Iniciou a sua carreira viajando pelas cidades do interior do estado de São Paulo e outros, como humorista caipira.
Em 1910, Cornélio Pires apresentou no Colégio Mackenzie, hoje Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, um espetáculo que reuniu catireiros, cururueiros e duplas de cantadores do interior. O Colégio Mackenzie foi fundado e sempre mantido pela Igreja Presbiteriana, à qual Cornélio Pires pertencia.
Ambicionando cursar a Faculdade de Farmácia, deslocou-se de Tietê para a cidade de São Paulo, a fim de prestar concurso de admissão. Não tendo obtido sucesso em seu intento, conseguiu empregar-se na redação do jornal O Comércio de São Paulo. Posteriormente trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo, onde desempenhou a função de revisor. A partir de 1914, passou a trabalhar no periódico O Pirralho.
Foi autor de mais de vinte livros, nos quais procurou registrar o vocabulário, as músicas, os termos e expressões usadas pelos caipiras. No livro "Conversas ao Pé do Fogo", Cornélio Pires faz uma descrição detalhada dos diversos tipos de caipiras e, ainda no mesmo livro, ele publica o seu "Dicionário do Caipira". Na obra "Sambas e Cateretês" recolhe inúmeras letras de composições populares, muitas das quais hoje teriam caído no esquecimento se não tivessem sido registradas nesse livro.
A importância de sua pesquisa começa a ser reconhecida nos meios acadêmicos no uso e nas citações que de sua obra faz Antonio Candido, professor na Universidade de São Paulo, um dos grandes estudioso da sociedade e da cultura caipiras, especialmente no livro Os Parceiros do Rio Bonito.
Cornélio Pires foi o primeiro a conseguir que a indústria fonográfica brasileira lançasse, em 1928, em discos de 78 Rpm, a música caipira.
Segundo José de Souza Martins, Cornélio Pires foi o criador da música sertaneja, mediante a adaptação da música caipira ao formato fonográfico e à natureza do espetáculo circense, já que a música caipira é originalmente música litúrgica do catolicismo popular, presente nas folias do Divino, no cateretê e na catira (dança ritual indígena, durante muito tempo vedada às mulheres, catolicizada no século XVI pelos padres jesuítas), no cururu (dança indígena que os missionários transformaram na dança de Santa Cruz, ainda hoje dançada no terreiro da igreja da Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, por descendentes dos antigos índios aldeados, nos primeiros dias de maio, na Festa da Santa Cruz, a mais caipira das festas rurais de São Paulo).
A criação de Cornélio Pires permitiu à nascente música caipira comercial, que chegou aos discos 78rpm, libertar-se da antiga música caipira original, ganhar vida própria e diversificar seu estilo. Atualmente a música caipira é chamada de música raiz para se diferenciar da música sertaneja.
A música caipira dos discos 78rpm nasce, no final da década de 1920, como o último episódio de afirmação de uma identidade paulista após a abolição da escravatura, em 1888, que teve seu primeiro grande episódio na pintura, especialmente a do Ituano Almeida Júnior, expressa em obras como "Caipira picando fumo", "Amolação interrompida", dentre outras. A ironia e a crítica social da música sertaneja originalmente proposta por Cornélio Pires, situa-se na formação do nosso pensamento conservador, que se difundiu como crítica da modernidade urbana. O melhor exemplo disso é a "Moda do bonde camarão", uma das primeiras músicas sertanejas e uma ferina ironia sobre o mundo moderno.
Após encerrar a sua carreira jornalística, Cornélio Pires organizou o "Teatro Ambulante Cornélio Pires", viajando com o mesmo de cidade em cidade, aplaudido por onde passava.
Cornélio Pires pertencia a uma extensa família de presbiterianos e, na juventude, frequentava as reuniões da igreja com os seus familiares.
Durante as suas viagens pelo interior do país, teve contato com vários fenômenos mediúnicos, particularmente algumas comunicações do espíritoEmílio de Menezes, que muito o impressionaram. A partir de então passou a estudar as obras espíritas principalmente as de Allan Kardec, Léon Denis, Albert de Rochas e alguns livros psicografados pelo então jovem médium Francisco Cândido Xavier. A partir de então dedicou-se ao Espiritismo, com particular interesse pelos fenômenos de efeitos físicos.
Pouco antes de falecer, retornou à sua cidade natal, onde adquiriu uma chácara, tendo fundado a instituição Granja de Jesus, um lar para crianças desamparadas, que não teve a oportunidade de ver implantado.
O Trio de Ferro do Rádio Paulista e da Música Caipira
Cornélio Pires, Raul Torres e Capitão Furtado, foram realmente os grandes paladinos e os maiores incentivadores da música raiz, enfrentando grandes preconceitos culturais onde sempre existiu, mas jamais fizeram sucumbir esses verdadeiros divulgadores do “Caipirismo” e consequentemente da música caipira.
Nascido em Tietê em 13 de julho de 1884, foi escritor, jornalista, conferencista, folclorista, porte, contador de causos, professor e rábula (advogado sem diploma). Porém, a maior importância deste homem foi a dedicação de uma vida inteira a cultura caipira, através de livros, discos, filmes, teatros, conferências, artigos de jornais e composições musicais.
