3º DOM ADV. B


3º DOMINGO DO ADVENTO- ANO B

 “Gaudete”

17/12/2023 

 LINK AUXILIAR:

1ª Leitura: Isaías 61,1-2a.10-11

Salmo Responsorial Lucas 1-R- A minh 'alma se alegra no meu Deus 

2ª Leitura: 1 Tessalonicenses 5,16-24

Evangelho de João 1,6-8.19-28

Naquele tempo 6 Veio um homem, enviado por Deus; seu nome era João. 7 Ele veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos pudessem crer, por meio dele. 8 Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 19-Este é o testemunho de João, quando os judeus enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas para lhe perguntar: “Quem és tu?” 20  Ele confessou e não negou; ele confessou: “Eu não sou o Cristo”. 21        Perguntaram: “Quem és, então? Tu és Elias?” Respondeu: “Não sou”. – “Tu és o profeta?” – “Não”, respondeu ele. 22    Perguntaram-lhe: “Quem és, afinal? Precisamos dar uma resposta àqueles que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?” 23    Ele declarou: “Eu sou a voz de quem grita no deserto: ‘Endireitai o caminho para o Senhor!’”, conforme disse o profeta Isaías. 24        Eles tinham sido enviados da parte dos fariseus, 25       e  perguntaram a João: “Por que, então, batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?” 26        João lhes respondeu: “Eu batizo com água. Mas entre vós está alguém que vós não conheceis: 27     aquele que vem depois de mim, e do qual eu não sou digno de desatar as correias da sandália!” 28   Isso aconteceu em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando.

DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP


Jo 1,6-8.19-28

O evangelho de hoje nos fala do testemunho de João Batista. João Batista atraiu muitos discípulos, converteu muitos pecadores, batizava para preparar as pessoas para a vinda do Messias. O evangelho chama a atenção para a importância do testemunho para a vinda do Messias.

 

Deus prepara a vinda de Jesus através do testemunho de João Batista. Hoje muitos lamentam a crise da fé e da Igreja: os católicos abandonam a Igreja e muitas pessoas não querem saber da fé cristã. Qual é a causa dessa crise? Faltam mais testemunhas como João Batista! Dito de modo mais pessoal: falta que nós testemunhemos mais Jesus como João Batista!

No evangelho João nega que seja o Messias. Ele também nega ser Elias e o Profeta. João Batista rejeita esses três títulos (Messias, Elias e o Profeta) porque não lhe são devidos. Muitos esperavam o retorno de Elias que não tinha morrido, pois tinha subido ao céu num carro de fogo. Outros esperavam o Profeta anunciado por Malaquias: “Eis que envio o meu mensageiro; ele preparará o caminho diante de mim. E subitamente virá ao seu templo o Senhor que vós buscais e o mensageiro da aliança que vós esperais. Eis que ele vem” (Ml 3,1).

Naquela época, o clima de expectativa pela vinda do Messias era muito intenso e explosivo. Como hoje, naquela época apareceram também os exaltados e os aproveitadores.

Ao recusar esses três títulos, João Batista confessa também que o seu batismo não tem o poder de salvar as pessoas que vêm até ele. Se é assim: por que ele batiza? Essa é a pergunta que a embaixada de sacerdotes e de levitas faz, logo que João se nega a se identificar com o Messias, Elias e o Profeta. Tratava-se de uma pergunta legítima: se João não tem o poder do Messias, então para quê batizar?

É nesse momento que João apresenta a sua verdadeira identidade e missão: “Eu sou a voz de quem clama no deserto: Endireitai o caminho para o Senhor!” João é somente uma voz que grita a grande libertação que o Cristo vem trazer. Sem deixar a humildade de lado, João revela que ele é o testemunho do Antigo Testamento em pessoa. Em João Batista, todo o Antigo Testamento está presente como preparação e anúncio daquele que vem: o Messias. Por isso, ele batiza. Mesmo que não tenha o poder de salvar, o seu batismo, assim como suas palavras tem o objetivo de levar as pessoas a Cristo. O batismo de João aponta para o batismo de Jesus, que é o batismo do Espírito.

Como voz que grita, João procura dar a conhecer o Desconhecido que já está presente. As pessoas não o conhecem, mas ele se torna conhecido exatamente pela voz que grita. Também João Batista não o conhecia, mas ao receber a missão de batizar com água, lhe foi concedido a graça de conhecer o Desconhecido e de o dar a conhecer aos outros.

Aquilo que João disse não ser, ele testemunha ser Jesus: ele é o Messias, Elias e o Profeta esperado. Em Jesus a salvação, há tanto esperada e preparada, finalmente irrompe neste mundo. Jesus é o Grande Desconhecido dos tempos atuais. Ele só se tornará Conhecido, Amado e Esperado se formos também nós “voz que grita no deserto”. 


 Testemunhas da luz - José Antonio Pagola

 

É curioso como apresenta o quarto evangelho a figura do Baptista. É um «homem», sem mais qualificativos ou precisões. Nada é dito sobre sua origem ou condição social. Ele próprio sabe que não é importante. Não é o Messias, não é Elias, nem sequer é o Profeta que todos esperam. Só se vê a si mesmo como «a voz que grita no deserto: Preparai o caminho do Senhor». 

 

No entanto, Deus envia-O como «testemunha da luz», capaz de despertar a fé de todos. Uma pessoa que pode espalhar luz e vida. Que é ser testemunha da luz?

 

A testemunha é como João. Não se dá importância. Não procura ser original ou chamar a atenção. Não tenta impactar ninguém. Simplesmente vive a sua vida de uma forma convincente. Vê-se que Deus ilumina a sua vida. Irradia-o no seu modo de viver e acreditar.

 

A testemunha da luz não fala muito, mas é uma voz. Vive algo inconfundível. Comunica o que a Ele faz viver. Não diz coisas sobre Deus, mas contagia «algo». Não ensina doutrina religiosa, mas convida a acreditar. A vida da testemunha atrai e desperta interesse. Não culpabiliza ninguém. Não condena. Contagia confiança em Deus, liberta de medos. Abre sempre caminhos. É como o Baptista, «abre o caminho para o Senhor».

 

A testemunha sente-se débil e limitada. Muitas vezes comprova que a sua fé não encontra apoio nem eco social. Inclusive vê-se rodeado de indiferença ou rejeição. Mas a testemunha de Deus não julga ninguém. Não vê os outros como adversários que tem de combater ou convencer: Deus sabe como encontrar-se com cada um dos seus filhos e filhas.

 

Diz-se que o mundo atual se está a converter num «deserto», mas a testemunha revela que algo sabe sobre Deus e o amor, algo sabe sobre a «fonte» e de como se acalma a sede de felicidade que há no ser humano. A vida está cheia de pequenas testemunhas. São crentes simples e humildes, conhecidos apenas por aqueles à sua volta. Pessoas muito boas. Vivem da verdade e do amor. Eles "abrem-nos o caminho" para Deus. São o melhor que temos na Igreja. 

 

Advento: identidades que iluminam - Pe Adroaldo Palaoro


“Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz” (Jo 1,8)


É curioso como o quarto Evangelho apresenta a figura de João Batista: “surgiu um homem”, sem revelar outros dados pessoais. Não diz nada a respeito de sua origem ou condição social. O próprio Batista sabe que isto não é importante, pois ele mesmo afirma que não é o Messias, não é Elias, nem sequer o Profeta que todos estão esperando. Ele só se vê a si mesmo como a “voz que grita no deserto: aplainai o caminho do Senhor”.

