1º DOM. ADV. B

1º DOMINGO DO ADVENTO – ANO B

03/12/2023 


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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Isaías 63,16b-17.19b;64,2b-7 

Salmo Responsorial 79(80)R-Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos, para que sejamos salvos! 

2ª Leitura: 1 Coríntios 1,3-9

Evangelho de Marcos 13,33-37

 Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos. Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo, a cada um, sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando. Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer. Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai!”.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP

Mc 13,33-37

Gostaria de convidá-lo a um esforço de imaginação. Procure imaginar: se um dia você precisar contratar um empregado ou empregada para a sua casa, como você faria? Sairia contratando o primeiro que aparecesse? Ou antes de contratar, buscaria as referências? 

Procure imaginar: se você for pedir emprego a uma casa de família, será que conseguiria esse emprego sem levar boas referências? 

Por que são necessárias as referências? 

Elas são necessárias porque ninguém é aceito em tal emprego se não é confiável. Afinal um empregado doméstico, uma empregada doméstica não é só admitida em um trabalho, mas é aceito na casa, é introduzido de certa maneira na vida familiar. Confiamos ao empregado doméstico os nossos bens mais caros. A alguém que trabalha dentro de nossa casa são confiadas não somente as nossas coisas mas também os filhos ou os pais idosos. 

Será que confiamos o que temos de mais caro, íntimo e pessoal a qualquer um? 

Para cuidar do que temos de mais caro, precisamos primeiro de algumas provas da confiabilidade, da honestidade da pessoa a quem nos confiamos. Além da confiabilidade nos acertamos também de sua responsabilidade: se não é uma pessoa preguiçosa, se é pontual, se sabe se antecipar às necessidades, se tem boa resistência ao trabalho.

No Evangelho de hoje Jesus nos exorta a vigilância de um jeito muito interessante. Devemos estar atentos, acordados, vigilantes como os empregados de uma casa a quem um senhor confiou a sua casa.

Em poucos versículos Jesus nos explica de maneira magnífica o que é a vigilância cristã.

34. É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando. 

Antes de falar da vigilância, a parábola nos coloca diante da situação em que vivemos: o Senhor deixou a Sua casa sob a nossa responsabilidade e confiou a cada um de nós uma tarefa. 

Vejam como Deus tem confiança em nós: Ele nos confiou a Sua casa, os Seus bens, os Seus filhos mais queridos.

Nessa grande casa que é a casa de Deus, cada um de nós tem uma tarefa. Todos somos necessários, insubstituíveis nesse sentido. 

Se não cumprir com minha tarefa, ninguém a realizará por mim. É verdade que o plano de Deus, o desígnio de Deus, o Reino de Deus se realizará certamente, mas, se não realizar minha missão que me foi dada por Deus, ficará faltando minha parte.

A vigilância cristã não é espera angustiada e temerosa. Não é viver com medo de ser surpreendido em alguma falha ou erro. A vigilância cristã é a resposta ativa e agradecida à confiança que o Senhor tem em nós.

A nós o Senhor nos confiou a Sua casa, o Seus bens e os Seus caros.

Nos confiou a Sua casa que é também a casa de todos, ou seja, toda a natureza criada. Os bens da terra, os recursos naturais, a água e o ar, os animais e as plantas: tudo nos foi entregue aos nossos cuidados. Somos como jardineiros e agricultores; recebemos de Deus o cuidado da terra e do céu. Os recursos naturais e as riquezas da criação não devem ser destruídos, explorados e esgotados. Deus nos confiou a tarefa de cuidar da criação para que ela possa servir a todos, para que suas riquezas não sejam esgotadas e só sirvam a poucos. 

O Senhor nos confiou o cuidado dos irmãos, principalmente dos menores, dos pobres e dos vulneráveis. Eles são filhos de Deus e assim devem ser tratados e cuidados. Mais do que isso. São eles os prediletos de Deus, são eles amados pelo Pai; e eles nos foram confiados. 

Será que é justo explorar os mais fracos? Agrada ao Senhor que sejamos indiferentes aos seus sofrimentos? A nossa sociedade tem lugar para a vida frágil dos mais pobres, dos mais idosos, para a vida que ainda não nasceu? Cuidamos dos amados de Deus? Estamos ocupados com essa tarefa que o Senhor nos confiou?

Na parábola, uma tarefa de destaque tem o porteiro, porque é ele que exprime melhor do que os outros a necessidade de estar acordado, de não dormir nem se distrair. Os que vivem nos condomínios podem entender bem como a vida de um porteiro pode exprimir bem o que é a vida do cristão. O porteiro, se é um bom porteiro, nunca se afasta do seu posto sem um substituto; é ele que controla o movimento de quem entra e quem sai; ele cuida para que não haja invasão de ladrões; enfim está sempre atento, alerta e ocupado.

Como você pode notar todos devem vigiar: 

35-36: Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer. Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. 

Mesmo que, entre os empregados, o porteiro deva ser o mais vigilante, ninguém deve sucumbir à preguiça, à distração ou ao cansaço. 

Na Igreja e no tempo de hoje quem é o porteiro? Podemos dizer que todo cristão leigo, pelo seu batismo foi constituído com “porteiro” da Casa de Deus. 

O porteiro na Igreja é aquele que deve zelar pela segurança espiritual dos outros. Ele deve zelar pela salvação, pelo destino eterno dos outros. 

Impressiona que o Senhor não nos confiou a tarefa de cuidar de suas coisas e de seus caros somente para esta vida. Ele nos confiou também o seu destino eterno. Ele nos confiou a tarefa de colaborar na salvação das pessoas e na glorificação da natureza. 

