Via-Láctea - IV

Como a floresta secular, sombria

Virgem do passo humano e do machado,

Onde apenas, horrendo, ecoa o brado

Do tigre, e cuja agreste ramaria

Não atravessa nunca a luz do dia,

Assim também, da luz do amor privado,

Tinhas o coração ermo o fechado,

Como a floresta secular, sombria...

Hoje, entre os ramos, a canção sonora

Soltam festivamente os passarinhos.

Tinge o cimo das árvores a aurora...

Palpitam flores, estremecem ninhos...

E o sol do amor, que não entrava outrora,

Entra dourando a areia dos caminhos.

- Olavo Bilac -