com medo, mas o anjo as reanima, anunciando a vitória de Jesus sobre a morte e enviando-as a reunir os discípulos e discípulas de Jesus na Galileia. É na Galileia que eles poderão vê-lo de novo. Lá, onde tudo começou, acontecerá a grande revelação do Ressuscitado.

2.    Mateus 28,9-10: A ordem de reunir os irmãos na Galileia

As mulheres saem correndo. Dentro delas, há um misto de medo e de alegria -sentimentos próprios de quem faz uma profunda experiência do Mistério. De repente, o próprio Jesus vai ao encontro delas e diz: “Alegrem-se!” Elas se prostram e o adoram. É a postura de quem acredita e acolhe a presença de Deus, mesmo que surpreenda e ultrapasse a capacidade humana de compreensão. Agora é Jesus que dá a ordem de reunir os irmãos na Galileia.

3.    Mateus 28,11-15: A astúcia dos inimigos da Boa Nova

A mesma oposição que Jesus encontrou em vida aparece agora depois da sua ressurreição. Os chefes dos sacerdotes se reúnem e dão dinheiro aos guardas. Eles devem espalhar o boato de que os discípulos roubaram o corpo de Jesus e inventaram essa conversa de ressurreição. Os chefes recusam e combatem a Boa Notícia da Ressurreição. Preferem acreditar que tudo não passou de uma invenção dos discípulos e das discípulas de Jesus.

4.    Mateus 28,16-20: “Vão pelo mundo afora! Estou com vocês!”

E agora a parte que nós lemos hoje. A manifestação de Jesus na montanha da Galileia não é evidente para todos. Uns acreditam. Outros duvidam. Mesmo diante da visão da sua glória e autoridade, Jesus continua pedindo um ato de fé. Neste último encontro, ele dá aos discípulos e discípulas a missão de levar a Boa Nova da Ressurreição a todas as nações do mundo. A pequena comunidade deve ser Luz das Nações, realizando sua missão junto aos pequeninos e fazendo com que outras pessoas se tornem também discípulas de Jesus.

Alargando

O testemunho das mulheres

A presença das mulheres na morte e ressurreição de Jesus é muita significativa. Somente duas são citadas - Maria Madalena e a outra Maria (Mt 28,1). Convém lembrar que no dia do enterro, as mesmas duas ficaram sentadas diante do sepulcro e, portanto, podiam dar testemunho do lugar onde fora colocado o corpo de Jesus (Mt 27,61). Agora, na madrugada do domingo, elas estão lá. Sabem que aquele sepulcro vazio é realmente o de Jesus. A profunda experiência de morte e ressurreição que elas fizeram transformou suas vidas. Elas mesmas ressuscitaram e se tornaram testemunhas qualificadas da ressurreição nas comunidades cristãs. Por isso, recebem a ordenação de anunciar: “Jesus está vivo! Ele ressuscitou!”



Leitura At1,11 – Ascensão- Thomas Mc Grath

 

“…Por que estão aí parados, olhando para o céu?”

 

Fatinha Castelan – CEBI, ES



Neste domingo as comunidades celebram a solenidade da Ascensão do Senhor. Essa celebração se caracteriza como um coroamento da festa da Páscoa. Aponta também para a certeza de que somos nós, seguidores e seguidoras do projeto de Jesus, responsáveis em continuar sua ação libertadora no mundo.

A missão que Jesus veio realizar foi concluída. Mas o Projeto permanece e a sua realização depende de cada pessoa que tiver a coragem de responder a esse chamado. Essa é a provocação dos textos bíblicos desse domingo: os poderes da morte não venceram; Deus, senhor da história, acolheu Jesus; a missão continua e está em nossas mãos.

