Bom é corromper o silêncio...
Bom é corromper o silêncio das palavras.
Como seja:
Uma rã me pedra. (A rã me corrompeu para pedra. Retirou meus limites de ser humano e me ampliou para coisa. A rã se tornou o sujeito pessoal da frase e me largou no chão a criar musgos para tapete de insetos e de frades.)
Um passarinho me árvore. (O passarinho me transgrediu para árvore. Deixou-me aos ventos e às chuvas. Ele mesmo em bosteia de dia e me desperta nas manhãs.)
Os jardins se borboletam. (Significa que os jardins se esvaziaram de suas sépalas e de suas pétalas? Significa que os jardins se abrem agora só para o buliço das borboletas?)
Folhas secas me outonam. (Folhas secas que forram o chão das tardes me trasmudaram para outono? Eu sou meu outono.)
Gosto de viajar por palavras do que de trem.
- Manoel de Barros -