Salvar é algo que só Deus pode realizar. Mas Ele, na sua bondade e na confiança que tem em nós, nos deu a responsabilidade e o privilégio de colaborar na salvação própria e na dos outros. Se há um dom divino, este é o de cooperar na salvação da humanidade.

Que confiança! Que responsabilidade! Que privilégio! Que graça!


1º Domingo do Advento – Ano B –Advento: “sentir o tempo”


Adroaldo Palaoro

“Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento” (Mc 13,33)

Com o Advento, iniciamos mais um novo “tempo litúrgico”. Qual o sentido dos tempos litúrgicos?

Podemos representá-los graficamente, visualizando um círculo onde começamos com o Advento, percorremos os “tempos” da vida de Jesus, com suas celebrações mais importantes, e o “tempo comum”, que culmina com a festa de Cristo Rei.

Acaso não é assim o grande círculo da vida? Tempos para gestar a vida, para trazê-la à luz, para alimentá-la e cuidá-la, “tempos comuns” para descobrir a inspiração do viver cotidiano, buscando o sentido de tudo o que fazemos e o que acontece ao nosso redor; às vezes, estes tempos são áridos e cinzentos, outras vezes, iluminantes e coloridos; tempos com a marca da solidão e da perda e tempos de primavera em que a vida brota de novo... Podemos dizer que nós, como num espelho, nos vemos no tempo litúrgico, para compreender e inspirar nossa vida a partir de “Jesus” e da “comunidade cristã”.

Vivemos hoje tempos conturbados, tensos...; partilhamos um momento de grande inquietação social, de aridez espiritual, de drama sanitário, de distúrbios existenciais, de profundos dilemas morais. No entanto, resistimos! Em meio às sombras, perplexidades, contradições, provocações e promessas, que constituem o atual momento histórico, queremos expressar a fé no futuro da nossa vida. Ainda que soframos ventos contrários e as nuvens se adensem no horizonte, sabemos e confessamos com o profeta Jeremias, e pela graça do Espírito, que “há esperança de um futuro” (31,17). Para cada momento histórico sempre foi válido o alerta de Guimarães Rosa: “Viver é muito perigoso”.

A liturgia deste primeiro domingo de Advento se atreve a proclamar de novo sua esperança, como uma grande trombeta, que não chama para a morte, mas para a vida.

A esperança é um princípio vital, expresso na sábia constatação de que “enquanto há vida, há esperança”. Mesmo diante de desafios quase intransponíveis, consideramos possível ser de outro modo, inventamos e reinventamos opções, criamos novas saídas... e, sem cessar, sonhamos com o “mais” e o “melhor”. A esperança cristã destrói os “germes de resignação” da sociedade moderna e combate a “atrofia espiritual” dos satisfeitos. Por isso, a esperança cristã tem os pés plantados no “hoje” da nossa história, inspirando o esforço de transformação deste mundo marcado por muitos sinais de morte.

É ela que introduz na sociedade a sede de justiça e o compromisso de humanização.

Aquele que vive com esperança se sente impulsionado a fazer o que espera. 

Nesse sentido, o futuro esperado se converte em projeto de ação e compromisso. 

Ao adentrarmos, mais uma vez, no tempo do Advento, sentimos ressoar, no mais íntimo, a voz do Mestre da Galiléia, que nos convida a estar vigilantes e atentos, a viver despertos...

E temos muitas frentes abertas: superar o medo que nos paralisa, renovar a esperança no sentido da vida, avançar com a comunidade para uma nova Igreja em saída, ser as mãos de Jesus no mundo para curar, consolar, repartir o pão... Tempo para despertar e cuidar da “casa” que foi confiada à nossa responsabilidade.

A “vigilância”, de que fala o evangelho, é o outro nome para a atitude de “atenção”. 

Para Simone Weil “a atenção é uma prece”, pois ela nos mobiliza para uma aliança com o “hoje” da vida; se não formos prudentes e generosos para manter os olhos bem abertos sobre o presente, perderemos a possibilidade do encontro com o surpreendente. Viver tem a marca da simplicidade, que precisamos redescobrir, despojando-nos de todas as cataratas existenciais que bloqueiam a visão, para deixar-nos conduzir pelo fluir contemplativo. Estamos muitas vezes alienados da vida, separados dela por uma muralha de discursos, de ideias vazias, de esperanças confusas...  Com o olhar contemplativo, podemos perfurar esse muro e deixar-nos impactar pelo novo que se revela do outro lado.

Somos seres “desejantes”. O instigante tempo do Advento ativa em nós os desejos mais nobres e oblativos, nos fazem ultrapassar a barreira do imediato e entrar no movimento que nos impulsiona a ir além, a entrar em sintonia com Aquele que vem e, ao mesmo tempo, já está presente. Desejar o encontro com “Aquele que vem” nos sensibiliza a perceber presente “Aquele que é”.

Por isso, o evangelho de hoje nos apresenta uma imagem sugestiva, que reúne no desejo duas atitudes importantes: o tempo da espera e o permanecer em vigília, ambas vivido no “estar despertos”.

A espera e a vigília da vinda plena do Senhor não nos afastam da realidade presente. Pelo contrário, faz-nos encarnar mais lucidamente nela.

Nesse novo tempo litúrgico, a comunidade cristã permanece à escuta dos passos de Deus, em nosso mundo, em nossa vida. Porque o novo, não vem de fora, mas o sentimos e o tocamos por dentro. 

Aquele que espera o encontro com o Senhor começa a ler a história como história redentora; descobre os momentos de inovação; é capaz de ver as libertações sendo gestadas no silêncio; conecta com as promessas ainda abertas e pendentes: a nova aliança, o novo povo, o novo êxodo, o Messias...