No primeiro capítulo dos Atos dos Apóstolos - (At 1,1-11) Lucas retoma o relato da ascensão com o qual terminou seu Evangelho: “Jesus foi elevado ao céu, depois de ter dado instruções, pelo Espírito, aos apóstolos que havia escolhido” (At 1,2). A recomendação dada a eles é: “Fiquem em Jerusalém e esperem até que o Pai lhes dê o que prometeu, conforme eu disse a vocês.  De fato, João batizou com água, mas daqui a poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo’” (v 4 e 5).  Intrigados com as palavras do Mestre, os discípulos – curiosos – querem saber se é hora de restaurar o Reino de Israel. A resposta de Jesus é mais curiosa ainda: “Não cabe a vocês saber a ocasião ou o dia que o Pai marcou com a sua própria autoridade. Mas quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra. (v 8). Trocando em miúdos: “Não sejam enxeridos nem se preocupem com o que não é da conta de vocês. Vão cuidar da tarefa que lhes cabe: pela força do Espírito, testemunhem minha presença em todo canto!”. Terminada a tarefa de Jesus, que sobe ao céu, começa a tarefa dos discípulos.

Mas quem eram esses seguidores e seguidoras destinatários/as desta mensagem?

A Comunidade que escreveu esse texto pertencia à segunda geração de cristãos e cristãs, em torno do ano 85 depois de Cristo. O local da redação foi uma das grandes cidades da época: Antioquia, Éfeso ou Corinto. Em qualquer uma dessas cidades vivia-se a dominação e exploração impostas pelo Império Romano. As comunidades de Lucas eram comunidades urbanas que conviviam entre culturas e religiões diversas (não comunidades rurais, como na Palestina). Nestas comunidades estavam juntos ricos e pobres (a maioria pobres), judeus e não judeus.

As Comunidades andavam na contramão da história da época, propondo uma mudança de critérios e de certezas, e a conversão para outros valores. As comunidades de Lucas indicavam o que deve ser a missão da comunidade cristã, no entender deles: junto aos pobres, pensando com, e a partir deles, novas relações no dia-a-dia e na sociedade.

Celebrar a festa da Ascensão de Jesus é reconhecer que a sua ação libertadora não terminou, mas está espalhada pelo mundo por meio das pessoas que assumem a causa do Reino. É momento de discípulos tomarem consciência da sua missão e do seu papel no mundo. É momento da comunidade de discípulas e discípulos renovarem sua fé e compromisso com a vida e a transformação das realidades que negam Jesus.

Jesus chama e envia para a missão. A continuidade do Seu projeto depende de pessoas que estejam dispostas a continuar a caminhada iniciada por ele. A missão é comunitária e exige despojamento, simplicidade e alegria. Num mundo marcado pela desesperança, a missionária e o missionário são chamados a ir ao encontro das pessoas para reafirmar os sonhos que movem o ser humano.


TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA

 

SOLEMNIDAD DE LA ASCENSIÓN DEL SEÑOR CICLO "A"

FIESTA DE LA ESPERANZA Y DEL COMPROMISO MISIONERO


En esta solemnidad de la Ascensión se aplica claramente el principio según el cual en la lectura de los textos bíblicos es el contexto litúrgico quien nos orienta en la interpretación de los mismos. Según veremos, el evangelio de este domingo no hace referencia explícita a la Ascensión del Señor, referencia que sí encontramos en la primera lectura. 


Primera lectura (He 1,1-11): "Jesús ha sido llevado al cielo de entre ustedes" 


El libro de los Hechos de los Apóstoles comienza con una temática claramente cristológica: los "cuarenta días" de encuentros que tienen los discípulos con el Resucitado antes de su Ascensión a los cielos. Y dice que durante estos días Jesús dio a sus discípulos abundantes pruebas de que estaba "vivo", en referencia a las apariciones que narra Lucas al final de su evangelio. Como nota J. Ratzinger , "el sentido de las apariciones está claro en toda la tradición: se trata ante todo de agrupar un círculo de discípulos que puedan testimoniar que Jesús no ha permanecido en el sepulcro, sino que está vivo. Su testimonio concreto se convierte esencialmente en una misión: han de anunciar al mundo que Jesús es el Viviente, la Vida misma". 

El número “cuarenta” tiene en la Biblia un valor simbólico pues indica el paso a una nueva generación, es el tiempo necesario para que Dios transforme una situación. Este tiempo se concluye justamente con el relato de la Ascensión, que aquí es descrita como una elevación a los cielos (utiliza el verbo analambanō en pasivo –ser elevado, ser llevado en alto- de la misma raíz que el término analempsis utilizado en Lc 9,51).

