Leonardo Benedito Villas Boas, nasceu em Botucatu aos 28 de março de 1918.
Filho do Dr. Agnelo Villas Boas e da Sra. Arlinda Villas Boas.
Seu pai era mineiro de Campanha e sua mãe paulista de Itapira.
Leonardo desde muito cedo interessou-se pelos estudos sobre os sertões, continuando o hábito que o pai, fazendeiro e advogado, lhe havia ensinado.
Leonardo lia livros e discutia com seus irmãos seu futuro.
Eram três irmãos entusiasmados pelo mesmo assunto: Orlando, Cláudio e Leonardo.
Cláudio com um mapa do Brasil sempre à mão, era o mais entusiasta dos três propondo uma volta ao interior.
No começo de 1941, Leonardo perdeu o pai, cinco meses depois de sua mãe.
Terminava aí a vida coletiva de uma família, num enorme e velho casarão no bairro dos Pinheiros.
Orlando, Cláudio e Leonardo resolveram morar numa pensão na esquina das ruas Marquês de Itu e Bento Freitas, mais próximos do centro, enquanto os outros irmãos foram instalados em outras residências.
Nessa época os três trabalhavam no centro da cidade. Leonardo era funcionário de uma empresa distribuidora de gás para geladeira.
Cláudio era entregador de avisos da Prefeitura e Orlando era funcionário da Esso Standard. Foi naquela pensão que a vida dos três mudou.
Leonardo preocupava-se em adquirir conhecimentos e transmitir aos povos que futuramente conquistaria.
Dominava melhor a língua indígena, falava corretamente o camaiurá, uma subdivisão do tupi, procurava estudar muito em casa lendo e interpretando mapas.
Juntamente com Orlando e Cláudio percorriam rios e florestas.
Conheciam e admiravam o trabalho do Marechal Rondon que instituíra no país uma política de proteção ao índio e respeito às suas terras.
A prática foi a principal responsável pela sua educação, pois na tarefa de caminhar pelo mato tinha que desenvolver várias técnicas e conhecimentos.
Em 1942, durante a Segunda Grande Guerra, o Brasil iniciou a campanha da “Marcha para o Oeste”, Leonardo e seus dois irmãos entusiasmados com a ideia viajaram para Goiás.
Na viagem encontraram a expedição Roncador Xingu e ingressando na mesma.
Naquele tempo, o Rio das Mortes, no Mato Grosso, era o limite máximo dos brancos. Além deles viviam os Xavantes, índios que ainda não tinham contato com os brancos.
A expedição tinha a intenção de desvendar o outro lado. Leonardo, Orlando e Cláudio foram na vanguarda, caminhando pelo mato, construindo canoas, até encontrar as tribos do Xingu depois de anos de trabalho.
Foram até o rio Teles Pires: naquele tempo havia um interesse enorme do governo em abrir um campo de pouso na região do Cachimbo.
Depois de mais de 20 voos sobre a mata os três irmãos Villas Boas conseguiram avistar uma clareira. O avião desceu e deixou em terra três sertanistas para cuidarem da preparação do novo campo, que ficou pronto em 1950.
Nunca ninguém conseguiu ir até lá por terra. Aproveitando sua estada em Cachimbo, andaram pela mata fazendo uma série de expedições.
Entre suas descobertas estão as dos rios Arraias e Liberdade, que antes nem existiam nos mapas.
Mais tarde resolveram parar com a fase de expedições exploradoras de terrenos e se dedicaram mais ao índio em si. Imaginaram a criação de um Parque.
Muita gente ajudou-os a convencer o governo federal a criar o Parque Nacional do Xingu.
Leonardo Villas Boas viveu grande parte de sua vida defendendo, junto com seus irmãos, os índios brasileiros.
Em 1953, Leonardo foi até o interior do Pará contatar os temíveis Xicrin.
Contraiu o reumatismo infeccioso cujas sequelas, em 1961 provocaria sua morte, durante uma operação cardíaca, em São Paulo.