Certamente a figura dos sacerdotes que falavam no Tempo não despertavam curiosidade e nem eram escutados por ninguém; as pessoas se deslocavam ao Tempo não por causa deles, mas por causa do próprio Templo. No entanto, a simples figura de João no deserto, longe do Templo e do poder religioso, arrastava multidões, despertava em todos o desejo de uma profunda conversão.

A voz de João nas periferias provocava inquietações e preocupações nos responsáveis do Templo. É possível que ninguém tenha perguntado aos sacerdotes: “E vocês quem são e que dizem de si mesmos?”

A estrutura religiosa do Templo se sentia questionada por esse homem estranho do deserto, sem ornamentos luxuosos a não ser uma veste de pele de camelo e uma vida de austeridade. Mas, sua vida, por si só, falava de algo diferente, de algo novo. Uma voz que encontrava ressonância no interior das pessoas.

Essa é a verdadeira identidade de João: ser uma “voz” diferente daquela que todos estavam acostumados a ouvir e que mantinha tudo como estava. No entanto, Deus o envia como “testemunha da luz”, capaz de despertar a fé de todos; uma pessoa que pode contagiar luz e vida.

Que é ser “testemunha da luz”? É ser como João: viver em função de Outro. Não alimenta seu ego, não busca ser o centro nem chamar a atenção sobre si mesmo; não quer provocar impacto em ninguém. Simplesmente vive sua vida de maneira inspirada; é presença que ilumina porque deixa que o Deus da Luz atravesse sua vida. Irradia luz em sua maneira de viver e de crer.

A testemunha da luz não fala muito, mas é uma “voz”; vive de uma maneira inconfundível. Comunica Quem lhe faz viver. Não proclama “teorias” sobre Deus, mas contagia “algo”; não ensina doutrina religiosa, mas convida a crer. Como testemunha da luz, sua vida atrai e desperta interesse. Não culpabiliza ninguém, não condena, mas contagia confiança em Deus, liberta dos medos, abre sempre caminhos novos. É como o Batista, “aplaina o caminho do Senhor” para facilitar do encontro de todos com Ele.

A testemunha da luz se sente frágil e limitada. Muitas vezes comprova que sua fé não encontra apoio nem eco social. Vê-se, inclusive, rodeado de indiferença e rejeição. Mas quem é testemunha de Deus não julga ninguém, não vê os outros como adversários que devem ser combatidos ou convencidos: Deus sabe como encontrar-se com cada um de seus filhos e filhas.

Na Igreja, ninguém é a “Luz”, mas todos podem irradiá-la com suas vidas. Ninguém é “a Palavra de Deus”, mas todos podem ser uma voz que desperta e move a centrar a vivência cristã na pessoa de Jesus Cristo.

Diz-se que o mundo atual está se convertendo em um “deserto desolador”, mas a testemunha da luz revela que experimenta algo de Deus e do amor, experimenta algo da “fonte” e sabe como acalmar a sede de felicidade presente no interior de cada ser humano.

A vida está cheia de pequenas testemunhas da luz: são pessoas de fé com a marca da simplicidade, da humildade, conhecidos somente em seu entorno; pessoas entranhavelmente boas e transparentes, pois vivem a partir da verdade e do amor. Elas “aplainam o caminho” para Deus. São o melhor que temos na Igreja.

Há vidas que não dizem nada; há vida silenciosas, mas que dizem muito. Há vida anônimas, mas que inquietam. Há vidas cujo silêncio desperta interrogações. Há vidas que são palavras e atos em favor da vida.

Que maravilhosas são essas pessoas que, sem fazer muito ruído, são capazes de questionar as vidas e os corações dos outros. Há aquele que fala muito e não diz nada. Há aquele que apenas tem “nome” e sua vida questiona o resto. Há quem passa sem fazer ruído, mas sua passagem desperta curiosidade.

João Batista, a partir do deserto, deixa transparecer sua identidade na relação com um Outro que não é conhecido por todos. “No meio de vós está Aquele que vós não o conheceis”.

O Batista fala de uma presença velada que não é fácil descobrir; ele é a memória daqueles que custam reconhecer a presença de Jesus. Precisamente toda sua preocupação está em “aplainar o caminho” para que aquelas pessoas pudessem crer n’Ele.

Essa dificuldade permanece hoje. Mas as palavras do Batista estão redigidas de tal forma que, lidas hoje por nós que dizemos ser cristãos, provocam perguntas inquietantes. Jesus está no meio de nós, mas, nós o conhecemos de verdade? Comungamos com Ele e com a causa do Reino? O modo d’Ele ser e viver nos seduz?

Muitos cristãos se limitam a seguir uma religião, a realizar alguns ritos vazios, a cumprir algumas devoções estéreis e que não tem impacto no modo de ser e viver. São inúmeros aqueles que não tem Jesus como referência inspiradora e nem tem significado algum em suas vidas. No melhor dos casos, o único que lhes interessa é a doutrina, a moral e os ritos oficiais para alcançar uma segurança externa. E isto acaba “ocultando” a pessoa de Jesus.

Talvez, esteja aqui a maior incoerência do cristianismo: são tantos homens e mulheres que se dizem “cristãos”, em cujo coração Jesus está ausente. Não o conhecem, não vibram com Ele, não se sentem atraídos e seduzidos por Ele. Jesus é uma figura inerte e apagada. Está mudo. Não lhes diz nada especial em suas vidas. Suas existências não estão marcadas pelo projeto vital de Jesus.

O mundo de hoje e a Igreja precisam de cristãos que sejam “testemunhas da luz”, que ajudem a aplainar os caminhos que conduzem a uma identificação profunda com Aquele que sempre está presente e que nem sempre é reconhecido. Cristãos, cujas vidas anônimas e sem necessidade de dizer muitas coisas, inquietam e despertam interrogações nos outros.

Vivemos imersos num oceano de luz; carregamos dentro de nós a força da luz. Ela sempre está aí, disponível; basta abrir-nos a ela com a disposição de acolhê-la e de fazer as transformações que ela inspira.

Pelo fato de ser benfazeja e criadora, a luz nos permite dizer com o poeta Thiago de Mello, no meio de impasses, ameaças e conflitos que pesam sobre nossa vida: “Faz escuro, mas eu canto”.

O ser humano é luz quando expande seu verdadeiro ser, ou seja, quando transcende e vai mais além, desatando os originais recursos e possibilidades de humanidade que o habitam. A luz, por si mesma, é expansiva: “Vós sois a luz do mundo”. A vida inspirada pela fé é um “caminhar na Luz”.

Somos portadores da “luz nova”; não extinguir essa luz que ilumina dentro. Abafar essa luz é menosprezar a vida da Graça, o tesouro que nos foi confiado no batismo.

Devemos guardá-la ciosamente, velar por ela, valorizá-la pela nossa colaboração, estimá-la e protegê-la, como a chama olímpica que nos levará à vitória.


Para meditar na oração:

Despertar a consciência de que o Advento é um tempo especial de densidade mobilizadora, dentro de nós. Revela-se como uma liturgia cósmica: quatro semanas de evolução para a Luz, trazendo à nossa consciência todas as imagens da natureza e da humanidade, através de textos proféticos inspiradores, de anúncio da Vida.

- Deixemo-nos iluminar por Aquele que é Luz; levemos a luz nas nossas pobres e frágeis mãos, iluminando os recantos do nosso cotidiano.