Sigue luego, al igual que en Lc 24,49, la orden de Jesús de permanecer en Jerusalén a la espera de la Promesa (ἐπαγγελία) del Padre, el Espíritu Santo, en el cual los apóstoles serán “sumergidos” (sentido amplio de "bautizados": ἐν πνεύματι βαπτισθήσεσθε ἁγίῳ en He 1,5). Así, este "bautismo en el Espíritu" supera en mucho el "bautismo con agua" de Juan Bautista, orientado sólo a la conversión de los pecados. 

La pregunta de los discípulos - "Señor, ¿es ahora cuando vas a restaurar el reino de Israel?" -  revela que ellos todavía no han comprendido plenamente la misión universal y trascendente de la Iglesia por cuanto esperan aún la restauración del reino terrenal de Israel. Jesús remite esta restauración de Israel al juicio final, al fin de los tiempos, al “tiempo y el momento” (χρόνους ἢ καιροὺς) que sólo el Padre sabe y que no les será revelado (He 1,7). En cierto modo, Jesús los lleva a concentrarse en el presente y no en el futuro; pero para esto deberán recibir la fuerza del Espíritu Santo para que les amplíe al mismo tiempo la mente y el horizonte misionero, pues deberán ser testigos "hasta los confines de la tierra" (He 1,8).

Después de unir la misión universal de los apóstoles con el don del Espíritu Santo, Jesús es "elevado al cielo". La palabra "cielo" aparece cuatro veces en He 1,10-11. Al igual que para nosotros hoy, la afirmación de que Dios “está en el cielo” era de uso común en tiempos de Jesús y se encuentra ya en el Antiguo Testamento presentando al cielo como morada o residencia de Dios. Decir que Dios está en el cielo es una manera de expresar su trascendencia invulnerable al mismo tiempo que su omnipresencia entorno al hombre. 

Al decir que Jesús fue llevado al cielo (He 1,11) se afirma que se encuentra ahora en una nueva situación o estado, pues está en la Morada de Dios. Pero si bien está ‘en el cielo’ en contraste con ‘la tierra’ resaltando así su trascendencia, no se pierde por ello la cercanía y mutua relación, por cuanto la acción del cielo o desde el cielo se hace sentir en la tierra (cf. He 2,2). De igual manera, si bien el libro de los Hechos nos presentará a Jesús hecho Señor (Kurios) resucitado y exaltado a la derecha del Padre en los cielos, al mismo tiempo nos mostrará que en ésta su nueva situación Jesús continúa actuando sobre la tierra y esta actividad consiste en obrar la salvación. 

     La referencia a la nube que lo oculta de su vista refuerza esta idea por cuanto tiene un valor teológico y "presenta la desaparición de Jesús no como un viaje hacia las estrellas, sino como un entrar en el misterio de Dios. Con esto se alude a un orden de magnitud completamente diferente, a otra dimensión del ser" .

Al mismo tiempo, en esta nueva situación o etapa, la Iglesia debe vivir en la espera activa de la vuelta gloriosa del mismo Jesús tal como afirman los ángeles al final del relato (He 1,11). Aquí el retorno del Señor se presenta como una certeza, pero sin alimentar expectativas acerca de algo inminente, al contrario, los “hombres de blanco” invitan a no quedarse mirando al cielo. 



Segunda lectura (Ef 1,17-23): "valorar la esperanza a la que hemos sido llamados".


Después del himno de bendición y alabanza con que comienza esta carta (Ef 1,3-14), seguido de una breve acción de gracias (1,15-16), se pasa a la intercesión en favor de los cristianos para quienes se implora del Padre "un espíritu de sabiduría y de revelación que les permita conocerlo verdaderamente" (1,17). Se trata del don de comprender y gustar los misterios de Dios y así descubrir la grandeza de la esperanza a la que han sido llamados y los beneficios que han recibido como fruto del misterio pascual de Cristo, que incluye la Ascensión. Justamente la situación de Cristo después de la Ascensión es estar por encima de toda la creación, la cual le está sometida, y ser Cabeza del Cuerpo de la Iglesia. Acerca de esta presentación de Cristo como Cabeza del Cuerpo de la Iglesia nos dice F. Pastor : "Se emplea por primera vez esta metáfora y la correspondiente de la Iglesia como cuerpo de Cristo. Dado que esta comunidad es la beneficiaria del plan de Dios realizado en Cristo, es también plenitud del cosmos y participa en la condición del Señor Jesús. Desde esa breve afirmación habrá que comprender más adelante el ser y la misión de la Iglesia. No será tanto – aunque también – una organización, sino una plenitud de todo el mundo nuevo que participa en la regeneración universal mediante Cristo, Señor y Cabeza (cf. Col 1,15-20)".



