CORPO

Corpo corpo

que te seja leve o peso das estrelas

e de tua boca irrompa a inocência nua

dum lírio cujo caule se estende e

ramifica para lá dos alicerces da casa

abre a janela debruça-te

deixa que o mar inunde os órgãos do corpo

espalha lume na ponta dos dedos e toca

ao de leve aquilo que deve ser preservado

mas olho para as mãos e leio

o que o vento norte escreveu sobre as dunas

levanto-me do fundo de ti humilde lama

e num soluço da respiração sei que estou vivo

sou o centro sísmico do mundo

Al Berto, O Medo, Lisboa: Assírio & Alvim, 1998

Fotografia de Marta Streng (D.R.)