Retrato do artista quando coisa - 1

Retrato do artista quando coisa: borboletas

Já trocam as árvores por mim.

Insetos me desempenham.

Já posso amar as moscas como a mim mesmo.

Os silêncios me praticam.

De tarde um dom de latas velhas se atraca

em meu olho

Mas eu tenho predomínio por lírios.

Plantas desejam a minha boca para crescer

por de cima.

Sou livre para o desfrute das aves.

Dou meiguice aos urubus.

Sapos desejam ser-me.

Quero cristianizar as águas.

Já enxergo o cheiro do sol.

- Manoel de Barros -