Evangelio (Mt 28,16-20): "Vayan, y hagan que todos los pueblos sean mis discípulos".  


Esta escena, de solemnidad evidente, es la conclusión y culminación de todo el evangelio de Mateo; y en ella confluyen los hilos teológicos que lo recorren . 

Según U. Luz , en la estructura de este texto podemos distinguir una introducción (v. 16), escrita desde la perspectiva de los discípulos y que nos brinda la situación de la aparición de Jesús resucitado; seguida de la reacción de los discípulos ante la misma (v. 17). En el v. 18 aparece Jesús y toma la palabra, quedando así en el centro de la escena hasta el final de la misma y dando su mensaje final a sus discípulos. Este mensaje tiene tres elementos: 

En el medio, resaltando su centralidad y formulado en imperativo, está el mandato de misión (19-20ª: “Vayan, y hagan que todos los pueblos sean mis discípulos, bautizándolos en el nombre del Padre y del Hijo y del Espíritu Santo, y enseñándoles a cumplir todo lo que yo les he mandado”); 

Al inicio (v.18b: “Yo he recibido todo poder en el cielo y en la tierra”) y al final (20b: “Y yo estaré siempre con ustedes hasta el fin del mundo"), en ambos casos en indicativo, se formulan respectivamente el fundamento de la misión (el poder del Resucitado) y su garantía (la promesa de presencia continua del Señor con los suyos). Como bien nota E. Bianchi  “en este pasaje se han integrado tan admirablemente la manifestación de Jesús resucitado y la misión de la Iglesia, que resulta claro que el acontecimiento de salvación cumplido en Jesucristo se prolonga en la fe y en la vida de la comunidad cristiana”.

El encuentro con Jesús resucitado tiene lugar en Galilea (v.16), donde les había convocado el Señor personalmente y, también, por medio de las mujeres que fueron al sepulcro y por el anuncio de un ángel (cf. 26,32; 28,7.10). 

Esta región fronteriza de Israel tiene un significado importante porque en Galilea había comenzado (4,12ss) y se había desarrollado el ministerio de Jesús; y allí también tendrán los discípulos que retomar la misión. La cita de Isaías en Mt 4,15 la llama “Galilea de las naciones o de los paganos” (Galilai,a tw/n evqnw/n) por ser la región más llena de presencia pagana en Israel; por eso, a nivel histórico salvífico, llega a ser un símbolo de la universalidad del mensaje evangélico. Y es justamente aquí, en Galilea, donde los discípulos reciben el mandato de anunciar el evangelio no solo a Israel sino a todas las naciones.

El versículo 17 describe la aparición de Jesús de modo casi elusiva, sólo con un participio: “y viéndolo a Él” (kai. ivdo,ntej auvto.n); desplazando así el acento a la reacción de los Once descrita con los dos verbos principales: lo adoraron, pero a la vez, dudaron. Esta es una actitud contradictoria que caracteriza a los discípulos y a la Iglesia en Mateo, tal como nos lo describe el episodio de Pedro caminando sobre las aguas donde se utiliza se utiliza el mismo verbo dista,zw: “Hombre de poca fe, ¿por qué dudaste?” (Mt 14,31). Al respecto dice U. Luz : "la ambivalencia de los discípulos en el v. 17 pertenece al esquema mateano de la «poca fe». La fe de los discípulos no es, en Mateo, una certeza por encima de todo vaivén, sino que se mueve entre la confianza y el desaliento, entre certeza y duda. La persona de «poca fe» recurre una y otra vez al Señor".


