EPIFANIA-A

EPIFANIA DO SENHOR

08/01/2023


 LINKS AUXILIARES:

AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ªLeitura: Isaías 60,1-6

Salmo 71(72)R- As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor!

2ª leitura: Efésios 3,2-3ª.5-6

Evangelho de Mateus 2,1-12 (Visita dos Magos).

Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2perguntando: 'Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.' 3Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado assim como toda a cidade de Jerusalém. 4Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. 5Eles responderam: 'Em Belém, na Judéia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo.' 7Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. 8Depois os enviou a Belém, dizendo: 'Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo.' 9Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. 10Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. 11Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. 12Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho. Palavra da Salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP


Mt 2,1-12

A narrativa de Mateus é uma história encantadora. Os magos vêm de longe em busca de Cristo, atraídos pela estrela.  Eles são trazidos de longe e, por meio de muitas vicissitudes da vida, encontram e adoram a Cristo.

Deus pôs um sinal nos céus para guiar aqueles astrônomos/astrólogos do oriente que procuravam encontrar Deus. O sinal da estrela é a manifestação da misericórdia de Deus que quer ser encontrado pelos homens. Expressa a necessidade de ter que olhar para fora deste mundo para descobrir os segredos de Deus.

O sinal levou os magos a começar uma longa e difícil viagem: quando nos damos conta do valor do encontro com Cristo, lançamo-nos em uma longa jornada rumo a Deus.

As estrelas vistas daqui de baixo parecem distantes e frias; as informações que elas nos dão parecem distantes e difíceis, mas por meio delas, mais particularmente pelo Cristo, somos atraídos para uma viagem que será bem-sucedida, pois é o próprio Deus que quer ser encontrado.

A viagem dos magos passa por uma crise. Vão perguntar a Herodes: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer?” A história de Herodes é uma história de violência e de assassinatos provocados pela sua suspeita doentia e sua crueldade impiedosa, inclusive contra sua própria família. Sua ambição de poder o levou a eliminar possíveis pretendentes ao trono. Historiadores sabem hoje que ele mandou matar por suspeita de conspiração o sumo sacerdote Aristóbulo (irmão de sua segunda mulher), José (seu irmão), Hircano II (o avô de sua mulher); Mariana (sua segunda mulher); José e Costobar (seus cunhados); Alexandre e Aristóbulo (seus enteados); Antípater (filho do primeiro casamento). O assassinato dos meninos de Belém está de acordo com a violência do reinado de Herodes, especialmente em seus últimos anos, quando sua segurança no trono estava ameaçada.

Depois de ter se informado cuidadosamente com os sacerdotes e mestres da Lei sobre o lugar de nascimento do Messias, chama em segredo os magos para saber com exatidão sobre o tempo do aparecimento da estrela. Lugar e tempo: falta somente saber quem é esse menino. Com astúcia maligna pede que os magos o mantenham a par das buscas para poder também ele ir adorá-lo. A astúcia de Herodes, no entanto, é vencida pelo milagre da estrela, que reaparece somente depois que os magos deixam a corte, e pela fidelidade dos visitantes, que obedecem ao sonho de não voltarem a Herodes.

É impressionante o fato que Herodes, com a ajuda dos doutores da Lei, tenha interpretado corretamente a profecia (Mq 5,1), mas não tenha crido (aceitado, aderido) em Cristo. De que adianta conhecer, se esse conhecimento nos leva a buscar a morte de Cristo?

A visita a um soberano era sempre acompanhada de dádivas. Ouro indica a realeza; incenso, a divindade; mirra, os sofrimentos e a morte. São presentes caríssimos, demonstrando grande afeto por Cristo.

O Senhor deseja ser encontrado. Ele mesmo nos atrai e nos guia pela sua estrela. Ele não nos dá somente a luz da fé, mas o seu corpo e o seu sangue para nos transformar e nos fazer viver sempre mais em comunhão com Ele.


 EPIFANIA: Pe Adroaldo Paloro


Não percas a estrela de tua vida

Pe Adroaldo Paloro

“E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino” (Mt 2,10)

Mateus começa e termina seu evangelho dando a Jesus o título de “rei dos judeus”. Trata-se de um “rei” que nasce e morre rompendo todos os esquemas das realezas mundanas: nasce em uma gruta que acolhia animais e morre numa cruz.

Em seu nascimento, os Magos vão em busca do “rei dos judeus”. Se estamos falando de um rei, compreende-se que os magos o buscaram na cidade dos grandes palácios, ou seja, em Jerusalém. Equivocaram-se de caminho e de lugar, porque o “rei” que tinha nascido era tão diferente e tão novo que só podia nascer entre os pobres. O evangelista Mateus não se refere a nenhuma realeza que não seja a de Jesus. Foram as tradições populares posteriores que, usando muita imaginação, consideraram os Magos como reis. O evangelista só reconhece um rei, que é Jesus. Por isso os magos se prostam diante dele e o adoram.

