5º QUARESMA-A

5° DOMINGO DA QUARESMA ANO A

26/03/2023

Lázaro, vem para fora!

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO

1ª Leitura: Ezequiel 37,12-14

Salmo 129(130)-R- No Senhor, toda graça e redenção!

2ª Leitura: Romanos 8,8-11

Evangelho de João 11,1-45

Naquele tempo: 1Havia um doente, Lázaro, que era de Betânia, o povoado de Maria e de Marta, sua irmã. 2Maria era aquela que ungira o Senhor com perfume e enxugara os pés dele com seus cabelos. O irmão dela, Lázaro, é que estava doente. 3As irmãs mandaram então dizer a Jesus: 'Senhor, aquele que amas está doente.' 4Ouvindo isto, Jesus disse: 'Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.' 5Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. 6Quando ouviu que este estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava. 7Então, disse aos discípulos: 'Vamos de novo à Judéia.' 8Os discípulos disseram-lhe: Mestre, ainda há pouco os judeus queriam apedrejar-te, e agora vais outra vez para lá?' 9Jesus respondeu: 'O dia não tem doze horas? Se alguém caminha de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. 10Mas se alguém caminha de noite, tropeça, porque lhe falta a luz'. 11Depois acrescentou: 'O nosso amigo Lázaro dorme. Mas eu vou acordá-lo.' 12Os discípulos disseram: 'Senhor, se ele dorme, vai ficar bom.' 13Jesus falava da morte de Lázaro, mas os discípulos pensaram que falasse do sono mesmo. 14Então Jesus disse abertamente: 'Lázaro está morto.15Mas por causa de vós, alegro-me por não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos para junto dele'. 16Então Tomé, cujo nome significa Gêmeo, disse aos companheiros: 'Vamos nós também para morrermos com ele'. 17Quando Jesus chegou, encontrou Lázaro sepultado havia quatro dias. 18Betânia ficava a uns três quilômetros de Jerusalém. 19Muitos judeus tinham vindo à casa de Marta e Maria para as consolar por causa do irmão. 20Quando Marta soube que Jesus tinha chegado, foi ao encontro dele. Maria ficou sentada em casa. 21Então Marta disse a Jesus: 'Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. 22Mas mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele to concederá.' 23Respondeu-lhe Jesus: 'Teu irmão ressuscitará.' 24Disse Marta: 'Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia.' 25Então Jesus disse: 'Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. 26E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?' 27Respondeu ela: 'Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo.' 28Depois de ter dito isto, ela foi chamar a sua irmã, Maria, dizendo baixinho: 'O Mestre está aí e te chama'. 29Quando Maria ouviu isso, levantou-se depressa e foi ao encontro de Jesus. 30Jesus estava ainda fora do povoado, no mesmo lugar onde Marta se tinha encontrado com ele. 31Os judeus que estavam em casa consolando-a, quando a viram levantar-se depressa e sair, foram atrás dela, pensando que fosse ao túmulo para ali chorar. 32Indo para o lugar onde estava Jesus, quando o viu, caiu de joelhos diante dele e disse-lhe: 'Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido.' 33Quando Jesus a viu chorar, e também os que estavam com ela, estremeceu interiormente, ficou profundamente comovido, 34e perguntou: 'Onde o colocastes?' Responderam: 'Vem ver, Senhor.' 35E Jesus chorou. 36Então os judeus disseram: 'Vede como ele o amava!' 37Alguns deles, porém, diziam: 'Este, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito com que Lázaro não morresse?' 38De novo, Jesus ficou interiormente comovido. Chegou ao túmulo. Era uma caverna, fechada com uma pedra. 39Disse Jesus: 'Tirai a pedra'! Marta, a irmã do morto, interveio: 'Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias.' 40Jesus lhe respondeu: 'Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?' 41Tiraram então a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: 'Pai, eu te dou graças porque me ouviste. 42Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste.' 43Tendo dito isso, exclamou com voz forte: 'Lázaro, vem para fora!' 44O morto saiu, atado de mãos e pés com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano. Então Jesus lhes disse: 'Desatai-o e deixai-o caminhar!' 45Então, muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele. Palavra da Salvação. 


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP


Jo 11,1-45

A enfermidade de Lázaro é mortal. A irmãs de Lázaro enviam uma mensagem a Jesus para dizer que ele estava muito doente. A notícia não era somente informativa, mas incluía uma súplica discreta. Por sua vez, Jesus anuncia que aquela doença não era para a morte, mas para a glória de Deus se manifestar.

Depois de alguns dias, Jesus ordena aos apóstolos a partida para Betânia. Os apóstolos se surpreendem por causa do perigo deste retorno à Judéia. Eles têm medo das ameaças de morte contra Jesus. E Jesus conta-lhes uma parábola. Enquanto é dia se pode caminhar sem tropeçar; o perigo é de noite. A noite de sua paixão ainda não chegou; ela está muito próxima, mas ainda não chegou. Por isso, nada poderão fazer contra ele ainda. Além disso ele é a luz que as trevas não podem vencer. Mesmo assim os discípulos estão aterrorizados. Tomé diz: vamos também nós para morrer com ele.

A fé de Marta é imperfeita. Acreditava que o poder da oração de Cristo pudesse salvar seu irmão da morte. Mesmo que confie no poder da oração de Cristo ela não acredita que seu irmão ressuscitará. Jesus promete que Lázaro ressuscitará, mas Marta pensa na ressurreição final.

Jesus proclama que ele mesmo é a Ressurreição. Mesmo que alguém morra, mas acredita em Cristo, este não morrerá e viverá.

Não se trata de ressurreição física, mas ressurreição para a vida eterna, sobrenatural. Esta é a fé que Cristo pede a Marta. E ela confessa que Jesus é o filho de Deus.

O pranto de Cristo mostra o seu amor pelo amigo. Esta emoção de Jesus santifica todas as lágrimas que nascem do amor e da dor.