Al comenzar su mensaje Jesús resucitado declara su nueva situación después de la resurrección: es el Señor glorioso y exaltado por Dios, a quien le ha sido entregado por el Padre todo poder (exousía) y quien domina sobre todo lo creado (cielo y tierra). Precisamente porque ha recibido todo el poder, el Señor envía a misionar a todos los pueblos (repetición de todos / panta en los vv. 18. 19. 20). Mateo asume el tema de la misión pagana presente en Marcos (Cf. Mc 5,18-20; 13,10; 15,39) y la subraya, en especial con su invitación a hacer que todos los paganos sean discípulos (Mt 28,19-20). 


El mandato misional (19-20a) se introduce con un participio de movimiento (vayan), seguido del verbo principal en imperativo (hagan discípulos / matheteusate) y otros dos participios (bautizando...enseñando) que precisan el sentido del hacer discípulos. Por tanto, los discípulos tienen que repetir la acción de Jesús: formar, hacer discípulos. Y esta acción de “formar o hacer discípulos” se concretiza, en primer lugar, al "sumergirlos" (bautizarlos) en el misterio de Dios Trinidad. En segundo lugar, el otro participio que modifica a “hacer discípulos” en v. 20 es “enseñándoles a guardar todo lo que les he mandado”. No puede sorprendernos esta presentación de la misión como enseñanza por cuanto Mateo nos ha presentado a Jesús como Maestro dedicándose mucho a enseñar al pueblo el evangelio del Reino de Dios (cf. 4,23; 5,2; 7,29; 9,35; 11,1; 13,54; 26,55). La aceptación creyente y la puesta en práctica en esta enseñanza de Jesús es el camino del discipulado en Mateo que permite ingresar en el Reino de Dios (cf. 7,21-23). 

En síntesis, se trata, ante todo, de llevar a otros al seguimiento de Jesús y hacerlos partícipes de la vida Trinitaria mediante el Bautismo y la observancia de toda la enseñanza recibida de Jesús.


Por último: la Promesa de su presencia. En Jesucristo glorificado se realiza la presencia permanente de Dios en medio de su pueblo. Es decir, Él es verdaderamente el Emmanuel, “Dios con nosotros” (Mt 1,23). No promete seguridades ni grandes hazañas, sólo su Presencia, siempre y hasta el fin del mundo. Es decir, “a la extensión en el espacio se añade la duración indefinida de la misión, pues Jesús declara que queda con sus discípulos hasta el fin de los tiempos” .


Algunas reflexiones:


En algún momento de la vida, antes o después, hay algunas preguntas que nos tendremos que hacer y responder: ¿Cuál es el fin o término de mi vida? ¿Es la muerte lo último y definitivo que nos espera? ¿Hay vida después de la muerte? ¿De qué vida se trata? Preguntas inquietantes, sin lugar a dudas, pero que necesitan ser respondidas para poder vivir una vida auténtica, sin engañarnos a nosotros mismos. Y también porque de las respuestas a estas preguntas depende mucho la orientación que le demos a nuestra vida hoy, porque no es lo mismo vivir sin Esperanza que tener el faro de la misma que nos orienta y anima a seguir caminando. Como bien decía el Papa Benedicto XVI en Spe Salvi: “el presente, aunque sea un presente fatigoso, se puede vivir y aceptar si lleva hacia una meta, si podemos estar seguros de esta meta y si esta meta es tan grande que justifique el esfuerzo del camino […] el mensaje cristiano no era sólo « informativo », sino « performativo ». Eso significa que el Evangelio no es solamente una comunicación de cosas que se pueden saber, sino una comunicación que comporta hechos y cambia la vida. La puerta oscura del tiempo, del futuro, ha sido abierta de par en par. Quien tiene esperanza vive de otra manera; se le ha dado una vida nueva”.

Pues bien, Jesús, con su muerte, resurrección y ascensión a los cielos nos ha dado la respuesta a estas preguntas porque lo que Él ha vivido es un anticipo y un signo de lo que nos tocará vivir a nosotros.   

El misterio de la Ascensión nos habla de la glorificación de la humanidad de Jesús que ingresa definitivamente en el ámbito divino. La Ascensión es, por tanto, la coronación del triunfo de Cristo; es el punto de llegada definitivo de su Resurrección.