Estamos celebrando a Epifania, quer dizer “manifestação”. Se o Senhor não se manifestasse, sua Encarnação não teria chegado à toda a humanidade. Pois bem, a manifestação de Deus em Jesus tem um alcance universal, está destinada a todos os seres humanos.

É interessante que a tradição tenha interpretado que os três magos procediam dos três continentes até então conhecidos: África, Ásia e Europa. O mago negro aparece sempre. No Reino de Jesus Cristo não há distinção de raça ou de origem, não há diferenças nacionais, nem sociais, nem religiosas. Todos são filhos e filhas do mesmo Pai. Jesus Cristo une todos os povos e todas as pessoas, sem perder a riqueza de sua diversidade.

Os Magos são aqueles que vieram dos confins da terra ao encontro do Menino, os estranhos ao povo judeu, os que não eram da raça do recém-nascido, os afastados. Também para eles nasceu o filho de Maria. E também a eles deve chegar a boa notícia do Evangelho.

O Evangelho é para todos os seres humanos porque, mesmo sem saber, todos buscam a Cristo, já que Ele é o “princípio e modelo dessa humanidade renovada à qual todos aspiram, cheia de amor fraterno, de sinceridade e de paz” (Vat. II). A partir desta perspectiva, os Magos representam a humanidade em busca de paz, verdade e justiça. Representam o desejo profundo do espírito humano, a marcha das religiões, da ciência e da razão humana ao encontro d’Aquele que se “humanizou” plenamente. Há sempre uma “estrela” na vida de todos indicando o caminho para a gruta da simplicidade e do despojamento, “lugar” onde se faz visível o “novo rebento” da vida.

Talvez a presença da “estrela” no relato dos Magos tenha suas raízes na bonita tradição judaica que diz: quando uma criança nasce, “acende-se” uma estrela no céu. Por isso no céu há tantas estrelas.

Quando nasce uma criança, acende-se uma luz, um mundo de possibilidades se abre, um universo pessoal se faz visível no espaço da comunidade humana.

A estrela, porém, moveu os Magos a que deixassem de olhar para ela, mas que olhassem antes para o lugar, na Terra, que a sua luz iluminava. Ali havia uma presença surpreendente que dava sentido a todos os peregrinos desta terra.

Cristo como “estrela”, é guia dos homens e mulheres, e por isso “desce” à terra. De fato, a estrela se deteve no presépio, onde estava Jesus. A estrela, portanto, é Jesus presente no cosmos; logo, o cosmos fala implicitamente de Cristo, embora sua linguagem não seja totalmente decifrável para o ser humano.

A Criação inteira desperta no interior de todos uma sintonia com Aquele que, a partir da gruta, abre seus braços para a todos acolher. Suscita também a expectativa, mais ainda, a esperança de que um dia este Deus se manifestará plenamente. A partir de então, as verdadeiras “estrelas” serão as pessoas que mostrarão o novo caminho para o Deus encarnado.

Para a Igreja do Oriente hoje é o dia da Natividade, o dia que Jesus se manifestou como a Luz do mundo, o dia que Deus elegeu para manifestar-se a todos os homens através da pequenez do filho de Maria.

Como os Magos, esta cena nos convida a também “cair de joelhos”.

E por que fazer isso? Porque quando aqueles Magos se levantaram já não eram os mesmos.

Ajoelhar-se pode parecer um gesto servil, mas em ocasiões como esta é um gesto de humildade. Implica descer do pódio do ego ao qual subimos constantemente, acreditando ser os melhores, os mais sábios, os mais formosos, os mais perfeitos. De joelhos pedimos compaixão, ajuda, clemência, compreensão, misericórdia. E levantar-nos é poder de novo estar de pé, tendo passado pela experiência da pequenez.

Além disso, pôr-se de joelhos diante daquele Menino de Belém é abrir passagem à ternura, à grandeza que não está em saber mais, nem ser mais forte, mas em ser mais humano, e por isso, profundamente imagem de Deus. E ajoelhar-se diante daquele menino é deixar-se deslumbrar, despertar o assombro e o encanto.

Quando entregamos a luz a alguém, parece que tudo em sua vida se torna mais luminoso, e essa luz se expandirá. Quando alguém recebe sol revela um aspecto mais vital, mais saudável...; é a isso que nos convida a celebração da Epifania.

Como Igreja e como cristãos temos de repensar muitas coisas, mas não a partir do poder (Herodes e Jerusalém), mas a partir da Luz. A revelação, a estrela, estão no fluxo da história da Igreja e da humanidade; precisamos ativar nossa essa luz para que ilumine cada situação humana e eclesial. É preciso despertar os “magos” que nos habitam para sairmos de nossa “normalidade doentia”, de nossos lugares atrofiados, de nossas visões estreitas... Somos seres de travessia; quem não se desloca apaga a estrela que o habita.