Ao pedir que rolassem a pedra do sepulcro, ninguém imaginava que Jesus fosse ressuscitar Lázaro. É por isso que alertam Jesus sobre o mau cheiro do cadáver em decomposição. Quatro dias é também um período simbólico. Segundo a crença da época, a alma permanecia no cadáver e só o abandonava no terceiro dia. Marta ainda não compreende o que Jesus irá realizar; pensa que Jesus quer ver o corpo do amigo morto.

Terminada a oração Jesus ordena com voz forte que Lázaro venha para fora. Ele grita no lugar da morte a vitória da vida.

O verdadeiro milagre de Jesus é sua ressurreição.



Os sinais da Pascoa no horizonte da vida - Adroaldo Palaoro


“Eu Sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11,25)


O tempo quaresmal caminha para o ponto culminante: a vivência do Mistério Pascal, a celebração da Vida plena, sem as amarras e os condicionamentos que travam o fluir de nossa vida. Tal como um sentinela, situado numa posição estratégica, já estamos vislumbrando no horizonte os sinais da Páscoa.

Por isso, a liturgia deste domingo nos traz um relato inspirador, onde Jesus se revela como a Porta da Vida. Cruzar essa porta é apelo Seu, mas é decisão nossa empurrá-la suavemente para dentro e avançar em direção à vida que, a partir do mais íntimo, deseja ser despertada e vivenciada em plenitude.

No contexto anterior à ressurreição de Lázaro aparece de novo o tema das obras, desta vez em relação com o verbo crer: “Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim. Mas, se eu as faço, mesmo que não queirais crer em mim, crede nas minhas obras, para que saibais e reconheceis que o Pai está em mim e eu no Pai” (Jo 10,37-38). Na cena deste domingo, Jesus vai realizar a obra por excelência do Pai que é comunicar Vida, destravando-a das faixas e tirando-a do túmulo da morte.

A beleza e a sabedoria do relato deste 5º. domingo da Quaresma consistem em integrar, na pessoa mesma de Jesus, uma dupla afirmação: “Jesus chorou” e “Eu sou a ressurreição e a vida”.

Essa é, justamente, nossa condição humana: somos seres frágeis, sensíveis, a quem nos afeta o que acontece e, ao mesmo tempo, somos Vida que se encontra sempre a salvo. Nós nos percebemos como pura necessidade e carência – portanto, vulneráveis -, mas, ao mesmo tempo, somos plenitude à qual nada lhe falta.

Como Jesus, somos, ao mesmo tempo, sensibilidade – por isso choramos -, e somos Vida. E isto é o que na tradição cristã se expressou com o termo “ressurreição”.

Assim fez Jesus em Betânia: mostrou sua vulnerabilidade humana frente o amigo “que dorme”.

A morte será sempre uma história de dor e lágrimas. Quem não experimentou dor diante do sofrimento e morte de um ser querido? Quem não se sentiu, como Marta e Maria, em muitos momentos?

Também Ele sente os golpes da vida, sente a dor de quem perde um irmão e se faz solidário.

O sofrimento pode nos despertar para a dimensão de profundidade da realidade e de nós mesmos. Mas necessitamos passar por um processo de transformação para que o sofrimento e a dor nos abram ao Mistério e não nos afundem no desespero. Jesus vai ajudar Marta e Maria a passar por este processo.

Voltar à casa de seus amigos, num momento em que eles estão tão feridos, supõe também a Jesus deixar-se ferir. Algo terá Ele que perder para dar-lhe ao amigo. A amizade nos faz vulneráveis: “Mestre, ainda há pouco os judeus queriam apedrejar-te, e agora vais outra vez para lá?”

Jesus vai abraçar a perda de seu amigo até o fundo; e quando a dor e a perda se abraçam, deixam de ser nossos inimigos. “Ficou interiormente comovido e se aproximou do túmulo”, que um dia acolherá também seu corpo. Percorreu assim o caminho que depois percorreriam as mulheres depois de sua morte.

As perdas, a dor, a morte, aproximam uns dos outros. Marta e Maria já não estão numa relação de competição nem de rivalidade e enviam, juntas, uma mensagem a Jesus. Mensagem que revela uma confiança profunda nas possibilidades do amor: “Senhor, aquele que amas está doente”. Não lhe dizem “nosso irmão”, porque querem vinculá-lo a Jesus.

A amizade leva-as a crer nas possibilidades latentes no amigo, em seu potencial ilimitado, em sua capacidade de amar e ser amado, em toda a novidade que quer irromper nele.

E é nesta situação de vulnerabilidade onde Marta se deixa ordenar e faz sua aprendizagem de verdadeira discípula. Que foi aprendendo Marta desde aquela vez que pedia ajuda à sua irmã? Agora é uma mulher que cresceu e que se atreve a expressar uma petição maior, não mais para si mesma, mas para seu irmão, e diz a Jesus: “Senhor, se estivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido... Mesmo assim, eu sei que tudo o que se pede a Deus, Ele te concederá”.

Este contato com seu amigo Jesus, num momento em que ambos compartilham a dor pela perda da pessoa querida, vai fazer Marta amadurecer. Daí em diante será uma mulher desperta, capaz de despertar a outros, e por isso pode dizer à sua irmã: “O Mestre está aí e te chama”.

Jesus foi “traído” pelo seu afeto. Aquele que é o Senhor da Vida, o vencedor da morte, tem um coração que ama como o coração do irmão mais fiel, do pai mais sensível... Jesus é atingido pela dor, é agitado por uma perturbação que brota de dentro dele mesmo e que não consegue controlar; a causa da sua emoção é a presença trágica da morte nos que o rodeiam, mas também com a sua morte iminente, que será devastadora.

Diante da morte, todos sentimos nossa impotência. Queremos que o enfermo fique curado e viva. A ciência médica hoje pode ampliar alguns anos de nossa vida, mas no final a morte termina vencendo o enfermo.

No texto evangélico deste domingo, Jesus, na força do Espírito, comanda a ação: pede às pessoas que afastem a pedra e que soltem as amarras de Lázaro, para que ele possa andar. A ação de Jesus é expansiva pois mobiliza as pessoas para que, por meio de sua cooperação, a vida seja destravada.

A vida com as amarras da fome, da exclusão, da violência... não pode ser chamada de vida.