A atitude de vigília nos faz descobrir os sinais da chegada do Reino no tempo: não nos contentamos com o tempo vazio, “normótico” e sempre igual a si mesmo; descobrimos o tempo de salvação no qual há revelação e realização do novo, da justiça e da graça.

Os “esperantes” cristãos precisam aprender a “ressignificar” o tempo, pois o tempo de Deus e do Reino é o tempo da decisão em favor da vida (kairós). O reino tem seu tempo e seu ritmo. Não é questão de pressas, não é questão de datas e lugares, não é questão de cálculos. Tentar acelerar sua vinda seria como esticar o talo da planta para que cresça mais rápido. O importante é ter a paciência de quem sabe que a semente do Reino está semeada em nossa história e ninguém poderá deter seu desenvolvimento.

Nesta tremenda e instigante história, da qual fazemos parte, precisamos nos situar bem. Não só com a cabeça, pois aí já temos as coisas mais ou menos claras, mas com nossa sensibilidade, com compaixão, com nossos modos de falar e de olhar, com aquilo que deixamos que toque e afete às nossas vidas. Trata-se da sabedoria de “sentir o tempo”.

Diante do tempo dramático que vivemos, nossa tentação é querer saltá-lo, fugindo de suas exigências.

Advento vem ser, então, um tempo para voltarmos para o interior em meio à agitação, olhar para dentro e deixar-nos perguntar: presto atenção à história que todos vivemos, às suas dores e à sua beleza? Reconheço seus poderes (augustos, herodes, quirinos) e a vida vulnerável de Deus iluminando-se nela, apesar de tudo?

Somos iniciados a “sentir o tempo” de um modo novo, a fazer-nos amigos dele, a nomear e acompanhar o tempo que nos toca viver, a habitar com intensidade todas as etapas de nossa existência. Cada momento esconde sua pérola, e é muito emocionante poder chegar a descobri-la. Precisamos recuperar a força do “hoje” de Deus fazendo “memória” dos grandes personagens do passado:  Isaías, Jeremias, Elias, João Batista, Isabel, Maria de Nazaré, José... Eles continuam falando, continuam desvelando sinais de vida plena na história presente. Só uma sensibilidade marcada pelo tempo do Advento é capaz de entrar em sintonia com as surpre-sas de Deus; e a história é o rumor dos Seus passos.

Texto bíblico:  Mc 13,33-37

Na oração: Caminhamos para Deus quanto mais nos adentramos no profundo de nós mesmos e da realidade. O maior enraizamento no tempo que nos toca viver desperta maior sensibilidade para sermos surpreendidos pelo novo que brota nos lugares menos esperados; é precisamente ali onde a vida renasce e amadurece.

- Como você se situa diante deste “tempo pandêmico”? Desespero? Medo? Desejo de saltá-lo?...

- Qual é o “novo” que você vislumbra no meio deste tempo? Você percebe algum sentido nele? Para onde ele aponta? É revelador de algo diferente?...

 

Sempre é possível reagir - José Antonio Pagola

 

Nem sempre é o desespero que destrói em nós a esperança e o desejo de continuar caminhando diariamente cheios de vida. Ao contrário, poder-se-ia dizer que a esperança vai se diluindo em nós quase sempre de maneira silenciosa e quase imperceptível.

Talvez sem dar-nos conta, nossa vida vai perdendo cor e intensidade. Pouco a pouco parece que tudo começa a ser pesado e tedioso. Vamos fazendo mais ou menos o que temos que fazer, mas a vida não nos “satisfaz”. Um dia comprovamos que a verdadeira alegria foi desaparecendo de nosso coração. Já não somos capazes de saborear o que há de bom, de belo e de grande na existência.

Pouco a pouco tudo foi se complicando para nós. Talvez já não esperemos grande coisa da vida nem de ninguém. Já não cremos nem sequer em nós mesmos. Tudo nos parece inútil e quase sem sentido.

A amargura e o mau humor se apoderam de nós cada vez com mais facilidade. Já não cantamos. De nossos lábios não saem senão sorrisos forçados. Faz tempo que não conseguimos rezar.

Talvez comprovemos com tristeza que nosso coração foi se endurecendo e hoje não amamos quase ninguém de verdade. Incapazes de acolher e escutar os que encontramos diariamente em nosso caminho, só sabemos queixar-nos, condenar e desqualificar.

Pouco a pouco fomos caindo no ceticismo, na indiferença ou na “preguiça total”. Tendo cada vez menos forças para tudo o que exige verdadeiro esforço e superação, já não queremos correr novos riscos. Não vale a pena. Preocupados com muitas coisas que nos pareciam importantes, a vida nos foi escapando. Envelhecemos interiormente e algo está a ponto de morrer dentro de nós. O que podemos fazer?

A primeira coisa é despertar e abrir os olhos. Todos estes sintomas são indício claro de que temos a vida mal projetada. Esse mal-estar que sentimos é o toque de alarme que começou a soar dentro de nós.

Nada está perdido. Não podemos de repente sentir-nos bem conosco mesmos, mas podemos reagir. Precisamos perguntar-nos o que é que descuidamos até agora, o que é que precisamos mudar, a que devemos dedicar mais atenção e mais tempo. As palavras de Jesus são dirigidas a todos: “Vigiai!” Talvez devamos tomar hoje mesmo alguma decisão.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

 

 

O Senhor vem! Esperemo-lo - Enzo Bianchi


 tradução Moisés Sbardelotto.

