Entre ventos e marés

Não delates nunca o que vejo

se abarco os sentidos no olhar!

O que pressinto e que antevejo

é muito mais do que o desejo

de que só eu consigo imaginar.

Sente o rumor desses silêncios,

que serpenteiam suavemente…

Eu sou o fio manso da corrente.

Sou coração de imensidão de mar,

sou olhos de chuva a transbordar.

Sou esboço mesclado e abstrato

escultor de sonhos em rochedos,

actor principal dos meus segredos.

Desenho palavras de lés a lés…

e construo castelos de areia

perdidos entre ventos e marés.

(Rui Tojeira)

Pintura de Francis Augustus Silva (1835-1886), Lighthouse at Sunset - 1878