Francisco Guedelha nasceu em Agudos em 3/1/1916 e teve sua Ordenação Sacerdotal em Assis no dia 30/1/ 1944.
Assumiu o pastorado da Igreja Presbiteriana Independente de Botucatu no dia 13/2/1944 permanecendo até 1980.
Foi professor efetivo de Português da EE de 1º. e 2º. Grau Dr.Cardoso de Almeida. Recebeu o Título de Cidadão Botucatuense e era membro da Academia Botucatuense de Letras.
Foi rotariano tendo entrado no Rotary Club de Botucatu, dia 29/l/1970. No dia 12 de abril de 1981, recebeu o título de Pastor Emérito da Igreja Presbiteriana.
Era casado com dona Julieta Furnier Guedelha e deixa uma filha Márcia Furnier Guedelha Blasi.
Francisco Guedelha foi uma pessoa estimada por todos os botucatuenses por seu caráter, seu respeito ao ser humano, pelas atitudes que tomava em prol de Botucatu".
Mas o ilustre Pastor teria a homenagem merecida, através dos artigos de seus colegas Acadêmicos, Dom Vicente Marchetti Zioni, Arcebispo Emérito de Botucatu e da Profa. Elda Moscogliato, Secretária da Academia Botucatuense de Letras.
O Reverendo Francisco Guedelha faleceu dia 18.09.1991.
CRÔNICA - Elda Moscogliato
Nênia para um Amigo,
Quando forem escritas as memórias de nossa Academia Botucatuense de Letras que já caminha para os seus vinte anos de existência, ele propiciará por certo, à rotina do memoralista, a imagem perfeita do homem bom, lhano, amigo, ministro, íntegro, cavalheiro atencioso, culto, conversador brilhante, sem ofuscar contudo, seu caráter alegre, bem humorado, extrovertido.
Em todos os encontros acadêmicos sua presença era a nota irradiante do companherismo jovial, descontraído e envolvente.
Sua bonomia contagiante quebrava o rígido protocolo das reuniões ou assembléias, fazendo se ouvir no muito à vontade de seu aparte sempre oportuno e bem humorado espalhando a satisfação descontraída e risonha de seus companheiros e amigos.
Alma cristalina de simplicidade e modéstia, sempre apto às designações de discursos ou palestras, assumia a tribuna com uma invejável naturalidade como se sempre afeito aos auditórios atentos que conquistava pela sabedoria de seus conceitos, pela eloquência de seus enunciados, pelo domínio seguro de seus conhecimentos.
Oratória simples de missionário, desataviada e fluente, era sempre um mestre que ensinava, não um discursador empolgante. Sua sabedoria no entanto, tinha raízes profundas sustentadas pelo estudo constante, pela meditação vivenciada no dia a dia do apostolado a que se entregara por vocação.
Todos nós os membros fundadores, temos bem viva ainda, a sua participação entusiasta nos dias trabalhosos, discutidos, quando da elaboração cuidadosa dos Estatutos que orientariam de forma objetiva e regimental a então nova Entidade.
Ali estava ele, sempre presente, atento às leituras, alerta às minudências da matéria, observante na disposição dos artigos, pronto a acrescentar, a sintetizar e esclarecer os dispositivos diversos, a fim de que nada ensejasse interpretações ambíguas.
Seu curriculum foi a confirmação de suas virtudes incontestes de cidadão perfeito, de homem evangélico, de catedrático respeitável, de bacharel em Teologia e Direito, latinista e poliglota estudioso.
Nascido em Agudos, para cá veio em 1944 no cumprimento de uma determinação de sua Igreja assumindo o Presbiterianismo Independente de onde veio a aposentar-se há uns poucos anos. Aqui casou-se, aqui nasceu-lhe a filha única, aqui radicou-se numa afetiva doação à terra que lhe deu, com justa honra, o título de cidadão botucatuense.
Espírito ecumênico, fazia de todos o seu mundo amigável, compreensivo e bom. Tinha sempre uma palavra otimista aos que lhe rogavam o alívio das grandes aflições. A alma humana não lhe tinha segredos. Sua filosofia de vida consistia em compreender e desculpar..."
(A GAZETA DE BOTUCATU - 27/09/91).
"LEMBRANDO O AMIGO"
Deixou-nos um Concidadão, não porém o Amigo. .
Sim. Amigo da primeira hora. Amigo de convivência.
Amigo de todas as horas, vale dizer: Amigo sempre. Assim foi, para mim, o Pastor e Professor Francisco Guedelha.
Amigo da 1ª hora.
Lembro-me como se fora hoje.
Não nos conhecíamos ainda. Encontramo-nos primeira vez em Medellin, por ocasião da celebre conferência do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam).
Com uma carta de apresentação nas mãos. Ele me procurava entre tantos Bispos. A um dado momento, no pátio do grande Seminário, abordou-me perguntando: O Senhor conhece este Bispo? Mostrou-me a carta.
Com a normal euforia de quem, longe da Pátria encontra alguém falando a mesma língua, respondi gracejando: "Eis o jeitão dele".
A partir de então começou e cresceu nossa amizade.
Amigo de convivência.
Alguns detalhes íntimos.
Certa vez convidado a benzer o Almoxarifado da Sorocabana, convidei-o a compartilhar comigo. E ambos abençoamos as instalações!
Ao celebrar a "Missa do Cadáver", na Faculdade de Medicina de Rubião, por alguns daqueles cujos corpos que eram dissecados para estudo, assisti sua pregação e em seguida ele fez o mesmo, depois de me ajudar a preparar o altar para a Missa.
Por ocasião do Natal ele costumava percorrer a cidade com o seu Coral, em peregrinação cantante e piedosa. Pois bem. Todos os anos entrava silenciosamente nos jardins da Residência Episcopal para cantando, desejar ao amigo as Boas Festas. E eu, acostumado a essa gentileza que tanto sensibilizava, aguardava-o ansioso para abraçá-lo como irmão, cumprimentando-o à luz das estrelas! .
Quantas vezes, na Catedral o vi - honrosa presença -,homenageando-me nas minhas grandes datas. Conservo a obra de Manson "O Ensino de Jesus" com que me presenteou no meu primeiro lustro em Botucatu, enriquecida com expressiva dedicatória de próprio punho,
Amigo sempre.
Quando de uma enfermidade visitei-o em sua casa, trocamos ideias em termos bíblicos, e - quase sem melhor advertir, citei em latim a grande frase da amizade "Quam bonum et jucumdum habitare frates in unum"(Salmo 133,1) mas sabendo que ele, com a Bíblia nas mãos acenava o mesmo trecho "Vede como é bom e agradável habitar todos juntos como irmãos",
Não seria esta coincidência de identidade, um sinal de que o bom Deus fecundava nossa amizade para o bem?
Este foi o Prof. Guedelha! Que digo? Este é o Prof. Guedelha, pois Amigo Lembrado é Amigo Sempre Presente!