DISTÂNCIA

Não vás para tão longe!

Vem sentar-te

Aqui na chaise-longue, ao pé de mim...

Tenho o desejo doido de contar-te

Estas saudades que não tinham fim.

Não vás para tão longe;

Quero ver

Se ainda sabes olhar-me como d'antes,

E se nas tuas mãos acariciantes,

Inda existe o perfume de que eu gosto.

Não vás para tão longe!

Tenho medo

Do silêncio pesado d'esta sala...

Como soluça o vento no arvoredo!

E a tua voz, amor, como se cala!

Não vás para tão longe!

Antigamente,

Era sempre demais o curto espaço

Que havia entre nós dois...

Agora, um embaraço,

Hesitas e depois,

Com um gesto de tédio e de cansaço,

Achas inconveniente

O meu abraço.

Não vás para tão longe!

Fica. Inda é tão cedo!

O vento continua a fustigar

Os ramos sofredores do arvoredo,

E eu ponho-me a pensar

E tenho medo!

Não vás para tão longe!

Na sombra impenetrada,

Como se agita e se debate o vento!...

Paira nas velhas ruínas do convento

Que além se avista,

A alma melancólica d'um monge

Que a vida arremessou àquela crista...

Céu apagado, negro, pessimista,

E tu sempre mais longe!...

Fernanda de Castro, in "Antemanhã"