Diante de uma sociedade que se especializa em impor pesadas pedras e faixas imobilizadoras, defender a vida é caminhar na contramão de tudo que nos diminui como seres humanos.

Há ainda aqueles que vivem a resignação do “quarto dia”, o dia da morte da esperança (para o judeu, o 4o. dia representava o começo da decomposição do corpo). Essas pessoas também precisam ser desamarradas da falta de perspectivas, da falta de esperança, da descrença na vida, da falta de fé n’Aquele que venceu para sempre a morte com todas as suas amarras.

Na 1ª. leitura deste domingo, Deus nos fala através do profeta: “Ó meu povo, abrirei os vossos sepulcros” (Ez 37,12). É uma maneira metafórica de falar. Mas anuncia o cumprimento da maior esperança humana, a vitória sobre a morte. O Deus que nos tirou do nada pode também nos tirar da tumba. É a força de seu amor, a força de seu Espírito.

E não devemos pensar só na morte biológica. Há muitas maneiras de morrer antes dessa morte. Cada um pode conhecer como se chama seu sepulcro (sepulcro da rotina, do medo, do desespero, da perda de fé, da tristeza, do ódio e da intolerância, do preconceito...). E poderíamos nos referir a sepulcros dos vícios, das escravidões íntimas, do consumismo desenfreado, da ignorância, do negacionismo, da falta de liberdade... E, sobretudo, poderíamos nos referir ao sepulcro gigantesco e vergonhoso da miséria e da fome, provocadas pela injustiça e falta de solidariedade.

Todos são sepulcros construídos por nós mesmos. Quem nos livrará de nossos sepulcros! No encontro com Aquele que é Vida, somos movidos a arrancar nossas faixas que impedem nossos movimentos e sair de nossos próprios túmulos. Crer na Ressurreição é já viver como ressuscitados.

Para meditar na oração

Em companhia d’Aquele que é Vida, desça em seu túmulo interior e visualize as “faixas” que estão travando sua vida.

- Deixe ressoar o grito de Jesus: “............ vem para fora!”

- “Viver como ressuscitados(as)”: esta é a paixão que inspira todo(a) seguidor(a) de Jesus. Deixe-se iluminar, leve a luz da vida nas suas pobres e frágeis mãos, iluminando os recantos de seu cotidiano.

Páscoa é ter diante de si os desafios da vida.

Rompido o túmulo, resta caminhar...



Uma porta aberta - José Antonio Pagola


Estamos demasiado presos pelo «mais cá» para nos preocuparmos com o «mais lá». Submetidos a um ritmo de vida que nos atordoa e escraviza, oprimido por uma informação asfixiante de notícias e acontecimentos diários, fascinados por mil atrativos que o desenvolvimento técnico coloca nas nossas mãos, não parece que necessitemos de um horizonte mais amplo do que «esta vida», em que nos movemos.

Para que pensar em «outra vida»? Não é melhor gastar todas as nossas forças em organizar o melhor possível a nossa existência neste mundo? Não deveríamos esforçar-nos ao máximo em viver esta vida de agora e calarmo-nos a respeito de tudo o resto? Não é melhor aceitar a vida com a sua escuridão e os seus enigmas, e deixar o «além» como um mistério do qual nada sabemos?

No entanto, o homem contemporâneo, como o de todas as épocas, sabe que, no fundo do seu ser, está sempre latente, a pergunta mais séria e difícil de responder: o que acontecerá com todos e cada um de nós? Qualquer que seja a nossa ideologia ou a nossa fé, o verdadeiro problema que todos estamos enfrentando é o nosso futuro. Que fim nos espera?

Peter Berger recordou-nos com profundo realismo que «toda a sociedade humana é, em última instancia, uma congregação de homens frente à morte». Por isso, é precisamente ante a morte onde aparece com mais claridade «a verdade» da civilização contemporânea que, curiosamente, não sabe o que fazer com ela, que não seja para escondê-la e evitar ao máximo seu trágico desafio.

Mais honesta parece ser a posição de pessoas como Eduardo Chillida, que em algumas ocasiões se expressou nestes termos: «Da morte, a razão diz-me que é definitiva. Da razão, a razão diz-me que é limitada».

É aqui onde temos de situar a posição do crente, que sabe lidar com realismo e modéstia o acto inevitável da morte, mas que o faz com uma confiança radical no Cristo ressuscitado. Uma confiança que dificilmente pode ser entendida «desde fora» e que só pode ser vivida por quem escutou, alguma vez, no fundo do seu ser, as palavras de Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida». Acreditas nisto?




A morte e ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-45)-  Mesters, Lopes e Orofino


1. João 11,1-16: Uma chave para entender o sétimo sinal da ressurreição de Lázaro

Lázaro estava doente. As irmãs Marta e Maria mandam chamar Jesus: “Aquele a quem amas está doente!” (Jo 11,3.5). Jesus atende ao pedido e explica: “Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho de  Deus!” (Jo 11,4). No Evangelho de João, a glorificação de Jesus acontece através da sua morte (Jo 12,23; 17,1). Uma das causas da sua condenação à morte vai ser a ressurreição de Lázaro (Jo 11,50; 12,10). Assim, o sétimo sinal vai ser para manifestar a glória de Deus (Jo 11,4). Os discípulos não entendem (Jo 11,6-8). Jesus fala da morte de Lázaro, e eles entendem que esteja falando do sono (Jo 11,11-15). Ainda não percebem a identidade de Jesus como vida e luz (Jo 11,9-10). Porém, mesmo sem entenderem, eles estão dispostos a ir morrer com ele (Jo 11,16). A doutrina deles é deficiente, mas a fé é correta.

2. João 11,17-19: Jesus chega em Betânia

Lázaro está morto mesmo. Depois de quatro dias, a morte é absolutamente certa, o corpo entra em decomposição e já cheira mal (Jo 11,39). Muitos judeus estão na casa de Marta e Maria para consolá-las da perda do irmão. Os representantes da Antiga Aliança não trazem vida nova. Só consolam. Jesus é que vai trazer vida nova. Os judeus são os adversários que querem matar Jesus (Jo 10,31). As duas mulheres criaram um espaço novo de contato entre Jesus e seus adversários. Assim, de um lado, a ameaça de morte contra Jesus! De outro lado, Jesus chegando para vencer a morte! É neste contexto de conflito entre vida e morte que vai ser realizado o sétimo sinal.