Pero al mismo tiempo es un triunfo para la humanidad, para todos los hombres, porque Jesús nos ha abierto el camino hacia el cielo, hacia la vida eterna, ya que en su humanidad incluye a todos los hombres. Es decir, gracias a Jesús, el final de nuestro caminar por este mundo está en el cielo, allí está el final de nuestra peregrinación terrenal después de atravesar las fronteras de la muerte. Esta es nuestra Esperanza como cristianos, es lo que esperamos del Señor al fin de nuestra vida terrenal. 

Ahora bien, ante cierta confusión frecuente entre optimismo, expectativas humanas y Esperanza, es buen preguntarnos: ¿qué es lo específico y propio de la Esperanza cristiana y cómo influye en nuestra vida personal y social? 

En primer lugar, digamos que la esperanza es inseparable de la fe, ya que la Palabra de Dios tiene una dimensión de «llamada» y otra de «promesa». Por tanto, la fe “siendo memoria de una promesa, es capaz de abrir al futuro, de iluminar los pasos a lo largo del camino. De este modo, la fe, en cuanto memoria del futuro, memoria futuri, está estrechamente ligada con la esperanza” (LF n° 9). Más aún, “en la fe, don de Dios, virtud sobrenatural infusa por él, reconocemos que se nos ha dado un gran Amor, que se nos ha dirigido una Palabra buena, y que, si acogemos esta Palabra, que es Jesucristo, Palabra encarnada, el Espíritu Santo nos transforma, ilumina nuestro camino hacia el futuro, y da alas a nuestra esperanza para recorrerlo con alegría. Fe, esperanza y caridad, en admirable urdimbre, constituyen el dinamismo de la existencia cristiana hacia la comunión plena con Dios” (LF n° 7). En breve, “la fe es la sustancia de la esperanza” (Spe Salvi, n° 10). 

Entonces, la fe nos hace ya presente, en cierto modo, la realidad de la vida eterna prometida que esperamos porque “la esperanza, en el sentido propio de la palabra, es la certeza de que recibiré el gran amor, que es indestructible, y que ya desde ahora soy amado por este amor”. Y esta certeza de ser amado, más aun, esperado por Dios, nos permite superar la angustia propia de la vida humana ya que, “la angustia de todas las angustias es el miedo a no ser amados, a perder el amor; la desesperación es la convicción de haber perdido para siempre todo amor, el horror de la total soledad” .

En otras palabras, quien se siente ya amado por el Padre con el don del Espíritu Santo, y tiene por la Esperanza la certeza y garantía de la plenitud futura de ese Amor, que es la vida eterna, puede afrontar la vida con una actitud positiva. Aún en medio de la mayor oscuridad y con escasez de expectativas ante un futuro incierto que nos nubla la mirada hacia el porvenir. La esperanza cristiana nos da luz propia para caminar hacia la oscuridad del futuro con la certeza de superarla. Y esta luz no viene ni de la realidad social, ni del talante o temperamento optimista; sino del fuego del amor de Dios que arde en el propio corazón.

Por eso es una esperanza activa que nos lanza hacia afuera y hacia adelante; nos mueve a la misión con un horizonte universal, como nos pide Jesús en el evangelio de hoy.

Al respecto decía el Papa Francisco el 24 de mayo de 2020: “El contenido de la misión encomendada a los Apóstoles es el siguiente: proclamar, bautizar, enseñar y recorrer el camino trazado por el Maestro, es decir, el Evangelio vivo. Este mensaje de salvación implica, en primer lugar, el deber de dar testimonio —sin testimonio no se puede anunciar— al que también estamos llamados nosotros, discípulos de hoy, para dar razón de nuestra fe. Ante una tarea tan exigente, y pensando en nuestras debilidades, nos sentimos inadecuados, como seguramente los mismos Apóstoles se sintieron. Pero no debemos desanimarnos, recordando las palabras que Jesús les dirigió antes de ascender al Cielo: «Yo estoy con vosotros todos los días hasta el fin del mundo» (v. 20).

