Em 1º de outubro de 1919 na pequenina, acolhedora e aconchegante Casinha de nº. 97 da tradicional Rua Joaquim Floriano, em São Manuel. Rua esta que conduzia à antiga Estrada de Ferro Sorocabana, de sempre saudosa lembrança dos ferroviários de antanho, nascia então este seu despretensioso filho, talvez em uma “cálida noite adentro”, ou quem sabe, em uma “radiante manhã de sol”? – Importa é que sou filho de uma privilegiada e única cidade que sempre viveu e vive ao lado do “PARAISO”. Samanoelenses natos ou não, nada tem a reclamar, pois milhares de cidades neste mundo de meu Deus almejariam essa doce posição. Há poucos dias estive ai nessa acolhedora cidade levado que fui por um meu filho a fim de vermos de perto a “Casinha Pequenina” que me acolheu ao nascer e agasalhou-me em minha terna infância sob os angelicais cuidados de minha sempre saudosa mãe. Defronte dela fomos atendidos por sua atual proprietária e moradora, que não sabendo esclarecer as nossas perguntas, nos indicou para uma sua vizinha em frente, e pela qual fomos gentilmente atendidos e agradecidos. Esta amável senhora já com seus noventa e dois anos chama-se Dona Adelina e fora dona do Hotel Paulista ai existente.
MANOEL PADRE – Meu Avô
Sou neto da tradicional e antiga família de MANOEL DE CASTRO PERES, mais conhecido por “MANOEL PADRE” por ser Irmão do Primeiro Vigário de São Manoel Rev. BENIGNO DE CASTRO PERES, que na época exercia seu ministério sacerdotal na bucólica igrejinha de São Benedito, que até hoje existe nessa amável e benfazeja cidade.
JOÃO LINCOLN – Meu Tio
A “CASA TOLLEDO”
Sou por honrosa afinidade familiar, sobrinho do senhor JOÃO ALVES LINCOLN, que fora proprietário da famosa “CASA TOLLEDO” que na época da década de vinte até a de trinta fora a maior loja de secos e molhados, ferragens, ferramentas para fins diversos, materiais agrícolas; tecidos, armarinhos, roupas para trabalho etc. A estrutura financeira da Casa Toledo era tão sólida, que fornecia a várias fazendas da região para ser ressarcida somente após as colheitas do café e outros cereais. João Alves Lincoln fora também prefeito de São Manoel talvez na década de trinta ou de quarenta, não tenho certa a época.Este meu tio de saudosa memória, foi em seu tempo pessoa de proeminente colocação na sociedade Samanoelence. Homem integro, de lhano trato, sempre alegue, e de invejável hospitalidade para com todos que privaram de sua prazerosa e fecunda amizade. Nascera a 24 de junho, razão de seu nome, pois é o dia de São João Batista, primo e precursor de Nosso Senhor Jesus Cristo.
JOSÉ MARIA DE CASTRO PERES
DOMINGOS DE CASTRO PERES
Seu sobrinho em primeiro grau de senhor José Maria de Castro Peres, Filho de Manuel Padre e que por vários anos exerceu a gerência do Clube Recreativo dessa cidade, com empenho e hombridade. Sobrinho também de Sr.Domingos de Castro Peres, que era perito em qualidade de café em grão, exercendo por muitos anos a mando de produtores locais a respeitável e honrosa tarefa de selecionador e comprador de café.
FERNANDO DE CASTRO PERES – Meu Pai: o Inventor
A “MÁCHINA PERES” (máquina se escrevia com “ch”)
Foi nessa cidade que entre os longos anos de 1914 a 1916, por três anos consecutivos, meu pai Fernando de Castro Peres, filho mais velho de Manoel Padre e também sobrinho do primeiro Vigário de São Manoel, Benigno de Castro Peres, labutou arduamente para inventar e construir sua primeira maquina para beneficio e rebeneficio de Mamona e de Amendoim, inexistente até aquela data em todo o país. Acresça-se que todo esse longo e exaustivo trabalho fora executado somente à noite, sem quaisquer ajuda financeira de ninguém, pois as horas do dia eram dedicadas ao sustento de sua numerosa família.
Queixava-se meu pai que na época fora alvo de injustiça incompreensão, criticado por moradores por seu insistente trabalho noturno.
DR. JAGUARIBE
A PATENTE DA “MÁCHINA PÉRES”
No decorrer do ano 1917, depois de mais de um ano de trabalho jurídico e acrescido de expressivas, despesas com taxas, emolumentos, viagens ao Rio de Janeiro, para obter a indispensável Patente Federal para as maquinas de meu pai, o respeitado causídico de São Manoel na época, Dr. João Nogueira Jaguaribe entra na modestíssima oficina de meu pai e coloca sobre a banca um canudo de folha de flandres e diz com rasgada alegria: -”Aí está Fernando a sua tão almejada patente; espero que você faça o melhor uso que julgar com ela. Apreensivo meu pai perguntou lhe: -”Dr. João como devo lhe pagar tanto empenho e tanto trabalho por mim e por esse precioso documento?”Vejam só, o que é um grande e verdadeiro amigo. O insigne advogado e, alguns anos mais tarde, louvável Jurista, extremamente respeitado por todo o meio Jurídico de São Paulo e outras plagas, disse com a maior simplicidade: -” Caro amigo Fernando Peres, quem lhe falou em qualquer pagamento? Isto é um presente que lhe faço com o maior gosto e prazer. Você nada me deve e fique tranqüilo”. Amigos deste jaez não existem mais. Um presente, portanto, do Dr. João, que não deixa dúvida alguma - e assim, despediu-se e se retirou.
WASHINGTON LUIZ e a “MACHINA PERES”
Na exposição comemorativa do centenário da Independência do Brasil, em 1922, o então Governador do Estado de São Paulo e futuro Presidente da República, WASHINGTON LUIZ, conversou pessoalmente com o inventor Fernando de Castro Peres; tecendo inúmeros elogios a respeito da invenção apresentada naquela mostra.
MARIA JOSÉ – Minha Prima
NOS DIAS DE HOJE
Tenho ainda nessa cidade e que muito me apraz citar uma amável prima e seu labutador e respeitado marido: O gentil casal Maria José Peres Romão e Anísio Romão cujo pai fora administrador da fazenda do fundador da já citada Casa Toledo, o Sr. Arthur Tolledo, que foi um sadio orgulho do comércio de São Manoel daquele tempo que não volta mais.
Em tempo:
Curiosidades sobre a “MÁCHINA PERES”:
Primeira e única no gênero para benefício, rebenefício, separação e limpeza da mamona:
1 – Inventada e construída por Fernando de Castro Peres, entre 1914 e 1916;
2 – Patenteada pelo Governo Federal entre 1917 e 1919;
3 – Diploma de Honra pelo Instituto Técnico Industrial do Rio de Janeiro, em 1921;
4 – Diploma de Honra pelo Instituto Agrícola Brasileiro, em 1922;
5 – Medalha de Ouro pela Municipalidade de São Paulo, em 1922;
6 – Diploma de Honra na Primeira Feira de Amostras da cidade de Santos, em 1934;
7 – Após patenteada a máquina foi produzida em escala industrial, na capital de São Paulo;
8 – A primeira máquina construída, ainda um protótipo, quase inteiro de madeira, foi doada pela Família do inventor Fernando de Castro Peres ao acervo do Museu de São Manuel, onde se encontra até hoje.