 

Inicia o tempo do Advento, isto é, o tempo da espera pela Vinda do Senhor Jesus na glória. Não é um tempo de preparação para a festa do Natal, mas de preparação para aquele evento que o próprio Jesus indicou aos seus discípulos como evento definitivo, evento em que a justiça será definitivamente instaurada e se cumprirá o Reino dos céus por ele anunciado. O grito da Igreja neste tempo é o da Esposa que, junto com o Espírito, invoca: “Vem, Senhor Jesus! Maranà tha!” (Ap 22,17.20; 1Cor 16,22).

A vinda do “Dia do Senhor” já havia sido invocada pelos crentes de Israel, que pediam ao Senhor, Pai e Redentor, que voltasse (cf. Is 63,15-17), isto é, que fizesse sentir a sua presença e viesse libertá-los da opressão e da miséria do pecado, com as suas consequências mortíferas: “Quem dera rasgasses o céu e descesses!” (Is 63,19).

Por sua vez, os cristãos ainda estão à espera, embora o ar que respiram hoje mostre uma profunda incapacidade de esperar: eles sabem, porém, que a espera do Senhor é a única espera importante, decisiva, e acreditam firmemente nas suas palavras sobre a vinda do Filho do homem (cf. Mc 13,26-32).

O Filho do homem, isto é, Jesus que já veio na frágil carne humana, nascido de Maria e morto na cruz, Ressuscitado e Vivo, virá na glória; mas virá em uma hora que está oculta e secreta em Deus, uma hora que os homens e as mulheres não esperam nem pensam como possível.

Sim, a vinda do Filho do homem será como a catástrofe do dilúvio nos tempos de Noé, quando a terra estava cheia de violência, e os homens consideravam que podiam viver como quisessem, na injustiça e na devassidão: inesperada, repentina, veio a calamidade...

Assim será também para a vinda de Jesus na glória: muitos, de fato, em uma cega suficiência, nem pensam nem creem em um juízo, em um dia em que haverá o cumprimento da justiça e da verdade para todos aqueles que na história foram oprimidos e afligidos, para todas as vítimas, os sem voz.

Mesmo assim, eis que esse dia vem, e essa é uma boa notícia, é Evangelho! A vinda do Senhor não nega a história, não condena esta humanidade, mas quer transfigurar este mundo, quer redimir a história.

Os cristãos, portanto, são chamados a vigiar, a vigilar, porque são “os que esperam a manifestação do Senhor” (2Tm 4,8), eles sabem que, além da morte, há a vida eterna como vida para sempre em Deus, há o fim do pecado e do mal, a festa escatológica. Não há nenhuma possibilidade de viver como que adormecidos, em um triste sonambulismo espiritual; pelo contrário, é preciso atenção, ou seja, vigilância como tensão interior de toda a vida rumo à meta: o encontro com o Senhor que vem.

Por isso, na breve parábola de Jesus, diz-se que este é o tempo em que o Senhor partiu para uma viagem, deixando a cada um a sua tarefa, e ao porteiro, a de vigiar. Quando vai voltar? À noite, ou à meia-noite, ou ao cantar do galo, ou de manhã? Qualquer que seja a hora, o Senhor quer ser acolhido; por isso, é preciso vigiar, mas isso é muito difícil, e o Senhor sabe bem disso.

Não esqueçamos que essas palavras foram dirigidas aos discípulos, mas precisamente eles, quando chegou a hora da crise, a hora da paixão do seu próprio mestre e profeta, quando chegou a noite, dormiam enquanto Jesus vigiava; depois, à noite, todos fugiram, deixando Jesus sozinho, e ao cantar do galo Pedro renegou Jesus. Porém, Jesus teve misericórdia de todos eles...

Por isso, vigiemos e fiquemos atentos, recordando as palavras de Ignazio Silone [escritor e político italiano] que, a quem lhe perguntava por que ele não se tornava cristão, respondia: “Porque me parece que os cristãos não esperam nada!”.


TEXTO EM ESPANHOL De Dom Damian Nannini, Argentina


INTRODUCCIÓN GENERAL AL TIEMPO DE ADVIENTO

 

"El adviento: un tiempo para aprender a vivir con Esperanza". 

 

En su origen el término "adviento" (del latín adventus) significaba la primera visita oficial de un personaje importante con motivo de su llegada al poder o de la toma de posesión del cargo. En el ámbito del culto hacía referencia a la venida anual de la divinidad a su templo para visitar a sus fieles. Notemos entonces que en su significado original la palabra adviento se refiere a una llegada, una venida, una presencia. 

Llevado esto al ámbito cristiano podemos decir que el eje organizador de todo este tiempo litúrgico del adviento es la venida del Señor, su llegada, su Presencia. Así: "con la palabra adventus se pretendía sustancialmente decir: Dios está aquí, no se ha retirado del mundo, no nos ha dejado solos. Aunque no lo podemos ver y tocar como sucede con las realidades sensibles, Él está aquí y viene a visitarnos de múltiples maneras. El significado de la expresión “adviento” comprende por tanto también el de visitatio, que quiere decir simple y propiamente "visita"; en este caso se trata de una visita de Dios: Él entra en mi vida y quiere dirigirse a mí"[1].

Aceptar esto implica, a su vez, considerar las acciones de los protagonistas. En primer lugar, de Dios, que viene a nuestro mundo, a nosotros. Luego los hombres, invitados a prepararse para recibir esta visita de Jesús que viene a nosotros y que nos moviliza concretamente a salir a su encuentro en esta Navidad. En pocas palabras y muy a tono con la liturgia de adviento, nuestra actitud como creyentes es de “vigilante espera del Señor”.

