A BAILARINA VERMELHA

Ela passa,

a papoila rubra,

esvoaçando graça,

a sorrir…

Original tentação

de estranho sabor:

a sua boca – romã luzente,

a refulgir!…

As mãos pálidas, esguias,

dolorosas soluçando,

vão recortando

em ritmos de beleza

gestos de ave endoidecida…

Preces, blasfémias,

cálidas estesias

passam delirando!…

Mordendo-lhe o seio

túrgido e perfurante,

delira a flama sangrenta

dos rubis…

E a cinta verga, flexuosa,

na luxuria dominante

dos quadris…

Um jeito mais quebrado no andar…

Um pouco mais de sombra no olhar

bistrado de lilás…

E ela passa

entornando dor,

a agonizar beleza!…

Um sonho de volúpia

que logo se desfaz,

em ruivas gargalhadas

dispersas… desgrenhadas!…

Magoam-se os meus sentidos

num cálido rubor…

E nos seus braços endoidecem

as anilhas d’oiro refulgindo

num feérico clamor!…

E ela passa…

Fulva, esguia, incoerente…

Flor de vicio

esvoaçando graça

na noite tempestuosa

do meu olhar!…

Como uma brasa ardente,

e infernal e dolorosa,

… a bailar…

a bailar!…

(“Noite”- 1925)

in "Nua. Poemas de Bizâncio" (1926)

imagem - Flower by Kenzo