CONTEMPLO O LAGO MUDO

Contemplo o lago mudo

Que uma brisa estremece.

Não sei se penso em tudo

Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz.

Não sinto a brisa mexê-lo.

Não sei se sou feliz

Nem se desejo sê-lo.

Trémulos vincos risonhos

Na água adormecida.

Por que fiz eu dos sonhos

A minha única vida?

Fernando Pessoa, 4-8-1930

Poesias. F. Pessoa - Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). - 122.