Esta festa nos convida a descobrir a epifania não só em nós, mas em tudo e em todos; ela nos inspira a respeitar e acolher quem pensa, sente e ama de maneira diferente. Esta festa também nos instiga a viver a cultura do encontro frente à cultura da indiferença e intolerância que geram tantas rupturas.

Os Magos são sinal da grande missão cristã, ou seja, da missão do evangelho que se abre como dom a todos os povos e culturas da terra, não para conquistar ninguém, nem para fazer proselitismo, nem para destruir outras culturas, mas para oferecer a todos os povos uma experiência de gratuidade.

Em um mundo de pobreza e exclusão, marcado por tanto ódio e intolerância, somos portadores da riqueza de Deus, do amor feito presente... Só podemos encontrar nossa verdade em Jesus quando entramos na Gruta de Belém, onde encontramos Aquele que não foi recebido na cidade, mas entre estrangeiros e marginalizados; só O encontraremos quando nos aproximarmos das vítimas de Herodes, de ontem e de hoje.

Uma Epifania política, uma Epifania religiosa, uma Epifania social... No centro do relato dos magos está a oposição do Rei Mau (Herodes) que mata os meninos e todos os inocentes para poder reinar e os milhares e milhões de “magos e magas” que, apesar de tudo (apesar de Herodes) continuam buscando a verdade de Deus nas crianças marginalizadas e nos perseguidos. Por isso os Magos são reis e rainhas de um modo diferente: pela realeza do coração, pelo mistério da vida (a luz na noite), pela peregrinação para a verdade que eles encontram em Belém.


Para meditar na oração:


A mensagem do Evangelho dos Magos é um mapa que nos mostra o terreno onde pisar na busca, encontro e manifestação do “Emmanuel”, Deus conosco. E, em versão do séc. XXI: “Deus em nós”.

Ele é a Luz que brilha em nossa gruta interior.

E então seremos lamparinas acesas e colocadas no candeeiro para iluminar àqueles que nos rodeiam.



Festa da Epifania do Senhor - José Antonio Pagola.

 

Segundo o grande teólogo Paul Tillich, a grande tragédia do homem moderno é ter perdido a dimensão de profundidade. Já não é capaz de perguntar de onde vem e para onde vai. Não sabe interrogar-se pelo que faz ou deve fazer de si mesmo neste breve lapso de tempo entre o seu nascimento e a sua morte.

Estas perguntas não encontram já resposta alguma em muitos homens e mulheres de hoje. Mais ainda, nem sequer são colocadas quando se perdeu essa «dimensão de profundidade». As gerações atuais não têm já a coragem de se colocarem estas questões com a seriedade e a profundidade com que o fizeram as gerações passadas. Preferem continuar a caminhar nas trevas.

Por isso, nestes tempos temos de voltar a recordar que ser crente é, antes de qualquer coisa, perguntar apaixonadamente pelo sentido da nossa vida e estar abertos a uma resposta, mesmo quando não a vejamos de forma clara e precisa.

O relato dos magos foi visto pelos Padres da Igreja como exemplo de alguns homens que, ainda vivendo nas trevas do paganismo, foram capazes de responder fielmente à luz que os chamava à fé. São homens que, com a sua atuação, nos convidam a escutar toda a chamada que nos urge a caminhar de maneira fiel para Cristo.

A nossa vida decorre com frequência na crosta da existência. Trabalhos, contatos, problemas, encontros, ocupações diversas, levam-nos e trazem-nos, e a vida passa-nos enchendo cada instante com algo que temos de fazer, dizer, ver ou planejar.

Corremos assim o risco de perder a nossa própria identidade, converter-nos numa coisa mais entre outras e viver sem saber já em que direção caminhar. Há uma luz capaz de orientar a nossa existência? Há uma resposta aos nossos anseios e aspirações mais profundas? Desde a fé cristã, essa resposta existe. Essa luz brilha já nesse Menino nascido em Belém.

O importante é tomar consciência de que vivemos nas trevas, de que perdemos o sentido fundamental da vida. Quem reconhece isto não se encontra longe de iniciar a busca do caminho acertado.

Oxalá no meio do nosso viver diário não se perca nunca a capacidade de permanecer aberto a toda a luz que possa iluminar a nossa existência, a toda a chamada que possa dar profundidade à nossa vida.

Estamos hoje não mais diante apenas da criança na manjedoura, mas do Rei da glória que visita a humanidade e a quem a Igreja, a exemplo dos Magos, leva os presentes da sua fé, da sua esperança e da sua caridade. Bem mais que dos Reis Magos, a festa, hoje, é do Rei

  

Epifania - Pe. Francisco Cornélio Freire Rodrigues

O evangelho deste dia é o relato da visita dos magos, um texto exclusivo de Mateus e um dos mais encantadores de todo o Novo Testamento, pois, além de rica teologia, possui uma beleza ímpar. O relato se inicia com as indicações de tempo e espaço (cf. v. 1a), e com elas o evangelista recorda que Jesus não é um personagem mitológico, mas um ser real e concreto, que se inseriu plenamente na história, apesar do caráter simbólico do episódio. Os magos desse relato não são personagens reais, mas fruto da inteligência e criatividade do evangelista, e representam todos os povos da terra, antecipando a universalidade do cristianismo. Mesmo que a tradição tenha feito, não é necessário determinar a quantidade, nem seus respectivos nomes, nem, muito menos, elevá-los à categoria de reis.

