CHAMO-TE HOJE

Chamo-te hoje,

Porque pensar-te

É a lâmina mais feroz.

Êxtase de te revelar segredos,

E te acolher no ventre, ó vagabundo,

Entre o pranto e o anoitecer,

Estremecendo vagas de solidão em aguaceiros de poesia.

Ó desconhecido de todos os desalentos,

Escancarando vida no umbral da porta,

Imaginei-te somente!

E, guardiã da tristeza intrínseca,

Baptizei-te alento,

Prenúncio de temporal.

Grito-te ainda,

Porque o silêncio a bailar entre risonhos girassóis,

É o tempo mais sublime,

Ânsia de ansiar

Nossos corpos esculpidos

Num sopro de infinito.

Célia Moura, in "Enquanto Sangram As Rosas..."

Alberto Pancorbo Painting