Dissipar as falsas esperanças - Ana Maria Casarotti

 

Iniciamos a Terceira semana do Advento e, novamente, aparece a figura de João Batista. O início da narrativa deixa claro quem é esta pessoa. Ele é enviado por Deus e “veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele”.

Ele tem uma missão que é ser “testemunho da luz”. O testemunho é aquele que comunica com sua vida, com suas atitudes e palavras a presença de outra realidade: a Luz.

A luz é vital, sem a luz nada pode subsistir muito tempo, a luz sinala o sendeiro, como aconteceu na saída do povo de Israel do Egito. Símbolo da liberdade, da saída da escravidão, representado muitas vezes com a escuridão para a luz, para a vida. No salmo 36 lemos: “Pois em ti se encontra a fonte da vida e com a tua luz nós vemos a luz” (Sal 36,10).

No capítulo 8 do Evangelho de João, Jesus se apresenta como a luz. Ele disse: «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida.» Por isso em várias oportunidades ele dirá para seus discípulos que não se deixem dominar pelas trevas, pela escuridão ou pelo engano. Assim também Paulo usa o símbolo da luz para dirigir-se aos seguidores de Jesus. Na carta aos Efésios, ele dirá aos cristãos: “Outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Por isso, comportem-se como filhos da luz. O fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade. Saibam discernir o que é agradável ao Senhor” (Ef 5, 8-10).

E João Batista veio para dar testemunho desta luz, desta vida que vai nascer e que enche com sua claridade nossa vida e nosso caminho. Ele deixa claro que não é a luz, ele é simplesmente um testemunho dessa Luz, que foi anunciado pelos profetas ao longo da história do povo de Israel. Eles só conhecem sua luminosidade, seu resplendor, mas agora todos experimentarão a presença da Luz!

A narrativa sobre o sentido do testemunho de João nos introduz logo num diálogo com sacerdotes e levitas enviados pelas autoridades dos judeus para saber quem era essa pessoa que estava batizando no rio Jordão. Era o Elias redivivo que anunciava a vinda de um Messias? Ele era o Profeta? Quem era?

Estabelece-se um diálogo entre eles e João. No começo estes enviados procuram esclarecer suas dúvidas e João só responde com negações. Há um confronto direto. João nega, sem acrescentar nada sobre si mesmo.

Então eles perguntam: “Quem é você? Temos que levar uma resposta para aqueles que nos enviaram. Quem você diz que é?”.

E João se declara como «Uma voz gritando no deserto: ‘Aplainem o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías.»

João é uma voz que grita no deserto. Ele se define como uma voz, como um clamor em que é preciso ir ao deserto para escutá-la. Essa voz não pode ser escutada se ficamos no meio do barulho que nos atrapalha e não permite que os ouvidos estejam atentos e afinados para escutá-la e, ainda menos, para aquilo que nos comunica.

É possível escutar a voz de João se não caminhamos para o deserto? Quais são as vozes que gritam, mas não comunicam nada?

João Batista teve que caminhar para esse deserto e somente nesse espaço ele convida as pessoas a preparar-se para a Vinda de Jesus. É preciso ter os espaços de silêncio próprios, e, como disse o Pe. Adroaldo Palaoro, sacerdote jesuíta, “um silêncio que não é só ausência de palavras, mas ocasião para dar a possibilidade a palavras diferentes e novas; um silêncio que é superação do palavreado crônico que nos esvazia por dentro”. (Texto completo: Advento: as vozes que fazem a diferença)

Hoje, nesse silêncio, João Batista nos chama a “aplainar o caminho do Senhor”. João Batista dirige suas palavras a cada uma e cada um dos seguidores de Jesus para preparar-nos para sua Presença no meio de nós.

Jesus vai nascer num mundo onde há muitas desigualdades marcadas pelo sendeiro da vida. Algumas pessoas têm possibilidades de caminhar ou até de escolher caminhos, e outras pessoas vivem toda sua vida encerrada num refúgio que lhes foi dado para realizar sua tarefa de escravos. Outras são destinadas aos refúgios porque o muro da desigualdade e da morte as impede de continuar seu caminho.

Através da voz de João Batista, hoje somos convidados a aplainar caminhos, a oferecer as mesmas possibilidades para todos e todas. “Em tempos de muros, sentimo-nos chamados a construir pontes entre pessoas, culturas e sociedades. A levantar nossas vozes e trabalhar juntos e juntas para que os Estados centro-americanos e norte-americanos respeitem os direitos humanos e o princípio da dignidade humana, celebrem as diferenças e fomentem uma cultura de hospitalidade e fraternidade”. (Texto completo: É tempo de construir pontes, não muros! O apelo da Companhia de Jesus na América Central) 

Podemos pensar, ao nosso redor, quais são as desigualdades que vemos e com que podemos contribuir para que sejam aplainadas.

Nesta semana peçamos ao Senhor a capacidade de ouvir a voz de João Batista e preparar, assim, a Vinda do Senhor!

 

Sou a voz que grita no deserto! - Frei Carlos Mesters, e Francisco Orofino

Hoje é o domingo em que celebramos a alegria. Tanto a primeira leitura quanto o cântico de meditação nos colocam diante da contribuição de Maria para a chegada do Salvador. Natal é celebrar o mistério da Encarnação de nosso Deus. É acompanhar com esperança a gravidez de Maria.

O texto de Isaías ressalta a alegria de quem vive intensamente uma experiência da presença de Deus. Esta alegria é confirmada por Maria em seu cântico. Ao entoar o cântico, Maria proclama a mudança que aconteceu em sua própria vida. O olhar amoroso de Deus, cheio de misericórdia, voltou-se para a pequenez desta jovem, residente numa pequena e esquecida aldeia no interior da Galileia, periferia do mundo.

Maria atende às exigências da Palavra de Deus e diz “sim” ao chamado para a missão materna. Ela se coloca como serva da Palavra e, através desta obediência, faz Jesus nascer para todos nós. Por isso ela canta feliz, exultante de alegria em Deus Salvador por tão grandiosa missão.

O mistério da Encarnação é ressaltado também pelo evangelho de hoje. É um pequeno trecho do Prólogo do evangelho de João. João Batista veio para ajudar o povo a descobrir e saborear a presença luminosa e consoladora da Palavra de Deus na vida do povo.

O testemunho do Batista foi tão importante que muita gente pensou que ele fosse o Messias. Por isso o texto esclarece dizendo: “João não era a luz! Veio apenas para dar testemunho da luz!” Ele veio apontar a presença de Deus em Jesus, a verdadeira luz que ilumina todo ser humano que vem a este mundo.

ATUALIZAÇÃO

Hoje nós devemos ser as testemunhas fiéis que anunciam a presença de Deus no meio de uma sociedade violenta, agressiva e consumista. Nosso testemunho deve ser a vida em comunidade de acordo com os pedidos e conselhos de Paulo na carta aos tessalonicenses, onde ele diz: estejam sempre alegres, rezai sem cessar. Não extingam o Espírito!

O grande recado da celebração de hoje é o que dizia Isabel a Maria, a mãe de Jesus: Feliz aquela que acreditou! O recado é este: crer na Palavra de Deus, pois ela tem força para realizar aquilo que ela nos diz. A palavra de Deus é Palavra criadora e salvadora.


Humildade é saber situar-se no chão da sua própria realidade - Frei Carlos Mesters, O. Carm.

João 1,6-8.19-28


Introdução

A Leitura Orante de hoje apresenta para nós a figura de João Batista e descreve o lugar que ele ocupa dentro do plano de Deus. Assim, ela nos ajuda a nos preparar para o Natal.