O primeiro objetivo do relato é ensinar que, em Jesus, a luz de Deus ganha um alcance universal. Seu brilho chega a todos os povos indistintamente, embora haja clara opção preferencial pelos excluídos e marginalizados. Ora, os magos eram astrólogos, intérpretes de sonhos e de fenômenos da natureza, praticantes da magia, uma atividade condenada explicitamente pela Lei de Moisés (cf. Lv 19,26; Dt 18,9-12). Ao apresentá-los como os primeiros adoradores de Jesus em seu evangelho (cf. vv. 2.11), Mateus evidencia quem são os destinatários primeiros da salvação: as pessoas de pouca reputação, vítimas de preconceitos, os pobres e marginalizados em geral.

Os magos se deixam conduzir pela estrela, mas somente por ela não conseguem chegar ao destino, embora cheguem perto (cf. v. 1). Esse dado também é muito importante, pois mostra que Deus se deixa conhecer parcialmente por meio dos elementos da criação, mas esse conhecimento é limitado: não é possível chegar até ele sem o auxílio da Escritura, mesmo que seus intérpretes oficiais, como os sacerdotes e mestres da Lei (cf. vv. 4-6), tenham sido corrompidos pelo poder. Por sinal, são os detentores de poder, tanto político quanto religioso, os mais refratários à novidade de Jesus (cf. v. 3).

Guiados pela Escritura, os magos chegam ao destino (cf. vv. 9-11). Como Jerusalém estava contaminada pelo poder arbitrário de Herodes e seus cúmplices, as lideranças religiosas, lá não era possível encontrar-se com a luz de Deus nem adorar verdadeiramente. Somente se deslocando para a periferia puderam, de fato, experimentar o Deus que tanto buscavam. O Templo perdeu seu sentido, Deus já não habita nele; é necessário retirar-se para a periferia, inserir-se na comunidade e, assim, adorar e experimentar a beleza desse Deus que quer apenas misericórdia e amor, e não mais sacrifícios.

Em Belém, os magos contemplam o recém-nascido e, prostrados, adoram-no (cf. v. 11). Essa atitude mostra que finalmente se saciaram, encontraram sentido para suas vidas e, portanto, esvaziaram-se de si, oferecendo seus dons: ouro, incenso e mirra. Esses presentes são uma síntese da identidade de Jesus, simbolizando, respectivamente, a realeza, a divindade e a condição humana sujeita à morte. Não ofereceram porque lhes fora exigido, mas porque se sentiram confortados e correspondidos.

O texto termina com uma afirmação de muita relevância para a comunidade cristã e para todas as pessoas de todos os tempos e lugares: os magos retornaram seguindo outro caminho (cf. v. 12). Para viver essa nova relação com Deus, é necessário desviar-se das antigas rotas e estruturas, representadas por Herodes e pelo Templo. Quem faz uma experiência autêntica com Deus segue outro caminho. Eles perceberam, finalmente, que Jerusalém só oferecia exploração, ganância e violência. A experiência autêntica com Deus faz o ser humano mudar a mentalidade e, consequentemente, o caminho a percorrer. Esse caminho significa o agir, o jeito de viver.

 

Solenidade da epifania do senhor - Dehonianos

 

A liturgia deste domingo celebra a manifestação de Jesus a todos os homens... Ele é uma "luz" que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da terra. Cumprindo o projeto libertador que o Pai nos queria oferecer, essa "luz" incarnou na nossa história, iluminou os caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação, da vida definitiva.

A primeira leitura anuncia a chegada da luz salvadora de Jahwéh, que transfigurará Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo.

No Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao encontro de Jesus vêm os "magos" do oriente, representantes de todos os povos da terra... Atentos aos sinais da chegada do Messias, procuram-no com esperança até O encontrar, reconhecem n'Ele a "salvação de Deus" e aceitam-no como "o Senhor". A salvação rejeitada pelos habitantes de Jerusalém torna-se agora um dom que Deus oferece a todos os homens, sem excepção.

A segunda leitura apresenta o projeto salvador de Deus como uma realidade que vai atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa mesma comunidade de irmãos - a comunidade de Jesus.

Na primeira leitura do livro de Isaías, as marcas do passado ainda se notam nas pedras calcinadas da cidade; os judeus que se estabeleceram na cidade são ainda poucos; a pobreza dos exilados faz com que a reconstrução seja lenta e muito modesta; os inimigos estão à espreita e a população está desanimada... Sonha-se, no entanto, com esse dia futuro em que vai chegar Deus para trazer a salvação definitiva ao seu Povo. Então, Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e harmoniosa, o Templo será reconstruído e Deus habitará para sempre no meio do seu Povo.

