A MINHA AMANTE

«... ... ... ... ... ... ... a dor

só lhe perco o som e a cor

em orgias de morfina!»

Dizem que eu tenho amores contigo!

Deixa-os dizer!…

Eles sabem lá o que há de sublime

Nos meus sonhos de prazer…

De madrugada, logo ao despertar,

Há quem me tenha ouvido gritar

Pelo teu nome…

Dizem —e eu não protesto—

Que seja qual for

o meu aspecto

tu estás

na minha fisionomia

e no meu gesto!

Dizem que eu me embriago toda em cores

Para te esquecer…

E que de noite pelos corredores

Quando vou passando para te ir buscar,

Levo risos de louca, no olhar!

Não entendem dos meus amores contigo—

Não entendem deste luar de beijos…

—Há quem lhe chame a tara perversa,

Dum ser destrambelhado e sensual!

Chamam-te o génio do mal—

O meu castigo…

E eu em sombras alheio-me dispersa…

E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…

Que és tu que doiras ainda,

O meu castelo em ruína…

Que fazes da hora má, a hora linda

Dos meus sonhos voluptuosos—

Não faltes aos meus apelos dolorosos

—Adormenta esta dor que me domina!

Junho - Poente 1922