URGENTE

Urgente é construir serenamente

seja o que for, choupana ou catedral,

é trabalhar a peda, o barro, a cal,

é regressar às fontes, à nascente.

É não deixar perder-se uma semente,

é arrancar as urtigas do quintal,

é fazer duma rosa o roseiral,

sem perder tempo. Agora. Já. É urgente.

Urgente é respeitar o Amigo, o Irmão,

é perdoar, se alguém pede perdão,

é repartir o trigo do celeiro.

Urgente é respirar com alegria,

ouvir cantar a rola, a cotovia,

e plantar no pinhal mais um pinheiro.

Fernanda de Castro in "Poesia II" (1969)