João Batista foi grande, muito grande. Tinha sido um profeta com muitos discípulos e grande liderança popular. Jesus o definiu como o maior nascido entre as mulheres. Mesmo assim, conforme Jesus, o menor no Reino é maior que João (Mt 11,11). João sabia disso. Exaltado pelos outros, ele não se exaltava a si mesmo. Depois que Jesus começou a anunciar o Reino de Deus, ele soube ceder o lugar. Os seus discípulos, porém, não tiveram a mesma grandeza de alma. Eles ficaram com inveja. João os ajudou a superar o problema. De fato, não é fácil ceder o lugar e a liderança aos outros e colaborar com eles para que possam realizar a sua missão.

Uma divisão do texto para ajudar na leitura:

Jo 1,6-8: O lugar de João dentro do plano de Deus: dar testemunho da luz

Jo 1,19-21: O testemunho negativo de João a respeito de si mesmo: ele não é o que os outros pensam dele.

Jo 1,22-24: O testemunho positivo de João a respeito de si mesmo: ele prepara o caminho do Senhor.

Jo 1,25-28: O significado do batismo de João: ele prepara a vinda de alguém maiors.

Comentando e Alargando

O contexto em que João Batista aparece no Evangelho de João

            O evangelho de João foi escrito no fim do 1º século. Naquele tempo, tanto na Palestina como na Ásia Menor, onde quer que houvesse alguma comunidade de judeus, havia também pessoas que tinham estado em contato com João Batista ou que tinham sido batizadas por ele (At 19,3). Visto do lado de fora, o movimento de João Batista era muito semelhante ao de Jesus. Ambos anunciavam a chegada do Reino (Mt 3,1-2) e ambos exigiam a conversão (Mt 4,17). Deve ter havido uma certa competição entre os seguidores de João e os de Jesus. Por isso, a resposta de João a respeito de Jesus valia não só para os enviados dos sacerdotes e fariseus da época de João, mas também para as comunidades cristãs do fim do primeiro século. De fato, todos os quatro evangelhos se preocupam em relatar as palavras de João Batista afirmando ele não ser o messias (Mt 3,3.11; Mc 1,2.7; Lc 3,4.16; Jo 1,19-23.30; 3,28-30).

Comentário do testemunho de João Batista

1. João 1,6-8:  O lugar de João dentro do plano de Deus: dar testemunho da luz. 

            O Prólogo do quarto Evangelho afirma que a Palavra viva de Deus está presente em todas as coisas e brilha nas trevas como luz para todo ser humano. As trevas tentam apagá-la, mas não o conseguem (Jo 1,1-5). Ninguém consegue abafá-la, pois não conseguimos viver sem Deus por muito tempo. A busca de Deus, sempre de novo, renasce no coração humano. João Batista veio para ajudar o povo a descobrir esta presença luminosa da Palavra de Deus na vida. O testemunho dele foi tão importante, que muita gente chegou a pensar que ele fosse o Cristo (Messias)! (At 19,3; Jo 1,20) Por isso, o Prólogo esclarece dizendo: "João não era a luz! Veio apenas para dar testemunho da luz!"

2. João 1,19-21: O testemunho negativo de João a respeito de si mesmo: ele não é o que os outros pensam dele.

            Os judeus enviaram sacerdotes e fariseus para saber quem era esse João que batizava o povo no deserto e que atraía tanta gente de todos os lados. Eles mandaram perguntar: “Quem é você?” A resposta de João é curiosa. Em vez de dizer quem é, ele responde dizendo quem não é: “Não sou o Messias!” Em seguida, vem mais duas negativas: ele não é Elias nem o profeta. Tratava-se de aspectos diferentes da mesma esperança messiânica. Nos tempos messiânicos, Elias  voltaria para reconduzir o coração dos pais para os filhos e dos filhos para os pais. Ou seja, voltaria para restaurar a convivência humana (Ml 3,23-24; Ecl 48,10). O profeta, anunciado para, no futuro, levar a bom termo a obra iniciada por Moisés, era visto pelo povo como o messias esperado (Dt 18,15). João recusou estes títulos messiânicos, porque ele não era o Messias.

            Mais tarde, porém, o próprio Jesus disse que João era Elias (Mt 17,12-13). Como entender esta afirmação? É que havia várias interpretações a respeito da missão de Elias. Alguns diziam que o Messias seria como um novo Elias. Neste sentido, João não era Elias. Outros ensinavam que a missão de Elias era apenas para preparar a vinda do Messias. Neste sentido, João era Elias.

            Neste diálogo entre João e os fariseus e sacerdotes transparece a catequese das comunidades do fim do primeiro século. As perguntas dos sacerdotes e dos fariseus a respeito do significado de João Batista dentro do plano de Deus eram também as perguntas das comunidades. Assim, as respostas de Jesus, recolhidas pelo evangelista, serviam também para as comunidades.

3. João 1,22-24: O testemunho positivo de João: ele é apenas alguém que prepara o caminho

            “Então, quem é você e por que batiza, se não é o Messias, nem Elias, nem o Profeta?” Os enviados pelos sacerdotes e fariseus queriam uma resposta clara, pois deviam prestar conta aos que os tinham encarregado de interrogar João. Para eles não bastava saber o que João não é. Eles querem saber quem ele é e o que ele significa dentro do plano de Deus.

            A resposta de João é uma frase tirada do profeta Isaías, frase muito usada, que aparece nos quatro evangelhos: “Sou a voz que clama no deserto. Preparem os caminhos do Senhor!” (Mt 3,3; Mc 1,3; Lc 3,4; Jo 1,23). Neste uso do Antigo Testamento transparece a mística que animava a leitura que os primeiros cristãos faziam da Sagrada Escritura. Eles buscavam aí dentro as palavras, não tanto como argumentos para provar suas afirmações, mas muito mais para verbalizar e explicitar para si mesmos e para os outros, a novidade da experiência que tinham de Deus em Jesus (cf 2 Tim 3,15-17). 

4. João 1,25-28: O significado do batismo e da pessoa de João.

            Nas comunidades cristãs do fim do primeiro século havia pessoas que só conheciam o batismo de João (At 18,25; 19,3). Entrando em contato com outros cristãos que tinham sido batizados no batismo de Jesus, eles queriam saber qual o significado do batismo de João. Naquele tempo, havia muitos batismos. O batismo era uma forma de a pessoa se comprometer com uma determinada mensagem. Quem aceitava a mensagem era convidado a confirmar a sua decisão através de um batismo (ablução, purificação ou banho). Por exemplo, pelo batismo de João, a pessoa se comprometia com a mensagem anunciada por João. Pelo batismo de Jesus, a pessoa se comprometia com a mensagem de Jesus que lhe comunicava o dom do Espírito (At 10,44-48; 19,5-6).

            No meio de vocês está quem vocês não conhecem. Esta afirmação de João refere-se a Jesus, presente no meio da multidão. Na época em que João escrevia o seu evangelho, Jesus continuava presente nas comunidades e nas pessoas, sobretudo nos pobres com os quais ele se identificava. Hoje ele está no meio de nós de muitas maneiras e também hoje, muitas vezes, nós não o conhecemos, como diz o canto: Entre nós está e não o conhecemos!


