ÀS PEDRAS DA CALÇADA

Pois que se crivem balas

nas minhas coxas prenhes

de ilusão

que eu ainda assim rodopiarei

à chuva e ao vento

para te gritar meu hino.

meu sangue,

meu Amor!

E que venham arqueadas foices

em focinhos de hienas,

e pragas de sanguessugas

que eu saberei ser veneno

ou cinza apagada no esplendor

das alvoradas

E quanto a vós,

inúteis pedras da calçada,

pisando-vos,

vos humilho, com a certeza

de que bem presas ao chão por onde caminham

meus pés de alento

não passais disso mesmo,

inertes e toscas

assassinas ou até arte

à mercê das mãos

de qualquer um.

Pois que me crivem balas,

e eu renascerei semente.

© Célia Moura – A publicar “Terra de Lavra”

(Marc Hoppe Photography)