O texto que nos é proposto é uma glorificação de Jerusalém, a cidade da luz, a "cidade dos dois sóis" (o sol nascente e o sol poente: pela sua situação geográfica, a cidade é iluminada desde o nascer do dia até ao pôr do sol).

Inspirado, sem dúvida, pelo sol nascente que ilumina as belas pedras brancas das construções de Jerusalém e faz a cidade transfigurar-se pela manhã (e brilhar no meio das montanhas que a rodeiam), o profeta sonha com uma Jerusalém muito diferente daquela que os retornados do Exílio conhecem; essa nova Jerusalém levantar-se-á quando chegar a luz salvadora de Deus, que dará à cidade um novo rosto. Nesse dia, Jerusalém vai atrair os olhares de todos os que esperam a salvação. Como consequência, a cidade será abundantemente repovoada (com o regresso de muitos "filhos" e "filhas" que, até agora, assustados pelas condições de pobreza e de instabilidade, ainda não se decidiram a regressar); além disso, povos de toda a terra - atraídos pela promessa do encontro com a salvação de Deus - convergirão para Jerusalém, inundando-a de riquezas (nomeadamente incenso, para o serviço do Templo) e cantando os louvores de Deus.

 

A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes linhas:

• Como pano de fundo deste texto (e da liturgia deste dia) está a afirmação da eterna preocupação de Deus com a vida e a felicidade desses homens e mulheres a quem Ele criou. Sejam quais forem as voltas que a história dá, Deus está lá, vivo e presente, acompanhando a caminhada do seu Povo e oferecendo-lhe a vida definitiva. Esta "fidelidade" de Deus aquece-nos o coração e renova-nos a esperança... Caminhamos pela vida de cabeça levantada, confiando no amor infinito de Deus e na sua vontade de salvar e libertar o homem.

• É preciso, sem dúvida, ligar a chegada da "luz" salvadora de Deus a Jerusalém (anunciada pelo profeta) com o nascimento de Jesus. O projeto de libertação que Jesus veio apresentar aos homens será a luz que vence as trevas do pecado e da opressão e que dá ao mundo um rosto mais brilhante de vida e de esperança. Reconhecemos em Jesus a "luz" libertadora de Deus? Estamos dispostos a aceitar que essa "luz" nos liberte das trevas do egoísmo, do orgulho e do pecado? Será que, através de nós, essa "luz" atinge o mundo e o coração dos nossos irmãos e transforma tudo numa nova realidade?

• Na catequese cristã dos primeiros tempos, esta Jerusalém nova, que já "não necessita de sol nem de lua para a iluminar, porque é iluminada pela glória de Deus", é a Igreja - a comunidade dos que aderiram a Jesus e acolheram a luz salvadora que Ele veio trazer (cf. Ap 21,10-14.23-25). Será que nas comunidades cristãs e nas comunidades religiosas brilha a luz libertadora de Jesus? Elas são, pelo seu brilho, uma luz que atrai os homens? As nossas desavenças e conflitos, a nossa falta de amor e de partilha, os nossos ciúmes e rivalidades, não contribuirão para embaciar o brilho dessa luz de Deus que devíamos refletir?

• Será que na nossa Igreja há espaço para todos os que buscam a luz libertadora de Deus? Os irmãos que têm a vida destroçada, ou que não se comportam de acordo com as regras da Igreja, são acolhidos, respeitados e amados? As diferenças próprias da diversidade de culturas são vistas como uma riqueza que importa preservar, ou são rejeitadas porque ameaçam a uniformidade?

 

Na segunda leitura da Carta aos Efésios (cuja autoria paulina alguns discutem por questões de linguagem, de estilo e de teologia) apresenta-se como uma "carta de cativeiro", escrita por Paulo da prisão (os que aceitam a autoria paulina desta carta discutem qual o lugar onde Paulo está preso, nesta altura, embora a maioria ligue a carta ao cativeiro de Paulo em Roma entre 61/63).

É, de qualquer forma, uma apresentação sólida de uma catequese bem elaborada e amadurecida. A carta (talvez uma "carta circular", enviada a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor) parece apresentar uma espécie de síntese do pensamento paulino.

O tema mais importante da Carta aos Efésios é aquilo que o autor chama "o mistério": trata-se do projeto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos "últimos tempos", tornado presente no mundo pela Igreja.