3. João 11,20-24: Encontro de Marta com Jesus – promessa de vida e de ressurreição

No encontro com Jesus, Marta diz que crê na ressurreição. Ela está dentro da cultura e da religião do povo do seu tempo. Os fariseus e a maioria do povo já acreditavam na ressurreição (At 23,6-10; Mc 12,18). Acreditavam, mas não a revelavam. Era fé na ressurreição no final dos tempos, e não na ressurreição presente na história, aqui e agora. Não renovava a vida. Faltava dar um salto. A vida nova da ressurreição só vai aparecer com Jesus.

4. João 11,25-27: A revelação de Jesus provoca a profissão de fé

Jesus desafia Marta a dar este salto. Não basta crer na ressurreição que vai acontecer no final dos tempos, mas tem que crer que a ressurreição já está presente hoje na pessoa de Jesus e naqueles que acreditam em Jesus. Sobre eles a morte não tem mais nenhum poder, porque Jesus é a “ressurreição e a vida”. Então, Marta, mesmo sem ver o sinal concreto da ressurreição de Lázaro, confessa a sua fé: “Eu creio que tu és o Cristo, o filho de Deus que vem ao mundo”.

5. João 11,28-31: O encontro de Maria com Jesus

Depois da profissão de fé, Marta vai chamar Maria, sua irmã. É o mesmo processo que já encontramos na chamada dos primeiros discípulos: encontrar, experimentar, partilhar, testemunhar, conduzir até Jesus. Maria vai ao encontro de Jesus, que continua no mesmo lugar onde Marta o tinha encontrado. Tal como a sabedoria, que se manifesta nas ruas e nas encruzilhadas (Pr 1,20-21), assim Jesus é encontrado no caminho fora do povoado. Hoje, tanta gente busca saídas para os problemas da sua vida nas ruas e nas encruzilhadas! João diz que os judeus acompanhavam Maria. Pensavam que ela fosse ao sepulcro do irmão. Eles só entendiam de morte, e não de vida!

6. João 11,32-37: A resposta de Jesus

Maria repete a mesma frase de Marta: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido” (Jo 11,21). Ela chora, todos choram. Jesus se comove. Quando os pobres choram, Jesus se emociona e chora. Diante do choro de Jesus, os outros concluem: “Vede como ele o amava!” Esta é a característica das comunidades do Discípulo Amado: o amor mútuo entre Jesus e os membros da comunidade. Alguns ainda não acreditam e levantam dúvidas: “Esse que curou o cego, por que não impediu a morte de Lázaro?”

7. João 11,38-40: Retirem a pedra!

Pela terceira vez, Jesus se comove (Jo 11,33.35.38). É assim que João acentua a humanidade de Jesus contra aqueles que, no fim do século I, espiritualizavam a fé e negavam a humanidade de Jesus. Jesus manda tirar a pedra. Marta reage: “Senhor, já cheira mal! É o quarto dia!” Novamente, Jesus a desafia, apelando para a fé na ressurreição, aqui e agora, como um sinal da glória de Deus: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?”

8. João 11,41-44: A ressurreição de Lázaro

Retiraram a pedra. Diante do sepulcro aberto e diante da incredulidade das pessoas, Jesus se dirige ao Pai. Na sua prece, primeiro, faz ação de graças: “Pai, dou-te graças, porque me ouviste. Eu sabia que tu sempre me ouves!” O Pai de Jesus é o mesmo Deus que sempre escuta o grito do pobre (Ex 2,24: 3,7). Jesus conhece o Pai e confia nele. Mas agora ele pede um sinal por causa da multidão que o rodeia, para que possa acreditar que ele, Jesus, é o enviado do Pai. Em seguida, grita em alta voz: “Lázaro, vem para fora!” E Lázaro vem para fora. É o triunfo da vida sobre a morte, da fé sobre a incredulidade! Um agricultor do interior de Minas comentou: “A nós cabe retirar a pedra. E aí Deus ressuscita a comunidade. Tem gente que não quer tirar a pedra e, por isso a comunidade deles não tem vida!”


Eu sou a Ressurreição e a Vida (Jo 11,1-45)- Tomaz Hughes


Para entender melhor este texto, temos que situá-lo no seu contexto dentro do Quarto Evangelho, o do Discípulo Amado.  Cumpre lembrar a divisão literária e teológica deste Evangelho. Os primeiros onze capítulos formam o que  é normalmente entitulado como “O Livros dos Sinais”, ou seja, eles relatam sete sinais (tradução melhor do que “milagres”) operados por Jesus.

Um sinal aponta para algo mais além, e os sinais relatados por João apontam para uma realidade mais profunda – eles revelam algo mais profundo sobre a pessoa e missão de Jesus. São eles: a mudança de água em vinho em Caná (2,1-11), a cura do filho dum funcionário real (4,46-54), a cura do paralítico em Betesda (5,1-18), a partilha de pães, (6,1-15), o caminhar sobre as águas (6,16-21), a cura do cego de nascença (9,1-41) e o sinal culminante, a Ressurreição de Lázaro (11,1-45), o texto de hoje.  Como bloco, formam o Livro dos Sinais, e preparam os Capítulos 13 a 20, “O Livro da Glorificação”.

Desafiam-nos a ler por trás das palavras e imagens, ou seja, não parar no visível, mas descobrir o que sinalizam sobre a pessoa e missão de Jesus e, consequentemente, a nossa missão também.  Portanto, devemos ter presente que o relato de um sinal sempre quer revelar algo sobre Jesus. Diferentemente das curas em Marcos, onde não se faz milagres a não ser que se tenha fé em Jesus, os sinais em João revelam uma verdade sobre ele e levam as pessoas a aprofundar a sua fé nele.  Assim, no texto de hoje, não devemos centralizar-nos sobre a pessoa de Lázaro, ou sobre os pormenores da história, mas descobrir o que João quer dizer sobre a pessoa de Jesus e a sua missão, através dessa narrativa.