Ampliando as informações do Evangelho de João sobre João Batista

João Batista no Evangelho de João

            João provocou um movimento popular muito grande. O próprio Jesus aderiu ao movimento do Batista e se fez batizar por ele no rio Jordão. Mesmo depois de morto, João continuava a exercer uma grande atração e liderança, tanto entre os judeus como entre os cristãos vindos do judaísmo (At 19,1-7). As informações sobre João Batista, conservadas no Quarto Evangelho (Jo 1,6-8.15.19-36; Jo 3,22-30), são as seguintes: 1) João veio para dar testemunho da luz, para que todos pudessem crer por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz (Jo 1,6-8).  2) Jesus veio depois de João e chegou a ser discípulo de João. Mesmo assim, ele é mais importante que João, porque já existia antes de João: "Aquele que vem depois de mim, passou na minha frente, porque existia antes de mim" (Jo 1,15.30). Jesus é a Palavra Criadora que estava junto do Pai desde antes da criação (Jo 1,1-3).  3) João confessou abertamente: "Não sou o Messias. Não sou Elias. Não sou o profeta que o povo espera. Sou apenas uma voz que clama no deserto: endireitai o caminho do Senhor!" (Jo 1,19-23).  4) Diante de Jesus, João se considera indigno de desatar a correia da sandália dele e diz: "É preciso que ele cresça e eu diminua" (Jo 1,27; 3,30).  5) A respeito de Jesus, ele declarou ao povo: "Vi o Espírito descer do céu e permanecer sobre ele. Ele vai batizar com o Espírito Santo!" (Jo 1,32-33). 6) João aponta Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1,29.36), o Eleito de Deus (Jo 1,34).

A Galeria dos Encontros no Evangelho de João

            No Evangelho de João, são narrados com muitos detalhes os vários encontros que Jesus teve com as pessoas ao longo da sua vida itinerante pela Palestina: com os primeiros discípulos (Jo 1,35-51), com Nicodemos (Jo 3,1-13; 4,14; 7,50-52; 19,39), com João Batista (Jo 3,22-36), com a Samaritana (Jo 4,1-42), com o paralítico (Jo 5,1-18), com a mulher que ia ser apedrejada (Jo 8,1-11), com o cego (Jo 9,1-41), com Marta e Maria (Jo 11,17-37). Estes e outros encontros são como quadros, colocados nas paredes de uma galeria de arte. Eles vão revelando aos olhos atentos de quem os aprecia algo que está por trás dos detalhes, a saber, a identidade de Jesus. Ao mesmo tempo, mostram as características das comunidades que acreditavam em Jesus e davam testemunho da sua presença. São também espelhos, que ajudam a descobrir o que se passa dentro de nós quando nos encontramos com Jesus. O espelho do encontro de Jesus com João Batista, que meditamos neste terceiro domingo do Advento, ajuda a preparar-nos para o nosso encontro com Jesus na próxima festa de Natal.



João 1,6-8.19-28 - Endireitai o caminho do senhor - Claudete Sneider


Neste terceiro domingo do Advento, refletimos sobre João Batista, simbolizado pela 3ª vela da coroa de Advento, aquele que preparou o caminho para Jesus. João Batista denuncia as injustiças do seu tempo, e aponta para aquele que é a luz. A vida e a história de João Batista nos acompanham ao longo do ano, lembrando-nos da importância da humildade, de ter a coragem de dizer “Não” e do testemunho da verdade!

João Batista – testemunha da luz (João 1,6-8)

No Evangelho de João, João Batista é identificado como a primeira testemunha da luz. “Ele veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele”. O que significa ser testemunha da luz? João Batista vem na frente para testemunhar a luz. A luz ilumina! Ela traz a verdade à tona. A luz não quer esconder nada! Como é triste uma vida sem luz! Na verdade, a vida não existe sem luz! Vida e luz estão interligadas! Portanto, João é portador do anúncio de uma vida boa, justa, abundante. Ele anuncia esta vida. João é testemunha. Testemunha é alguém portador de uma verdade. Alguém que presenciou um fato! É interessante que o Evangelho de Lucas conta que quando as mães grávidas Maria e Isabel se encontraram, a criança no ventre de Isabel se mexeu de alegria. Já ali o bebê João Batista dá testemunho de alegria da criança que está no ventre de Maria. Esta comunicação das barrigas grávidas de Maria e Isabel, guardada no registro do Evangelho de Lucas 1,39-45, já nos fala desta testemunha da luz! Ser testemunha é partilhar da alegria da luz! A luz só tem sentido se ela é partilhada! João Batista anuncia para toda a gente a chegada da luz. Ele chamou a todos e todas a crerem na luz da vida! O Evangelho de João também afirma: “Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz”. João Batista não era a luz. Ele veio para ser testemunha da luz.

“Eu não sou…” (João 1,19-21)

O texto inicia, apontando novamente para a importância do testemunho de João: “Este foi o testemunho de João quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: Quem és tu?”. (João 1,19) Para o evangelista, é muito importante a ênfase no testemunho.

O que significa ser testemunha? “Testemunhar é a missão divina de João Batista. (…) Para a teologia do Evangelho de João, o tema do testemunho de Cristo é muito importante” (cf. João 5,31ss, 8,14). (…) A verdade da encarnação de que Jesus é o Filho de Deus precisa ser testemunhada por outros. O testemunho tem a função de uma prova de verdade. [1]

A missão da comitiva de sacerdotes e levitas, vinda de Jerusalém, é interrogar João: “Quem és tu?” Este fato revela que João tinha um grupo de seguidores e era um personagem popular em seu tempo.

O evangelista apresenta, portanto, a resposta de João como uma confissão: “ele confessou e não negou, confessou: Eu não sou o Cristo” (João 1,20). Confessar que não é o Cristo significa confessar que não é o Messias. Os interrogadores continuam: “Quem és, pois? És tu Elias? Ele disse: Não sou. És tu o profeta? Respondeu: Não” (João 1,21). A resposta de João é firme: “Não sou!” Ter a coragem de dizer Não é ter a certeza da verdade, do Sim!

“Declara-nos quem és?” (João 1,22ss)

A comitiva dos interrogadores vindos de Jerusalém não se conforma. “Disseram-lhe, pois: Declara-nos quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes a respeito de ti mesmo?” E João então respondeu: “Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías” (João 1,23). João faz referência ao profeta Isaías, no entanto, é importante observar que a citação não é igual a do livro do profeta. Em Isaías 40,3 encontramos o seguinte: “Eis a voz do que clama: preparai no deserto o caminho do Senhor; endireitai no ermo uma estrada para o nosso Deus”. Isaías é o grande profeta da esperança messiânica.

Provavelmente, a citação de João não é uma citação direta do profeta Isaías. Mas, é interessante observar que João responde, dizendo: “Eu sou a voz que clama no deserto”. João é a voz que clama no deserto. Nos desertos da vida, João não tem medo, ele clama e convoca: “Endireitai o caminho do Senhor…” Isto significa que o caminho do Senhor estava com problemas. Isto é, a forma de vida que Deus queria para o seu povo, não estava sendo respeitada.  É necessário endireitar O caminho, para que a Luz possa brilhar para toda a gente.

Portanto, João é identificado como aquele que prepara o caminho. Isto significa que o ministério de João Batista fundamenta-se na tradição, e a partir da Escritura (Isaías 40,3). Assim, confirma-se o que João já tinha confessado: ele não é o Messias, e sua missão é preparar o caminho do Messias. Percebe-se aqui um confronto entre um grupo que afirma ser João o Messias e a comunidade do Evangelho de João que afirma que João Batista era somente aquele que veio preparar o caminho, isto é, testemunhar da luz. Ele é o anunciador, a voz que clama no deserto!