Na parte dogmática da carta (cf. Ef 1,3-3,19), Paulo apresenta a sua catequese sobre "o mistério": depois de um hino que põe em relevo a ação do Pai, do Filho e do Espírito Santo na obra da salvação (cf. Ef 1,3-14), o autor fala da soberania de Cristo sobre os poderes angélicos e do seu papel de cabeça da Igreja (cf. Ef 1,15-23); depois, reflete sobre a situação universal do homem, mergulhado no pecado e afirma a iniciativa salvadora e gratuita de Deus em favor do homem (cf. Ef 2,1-10); expõe, ainda, como é que Cristo - realizando "o mistério" - levou a cabo a reconciliação de judeus e pagãos num só corpo, que é a Igreja (cf. 2,11-22)... O texto que nos é proposto vem nesta sequência: nele, Paulo apresenta-se como testemunha do "mistério" diante dos judeus e diante dos pagãos (cf. Ef 3,1-13).

A Paulo, apóstolo como os Doze, também foi revelado "o mistério". É esse "mistério" que Paulo aqui desvela aos crentes da Ásia Menor... Paulo insiste que, em Cristo, chegou a salvação definitiva para os homens; e essa salvação não se destina exclusivamente aos judeus, mas destina-se a todos os povos da terra, sem excepção. Paulo é, por chamamento divino, o arauto desta novidade... Percebemos, assim, porque é que Paulo se fez o grande arauto da "boa nova" de Jesus entre os pagãos...

Agora, judeus e gentios são membros de um mesmo e único "corpo" (o "corpo de Cristo" ou Igreja), partilham o mesmo projeto salvador que os faz, em igualdade de circunstâncias com os judeus, "filhos de Deus" e todos participam da promessa feita por Deus a Abraão (cf. Gn 12,3) - promessa cuja realização Cristo levou a cabo.

 

A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:

• A perspectiva de que Deus tem um projeto de salvação para oferecer ao seu Povo - já enunciada na primeira leitura - tem aqui novos desenvolvimentos. A primeira novidade é que Cristo é a revelação e a realização plena desse projeto. A segunda novidade é que esse projeto não se destina apenas "a Jerusalém" (ao mundo judaico), mas é para ser oferecido a todos os povos, sem excepção.

• A Igreja, "corpo de Cristo", é a comunidade daqueles que acolheram "o mistério". Nela, brancos e negros, pobres e ricos, ucranianos ou moldavos - beneficiários todos da ação salvadora e libertadora de Deus - têm lugar em igualdade de circunstâncias. Temos, verdadeiramente, consciência de que é nesta comunidade de crentes que se revela hoje no mundo o projeto salvador que Deus tem para oferecer a todos os homens? Na vida das nossas comunidades transparece, realmente, o amor de Deus? As nossas comunidades são verdadeiras comunidades fraternas, onde todos se amam sem distinção de raça, de cor ou de estatuto social?

• Destinatários, todos, do mistério, somos "filhos de Deus" e irmãos uns dos outros. Essa fraternidade implica o amor sem limites, a partilha, a solidariedade... Sentimo-nos solidários com todos os irmãos que partilham conosco esta vasta casa que é o mundo? Sentimo-nos responsáveis pela sorte de todos os nossos irmãos, mesmo aqueles que estão separados de nós pela geografia, pela diversidade de culturas e de raças?

 

EVANGELHO - Mt 2,1-12

O episódio da visita dos magos ao menino de Belém é um episódio simpático e terno que, ao longo dos séculos, tem provocado um impacto considerável nos sonhos e nas fantasias dos cristãos... No entanto, convém recordar que estamos, ainda, no âmbito do "Evangelho da Infância"; e que os factos narrados nesta secção não são a descrição exata de acontecimentos históricos, mas uma catequese sobre Jesus e a sua missão... Por outras palavras: Mateus não está, aqui, interessado em apresentar uma reportagem jornalística que conte a visita oficial de três chefes de estado estrangeiros à gruta de Belém; mas está interessado, recorrendo a símbolos e imagens bem expressivos para os primeiros cristãos, em apresentar Jesus como o enviado de Deus Pai, que vem oferecer a salvação de Deus aos homens de toda a terra.

 

A análise dos vários detalhes do relato confirma que a preocupação do autor (Mateus) não é de tipo histórico, mas catequético.

Notemos, em primeiro lugar, a insistência de Mateus no facto de Jesus ter nascido em Belém de Judá (cf. vers. 1.5.6.7). Para entender esta insistência, temos de recordar que Belém era a terra natal do rei David e que era a Belém que estava ligada a família de David. Afirmar que Jesus nasceu em Belém é ligá-lo a esses anúncios proféticos que falavam do Messias como o descendente de David que havia de nascer em Belém (cf. Mi 5,1.3; 2 Sm 5,2) e restaurar o reino ideal de seu pai. Com esta nota, Mateus quer aquietar aqueles que pensavam que Jesus tinha nascido em Nazaré e que viam nisso um obstáculo para O reconhecerem como o Messias libertador.