Talvez possamos dizer que o centro do relato se encontra nos versículos 21-27.  Partindo da fé na ressurreição dos mortos, já corrente entre as camadas populares do judaísmo desde o tempo dos Macabeus, mas rejeitada pela classe dominante dos saduceus, João tece um diálogo entre Jesus e Marta, que culmina com a declaração que a Ressurreição e a Vida acontecem através do acreditar nele como o Enviado de Deus, que veio para que todos tivessem plena vida, dando a sua vida para que isso acontecesse (cf. Jo 10,10-11).

Vale notar que, no Evangelho de João, a primeira pessoa a professar sua fé no messianismo divino de Jesus é uma mulher, Marta.  Nos Sinóticos, isso cabe a Pedro (Mc 8,29).  Como a cegueira do cego de nascença servia para que a glória de Deus fosse revelada através da sua cura, revelando Jesus como Luz do mundo (Jo 9,3-5), a morte de Lázaro serve para revelar Jesus como Ressurreição e Vida (11,25-27).

Jesus traz esta Vida para todos, através da entrega da sua própria vida. O relato de João enfatiza que ele dará a sua vida para que todas as pessoas tenham a vida plena, colocando na boca do Sumo Sacerdote a famosa frase: “É melhor um homem morrer pelo povo do que a nação toda perecer” (11,50).  A libertação total que Jesus trouxe não acontece sem que ele se esbarre contra os interesses dos poderosos da sociedade que procurarão conter esta libertação, matando-o. É a maneira joanina de dizer a verdade que Marcos sublinha quando ele faz Jesus dizer “se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34).  A verdadeira vida exige luta contra tudo que é de morte, de dominação, de exploração, de exclusão.

Notemos que, no fim da história, Lázaro é desatado dos panos e sudário – pois ele vai precisá-los quando passará pela morte.  A Ressurreição de Jesus, que logo celebraremos, é diferente.  O cap. 20 de João faz questão de mencionar que, quando os discípulos entram no túmulo vazio, eles veem o sudário e os panos no chão – pois Jesus não foi simplesmente ressuscitado, mas passou pela Ressurreição, para a vida definitiva. O que aconteceu com Lázaro simplesmente prefigura o que aconteceria com Jesus de uma maneira mais definitiva e, por conseguinte, com todos e todas nós.

Que a nossa fé naquele que é “a Ressurreição e a Vida”, que veio “para que todos tenham vida e a vida plena” nos leve, não à religião intimista e individualista, sem maiores consequências na vida comunitária, social, política e econômicas, mas a um engajamento na construção do mundo que Deus quer, o mundo da verdadeira “Shalom” – um conceito que vai muito além do sentido do termo português “paz”, para indicar a plenitude do bem-viver, tudo o que Deus deseja para todos os seus filhos e suas filhas, como nos lembra o tema do programa catequético-bíblico da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) nestes quatro anos: “Para que n´Ele nosso povos tenham vida”, o que implica levar a sério a Campanha da Fraternidade deste ano, em defesa das biomas brasileiras, elementos essenciais para uma vida plena.


TEXTO EM ESPANHOL - Dom Damián Nannini, Argentina


QUINTO DOMINGO: JESÚS PUEDE DARNOS LA VIDA PARA SIEMPRE


De los símbolos pascuales que nos ofrecen las lecturas de cuaresma, hoy tenemos el símbolo pascual y bautismal por excelencia: LA VIDA. Meditamos sobre el AGUA VIVA y sobre la LUZ DE LA VIDA. Hoy se nos presenta a Jesús como la RESURRECCIÓN Y LA VIDA. Como bien dice A. Vanhoye : "la liturgia de este domingo nos prepara para el misterio pascual de Jesús, ahora ya inminente, hablándonos de victoria sobre la muerte. En efecto, el misterio pascual de Jesús es un misterio de muerte y resurrección, esto es, de muerte que vence a la muerte. Estamos invitados a entrar en este misterio con la esperanza de la victoria sobre la muerte".

1a. Lectura (Ez 37,12-14):  


Israel se encuentra en el exilio babilónico, en una situación de muerte, de no-vida. Allí el profeta Ezequiel anuncia a la casa de Israel el don de un "corazón nuevo" y un "espíritu nuevo" (cf. Ez 11,16-20; 18,31; 36,24-28). El corazón nuevo, corazón de carne y no de piedra, indica la sensibilidad y docilidad a las leyes de Dios. El espíritu nuevo señala que la intervención de Dios producirá un cambio continuo al conceder el principio permanente de una nueva vida que es la ruah (espíritu) de Dios. Se anuncia entonces, mediante la renovación interior del hombre, la posibilidad de una nueva relación con Dios. Más adelante el profeta pasa de la transformación personal, interior, a la comunitaria, a todo el pueblo; pero la fuerza transformadora es substancialmente la misma: el espíritu. Tal el mensaje de la impresionante visión de los huesos secos que reviven por la fuerza del espíritu (cf. Ez 37,1-14) y cuyos últimos versículos constituyen la lectura de hoy. Es la promesa de la restauración del pueblo, de su resurgir de la muerte (huesos secos) a la vida. Dios puede hacer revivir lo que aparentemente está muerto. Es claro el mensaje profético: "La última palabra de Dios es siempre una palabra de vida. Incluso en las mayores adversidades hay siempre una esperanza, porque es Dios quien tiene la palabra definitiva. Hasta en el caso de la muerte, que supone una barrera infranqueable. Más allá de ella se encuentra el Creador, y su espíritu es siempre comunicador de vida" .


