GATO QUE BRINCAS NA RUA

Gato que brincas na rua

Como se fosse na cama,

Invejo a sorte que é tua

Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais

Que regem pedras e gentes,

Que tens instintos gerais

E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,

Todo o nada que és é teu.

Eu vejo-me e estou sem mim,

Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa 1-1931

Poesias.F. Pessoa. Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). - 131.