Leonardo Villas Boas foi um batalhador incansável na pacificação dos índios dos sertões do Araguaia e cercanias, onde por dezoito anos emprestou o vigor de sua mocidade e de sua dedicação.
Faleceu no hospital da Beneficência Portuguesa no dia 06/12/1961 em São Paulo.
Seu corpo foi sepultado no cemitério de Campo Grande em Santo Amaro/SP.
LER É VIVER
O Grupo Unibanco e a Editora Abril Cultural, coadjuvados pelo Canal 5 – Rede Globo de Televisão, lançaram a louvável campanha de educação popular através da leitura, cujo “slogan” é o titulo em epigrafe .
Concomitantemente lançou essa campanha a divulgação de obras nacionais selecionadas entre os clássicos de nossa língua. Vimo-lo pelo vídeo, numa interessante difusão.
A Academia Botucatuense de Letras que tem sua biblioteca em formação, foi aquinhoada com os primeiros volumes já editados, entregues nesta cidade por gentileza especial da Agencia local do Unibanco. Entre os exemplares recebidos há um volume que desperta imediatamente nosso justo orgulho.
Trata-se de “ Xingu – Os Índios, Seus Mitos”, de autoria dos irmãos Vilas Boas : Orlando e Cláudio. Uma vez mais projeta-se no cenário cultural brasileiro a tradicionalidade da inteligência botucatuense que já se assenhoreou, com o primado de seus inegáveis e sempre reconhecidos dotes, de todos os setores culturais do País.
Aliás, os Vilas Boas, sertanistas, tem renome internacional. Agora é a vez das letras indianistas, que se enriquecem com a contribuição valiosa desses autores, que impregnam a narrativa com o testemunho de sua vivencia de mais de trinta anos entre os primitivos habitantes deste país-continente. São duzentas e trista e duas alentadas páginas editadas pela Abril-Edibolso.
Edição prática, de bolso já se percebe, dividida em duas partes.
Na primeira, estudam nossos conterrâneos a vasta área do Parque Nacional do Xingu – uma das maiores reservas florestais do mundo – cuidadosamente preservada em seus extraordinários e quase lendários aspectos de primitivismo, que mantém a pujança da paisagem edênica do Descobrimento.
Em narrativa pura e simples, os irmãos Vilas Boas transmitem-nos o testemunho de sua longa permanência entre os nossos autóctones. É uma obra realística , bem explanada, que nos faz viver pela leitura, os encantos nunca jamais superados da vida plena, simples, entre a mataria cerrada de um verde sempre igual, o murmúrio das águas e as surpresas do mundo animal.
Os autores detém-se a descrever a flora multivariada da selva brasileira. Caminham passo a passo, pelas estações do ano, descrevendo-nos a realidade das águas, das cheias, do crescimento dos rios e os exploradores que ali traz o verão.
Esse é o marcador do “Status” da selva. O carinho especial de ambos, é para com o nosso silvícola. Estudam-lhe os grupos, os hábitos, os usos e costumes preparando-nos, sob o aspecto sociológico , um autentico volume em que os depoimentos inserem-se na vida de ambos, dedicada aos índios.
A Nota introdutória do volume, traz em síntese, toda a vivencia dos sertanistas no coração verde da mata: “ Se fizermos uma comparação com os índios poderemos dizer que os civilizados são uma sociedade sofrida.
O índio, por sua vez, parou no tempo e no espaço. O mesmo arco que ele faz hoje, seus antepassados faziam há mil anos. O índio em sua tribo tem um lugar estável e tranqüilo”.
A segunda parte do volume é uma coletânea de mitos, através dos quais decorre o comportamento vivencial dos silvícolas . Suas paginas antológicas aliam a simplicidade narrativa ao relato da imaginosa, rica e fértil criatividade do índio. Desde a lenda do primeiro homem, a do destino dos mortos, à estória da formação dos rios, tudo é realmente um desfilar encantador de cenas que fazem da leitura um verdadeiro prazer.
Realmente, ler é viver.
Elda Moscogliato
( A Gazeta de Botucatu – 11/11/1976 )
Homenagem do MUSEU A CÉU ABERTO "PORTAL DAS CRUZES"