2a. Lectura (Rom 8,8-11): 


Al igual que en los domingos anteriores, esta lectura es una síntesis de las otras dos. Comparte con el texto de Ezequiel la acción vivificadora propia del Espíritu. Lo propio del Espíritu es dar vida, animar. Pues bien, el hombre puede llevar una vida animada por la carne, o sea meramente humana; o una vida animada por el Espíritu de Dios. Sólo este último puede agradar a Dios. Jesús fue habitado plenamente por el Espíritu y Dios lo resucitó. Este es el camino y la esperanza del cristiano: ser habitado por el Espíritu de Jesús y resucitar también como Él. De esta nueva vida la revivificación de Lázaro es un signo. En fin, "la afirmación fundamental es la constatación de que el creyente, por su bautismo, ya no vive “en la carne” (el hombre cerrado en sí mismo, separado de Dios y de los hermanos) sino que está "en el Espíritu", porque este Espíritu ha sido concedido por Dios al creyente en su bautismo y ese acontecimiento cambia la vida del hombre para siempre, si éste permanece en el ámbito del Espíritu" .



Evangelio (Jn 11,1-45): 


El capítulo 11 es el penúltimo de la primera parte del evangelio de Juan que se denomina el ‘libro de los signos’ (1-12), a la cual le seguirá el "libro de la pasión y la gloria" (13-21). En cierto modo la resurrección de Lázaro es el culmen de los signos y el paso a la gloria de Jesús.  En efecto, su objetivo es “introducir al discípulo en la hora de la muerte y de la gloria de Jesús, a través del don de la vida” . Podemos decir, entonces, que la resurrección de Lázaro decide la muerte de Jesús, ya que el relato se cierra con esta decisión de los sacerdotes y los fariseos: “A partir de ese día, resolvieron que debían matar a Jesús” (Jn 11,53). 

El relato comienza con una relativamente amplia presentación de los personajes y sus vínculos. Y se pone en movimiento con la noticia que le llega a Jesús de parte de las dos hermanas de Lázaro: “Señor, el que tú amas, está enfermo” (Jn 11,3). Siguen unas palabras de Jesús comentando la noticia y un diálogo con los discípulos que ponen de relieve el valor simbólico de lo que sucede y lo que Jesús va a realizar. Como dice G. Zevini : “Las palabras de Jesús, superando las circunstancias que las provocaron, orientan hacia su misión. Si para los discípulos se refieren al hecho de la enfermedad que no será mortal, para Jesús tienen un valor muy distinto: la muerte no tendrá la última palabra en la vida de su amigo, porque él es Señor de la vida y de la muerte. El milagro de la resurrección de su amigo manifestará así la gloria del Padre y la del Hijo, como única realidad divina. Anuncia de antemano que la gloria de Jesús pasa sólo a través del camino del Gólgota y de la muerte en la cruz”.

Ahora bien, “el diálogo con Marta y las palabras de Jesús en el v. 25 “Yo soy la Resurrección y la vida” son el mensaje clave de todo el signo que Jesús va a realizar” . Será bueno concentrarnos en este diálogo porque a ello nos inclina el contexto litúrgico, aunque todo el texto sea de una gran riqueza teológica.

Marta cree en el poder de Jesús, lo espera todo de Él; incluso el haber podido evitar la muerte de su hermano. Pero Marta sólo cree en la resurrección en el último día, como creían algunos judíos de su tiempo. En efecto, en el judaísmo estaba presente la idea de una doble resurrección: primero una revivificación (volver a la vida) de todos (buenos y malos) antes del juicio final; y luego para los justos una transformación o segunda resurrección en vistas a la glorificación. 

Jesús, por su parte, la invita con su respuesta a pasar de una fe imperfecta a una fe plena, adulta; a creer en Él mismo como la Resurrección y la Vida y, por tanto, a creer que Él puede resucitar a los que tienen Fe. Justamente el mensaje central del relato está en Jn 11,25-26: "Yo soy la Resurrección y la Vida. El que cree en mí, aunque muera, vivirá: y todo el que vive y cree en mí, no morirá jamás. ¿Crees esto?". 

La fórmula "Yo soy" en boca de Jesús es frecuente en el evangelio de Juan (cf. 6,35.48.51; 8,12; 10,7.11.14) e indica que en Jesús es Dios mismo quien se manifiesta. Por tanto, Jesús no es sólo un poderoso intercesor (como cree Marta) sino Dios mismo con el poder de resucitar a un muerto, de dar la vida. Y esto no sólo en el último día (como también piensa Marta), sino ya desde ahora, con la condición de creer en Él. En efecto, Jesús expresa que la fe, el creer y vivir en Él, vence a la muerte, la supera, la sobrepasa. Es decir, “en su conversación con Marta Jesús afirma que comunica una vida duradera a los que creen en él, lo cual los libera de la muerte en sentido escatológico, aunque pueden experimentar momentáneamente la muerte física” .

Aclaremos que para hablar de vida y de vivir se utiliza el término griego zoé (ζωή) que en Juan significa la "vida eterna" . Por tanto, el vivir que supera la muerte física es el vivir en Jesús por la fe. Al respecto sostiene V. Mannucci  que en el evangelio de Juan claramente la fe abre al hombre a la existencia escatológica por cuanto provoca un pasaje del "ser de este mundo", del "ser de abajo" al "ser de Dios" y "ser de lo alto"; y todo esto sin dejar de "estar en el mundo". Así la vida eterna que se recibe por la fe comienza en este mundo y lo trasciende. 

Es el mismo "evangelio" el que Jesús revela en esta afirmación y que requiere la fe de sus oyentes y discípulos. Por eso termina con la pregunta clave dirigida a Marta: "¿crees esto?"

La confesión de fe de Marta, expresión de su fe ya adulta y plena, es una síntesis de la cristología del cuarto evangelio: "Le dice ella: «Sí, Señor, yo creo que tú eres el Cristo, el Hijo de Dios, el que iba a venir al mundo» (Jn 11,27). Por tanto, es cierto que “Marta, de su fe judía en la resurrección de los muertos el último día, pasa a una fe cristiana y hace en Juan una profesión de fe que hace Pedro en Mateo (16,16)” .