De acordo com Schneider-Harpprecht:

João é como Dêutero-Isaías e Moisés, um dos líderes religiosos que abre espaço para a futura salvação. A sua voz no deserto, o seu grito anuncia o novo êxodo do povo de Deus, a nova vida no país prometido, o reino de Deus. O grito da voz no deserto é radical, o grito por justiça social e pessoal, arrependimento, uma prática renovada, como a tradição sinótica mostra mais do que o Evangelho de João. [2]

Sim, João aponta com firmeza para o novo. Ele é a voz que clama no deserto, que não cala, apesar do deserto! Provavelmente, a realidade do deserto faz clamar e apontar para a necessidade de endireitar o caminho do Senhor.

Então, porque batizas (João 1,25-28)

O interrogatório, no entanto, continua. “Ora, os que haviam sido enviados eram de entre os fariseus. E perguntaram-lhe: Então, por que batizas se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? Respondeu-lhes João: Eu batizo com água; mas, no meio de vós, está a quem vós não conheceis, o qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias”.

João encontra-se no processo de transição do velho para o novo. Ele aponta para o novo, a partir do clamor no deserto. [3] Ele batiza com água por que a sua missão é apontar para o Cristo encarnado (o qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias). João mostra toda a sua humildade em seu testemunho. Ele não é um fim em si mesmo. Ele aponta para a Luz verdadeira. Tudo nele indica Cristo. Por isto, não hesita em dizer que não é o Messias, que não é Elias e tampouco se considera um profeta. O testemunho de João Batista é um Sim radical para a verdadeira luz (João 1,9). Ao aceitar ser menor e ter que diminuir, tal como lemos no Evangelho de João 3,30: “Convém que ele cresça e que eu diminua”, João Batista torna-se a testemunha por excelência da verdadeira Luz.

Em nenhum momento do interrogatório, João Batista procura se igualar ao Messias. Sempre de novo mostra a sua humildade. Ele é uma testemunha fundamental na história da salvação. Jesus Cristo deve ocupar o centro da vida das pessoas. Somente nele deve-se depositar toda a confiança e segurança!

Importância hoje de ser voz que clama no deserto

João Batista, sem dúvida, com sua coragem e testemunho de dizer “Eu não o sou”, encoraja-nos, neste tempo de Advento, de preparação e vigilância, para não nos conformarmos com o sistema neoliberal, no qual vivemos. Como é importante dizer “não” ao consumismo, a preparação que nos é oferecida pelo mercado, onde as mercadorias desejam nos deixar satisfeitas/os e com a sensação de que tudo vai bem ao nosso redor. O símbolo da coroa de Advento, como já foi mencionado, nasceu na periferia da história, de um trabalho pastoral diacônico junto às crianças e a jovens órfãos. Qual é o símbolo que nos acompanha neste tempo de Advento, em 2023? Que vozes clamam no deserto e nos convidam a endireitar o caminho do Senhor? No Brasil, a desigualdade social, continua a reinar. Continuamos a ser, apesar das tantas riquezas, um dos países mais desiguais do mundo. Como temos clamado contra a desigualdade? O que tem nos motivado a dizer profeticamente “não”? Experimentamos uma sociedade desigual, que exclui e mata os pobres. 

Não se pode emudecer o grito, o clamor no deserto por justiça e pelo direito de viver, do povo de Deus. O grito, o clamor no deserto, a partir de Cristo, torna-se testemunho: a luz verdadeira quer brilhar e transformar o deserto da vida. Por isso, tempo de Advento é um novo tempo, uma nova oportunidade também para descobrirmos e buscarmos sinais de transformação na vida pessoal, familiar, comunitária e em nosso engajamento social. Onde percebemos sinais de transformação na Igreja, na sua missão e atuação diacônica, nos movimentos sociais do nosso povo, e em nós mesmos, pessoas, batizadas e amadas por Deus?

Que o Advento, a partir do testemunho de João Batista, tenha um sabor de que a busca pela vida plena e justa é o que realmente importa. Que consigamos testemunhar e colocar sinais da vida plena, da verdadeira luz, que é Cristo, em nosso mundo! Que a nossa voz e a das pessoas sofridas e oprimidas não se cale, mas que a voz que clama no deserto transforme-se, a partir da criança nascida no Natal, em testemunho de luta por vida em abundância!

A coroa de Advento

Neste terceiro domingo, como sinal de preparação e vigilância, acendemos a terceira vela da coroa de Advento. O Advento significa chegada já presente do filho Deus. Nós somos comunidade a caminho. Vivemos no “meio tempo”, “no já e ainda não”! Nós vivemos historicamente entre o Advento que já se realizou e o Advento definitivo que ainda se realizará com a vinda definitiva de Jesus Cristo. Como afirma o poeta: “O caminho se faz ao caminhar”.

A comunidade cristã, ao longo de sua história, encontrou um jeito muito bonito e criativo de preparar esta chegada-presença do nosso Deus, que se fez carne entre nós, na criança que nasceu em Belém. Famílias e comunidades cristãs confeccionam para este período, a coroa de Advento. Esta tradição tem origem no trabalho diacônico, com crianças e jovens órfãos. A coroa de Advento foi confeccionada em 1833, em Hamburgo-Alemanha, pelo pastor luterano Johann Hinrich Wichern. Primeiramente, ela tinha 24 velas em ordem crescente e para cada domingo que antecedia o Natal, uma vela maior. Nas comunidades católicas, a coroa de Advento, foi introduzida após a segunda guerra mundial. Os elementos da coroa de Advento têm o seu significado: A coroa simboliza a eternidade, a terra, o sol, Deus. As velas significam a Luz, que no Natal é presenteado, em Cristo, para a humanidade. Em cada domingo, acendemos uma vela da coroa de Advento, que lembram histórias e personagens bíblicos: 1º Domingo de Advento – Entrada de Jesus em Jerusalém, 2º Domingo de Advento – Volta de Cristo, 3º Domingo de Advento – João Batista – precursor de Cristo, 4º Domingo de Advento – Maria – mãe de Jesus. [4]

(Claudete é colaboradora do CEBI. Pastora da IECLB).

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[1]   SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. 3° Domingo de Advento: João 1.16-8, 19-28. Proclamar Libertação XIX, coord. Edson Edilio Streck e Nelson Kilpp, São Leopoldo: Sinodal, 1993.  p. 23.

[2]   SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. 3° Domingo de Advento: João 1.16-8, 19-28. Proclamar Libertação XIX, coord. Edson Edilio Streck e Nelson Kilpp, São Leopoldo: Sinodal, 1993.  p. 24.

[3]   Veja interessante reflexão de SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. 3° Domingo de Advento: João 1.16-8, 19-28. Proclamar Libertação XIX, coord. Edson Edilio Streck e Nelson Kilpp, São Leopoldo: Sinodal, 1993.  p. 22-26.

[4]   HANNEMANN, Holger. EKD Flyer zum Advent ap. Die Stimme, Zeitschrift der Evangelisch Gemeinden Muhlenberg-Ricklingen, N. 12/1, Dezember 2011/Januar 2012, p. 4.