Ahora bien, El que viene es, en realidad, el mismo que ya vino. Es la doble venida del Señor que reflejan los prefacios del Adviento. La primera en la humildad de la carne; la segunda y definitiva en la gloria. No se trata de un juego de palabras sino de la misma esencia de la liturgia y del misterio cristiano. Al respecto dice un especialista en liturgia: "Toda celebración litúrgica lleva consigo tres dimensiones: el pasado, en un presente, para un futuro. El adviento nos da ocasión casi material de percibir la superposición, una en otra, de estas tres dimensiones. Es el tiempo ideal para entrar plenamente en la teología viva de la liturgia"[2]. Más concretamente, con Matías Augé[3], podemos decir: “Adviento es el tiempo que, partiendo del hecho ya ocurrido de la 1ª venida, orienta no solo a la venida última y definitiva sino también a la venida sacramental en la liturgia, donde se actualiza la primera y se anticipa la segunda”.

A esta doble venida corresponden dos dimensiones de la espera: de la Navidad y la de la Parusía, que la liturgia del Adviento tiene que proponerlas juntas pues es imposible presentar una sin la otra. Pero en la sucesión de los cuatro domingos se va dando un progresivo paso de la acentuación puesta en la Segunda y definitiva venida al fin de los tiempos (más clara en 1er. Domingo y menos en el 2do.) a la Primera venida en la Encarnación y Navidad (3er. y 4to. Domingos). Por tanto, el ADVIENTO nos invita a esperar su venida definitiva al fin de los tiempos y a prepararnos para celebrar su primera venida al nacer en Belén con el gozo de saber que Él viene permanente a nuestros corazones.

Importa no olvidar estas acentuaciones para respetar el ritmo propio de este tiempo litúrgico y su intención pedagógica o, mejor dicho, mistagógica. Nos hace comenzar con la espera de lo eterno y definitivo, con el fin, que es lo último en la ejecución y lo primero en la intención. Desde aquí se nos invita a reorientar nuestra vida en función de nuestra situación de tiempo intermedio, del "ya pero todavía no" que supone una comprensión del carácter provisional de nuestro mundo y de nuestra condición de peregrinos (este sería el 'matiz' propio de la conversión en Adviento). Luego nos va llevando hacia el fundamento de nuestra esperanza, la venida de Jesús en la plenitud de los tiempos, la Encarnación, cuya manifestación o Natividad vamos a celebrar. 

La liturgia de la Palabra de los domingos de adviento acompaña este proceso por cuanto "el evangelio del primer domingo es escatológico. En el segundo y el tercero hacen referencia al Precursor. En el cuarto se proclaman los acontecimientos que han preparado al venida del Señor"[4]. 

Las lecturas del Antiguo Testamento son profecías sobre el Mesías y el tiempo mesiánico, las tres primeras del libro de Isaías y la última del segundo libro de Samuel.

Las lecturas del Apóstol contienen exhortaciones y amonestaciones conformes a las diversas características de este tiempo.

Las lecturas del Evangelio tienen una característica propia: se refieren a la venida del Señor al final de los tiempos (I domingo); a Juan Bautista (II y III domingo); y a los acontecimientos que prepararon de cerca el nacimiento del Señor (IV domingo). En este ciclo “B” leeremos el evangelio según San Marcos sólo los primeros dos domingos; en el tercero el testimonio de Juan Bautista del evangelio de Juan; y el cuarto la anunciación a María del evangelio de Lucas. Un esquema temático de los mismos sería el siguiente:

 

Domingo 1º: Mc 13,33-37. Despertar el deseo que mantiene viva la esperanza en la 

                                         venida del Señor. Atentos a la venida del Señor.

Domingo 2º: Mc 1,1-8. Juan Bautista nos invita a la conversión para recibir al 

                                    Señor que viene. Preparar con gozo Su venida. 

Domingo 3º: Jn 1,6-8.19-28. Juan Bautista da testimonio de la Luz que viene a 

                                           iluminarnos. Alegres testigos de la LUZ.

Domingo 4º: Lc 1,26-38. El anuncio del nacimiento de Jesús hecho por el ángel a 

                                       María. Esperar de Dios lo inesperado, lo imposible.

 

En síntesis, “la Palabra de Dios proclamada en adviento resume las esperas y búsquedas del hombre iluminando cuanto se agita en el corazón y en la mente del hombre; invita a perseverar en la espera y, a la vez, anuncia el cumplimiento de esta espera”[5].

 

 

Algunas propuestas de pastoral litúrgica

 

Podemos hacer notar los siguientes signos:

ü  El cambio: aprovechar los cambios de interés que ofrecen los tiempos litúrgicos, y hacer que impregnen todo el ambiente. Que se note al llegar: ambientación general de la Iglesia suficientemente diferenciada de los domingos anteriores.

ü  La corona de adviento: es de origen popular, pero ayuda y mucho a dar imagen propia a este tiempo. Invitar a que la armen en sus casas y recen en familia.

ü  El canto de entrada y los demás cantos: el de entrada es pieza clave, porque si está bien elegido puede servir, crea y dispone un muy buen clima para la celebración.

ü  La respuesta a la oración universal o de los fieles: nos ayudará a poder encarnar la realidad de un pueblo orante que anhela la salvación.

ü  El ambiente de silencio, recogimiento y oración: trabajarlo especialmente en estos domingos y durante la celebración. Después de la homilía o después de la comunión. Si se canta, buscar un buen canto de mediación.

ü  Los ornamentos morados: signo de tarea o trabajo. Nos preparamos porque alguien llega.

ü  Los pobres: nunca nos debemos olvidar de ellos, pero este tiempo está marcado por una especial atención a ellos. Las campañas de Navidad de Cáritas deben estar presentes en el marco de la celebración.