Para ir concluyendo, nos tiene que quedar claro que la VIDA en Juan tiene un valor simbólico que de algún modo reasume al AGUA VIVA y a la LUZ. En Juan la VIDA es propiamente la VIDA ETERNA que es la misma VIDA DE DIOS que Jesús ha venido a revelar y a comunicar al hombre. Ya en el prólogo del evangelio se hablaba de la VIDA como primera posesión del LOGOS o PALABRA: "En ella estaba la vida, y la vida era la luz de los hombres" (Jn 1,4). Así, la vida es anterior incluso a la luz pues la luz o conocimiento no es más que el esplendor de la vida .

En síntesis, en el evangelio de Juan el término VIDA tiene una significación cristológica y soteriológica-escatológica. Lo primero se confirma con las numerosas veces en que se afirma que Cristo es la Vida y la Fuente de la vida (cf. 1,4-5; 5,21.26; 6,33.51; 10,10; 11,25; 14,6). En el concepto de Vida eterna, por su parte, prevalece la dimensión soteriológica y escatológica; y para muchos sería el equivalente joánico del Reino de los cielos de los sinópticos. Esta vida eterna aparece como sinónimo de Resurrección (6,40) y para recibirla es necesaria la fe (6,47: “El que cree tiene vida eterna”; 11,26: "el que vive y cree en mí, no morirá jamás") .



Algunas reflexiones: 


La cuaresma tiene como misión poner de relieve una dimensión esencial de la vida cristiana como es la primacía de la Gracia; del don de Dios. La samaritana había ido hasta el pozo en busca del agua natural y se encontró con el don del Agua Viva. En la curación del ciego es Jesús quien va a su encuentro, por tanto, se pone más de manifiesto la gratuidad del don. Ahora la gratuidad del Don de la Vida es total, como lo indican los cuatro días que lleva Lázaro muerto y sepultado (cf. Jn 11,17.38). Un muerto nada puede; se encuentra en la impotencia absoluta. Nada pueden los que bajan al sheol, reza un salmo. Entonces, la resurrección que esperamos los cristianos consiste en una transformación y glorificación que es pura y exclusivamente obra de Dios. Es un milagro, el mayor de todos, una obra de su poder divino, una nueva creación. Es mucho más que la inmortalidad o supervivencia del alma en cuanto sustancia espiritual y simple. Pienso que hay que volver a insistir en este aspecto porque de la mano de la pseudo-espiritualidad de la new age se difunde el tema de la "vida para siempre", pero como destino natural de todos los hombres, sea como vida después de la muerte, sea como un proceso de reencarnación. 

Volviendo a las acentuaciones propias de este tiempo litúrgico podemos reconocer que en la primera parte de la cuaresma se nos invitaba a convertirnos, a cambiar de vida, a obrar la justicia. En esta segunda parte se insiste más en la obra de Dios en nosotros, en su poder para cambiarnos y justificarnos; y en la necesidad de la FE para que esto tenga lugar en nosotros. La fe como aceptación de la Vida que viene de Dios y como confianza en la salvación de Dios.

Más allá de las acentuaciones, sigue muy presente la dimensión bautismal por cuanto: “se da una conexión progresiva en los grandes textos de Juan leídos a lo largo de estos últimos domingos de cuaresma. Después de haber hablado del don de Dios (el agua viva), Jesús, verdadera Luz, ha abierto los ojos al ciego de nacimiento. Estas acciones simbólicas anunciaban el bautismo, es decir, el renacimiento por el agua y el Espíritu. Hoy, otra acción simbólica nos habla de las consecuencias del bautismo: la vida nueva e imperecedera” .

Por tanto, el gran tema de este domingo es el anuncio de la Vida Eterna que Jesús nos comunica a través del Bautismo y que tenemos que recibir por la fe.

En cuanto al evangelio, debemos notar que en sentido estricto no se trata de la "resurrección" de Lázaro, sino más bien de la reviviscencia de Lázaro, porque de hecho sólo volvió a la misma vida anterior. Por tanto, lo suyo fue sólo un signo de la resurrección que acontecerá a Jesús y que se ofrece a los creyentes. Es un signo para despertar la fe en Jesús como Hijo de Dios y, por tanto, con poder para darnos la resurrección y la vida eterna. Lo explica muy bien R. Cantalamessa: "Jesús resucita hacia delante, hacia la vida eterna; Lázaro, por el contrario, resurge hacia atrás, hacia la vida de antes. Jesús, resucitado, deja este mundo; Lázaro permanece en este mundo. Una vez resucitado, Jesús ya no muere más; Lázaro sabe que deberá morir todavía. La de Lázaro es, por lo tanto, una resurrección provisional […] La historia de Lázaro ha sido escrita para decirnos esto: que hay una resurrección del cuerpo y hay una resurrección del corazón; si la resurrección del cuerpo va a tener lugar 'en el último día', la del corazón tiene lugar o puede tenerla cada día. Hoy mismo" . 

De este modo las lecturas de hoy nos llevan al corazón del misterio pascual y nos preparan ya abiertamente para celebrarlo. 

Recordemos aquí las palabras de San León Magno: "lo que ha de tener lugar en los cuerpos se realice ya en los corazones" (Sermón 15 sobre la Pasión del Señor; L. H. Jueves IV de cuaresma). Por tanto, la Vida Eterna nos viene dada con la sustancia de la Fe ya en el tiempo presente, dando respuesta a las aspiraciones más profundas y legítimas de toda persona. 

Por su parte dice M. Rupnik : “El pecado y sus consecuencias – es decir, la mortalidad, la vulnerabilidad, los miedos, las angustias - se desvanecen sólo en el triduo pascual de Jesucristo y también de su discípulo […] Jesús se identifica a sí mismo con la resurrección. Entonces, esta ya no está relegada al futuro, porque el Señor está presente. La salvación que Jesús comunica no se realiza mediante actos aislados, sino que consiste en una transformación desde el interior de todo el hombre, la comunicación al hombre de una calidad de vida indestructible”.