Esta promesa asegura la presencia constante y consoladora de Jesús entre nosotros. Pero, ¿cómo se realiza esta presencia? A través de su Espíritu, que lleva a la Iglesia a caminar por la historia como compañera de camino de cada hombre. Ese Espíritu, enviado por Cristo y el Padre, obra la remisión de los pecados y santifica a todos aquellos que, arrepentidos, se abren con confianza a su don. Con la promesa de permanecer con nosotros hasta el fin de los tiempos, Jesús inaugura el estilo de su presencia en el mundo como el Resucitado. Jesús está presente en el mundo pero con otro estilo, el estilo del Resucitado, es decir, una presencia que se revela en la Palabra, en los sacramentos, en la acción constante e interior del Espíritu Santo. La fiesta de la Ascensión nos dice que Jesús, aunque ascendió al cielo para morar gloriosamente a la derecha del Padre, está todavía y siempre entre nosotros: de ahí viene nuestra fuerza, nuestra perseverancia y nuestra alegría, precisamente de la presencia de Jesús entre nosotros con el poder del Espíritu Santo.”


Por último, para realizar bien la misión como comunicación del Evangelio hay que  “hablar con el corazón, «en la verdad y en el amor» (Ef 4,15)” como reza el lema de 57º Jornada Mundial de las Comunicaciones Sociales que celebramos este domingo. 

 En su mensaje para este año el Papa Francisco nos pone el ejemplo de san Francisco de Sales, al cumplirse 400 años de su muerte, a quien “su actitud apacible, su humanidad, su disposición a dialogar pacientemente con todos, especialmente con quien lo contradecía, lo convirtieron en un testigo extraordinario del amor misericordioso de Dios. De él se podía decir que «las palabras dulces multiplican los amigos y un lenguaje amable favorece las buenas relaciones» ( Si 6,5). Por lo demás, una de sus afirmaciones más célebres, «el corazón habla al corazón», ha inspirado a generaciones de fieles, entre ellos san John Henry Newman, que la eligió como lema, Cor ad cor loquitur. «Basta amar bien para decir bien» era una de sus convicciones. Ello demuestra que para él la comunicación nunca debía reducirse a un artificio —a una estrategia de marketing, diríamos hoy—, sino que tenía que ser el reflejo del ánimo, la superficie visible de un núcleo de amor invisible a los ojos. Para san Francisco de Sales, es precisamente «en el corazón y por medio del corazón donde se realiza ese sutil e intenso proceso unitario en virtud del cual el hombre reconoce a Dios». “Amando bien”, san Francisco logró comunicarse con el sordomudo Martino, haciéndose su amigo; por eso es recordado como el protector de las personas con discapacidades comunicativas. A partir de este “criterio del amor”, y a través de sus escritos y del testimonio de su vida, el santo obispo de Ginebra nos recuerda que “somos lo que comunicamos”. 

En relación con la comunicación en la Iglesia señala el Papa que: “En la Iglesia necesitamos urgentemente una comunicación que encienda los corazones, que sea bálsamo sobre las heridas e ilumine el camino de los hermanos y de las hermanas. Sueño una comunicación eclesial que sepa dejarse guiar por el Espíritu Santo, amable y, al mismo tiempo, profética; que sepa encontrar nuevas formas y modalidades para el maravilloso anuncio que está llamada a dar en el tercer milenio. Una comunicación que ponga en el centro la relación con Dios y con el prójimo, especialmente con el más necesitado, y que sepa encender el fuego de la fe en vez de preservar las cenizas de una identidad autorreferencial. Una comunicación cuyas bases sean la humildad en el escuchar y la parresia en el hablar; que no separe nunca la verdad de la caridad”. 




PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Aunque algunos dudaron…


Señor,

Presente, siempre presente en mis días

Si supiera interpretar esas horas, esas benditas letanías

Cuando todo se iguala, se allana y culmina

No dudaría


Eres tan grande y tan pequeño, no tienes medida

Por eso no entiendo la prisa y la agitación

Las experimento sin piedad y con desazón


Ayúdame Señor, quiero responder a tu cita

Que es para todos pero en especial 

Para cada uno, para mí


Dame la fuerza de tu Envío, el entusiasmo por el desafío

Para alzar mis brazos, hacia ti Señor que reinas alzado,

Y nunca bajarlos, a pesar de los fracasos


Señor,

Presente, siempre presente en mis días

Si supiera interpretar que la obra es tuya 

Aunque no vea que todo se iguala, se allana y culmina

No dudaría


Amén

Y esperamos tu Santo Espíritu. Amén.