O botucatuense também confia e se informa ao som do alto-falante para saber sobre nota de falecimento.
No município, com 144.820 habitantes com sete emissoras de rádios e até TV a cabo, quando morre alguém na cidade ainda é informado pelo carro de som de Wenceslau Pinto Jr., o Lau, como é conhecido em qualquer quarteirão da localidade.
A voz pausada, com uma ótima dicção, informa quem morreu pela propaganda volante que percorre os bairros nos arredores da família do falecido.
O serviço funciona desde 4 de abril de 1950.
Começou com Wenceslau Pinto, inspetor de O 'Serviço de Alto-Falante Volante Popular, uma voz independente a serviço do povo', como começou a ser divulgado na época, é atualmente feito em um veículo Uno.
São 68 anos de atividades, 34 sob a direção do pai e depois de 1984 o filho teve que assumir o serviço, porque Wenceslau Pinto teve uma queda e precisou afastar-se da atividade com problema de saúde.
Lau deixou um cargo de diretor administrativo na Unesp para se dedicar ao serviço de som, continuando assim com a tradição na cidade e da família.
O serviço contou ao longo dos anos com muitos locutores que depois seguiram carreira no rádio.
Um deles é Oliveira Neto, já falecido, uma das mais belas vozes do rádio brasileiro.
"Meu pai ensinou muitos locutores a como falar ao microfone, um deles o Oliveira Neto", emenda Lau.
"A nota de falecimento não pode errar, tem que ser precisa. A fala tem que ser com pêsame, como se fosse anunciar a morte de um ente querido da família", explica Lau ao citar a "receita" da boa locução que o pai passou para ele.
Muito do sucesso e da credibilidade adquirida ao longo dos anos é a voz cadenciada. Lau conta que, quando passa com seu Uno no final da tarde nas avenidas de Botucatu, as pessoas já ficam ligadas prestando atenção.
Sabem que vão tomar conhecimento sobre a morte de alguém, de um amigo ou até parente.
Tudo é gravado com antecedência, sem fundo musical, e sempre no volume que não ultrapassa os 60 decibéis.
"Sou rigoroso em obedecer às normas. Partiu da minha iniciativa uma lei municipal que regulamenta a atividade. Senão vira bagunça", relata.
Lau conta que desde os 9 anos já era locutor.
E pela boa voz até trabalhou em emissoras de rádio do município, mas preferiu continuar na sua atividade, que rende mais do que estar vinculado ao serviço à alguma empresa de radiodifusão. "O pessoal confia no meu trabalho.
Não tem jeito, nota de falecimento, anúncio de missa de sétimo dia, 30º dia ou de um ano, é com o meu serviço.
O pessoal confia", atesta o locutor.
Homenagem do MUSEU A CÉU ABERTO "PORTAL DAS CRUZES"