PRIMER DOMINGO DE ADVIENTO - CICLO B

            

Vigilancia: despertar el deseo que mantiene viva la esperanza en la venida definitiva del Señor. 

 

 

Primera lectura (Is 63,16b-17.19b; 64,2-7):

 

            La liturgia, suponemos que por razones de brevedad, ha extraído algunos versículos de un largo oráculo profético (Is 63,7-64,11) que podemos estructurar así:

 

1ª parte: la desgracia presente impulsa a recordar los beneficios del pasado (63,7-14);

2ª parte: Dios sigue siendo padre, aunque su actitud de rechazo desconcierta (63,15-19);

3ª parte: confesando su pecado el pueblo apela al corazón paterno de Dios (64,1-11).

 

            Este texto pone de manifiesto la tensión propia de la esperanza de Israel, que es un pueblo que ha sido redimido pero que todavía espera su redención. En una situación difícil y hasta desesperante como fue el exilio y el postexilio, el pueblo hace memoria de los hechos pasados, se los recuerda a Dios quien ha sido Padre y Redentor de ellos. Y como bien dice Simián-Yofre[6]: "la memoria histórica permite al pueblo recuperar el pasado, valorarlo, apoyarse sobre él para sacar alegría y seguridad de las experiencias positivas, y advertencias y correcciones de las experiencias frustrantes". 

En contraste con un pasado de cercanía de Dios, el pueblo vive un presente de desolación, de lejanía de Dios. El pueblo ha pecado y Dios les ha ocultado su rostro. En esta situación de miseria espiritual, el pueblo reconoce su pecado de rebeldía y profesa su sometimiento dócil, como la arcilla, a las manos del Dios alfarero. Por tanto, a la memoria del pasado se suma el dolor del presente pues mientras la memoria recupera el sentido del pasado, con sus textos y tradiciones; el dolor impide olvidar el presente que debe ser comprendido a partir del pasado, pero dando a luz algo nuevo, significativo para el futuro de los exiliados[7]. 

La intención del profeta mediante este recurso al pasado es justamente recuperar la identidad del pueblo para que no pierda la conciencia de ser exiliado. Su mensaje supone justamente que estas tradiciones no son el pasado sino que siguen presentes. Es claro entonces cómo la memoria permite conservar la identidad, no diluirse en el presente y a su vez tener esperanza para el futuro. 

Ahora bien, de cara al futuro, sólo queda esperar que el Padre los perdone, rasgue los cielos y descienda sobre ellos. Como nos informa S. Croatto[8], "el rasgar los cielos es una imagen única en el Antiguo Testamento y representa el acto de Yavé de atravesar las nubes y descender. Es probable que esté inspirada en la tradición del Sinaí cubierto de nubes (Ex 19,9.18.20)".

 

Segunda lectura (1Cor 1,3-9):

 

            Dentro de la estructura propia de las cartas paulinas el texto de hoy constituye la acción de gracias a Dios, encabezada con el verbo "eujaristo", doy gracias (1,4).

            En la "acción de gracias" Pablo relee desde una perspectiva de fe la acción salvífica de Dios en favor de la comunidad cristiana y anticipa con discreción algunos temas de la carta. En concreto Pablo agradece a Dios en primer lugar porque en Cristo Jesús le ha sido dada la gracia a los corintios. Esta gracia de Dios se especifica como palabra (lo,goj) y conocimiento (gnw,sij) y ha sido abundante, al punto que no les falta ningún don de la gracia o carisma (cari,sma). Pablo aquí anticipa el tema que pasará a desarrollar ampliamente en los capítulos 12-14. La acción de gracias termina con una referencia a la plenitud escatológica que tendrá lugar con la manifestación del Señor Jesús que los corintios deben esperar. Para reforzar esta esperanza Pablo les recuerda la fidelidad de Dios que fue quien los ha llamado a la comunión con Jesús. Aquí podría haber una anticipación del tema que desarrollará en el capítulo 15. 

            En el contexto del adviento es de resaltar la alternancia entre el pasado, el presente y el futuro. San Pablo les recuerda a los corintios las gracias y dones recibidos del Señor, que los ha colmado y enriquecido, al punto que no les falta ningún don de la gracia. Ahora bien, más allá de esta abundancia de gracias, tienen que vivir en la espera de la revelación, de la venida del Señor Jesucristo, que es lo verdaderamente definitivo. Al parecer, es una invitación a no apegarse tanto al presente, aunque abunde la gracia; para vivir en tensión hacia el futuro donde se dará la comunión plena con Cristo; al mismo tiempo que se invita a perseverar en el presente confiando en la fidelidad de Dios.

Es importante tener en cuenta esta tensión escatológica de la fe por cuanto junto a la certeza de que Cristo está presente, está la certeza de que Cristo vendrá. Pablo cree en Jesús presente y operante en su vida, pero también lo espera como el que vendrá. El Señor que se le apareció camino a Damasco es Jesús Resucitado que está junto al Padre. De allí vendrá y Pablo vive esperándolo. Y como se demora, entonces Pablo suspira por alcanzarlo después de su muerte. Vale decir que la experiencia de Damasco lo abrió a una esperanza viva, a un ardiente deseo de estar con Cristo, como lo dice expresamente en Flp 1,20-25 y 3,10-14.-

 

 

Evangelio (Mc 13,33-37):

 

            El texto de hoy forma parte del capítulo 13 de Marcos que se conoce como "el discurso escatológico de Jesús" porque vincula la destrucción del templo de Jerusalén con el fin de los tiempos y con la venida del hijo del hombre. Habiendo anunciado la destrucción del templo de Jerusalén, Jesús da una enseñanza a sus discípulos sobre el tiempo y el momento final. Y sobre cuándo tendrá lugar el fin del mundo (ὁ καιρός), el evangelio de Marcos se suma al testimonio unánime del Nuevo Testamento: no nos ha sido revelado, no lo sabemos ("En cuanto a ese día y a la hora, nadie los conoce, ni los ángeles del cielo, ni el Hijo, nadie sino el Padre", Mc 13,32). El acento se desplaza de la elucubración sobre el tiempo y el momento, muchas veces nociva, a la recomendación de una actitud práctica: estar prevenidos, atentos, alertas. 