Notemos, em segundo lugar, a referência a uma estrela "especial" que apareceu no céu por esta altura e que conduziu os "magos" para Belém. A interpretação desta referência como histórica levou alguém a cálculos astronômicos complicados para concluir que, no ano 6 a.C., uma conjunção de planetas explicaria o fenômeno luminoso da estrela refulgente mencionada por Mateus; outros andaram à procura de um cometa que, por esta época, devia ter sulcado os céus do antigo Médio Oriente... Na realidade, é inútil procurar nos céus a estrela ou cometa em causa, pois Mateus não está a narrar factos históricos. Segundo a crença popular da época, o nascimento de um personagem importante era acompanhado da aparição de uma nova estrela. Também a tradição judaica anunciava o Messias como a estrela que surge de Jacob (cf. Nm 24,17). Ora, é com estes elementos que a imaginação de Mateus, posta ao serviço da catequese, vai inventar a "estrela". Mateus está, sobretudo, interessado em fornecer aos cristãos da sua comunidade argumentos seguros para rebater aqueles que negavam que Jesus era esse Messias esperado.

Temos, ainda, as figuras dos "magos". A palavra grega "magos" usada por Mateus abarca um vasto leque de significados e é aplicada a personagens muito diversas: mágicos, feiticeiros, charlatães, sacerdotes persas, propagandistas religiosos... Aqui, poderia designar astrólogos mesopotâmios, em contacto com o messianismo judaico. Seja como for, esses "magos" representam, na catequese de Mateus, esses povos estrangeiros de que falava a primeira leitura (cf. Is 60,1-6), que se põem a caminho de Jerusalém com as suas riquezas (ouro e incenso) para encontrar a luz salvadora de Deus que brilha sobre a cidade santa. Jesus é, na opinião de Mateus e da catequese da Igreja primitiva, essa "luz".

Além de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de forma paradigmática, duas atitudes que se vão repetir ao longo de todo o Evangelho: o Povo de Israel rejeita Jesus, enquanto que os "magos" do oriente (que são pagãos) O adoram; Herodes e Jerusalém "ficam perturbados" diante da notícia do nascimento do menino e planeiam a sua morte, enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria e reconhecem em Jesus o seu salvador.

Mateus anuncia, desta forma, que Jesus vai ser rejeitado pelo seu Povo; mas vai ser acolhido pelos pagãos, que entrarão a fazer parte do novo Povo de Deus. O itinerário seguido pelos "magos" reflete a caminhada que os pagãos percorreram para encontrar Jesus: estão atentos aos sinais (estrela), percebem que Jesus é a luz que traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para o encontrar, perguntam aos judeus - que conhecem as Escrituras - o que fazer, encontram Jesus e adoram-no como "o Senhor". É muito possível que um grande número de pagãos-cristãos da comunidade de Mateus descobrisse neste relato as etapas do seu próprio caminho em direção a Jesus.

 

Considerar as seguintes questões:

• Em primeiro lugar, meditemos nas atitudes das várias personagens que Mateus nos apresenta em confronto com Jesus: os "magos", Herodes, os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo... Diante de Jesus, o libertador enviado por Deus, estes distintos personagens assumem atitudes diversas, que vão desde a adoração (os "magos"), até à rejeição total (Herodes), passando pela indiferença (os sacerdotes e os escribas: nenhum deles se preocupou em ir ao encontro desse Messias que eles conheciam bem dos textos sagrados). Identificamo-nos com algum destes grupos? Não é fácil "conhecer as Escrituras", como profissionais da religião e, depois, deixar que as propostas e os valores de Jesus nos passem ao lado?

• Os "magos" são apresentados como os "homens dos sinais", que sabem ver na "estrela" o sinal da chegada da libertação... Somos pessoas atentas aos "sinais" - isto é, somos capazes de ler os acontecimentos da nossa história e da nossa vida à luz de Deus? Procuramos perceber nos "sinais" que aparecem no nosso caminho a vontade de Deus?

• Impressiona também, no relato de Mateus, a "desinstalação" dos "magos": viram a "estrela", deixaram tudo, arriscaram tudo e vieram procurar Jesus. Somos capazes da mesma atitude de desinstalação, ou estamos demasiado agarrados ao nosso sofá, ao nosso colchão especial, à nossa televisão, à nossa aparelhagem? Somos capazes de deixar tudo para responder aos apelos que Jesus nos faz através dos irmãos?

• Os "magos" representam os homens de todo o mundo que vão ao encontro de Cristo, que acolhem a proposta libertadora que Ele traz e que se prostram diante d'Ele. É a imagem da Igreja - essa família de irmãos, constituída por gente de muitas cores e raças, que aderem a Jesus e que O reconhecem como o seu Senhor.


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR

(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")


1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Solenidade da Epifania do Senhor, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa...


2. HONRAR AS DIFERENTES CULTURAS.

A Solenidade da Epifania tem a sua plena significação quando as comunidades honram as diferentes culturas que as compõem e dão lugar às expressões litúrgicas dos vários países: danças, cânticos, instrumentos de música, objetos, vestes... Uma proposta, entre outras: proclamar as leituras em diferentes línguas.