A su vez el evangelio nos llama la atención sobre algo muy importante: el amor de Jesús por Lázaro, su amigo. Lo dice tres veces en el curso del relato (cf. 11,3.5.36). Y es importante porque nos revela el motivo último de nuestra esperanza en la vida eterna: el amor de Dios. Y es también la razón de nuestra vocación a la vida eterna. Podemos recordar aquí la conocida frase de Paul Claudel: “Amar a otro es decirle: tú no morirás”. Sólo Dios puede decir esto eficazmente. Y nos ama, por eso se lo dice a Lázaro y a todos los creyentes. 

Aquí habría que hacer un alto y preguntarnos sinceramente: ¿creemos esto? Porque si lo hiciéramos de verdad, esta Fe en el Amor de Dios nos llevaría a vivir de un modo diferente, con Esperanza y confianza. De hecho, podemos sentirnos "sepultados" por habernos quedado encerrados en nuestra tumba, sin ninguna esperanza de salir de ella. Nuestro sepulcro puede ser la rutina, la mediocridad, la renuncia a cambiar, a convertirse, la muerte a los sueños e ideales juveniles; la depresión, el odio y el mismo pecado. De todo esto quiere "resucitarnos" el Señor, pero necesita que quitemos las piedras de nuestras tumbas espirituales.

Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 29 de marzo de 2020: “Aquí sentimos claramente que Dios es vida y da vida, pero asume el drama de la muerte. Jesús podría haber evitado la muerte de su amigo Lázaro, pero quiso hacer suyo nuestro dolor por la muerte de nuestros seres queridos y, sobre todo, quiso mostrar el dominio de Dios sobre la muerte. En este pasaje del Evangelio vemos que la fe del hombre y la omnipotencia de Dios, el amor de Dios, se buscan y, finalmente, se encuentran. Es como un doble camino: la fe del hombre y la omnipotencia del amor de Dios se buscan y finalmente se encuentran. Lo vemos en el grito de Marta y María y todos nosotros con ellas: “¡Si hubieras estado aquí!...”. Y la respuesta de Dios no es un discurso, no, la respuesta de Dios al problema de la muerte es Jesús: “Yo soy la resurrección y la vida... ¡Tened fe! En medio del llanto seguid teniendo fe, aunque la muerte parezca haber vencido. ¡Quitad la piedra de vuestro corazón! Que la Palabra de Dios devuelva la vida allí donde hay muerte”.

También hoy nos repite Jesús: “Quitad la piedra”: Dios no nos ha creado para la tumba, nos ha creado para la vida, bella, buena, alegre. Pero «por envidia del diablo entró la muerte en el mundo» (Sabiduría 2, 24), dice el libro de la Sabiduría, y Jesucristo ha venido a liberarnos de sus lazos. Por lo tanto, estamos llamados a quitar las piedras de todo lo que sabe a muerte: por ejemplo, la hipocresía con la que vivimos la fe es la muerte; la crítica destructiva hacia los demás es la muerte; la ofensa, la calumnia, son la muerte; la marginación de los pobres es la muerte. El Señor nos pide que quitemos estas piedras de nuestros corazones, y la vida volverá a florecer a nuestro alrededor. Cristo vive, y quien lo acoge y se adhiere a Él entra en contacto con la vida. Sin Cristo, o fuera de Cristo, no sólo no hay vida, sino que se recae en la muerte. La resurrección de Lázaro es también un signo de la regeneración que tiene lugar en el creyente a través del Bautismo, con la plena inserción en el Misterio Pascual de Cristo. Gracias a la acción y al poder del Espíritu Santo, el cristiano es una persona que camina en la vida como una nueva criatura: una criatura para la vida y que camina hacia la vida”.

Todo un programa de vida, que nos involucra también a nosotros en cuanto podemos ayudar a los demás quitando la piedra de sus sepulcros y desatándolos para que caminen. Pero lo principal, hacer salir de la tumba, es obra de Jesús. Nosotros sólo podemos ser instrumentos suyos, como bien lo explica el P. Cantalamessa: "Frecuentemente, las personas que se encuentran en esta situación no están en disposición de hacer nada, ni siquiera de orar. Son como Lázaro en la tumba. Es necesario que otros hagan por ellos. En los labios de Jesús ya encontramos este mandamiento dirigido a sus discípulos: "Curen enfermos, resuciten muertos" (Mt 10,8) […] Jesús se refería a los muertos de corazón, a los muertos espirituales […] El mandamiento de resucitar a los muertos está dirigido a todos los discípulos de Cristo […] Os desvelo cómo se hace para resucitar un muerto esta misma tarde o en los próximos días. ¿Tienes en casa o en el asilo a un padre anciano? Quizás su corazón esté muerto por el silencio de sus hijos. Hazle una llamada de teléfono de las hermosas; si puedes, prométele que mañana irás a verle. Probablemente ya has resucitado a un muerto. Tu marido, desmoralizado, ha salido de casa después de una enésima trifulca: llámale por teléfono, hazle renacer la confianza en el corazón. Lo mismo haz tu con tu mujer si eres el marido. Posiblemente habéis resucitado también vosotros un muerto" .


PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Había un enfermo…

 

Señor mío, Salud del hombre

Dormir el sueño de la muerte

Será despojarnos de todo

Y tenerte frente a frente.

 

Seguros de la hora inexorable

Y acogidos por un mar de llanto

De tantos otros hermanos

Que llegarán más tarde.

 

A ti vuelvo aún peregrinando

Ya sin temer lo que dialogo a diario

Quiero interceder por los muertos

Por los que descansan y los que van andando.

 

Si parece que de un sepulcro han salido

Así sujetos como tu amigo Lázaro

De olores nauseabundos y rostros pálidos

Tela para el Pintor de lo creado.

 

Solo Tú puedes devolver el color

El aroma y el vigor a un resucitado.

En la esperanza de ese encuentro

Con nuestra cruz caminamos.

 

El calvario ya está cerca y lo curiosos

Van llenando las calles, mirando

Ni habrá para ellos más que un signo

No entenderán el espectáculo.

 

Señor de la Vida tan Divino

Pero también tan humano,

Conmovido hasta las lágrimas

Como uno de tantos.

 

No nos abandones en esta vía de dolor

Atiende el clamor de tu pueblo

Llena de tu Gloria la tierra

Danos tu eterno Consuelo. Amén.