REINVENTO-ME NO EMBRIÃO

Reinvento-me no embrião

Dos laços e dos abraços

E sigo como o comboio

Que sempre leva mais um passageiro

Já quis criar raízes,

Já vesti bandeiras mas delas me despojei.

Antes a nudez de mim que o sangue do meu Irmão!

Os sapatos que calcei sempre foram demasiado apertados

E nunca aprendi a andar descalça,

Os vestidos sempre os preferi usados

E a vida foi o avesso de todas as indumentárias possíveis.

Quando olhei em redor estava exausta de brincar

Num jogo de adultos onde não pedira para entrar.

Por isso sento-me de novo debaixo da nespereira do meu quintal

E não ambiciono nada.

Ambicionar é uma mão tão aberta quanto fechada de coisa nenhuma.

Olho para a ternura dos olhos do meu cão

E permaneço assim

Sem idade

Com brincos de princesa nas orelhas

Ouvindo melros ao entardecer

E a eterna voz de minha Mãe

Chamando-me para jantar.

Célia Moura, poesias a publicar

Maria Zeldis Painting