TEXTO EM ESPANHOL, DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


TERCER DOMINGO DE ADVIENTO - CICLO B

Ser testigos humildes y alegres del Señor que viene a salvarnos  


Primera lectura (Is 61,1-2ª-10-11):


Según los comentaristas, los capítulos 60-62 son los centrales del Tercer Isaías (Is 56-66) y, en opinión de la mayoría, emparentados con el segundo Isaías (Is 40-55) . En estos capítulos desde Jerusalén se anuncia la salvación a todas las naciones y se les invita a reconocer al Señor. En este contexto, el profeta cuenta en primera persona su vocación profética por cuanto dice que el Espíritu de Dios lo ha ungido con la misión de anunciar que los pobres y afligidos serán el pueblo que recibirá la salvación del Señor (61,1-3). Se trata del anuncio del "año de gracia del Señor" o “año jubilar” que estipulaba la liberación de los esclavos israelitas, es decir, de aquellos miembros del pueblo que debieron 'venderse' para poder saldar las deudas contraídas (cf. Dt 15). Ahora bien, en el exilio la situación de los deportados era de extrema pobreza y privación, y bien puede equipararse a la de los pobres esclavizados que no tienen rescatador (go'el), ni pueden liberarse por sí mismos. Por tanto, dado que el jubileo suponía la recuperación de las propiedades vendidas, el perdón de las deudas y la liberación de los esclavos; el "año de gracia del Señor" proclamado por el profeta es equiparable a un año jubilar. Dios anuncia que Él mismo será el go'el (rescatador o redentor) de los pobres - todo el pueblo desterrado - y les devolverá la libertad y la alegría. Brilla en este texto la gratuidad de la iniciativa divina, cuya acción liberadora no es la mera restitución a la situación previa al exilio, sino que promete una nueva etapa, una situación ideal de paz, alegría y justicia.



Segunda lectura (1Tes 5,16-24):


Finalizando ya su primera carta a los cristianos de Tesalónica el Apóstol les señala unas actitudes concretas que deben procurar vivir "hasta la venida de nuestro Señor Jesucristo". Se trata de un verdadero programa de vida para los cristianos de todos los tiempos que vivimos como peregrinos hacia lo definitivo:


Estar siempre alegres.

Orar sin cesar.

Dar gracias a Dios en toda ocasión.

No extinguir el Espíritu, sino examinarlo todo y quedarse con lo bueno.

Cuidarse del mal en todas sus formas. 



Evangelio (Jn 1,6-8.19-28):


La primera parte del evangelio de hoy (1,6-8) está entresacada del prólogo de Juan (1,1-18) en el cual, en cierto modo, representa una especie de interrupción del desarrollo poético y teológico del himno al Verbo de Dios. La mejor explicación para este “corte” es la intención precisa del evangelista de “colocar la obra reveladora de Jesús-Verbo en un contexto histórico concreto, que es aquel en que actuaba el austero predicador del desierto” . Atendiendo al contenido, la finalidad de estos versículos es dejar en claro la diferencia entre el Verbo que era la Luz y Juan el Bautista que fue enviado por Dios para dar testimonio de la Luz .

La luz es uno de los dones fundamentales de la existencia: es posibilidad de ver las cosas y de estar orientado. De modo especial en la Biblia la luz está relacionada con Dios, con la Verdad y con la Vida; y en contraposición a la luz, las tinieblas están relacionadas con el pecado, la mentira y la muerte. Dios crea la luz (Gn 1); la luz lo envuelve como un manto (Sl 104,2); es la luz eterna de la que es reflejo la Sabiduría (Sab 7,26). El nacimiento del príncipe mesiánico se anuncia en términos de luz (Is 9,1). Esta misma simbología aparece en el prólogo de Juan (Jn 1,4-5): "En ella estaba la vida y la vida era la luz de los hombres, y la luz brilla en las tinieblas, y las tinieblas no la vencieron". Más puntualmente en el evangelio de Juan el simbolismo de la luz sirve para expresar tanto la persona de Jesús como su obra; mientras el término “tinieblas” representa al pecado y a la incredulidad. “La luz-vida, contenido del proyecto de Dios (1,4), se encarna en Jesús, proyecto de Dios hecho hombre (1,14). Así, es él la luz del mundo, es decir, la vida de la humanidad. Al dar su adhesión a Jesús y seguirlo, el hombre obtiene la luz que es vida y escapa de la tiniebla-muerte (8,12; 12,36)” . “Esta luz es vida eterna que viene de Dios y se ofrece a los seres humanos para que se liberen de su condición mortal. Los que siguen a Jesucristo no caminan en tinieblas (Jn 8,12), han pasado de la muerte a la vida y ya tienen vida eterna (Jn 5,24), pero los que lo rechazan permanecen en las tinieblas de la muerte (Jn 3,19; 8,12; 12,46)” . 

La segunda parte del evangelio de hoy (1,19-28) nos trae el "interrogatorio" que le hacen a Juan Bautista los sacerdotes, levitas y fariseos enviados desde Jerusalén. Se trata del testimonio del Bautista a su pueblo Israel. A la pregunta fundamental: "¿quién eres tú?", Juan Bautista es contundente al negar ser el Mesías. Tampoco es Elías (cf. Mal 3,23-24) ni el profeta (cf. Dt 18,15-18; 34,10). De este modo rechaza los títulos que generaban expectativas mesiánicas para sus contemporáneos y “pretende dejar en claro que no se mira a sí mismo, ni pretende centrar la atención sobre sí; es sólo uno que hace señales, un dedo extendido para señalar a otro” .

Por su parte, para presentarse, Juan Bautista elige un texto de la Escritura (Is 40,3): "la voz que grita en el desierto, allanen el camino del Señor".

Los enviados desde Jerusalén no parecen haber escuchado la respuesta positiva del Bautista, pues se quedan con la negativa de los títulos mesiánicos y le cuestionan, entonces, su autoridad para bautizar. La siguiente respuesta de Juan debe haberlos desconcertado más todavía, pues no remite a su vocación personal, sino “a alguien que está en medio de ustedes y al que ustedes no conocen” (Jn 1,26); y no remite al pasado sino al futuro porque “él viene después de mí, y yo no soy digno de desatar la correa de su sandalia” (Jn 1,27). Juan Bautista no nombra a Jesús, pero lo define como aquel que vendrá y que es más grande que él al punto de no poder siquiera considerarse digno de ser su discípulo ni su esclavo .

Es sabido que el evangelio de Juan, a diferencia de los sinópticos, se preocupa casi exclusivamente de establecer la insalvable diferencia entre Juan Bautista y Jesús. Así, Jesús es la Luz, mientras Juan es el testigo de la Luz; Jesús es la Palabra, el Verbo, Juan sólo la voz. Juan no es el Mesías, ni Elías ni el Profeta. Juan sólo prepara el camino al que viene después de él y que es mucho más grande que él.


Algunas reflexiones:


Tengamos en cuenta el “clima” litúrgico de este tercer domingo de adviento. En efecto,

"El tema de la alegría ha estado tradicionalmente unido a este tercer domingo de Adviento […] esta alegría está provocada por un doble motivo: la próxima venida del Señor en la Encarnación y la alegría de su vuelta al final de los tiempos" .


En la primera lectura se resalta el gozo del profeta por anunciar la salvación y la justicia de Dios en favor de su pueblo, el año de gracia del Señor: "Yo desbordo de alegría en el Señor, mi alma se regocija en mi Dios" (Is 61,10). Actualizando este texto dice H. U. von Balthasar : “Este año de gracia del Señor nos concierne a todos, porque en el fondo todos nosotros estamos encerrados en nosotros mismos, encadenados por nosotros mismos; no somos incólumes sino que somos tan pobres y estamos tan atribulados que no podemos curarnos a nosotros mismos. Pero Dios no nos traerá esta curación desde fuera, por un milagro externo, sino desde dentro de nosotros mismos, al igual que el organismo sólo se cura desde su interior”.