Já existia evidentemente esta cultura, mas foi ele, com seu inestimável trabalho, que possibilitou que a música caipira fosse divulgada, inicialmente em discos, com selo próprio e depois através das rádios em São Paulo.
Cornélio morou nas cidades de Tietê, Santos, São Manuel, Botucatu, Piracicaba e São Paulo. Depois de ter passado por Santos e São Manuel, veio morar em Botucatu, onde foi professor de Educação Física na Escola Normal (EECA) no ano de 1912, com 28 anos de idade. Em 1913, montou uma escola para a preparação de alunos para ingressarem na Escola Normal, traz para Botucatu a família de seu irmão para cuidar da Escola, localizada na Rua Curuzu, vindo nesta leva seu sobrinho Ariovaldo Pires, com 6 anos de idade, mais tarde conhecido como o grande Capitão Furtado.
Em 1915 é destituído do cargo de professor da Escola Normal de Botucatu, por ser contra as atitudes do Governo do Estado em seus artigos de jornais. Vai a Piracicaba onde exerce a profissão de rábula (advogado sem o curso). Curiosidade: ganhou todas as causas por ele defendidas.
Em circos, teatros e livros, Cornélio Pires conta os causos caipiras. Ele sempre esteve afrente de seu tempo em tudo que fez pelo universo caipira. Em 1929, forma a “Turma caipira do Cornélio Pires” e num procedimento inédito até então, resolveu gravar em disco a música caipira por conta própria, já que as gravadoras não tinham interesse em gravar músicas caipiras, pois os mesmos tinham um dialeto feio, sem interesse do grande público.
Cornélio Pires, então grava a música Jorginho do Sertão, com a dupla Caçula e mariano, que foi um tremendo sucesso, vendendo todos os discos gravados.
Após essa corajosa iniciativa, as gravadoras perceberam o “filão” que havia sido aberto e passaram também a gravar as músicas caipiras.
Ariovaldo Pires, o famoso Capitão Furtado, tendo como bordão de rádio “O Caipira que fala com o coração”. Em seus programas de calouros que apresentava nas rádios onde atuou, sempre valorizando novos aspirantes ao estrelato.
Nascido na cidade de Tietê/SP, no ano de1907, por motivos profissionais veio trabalhar na cidade de Botucatu, com sua família na Escola Preparatória de seu tio Cornélio Pires, que preparava alunos para ingressarem na Escola Normal, atual EECA.
Aprendeu as primeiras letras, passou sua juventude cheia de virtudes e foi contemporâneo de Raul Torres. Enquanto Ariovaldo estudava aqui em Botucatu, seu tio Cornélio Pires já residia em São Paulo e já estava se tornando muito conhecido pelos livros que escrevia e também por suas atividades como “militante caipira”.
Ainda na adolescência, Ariovaldo captava os sons nas ruas em Botucatu, onde violeiros, tropeiros e seresteiros misturavam os sons rurais com batuques e congadas, habituais em festas folclóricas.
Ariovaldo também conviveu com a estreia da famosa toada “Tristeza do Jeca” de autoria de Angelino de Oliveira, entoada pela primeira vez no Clube 24 de Maio, sendo seu pai zelador do Clube.
Curiosidade: A música “Tristeza do Jeca” foi apresentada e cantada pela primeira vez pela estudante da escola Normal, Maria Banducci e dada a grande aceitação da plateia foi executada por 6 vezes naquele dia.
Em 1926, com 19 anos, novo rumo: a capital paulista, onde Ariovaldo passa a residir e que lhe trouxe novas oportunidades.
Seu tio Cornélio Pires convidou seu sobrinho Ariovaldo para acompanhar a gravação de seu primeiro disco na Gravadora Colúmbia, no ano de 1929. Em 1934 Cornélio Pires já estava São Paulo, com seus comentários bem humorados sobre os fatos cotidianos. Ariovaldo já tinha adotado o pseudônimo de Capitão Furtado, nome com o qual passou a assinar suas composições.
Foram parceiros do Capitão os compositores Marcelo Tupinambá, José Pacífico, Raul Torres, Nhô Pai, Palmeira, Pirací, Moreno, Roberto Stangnelli, Tonico e Tinoco, Alvarenga e Ranchinho, Jararaca e Ratinho, Adoniran Barbosa, Mario Zan, Hebe Camargo e muitos outros. Foi a música caipira que Ariovaldo deixou sua maravilhosa herança musical, pois foi um dos compositores mais gravados na história da música brasileira.
Em 1929, Capitão Furtado já estava na rádio Difusora de São Paulo, em seu programa Arrial da Curva Torta, nas tardes de domingo. Esse programa permaneceu no ar durante 12anos e nesse período revelou diversos talentos da música raiz.
Em 1943, em um concurso de violeiros, Capitão Furtado sugeriu aos Irmãos Péres o novo nome: Tonico e Tinoco, para a dupla que despontava no cenário caipira.
Faleceu em São Paulo em 1979 com 72 anos de idade.
HOMENAGEM DO MUSEU A CÉU ABERTO "PORTAL DAS CRUZES"