            En efecto, la perícopa seleccionada para la liturgia de hoy comienza (13,33) y termina (13,37) con un llamado de Jesús a la vigilancia, a estar alertas, a estar prevenidos y despiertos, justamente porque no sabemos cuándo llegará el momento final (οὐκ οἴδατε γὰρ πότε ὁ καιρός ἐστιν en Mc 13,33). El mismo llamado se repite a mitad del texto (13,35). No hay dudas, por tanto, que este es el tema central del mismo. 

Jesús compara la situación del cristiano en este mundo con la de un portero, que debe estar atento a la llegada de su señor. Justamente el nudo de la parábola del portero (13,34-36) es la llegada imprevista de su señor, lo que obliga al portero a permanecer despierto, en vigilia, esperando su llegada. En realidad, se utilizan verbos distintos, aunque con significados muy semejantes. Al inicio en 13,33 está el verbo avgrupne,w que literalmente significa estar en vela, despierto, con mirada atenta a lo que puede suceder (cf. los otros usos en el NT Lc 21,36; Ef 6,18; Heb 13,17). En la mitad (13,35) y al final (13,37) se utiliza el imperativo de grhgore,w que literalmente significa mirar con atención, estar alerta, estar despierto, velar, vigilar. En Marcos esta actitud es la misma que Jesús les pide a sus discípulos en Getsemaní: que permanezcan en vela orando junto a Él (14,34.37). En el Nuevo Testamento es bastante frecuente la exhortación a la vigilancia, en especial ante la expectativa del fin o de acontecimientos inesperados (cf. Mt 24,42-44; 25,13; 26,38-41; 1Tes 5,6). Lo contrario de esta actitud es estar dormido, como lo señala este mismo evangelio al final del texto de hoy.

            Desde esta perspectiva es bueno que no sepamos ni el día ni la hora del momento final. En efecto, "no se indica la hora porque todas las horas son buenas para abrirse al evangelio de suerte que comprometa la existencia. Jesús desea vitalizar a una comunidad para que no esté obsesionada con el deseo de conocer el final, sino que se preocupe por vivir y discernir tiempos y momentos en la escucha y la obediencia. Y esto en la espera de la última cita que nos introducirá definitivamente en el Reino, ciertamente es una espera continua e intensa, pero no ansiosa ni temerosa, sino que rebosa confianza"[9].

 

 

Algunas reflexiones:

 

            Las lecturas de hoy, muy a tono con la visión teológica propia del adviento (y de la vida cristiana), ponen de manifiesto e iluminan una dimensión esencial de nuestra vida como es la relación con el tiempo. En efecto, nuestra vida “corre” en un presente, pero condicionada por nuestro pasado y también por el horizonte desconocido del futuro. Por más que quisiéramos, no podemos aislar nuestro presente del pasado y del futuro. El pasado nos condiciona y el futuro nos apremia. Dicho en categorías bíblicas, se trata de la necesaria y fecunda relación entre Memoria y Esperanza.

            En la primera lectura se ve claro como la Memoria de la Presencia de Dios permite al pueblo de Israel recuperarse en un momento tan crítico como fue la destrucción de Jerusalén y el consiguiente exilio; arrepentirse y volver a confiar en Dios Padre. Y más todavía, el recuerdo enciende el deseo de la presencia del Señor: "Ojalá rasgaras el cielo y descendieras".

            La memoria de la destrucción del templo de Jerusalén, que es la ocasión de la enseñanza de Jesús en Marcos 13, puede también iluminar nuestro presente. Lo explica bien L. Rivas[10]: "Y la ruina de Jerusalén y de su templo también es una advertencia para nosotros, para que no depositemos toda nuestra esperanza en personas o instituciones. Confesamos que la Iglesia tiene la garantía de permanecer hasta el fin de los tiempos. Pero la estabilidad de la Iglesia no se debe a ella misma, sino a que está apoyada sobre el único fundamento que es Cristo. Por eso nuestra confianza debe estar puesta en el Señor que sostiene la Iglesia. Si ponemos nuestra esperanza en lo que no es Dios, seguramente sufriremos muchas decepciones y frecuentemente nos sentiremos frustrados, como aquellos antiguos israelitas que confiaban en el templo y un día vieron que los ejércitos enemigos arrasaban Jerusalén e incendiaban el templo".

            Aquí se encuentra, creo yo, el motivo por el cual en este primer domingo de adviento se nos invita a considerar la última y definitiva venida de Jesús. Levantamos la vista hacia el futuro para tomar conciencia de que lo mejor viene de allá, porque viene de Dios o, mejor dicho, porque Dios mismo viene a nosotros. El presente puede ser dramático, como el de Israel en la primera lectura; o prominente y lleno de dones y gracias, como el de los corintios de la segunda lectura. Pero siempre hay que estar atentos y abiertos a lo que viene, a lo que Dios nos tiene preparados. Por ello, el reiterado pedido de Jesús en el evangelio de hoy: estén prevenidos, despiertos, vigilantes, atentos al futuro. O lo que es lo mismo: que la Esperanza esté viva o que vivamos en la Esperanza.