3. BILHETE DE EVANGELHO.

Nos passos dos Magos... Como os Magos, ponhamo-nos a caminho. Não sabemos exatamente o que será a aventura. Tenhamos confiança. Como eles, ergamos os olhos. A luz vem de Deus, deixemo-nos iluminar. Como eles, procuremos, não tenhamos demasiadas certezas. Tenhamos somente convicções, descubramos os sinais de uma presença. Como eles, ofereçamos presentes: o da oração, o do respeito de todo o homem. Procuremos agradar a Deus e aos irmãos. Como eles, aceitemos começar um novo caminho. Deixemo-nos interpelar por Deus e pelo seu Evangelho, pelos homens e mulheres deste tempo.


4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.

Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:

Deus de luz, erguemos os nossos olhos para Ti, cheios de admiração; nós Te bendizemos, porque a tua glória ergueu-se sobre nós, arrancaste-nos das trevas e colocas-nos de pé, a caminho da nova Jerusalém.

Nós Te pedimos por todos os povos da terra que ainda vivem nas trevas e pelas pessoas que conhecemos e que procuram o fim do túnel.

No final da segunda leitura: Pai de todos os homens, nós Te bendizemos pela revelação do teu mistério, pela promessa que Tu destinas a todos os povos e pela herança à qual tanta desejas associá-los, na tua luz. Nós Te pedimos por todos os missionários que partiram para longe a anunciar esta Boa Nova pela palavra e pelos atos.

No final do Evangelho: Nosso Pai, único rei digno deste nome, nós Te louvamos pelos sinais que nos guiam para Ti e, sobretudo, pelo teu Filho Jesus, estrela que está sempre presente, em todos os instantes das nossas vidas. Nós Te pedimos pela tua Casa, que é a tua Igreja, e por todas as suas comunidades: que o teu Filho Jesus nos guie, através da nova estrela que é o teu Espírito presente nas nossas vidas.


5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

Pode-se escolher a Oração Eucarística IV.

6. PALAVRA EXPLICADA 1: A CASA IGREJA.O Evangelho da Epifania precisa que os Magos entraram na casa. Esta palavra aparece muitas vezes nos Evangelhos. Jesus entrou em muitas casas. É na casa que Ele celebrou a Última Ceia (Mt 26,18), que Se manifestou aos discípulos e que partiu o pão, em Emaús. É ainda numa casa que os apóstolos receberam o Espírito Santo, no dia de Pentecostes. As primeiras comunidades cristãs reuniam-se nas casas para partir o pão, em Jerusalém, em Corinto, em Troas e noutros lugares (At 1,3; 2,46; 20,7-12; 1Cor 11,19). Pelas saudações de Paulo, no final das suas cartas, sabemos que os cristãos punham as suas casas à disposição para reunir a Igreja de Deus: Gaio em Corinto (Rom 16,23); Áquila e Prisca em Éfeso (Rom 16,5; 1Cor 16,19). Durante os dois primeiros séculos, os cristãos não tinham outros locais para as suas assembleias dominicais senão as casas particulares. Consideravam-se, em cada localidade, como uma família.

7. PALAVRA EXPLICADA 2: SÃO GREGÓRIO E O CANTO.

O Papa São Gregório I (590-604) não interveio muito pela criação de instituições litúrgicas, porque tudo estava já organizado. Mas foi um pastor devotado, numa altura em que toda a Itália sofria duras provas. Nos séculos seguintes, o nome de Gregório serviu de referência para valorizar tudo o que vinha de Roma, em particular os livros litúrgicos. Quanto ao canto gregoriano, o seu qualificativo provém de legendas do século IX, que apresentavam o Papa Gregório como o autor dos cantos da missa, que teria composto por inspiração do Espírito Santo. Os pintores e os autores de miniaturas ilustraram a cena, apresentando o Papa na sua sala de trabalho, com a pomba do Espírito Santo perto da orelha. Esta ilustração contribuiu muito pouco para vulgarizar a atribuição do canto gregoriano ao Papa. De facto, no repertório gregoriano, os textos das orações provêm de livros compilados na época carolíngia. As anotações musicais só aparecem nestes livros a partir do século XI. Antes, as melodias eram transmitidas por tradição oral.

8. PALAVRA PARA O CAMINHO.

Audácia missionária. Assembleias dominicais cada vez mais diminutas... Vocações sacerdotais e religiosas cada vez mais raras... Não reduzamos a Missão aos nossos problemas! A Estrela que se levanta na escuridão brilha para todos os povos da terra e convida-nos à audácia missionária. Que iniciativa poderíamos tomar - em comunidade paroquial, em comunidade religiosa, em equipa litúrgica - para nos abrirmos para além de nós mesmos?


Hoje não temos o texto em espanhol porque na Argentina, de onde vem o texto, a Epifania foi celebrada no dia 6 de janeiro, que é o dia correto de sua celebração.