ATÉ QUE UM DIA...,

Meus versos eram rosas, lírios, heras,

borboletas, regatos, cotovias

cantando suas doces melodias,

anjos, sereias, ninfas e quimeras.

Meus versos eram pombas entre as feras

e, na festa das horas e dos dias,

ia dançando penas e alegrias

e o ano tinha quatro primaveras.

E a festa continua... é também festa

o cardo e a urze, o tojo, a murta, a giesta,

a chuva no beiral, o vento Norte,

o gosto a mar, a lágrimas, a sal,

até que um dia a vida, a bem ou mal,

exausta de cantar me empreste à morte.

Fernanda de Castro, in "E Eu, Saudosa, Saudosa"