Para el salmo responsorial, el Magníficat, se ha elegido como estribillo la frase "mi alma se regocija en mi Dios". La Virgen da testimonio de su inmenso gozo interior por la acción de Dios en su vida y en su pueblo.

En la segunda lectura San Pablo, por su parte, comenzaba sus consejos para este tiempo de espera en la segunda venida del Señor invitando a "estar siempre alegres".

El evangelio no tiene una alusión directa a la alegría, pero el testimonio de Juan el Bautista nos señala a Jesús como la LUZ; y la LUZ está asociada en nuestra experiencia cotidiana a la vida y a la alegría. Hablamos de un rostro radiante o iluminado para referirnos a un rostro gozoso. Igualmente, en el AT aparece varias veces esta relación entre luz y alegría (Cf. Is 26,19; Sal 97,11; Jer 25,10; Bar 5,9; Est 8,16; Tob 5,10).


Por tanto, Juan Bautista nos da testimonio de la LUZ del VERBO que viene a iluminar nuestra vida, disipando toda oscuridad y tristeza. A la espera de esta Luz Divina, el corazón goza anticipadamente de su presencia, aún en medio de la noche. Tenemos aquí la primera invitación en este tercer domingo: abrir nuestro corazón al testimonio de Juan el Bautista y creer de verdad que Jesús viene como luz para disipar todas las tinieblas de nuestro corazón. La iluminación es otra metáfora de la salvación que Jesús nos trae a nuestra vida. 

Sería contradecir la predicación del mismo Juan Bautista quedarnos en él en vez de mirar a aquel que está entre nosotros y que viene después de él: Jesús. Pero prestemos un poco de atención a su misión ya que es, en cierto modo, también la misión de la Iglesia, de los cristianos: ser un profeta de transición. En efecto, Juan Bautista recibió el encargo de preparar el camino del Señor que viene y, por tanto, llegado el gran momento fue necesario que el disminuyese para que Cristo creciera (Jn 3,30). Con suprema humildad dejó que el verdadero Salvador de los hombres ocupase su lugar. Y se alegró de ello como el amigo del novio se alegraba al oír la voz del novio (Jn 3,29). Por tanto, en el Bautista se unen armoniosamente una gran humildad con un gozo perfecto porque ha sabido dejarle lugar a Jesús que ha venido (cf. Jn 3,28-30).

San Juan Bautista es un auténtico ejemplo del testigo humilde y alegre de la Buena Noticia que ha recibido, que no proviene de él aunque pase por él para llegar a los demás. 

Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 13 de diciembre de 2020: “He aquí la primera condición de la alegría cristiana: descentrarse de uno mismo y poner en el centro a Jesús. Esto no es alienación, porque Jesús es efectivamente el centro, es la luz que da pleno sentido a la vida de cada hombre y cada mujer que vienen a este mundo. Es un dinamismo como el del amor, que me lleva a salir de mí mismo no para perderme, sino para reencontrarme mientras me dono, mientras busco el bien del otro.

Juan el Bautista recorrió un largo camino para llegar a testimoniar a Jesús. El camino de la alegría no es fácil, no es un paseo. Se necesita trabajo para estar siempre en la alegría. Juan dejó todo, desde joven, para poner a Dios en primer lugar, para escuchar con todo su corazón y con todas sus fuerzas la Palabra. Juan se retiró al desierto, despojándose de todo lo superfluo, para ser más libre de seguir el viento del Espíritu Santo. Cierto, algunos rasgos de su personalidad son únicos, irrepetibles, no se pueden proponer a todos. Pero su testimonio es paradigmático para todo aquel que quiera buscar el sentido de su propia vida y encontrar la verdadera alegría. De manera especial, el Bautista es un modelo para cuantos están llamados en la Iglesia a anunciar a Cristo a los demás: pueden hacerlo solo despegándose de sí mismos y de la mundanidad, no atrayendo a las personas hacia sí sino orientándolas hacia Jesús. La alegría es esto: orientar hacia Jesús. Y la alegría debe ser la característica de nuestra fe”.

Tres ideas fuerza han aparecido en las lecturas de hoy: alegría, humildad y testimonio o misión. Y no sería exagerado decir que estas deberían ser las tres notas distintivas del apóstol de todos los tiempos: ser un testigo humilde y alegre del Señor. Urge esto en especial de cara al mundo actual, como bien señala R. Cantalamessa : "El mundo busca alegría, con sólo oírla nombrar – escribe san Agustín – todos se yerguen y te miran las manos para ver si estás en condiciones de darles algo que alivie sus necesidades. Todos queremos ser felices. Esto es lo que nos une a todos, a buenos y a malos. Quien es bueno, lo es para ser feliz; quien es malo, no lo sería si no esperase con ello poder alcanzar la felicidad. Si todos amamos la alegría es porque de algún modo, aunque sea de forma misteriosa, todos la hemos conocido, si no estuviéramos hechos para ella no la amaríamos. Esta nostalgia de la alegría es el lado del corazón humano abierto naturalmente a recibir la alegre noticia. Debemos, por ello, dar testimonio de la alegría. Cuando el mundo llama a las puertas de la Iglesia – incluso cuando lo hace con ira y violencia – es porque busca la alegría. Los jóvenes, sobre todo, buscan la alegría […] La alegría es el único signo que incluso los no creyentes están en condiciones de recibir y que puede ponerlos seriamente en crisis. No tanto los razonamientos ni los reproches".


Estamos llamados a la alegría, al gozo. Pero siendo plenamente realistas: la raíz de esta alegría y este gozo no está enterrada en este suelo sino en el cielo. Es lo que el Adviento quiere hacernos descubrir: la posibilidad real de estar siempre alegres en la esperanza. Lo dice de modo inmejorable R. Cantalamessa : "El gozo nunca falta, pero es un gozo en esperanza, es decir, un esperar ser felices y un ser felices de esperar".



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Quisiera responder…


Señor, quisiera responder 

A tus preguntas y a las de tantos

Que ¿quién soy?, ¿qué estoy buscando?

¿Adónde voy y de dónde vengo?


Que soy uno de tantos,

y por estas calles ando

el desierto, el silencio, la soledad

se me están haciendo obligados


Camino la vida y busco afirmarme

reconocerme y reconocerte

hacerte el centro de mi vida

quedarme siempre a un costado


También quisiera contar a otros

Lo que me viene pasando

En este tiempo de espera

Todo se me hace pesado


Vestí de Nacimiento mi casa

Y me atraparon pensamientos de nada

Me pierdo y me encuentro 

Se agolpan las angustias, los recuerdos…


Pienso: Un niño pequeño demanda atención, 

Estar en vela, cuidados, urgencias

Contemplar la gravedad del momento

Preparar la mirada para la sorpresa


¿Podré con este cansancio, Señor

Con este agobio de hoy, permanecer alerta?

Te ruego Vencedor, ayúdame esta vez

Para no darle sitio a la pena


En estos días el secreto es del pequeño

Del que corre confiado a seguir la estrella

Belén de los pastores, de la Familia Sagrada

Y de la creación nueva.


Abrígame te pido ten piedad de mí

Se mi ciudad natal y cancela mi orfandad

De ahora y para siempre, para nosotros aquí

Y para la humanidad entera. Amén