Tardio

Quando quis ser fruto

fui fome,

não mais do que areia

de um chão sem cio.

Quando sonhei ser pano

fui agulha.

E morri no sono do gesto

de enrolar o fio.

Quando aprendi a ser poente

já não havia céu.

Quando quis anoitecer

tudo era luz.

E assim me condeno

em livre vício:

no mais derradeiro

eu só vislumbro um início.

(Maputo, 2005)

- Mia Couto -