Ahora bien, el que se siente seguro ante el futuro, el que piensa que puede controlarlo y dominarlo todo, no espera nada de nadie. Tampoco de Dios. Pero la pandemia nos instaló en una permanente incertidumbre ante el futuro. Y esto nos llenó de angustia. No nos sentimos para nada cómodos con tanta incertidumbre ante el futuro.

Ante esta realidad de incertidumbre el cristiano tiene la certeza de la venida del Señor al final de los tiempos. Esta es nuestra Esperanza: que el Señor vendrá y hará los cielos nuevos y la tierra nueva. Su Reino de Verdad, Amor Justicia y Paz será definitivo: no más mentiras, no más injusticias, no más odio, no más guerras y divisiones; no más sufrimiento. Gozo y Paz en el Señor, eternamente. Pero tenemos que aprender a convivir con la incertidumbre del momento final porque no sabemos cuándo sucederá esto. No sabemos cuándo llegará el momento final, ni para nuestra vida individual, ni para todo el mundo en el juicio universal. De este modo, “la vigilancia se convierte en una actitud sensatamente equilibrada, capaz de evitar un doble escollo: el de un fanatismo incontrolado que pretende fantasear sobre el futuro y el de una irresponsable falta de compromiso con la construcción de un mundo mejor”[11].

            

Muy vinculado al tema de la esperanza está el tema del deseo pues esperamos lo que deseamos. Así, el deseo de la venida del Señor es lo que alimenta nuestra esperanza y nos mantiene despiertos, vigilantes, expectantes a su venida. Por ello, sería un buen ejercicio para el adviento preguntarnos por nuestros deseos y por nuestra misma capacidad de desear. Más concretamente por nuestro deseo de Dios como nuestra Plenitud, nuestro Gozo, nuestra Felicidad, nuestra Realización, nuestro Todo y para Siempre.

En esta línea, se nos invita en este tiempo a recuperar nuestra vida interior, a hacer silencio y aceptar la soledad habitando nuestro propio corazón. Y una vez allí, “testear” los deseos de nuestro corazón, que se expresan en lo que esperamos en la vida.

El Adviento es el tiempo propicio para plantearse esta cuestión, pues como bien dice A. Cencini[12]: "El adviento es el tiempo que se nos da para que aprendamos a esperar, para que aprendamos a vivir esperando, para que no pretendamos obtener enseguida lo que queremos, aunque se trate de Dios y de la visión de su rostro; es el tiempo del intervalo, de la capacidad de hacer mientras tanto una pausa, una especie de suspensión de nuestras reclamaciones y de la pretensión de obtener inmediatamente lo deseado. Tiempo del deseo insatisfecho".

 

 

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

 

En aquel tiempo

 

Tiempo de la Verdad, tiempo de todos los tiempos

La Verdad permanece y colma el corazón sediento

Calma la ignorancia de los ciegos y se llega hasta lo más íntimo del hombre

Para dejarlo todo al descubierto.

 

Un día será el único, cuando vengas por tu derecho

¿Estaremos despiertos para recibir al Señor y dueño?

Será un día de paz, de vida, de muerte o de normal ajetreo…

Solo sabemos de tu sorpresiva llegada en un desconocido momento

 

Y así pasan estos días, talando y sembrando, naciendo y creciendo

Muriendo a lo propio y aún es poco, vamos aprendiendo

Acércate ahora Señor a los oídos atentos, y espéranos en tu casa

Para ir de a poco despojándonos del hombre viejo

 

Una luz está escondida, opaca en el firmamento

Sabemos de su existencia porque nos mantiene en vilo

En el Sagrario se guardan todos esos misterios

La persona que allí habita, está expectante, atento

 

A la adoración nos invita y sentencia con ternura

¡Cuidado! ¡Los quiero prevenidos! ¡Despiertos!

Es una solo, la oportunidad que todos tenemos:

Orantes por Gracia Divina, fija la vista en el Eterno. Amén

 


[1] Benedicto XVI, Homilía del 30 de noviembre de 2009.

[2] A. Nocent, El Año Litúrgico. Celebrar a Jesucristo. I. Introducción y Adviento, Santander 1987, 63.

[3] Citado por Pbro. Lic. Alejandro Bóttoli, Charla sobre el ciclo de Navidad (versión digital).

[4] J. Castellano, El año litúrgico. Memorial de Cristo y mistagogía de la Iglesia (CPL; Barcelona 1996) 71

[5] Cf. G. Zevini – P. Giordano Cabra (eds.), Lectio Divina para cada día del año. Vol. 1. Tiempo de Adviento (Verbo Divino; Estella 2001) 22.

[6] Isaías. Texto y comentario (Casa de la Biblia 1995) 291.

[7] Cf. W. Brueggemann, Hopeful Imagination. Prophetic Voices in Exile, 99.

[8] Imaginar el futuro. Estructura retórica y querigma del tercer Isaías (Lumen; Buenos Aires 2001) 375.

[9] G. Zevini – P. Giordano Cabra (eds.), Lectio Divina para cada día del año. Vol 1. Tiempo de Adviento (Verbo Divino; Estella 2001) 37-38.

[10] Jesús habla a su pueblo. Ciclo B. Adviento – Navidad – Cuaresma – Pascua (CEA; Bs. As. 2002) 22

[11] Lectio Divina para la vida diaria 7. El evangelio de Marcos (Verbo Divino, Estella 2008) 465-466.

[12] A. Cencini, La formación permanente (San Pablo; Madrid 2002) 189.